Buscar

A IMPORTANCIA DA BIOETICA E DO BIODIREITO NA SOCIEDADE ATUAL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

INPA 
INSTITUTO DE PESQUISAS APLICADAS 
 11
Portal Unieducar 
www.unieducar.org.br 
e-learning 
Seminário de Biodireito 
 
A IMPORTÂNCIA DA BIOÉTICA E DO BIODIREITO NA 
SOCIEDADE ATUAL 
 
Patricia Borba Marchetto 
Doutora em Direito Administrativo e Processual pela Universidade de 
Barcelona – Espanha. 
Professora do curso de Administração Pública da Faculdade de 
Ciências e Letras de Araraquara – UNESP. Ministra aulas no Programa 
de Pós Graduação em Biotecnologia da UNESP, na disciplina de 
Bioética e os Avanços Tecnológicos. 
 
Resumo: Considerando a dinâmica observada na conceituação 
da bioética e sua proeminência na sociedade atual, o presente 
trabalho, inicialmente, realiza uma breve retrospectiva sobre a 
transformação da sociedade ao longo dos séculos, e, 
conseqüentemente, sobre o surgimento de novos ramos do 
conhecimento científico. Diante disso, oferece uma distinção entre 
direito, moral e ética, como forma de viabilizar a aproximação de 
uma definição de biodireito e bioética, tema central do presente 
estudo. Por último, ressalta a importância da utilização da bioética e 
do biodireito na solução de conflitos de interesses que envolvem os 
chamados “direitos da atualidade”, tudo isso visando oferecer uma 
melhor guarida à sociedade atual, e, sobretudo, a garantia de 
proteção dos direitos fundamentais do cidadão. 
Palavras chaves: interdisciplinaridade, ética; moral; direito, 
bioética; biodireito. 
 
INPA 
INSTITUTO DE PESQUISAS APLICADAS 
 22
Abstract: Considering the dynamics observed in bioethics 
conceptualization and its projection at the current society, this work, 
initially, provides a retrospective on the transformation of society 
over the centuries and, consequently on the emergence of new 
branches of scientific knowledge. Besides, offers a distinction 
between law, morality and ethics as a way to make the 
approximation of a definition of biolaw and bioethics, central theme of 
this study. Finally, emphasizes the importance of the use of bioethics 
and biolaw in the solution of conflicts of interest involving the so-
called "actuality society law", all aimed at providing better protection 
for the current society, and particularly to guarantee the protection of 
fundamental rights for the citizen. 
Key words: Interdisciplinarity; ethics; moral; law; bioethics; 
biolaw; 
INTRODUÇÃO 
Vivemos hoje em um contexto marcado ao extremo por 
relações de consumo. Os elevados índices de violência e o absoluto 
descrédito à espécie humana nos faz crer que enfrentamos, já há 
algum tempo, uma verdadeira crise de valores. 
Infelizmente, é justamente neste contexto atual de crise e 
contradições, que a sociedade contemporânea vem, cada vez mais, 
gerando novos avanços científicos e tecnológicos, inclusive 
inaugurando novas áreas de conhecimento, produção e consumo, 
como por exemplo, o das Biociências e suas aplicações, as 
denominadas Biotecnologias. 
No seio destas indagações preocupações e discussões que a 
ética vem à tona, representando o elemento necessário a tomada de 
posição do homem diante de si mesmo, e, sobretudo, diante da 
natureza que o cerca. 
 
INPA 
INSTITUTO DE PESQUISAS APLICADAS 
 33
Se fizermos uma retrospectiva, poderemos atribuir, dentre 
outros fatores, a Revolução Industrial, fenômeno social ocorrido no 
continente Europeu, iniciado na Inglaterra, durante o século XVIII, a 
ocorrência de toda a transformação social que o mundo presenciou e 
que perdura até os dias atuais. 
Desde então, os homens passaram a utilizar os recursos 
naturais, em larga escala, como matéria prima de suas atividades 
transformadoras. A sociedade, que anteriormente se caracterizava 
por ser quase que integralmente sustentada pela economia agrícola e 
manufatura artesanal, evoluiu a uma sociedade erigida sobre a 
produção industrial. 
 
