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GESTÃO DE COMPETÊNCIAS E GESTÃO DE DESEMPENHO
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e as competŒncias do indivíduo, buscan- do estimar o valor de sua contribuiçªo para atingir os objetivos organizacionais. A individualizaçªo, por sua vez, nada mais Ø que o reforço ao individualismo como estratØgia para evitar a mobilizaçªo de trabalhadores em torno de reivindicaçıes coletivas. Sob esse ponto de vista, tais tecnologias teriam uso eminentemente patronal e, mais que instrumen- tos de gestªo estratØgica de recursos humanos, re- presentariam apenas um exercício convencional de pragmatismo, buscando intensificar o controle social sobre o trabalhador. Segundo Legge (1995), certas prÆticas de recursos humanos conferem um aspecto de modernidade aos estilos administrativos, mas, na realidade, nªo negam os princípios fundamentais do taylorismo e do fordismo nem alteram as estruturas de poder nas empresas. Hirata (1997) e Spink (1997), por sua vez, afirmam que os conceitos de competŒncia, desempenho e em- pregabilidade2 remetem, sem mediaçıes, a um sujeito, à individualizaçªo do trabalho e a efeitos excludentes e marginalizadores. Para eles, a possibilidade de con- centrar a atençªo mais sobre a pessoa que sobre o pos- to de trabalho e de associar as qualidades requeridas de um indivíduo fortaleceria a divisªo da sociedade em um nœcleo altamente capacitado (ou competente) e uma periferia desqualificada e, portanto, excluída do processo produtivo. Para se configurarem como prÆticas gerenciais ino- vadoras, Ø possível inferir que a gestªo de competŒncias e a de desempenho devam ter como objetivo maior nªo somente a melhoria das performances profissional e or- ganizacional, mas, principalmente, o desenvolvimento das pessoas em um sentido mais amplo. Somente assim a competŒncia e o desempenho representariam, ao mesmo tempo, um valor econômico para a organizaçªo e um va- lor social para o indivíduo. Segundo Zarifian (1999), o desafio Ø fazer com que a empresa seja nªo apenas qua- lificada, do ponto de vista da competitividade, mas tam- 14 RAE v. 41 n. 1 Jan./Mar. 2001 Organizaçªo, Recursos Humanos e Planejamento bØm qualificante, no sentido de oferecer diversas opor- tunidades de crescimento a seus membros. Dessa for- ma, seria possível assegurar certa autonomia às pesso- as, como contraponto ao controle social de que falam Legge (1995) e PagŁs et al. (1993). A perspectiva sociológica da abordagem da compe- tŒncia Ø tambØm explorada por Tanguy (1997), para quem os discursos sobre competŒncia proliferam tanto nas empresas como na esfera educacional. Para ela, essa noçªo Ø invocada tanto pelas políticas de emprego ori- entadas pela busca da flexibilidade como pelas políticas de mudança da organizaçªo do trabalho ou de gestªo de pessoal (Tanguy, 1997, p. 167). Ainda segundo essa autora, ao mesmo tempo em que o domínio de uma pro- fissªo, uma vez adquirido, nªo pode ser questionado, as competŒncias sªo apresentadas como propriedades ins- tÆveis que devem ser sempre submetidas à objetivaçªo e avaliaçªo dentro e fora do ambiente de trabalho. CONCLUSÕES O interesse recente sobre a gestªo estratØgica de recursos humanos deu origem a uma sØrie de teorias e prÆticas de recursos humanos, fazendo com que con- ceitos como o de competŒncia, desempenho e empre- gabilidade passassem a fazer parte da retórica de mui- tas organizaçıes, adquirindo diversas conotaçıes e, muitas vezes, sendo utilizados de maneiras distintas tanto no ambiente empresarial como no meio acadŒ- mico. A complexidade do tema tornou a fragmenta- çªo teórica inevitÆvel, o que parece natural, pois con- cepçıes variadas e atØ mesmo contraditórias sobre um mesmo assunto talvez