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CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO MATERIAL DIDÁTICO IMPRESSO CURSO: Engenharia de Produção DISCIPLINA: Administração Financeira CONTEUDISTA: Pítias Teodoro Dezembro de 2018 Curso: Engenharia de Produção Disciplina: Administração Financeira Conteudista: Pítias Teodoro AULA 2 - DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS PROJETADAS META Apresentar o processo de elaboração das demonstrações financeiras projetadas OBJETIVOS 1. Descrever um processo simplificado para elaboração da demonstração do resultado do exercício projetada. 2. Descrever um processo simplificado para elaboração do balanço patrimonial projetado 3. Compreender o uso do fluxo de caixa contábil como um substituto para a demonstração do fluxo de caixa 1 – INTRODUÇÃO O relatório contábil-financeiro tem por finalidade apresentar os resultados da atuação da administração frente a seus deveres e responsabilidades na gestão dos recursos que lhe foram confiados. Para satisfazer a esse objetivo, as demonstrações contábeis proporcionam as seguintes informações da entidade: (a) ativos; (b) passivos; (c) patrimônio líquido; (d) receitas e despesas, incluindo ganhos e perdas; (e) alterações no capital próprio mediante integralizações dos proprietários e distribuições a eles e (f) fluxos de caixa (CPC, 2018b). Ainda segundo o CPC 26, essas informações, juntamente com outras informações constantes das notas explicativas, ajudam os usuários das demonstrações contábeis a prever os futuros fluxos de caixa da entidade e, em particular, a época e o grau de certeza de sua geração. Para tanto, o relatório contábil-financeiro deve possuir características qualitativas fundamentais e de melhoria: Características qualitativas fundamentais (mais críticas): 1) Relevância e 2) Representação fidedigna. Características qualitativas de melhoria (menos críticas), ainda assim, altamente desejáveis: 1) Comparabilidade; 2) Verificabilidade; 3) Tempestividade e 4) Compreensibilidade (CPC, 2018a). O objetivo do relatório contábil-financeiro de propósito geral é fornecer informações contábil-financeiras acerca da entidade que reporta essa informação, entretanto, não atendem e não podem atender a todas as informações dos vários tipos de usuários. Ainda assim, são adequados para realizar estimativas acerca de resultados futuros (CPC, 2018). Estas estimativas baseiam-se na crença de que as relações financeiras refletidas nas demonstrações passadas não se modificarão no período seguinte, logo, é uma base adequada para elaboração das demonstrações projetadas (GITMAN, 2010). As demonstrações projetadas são úteis para os gestores, e demais interessados no desempenho da entidade, haja vista que, por meio de sua análise é possível verificar a posição financeira da entidade em período(s) futuro(s). As informações básicas para elaboração das demonstrações projetadas são: 1) Demonstrações financeiras do ano anterior e 2 ) Projeção de vendas (receitas) para o ano cuja demonstração projetada será realizada. 2 – DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO PROJETADA Para elaboração da demonstração do resultado do exercício projetado, além do relatório do período de referência (por exemplo, ano anterior), o interessado deve estimar o volume de receitas para o período futuro. Quanto maior o porte da empresa, maior será a dependência do responsável pelas demonstrações projetadas de informações prestadas pelos gestores dos setores da empresa, relacionadas à estimativa do volume de receitas. O inverso ocorre se a empresa for de pequeno porte, pois as estimativas estarão concentradas no proprietário e ou gerente geral. Uma alternativa para elaboração de uma demonstração do resultado do exercício projetada é o método de porcentagem das vendas (GITMAN, 2010). O interessado em elaborar a demonstração do resultado projetada calcula itens