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Matema´tica 1 e Matema´tica para Administrac¸a˜o Prof. Wallisom Rosa 2o Semestre 2005 . Suma´rio Prefa´cio 6 1 Revisa˜o 10 1.1 Nu´meros Inteiros, Racionais e Reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 1.2 Poteˆncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 1.3 O Plano Cartesiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 1.4 Distaˆncia no Plano e Equac¸a˜o de uma Circunfereˆncia . . . . . . . . . 18 1.5 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2 Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 23 2.1 Conceito e Notac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 2.1.1 Simetrias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 2.1.2 Func¸o˜es Crescentes e Decrescentes . . . . . . . . . . . . . . . . 30 2.2 Func¸o˜es Importantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 2.2.1 Func¸a˜o Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 2.2.2 Polinoˆmios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 2.2.3 Func¸o˜es Racionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 2.2.4 Func¸o˜es Alge´bricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 2.2.5 Func¸o˜es Exponenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 2 Suma´rio 3 2.2.6 Func¸o˜es Inversas e Logaritmos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 2.3 A A´lgebra das Func¸o˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 2.3.1 Combinac¸o˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 2.3.2 Composic¸a˜o de Func¸o˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 2.4 Equac¸o˜es de Oferta e de Demanda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 2.5 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 3 Limite e Continuidade 61 3.1 O Limite de uma Func¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 3.2 Limites Laterais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 3.3 Limites Infinitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 3.4 Propriedades dos Limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 3.5 Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 3.6 Limites no Infinito; Ass´ıntotas Horizontais . . . . . . . . . . . . . . . 83 3.6.1 Limites Infinitos no Infinito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 3.7 Ass´ıntotas. Custo Total Me´dio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94 3.8 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 4 A Derivada 102 4.1 Tangentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102 4.2 Taxas de Variac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 4.3 A Derivada de uma Func¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108 4.4 Regras de Diferenciac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 4.5 Novas Derivadas a partir das Antigas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 4.5.1 Regra do Produto e do Quociente . . . . . . . . . . . . . . . . 119 Suma´rio 4 4.6 Regra da Cadeia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122 4.7 Diferenciac¸a˜o Impl´ıcita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124 4.8 Derivadas Superiores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128 4.9 Aproximac¸o˜es Lineares* . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131 4.9.1 Polinoˆmios de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132 5 Aplicac¸o˜es da Derivada 136 5.1 Valores Ma´ximo e Mı´nimo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136 5.2 Aplicac¸o˜es da Derivada Primeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144 5.3 Aplicac¸o˜es da Derivada Segunda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 5.4 Formas Indeterminadas e Regra de L’Hoˆpital . . . . . . . . . . . . . . 152 5.5 Esboc¸o de Gra´ficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156 5.6 Aplicac¸o˜es em Economia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166 5.7 Exerc´ıcios (Cap. 4 e 5) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 170 Avaliac¸o˜es 179 Bibliografia 210 . Prefa´cio Essa apostila se destina aos alunos dos cursos de Administrac¸a˜o, Cieˆncias Conta´beis e Economia que cursam Matema´tica para Administrac¸a˜o ou Matema´tica 1 na Uni- versidade Federal de Pernambuco. Seu conteu´do visa atender a ementa desses cursos e sa˜o, na verdade, as minhas notas de aula das vezes que ministrei esse curso nos semestres anteriores. Quero deixar meus agradecimentos aos meus ex-alunos desses cursos que contribuiram dando sugesto˜es e cr´ıticas para a melhoria desse texto. Sera˜o abordados aqui noc¸o˜es introduto´rias dos conceitos do Ca´lculo Di- ferencial e suas aplicac¸o˜es a`s Cieˆncias Econoˆmicas e Sociais. Fiz o poss´ıvel para na˜o deixar o texto muito voltado para a abordagem matema´tica ja´ que se destina a alunos de outras a´reas. Deixei alguns teoremas sem demonstrac¸a˜o pois e´ necessa´rio uma teoria mais avanc¸ada para demonstra´-los. Tive o cuidado de escolher exemplos bastante aplica´veis. E´ importante entendeˆ-los bem ja´ que fornecem as ide´ias para a resoluc¸a˜o dos exerc´ıcios. E, por falar nisso, na˜o se preocupe se na˜o conseguir fazer um exerc´ıcio de imediato, as vezes e´ mais conveniente voltar a pensar nele em um outro momento, com mais maturidade. E´ importante ressaltar que os exerc´ıcios esta˜o dispostos aleatoriamente e na˜o seguem nenhum padra˜o quanto ao grau de dificuldade. Tente fazer o maior nu´mero poss´ıvel deles! As respostas na˜o foram incluidas por va´rios motivos, um deles e´ para obriga´-lo a discutir com seus colegas as resoluc¸o˜es. Matema´tica tambe´m tem seu lado social! Tambe´m na˜o se preocupe se precisar ler por mais de uma vez algum trecho do texto para entendeˆ-lo. Isso e´ absolutamente normal quando se estuda qualquer teoria matema´tica. E´ preciso muita atenc¸a˜o e concentrac¸a˜o para na˜o se perder diante de tantas informac¸o˜es. Tenha pacieˆncia e na˜o desista na primeira tentativa! 6 Prefa´cio 7 O primeiro cap´ıtulo se destina a uma revisa˜o dos conceitos ba´sicos de nu´meros reais e potenciac¸a˜o e, como e´ uma revisa˜o, deixo a cargo do leitor a decisa˜o de leˆ-lo. Espero que degustem esse conteu´do com o prazer que ele merece. Quaisquer erros de portugueˆs, matema´ticos ou de digitac¸a˜o que encon- trarem no texto pec¸o encarecidamente que me avisem para que possa corrigi-los o mais ra´pido poss´ıvel. Desde ja´ agradec¸o! Ituiutaba, 7 de marc¸o de 2007. Wallisom Rosa Graduac¸a˜o em Matema´tica - Universidade Federal de Vic¸osa (2003) Mestrado em Matema´tica - Universidade Federal de Pernambuco (2005) Professor Assistente da UFU, Campus do Pontal (desde 2006) E-mail: wallisom@pontal.ufu.br Telefone: (34)3269-2389 ou (34)3268-9827 Os Nu´meros Meus amigos essa noite eu tive uma alucinac¸a˜o Sonhei com um bando de nu´mero invadindo o meu serta˜o Vi tanta coincideˆncia que eu fiz essa canc¸a˜o Falar do nu´mero 1: Falar do nu´mero um na˜o e´ preciso muito estudo So´ se casa uma vez e foi um Deus que criou tudo Uma vida so´ se vive, so´ se usa um sobretudo. Agora o 12: E´ so´ de pensar no doze que enta˜o quase desisto Sa˜o doze meses do ano, doze apo´stolos de Cristo Doze horas e´ meio-dia, haja dito haja visto. Agora o 7: Sete dias da semana, sete notas musicais, Sete cores do arco-´ıris, das regio˜es divinais E se pintar tanto sete, eu ja´ na˜o agu¨ento mais. Dois: E no dois o homem luta entre coisas diferentes, Bem e mal, amor e guerra, preto e branco, bicho e gente Rico e pobre, claro e escuro, noite e dia, corpo e mente. Agora o 4: E o quatro e´ importante,quatro pontos cardeais Quatro estac¸o˜es do ano, quatro pe´s tem o animal Quatro pernas tem a mesa, quatro dias o Carnaval. Pra encerrar Eu falei de tantos nu´meros, talvez esqueci algum Mas as coisas que eu disse na˜o sa˜o la´ muito comuns Quem souber que conte outra ou que fique sem nenhum Quem souber da histo´ria que me conte outra..... Raul Seixas e Paulo Coelho Cap´ıtulo 1 Revisa˜o Faremos aqui uma breve revisa˜o de certos conceitos sobre nu´meros. Certamente, o que esta´ feito neste cap´ıtulo na˜o deve ser nenhuma novidade para o leitor, mas e´ muito importante para nivelar nossos conhecimentos sobre os nu´meros reais e suas propriedades. Esse conteu´do pode ser enconrtrado em qualquer uma das refereˆncias citadas. 1.1 Nu´meros Inteiros, Racionais e Reais Os nu´meros mais usuais no dia a dia sa˜o os nu´meros 1, 2, 3, ..., chamados inteiros positivos (ou, simplesmente naturais). Geralmente os utilizamos para enumerar ou contar. Usaremos a seguinte notac¸a˜o para esse conjunto Notac¸~ao: N = {1, 2, 3, ...} Os nu´meros −1,−2,−3,−4, ... sa˜o chamados inteiros negativos. Quando nos referirmos aos inteiros positivos juntamente com os inteiros negativos e o 0, no´s os chamaremos simplesmente inteiros. Portanto, os inteiros sa˜o 0, 1,−1, 2,−2, 3,−3, .... Notac¸~ao Z = {...,−3,−2,−1, 0, 1, 2, 3, ...