sejam a representaçªo mais acu- rada do mundo pós-moderno. Embora a gestªo de competŒncias e a gestªo de de- sempenho estejam inseridas nesse contexto de fragmen- taçªo teórica, Ø possível perceber a relaçªo de interde- pendŒncia existente entre elas. Parece necessÆria a apli- caçªo concomitante dos pressupostos e processos sub- jacentes a ambos os instrumentos para integrar e direcionar esforços, sobretudo os relacionados à ges- tªo de recursos humanos. Mais que tecnologias inde- pendentes ou distintas, a gestªo de competŒncias e a de desempenho parecem complementar-se em um con- texto mais amplo de gestªo organizacional. Como instrumentos de um mesmo construto, me- lhor seria cunhar o termo gestªo de desempenho ba- seada nas competŒncias, uma vez que este considera o carÆter de complementaridade e interdependŒncia en- tre competŒncia e desempenho. Parece preciso integrar, em um œnico modelo de gestªo, as atividades de pla- nejamento, acompanhamento e avaliaçªo de desempe- nho, a partir de um diagnóstico das competŒncias es- senciais à organizaçªo, desde o nível corporativo atØ o Diagnóstico das competŒncias humanas Figura 3 Processo de gestªo de desempenho baseada nas competŒncias Fonte: Guimarªes et al. (2000) (adaptado). Formulaçªo da estratØgia organizacional Definiçªo da visªo de futuro, negócio e modelo de gestªo da organizaçªo Diagnóstico das competŒncias essenciais à organizaçªo Definiçªo de objetivos e indicadores de desempenho organizacionais Identificaçªo e desenvolvimento de competŒncias internas Seleçªo e desenvolvimento de competŒncias externas Formulaçªo dos planos operacionais de trabalho e de gestªo Definiçªo de indicadores de desempenho e de remuneraçªo de equipes e indivíduos Acompanhamento e avaliaçªo RAE v. 41 n. 1 Jan./Mar. 2001 15 Gestªo de competŒncias e gestªo de desempenho: tecnologias distintas ou instrumentos de um mesmo construto? individual, conforme sugerido por Guimarªes et al. (2000), justificando-se, portanto, a reconceituaçªo ou releitura de conceitos aqui proposta (ver Figura 3). Quando utilizados com a finalidade de objetivaçªo e individualizaçªo do trabalho, esses instrumentos apenas aprofundam o controle psicossocial da organizaçªo sobre seus empregados, o que pode atØ ser legítimo do ponto de vista patronal, mas retira a roupagem moderna da ges- tªo estratØgica de recursos humanos. Nesse caso, estaría- mos diante de uma espØcie de neofordismo, como o defi- ne Legge (1995), ou de novas formas de controle da mªo- de-obra, sob a perspectiva de uma flexibilidade nas rela- çıes de trabalho que submete o empregado a ritmos cada vez mais intensos de trabalho com o objetivo de alcançar níveis crescentes de produtividade. Para finalizar, Ø possível inferir que o desafio das organizaçıes estÆ relacionado à utilizaçªo de tais ins- trumentos associados a prÆticas de aprendizagem cole- tiva, desenvolvimento de equipes e gestªo do conheci- mento, dentre outras, que ofereçam mœltiplas oportuni- dades de crescimento profissional e estimulem as pes- soas nªo apenas a desenvolver coletivamente compe- tŒncias mas tambØm a compartilhÆ-las. Do contrÆrio, esses instrumentos de gestªo poderiam atØ apresentar- se com uma roupagem moderna, mas, de fato, nªo re- presentariam inovaçıes nas prÆticas de gestªo. m REFER˚NCIAS BIBLIOGR`FICAS NOTAS SPARROW, P. R., BOGNANNO, M. Competency requirement forecasting: issues for international selection and assessment. In: MABEY, C., ILES, P. (Orgs.). Managing learning. London : Routledge, 1994. p. 57-69. SPINK, P. Empregabilidade: comentÆrios a partir do ensaio de Helena Hirata. In: CASALI, A. et al. (Orgs.). Empregabili- dade e educaçªo: novos caminhos no mundo do trabalho. 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