da demonstração do resultado de referência (por exemplo, ano anterior) e calcula itens desta demonstração como uma proporção da receita total. Os percentuais calculados são aplicados à previsão de receitas para os anos cuja demonstração projetada será elaborada. Para ilustrar a aplicação do método das porcentagens considere os dados da demonstração do resultado do exercício de 2016, como referência para elaborar a demonstração do resultado do exercício projetada para o ano de 2017. Considere, ainda que há a expectativa de que as receitas irão aumentar em 8% entre um ano e outro. TABELA 2.1: Demonstração do resultado do exercício (em milhares de reais) Referência 31/12/2016 % da receita calculado Projetado 31/12/2017 % da receita aplicado Receita de venda de bens e serviços 17.148.949 18.520.865 Custo dos produtos e serviço vendidos 12.640.042 0,74 13.651.245 0,74 Lucro bruto 4.508.907 4.869.620 Despesas (receitas) operacionais 2.563.431 0,15 2.768.505 0,15 Lucro operacional antes do resultado financeiro 1.945.476 2.101.114 Resultado financeiro líquido - 2.522.427 0,15 2.724.221 0,15 Lucro (prejuízo) antes do IR e CSSL - 576.951 - 623.107 Imposto de renda e CSSL - 266.546 - 287.870 Resultado líquido das operações continuadas - 843.497 - 910.977 Resultado líquido das operações descontinuadas - 9.561 - Lucro (prejuízo) do exercício - 853.058 - 910.977 Fonte: Adaptado do relatório contábil-financeiro da CSN, 2017. Ao elaborar a demonstração do resultado do exercício projetada, foi considerado que a participação nos gastos na forma de custos, despesas operacionais e despesas financeiras seriam mantidas nos mesmos padrões do exercício anterior – Método das porcentagens. Se isso ocorrer, a empresa tem a estimativa de um resultado negativo na ordem de 910,97 milhões. A antecipação deste possível resultado permite ao gestor da empresa que busque alternativas que possam melhorar os resultados da empresa pelo aumento das receitas e ou redução dos gastos. Consideremos que, após verificar sua estrutura de gastos, o gestor tenha conseguido alterar a estrutura de gastos reduzindo os custos para aproximadamente 73% das receitas, as despesas operacionais para aproximadamente 10% das receitas e o resultado financeiro para aproximadamente 13% das receitas. TABELA 2.2: Demonstração do resultado do exercício (em milhares de reais) Projetado 31/12/2017 % da receita calculado Realizado 31/12/2017 Diferença entre projetado e realizado Receita de venda de bens e serviços 18.520.865 18.524.601 0,02% 3.736 Custo dos produtos e serviço vendidos 13.651.245 0,73 13.596.141 -0,41% 55.104 Lucro bruto 4.869.620 4.928.460 1,19% 58.840 Despesas (receitas) operacionais 2.768.505 0,10 1.944.495 - 42,38% 824.010 Lucro operacional antes do resultado financeiro 2.101.114 2.983.965 29,59% 882.850 Resultado financeiro líquido 2.724.221 0,13 2.463.627 -10,58% 260.594 Lucro (prejuízo) antes do IR e CSSL - 623.107 520.338 219,75% 1.143.445 Imposto de renda e CSSL - 287.870 409.109 29,63% 121.239 Resultado líquido das operações continuadas - 910.977 111.229 919,01% 1.022.205 Resultado líquido das operações descontinuadas - - NA NA Lucro (prejuízo) do exercício - 910.977 111.229 919,01% 1.022.205 Fonte: Adaptado do relatório contábil-financeiro da CSN, 2017. Veja que a demonstração projetada cumpriu sua utilidade de antecipar os resultados que a empresa poderia vir a ter. Depois que o gestor identificou que, se mantidas a mesma estrutura de custos, despesas operacionais e financeiras, a empresateria prejuízo, tomou as medidas necessárias tendo como decorrência a alteração do resultado negativo projetado de 910,97 milhões para 111,22 milhões positivos. Atividade 1 (Objetivo 1) Utilizar o método das porcentagens para elaborar a demonstração do resultado do exercício projetada para o ano de 2018 da CSN. Fazer a projeção com os percentuais iguais aos percentuais de 2017. Considere