} A soma e o produto de dois nu´meros inteiros sa˜o ainda inteiros. Ademais, dados a, b e c inteiros quaisquer, esta soma obedece a`s seguintes propriedades: S1. Comutativa. a+ b = b+ a; 10 Cap´ıtulo 1 - Revisa˜o 11 S2. Associativa. (a+ b) + c = a+ (b+ c); S3. Elemento Neutro. a+ 0 = a para todo a ∈ Z e, ale´m disso, 0 e´ o u´nico inteiro com esta propriedade; S4. Inverso Aditivo. Para cada a ∈ Z existe um u´nico −a ∈ Z tal que a+ (−a) = 0. Note que a propriedade comutativa tambe´m garante que 0+ a = a e que (−a) + a = 0. O conjunto Z munido com esta soma e´ um exemplo de um grupo abeliano1 (ou comutativo). Ale´m dos inteiros temos as frac¸o˜es, como 3 4 , 5 7 ,−1 9 ,−10 29 , ..., que podem ser positivas ou negativas, e que podem ser escritas como quocientes m/n, onde m,n sa˜o inteiros e n 6= 0. Muito utilizadas em processos de divisa˜o. Tais frac¸o˜es sa˜o chamadas nu´meros racionais. Todo inteiro m e´ um nu´mero racional, porque pode ser escrito na forma m/1, mas e´ claro que nem todo nu´mero racional e´ um inteiro (Contra-exemplo: 1 2 na˜o e´ um nu´mero inteiro!). Para os racionais, usaremos a seguinte notac¸a˜o: Notac¸~ao: Q = {p q / p, q ∈ Z e q 6= 0}. Observe que a soma e o produto de dois nu´meros racionais sa˜o ainda nu´meros racionais. Se a/b e m/n sa˜o dois nu´meros racionais quaisquer (a, b,m, n inteiros e b, n 6= 0), a soma e o produto destes sa˜o da seguinte forma: a b . m n = a.m b.n (1.1) a b + m n = a.n+ b.m b.n . (1.2) Se p, q e w sa˜o racionais quaisquer, enta˜o este produto definido em (1.2) satisfaz as seguintes propriedades: P1. Comutativa. p.q = q.p ; P2. Associativa. (a.b).c = a.(b.c); P3. Elemento Neutro.2 p.1 = p para todo p ∈ Q. E 1 e´ o u´nico racional com tal propriedade. 1Em homenagem ao matema´tico noruegueˆs Niels Abel. 2Tambe´m chamado unidade. Cap´ıtulo 1 - Revisa˜o 12 Se pensarmos em + e · como operac¸o˜es, as propriedades acima e as treˆs primeiras propriedades da soma sa˜o ana´logas. Poder´ıamos enta˜o nos perguntar: “Para cada racional p existe um inverso multiplicativo q tal que p.q = 1?” A resposta e´ na˜o. O contra-exemplo e´ o´bvio: Na˜o existe nenhum racional tal que seu produto por 0 seja igual a 1. Entretanto, se olharmos para o conjunto Q−{0} = {q ∈ Q / q 6= 0} a resposta agora e´ sim. Todo nu´mero racional na˜o nulo possui um inverso multiplicativo e ale´m disso, se a/b e´ um racional na˜o nulo enta˜o b/a e´ seu inverso multiplicativo, ou seja, a b . b a = 1. Finalmente, temos os nu´meros que podem ser representados por deci- mais infinitas, como 3 9 = 0, 3333...,−978 990 = −0, 9878787...,√2 = 1, 41421356..., pi = 3, 141592.... Quando a representac¸a˜o decimal infinita de um nu´mero apresenta uma parte perio´dica este nu´mero e´ racional; caso contra´rio ele e´ chamado irracional. En- tretanto, este na˜o e´ um bom teste para verificar se um determinado nu´mero e´ ou na˜o racional pois esta parte perio´dica pode na˜o ser facilmente identificada. Os nu´meros racionais e irracionais sa˜o chamados nu´meros reais, ou simplesmente nu´meros (ou ainda, reais). Notac¸~ao: R = Q ∪ Irracionais. Observac¸a˜o 1.1.1 Note que N ⊂ Z ⊂ Q ⊂ R (“ ⊂ ” significa “esta´ contido em”!). Observac¸a˜o 1.1.2 Mais ainda, R = Q ∪ Irracionais e Q ∩ Irracionais = ∅. Isto e´, todo nu´mero real ou e´ racional ou e´ irracional, sa˜o caracter´ısticas mutuamente exclusivas (“ ∪ ” significa “unia˜o com”enquanto “ ∩ ” significa “intersec¸a˜o com”!). Observac¸a˜o 1.1.3 Na˜o existe uma lei de fomac¸a˜o que sirva para identificar todos os nu´meros irracionais, ao contra´rio do que acontece com os racionais. Observac¸a˜o 1.1.4 Ha´ muito mais irracionais que racionais entre os nu´meros reais (Apenas uma curiosidade!). Grosseiramente, se consegu´ıssemos colocar todos os nu´meros reais em uma caixa e escolheˆssemos aleatoriamente um deles, a probabili- dade desse nu´mero ser um racional e´ zero! Cap´ıtulo 1 - Revisa˜o 13 A soma e o produto de dois nu´meros reais ainda e´ um nu´mero real. A soma satisfaz as propriedades S1, S2, S3 e S4 e o produto satisfaz as propriedades P1, P2 e P3. Ademais, todo nu´mero real na˜o nulo possui um inverso multiplicativo e se x ∈ R e x 6= 0 enta˜o representaremos seu inverso multiplicativo por x−1 e x−1 = 1 x . Enfatizamos que a expressa˜o 1/0 ou 0−1 na˜o e´ definida. Em outras palavras, na˜o podemos dividir por 0, e na˜o atribuimos nenhum significado aos s´ımbolos 1/0 ou 0−1. Entretanto, se x e´ um nu´mero enta˜o o produto x.0 e´ definido e e´ igual a 0. O produto de qualquer nu´mero por 0 e´ 0. Ale´m disso, se x e´ qualquer nu´mero diferente de 0, enta˜o 0/x e´ definido e igual a 0, e pode ser escrito como 0.( 1 x ). Observac¸a˜o 1.1.5 Note que um nu´mero racional q = m n , m, n ∈ Z e n 6= 0, e´ zero se, e somente se, m = 0. R munido com a soma e o produto e´ um exemplo do que na A´lgebra se chama corpo. Existe em R uma ordem natural segundo a qual dados dois nu´meros quaisquer x e y em R tem-se: ou x > y, ou x = y ou y > x. Chamamos esta propriedade dos reais de Tricotomia. Assim R e´ o que chamamos um corpo ordenado. Munidos com esta ordem podemos representar o conjunto R geometrica- mente da seguinte maneira: 1. Trac¸amos uma reta e marcamos nela uma origem que sera´ ocupada pelo nu´mero 0. Cap´ıtulo 1 - Revisa˜o 14 2. Os pontos da reta que estiverem a` direta de 0 sera˜o os nu´meros positivos e os que estiverem a` esquerda de 0, os negativos. 3. Resta apenas definir uma unidade de medida para que possamos identificar qualquer nu´mero real como um ponto da reta, o ponto da reta que dista x de 0, se x e´ positivo e −x de 0 se x for negativo. 0 0 0 1 PositivosNegativos 1. 2. 3. Por exemplo o nu´mero −3 e´ negativo e se situa a` esquerda de 0 a uma distaˆncia de 3 unidades. Sua representac¸a˜o na reta e´ dada por 0 1-3 3 Esta ide´ia motiva a definic¸a˜o do valor absoluto de um nu´mero. Definic¸a˜o 1.1.1 O Valor Absoluto de um nu´mero, representado por |x|, e´ a distaˆncia deste nu´mero a` origem 0, e e´ dado por |x| = { x, se x ≥ 0; −x, se x < 0. Note que a distaˆncia entre dois nu´meros reais x e y e´ igual a |x− y|. Por exemplo, a distaˆncia entre 3 e −5 e´ |3− (−5)| = |8| = 8. (Veja a figura 1.1) Frequentemente, iremos nos valer desta bijec¸a˜o entre os nu´meros reais e os pontos de uma reta para confundirestas definic¸o˜es. Diremos reta real ou R para nos referirmos a` mesma coisa. Cap´ıtulo 1 - Revisa˜o 15 0 1-5 8unidades 3 Figura 1.1: Com a relac¸a˜o de ordem citada anteriormente, obtemos alguns subcon- juntos de R que sera˜o importantes para o nosso estudo futuro: os intervalos. Por exemplo o conjunto dos nu´meros reais que sa˜o maiores que a e menores que b e´ chamado um intervalo aberto. Denotaremos este conjunto por (a, b). Isto e´, (a, b) = {x ∈ R / a < x < b}. Temos tambe´m os intervalos fechados, denotados por [a, b] e tais que [a, b] = {x ∈ R / a ≤ x ≤ b} e os intervalos que na˜o sa˜o nem abertos nem fechados – os semi-abertos ou semi- fechados – denotados por [a, b) = {x ∈ R / a ≤ x < b} e (a, b] = {x ∈ R / a < x ≤ b}. Ale´m destes intervalos temos tambe´m os intervalos que sa˜o ilimitados. Utilizaremos os s´ımbolos∞ e −∞ para indicar que determinado intervalo se estende indefinidamente para a direita ou para a esquerda. Por exemplo, (a,∞) = {x ∈ R / x > a} e (−∞, b] = {x ∈ R / x ≤ b}. Observe que o intervalo sera´ sempre aberto nesses s´ımbolos. A maioria dos resultados que veremos nesta apostila fara˜o uso destes intervalos da reta, bem como a unia˜o e ou intersec¸a˜o deles. Cap´ıtulo 1 - Revisa˜o 16 1.2 Poteˆncias Seja n um inteiro maior ou igual que 1 (≥ 1) e seja a um nu´mero qualquer. Enta˜o, an e´ o produto de a por si mesmo n vezes. Por exemplo, se a = 2 e n = 3 enta˜o, a3 = 2.2.2 = 8. Uma propriedade elementar da potenciac¸a˜o e´ xm+n = xm.xn (1.3) onde x e´ um nu´mero qualquer e m,n sa˜o inteiros positivos (m,n ∈ Z e m, n > 0.) Sejam n ∈ Z, n ≥ 1 e a ∈ R, a > 0. Definimos a 1n como sendo o u´nico nu´mero positivo b tal que bn = a. (Admitimos, como parte das propriedades dos nu´meros, que tal nu´mero b, u´nico, exista). Pergunta: Se n e´ um inteiro ı´mpar, como 1, 3, 5, 7, ..., podemos definir b 1 n para todo nu´mero b? Se a, b sa˜o dois nu´meros maiores ou iguais a 0 e n um inteiro maior ou igual a 1 enta˜o (ab) 1 n = a 1 n b 1 n . (1.4) Existe outra regra elementar u´til. Sejam m,n inteiros maiores ou iguais a 1 e a um nu´mero maior ou igual a 0. Definimos3 a m n como sendo (a 1 n )m, que e´ tambe´m igual a (am) 1 n (Verifique! ). Vejamos agora poteˆncias com expoentes negativos ou 0. Queremos definir xa quando a e´ um nu´mero racional negativo ou 0 e x > 0. Queremos que seja va´lida a regra fundamental xa+b = xaxb. Isto significa que precisamos definir x0 como sendo 1. Por exemplo, como 23 = 23+0 = 2320, vemos que esta equac¸a˜o so´ e´ verificada se 20 = 1. Analogamente se, para x > 0, a relac¸a˜o xa = xa+0 = xax0 3Com isso definimos poteˆncia de um nu´mero com expoente racional positivo. Cap´ıtulo 1 - Revisa˜o 17 e´ verdadeira, enta˜o x0 precisa ser igual a 1. Suponhamos, finalmente que a seja um nu´mero racional positivo, e seja x um nu´mero maior que 0. Definimos x−a como sendo 1 xa . Assim, 2−3 = 1 23 = 1 8 , e 4− 2 3 = 1 4 2 3 . Observamos que neste caso especial, (4− 2 3 )(4 2 3 ) = 40 = 1. Em geral, xax−a = 1. (1.5) Com isso, terminamos nossa revisa˜o sobre nu´meros e regras ba´sicas de suas operac¸o˜es. Cap´ıtulo 1 - Revisa˜o 18 1.3 O Plano Cartesiano Um produto cartesiano entre dois subconjuntos A e B da reta real R e´ denotado por A×B e definido da seguinte maneira: A×B = {(a, b) / a ∈ A e b ∈ B}. O Plano Cartesiano4 e´ o produto cartesiano de R por R. A`s vezes uti- lizaremos R2 ao inve´s de R× R e chamaremos simplesmente plano real. O nu´mero a e´ chamado de abscissa de (a, b) e b a ordenada. A representac¸a˜o gra´fica e´ a que esta´ na figura 1.2. 0 x y a b P=(a,b) o rd en a d a abscissa d Figura 1.2: Plano Cartesiano. Pelo “Teorema de Pita´goras”, d = √ a2 + b2. 1.4 Distaˆncia no Plano e Equac¸a˜o de uma Circun- fereˆncia Observe a figura 1.2. 