A ORIGEM DAS PREOCUPAÇÕES SOBRE OS ASPECTOS 
BIOÉTICOS 
Durante o processo evolutivo, o homem, elemento de toda 
transformação, não demonstrou grandes preocupações com a 
preservação da natureza, usurpando-a de todas as formas. Sua única 
intenção era alcançar o máximo lucro em suas atividades industriais. 
Passado algum tempo, especificamente em finais da década de 60, 
atrelado ao intenso desenvolvimento das ciências biológicas e 
humanas daquela época, começou a surgir uma enorme preocupação 
global com a possibilidade de esgotamento dos bens naturais, 
acompanhado de uma admirável inquietação com as questões 
morais. 
A propósito, pode-se relacionar a conscientização com a 
possibilidade de esgotamento dos bens naturais ao desenvolvimento 
das ciências biológicas, porque essa foi, exatamente, a época em que 
o homem deslumbrado com o desenvolvimento das práticas 
biológicas e tecnológicas intensificou suas pesquisas, motivado pela 
 
INPA 
INSTITUTO DE PESQUISAS APLICADAS 
 44
possibilidade do mapeamento genético e, posteriormente, encantado 
com a probabilidade de desvendar os mistérios da vida e da ciência, 
com o surgimento do Projeto Genoma Humano[1]. 
Todo esse desenvolvimento gerou uma imensa preocupação 
mundial com o esgotamento dos recursos naturais e se manifestou 
em todos os segmentos do pensamento humano, sejam eles: 
cientistas, antropólogos, sociólogos, psicólogos, religiosos, juristas, 
entre outros segmentos. Mobilizados, em busca de mecanismos para 
frear a constante degradação da qualidade ambiental, causada pela 
grande quantidade de resíduo vertido no ambiente natural, gerado 
pelos processos químico-biológicos de produção nas atividades 
industriais. 
No mundo globalizado em que vivemos atualmente, toda essa 
transformação representou uma fase importantíssima, momento de 
transição para um período interdisciplinar para as ciências do 
conhecimento, sobretudo as jurídicas, onde passou a imperar uma 
reforma das estruturas do pensamento, buscando a reconstruir uma 
sociedade com uma completa cognição social, para que o homem 
possa ser considerado, simultaneamente, um ser biológico, cultural, 
psicológico e principalmente, social. 
 
A REGULAÇÃO DA DEFESA DOS INTERESSES DIFUSOS 
A consciência ecológica nacional foi coroada com a promulgação 
da Constituição Federal de 1.988, que reservou seu Capítulo VI, 
especificamente, ao Meio Ambiente, fato inédito na história jurídica 
brasileira. Assim, pela primeira vez em todo o ordenamento jurídico 
pátrio, o meio ambiente recebeu a atenção do legislador originário, 
que, no artigo 225 da Carta Magna de 1.988, impôs não apenas aos 
entes de Direito Público, como também às pessoas físicas e às 
 
INPA 
INSTITUTO DE PESQUISAS APLICADAS 
 55
pessoas jurídicas de Direito Privado, a obrigação de defender e 
preservar o patrimônio natural de nosso país[2]. 
A disciplina em nossa Carta Magna de um capítulo especial 
dedicado à preocupação com o meio ambiente demonstrou uma 
notável atenção ao Direito Ambiental brasileiro e um enorme 
progresso, conforme se denota da admissão do parágrafo 3º do 
citado artigo que regula, inclusive, a obrigação do agente de 
recompor o do meio ambiente quando condutas e atividades a este 
lesivas alterarem suas características originais que resulte em 
degradação da qualidade ambiental, além das demais sanções 
administrativas e criminais cabíveis[3]. 
Além da inovação constitucional, o legislador ordinário 
igualmente se incomodou com a degradação do meio ambiente, 
fazendo com que normas infraconstitucionais surgissem visando sua 
proteção e recuperação dos danos ambientais[4]. 
A conseqüência dessa evolução do pensamento jurídico foi um 
afastamento das concepções individualistas (privativas) arraigadas 
nasconstituições anteriores, oferecendo um lugar de destaque às 
relações coletivas, as quais contribuíram para o aumento da 
preocupação com o meio ambiente, dando origem aos chamados 
interesses difusos, principalmente com o surgimento dos direitos de 
terceira geração[5], além de ter sido o espaço fecundo para o 
surgimento da bioética, disciplina que tem como tema central a ética 
aplicada à vida. 
 