que a expectativa de aumento de receitas vai ser a mesma de 2016 para 2017: 8% entre um ano e outro. Início da resposta comentada Para elaborar a demonstração do resultado do exercício de 2018 projetada foram consideradas as informações de 2017 após o gestor elaborar a projeção inicial, reduzindo os custos para aproximadamente 73% das receitas, as despesas operacionais para aproximadamente 10% das receitas e o resultado financeiro para aproximadamente 13% das receitas. Como não foram fornecidas informações acerca do imposto de renda e CSSL, bem como o resultado líquido das operações descontinuadas, foi considerado que o imposto era o mesmo percentual do Lucro (prejuízo) antes do IR e CSSL de 2017 e que o resultado líquido das operações descontinuadas era o mesmo o mesmo do ano anterior. TABELA: Demonstração do resultado do exercício (em milhares de reais) Referência 31/12/2017 Projetado para 2018 % da receita Valores Receita de venda de bens e serviços 18.524.601 20.006.569 Custo dos produtos e serviço vendidos 13.596.141 0,73 14.604.795 Lucro bruto 4.928.460 5.401.774 Despesas (receitas) operacionais 1.944.495 0,10 2.000.657 Lucro operacional antes do resultado financeiro 2.983.965 3.401.117 Resultado financeiro líquido 2.463.627 0,13 2.600.854 Lucro (prejuízo) antes do IR e CSSL 520.338 800.263 Imposto de renda e CSSL 409.109 0,46199 629.196 Resultado líquido das operações continuadas 111.229 171.067 Resultado líquido das operações descontinuadas - - - Lucro (prejuízo) do exercício 111.229 171.067 Fonte: Adaptado do relatório contábil-financeiro da CSN, 2017. O aumento em 8% na receita projetada para 2018, mantendo os mesmos níveis percentuais de gastos de 2017, faria com que o resultado da empresa passasse de 111,22 milhões de reais para 171,07 milhões de reais entre 2017 e 2018. Um aumento de 53,79% no lucro líquido. Fim da resposta comentada 2 – BALANÇO PATRIMONIAL PROJETADO Para elaboração do balanço patrimonial projetado, além do relatório do período de referência (por exemplo, ano anterior), o interessado deve realizar diversas estimativas relacionadas aos níveis das várias contas do balanço. Quanto maior o porte da empresa, maior será a dependência do responsável pelas demonstrações projetadas de informações prestadas pelos gestores dos setores da empresa, relacionadas a cada conta do balanço patrimonial. O inverso ocorre se a empresa for de pequeno porte, pois as estimativas estarão concentradas no proprietário e ou gerente geral. Uma alternativa para elaboração de um balanço projetado é o método de julgamento subjetivo (GITMAN, 2010). Após a estimativa dos valores de ativo e passivo, a possível diferença nas projeções é ajustada com um ‘valor de fechamento’. Se ativo total > passivo total, então, uma conta que representa uma fonte de financiamento deve ser considerada para fechar o balanço. Se ativo total < passivo total, então, uma conta que representa um investimento deve ser considerada para fechar o balanço. Alternativamente, o gestor poderá reduzir as aplicações que irão sustentar as atividades do exercício, ou ainda, reduzir as fontes de financiamento, cujo balanço está sendo projetado. Para ilustrar a aplicação do método de julgamento subjetivo considere os dados referentes ao exercício de 2016, mais as estimativas sobre os níveis das contas do balanço apresentadas a seguir, como referência para elaborar a demonstração o balanço patrimonial projetado para o ano de 2017. Estima-se que o grupo de ativo circulante e de ativo não circulante, referente às aplicações de recursos que a empresa deverá fazer para o período de 2017, deverão ter as seguintes variações: 1) Deseja-se que caixa e equivalentes de caixa tenha uma redução de 42,8%; 2) As aplicações financeiras financeira vão reduzir em 3,4%; 3) O investimento em contas a receber deverá ter um aumento de 12,3%; 4) O investimento em estoques deverá ter um aumento de 