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Governança Corporativa parte II CONSELHO DE ADMINISTRACAO

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TÓPICOS ESPECIAIS – GOVERNANÇA CORPORATIVA
 CAPÍTULO II – O CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO COMO MECANISMO FUNDAMENTAL DE GOVERNANÇA
 
2014 
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PAPEL E ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
O conselho de administração é o elo entre os acionistas e a gestão diária das companhias. O órgão tem como grande missão procurar maximizar o valor de longo prazo da empresa, assegurando, assim, aumento sustentável do patrimônio de todos os acionistas.
Para cumprir sua missão, o conselho possui grandes atribuições: decidir sobre as grandes questões do negócio e monitorar os executivos a favor dos acionistas. 
Em relação à primeira, destaca-se a tomada de decisões estratégicas, incluindo as de investimento e financiamento, entre outras.
Em relação à segunda, destacam-se a verificação constante dos sistemas de controle de companhia e a seleção, avaliação de desempenho, definição da remuneração e substituição dos principais executivos.
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PAPEL E ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
De acordo com os principais códigos de governança, o conselho de administração deve desempenhar as seguintes tarefas fundamentais:
Fixar as diretrizes estratégicas do negócio;
Decidir sobre as matérias envolvendo as principais decisões de investimento, financiamento e destinação de resultados;
Decidir sobre matérias envolvendo fusões e aquisições;
Definir o pacote de remuneração dos altos executivos;
Eleger, monitorar e substituir o diretor-presidente e demais diretores;
Planejar a sucessão do presidente e dos outros executivos-chave;
Promover um processo estruturado para nomeação de novos conselheiros;
Investigar possíveis fraudes financeiras e de informação para o público;
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PAPEL E ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Definir a tolerância ao risco da organização, incluindo sua política de gerenciamento de riscos e sistema de controles internos;
Escolher auditoria independente, aprovar seu plano de trabalho, negociar seus honorários e avaliar seu desempenho;
Definir a política de dividendos da empresa;
Revisitar periodicamente as práticas de governança pela companhia;
Decidir sobre as operações com partes relacionadas;
Assegurar a presença e disseminação de um código de conduta pela organização.
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PAPEL E ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Além das melhores práticas de governança, é importante observar o que a legislação brasileira (Lei nº. 6.404/1976) diz sobre o conselho de administração. De acordo com a Lei das Sociedades por Ações (art. 142), compete ao órgão:
Fixar a orientação geral dos negócios da companhia;
Eleger e destituir os diretores da companhia e fixar-lhes as atribuições, observado o que a respeito dispuser o estatuto;
Fiscalizar a gestão dos diretores, examinar, a qualquer tempo, os livros e papéis da companhia, solicitar informações sobre contratos celebrados ou em via de celebração e quaisquer outros atos;
Convocar a assembleia geral quando julgar conveniente;
Manifestar-se sobre o relatório da administração e as contas da diretoria;
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PAPEL E ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Manifestar-se previamente sobre atos ou contratos, quando o estatuto assim o exigir;
Deliberar, quando autorizado pelo estatuto, sobre a emissão de ações ou de bônus de subscrição;
Autorizar, se o estatuto não dispuser em contrário, a alienação de bens do ativo não circulante, a constituição de ônus reais e a prestação de garantias a obrigações de terceiros;
Escolher e destituir os auditores independentes, se houver.
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PAPEL E ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
A lei exige ainda o cumprimento de três deveres fundamentais por todos os administradores (conselheiros e executivos) da companhia:
Dever de diligência: obrigação de empregar, no exercício de suas funções, o cuidado e a diligência que todo homem ativo costuma empregar na administração de seus próprios negócios. Adicionalmente, obrigação de agir no interesse da companhia e não no interesse específico do grupo ou classe de acionista que o elegeu.
Dever de informar: obrigação de informar o número de valores mobiliários de emissão da companhia de que seja titular, assim como informar aos acionistas quaisquer negociações de valores mobiliários realizadas durante o exercício social. Obrigação de comunicar imediatamente ao mercado fatos relevantes que possam influir de modo ponderável no valor percebido da companhia.