TUDO O QUE É TECNOLOGICAMENTE POSSÍVEL É, 
TAMBÉM, ÉTICA E JURIDICAMENTE ACEITO? 
Que a resposta para essa indagação é um categórico não, isso 
não há dúvidas, mas para justificarmos essa negativa resulta 
 
INPA 
INSTITUTO DE PESQUISAS APLICADAS 
 66
necessário aprofundarmos nossos estudos em três termos que se 
correlacionam. São eles: Biotecnologia, Biodireito e Bioética. 
A ciência e a tecnologia são duas atividades que se inter 
relacionam com nosso cotidiano e se encontram em constante 
evolução. A ciência está associada à ânsia do saber humano, ou seja, 
ao desejo de compreender, explicar ou prever fenômenos naturais. A 
tecnologia, por sua vez, decorre de outro anseio: o de encontrar 
novas e melhores maneiras de satisfazer as necessidades humanas, 
usando para isso conhecimentos, ferramentas, recursos naturais e 
energia. 
Diante disso, podemos dizer que a Biotecnologia representa o 
conjunto de métodos aplicáveis às atividades que associam a 
complexidade dos organismos e seus derivados, conciliadas às 
constantes inovações tecnológicas, visando prover bens e assegurar 
serviços. 
Por outro lado, não há condições de nos aproximarmos de uma 
possível definição de Biodireito, sem antes abordarmos, ainda que de 
forma breve, o Direito como ciência. 
"O homem não pode viver sem regras, pois o vazio 
jurídico torna tudo possível"[6]. 
 
 Precisamos lembrar que compete ao Estado (Poder Legislativo) 
regular, legislar, criar as normas encontradas na sociedade para que 
se atinja um equilíbrio, uma paz social, tudo isso pautado em um 
princípio elementar e constitucionalmente defendido que o da 
dignidade humana, onde todos conseguem ter uma convivência 
harmônica na sociedade. 
Assim, Biodireito pode ser definido como o ramo do Direito que 
trata da teoria, da legislação e da jurisprudência relativa às normas 
 
INPA 
INSTITUTO DE PESQUISAS APLICADAS 
 77
reguladoras da conduta humana, principalmente dos avanços da 
biologia, da biotecnologia e da medicina, pois as intervenções 
científicas sobre a pessoa que possam atingir sua vida e integridade 
físico-mental deverão subordinar-se a preceitos éticos e não poderão 
contrariar os direitos humanos[7]. 
Nas palavras da nobre professora Giselda Maria Fernandes 
Novaes Hironaka (2003), resulta importante frisar que o papel do 
Biodireito não é o “de cercear o desenvolvimento científico, mas, 
justamente, o de traçar aquelas exigências mínimas que assegurem a 
compatibilização entre os avanços biomédicos que importam na 
ruptura de certos paradigmas e a continuidade do reconhecimento da 
Humanidade enquanto tal, e, como tal, portadora de um quadro de 
valores que devem ser assegurados e respeitados". 
A palavra Bioética foi utilizada pela primeira vez pelo Prof. Van 
Rensselaer Potter, doutor em bioquímica e pesquisador na área de 
oncologia da Universidade de Wisconsin/EEUU, em 1970[8], porém, 
para conseguirmos o exato alcance do termo, resulta indispensável 
distinguirmos, previamente, moral, direito e ética. 
Digo previamente, pois a intenção do presente não é tratar 
desta questão do ponto de vista teórico, se assim fosse, teríamos que 
travar estudos filosóficos intermináveis. Nossa intenção se concentra 
na análise dos términos na perspectiva concreta. Portanto, a primeira 
noção elementar é entendermos que não estamos tratando de 
sinônimos, todos os três termos possuem conceitos distintos, ainda 
que alguns autores não pensem assim.[9] 
Tanto o direito como a moral estabelecem regras para uma 
ação. Porém, as regras estabelecidas pelo direito são regras 
coercitivas, impostas pela lei e capazes de gerarem uma sanção em 
função da sua inobservância, já as morais são aquelas que o 
indivíduo as assume de forma voluntária, sem que haja nenhuma 
 