11,2%; 5) O investimento em outros ativos deverá ter um aumento de 14,2%; 6) O investimento em realizável a longo prazo deverá aumentar em 32,6%; 7) O investimento em investimento deverá ter um aumento de 16,9%; 8) O imobilizado ficará praticamente nos mesmos níveis de 2016 com uma variação negativa de 1%; 9) O Ativo intangível também praticamente não terá variação com um aumento de 0,2%. TABELA 2.3: Balanço patrimonial – Ativos (em milhares de reais) 31/12/2016 31/12/2017 Variação “projetada” Ativo Total 44.153.623 45.209.970 Ativo Circulante 12.444.918 11.881.496 Caixa e Equivalentes de Caixa 4.871.162 3.411.572 - 42,8% Aplicações Financeiras 760.391 735.712 -3,4% Contas a Receber 1.997.216 2.276.215 12,3% Estoques 3.964.136 4.464.419 11,2% Outros Ativos Circulantes 852.013 993.578 14,2% Ativo Não Circulante 31.708.705 33.328.474 Ativo Realizável a Longo Prazo 1.745.971 2.591.594 32,6% Investimentos 4.568.451 5.499.995 16,9% Imobilizado 18.135.879 17.964.839 - 1,0% Intangível 7.258.404 7.272.046 0,2% Fonte: Adaptado do relatório contábil-financeiro da CSN, 2017. Estima-se que o grupo de passivo circulante, passivo não circulante e patrimônio líquido, referente às fontes de financiamento que a empresa deverá buscar para o período de 2017, deverão ter as seguintes variações: 1) As obrigações sociais e trabalhistas ficarão em mesmo nível que em 2016. A variação será residual com uma redução de 0,6%; 2) O financiamento por meio de fornecedores deverá aumentar em 39,6%; 3) As obrigações fiscais deverão aumentar em 13,9%; 4) O financiamento das atividades por meio de empréstimos de curto prazo deverá triplicar, com um aumento estimado em 208,2%; 5) O financiamento por meio de outras obrigações deverá ter pequena variação: aumento em 3,7%; 6) As provisões fiscais deverão ter pequena redução: 2,4% em relação a 2016; 7) O financiamento das atividades por meio de empréstimos de longo prazo deverá ter uma redução de 18,9%; 8) Outras obrigações de longo prazo deverá ter variação negativa, de 1,4%; 9) A contra tributos diferidos dever ter um aumento de 12,1%; 10) As provisões deverão ter uma variação positiva de 2,1%; 11) Já as provisões fiscais, previdenciárias, trabalhistas e cíveis deverão aumentar em 26,3%; 12) Enquanto que as provisões para passivos ambientais e de desativação deverão ser reduzidas em 2,9%. TABELA 2.4: Balanço patrimonial – Passivos e patrimônio líquido (em milhares de reais) Passivo e Patrimônio Líquido 31/12/2016 31/12/2017 Variação “projetada” Passivo Total 44.153.623 45.209.970 Passivo Circulante 5.496.683 10.670.050 Obrigações Sociais e Trabalhistas 253.837 252.418 -0,6% Fornecedores 1.763.206 2.460.774 39,6% Obrigações Fiscais 231.861 264.097 13,9% Empréstimos e Financiamentos 2.117.448 6.526.902 208,2% Outras Obrigações 1.021.724 1.059.901 3,7% Provisões Fiscais Previdenciárias Trabalhistas e Cíveis 108.607 105.958 -2,4% Passivo Não Circulante 31.272.419 26.251.691 Empréstimos e Financiamentos 28.323.570 22.983.942 -18,9% Outras Obrigações 131.137 129.323 -1,4% Tributos Diferidos 1.046.897 1.173.559 12,1% Provisões 704.485 719.133 2,1% Provisões Fiscais Previdenciárias Trabalhistas e Cíveis 719.266 908.72126,3% Provisões para Passivos Ambientais e de Desativação 347.064 337.013 -2,9% Patrimônio Líquido Consolidado 7.384.521 8.288.229 12,2% Fonte: Adaptado do relatório contábil-financeiro da CSN, 2017. Para ilustrar a elaboração do balanço patrimonial projetado foram usadas as informações do relatório contábil-financeiro de 2017 da CSN (CSN, 2017). De posse dos resultados de 2016 e 2017, calculou-se a variação percentual e as variações “projetadas” foram definidas. Assim, a estimativa ora apresentada, na realidade é a variação que efetivamente houve em cada conta do balanço patrimonial no período ora em análise. Isto foi realizado para demonstrar que o método de julgamento subjetivo de elaboração do balanço patrimonial