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PAPEL E ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Dever de lealdade: obrigação de servir com lealdade à companhia, sobrepondo-a aos seus interesses particulares. Proibição da utilização, em benefício próprio ou de terceiros, de oportunidades de negocio da companhia. Obrigação de guardar sigilo sobre qualquer informação que ainda não tenha sido divulgada no mercado, bem como de negociar valores mobiliários da companhia de posse de informações ainda não divulgadas publicamente.
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O CONSELHEIRO INDEPENDENTE: UM PERSONAGEM FUNDAMENTAL NA GOVERNANÇA CORPORATIVA
Desde o início, as discussões sobre governança tem se deparado com uma questão-chave ainda não resolvida: como melhorar a efetividade dos conselhos de administração, fazendo com que o órgão funcione de acordo com o esperado?
A resposta dada por todos os códigos de códigos de governança do mundo passa pela figura do conselheiro independente.
De acordo com as práticas recomendadas, os conselheiros independentes, por não terem nenhum vínculo especial com executivos ou acionistas relevantes (ou outros conflitos de interesses), estariam mais bem posicionados para tomar decisões imparciais visando ao melhor resultado de longo prazo da companhia.
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O CONSELHEIRO INDEPENDENTE: UM PERSONAGEM FUNDAMENTAL NA GOVERNANÇA CORPORATIVA
Como resultado, praticamente todos os documentos de governança recomendam uma substancial proporção de membros independentes nos conselhos, idealmente compondo a maioria do orgão.
A definição do conselheiro independente tem se tornado cada vez mais exigente ao longo do tempo. Em sua quarta versão, o Código do IBGC define o conselheiro independente como aquele que se caracteriza por:
Não ter qualquer vínculo com a organização, exceto participação não relevante (mesmo que minoritária) no capital;
Não ser sócio controlador, membro do grupo de controle ou de outro grupo com participação relevante, cônjuge ou parente até segundo grau de membro de um desses grupos, ou ligado a organizações relacionadas ao sócio controlador;
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O CONSELHEIRO INDEPENDENTE: UM PERSONAGEM FUNDAMENTAL NA GOVERNANÇA CORPORATIVA
Não estar vinculado por acordo de acionistas;
Não ter sido empregado ou diretor da organização (ou de suas subsidiárias) há pelo menos três anos;
Não ser ou ter sido, há menos de três anos, conselheiro de organização controlada;
Não estar fornecendo, comprando ou negociando, direta ou indiretamente, serviços e/ou produtos à organização em escala relevante;
Não ser cônjuge ou parente até segundo grau de algum executivo da organização;
Não receber outra remuneração da organização além dos honorários de conselheiro;
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O CONSELHEIRO INDEPENDENTE: UM PERSONAGEM FUNDAMENTAL NA GOVERNANÇA CORPORATIVA
Não ter sido sócio, nos últimos três anos, de firma de auditoria que audite ou tenha auditado a organização nesse mesmo período;
Não ser membro de entidade sem fins lucrativos que receba recursos financeiros significativos da organização ou de suas partes relacionadas;
Ter independência em relação ao CEO;
Não depender financeiramente da remuneração da organização.
Além de independente, um conselheiro precisa ser qualificado, dedicado e ter interesse no resultado da companhia para atuar de forma mais efetiva. 
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OS COMITÊS DE ASSESSORAMENTO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Outra solução apregoada pelos códigos de governança a fim de melhorar o funcionamento dos conselhos é a constituição de comitês de assessoramento dos conselhos.
A ideia fundamental é fazer com que os conselheiros
mais especializados ou interessados em certas matérias tenham mais tempo para se aprofundar em temas específicos, de forma a propiciar uma melhor tomada de decisão pelos conselhos.
Logo, a filosofia por trás dessa prática é que os comitês tenham duas características fundamentais: não seja deliberativos (restringindo-se à análise e elaboração de recomendações) e sejam compostos exclusivamente por conselheiros, idealmente independentes.
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OS COMITÊS DE ASSESSORAMENTO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Em relação à composição, é comum no Brasil, entretanto, a presença de outros personagens como membros efetivos dos comitês do conselho, tais como executivos da companhia, consultores externos ou mesmo executivos ligados aos acionistas controladores.