4Em homenagem ao seu criador, o matema´tico franceˆs Rene´ Descartes (1596-1650). Cap´ıtulo 1 - Revisa˜o 19 Pelo “Teorema de Pita´goras”, a dista˜ncia d entre o ponto P e a origem e´ dada por d2 = a2 + b2, o que inplica5 d = √ a2 + b2. Dados A = (a, b) e B = (c, d) a distaˆncia d entre A e B e´ dada por: d = √ (a− c)2 + (b− d)2. x y a b c d B=(c,d) A=(a,b) d Figura 1.3: d¯ e´ a distaˆncia entre os pontos A = (a, b) e B = (c, d) no plano. Uma circunfereˆncia e´ o conjunto de todos os pontos do plano que esta˜o situados a uma distaˆncia r de um ponto fixo P . P e r sa˜o chamados o centro e o raio, respectivamente, da circunfereˆncia. Dados P = (x0, y0) e r um nu´mero positivo dado, se (x, y) pertence a circunfereˆncia de raio r e centro em P enta˜o r = √ (x− x0)2 + (y − y0)2, 5Note que distaˆncia e´ sempre positiva (ou zero!). Cap´ıtulo 1 - Revisa˜o 20 ou seja, (x− x0)2 + (y − y0)2 = r2. (1.6) A equac¸a˜o (1.6) e´ chamada equac¸a˜o da circunfereˆncia de centro em P e raio r. 0 x0 y0 P r x y Figura 1.4: Circunfereˆncia de centro em P = (x0, y0) e raio r. Cap´ıtulo 1 - Revisa˜o 21 1.5 Exerc´ıcios Exerc´ıcio 1 Estenda as fo´rmulas (1.1) e (1.2) para todos os reais. Simplifique as expresso˜es abaixo, sabendo que a, b 6= 0: a. ( 1 a + 1 b ) . ( a 2b − 2 ) b. 1 a 1 b + 3 5a . Exerc´ıcio 2 Novamente usando as fo´rmulas (1.1) e (1.2) e lembrando que duas frac¸o˜es a c e b c com o mesmo denominador c 6= 0 sa˜o iguais se a = b, encontre A e B para que as seguintes igualdades ocorram a. 1 x2−1 = A x−1 + B x+1 , onde x e´ um nu´mero real diferente de 1 e −1. b. 1 6 = A 2 + B 3 . Sa˜o u´nicos os valores de A e B? Se A = 1 quanto deve ser B? Exerc´ıcio 3 Determine que valores um nu´mero real x pode assumir para que seja poss´ıvel efetuar os seguintes ca´lculos6: a. 1 x2−1 (isto e´, dividir 1 por x 2 − 1.) b. 21 (x−1)(x+2)(x+ 2 3 ) . Exerc´ıcio 4 Use as fo´rmulas acima para simplificar as expresso˜es abaixo. a. [(x− 2)−2 + (x− 1)−1].(x− 1) 23 , onde x e´ um nu´mero diferente de 1 e 2. b. Seja h > 0. Calcule (h+ 1)−1 − h−1. 6Lembre que o produto de dois nu´meros e´ zero se, e somente se, um deles e´ zero. Cap´ıtulo 1 - Revisa˜o 22 c. (x−1) 3(x−1)−2 (x−2)−2 , onde x 6= 2. d. ( (x−1)2(x−2)5 (x−2)3 ) 1 2 , onde x 6= 2. Exerc´ıcio 5 Encontre os valores de x para os quais e´ poss´ıvel determinar os quocientes abaixo. a. 1 x2+x+1 b. x−1 x2−2x+1 c. 1 (x−1)2(x−2)13(x−5)−1 . Exerc´ıcio 6 Determine a equac¸a˜o da circunfereˆncia com centro em (7, 5) e raio 3. Cap´ıtulo 2 Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es Um dos conceitos fundamentais em Matema´tica e´ o de func¸a˜o. Nesse cap´ıtulo estu- daremos as func¸o˜es de uma varia´vel e suas aplicac¸o˜es a`s cieˆncias econoˆmicas como, por exemplo, a ana´lise de equil´ıbrio e as func¸o˜es oferta/demanda. 2.1 Conceito e Notac¸a˜o Seja D ⊂ R um subconjunto na˜o-vazio dos nu´meros reais. Uma func¸a˜o f de D em R e´ uma correspondeˆncia que associa a cada elemento x de D um u´nico nu´mero, que denotaremos por f(x), em R. Em resumo: f : D → R x 7→ f(x). Podemos pensar em uma func¸a˜o como uma ma´quina que recebe como mate´ria-prima os elementos x de D, os processa e devolve na sa´ıda nu´meros reais do tipo f(x). E´ o que esta´ ilustrado a seguir: x f(x)Função Entrada Saída Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 24 O nu´mero x e´ tambe´m chamado varia´vel independente (ou simplesmente varia´vel). O conjunto D, formado por todas as entradas poss´ıveis, e´ chamado domı´nio de f . D = {x ∈ R / ∃f(x) ∈ R}. f(x) e´ chamado imagem de x por f . O conjunto formado pelos nu´meros f(x) com x ∈ D, dado por {f(x) / x ∈ D} e´ chamadode conjunto imagem de f . A notac¸a˜o para o conjunto imagem e´ Im(f). Assim, Im(f) = {f(x) / x ∈ D}. As seguintes notac¸o˜es para uma func¸a˜o f podem ser encontradas na literatura: f , f(x), y = f(x). Usaremos sempre uma letra, maiu´scula ou minu´scula, para representar as func¸o˜es. As varia´veis sera˜o representadas por letras minu´sculas. Existem diferentes maneiras de representar uma func¸a˜o: 1. Descric¸~ao Verbal. Por exemplo, podemos pensar em uma func¸a˜o que fornec¸a a soma de um nu´mero, diferente de zero, com seu inverso multiplicativo. 2. Express~ao ou Fo´rmula. f(x) = x2, S(x) = x+ 1 x . 3. Tabela de Valores. x 10 15 20 25 ... f(x) 450 600 750 900 ... Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 25 4. Gra´fico. f x y a f(a) 5. Diagrama de setas. 0 1 p f f(0)=3 f(1)=0 f( )=-1p Exemplo 2.1.1 Seja f(x) = x2. Calcule f(1), f(−2), f(a+h), f(a+h)− f(a) e f(a+h)−f(a) h . Soluc¸a˜o: f(1) = 12 = 1, f(−2) = (−2)2 = 4, f(a+ h) = (a+ h)2 = a2 + 2ah+ h2, f(a+ h)− f(a) = a2 + 2ah+ h2 − a2 = 2ah+ h2, f(a+ h)− f(a) h = 2ah+ h2 h = 2a+ h. ¤ Exemplo 2.1.2 Seja f(t) = t − 1 t . Encontre o domı´nio de f e os valores f(−1) e f(z − 1). Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 26 Soluc¸a˜o: D = {t ∈ R / t 6= 0} = R− {0}. f(−1) = 0, f(z − 1) = z − 1− 1 z−1 = z − 2, desde que z 6= 1. ¤ Exemplo 2.1.3 A Func¸a˜o Valor Absoluto. Vimos anteriormente a definic¸a˜o de valor absoluto1 de um nu´mero. O valor absoluto de um nu´mero pode ser visto como uma func¸a˜o que associa a cada nu´mero real x sua distaˆncia a` origem. Esta func¸a˜o e´ sempre positiva e como a forma de calcular a imagem de cada real depende de seu sinal, esta func¸a˜o e´ o primeiro exemplo de uma func¸a˜o enunciada por sentenc¸as. Exemplo 2.1.4 Suponha que um comerciante de cadeiras tenha um custo de R$30, 00 por cadeira produzida, ale´m de um custo mensal fixo de R$150, 00. Enta˜o, se x unidades de cadeiras forem produzidas, podemos escrever o custo total como func¸a˜o do nu´mero de cadeiras produzidas da seguinte maneira: C(x) = 30x+ 150. A tabela que ilustramos anteriormente fornece alguns valores desta func¸a˜o. Exemplo 2.1.5 Um comerciante deseja fazer caixas de papela˜o sem tampa uti- lizando pedac¸os quadrados de papela˜o com 30cm de lado, cortando quadrados iguais dos quatro cantos e virando para cima os lados que sobraram. Se x cm e´ o compri- mento do lado do quadrado a ser cortado, o volume V da caixa pode ser expresso como uma func¸a˜o de x da seguinte maneira: V (x) = (30− 2x)2.x = 900x− 120x2 + 4x3. Mais adiante estaremos interessados em saber qual o valor de x que fornecera´ o maior volume poss´ıvel a` caixa. Observe tambe´m que as limitac¸o˜es f´ısicas do problema fazem com que o domı´nio de V seja dado pelo intervalo aberto (0, 15). (Veja a figura 2.1) 1Recorde a definic¸a˜o 1.1.1. Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 27 30cm 30-2x x xcm Figura 2.1: O gra´fico de uma func¸a˜o f : D → R e´ o conjunto dos pares ordenados (x, f(x)) com x ∈ D. O gra´fico de f e´ um subconjunto do plano cartesiano e o denotaremos por Graf(f). Assim, Graf(f) = {(x, f(x)) / x ∈ D} e podemos representa´-lo no plano cartesiano da seguinte maneira. f x y a f(a) (a,f(a)) Uma curva no plano e´ o gra´fico de uma func¸a˜o se toda reta verical a intercepta uma u´nica vez. Na figura 2.2 damos exemplos de curvas no plano que representam e que na˜o representam gra´fico de uma func¸a˜o. Para a primeira curva, toda reta vertical a intercepta uma u´nica vez, logo, ela representa o gra´fico de uma func¸a˜o. Ja´ na segunda curva, existem retas verticais que a interceptam em treˆs lugares. Portanto, esta na˜o representa o gra´fico de uma func¸a˜o. Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 28 x y x y Figura 2.2: 2.1.1 Simetrias Algumas func¸o˜es apresentam simetrias que facilitam o trac¸ado de seus gra´ficos. Seja D um conjunto sime´trico em relac¸a˜o a 0, isto e´, se x pertence a D enta˜o seu oposto aditivo −x tambe´m pertence a D. Uma func¸a˜o f : D → R e´ par se f(−x) = f(x) para todo x ∈ D. O gra´fico de uma func¸a˜o par apresenta uma simetria com relac¸a˜o ao eixo-y. Isso significa que se fizermos o gra´fico de f para x ≥ 0, para obter o gra´fico inteiro basta refletir o que temos em torno do eixo-y. y -x x0 Por exemplo, f(x) = x2 e´ uma func¸a˜o par pois f(−x) = (−x)2 = x2 = f(x), ∀x ∈ D. Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 29 Uma func¸a˜o f : D → R e´ ı´mpar se f(−x) = −f(x), para todo x ∈ D. Por exemplo, a func¸a˜o f(x) = x3 e´ ı´mpar pois f(−x) = (−x)3 = −x3 = −f(x), ∀x ∈ D. O gra´fico de uma func¸a˜o ı´mpar e´ sime´trico em relac¸a˜o a` origem. Logo, se tivermos o gra´fico de f para x ≥ 0, podemos obter o gra´fico inteiro girando o que ja´ temos em 180o em torno da origem. y -x x 0 Exemplo 2.1.6 Determine se a func¸a˜o e´ par, ı´mpar ou nenhum dos dois. a. f(x) = x5 + x; b. g(x) = 2x− x4. Soluc¸a˜o: a. A func¸a˜o f e´ ı´mpar pois f(−x) = (−x)5 − x = −x5 − x = −(x5 + x) = −f(x), para todo x ∈ R. ¤ b. Ja´ a func¸a˜o g na˜o e´ nem par nem ı´mpar pois g(−x) = −2x− x4 que e´ diferente de g(x) e de −g(x). ¤ Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 30 Como acabamos de ver, existem func¸o˜es que nem sa˜o pares nem ı´mpares. Contudo, existe um fato curioso: “Toda func¸a˜o definida em um conjunto D, sime´trico em relac¸a˜o a origem, pode ser escrita como a soma de uma func¸a˜o par com uma func¸a˜o ı´mpar.” Com efeito, seja f uma func¸a˜o de D em R. Da´ı, se x ∈ D enta˜o f(x) = f(x) + f(x) 2 = f(x) + f(−x)− f(−x) + f(x) 2 = f(x) + f(−x) 2 + f(x)− f(−x) 2 . Afirmamos que g(x) = f(x)+f(−x) 2 e´ par e h(x) = f(x)−f(−x) 2 e´ ı´mpar. Se provamos esta afirmac¸a˜o concluimos a demonstrac¸a˜o. De fato, g(−x) = f(−x) + f(x) 2 = f(x) + f(−x) 2 = g(x) para todo x ∈ D e h(−x) = f(−x)− f(x) 2 = − [f(x)− f(−x) 2 ] = −h(x) para todo x ∈ D. Logo, g e´ par e h e´ ı´mpar. Esta demonstrac¸a˜o e´ de existeˆncia. Provamos que existem uma func¸a˜o par g e uma func¸a˜o ı´mpar h tais que f(x) = g(x) + h(x), para todo x ∈ D. Ale´m disso, demos uma fo´rmula para se encontrar as func¸o˜es g e h em termos de f . 