projetado é relativamente simples. O que não é simples é o julgamento: as estimativas das variações. Para cada uma das contas é necessário que estudos sejam realizados para definir qual a estrutura necessária para que os resultados operacionais sejam alcançados e, quando definidas as necessidades de investimento, o gestor terá que verificar se é possível obter os recursos necessários por meio das fontes de financiamento disponíveis. Para o caso utilizado como exemplo, as variações ora apontadas apresentariam uma variação patrimonial entre 2016 e 2017 de aproximadamente 2,4% positivos, enquanto que o patrimônio dos acionistas, neste mesmo período, teria um aumento de aproximadamente 12,2%. Atividade 2 (Objetivo 2) Como o responsável pela elaboração do balanço patrimonial deve agir se, ao apurar os valores projetados, o valor do ativo total for diferente do valor do passivo total e do patrimônio líquido? Início da resposta comentada Quando o responsável faz as projeções das contas do balanço patrimonial é possível que, em um primeiro momento, o valor do ativo total não fique exatamente igual ao valor do passivo total e patrimônio líquido. Isto ocorre porque cada uma das projeções é realizada em separado. Após as estimativas para elaboração do balanço patrimonial projetado estarem concluídas, o responsável por esta atividade deverá confrontar os valores do ativo total e do passivo total. Se houver diferença pode-se afirmar que há mais disponibilidade do que necessidade de recursos, ou o contrário, mais necessidade do que disponibilidade de recurso. Se ativo total > passivo total, a entidade não possui fontes de financiamento suficientes para realizar os investimentos que irão dar sustentação às atividades do período cujas demonstrações estão sendo projetadas. Esta diferença é o valor que o gestor tem que conseguir por meio de fontes adicionais de financiamento, por exemplo, empréstimos, desmobilização de ativos, venda de participação etc. Alternativamente pode rever suas projeções e reduzir o volume de investimentos inicialmente projetado até que ativo total e passivo total mais patrimônio líquido se igualem. Se ativo total < passivo total, a entidade possui fontes de financiamento suficientes para realizar os investimentos que irão dar sustentação às atividades do período cujas demonstrações estão sendo projetadas. Esta diferença é o valor que o gestor tem disponível para, por exemplo, aumentar o nível de investimento, fazer reservas, antecipar pagamentos etc. Fim da resposta comentada 3 – PLANEJAMENTO DE CAIXA: ORÇAMENTO DE CAIXA A demonstração do resultado do exercício e balanço patrimonial são relatórios elaborados baseados no regime de competência, cujo registro é realizado no momento do fato gerador. Em função do descasamento entre o fato gerador da obrigação e ou do direito, em relação à movimentação de caixa, o gestor precisa de um relatório que reflita as projeções de movimentação dos recursos no momento em que ocorrem baseados no regime de caixa. Este demonstrativo é o fluxo de caixa, por meio do qual é possível planejar, monitorar e analisar as entradas e saídas de caixa. O orçamento de caixa, ou previsão de caixa, é uma demonstração que apresenta as entradas e saídas de caixa planejadas da entidade, que o gestor utiliza para estimar a necessidade de caixa no curto prazo, com atenção para uso de superávits e cobertura de déficits (GITMAN, 2010, p.94). A informação básica para o planejamento financeiro de curto prazo é a previsão de vendas. Com base na previsão de vendas o gestor estima os fluxos de caixa mensais relacionados aos custos, despesas operacionais, despesas financeiras, impostos, amortizações e distribuição de resultados. De acordo com as decisões acerca dos investimentos – ativos circulantes e ou ativos não circulantes – necessários para manter e ou renovar sua estrutura de produção, estoques de matéria-prima, estoque