A presença de executivos nos comitês é considerada um forte desalinhamento aos padrões internacionais, já que obviamente compromete seriamente a ideia básica da separação entre representantes da propriedade (conselheiros) e membros da gestão diária das operações.
A presença de pessoas externas à administração como membros efetivos, por sua vez, também não é recomendada. 
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OS COMITÊS DE ASSESSORAMENTO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Como muitas vezes esses personagens são especialistas nas matérias-alvo dos comitês, recomenda-se que atuem então como convidados em algumas de suas reuniões, já que sua atuação como membros efetivos poderia acarretar uma implícita transferência de responsabilidade dos conselhos para tais membros externos.
Entre os comitês recomendados, três se destacam: auditoria, remuneração e nomeação/governança corporativa.
Como exemplo de sua importância, a instalação de comitês de auditoria e remuneração com presença exclusiva de conselheiros independentes é obrigatória por lei no mercado norte-americano, enquanto a instalação de comitês de nomeação é obrigatória para listagem na bolsa de Nova York. 
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COMITÊ DE AUDITORIA
Entre as principais atribuições do comitê de auditoria, destacam-se:
Acompanhar o processo de elaboração das demonstrações financeiras, revisando todos os relatórios e documentos da companhia antes da divulgação ao público;
Avaliar as práticas de gerenciamento de riscos corporativos (incluindo-se riscos operacionais, de mercado, legais, tributários, trabalhistas, ambientais etc.) e sistemas de controles internos;
Conduzir o processo de seleção, acompanhar e avaliar as atividades da auditoria independente, incluindo a observância dos princípios contábeis utilizados nas demonstrações financeiras;
Zelar pela independência e efetividade dos trabalhos da auditoria interna, coordenando suas atividades;
Monitorar os conflitos de interesse e as transações com partes relacionadas.
Zelar pelo cumprimento do código de conduta da organização.
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COMITÊ DE REMUNERAÇÃO
Outro comitê considerado fundamental é o de remuneração, às vezes chamado de recursos humanos, pessoas ou denominações similares. Entre as atribuições do comitê de remuneração, destacam-se: 
Elaborar proposta de política de remuneração dos altos executivos;
Coordenar o processo de definição do pacote de remuneração e demais benefícios dos administradores da companhia (conselheiros e diretores);
Conduzir o processo de definição das metas de desempenho do diretor-presidente e demais executivos-chave, vinculando a remuneração a resultados;
Avaliar formalmente (no mínimo anualmente) o desempenho do diretor-presidente e demais membros da diretoria;
Coordenar o processo de planejamento sucessório das posições-chave da empresa;
Avaliar a eficácia do processo de retenção de talentos da organização, incluindo o monitoramento de executivos com alto potencial dentro da organização.
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COMITÊ DE NOMEAÇÃO / GOVERNANÇA CORPORATIVA
Por fim, tem-se ainda o comitê de nomeação / governança corporativa, também bastante recomendado pelos principais agentes de mercado. 
A função básica desse comitê é coordenar o processo de seleção de novos membros para o conselho e a diretoria executiva, além de monitorar periodicamente a adesão da empresa às melhores práticas de governança. Entre as atribuições do comitê de nomeação / governança corporativa, destacam-se:
Coordenar o processo de seleção de novos conselheiros, com avaliação de potenciais candidatos;
Recomendar a composição dos comitês de assessoramento do conselho;
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COMITÊ DE NOMEAÇÃO / GOVERNANÇA CORPORATIVA
Conduzir um processo formal (no mínimo anual) de avaliação dos conselheiros individualmente, dos comitês de assessoramento e do conselho como órgão; 
Coordenar o processo de seleção e indicação do diretor-presidente, além de opinar sobre o processo de seleção dos demais diretores;
Zelar pela adoção das boas práticas de governança pela organização, analisando periodicamente a eficácia de seus processos e possibilidades de melhoria.
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O CONSELHO FISCAL
Além do conselho de administração, a legislação brasileira prevê a possibilidade de constituição de outro órgão supervisor da gestão da companhia: o conselho fiscal.