2.1.2 Func¸o˜es Crescentes e Decrescentes Uma func¸a˜o f e´ crescente em um intervalo I se f(x1) < f(x2) sempre que x1 < x2 em I. f e´ decrescente em I se f(x1) > f(x2) sempre que x1 < x2 em I. Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 31 y x0 x1 x2 f(x )2 f(x )1 y x0 x1 x2 f(x )2 f(x )1 fcrescente fdecrescente Nestas definic¸o˜es e´ importante salientar que, por exemplo, uma func¸a˜o e´ crescente em um intervalo I se a desigualdade f(x1) < f(x2) se mante´m para quaisquer x1 e x2 em I com x1 < x2. Por exemplo, pelo gra´fico de f(x) = x2, podemos observar que esta e´ decrescente em (−∞, 0] e crescente em [0,∞). y x0 crescentedecrescente Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 32 2.2 Func¸o˜es Importantes Nesta sec¸a˜o veremos algumas das principais func¸o˜es do ca´lculo. 2.2.1 Func¸a˜o Linear Dizemos que uma func¸a˜o f e´ uma func¸a˜o linear 2 de x quando o gra´fico de f e´ uma reta. Assim, a forma mais geral poss´ıvel para uma func¸a˜o linear e´ f(x) = mx+ b onde m, b ∈ R. y x0 y=mx+b a m=tanab As constantesm e b recebem o nome de coeficiente angular(ou inclinac¸a˜o) e coeficiente linear, respectivamente. Se m = 0, f(x) = b e´ uma func¸a˜o constante e se m = 1 e b = 0, f(x) = x e´ a func¸a˜o identidade. Uma caracter´ıstica peculiar das func¸o˜es lineares e´ que elas crescem ou decrescem a uma taxa constante. O exemplo 2.1.4 e´ um exemplo de uma func¸a˜o linear. Note que a cada 5unidades a mais produzidas o custo total da produc¸a˜o aumenta em R$150, 00. Isso fornece uma taxa crescimento de R$30, 00 por unidade produzida. Esse resultado na˜o e´ nenhuma novidade ja´ que o pro´prio exemplo ja´ fornece esta informac¸a˜o. 2Esta e´ a definic¸a˜o dada em [2]. Em [5], define-se func¸a˜o linear como as func¸o˜es do tipo f(x) = ax, e as da forma g(x) = ax+ b, b 6= 0, sa˜o chamadas func¸o˜es afim. Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 33 2.2.2 Polinoˆmios Uma func¸a˜o P e´ chamada um polinoˆmio(ou func¸a˜o polinomial) se e´ da forma P (x) = anx n + an−1xn−1 + ...+ a2x2 + a1x+ a0 onde n e´ um inteiro na˜o negativo. Os nu´meros a0, a1, a2, ..., an sa˜o constantes chamadas coeficientes do polinoˆmio. O grau de P e´ o maior inteiro n tal que an 6= 0 e o grau de P (x) = 0 (chamado de polinoˆmio nulo) e´ zero. O domı´nio de qualquer polinoˆmio e´ R. Por exemplo, a func¸a˜o P (x) = 7x5 + √ 3x3 + pix2 − x+ 1 3 e´ um polinoˆmio de grau 5. A func¸a˜o V do exemplo 2.1.5 e´ um polinoˆmio de grau 3. Um polinoˆmio de grau 1 e´ da forma P (x) = mx + b e, portanto, e´ uma func¸a˜o linear. Um polinoˆmio de grau 2 e´ da forma P (x) = ax2+ bx+ c e e´ chamado de func¸a˜o quadra´tica. O gra´fico de P nesse caso e´ sempre uma para´bola. Um polinoˆmio de grau 3 e´ chamado de func¸a˜o cu´bica e tem a forma P (x) = ax3 + bx2 + cx+ d. Na figura 2.3 ilustramos os gra´ficos de polinoˆmios de graus 2,3,4 e 5. Os economistas frequentemente utilizam um polinoˆmio P (x) para repre- sentar o custo na produc¸a˜o de x unidades de um certo produto. 2.2.3 Func¸o˜es Racionais Uma func¸a˜o racional f e´ o quociente de dois polinoˆmios. Isto e´, f(x) = P (x) Q(x) onde P e Q sa˜o polinoˆmios. O domı´nio consiste de todos os valores de x tais que Q(x) 6= 0. Um exemplo ja´ conhecido de func¸a˜o racional e´ a func¸a˜o f(x) = 1 x que Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 34 grau2 grau3 grau4 grau5 Figura 2.3: Gra´ficos de polinoˆmios de graus 2,3,4 e 5. associa a cada nu´mero real na˜o nulo seu inverso multiplicativo. Seu domı´nio e´ R− {0}. A func¸a˜o f(x) = x− 1 x2 − 2x+ 1 e´ uma func¸a˜o racional cujo domı´nio e´ {x ∈ R / x 6= 1}. 2.2.4 Func¸o˜es Alge´bricas Uma func¸a˜o f e´ uma func¸a˜o alge´brica se puder ser constru´ıda a partir de um nu´mero finito de operac¸o˜es alge´bricas (tais como adic¸a˜o, multiplicac¸a˜o, extrac¸a˜o de ra´ızes) comec¸ando com polinoˆmios. Em particular, toda func¸a˜o racional e´ uma func¸a˜o alge´brica. Alguns exemplos: f(x) = √ x3 + 1 e g(x) = x4 − 16x2 x+ √ x + x 1 3 . O gra´fico de uma func¸a˜o alge´brica, como veremos mais adiante, pode assumir uma variedade de formas. Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 35 2.2.5 Func¸o˜es Exponenciais Uma func¸a˜o exponencial e´ uma func¸a˜o da forma f(x) = ax onde a e´ uma constante positiva. Por exemplo f(x) = 2x, g(x) = pix e h(x) = (1 2 )x sa˜o exemplos de func¸o˜es exponenciais. Os gra´ficos dos membros da famı´lia de func¸o˜es y = ax esta˜o na figura abaixo para valores diferentes da base a. Note que todos estes gra´ficos passam pelo ponto (0, 1), pois a0 = 1 para a 6= 0 (Veja a sec¸a˜o 1.2.). 0 a>1 a=1 0<a<1 Se 0 < a < 1, enta˜o ax aproxima-se de 0 a` medida que x cresce. Se a > 1, enta˜o ax tende a 0 a` medida que x decresce por valores negativos. Pela figura anterior, percebemos que existem treˆs tipos de func¸a˜o expo- nencial y = ax. Se 0 < a < 1, a func¸a˜o exponencial e´ sempre decrescente; se a = 1, ela e´ uma constante; e se a > 1, ela e´ crescente. Observe que o domı´nio de uma func¸a˜o exponencial e´ R e em qualquer caso ax > 0, para todo x. Ou seja, o conjunto imagem de uma func¸a˜o exponencial e´ o intervalo (0,∞). Ale´m disso, uma vez que Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 36 (1/a)x = 1/ax = a−x, o gra´fico de y = (1/a)x e´ a reflexa˜o do gra´fico de y = ax em torno do eixo-y. Dentre todas as bases poss´ıveis para uma func¸a˜o exponencial, ha´ uma que e´ mais conveniente. Na escolha de uma base a pesa muito a forma como a func¸a˜o y = ax corta o eixo-y. As figuras a seguir mostram as retas tangentes ao gra´fico de y = 2x e y = 3x (retas tangentes sera˜o definidas precisamente nos cap´ıtulos 3 e 4; por ora vamos pensar na reta tangente ao gra´fico exponencial em um ponto como a reta que toca o gra´fico em um u´nico ponto.) Se medirmos as inclinac¸o˜es das retas tangentes encontraremos m ≈ 0, 7 para y = 2x e m ≈ 1, 1 para y = 3x.0 1 y x a=3 a=2 m=1,1 m=0,7 Figura 2.4: y = ax, a = 2, 3 e suas respectivas retas tangentes em (0, 1). O nu´mero e e´ a base para a qual resulta uma reta tangente a y = ax no ponto (0, 1) com uma inclinac¸a˜o de exatamente 1. Ele foi descoberto pelo matema´tico su´ıc¸o Leonhard Euler em 1727. Analisando os gra´ficos acima na˜o nos surpreende que o nu´mero e esteja entre 2 e 3 e o gra´fico de y = ex entre os gra´ficos de y = 2x e y = 3x. O nu´mero e e´ um nu´mero irracional e seu valor3 ate´ a quinta casa decimal e´ dado por e ≈ 2, 71828. 3Na˜o entraremos em detalhes de como encontrar tal valor para e. Na˜o e´ o objetivo deste texto! Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 37 0 1 y x Figura 2.5: Gra´fico de y = ex e sua reta tangente em (0, 1) cuja inclinac¸a˜o e´ 1. 2.2.6 Func¸o˜es Inversas e Logaritmos Uma func¸a˜o f e´ chamada um a um (ou injetora) se nunca assume o mesmo valor duas vezes, isto e´, f(x1) 6= f(x2) sempre que x1 6= x2. Por exemplo, a func¸a˜o f(x) = x3 e´ um a um pois se x1 6= x2 enta˜o x31 6= x32 (dois nu´meros diferentes na˜o podem ter o mesmo cubo!). Pore´m, a func¸a˜o f(x) = x2 na˜o e´ um a um pois, por exemplo, se x1 = −1 e x2 = 1 enta˜o x1 6= x2 e, no entanto, f(x1) = 1 = f(x2). Se conhecemos o gra´fico de uma dada func¸a˜o f , para sabermos se ela e´ injetora basta verificar se toda reta horizontal intercepta seu gra´fico em apenas um ponto. Ou seja, uma func¸a˜o e´ um a um se toda reta vertical intercepta seu gra´fico uma u´nica vez (Veja a figura 2.6). O conjunto imagem de uma func¸a˜o f : D → R, denotado por Im(f) e´ Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 38 x y Figura 2.6: Gra´fico de uma func¸a˜o um a um. dado por Im(f) = {f(x) / x ∈ D}. Claramente, Im(f) e´ um subconjunto de R. O conjunto R, por sua vez, e´ chamado o contra-domı´nio de f . Sendo o mais geral poss´ıvel, se f e´ uma func¸a˜o de um conjunto A em um conjunto B (f : A→ B), enta˜o A e´ o domı´nio de f , B e´ o contra-domı´nio e o conjunto imagem Im(f) e´ um subconjunto de B. Diremos que uma func¸a˜o f : A → B e´ sobrejetora se Im(f) = B. Lem- bramos que esta igualdade e´ entre dois subconjuntos de R, isto e´, Im(f) = B se, e somente se, Im(f) ⊂ B e B ⊂ Im(f). Como a inclusa˜o Im(f) ⊂ B e´ sempre satisfeita enta˜o, para verificar que uma dada func¸a˜o e´ sobrejetora basta verificar se B ⊂ Im(f). Observe que qualquer func¸a˜o f : D → Im(f) e´ sempre sobrejetora. Ou seja, toda func¸a˜o e´ sobrejetora sobre o seu conjunto imagem. Uma func¸a˜o f : A → B e´ invert´ıvel (ou bijetora) se e´ injetora e sobre- jetora. Em particular, se B = Im(f) enta˜o f e´ invert´ıvel se e´ um a um. Tambe´m diremos, se f e´ invert´ıvel, que f possui uma inversa, a qual chamaremos de f−1, que esta´ definida em B e assume valores em A, ou seja, f−1 : B → A, e e´ definida Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 39 por f−1(y) = x⇔ f(x) = y para todo y ∈ B. Esta definic¸a˜o estabelece: se f transforma x em y, enta˜o f−1 transforma de volta y em x. Da´ı a necessidade de f ser um a um pois, caso contra´rio, f−1 na˜o seria uma func¸a˜o. Note que: Domı´nio de f = Im(f−1) Domı´nio de f−1 = Im(f). Por exemplo, a func¸a˜o inversa de f(x) = x3 e´ f−1(x) = x 1 3 pois se y = x3, enta˜o f−1(y) = f−1(x3)= (x3) 1 3 = x. Observac¸a˜o 2.2.1 Na˜o confundir o −1 de f−1 com um expoente. Assim, f−1(x) na˜o significa 1 f(x) ! Poder´ıamos modelar, por exemplo, o nu´mero de a´rvores y, em uma flo- resta, em func¸a˜o do tempo t, ou seja, y = f(t). Raciocinando inversamente, poderiamos estar interessados em saber quanto tempo demoraria para existir uma floresta com um determinado nu´mero de a´rvores. Agora, o tempo t e´ uma func¸a˜o do nu´mero de a´rvores y na floresta, e e´ expresso por t = f−1(y). Como Achar a Inversa de uma Func¸a˜o Invert´ıvel f : Passo 1. Escreva y = f(x); Passo 2. Resolva essa equac¸a˜o para x em termos de y (se poss´ıvel); Passo 3. Para expressar f−1 como uma func¸a˜o de x, troque x por y. A equac¸a˜o resultante e´ y = f−1(x). Vale tambe´m: f−1(f(x)) = x para todo x no domı´nio de f , Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 40 e f(f−1(x)) = x para todo x no domı´nio de f−1. Por exemplo, se quisermos encontrar uma func¸a˜o inversa para f(x) = 1 + 3x 5− 2x, de acordo com os passos acima temos, para todo x 6= 5/2: y = 1 + 3x 5− 2x ⇔ 5y − 2xy = 1 + 3x ⇔ 2xy + 3x = 5y − 1 ⇔ x(2y + 3) = 5y − 1 ⇔ x = 5y − 1 2y + 3 . Finalmente, f−1(x) = 5x−1 2x+3 . Observe que o domı´nio de f e´ R − {5 2 }, que e´ exatamente o conjunto imagem de f−1. Assim como R − {−3 2 } e´ o domı´nio de f−1 e a imagem de f . A seguir temos o gra´fico de f e de f−1. 