de produtos acabados, créditos a receber e caixa, o gestor poderá planejar as saídas de caixa. Ao mesmo tempo, de acordo com as decisões acerca das fontes de financiamento – passivos circulantes e ou passivos não circulantes – para realizar os investimentos definidos, o gestor poderá planejar as entradas de caixa. O formato geral do orçamento de caixa é apresentado na Tabela 2.5. TABELA 2.5: Modelo para elaboração do orçamento de caixa Janeiro Fevereiro ... Novembro Dezembro Recebimentos - Pagamentos = Fluxo líquido de caixa + Saldo inicial = Saldo final - Saldo mínimo de caixa = Financiamento necessário Ou = Saldo excedente Fonte: Gitman, 2010. Os componentes do modelo para elaboração do orçamento de caixa são: 1) Recebimentos: são formados por todas as entradas de caixa no período de análise (dia, semana, mês, ...), como por exemplo, vendas à vista, vendas à prazo, desinvestimentos etc.; 2) Pagamentos: são formados por todas as saídas de caixa no período de análise (dia, semana, mês, ...), como por exemplo, pagamentos de fornecedores, pagamentos de funcionários, pagamento de empréstimos etc.; 3) Fluxo líquido de caixa: o fluxo líquido de caixa é a diferença entre os recebimentos e os pagamentos projetados para o período em análise; 4) Saldo inicial: o saldo inicial é exatamente igual as saldo final do período imediatamente anterior. Caso seja o início das operações pode ser formado pelo valor que o gestor disponibilizou para a conta caixa; 5) Saldo final: o saldo final é a soma entre o fluxo de caixa líquido e o saldo inicial; 6) Saldo mínimo de caixa: é o valor mínimo que o caixa deve ter ao iniciar as operações de um período. Se ao final do período o valor disponível projetado para o caixa for maior que o saldo mínimo, haverá superávit naquele período, caso contrário, se o valor disponível projetado para o caixa for menor que o saldo mínimo, haverá déficit; 7) Financiamento necessário ou saldo excedente: o financiamento necessário é igual a diferença entre o saldo final e o saldo mínimo de caixa. Não é possível, em um mesmo período (dia, semana, mês, ...) a projeção de caixa apresentar um resultado de superávit e déficit. Se a projeção apresentar um valor positivo, a empresa deverá ter um superávit naquele período, indicando que as projeções de entradas são maiores que as projeções de saída. Se a projeção apresentar um valor negativo, a empresa deverá ter um déficit naquele período, indicando que as projeções de entradas são menores que as projeções de saída. Para ilustrar o uso do fluxo de caixa projetado como um recurso de gestão, considere os valores da demonstração do resultado do exercício projetada para o ano de 2017, após alterar a estrutura de gastos reduzindo os custos para aproximadamente 73% das receitas, as despesas operacionais para aproximadamente 10% das receitas e o resultado financeiro para aproximadamente 13% das receitas,tal como reapresentado na Tabela 2.6. Por simplificação vamos considerar que os fatos geradores ocorrem em ritmo constante durante o ano, assim, poderíamos apresentar, pelo regime de competência, 1/12 da projeção anual por mês. TABELA 2.6: Demonstração do resultado do exercício (em milhares de reais) Projetado 31/12/2017 Janeiro Fevereiro ... Dezembro Receita de venda de bens e serviços 18.520.865 1.543.716 1.543.716 1.543.716 Custo dos produtos e serviço vendidos 13.651.245 1.133.011 1.133.011 1.133.011 Lucro bruto 4.869.620 410.705 410.705 410.705 Despesas (receitas) operacionais 2.768.505 162.041 162.041 162.041 Lucro operacional antes do resultado financeiro 2.101.114 248.663 248.663 248.663 Resultado financeiro líquido 2.724.221 205.302 205.302 205.302 Lucro (prejuízo) antes do IR e CSSL - 623.107 43.361 43.361 43.361 Imposto de renda e CSSL - 287.870 34.092 34.092 34.092 Resultado líquido das operações continuadas - 910.977 9.269 9.269 9.269 Resultado líquido das operações descontinuadas - - - - Lucro (prejuízo) do exercício - 910.977 9.269 9.269 9.269 Fonte: Adaptado do relatório contábil-financeiro da CSN, 2017. Entretanto, as entradas e saídas de caixa não são tão bem comportadas assim. Normalmente, a entrada e ou saída de caixa não acompanha em sua totalidade o valor do fato gerador. Este é um dos problemas básicos da gestão financeira de curso prazo, a diferença entre o momento das estradas e saídas de caixa. Consideremos as seguintes informações para elaborar o fluxo de caixa projetado para os três primeiros meses de 2017. 