INPA 
INSTITUTO DE PESQUISAS APLICADAS 
 88
punição legal caso venha a descumpri-las, representadas pelo 
conjunto de normas, princípios, preceitos, costumes, valores que 
norteiam o comportamento do indivíduo no seu grupo social. 
Por sua vez, embora a ética também traga referência com a 
ação, se dá de um modo distinto. Neste caso, a regra para conduzir 
determinadas ações, cede lugar às justificativas, as razões, aos 
motivos para a prática das mesmas, as quais podem ser consideradas 
boas ou más, aceitas ou reprovadas para a sociedade. 
A ética busca justificativas, enquanto a moral e o direito 
mostram regras. 
Se pudéssemos resumir a definição dos três termos, 
utilizaríamos a resposta das seguintes interrogações: O direito: O que 
eu devo fazer? A moral: Como devo fazer? E a ética: Porquê eu devo 
fazer? 
 Portanto, quando o indivíduo associa uma reflexão aos seus 
atos e encontra uma justificativa aceitável para as suas ações ele 
está exercitando a ética. 
Da mesma forma, quando um cientista/pesquisador busca uma 
justificativa admissível para o desenvolvimento de sua pesquisa 
biotecnológica ou biomédica, está exercitando a bioética. A bioética 
representa uma grande área interdisciplinar que busca auxiliar na 
reflexão dos novos problemas que estão, constantemente, sendo 
apresentados a todos nós, individual e coletivamente. 
 
CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE BIOÉTICA 
Uma reflexão bioética, porém, não é algo que ocorre de 
maneira individual, pelo contrário, ela não tem limites. Atualmente 
 
INPA 
INSTITUTO DE PESQUISAS APLICADAS 
 99
vivemos situações inéditas de conflitos, vivenciamos problemas que 
nossos antepassados, por mais instruídos que fossem jamais 
precisaram se preocupar. 
A bioética acontece quando as pessoas expandem suas mentes 
em suas reflexões, de forma compartilhada, pois ninguém realiza 
uma reflexão isoladamente, é necessária a participação de outros 
seguimentos. Daí decorre sua característica interdisciplinar, onde 
cada indivíduo, fazendo uso de suas experiências pessoais e 
profissionais, enfoque a bioética e aprofunde a discussão, sobre 
prismas diferentes. 
Resulta de suma importância a identificação do objeto das 
reflexões bioéticas. Em realidade essas reflexões de desenvolvem em 
torno da vida e do viver. Aliás, para a bioética, a importância do viver 
se sobrepõe ao da vida. Isso se dá em virtude de se zelar por uma 
boa qualidade de vida, o que vem constitucionalmente protegido pelo 
princípio da dignidade humana, além de confirmar que em razão do 
progresso alcançado pelas ciências biológicas, hoje temos uma 
melhora considerável no modo de viver e de morrer da sociedade. 
 
APROXIMAÇÃO DO CONCEITO DE BIOÉTICA 
A Bioética tem uma abordagem secular e global, pois dela 
participam as diferentes visões de profissionais de saúde, filósofos, 
advogados, sociólogos, administradores, economistas, teólogos e 
leigos. A perspectiva religiosa, muito associada às questões morais, é 
apenas uma das visões possíveis, mas não a única. Da mesma forma, 
é uma abordagem global, pois não considera apenas a relação 
médico-paciente. A Bioética inclui os processos de tomada de 
decisão, as relações interpessoais de todos os segmentos e pessoas 
 
INPA 
INSTITUTO DE PESQUISAS APLICADAS 
 1010
envolvidas: o paciente, o seu médico, os demais profissionais, a sua 
família, a comunidade e as demais estruturas sociais e legais[10].“Bioética é uma ética aplicada que se ocupa do 
uso correto das novas tecnologias na área das 
ciências médicas e da solução adequada dos 
dilemas morais por elas apresentados” (Clotet J., 
1995) 
“Bioética é uma nova ciência ética que combina 
humildade, responsabilidade e uma competência 
interdisciplinar, intercultural e que potencializa o 
senso de humanidade” (Potter V.R., 1998) 
 