0 y x y=-3/2 x=5/2 0 y x y=5/2 x=-3/2 Figura 2.7: y = 1+3x 5−2x e y = 5x−1 2x+3 . Deixo a cargo do leitor a verificac¸a˜o de que para f e f−1 dadas anterior- mente temos: f−1(f(x)) = x para todo x no domı´nio de f , e f(f−1(x)) = x para todo x no domı´nio de f−1. Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 41 O princ´ıpio de trocar x por y para encontrar a func¸a˜o inversa tambe´m nos da´ um me´todo para se obter o gra´fico da inversa f−1 a partir de f . Uma vez que f(a) = b se, e somente se, f−1(b) = a, o ponto (a, b) pertence ao gra´fico de f se, e somente se, o ponto (b, a) pertence ao gra´fico de f−1. Mas obtemos o ponto (b, a) refletindo (a, b) em torno da reta y = x (Veja a figura abaixo). y x y=x (a,b) (b,a) ab b a 0 Figura 2.8: f(a) = b se, e somente se, f−1(b) = a. Logo, o gra´fico de f−1 e´ a reflexa˜o do gra´fico de f em torno da reta y = x. Func¸o˜es Logar´ıtmicas Se a > 0 e a 6= 1, a func¸a˜o exponencial f(x) = ax e´ ou crescente (se a > 1) ou decrescente (se 0 < a < 1), e portanto injetora. Sabemos que Im(f) = (0,∞) (Recorde a sec¸a˜o 2.2.5). Da´ı, a func¸a˜o exponencial f : R → (0,∞) admite uma inversa f−1 : (0,∞) → R, a qual chamaremos de func¸a˜o logar´ıtmica com base a e denotaremos por loga. Assim, loga x = y ⇔ ay = x. Logo, se x > 0, enta˜o loga x e´ o expoente ao qual deve se elevar a base a para se obter x. Por exemplo, log10 0, 0001 = −4 porque 10−4 = 0, 0001. Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 42 A seguir esta˜o os gra´ficos de ax e loga x para a > 1. O fato de a x crescer muito ra´pido reflete o fato de loga x crescer devagar. y=a y= xlog y=xy x 0 1 1 x a Propriedades dos Logaritmos Se x e y forem nu´meros reais positivos (maiores que 0) enta˜o: 1. loga(xy) = loga x+ loga y (O logaritmo transforma produto em soma) 2. loga ( x y ) = loga x− loga y (O logaritmo transforma quociente em diferenc¸a) 3. loga(x r) = r loga x, onde r e´ qualquer nu´mero real. (O logaritmo transforma uma poteˆncia no produto do expoente pelo logaritmo da base) Usando estas propriedades podemos calcular, por exemplo, log2 80 − log2 5. Basta aplicar 2: log2 80− log2 5 = log2 (80 5 ) = log2 16 = 4 pois 24 = 16. Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 43 Logaritmos Naturais Os logaritmos na base e sa˜o chamados de logaritmos naturais e teˆm uma notac¸a˜o especial: loge x = ln x. Logo, ln x = y ⇔ ey = x Assim lnx = y ⇔ ey = x, ln(ex) = x, ∀x ∈ R e elnx = x, ∀x ∈ (0,∞). Em particular, se x = 1 temos ln e = 1. Observac¸a˜o 2.2.2 Os logaritmos em qualquer base podem ser representados em termos dos logaritmos naturais da seguinte forma: se a > 0 e a 6= 1, enta˜o loga x = ln x ln a . Com efeito, seja y = loga x. Enta˜o, a y = x. Tomando o logaritmo natural em ambos os lados da igualdade obtemos y ln a = ln x. Portanto, y = ln x ln a . Na figura 2.9 esta˜o os gra´ficos de ln x e ex. 2.3 A A´lgebra das Func¸o˜es Veremos aqui como construir novas func¸o˜es a partir das que ja´ definimos. Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 44 y=e y= xln y=xy x 0 1 1 x Figura 2.9: y = ex e sua inversa y = ln x. 2.3.1 Combinac¸o˜es Seja c uma constante real e sejam f e g func¸o˜es com domı´nios A e B, respectiva- mente. Enta˜o definimos as func¸o˜es cf , f + g, fg e f g da seguinte forma: (cf)(x) = c.f(x) e o domı´nio de cf e´ A; (f + g)(x) = f(x) + g(x) e o domı´nio de f + g e´ A ∩B; (fg)(x) = f(x).g(x) e o domı´nio de fg e´ A ∩B;( f g ) (x) = f(x) g(x) e o domı´nio de f g e´ {x ∈ A ∩B / g(x) 6= 0}. Exemplo 2.3.1 Se f(x) = √ 4− x e g(x) = 1 x−1 , encontre as func¸o˜es f + g e fg. Soluc¸a˜o: O domı´nio de f e´ (−∞, 4] e o de g e´ R − {1}. A intersec¸a˜o dos domı´nios de f e g e´ o conjunto W = {x ∈ R / x ≤ 4 e x 6= 1}. De acordo com as definic¸o˜es temos (f + g)(x) = √ 4− x+ 1 x− 1 (fg)(x) = √ 4− x x− 1 , Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 45 para todo x ∈W . ¤ O gra´fico da func¸a˜o f + g e´ obtido a partir dos gra´ficos de f e g por adic¸a˜o gra´fica. Isto significa que somamos as coordenadas y como na figura abaixo. y x0 f g f+g a f(a)+g(a) f(a) g(a) Figura 2.10: (f + g)(x) = f(x) + g(x) para todo x. 2.3.2 Composic¸a˜o de Func¸o˜es Suponha que y e´ uma func¸a˜o da varia´vel u, como por exemplo y = f(u) = √ u. Suponha tambe´m que u = g(x) = x2+1. Uma vez que y e´ uma func¸a˜o de u que por sua vez e´ uma func¸a˜o de x, segue que podemos expressar y como func¸a˜o de x por substituic¸a˜o direta: y = f(u) = f(g(x)) = f(x2 + 1) = √ x2 + 1. Esse processo chama-se composic¸a˜o de func¸o˜es, pois a func¸a˜o obtida e´ composta de duas func¸o˜es dadas f e g. Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 46 Assim, dadas duas func¸o˜es f e g, a func¸a˜o composta, denotada por f ◦ g, e´ definida por (f ◦ g)(x) = f(g(x)) e o domı´nio de f ◦ g, denotado por Df◦g, e´ o conjunto de todos os nu´meros x no domı´nio de g, tais que g(x) esteja no domı´nio de f . Logo, Df◦g = {x ∈ Dg | g(x) ∈ Df}, onde Df e Dg sa˜o os domı´nios de f e g, respectivamente. O diagrama abaixo explica o funcionamento da composic¸a˜o f ◦ g: x f(x)Função Entrada Saída x f(x)Função Entrada Saída g g(x) f f(g(x)) Máquina Máquina Figura 2.11: (f ◦ g)(x) = f(g(x)). Exemplo 2.3.2 Se f(x) = √ x e g(x) = 2x− 3, determine f ◦ g e g ◦ f assim como o domı´nio de cada uma. Soluc¸a˜o: (f ◦ g)(x) = f(g(x)) = f(2x− 3) = √ 2x− 3. O domı´nio de f e´ Df = [0,∞) enquanto o de g e´ Dg = R. Assim, pela definic¸a˜o Df◦g = {x ∈ Dg | g(x) ∈ Df} = {x ∈ R | g(x) ∈ [0,∞)} = {x ∈ R | 2x− 3 ≥ 0} = [3 2 ,∞). Isto e´, Df◦g = [ 3 2 ,∞). Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 47 (g ◦ f)(x) = g(f(x)) = g( √ x) = 2 √ x− 3 e seu domı´nio e´ Dg◦f = {x ∈ Df | g(x) ∈ Dg} = {x ∈ [0,∞) | f(x) ∈ R} = [0,∞), isto e´, Dg◦f = [0,∞). ¤ Exemplo 2.3.3 Seja f(x) = 1 x . Sabemos que Df = R− {0} e que (f ◦ f)(x) = x. Note que a expressa˜o de (f ◦ f)(x) esa´ definida para todo x ∈ R. Pore´m, pela definic¸a˜o do domı´nio de uma func¸a˜o composta, temos que Df◦f = {x ∈ Df | f(x) ∈ Df} = {x ∈ R− {0} | 1 x ∈ R− {0}} = R− {0}. ¤ O exemplo anterior mostra que na˜o devemos calcular o domı´nio de umfunc¸a˜o composta f ◦ g julgando apenas sua expressa˜o final. Devemos aplicar a definic¸a˜o, e, para isso, e´ necessa´rio conhecer os domı´nios de f e g. Na sec¸a˜o 2.2.6, definimos a func¸a˜o inversa e comentamos que uma de suas propriedades era f−1(f(x)) = x para todo x no domı´nio de f , e f(f−1(x)) = x para todo x no domı´nio de f−1. Se denotamos a func¸a˜o identidade pela letra I, isto e´, I(x) = x, enta˜o as propriedades acima podem ser escritas como composic¸o˜es da seguinte maneira: Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 48 f−1 ◦ f = I : Df → Df e f ◦ f−1 = I : Df−1 → Df−1 . Ou seja, a composic¸a˜o de f−1 com f e´ a identidade que leva elementos do domı´nio de f em elementos do domı´nio de f . E a composic¸a˜o de f com f−1 e´ a identidade definida no domı´nio de f−1. 2.4 Equac¸o˜es de Oferta e de Demanda Faremos aqui um resumo do que esta´ feito na sec¸a˜o 1.6 de [1]. Considere as circunstaˆncias relativas a um fabricante, nas quais as u´nicas varia´veis sa˜o o prec¸o e a quantidade de mercadoria demandada (procurada). Sejam p o prec¸o de uma unidade de mercadoria e x o nu´mero de unidades demandadas. Parece razoa´vel que a quantidade de mercadoria demandada no mercado pelos consumidores dependera´ do prec¸o da mesma. Quando o prec¸o diminui ha´ um aumento na procura pela mercadoria e caso o prec¸o aumente, ocorrera´ o contra´rio: a procura ira´ diminuir. Uma equac¸a˜o que relaciona a quantidade x de mercadoria demandada e o prec¸o p de uma unidade da mesma, e´ chamada equac¸a˜o de demanda. Chega-se a tal equac¸a˜o atrave´s da aplicac¸a˜o de me´todos estat´ısticos aos dados econoˆmicos. Uma equac¸a˜o de demanda pode ter uma das formas: p = f(x) (2.1) x = g(p). (2.2) A func¸a˜o f em (2.1) e´ chamada func¸a˜o prec¸o, e f(x) e´ o prec¸o de uma unidade de mercadoria quando x unidades sa˜o demandadas. A func¸a˜o g em (2.2) e´ chamada func¸a˜o de demanda, e g(p) e´ o nu´mero de unidades da mercadoria que sera˜o demandadas se p for o prec¸o por unidade. Em situac¸o˜es econoˆmicas normais os domı´nios das func¸o˜es prec¸o e de demanda consistem, como e´ de se esperar, de nu´meros na˜o-negativos. Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 49 p x0 CurvadeDemanda a b p=f(x) Figura 2.12: Uma curva de demanda e´ sempre decrescente. O gra´fico de uma equac¸a˜o de demanda e´ chamado curva de demanda. Em economia, e´ comum representarmos a varia´vel p no eixo vertical e a varia´vel x no eixo horizontal. Como a equac¸a˜o de demanda pode ser aplicada somente para alguns valores de x e de p, e´ muitas vezes necessa´rio restringi-los a intervalos fechados; isto e´, x ∈ [0, a] e p ∈ [0, b]. Mesmo que na pra´tica as quantidades e prec¸os, em geral, assumam valores racionais, permitiremos que x e p sejam quaisquer nu´meros reais dentro destes intervalos. Exemplo 2.4.1 Considere a equac¸a˜o de demanda: p2 + 2x− 16 = 0. (2.3) Como em situac¸o˜es econoˆmicas normais as varia´veis x e p sa˜o na˜o negativas, quando (2.3) e´ resolvida para p em func¸a˜o de x, rejeitamos os valores negativos de p, obtendo p = √ 16− 2x (2.4) que e´ do tipo (2.1). Assim a func¸a˜o prec¸o para a equac¸a˜o de demanda (2.3) e´ a func¸a˜o f para a qual f(x) = √ 16− 2x. Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 50 Agora, se resolvermos (2.3) para x como func¸a˜o de p, obtemos x = 8− 1 2 p2. (2.5) Assim, a func¸a˜o de demanda e´ a func¸a˜o g para a qual g(p) = 8 − 1 2 p2. Um esboc¸o da curva de demanda esta´ na figura abaixo. p x0 CurvadeDemanda: 2 p+2x-16=0 4 8 Figura 2.13: Equac¸a˜o de Demanda: p2 + 2x− 16. O gra´fico esta´ restrito ao primeiro quadrante ja´ que x e p sa˜o na˜o nega- tivas. De (2.4) obtemos que p ≤ 4 e x ≤ 8. Logo, x ∈ [0, 8] e p ∈ [0, 4]. ¤ A forma mais geral poss´ıvel de uma curva de demanda e´ a ilustrada na figura 2.12. Note que, ale´m de pertencer ao 1o quadrante, a func¸a˜o que descreve o gra´fico e´ sempre decrescente. Suponha agora que x seja o nu´mero de unidades de uma certa mercadoria a ser ofertada por um produtor e, assim como antes, p seja o prec¸o de uma unidade da mercadoria. Suponha tambe´m que estas sa˜o as u´nicas varia´veis. Uma equac¸a˜o envol- vendo estas duas varia´veis e´ chamada equac¸a˜o de oferta. Numa situac¸a˜o econoˆmica Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 51 normal temos que as varia´veis x e p sa˜o na˜o negativas e x2 > x1 se, e somente se, p2 > p1; isto e´, quando o prec¸o da mercadoria aumenta, o produtor naturalmente aumentara´ a oferta para tirar vantagem dos prec¸os mais altos. Da mesma forma havera´ uma tendeˆncia em diminuir a quantidade ofertada quando o prec¸o diminui. O caso trivial quando a oferta e´ constante qualquer que seja o prec¸o, e´ uma excec¸a˜o a esta afirmac¸a˜o. O gra´fico de uma equac¸a˜o de oferta e´ chamado curva de oferta. A figura abaixo e´ um exemplo. p x0 CurvadeOferta p 0 Figura 2.14: Uma curva de oferta e´ sempre crescente. Quando x = 0, p(0) = p0 e´ o prec¸o segundo o qual nenhuma mercadoria estara´ dispon´ıvel no mercado. Quando o prec¸o unita´rio e´ grande, o produtor oferta uma grande quantidade de mercadoria ao mercado. Note que a func¸a˜o que fornece a curva de oferta e´ sempre crescente. Exemplo 2.4.2 A na˜o ser que o prec¸o de uma guitarra Fender supere R$500, 00, nenhuma guitarra estara´ dispon´ıvel no mercado. Entretanto, quando o prec¸o atingir R$700, 00, 100 unidades desta guitarra estara˜o dispon´ıveis no mercado. Supondo que a equac¸a˜o de oferta e´ linear, encontre-a e esboce a curva de oferta. Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 52 Soluc¸a˜o: Como a equac¸a˜o de oferta e´ linear, a curva de oferta e´ uma reta e os pontos (x1, p1) = (0, 500) e (x2, p2) = (100, 700) pertencem a ela. Da´ı, a inclinac¸a˜o desta reta e´ dada por m = p2 − p1 x2 − x1 = 200 100 = 2. Portanto, a equac¸a˜o de oferta e´ dada por p− 500 = 2(x− 0) ⇔ p− 2x− 500 = 0 ou seja, p− 2x− 500 = 0. A curva de oferta e´: 0 100 200 300 400 500 600 700 p 20 40 60 80 100 x EquaçãodeOferta: p-2x-500=0 Figura 2.15: Curva de Oferta: p− 2x− 500 = 0. Chamaremos o conjunto das empresas que produzem uma certa mer- cadoria de indu´stria. O mercado para uma certa mercadoria consta da indu´stria e dos consumidores da mercadoria. A equac¸a˜o de oferta do mercado e´ determinada a partir das equac¸o˜es de oferta das companhias integrantes da indu´stria, e a equac¸a˜o de demanda do mercado e´ determinada atrave´s das equac¸o˜es de demanda de todos Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 53 os consumidores. Mostraremos agora como determinar o prec¸o de equil´ıbrio e a quantidade de equil´ıbrio de um mercado. O equil´ıbrio de mercado ocorre quando a quantidade de mercadoria de- mandada, a um dado prec¸o, e´ igual a` quantidade de mercadoria oferecida a`quele prec¸o. Isto e´, o equil´ıbrio de mercado ocorre quando todas as mercadorias colocadas a venda a um dado prec¸o sa˜o vendidas. Quando ocorre o equil´ıbrio de mercado, a quantidade de mercadoria produzida e´ chamada quantidade de equil´ıbrio e o prec¸o da mercadoria e´ chamado prec¸o de equil´ıbrio. A quantidade de equil´ıbrio e o prec¸o de equil´ıbrio sa˜o determinados resolvendo simultaneamente as equac¸o˜es de demanda e oferta do mercado. Na figura a seguir temos esboc¸os das curvas de demanda e oferta, indicadas por D e S, respectivamente. p x0 x p E E D S E Figura 2.16: O ponto E = (xE, pE) e´ o ponto de equil´ıbrio e suas coordenadas sa˜o a quantidade de equil´ıbrio xE e o prec¸o de equil´ıbrio pE. Exemplo 2.4.3 As equac¸o˜es de demanda e oferta do mercado sa˜o, respectivamente, x2 + p2 = 25 e x2 − 8p+ 8 = 0 onde p e´ o prec¸o e x unidades a quantidade. Determine aquantidade e o prec¸o de equil´ıbrio. Trace esboc¸os das curvas de oferta e demanda no mesmo conjunto de eixos, e mostre o ponto de equil´ıbrio. Soluc¸a˜o: Para encontrarmos o ponto de equil´ıbrio resolvemos simultaneamente as Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 54 equac¸o˜es. Isolando x2 em ambas as equac¸o˜es temos x2 = 25− p2 x2 = 8p− 8. Igualando, encontramos uma equac¸a˜o para o prec¸o de equil´ıbrio: 25− p2 = 8p− 8⇔ p2 + 8p− 33 = 0. Esta equac¸a˜o tem como ra´ızes 3 e −11. Como as varia´veis sa˜o todas na˜o negativas, enta˜o o prec¸o de equil´ıbrio e´ pE = 3. Substituindo em qualquer uma das equac¸o˜es dadas encontramos a quantidade de equil´ıbrio. Assim, x2 + 32 = 25⇒ x2 = 16⇒ x = 4. Logo, a quantidade de equil´ıbrio e´ xE = 4. A seguir temos o gra´fico desejado. ¤ 0 1 2 3 4 5 p 1 2 3 4 5 x S D E x p E E Terminamos assim este cap´ıtulo sobre func¸o˜es. Nos pro´ximos cap´ıtulos desenvolveremos a teoria necessa´ria para esboc¸armos o gra´fico de uma func¸a˜o de uma varia´vel e solucionarmos problemas pra´ticos de otimizac¸a˜o. Ate´ enta˜o, nos limitamos Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 55 a trac¸ar gra´ficos de equac¸o˜es de curvas familiares, tais como retas, semi-c´ırculos e para´bolas. Uma pergunta surge: “O que nos garante o formato desses gra´ficos?” Esperamos ser capazes de responder a tal pergunta com o estudo do limite e da derivada de uma func¸a˜o. Ate´ o pro´ximo cap´ıtulo! Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 56 2.5 Exerc´ıcios Exerc´ıcio 1 Ache a inclinac¸a˜o da reta 3x− 4y = 12. Exerc´ıcio 2 Mostre que as retas 2x− 3y + 8 = 0 e 4x− 6y + 5 = 0 sa˜o paralelas. Exerc´ıcio 3 Ache a inclinac¸a˜o da reta que passa pelos pontos (4,−5) e (−2, 7). Es- creva uma equac¸a˜o desta reta. Exerc´ıcio 4 Nos exerc´ıcios a seguir considere uma func¸a˜o f : Df → R cuja expressa˜o e´ dada em cada caso. Determine o Domı´nio D de cada uma. (a) f(x) = √ 2x+ 5; (b) f(x) = x 2−16 x+4 ; (c) f(x) = x 2+x−6 x−2 ; (d) f(x) = { x2 − 1, se x < 1; x− 1, se 1 ≤ x. ; (e) f(x) = x+ |x|; (f) f(x) = 1|x−1| ; (g) f(x) = ln(x2 − 1); (h) f(x) = ex 2 . Exerc´ıcio 5 Seja f : R→ R dada por f(x) = 3x2− x+ 5. Ache (a) f(1); (b) f(−3); (c) f(−x2); (d) −[f(x)]2; (e) f(x+h)−f(x) h , se h 6= 0. Exerc´ıcio 6 Seja g : [−3,∞) → R dada por g(x) = √x+ 3. Ache (a) g(−3); (b) g(1); (c) g(x2); (d) [g(x)]2; (e) g(x+h)−g(x) h , se h 6= 0. Nos exerc´ıcios de 7 a 10 defina as seguintes func¸o˜es e determine o domı´nio da func¸a˜o resultante: (a) f ◦ g; (b) g ◦ f ; (c) f ◦ f ; (d) g ◦ g. Exerc´ıcio 7 f(x) = x2 − 4; g(x) = 4x− 3; Exerc´ıcio 8 f(x) = √ x+ 2; g(x) = x2 + 4; Exerc´ıcio 9 f(x) = x2 − 9; g(x) = √x+ 5; Exerc´ıcio 10 f(x) = √ x− 1; g(x) = ln x. Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 57 Exerc´ıcio 11 Encontre uma fo´rmula para a func¸a˜o inversa. a. f(x) = 5− 4x3; b. f(x) = √ 2 + 5x; c. f(x) = ln(x+ 3); d. f(x) = 1+e x 1−ex ; e. f(x) = 1− 2 x2 . Exerc´ıcio 12 Se a populac¸a˜o de bacte´rias comec¸a com 100 e dobra a cada treˆs horas, enta˜o o nu´mero de bacte´rias apo´s t horas e´ n = f(t) = 100.2 t 3 . a. Encontre a func¸a˜o inversa e explique seu significado. b. Quando a populac¸a˜o atingira´ 50.000 bacte´rias? Exerc´ıcio 13 A equac¸a˜o de demanda para um produto e´ p2 + 2p + 2x − 24 = 0. (a) Fac¸a um esboc¸o da curva de demanda, (b) ache o prec¸o mais alto que qualquer pessoa pagaria pelo produto, e (c) ache a demanda se o produto fosse gra´tis. Exerc´ıcio 14 A equac¸a˜o de oferta de um produto e´ x2+4x−4p+20 = 0. (a) Fac¸a um esboc¸o da curva de oferta e (b) ache o prec¸o mais baixo pelo qual o produto seria fornecido. Nos exerc´ıcios 15 e 16 sa˜o dadas as equac¸o˜es de oferta e demanda. (a) Determine a quantidade e o prec¸o de equil´ıbrio, e (b) fac¸a o esboc¸o das curvas de oferta e demanda no mesmo conjunto de eixos, e mostre o ponto de equil´ıbrio. Exerc´ıcio 15 2x+ p− 12 = 0; x2 − p+ 4 = 0. Exerc´ıcio 16 x2 + p = 169; p− 2x = 2. Exerc´ıcio 17 Um equipamento foi comprado por 20.000 reais, e espera-se que o seu valor final apo´s 10 anos de uso seja 1.500 reais. Se o me´todo da linha reta for usado para depreciar o equipamento de 20.000 a 1.500 reais em 10 anos, qual o valor l´ıquido do equipamento apo´s 5 anos. Exerc´ıcio 18 A “Lei de Boyle”afirma que a uma temperatura constante o volume de um ga´s e´ inversamente proporcional a` pressa˜o do ga´s, e um ga´s ocupa 100m3 a uma pressa˜o de 24Kg por cent´ımetro quadrado. (a) Expresse o nu´mero de metros Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 58 cu´bicos ocupados por um ga´s como func¸a˜o do nu´mero de quilogramas por cent´ımetro quadrado em sua pressa˜o. (b) Qual e´ o volume de um ga´s quando sua pressa˜o e´ 16Kg por cent´ımetro quadrado. Exerc´ıcio 19 Pedac¸os quadrados de metal com 51 cent´ımetros de lado sa˜o usados para construir caixas abertas, cortando-se quadrados iguais dos quatro cantos e levantando para cima os lados. (a) Se x cm e´ o comprimento do lado do quadrado cortado, expresse o nu´mero de cent´ımetros cu´bicos do volume da caixa como func¸a˜o de x. (b) Qual o domı´nio da func¸a˜o resultante? Exerc´ıcio 20 Um atacadista oferece entregar a um comerciante 300 cadeiras ao prec¸o unita´rio de 90 reais e reduzir o prec¸o de cada cadeira em toda encomenda em 0.25 reais (25 centavos) para cada unidade adicional acima de 300. (a) Se x cadeiras forem encomendadas , expresse o custo do comerciante como func¸a˜o de x. (b) Qual o domı´nio da func¸a˜o resultante? Exerc´ıcio 21 Uma excursa˜o patrocinada por uma escola pode acomodar ate´ 350 estu- dantes e custara´ 15 reais por estudante, se o nu´mero de estudantes na˜o exceder 150; contudo o custo por estudante sera´ reduzido em 5 centavos para cada estudante que passar de 150 ate´ o custo atingir 10 reais por estudante. (a) Se x estudantes fazem a excursa˜o, expresse a receita total em func¸a˜o de x. (b) Qual o domı´nio da func¸a˜o resultante? Sugesta˜o: Siga a ide´ia do exerc´ıcio anterior! Exerc´ıcio 22 Quando o prec¸o e´ de 140 reais, existem 6.000 ra´dios dispon´ıveis no mercado. A cada aumento de 20 reais no prec¸o, outros 3.000 ra´dios esta˜o dispon´ıveis no mercado. Supondo linear a equac¸a˜o de oferta, encontre-a e fac¸a um esboc¸o da curva de oferta.4 Exerc´ıcio 23 Uma empresa pode vender 10.000 unidades de um dado produto quando o prec¸o unita´rio e´ 30 reais, e a empresa estimou que pode vender mais 1.000 unidades a cada reduc¸a˜o de 2 reais no prec¸o. Supondo linear a equac¸a˜o de demanda, encontre-a e fac¸a um esboc¸o da curva de demanda. Exerc´ıcio 24 As equac¸o˜es de demanda e oferta de um mercado sa˜o dadas, respectiva- mente, abaixo. Em cada caso, determine a quantidade e o prec¸o de equil´ıbrio, trace esboc¸os das curvas de demanda e oferta no mesmo conjunto de eixos, e mostre o 4Fac¸a apenas um esboc¸o! Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 59 ponto de equil´ıbrio. (a) x+ 2p− 15 = 0; x− 3p+ 3 = 0; (b) 3x2 − 6x+ p− 8 = 0; x2 − p+ 4 = 0; (c) p2 + p+ x− 12 = 0; 2p2 − 2p− x− 4 = 0. Exerc´ıcio 25 Considere as seguintes varia´veis de mercado Qd ≡ Quantidade procurada de mercadorias (Unidades por semana) Qd ≡ Quantidade ofertada de mercadorias (Unidades por semana) P ≡ Prec¸o (Reais). Funcionamento do mercado: (i) Condic¸a˜o de Equil´ıbrio: O equil´ıbrio ocorre no mercado se, e somente se, o excesso de demanda e´ zero (Qd −Qs = 0). (ii) Demanda versus Prec¸o: Suponha que Qd seja uma func¸a˜o linear decrescente de P (quando P aumenta Qd diminui). (iii) Oferta versus Prec¸o: Suponha que Qs seja uma func¸a˜o linear crescente de P (quando P aumenta, Qs tambe´m aumenta), com a condic¸a˜o de que a quantidade ofertada seja nula a na˜o ser que o prec¸o excedaum valor positivo espec´ıfico. Ao todo, o modelo contera´ uma condic¸a˜o de equil´ıbrio mais duas equac¸o˜es de comportamento que governam os lados da demanda e da oferta no mercado, respectivamente. Traduzindo em termos matema´ticos, o modelo acima pode ser apresentado como: Qd = Qs (Equil´ıbrio de Mercado) Qd = a− bP onde a, b > 0 (Equac¸a˜o de Demanda) Qs = −c+ dP onde c, d > 0 (Equac¸a˜o de Oferta) (2.6) a. Associando ao eixo-y as quantidades e ao eixo-x o prec¸o, trace num mesmo gra´fico as curvas de oferta e de demanda para o modelo acima e identifique nele o equil´ıbrio de mercado (P¯ , Q¯). Cap´ıtulo 2 - Func¸o˜es e Aplicac¸o˜es 60 b. Resolva o modelo de mercado (5.5) com a = 15, b = 4, c = 1 e d = 6. c. Se b+ d = 0 no modelo linear de mercado (5.5), na˜o se pode achar uma soluc¸a˜o de equil´ıbrio para o mesmo. Oferec¸a uma explicac¸a˜o matema´tica assim como uma explicac¸a˜o econoˆmica para este fato. (Sugesta˜o 1: Trace e estude o gra´fico para esta situac¸a˜o! Sugesta˜o 2: Enunciado longo implica em soluc¸a˜o fa´cil!!!) Exerc´ıcio 26 Uma locadora A aluga carro popular nas seguintes condic¸o˜es: uma taxa fixa de R$50, 00 e mais R$0, 30 por quiloˆmetro (km) rodado. Expresse o custo da locac¸a˜o em func¸a˜o dos quiloˆmetros rodados. Exerc´ıcio 27 Continuando o exerc´ıcio anterior, suponha que uma outra locadora B alugue, tambe´m, carro popular nas seguintes condic¸o˜es: uma taxa fixa de R$20, 00 e R$0, 35 por quiloˆmetro rodado. Qual a locadora que voceˆ escolheria para alugar um carro? Exerc´ıcio 28 Deseja-se construir uma caixa de forma cil´ındrica de 1m3 de volume. Nas laterais e no fundo sera´ utilizado um material que custa R$10, 00 o metro quadrado (m2) e, na tampa, material que custa R$20, 00 o m2. Expresse o custo C em func¸a˜o do raio da base. (Lembre-se: a a´rea de um c´ırculo de raio r e´ pir2, o comprimento da circunfereˆncia de raio r e´ 2pir e o volume do cilindro e´ o produto da a´rea da base pela altura.) Exerc´ıcio 29 Deseja-se construir uma caixa, sem tampa, em forma de um paralelep´ı- pedo retaˆngulo, de volume 70cm3, e sabe-se que o prec¸o do material a ser utilizado no fundo e´ o dobro do prec¸o daquele a ser utilizado nas laterais. Estabelec¸a uma fo´rmula para o ca´lculo do custo do material sabendo que o custo do material a ser utilizado nas laterais e´ de R$1, 00 por cm2. Exerc´ıcio 30 Considere as func¸o˜es lineares f(x) = x+ 6 e g(x) = 4x. a. Para que valores de x tem-se f(x) > g(x)? b. Para que valores de x tem-se f(x) < g(x)? c. Para que valores de x tem-se f(x) = g(x)? d. Interprete graficamente. Cap´ıtulo 3 Limite e Continuidade O conceito de limite e´ o ponto de partida para definir todos os outros conceitos do ca´lculo, como continuidade e derivadas. Neste cap´ıtulo vamos discutir a definic¸a˜o de limite e os me´todos utilizados para calcula´-lo. Tambe´m veremos o importante conceito de continuidade. 3.1 O Limite de uma Func¸a˜o Comec¸aremos tentando esboc¸ar o gra´fico da func¸a˜o racional f(x) = x2 − x− 2 x− 2 (3.1) cujo domı´nio e´ formado por todos os nu´meros reais com excec¸a˜o de 2. Na˜o pode- mos calcular a imagem de 2 pela func¸a˜o pois isso levaria a uma divisa˜o por zero. Entretanto, e´ interessante estudar o comportamento desta func¸a˜o nas proximidades do ponto exclu´ıdo. Para isso, observe a tabela a seguir: x 1,95 1,96 1,97 1,98 1,99 2 2,01 2,02 2,03 2,04 2,05 f(x) 2,95 2,96 2,97 2,98 2,99 ? 3,01 3,02 3,03 3,04 3,05 Examinando esta tabela, podemos perceber um certo padra˜o. Em primeiro lugar, f(x) se aproxima de 3 quando x se aproxima de 2. Matematicamente, dizemos Cap´ıtulo 3 - Limite e Continuidade 62 que f(x) tende a 3 quando x tende a 2. Ale´m disso, os valores de f(x) tendem a 3 regularmente. Note que a cada variac¸a˜o de ±0, 01 em x corresponde uma variac¸a˜o de ±0, 01 em f(x), o que sugere que f(x) se comporta como uma func¸a˜o linear de inclinac¸a˜o 1. Este e´ realmente o caso, como podemos ver fatorando o numerador x2 − x− 2 = (x− 2)(x+ 1), e cancelando um dos fatores com o denominador. Assim, para todo x 6= 2, temos: f(x) = x2 − x− 2 x− 2 = (x− 2)(x+ 1) x− 2 = x+ 1. Note que ao simplificarmos a func¸a˜o racional f encontramos uma func¸a˜o que lhe e´ equivalente em todos os pontos do seu domı´nio (x 6= 2). O gra´fico da func¸a˜o racional (3.1) e´, portanto, a reta de equac¸a˜o y = x+1 com excec¸a˜o do ponto (2, 3) visto que f na˜o esta´ definida em 2. Ou seja, o gra´fico de f coincide com esta reta para todos os valores de x exceto 2, o que explica a regularidade que observamos na tabela. 