1) As entradas de caixa referentes às receitas são realizadas com uma entrada no momento do fato gerador mais dois pagamentos mensais; 2) As saídas de caixa referentes aos custos dos produtos vendidos são realizadas com uma entrada no momento do fato gerador mais um pagamento mensal; 3) As saídas de caixa referentes às despesas operacionais são realizadas integralmente no momento do fato gerador; 4) As saídas de caixa referentes aos impostos são realizadas trimestralmente; 5) O saldo inicial é de 200.000; 6) O saldo mínimo é de 20.000. TABELA 2.7: Apropriação das entradas e saídas ao longo do tempo (em milhares de reais) Janeiro Fevereiro Março Entrada de caixa de receita à vista (33,3%) 514.572 514.572 514.572 Entrada de caixa de receita com 30 dias (33,3%) - 514.572 514.572 Entrada de caixa de receita com 60 dias (33,3%) - - 514.572 Saída de caixa de custo dos produtos e serviços vendidos à vista (50%) 566.506 566.506 566.506 Saída de caixa de custo dos produtos e serviços vendidos com 30 dias (50%) - 566.506 566.506 Saída/entrada de caixa de despesas (receitas) operacionais à vista (100%) 162.041 162.041 162.041 Saída de caixa com imposto de renda e CSSL (a cada 90 dias) - - 102.276 Saída/entrada de caixa de operações descontinuadas à vista (100%) - - - Fonte: Elaborado pelo autor, 2018. Ao usarmos o formato geral do orçamento de caixa da Tabela 2.5 podemos elaborar o orçamento de caixa. O exemplo ora apresentado é uma simplificação do caso concreto. A empresa poderia ter recebimento e ou desembolsos relacionados ao investimento e ou desinvestimento, distribuição de dividendos e ou lucro, provisões, recuperações judiciais, recuperações de devedores duvidosos, recolhimento de encargos, tributos, taxas etc. Possivelmente, também haveriam mais entradas previstas, referentes às vendas à prazo ocorridas nos meses de novembro e dezembro do ano anterior, se não fosse uma entidade em início de operação, reduzindo a necessidade de recursos de curto prazo ora projetada. TABELA 2.8: Orçamento de caixa projetado para 2017 (em milhares de reais) Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Recebimentos 514.572 1.029.144 1.543.716 - Pagamentos 728.547 1.295.053 1.397.329 = Fluxo líquido de caixa -213.975 -265.909 146.387 + Saldo inicial 200.000 - 63.975 -329.884 = Saldo final - 13.975 -329.884 -183.497 - Saldo mínimo de caixa 20.000 20.000 20.000 = Financiamento necessário -33.975 - 349.884 -203.497 Ou = Saldo excedente Fonte: Elaborado pelo autor, 2018 Se não houver uma ação do gestor em relação às politicas de venda (financiamento aos clientes) e ou compra (pagamentos aos fornecedores) para que haja um maior alinhamento entre o momento de entrada e saída de caixa, o orçamento de caixa projetado indica que a entidade necessita de financiamento de curto prazo para sustentar suas operações do primeiro trimestre de 2017 em todos os meses. Atividade 3 (Objetivo 3) Elaborar o orçamento de capital projetado para o segundo trimestre de 2017 considerando que todas as informações que foram utilizadas para elaborar o orçamento de capital projetado para o primeiro trimestre de 2017 são válidas para o segundo trimestre de 2017. Início da resposta comentada TABELA: Orçamento de caixa projetado para 2017 (em milhares de reais) Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Recebimentos 514.572 1.029.144 