Trata-se de um órgão peculiar de governança, inexistente nos mercados anglo-saxões mais avançados (Estados Unidos e Reino Unido) bem como nos principais países da Europa Continental (Alemanha e França). Por outro lado, há certa semelhança do conselho fiscal com o conselho de auditores presente na Itália e no Japão.
Entretanto, mudanças recentes de governança nesses países, tem levado as companhias ao modelo mais comum de governança no mundo, com a presença de um comitê de auditoria como órgão responsável pelo monitoramento dos números da companhia.
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O CONSELHO FISCAL
O conselho fiscal pode ser instalado de forma temporária ou permanente, a pedido de acionistas que representem um percentual mínimo de ações da companhia.
Seus membros são eleitos diretamente pelos acionistas em assembléia geral, não possuindo qualquer vínculo com os administradores da companhia (conselheiros e diretores estatutários).Assim, o conselho fiscal não possui relação hierárquica com os demais órgãos da companhia.
Conforme estabelecido em sua própria denominação, o conselho fiscal possui atividades eminentemente de fiscalização em relação aos números gerados pela companhia, sem poder para deliberar sobre as decisões do negócio tomadas pelos administradores.
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O CONSELHO FISCAL
Especificamente, a Lei das S.A. (art. 163) define as seguintes competências para o conselho fiscal:
Fiscalizar os atos dos administradores e verificar o cumprimento dos seus deveres legais e estatutários;
Opinar sobre o relatório anual da administração, fazendo constar do seu parecer as informações que julgar necessárias à deliberação da assembléia geral;
Opinar sobre as propostas dos órgãos da administração, a serem submetidas à assembléia geral, relativas a modificação do capital social, emissão de debêntures ou bônus de subscrição, planos de investimento ou orçamentos de capital, distribuição de dividendos, transformação, incorporação, fusão ou cisão;
Denunciar aos órgãos de administração e, se estes não tomarem as providencias necessárias para a proteção dos interesses da companhia, à assembléia geral, os erros, fraudes ou crimes que descobrirem;
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O CONSELHO FISCAL
Convocar a assembléia geral ordinária, se os órgãos da administração retardarem por mais de um mês essa convocação, e a extraordinária, sempre que ocorrerem motivos graves ou urgentes, incluindo na agenda das assembléias as matérias que considerarem necessárias;
Analisar, ao menos trimestralmente, o balancete e demais demonstrações financeiras elaboradas periodicamente pela companhia;
Examinar as demonstrações financeiras do exercício social e sobre elas opinar. 
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O CONSELHO FISCAL
Em suma, cabe ao conselho fiscal dar seu parecer sobre os números gerados pela administração da companhia e opinar sobre as propostas a serem encaminhadas à assembleia de acionistas, além de fiscalizar os administradores em relação ao cumprimento
de seus deveres para com a companhia.
Por outro lado, conceitos como o “papel estratégico” do conselho fiscal são claramente descabidos, uma vez que trata-se de um órgão externo à administração da companhia e com atuação posterior (e não ex ante) à ocorrência dos eventos.
Como uma das funções do conselho de administração também é fiscalizar a gestão da companhia e os países com mercados de capitais mais desenvolvidos não possuem tal órgão, deve-se questionar a real utilidade dos conselhos fiscais.
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O CONSELHO FISCAL
De acordo com os defensores, uma de suas grandes vantagens é a independência de seus membros, haja vista que muitos conselhos de administração são compostos por pessoas intrinsecamente ligadas aos executivos e acionistas controladores.
Nesse caso, argumenta-se que a solução para o problema de composição inadequada e mau funcionamento do conselho de administração reside na criação de outro órgão. 
Em outras palavras, propõe-se a criação de um órgão paliativo como forma de se resolver um eventual problema de independência ou passividade no órgão principal.
Conforme evidenciado pelas experiências internacionais, na medida em que o conselho de administração cumprir seu papel de forma pró-ativa e independente por meio de um bom comitê de auditoria, naturalmente torna-se desnecessária a criação de outro órgão com escopo limitado e atividades meramente fiscalizadoras. 
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BIBLIOGRAFIA
SILVEIRA, Alexandre Di Miceli da. Governança Corporativa no Brasil e no Mundo. Teoria e Prática. São Paulo: Campus, 2010.

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