Com grande maestria Volnei Garrafa[11] afirma que a 
conceituação da jovem bioética está em constante evolução, mas 
podemos balizar uma grande classificação que situa os diversos 
temas dos quais ela trata: a bioética das situações persistentes, que 
analisa aqueles temas cotidianos que se referem à vida das pessoas e 
que persistem teimosamente desde o Velho Testamento: a exclusão 
social, o racismo, a discriminação da mulher no mercado de trabalho, 
a eutanásia, o aborto. A bioética das situações emergentes, que se 
ocupa dos conflitos originados pela contradição verificada entre o 
progresso biomédico desenfreado dos últimos anos e os limites ou 
fronteiras da cidadania e dos direitos humanos, como as fecundações 
assistidas, as doações e transplantes de órgãos e tecidos, o 
engenheiramento genético de animais e da própria espécie humana e 
inúmeras outras situações. Nesse sentido, está claro que a bioética 
não significa apenas uma moral do bem ou do mal, ou um saber 
acadêmico a ser transmitido e aplicado na realidade concreta, como a 
medicina ou a biologia: Pela amplitude do objeto com o qual se 
ocupa, seus verdadeiros fundamentos somente podem ser alcançados 
através de uma ação multidisciplinar que inclua, além das ciências 
médicas e biológicas, também a filosofia, o direito, a antropologia, a 
ciência política, a teologia, a economia[12]. 
 
 
INPA 
INSTITUTO DE PESQUISAS APLICADAS 
 1111
OBJETIVOS DA BIOÉTICA 
O RESPEITO E A CONSERVAÇÃO DA DIGNIDADE HUMANA 
representam os principais objetivos da bioética, motivo pelo qual se 
multiplicam a cada dia o número de comitês de ética em pesquisa por 
todo mundo. Aliás, é de suma importância a aprovação de um projeto 
de pesquisa pelos comitês de bioética, pois comprova a credibilidade 
da investigação, além de confirmar que vem coordenada por 
profissionais gabaritados para sua condução. 
O comitê de ética em pesquisa é o órgão institucional que tem 
por objetivo proteger o bem-estar dos indivíduos pesquisados, 
tratando-os como sujeitos de pesquisa e não como objetos. São 
constituídos por representantes de diversos seguimentos da 
sociedade científica, de ambos os sexos, além de pelo menos um 
representante da comunidade. Dentre outras, tem a função de avaliar 
os projetos de pesquisas que envolvam a participação de seres 
humanos e possuem como lema maior a busca pela vida e o 
melhoramento do viver. [13] 
 
CONCLUSÃO 
É inegável que o progresso intelectual (científico e tecnológico) 
avança mais rapidamente que o progresso moral (ético) e legal. E 
desse progresso que surge uma grande inquietação e desassossego 
social em razão, quiçá, do desconhecimento e do desamparo. 
No entanto, hoje em dia, a bioética ampliou muito seu espectro 
de abrangência, refletindo em um grande interesse repentino dos 
governantes e das mais variadas instituições públicas e privadas, 
religiosas ou laicas, com relação ao tema. 
 
INPA 
INSTITUTO DE PESQUISAS APLICADAS 
 1212
O assunto é polêmico e está constantemente em pauta, 
majorado, logicamente nos últimos dias, sobretudo em virtude da 
recente e muito festejada definição pela constitucionalidade da lei que 
autoriza o uso de células-tronco embrionárias em pesquisas no 
país.[14] 
Mas a importância do tema não se dá de forma casual, mas sim 
devido aos impressionantes resultados obtidos no campo das 
pesquisas biomédicas e biotecnológicas. 
A presteza das conquistas científicas e tecnológicas resultou em 
enormes controvérsias e discussões morais, exigindo das ciências 
sociais e filosóficas uma racionalidade repentina para poder suportar 
as profundas transformações experimentadas pela atual sociedade. 
A bioética é, sem sobra de dúvidas, uma ciência que está 
voltada para o futuro, porém, já alcançando glórias no presente. Por 
esse motivo, estará em constante transformação, conduzida pelo 
desenvolvimento da ciência, da tecnologia e, principalmente, pela 
evolução da sociedade, visando sempre à proteção da dignidade 
humana. 
Por último, é indispensável que as novas leis que venha dispor 
sobre o desenvolvimento científico e tecnológico sejam 
cuidadosamente elaboradas, seguindo ditames de caráter moral, sem 
estagnar as pesquisas científicas, mas, ao mesmo tempo, 
proporcionando à sociedade uma evolução com responsabilidade, 
prudência, tolerância e solidariedade. 
 