1.543.716 1.543.716 1.543.716 1.543.716 - Pagamentos 728.547 1.295.053 1.397.329 1.295.053 1.295.053 1.397.329 = Fluxo líquido de caixa -213.975 -265.909 146.387 248.663 248.663 146.387 + Saldo inicial 200.000 - 13.975 -279.884 -133.497 115.166 363.829 = Saldo final - 13.975 -279.884 -133.497 115.166 363.829 329.884 - Saldo mínimo de caixa 20.000 20.000 20.000 20.000 20.000 20.000 = Financiamento necessário -33.975 - 299,884 -153.497 Ou = Saldo excedente 95.156 343.829 693.713 Fonte: Elaborado pelo autor, 2018 De forma diferente do primeiro trimestre de 2017, o orçamento de caixa projetado para o segundo trimestre de 2017 indica que a entidade não necessita de financiamento de curto prazo para sustentar suas operações. Em todos os meses deste período há saldo excedente. Fim da resposta comentada RESUMO O relatório contábil-financeiro tem por finalidade apresentar os resultados da atuação da administração. Porém, existem situações em que o interessado nas informações sobre a entidade queira antecipar possíveis resultados futuros. Uma alternativa é o uso das demonstrações projetadas, elaboradas a partir de estimativas que expressem o nível de operações, as aplicações de recursos necessários e as fontes de financiamento para o(s) exercício(s) futuro(s). Ainda que, no momento da apuração do resultado, diferenças entre os valores projetados e os valores realizados sejam identificadas, as demonstrações projetadas são uteis já no momento de sua elaboração. De posse do resultado projetado para a entidade em momento futuro, o gestor pode atuar para que o resultado, inicialmente projetado, possa ser alterado. As demonstrações utilizadas como referência para elaboração das demonstrações projetadas devem conter as características fundamentais (mais críticas) relevância e representação fidedigna. Se fosse possível, essas mesmas características deveriam estar presentes nas demonstrações projetadas, entretanto, a subjetividade da expectativa dos envolvidos nas estimativas pode contaminar os resultados estimados. A projeção será tanto mais representativa do que pode vir a ocorrer quanto melhor forem as estimativas. As demonstrações projetadas devem, ainda, conter as características qualitativas de melhorias (menos críticas): comparabilidade, verificabilidade, tempestividade e compreensibilidade para que os relatórios projetados cumpram o objetivo de fornecer informações úteis para apoio à tomada de decisão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. PRONUNCIAMENTO CONCEITUAL BÁSICO (R1). Estrutura Conceitual para Elaboraçãoe Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro. Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/147_CPC00_R1.pdf. Acesso em 3 de dezembro de 2018a. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 26 (R1). Apresentação das Demonstrações Contábeis. Disponível em http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/312_CPC_26_R1_rev%2013.pdf. Acesso em 22 de dezembro de 2018b. CSN - Companhia Siderúrgica Nacional Demonstrações financeiras acompanhadas do relatório do auditor independente. Publicado em 26 de março de 2018. Disponível em https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=2ahUKEw iu9NeqzoTfAhVKjJAKHQsnCd4QFjAAegQIAhAC&url=http%3A%2F%2Fri.csn.com.br%2 Fdownload_arquivos.asp%3Fid_arquivo%3DF4A557B2-4A0F-441B-A38F- BDA53F5E187D&usg=AOvVaw3yFHDg15mYWKA0BR2gtvTm. Acesso em 3 de dezembro de 2018. GITMAN, L. Princípios de administração financeira. 10ª ed. São Paulo: Pearson, 2010. ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFE, J. F. Administração financeira: corporate finance. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. TEODORO, P. Administração financeira in Administração: princípios teóricos e práticos / Gilmar José dos Santos, Marcos Tanure Sanábio (Organizadores). Juiz de Fora: Editora UFJF, 2013. 395 p.
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