1 0 0 1 -1-1 2 3 y x x yy=x+1 y=f(x) Figura 3.1: O gra´fico de f coincide com a reta y = x + 1 para todos os valores de x exceto 2. Resumindo: embora a func¸a˜o f na˜o esteja definida em x = 2, conhecemos seu comportamento nas proximidades de x = 2. Especificamente, sabemos: (i) os valores da func¸a˜o se aproximam de 3 quando x se aproxima de 2; Cap´ıtulo 3 - Limite e Continuidade 63 (ii) podemos obter valores para f(x) ta˜o pro´ximos de 3 quanto quisermos, bastando para isso tomar valores de x suficientemente pro´ximos de 2. Esta relac¸a˜o pode ser expressa pela seguinte expressa˜o matema´tica: lim x→2 f(x) = 3. (3.2) A expressa˜o (3.2) diz: o limite de f(x) quando x tende a 2 e´ igual a 3. No caso geral, escrevemos lim x→a f(x) = L (3.3) para indicar que os valores f(x) tendem para o nu´mero real1 L quando x tende para o nu´mero a, e dizemos que o limite de f(x) quando x tende para a e´ igual a L. Observe que ao discutirmos limites so´ estamos interessados nos valores de f(x) nas proximidades de x = a. Isto significa que a func¸a˜o f nem precisa estar definida no ponto a, como e´, inclusive, a func¸a˜o racional dada por (3.1). Uma definic¸a˜o precisa de limite pode ser encontrada em [2] ou [5]. A definic¸a˜o informal apresentada a seguir e´ suficiente para nossos propo´sitos. Nela utilizaremos o s´ımbolo ≈, que significa “e´ aproximadamente igual a”. Definic¸a˜o 3.1.1 Sejam a e L nu´meros reais dados. lim x→a f(x) = L significa dizer que 1. f(x) ≈ L para todos os valores de x pro´ximos de a; 2. podemos obter valores para f(x) ta˜o pro´ximos de L quanto quisermos, bastando para isso tomar valores de x suficientemente pro´ximos de a. Conve´m salientar que este L, quando existe, e´ u´nico. Ademais, como se pode ver, a definic¸a˜o na˜o diz o que acontece para x = a. Ja´ comentamos que a 1Aqui L e a sa˜o nu´meros reais! Cap´ıtulo 3 - Limite e Continuidade 64 func¸a˜o nem precisa estar definida no ponto a; mesmo que esteja definida, seu valor neste ponto, f(a), pode ser diferente do limite quando x→ a. Repetindo: o limite limx→a f(x) na˜o depende do valor da func¸a˜o no ponto x = a. A func¸a˜o nem precisa estar definida em a, contanto que esteja definida nos pontos pro´ximos de a. Por exemplo, as func¸o˜es (3.1), g(x) = x+ 1 e h(x) = { x2−x−2 x−2 , se x 6= 2; 2, se x = 2 possuem o mesmo limite, L = 3, quando x → 2 ja´ que se x 6= 2 temos que f(x) = g(x) = h(x) = x + 1. Entretanto, f na˜o esta´ definida em 2 e h(2) = 2 6= 3. g e´ a u´nica delas que, ale´m de estar definida em 2, g(2) = 3 que coincide com o valor de L. Veremos a seguir que isso na˜o e´ mera coincideˆncia. 1 0 0 1 -1-1 2 3 y x x yy=g(x) y=f(x) 0 1 -1 2 3 x y y=h(x) 2 Figura 3.2: Os gra´ficos de f , g e h so´ diferem em x = 2. 3.2 Limites Laterais Considere a func¸a˜o de Heaviside2 que e´ definda por H(t) = { 0, se t < 0; 1, se t ≥ 0. 2Essa func¸a˜o, cujo nome homenagea o engenheiro ele´trico Oliver Heaviside (1850-1925), pode ser usada para descrever uma corrente ele´trica que e´ estabelecida quando t = 0. Cap´ıtulo3 - Limite e Continuidade 65 Quando t tende a 0 por valores negativos, H(t) tende a 0. Quando t tende a 0 por valores positivos, H(t) tende a 1. Na˜o existe um nu´mero u´nico para o qual H(t) tende quando t tende a 0. Portanto, limx→0H(t) na˜o existe. Entretanto faz sentido pensarmos na ide´ia dos limites laterais de f quando x tende a zero. y x0 1 Figura 3.3: Func¸a˜o de Heaviside. Definic¸a˜o 3.2.1 Escrevemos lim x→a− f(x) = L e dizemos que o limite de f(x) quando x tende para a pela esquerda e´ L se podemos obter valores de f(x) ta˜o pro´ximos de L quanto quisermos bastando para isso tomar valores de x suficientemente pro´ximos de a e menores que a. O que acabamos de definir e´ o limite lateral a` esquerda de f(x) quando x tende para a. Analogamente, definimos o limite lateral a` direita de f(x) quando x tende para a substituindo na definic¸a˜o 3.2.1 a expressa˜o x → a− por x → a+ e lembrando que agora tomamos valores de x pro´ximos de a e maiores que a. Munidos com estas definic¸o˜es podemos dizer enta˜o lim t→0− H(t) = 0 e lim t→0+ H(t) = 1. Cap´ıtulo 3 - Limite e Continuidade 66 Portanto, parece o´bvio das definic¸o˜es 3.1.1 e 3.2.1 que limx→a f(x) = L se, e somente se, limx→a− f(x) = L e limx→a+ f(x) = L. Ou seja, existe o limite de uma func¸a˜o f(x) quando x tende para a se, e somente se, existem os limites laterais de f(x) quando x tende para a. 3.3 Limites Infinitos Vejamos um exemplo: Exemplo 3.3.1 O objetivo e´ encontrar o limx→0 1x2 , se existir. Observe que a` medida que x se aproxima de 0, x2 tambe´m se aproxima de 0, e 1/x2 fica muito grande, como mostra a tabela a seguir: x ±1 ±0,5 ±0,2 ±0,1 ±0,05 ±0,01 ±0,001 1 x2 1 4 25 100 400 10.000 1.000.000 De fato, isso fica evidente se olhamos para o gra´fico de f(x) = 1 x2 (Veja a figura 3.4). Note que os valores de 1/x2 podem se tornar arbitrariamente grandes ao tomarmos valores de x pro´ximos de 0. Assim, os valores de f(x) na˜o tendem a um nu´mero e, portanto, na˜o existe limx→0 1x2 . Para indicar o comportamento da func¸a˜o do exemplo 3.3.1 usaremos a notac¸a˜o lim x→0 1 x2 =∞. Alertamos que isso na˜o significa considerar ∞ como um nu´mero! Ta˜o pouco significa que o limite exista!!! E´ apenas uma notac¸a˜o para indicar que os valores de 1/x2 crescem de forma indeterminada quando tomamos valores de x suficientemente pro´ximos de 0. Assim ∞ e´ uma forma particular de na˜o existeˆncia de um limite. A definic¸a˜o geral e´: Cap´ıtulo 3 - Limite e Continuidade 67 0 20 40 60 80 100 y -1 -0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0.2 0.4 0.6 0.8 1 x Figura 3.4: Gra´fico da curva y = 1 x2 . Definic¸a˜o 3.3.1 Seja f uma func¸a˜o definida em ambos os lados de a, exceto pos- sivelmente em a. Enta˜o lim x→a f(x) =∞ significa dizer que podemos fazer os valores de f(x) ficarem arbitrariamente grandes (ta˜o grandes quanto quisermos) escolhendo x adequadamente nas proximidades de a, mas na˜o igual a a. Leˆ-se: “o limite de f(x), quando x tende para a, e´ infinito”. Um outro tipo de limite infinito ocorre quando a func¸a˜o torna-se grande em valor absoluto, pore´m e´ negativa quando x se apoxima de a. Definic¸a˜o 3.3.2 Seja f uma func¸a˜o definida em ambos os lados de a, exceto pos- sivelmente em a. Enta˜o lim x→a f(x) = −∞ significa dizer que podemos fazer os valores de f(x) ficarem arbitrariamente grandes, pore´m negativos, escolhendo-se valores de x pro´ximos de a, mas diferentes do pro´prio a. Leˆ-se: “o limite de f(x), quando x tende para a, e´ menos infinito”. Cap´ıtulo 3 - Limite e Continuidade 68 Por exemplo lim x→0 ( − 1 x2 ) = −∞. Definic¸o˜es similares podem ser dadas no caso de limites laterais lim x→a− f(x) =∞ lim x→a− f(x) = −∞ lim x→a+ f(x) =∞ lim x→a+ f(x) = −∞. Definic¸a˜o 3.3.3 A reta vertical x = a e´ chamada de ass´ıntota vertical da curva y = f(x) se pelo menos uma das seguintes condic¸o˜es for satisfeita: lim x→a f(x) =∞ lim x→a− f(x) =∞ lim x→a+ f(x) =∞ lim x→a f(x) = −∞ lim x→a− f(x) = −∞ lim x→a+ f(x) = −∞. Por exemplo o eixo y e´ uma ass´ıntota vertical da curva y = 1/x2, pois como vimos, lim x→0 1 x2 =∞. Exemplo 3.3.2 Encontre lim x→1− 3 1− x e limx→1+ 3 1− x. Soluc¸a˜o: Para valores de x menores que 1 e pro´ximos de 1, o denominador 1 − x e´ um nu´mero positivo e pequeno e, portanto, 3/(1−x) e´ um nu´mero positivo grande. Enta˜o, intuitivamente vemos que lim x→1− 3 1− x =∞. Da mesma forma, para valores de x maiores que 1 e pro´ximos de 1, 1−x e´ um nu´mero negativo e com um valor absoluto pequeno. Portanto, 3/(1− x) e´ um nu´mero com valor absoluto grande e negativo. Logo lim x→1+ 3 1− x = −∞. O gra´fico da curva y = 3/(1− x) e´ mostrado na figura 3.5. Cap´ıtulo 3 - Limite e Continuidade 69 -100 -80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80 100 y 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2 x Figura 3.5: Gra´fico da curva y = 3 1−x . A reta x = 1 e´ uma ass´ıntota vertical da curva y = 3/(1− x). ¤ Um outro exemplo de uma func¸a˜o cujo gra´fico tem uma ass´ıntota vertical e´ a func¸a˜o logaritmo natural y = ln x. Da figura 3.6 vemos que lim x→0+ lnx = −∞ e assim a reta x = 0 (eixo y) e´ uma ass´ıntota vertical. Na realidade, isso e´ verdadeiro para y = loga x desde que a > 1. -3 -2 -1 0 1 2 3 y 1 2 3 4 5 6 x Figura 3.6: O eixo y e´ uma ass´ıntota vertical da func¸a˜o logaritmo natural. Cap´ıtulo 3 - Limite e Continuidade 70 3.4 Propriedades dos Limites Enunciaremos nesta sec¸a˜o algumas propriedades dos limites que sa˜o de grande uti- lidade no ca´lculo dos mesmos. O teorema a seguir lista quatro destas propriedades. Teorema 3.4.1 (Leis do Limite) Seja c uma constante real e suponha que existam os limites lim x→a f(x) e lim x→a g(x). Enta˜o 1. (Lei da Soma) lim x→a [f(x) + g(x)] = lim x→a f(x) + lim x→a g(x) 2. (Lei do Mu´ltiplo Constante) lim x→a [cf(x)] = c lim x→a f(x) 3. (Lei do Produto) lim x→a [f(x).g(x)] = lim x→a f(x). lim x→a g(x) 4. (Lei do Quociente) lim x→a f(x) g(x) = limx→a f(x) limx→a g(x) , desde que lim x→a g(x) 6= 0. Estas propriedades podem ser enunciadas da seguinte maneira: 1. Lei da Soma. O limite da soma e´ a soma dos limites, desde que cada limite exista. 2. Lei do Mu´ltiplo Constante. O limite de uma constante vezes uma func¸a˜o e´ a constante vezes o limite da func¸a˜o, desde que o limite da func¸a˜o exista. 3. Lei do Produto. O limite do produto e´ o produto dos limites, desde que cada limite exista. Cap´ıtulo 3 - Limite e Continuidade 71 4. Lei do Quociente. O limite do quociente e´ o quociente dos limites, desde que cada limite exista e o limite do denominador seja diferente de zero. Intuitivamente, se f(x) esta´ pro´ximo de L e g(x) esta´ pro´ximo de M , e´ razoa´vel concluir que f(x) + g(x) esta´ pro´ximo de L +M . Isso nos faz acreditar na varacidade da propriedade 1. Volto a enfatizar que na˜o e´ o objetivo deste texto demonstrar os teoremas. O leitor interessado pode consultar a sec¸a˜o 2.4 de [2], assim como o apeˆndice do mesmo. Podemos aplicar a propriedade 3 repetidamente com f(x) = g(x) para obter a propriedade 5: 5. lim x→a [f(x)]n = [ lim x→a f(x) ]n , onde n e´ um inteiro positivo. Propriedades triviais sa˜o as 6 e 7: 6. lim x→a c = c. 7. lim x→a x = a. Se pusermos f(x) = x nas propriedades 5 e 7, obtemos um limite u´til: 8. Lei da Poteˆncia. lim x→a xn = an, onde n e´ um inteiro positivo. Existe um resultado similar para ra´ızes: 9. Lei da Raiz. lim x→a n √ x = n √ a, onde n e´ um inteiro
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