Bibliografia consultada 
CAMARGO, Marculino. Fundamentos de Ética Geral e 
Profissional, editora Vozes, 2ª edição, 2001. 
 
INPA 
INSTITUTO DE PESQUISAS APLICADAS 
 1313
CLOTET J. A Bioética: uma ética aplicada em destaque. (1995) In: 
Clotet J. Bioética uma aproximação, Porto alegre, EDIPUCRS, 
2003:33. 
 
DINIZ, M. H., O Estado Atual do Biodireito, 4ª ed. ver. e atual. 
conforme a Lei n. 11.105/2005, São Paulo: Editora Saraiva, 2007. 
 
GOLDIM,J.R. Introdução à Bioética. Disponível em: 
<http://www.hcpa.ufrgs.br/bioeticaf.htm>. Acesso em: 28 maio. 
2008. 
 
GOLDIM JR. Bioética e Interdisciplinariedade. Educação, 
Subjetividade & Poder 1997;4:24- 
 
HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Bioética e biodireito: 
revolução biotecnológica, perplexidade humana e prospectiva jurídica 
inquietante. in Revista Brasileira de Direito de Família, nº 16, 
jan/fev/mar 2003. 
HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Bioética e Biodireito: 
revolução biotecnológica, perplexidade humana e prospectiva jurídica 
inquietante. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 66, jun. 2003. 
Disponível em: 
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4193>. Acesso em: 
18 abril 2008. 
 
MAZZILLI, Hugo de Nigro. Defesa dos interesses difusos em juízo. 15. 
ed., São Paulo: Saraiva, 2002 
 
MORAES, A. Direito Constitucional, São Paulo, Atlas, 23ª ed, 2008 
 
NALINI, José Renato. Ética Ambiental. Campinas: Milennium, 2001. 
NALINI, José Renato Ética Geral e Profissional, 6ª Ed., RT, 2008. 
PESSINI , L.; BARCHIFONTAINE, C. P. (Orgs.). Fundamentos da 
Bioética. São Paulo: Paulus, 1996; 
 
INPA 
INSTITUTO DE PESQUISAS APLICADAS 
 1414
POTTER V.R. O Mundo da Saúde 1998;22(6):370-374. ., Apud 
PESSINI L. Bioética - Alguns desafios, ed. Loyola, 2001. 
SÁNCHEZ VÁSQUEZ, Adolfo. Ética. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira, 8ª ed., 1985: 86-9. 
SAUWEN R. F.; HRYNIEWICZ, S. O Direito in vitro: da Bioética ao 
Biodireito, Rio de Janeiro: Ed. Lúmen Júris, 1997 
ZATZ, MAYANA. Projeto genoma humano e ética. São Paulo Perspec., 
2000, vol. 14, no. 3 [cited 2008-05-26],p.47-52. 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
8392000000300009&lng=en&nrm=iso>. 
 
Notas: 
[1] Em 1987, com iniciativa do Departamento de Energia dos Estados 
Unidos, foi iniciado o Projeto Genoma Humano. Com um 
financiamento inicial de 50 bilhões de dólares e uma duração prevista 
de 20 anos, o Projeto Genoma teve como objetivos criar mapas 
físicos de alta resolução, seqüenciar todo o DNA do genoma humano, 
criar e depositar as informações obtidas em um banco de dados e 
aperfeiçoar as técnicas moleculares de modo a melhorar a qualidade 
do estudo. 
[2] Art. 225 CF. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente 
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia 
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o 
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futurasgerações. 
[3] Art. 225, § 3º CF - As condutas e atividades consideradas lesivas 
ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou 
jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da 
obrigação de reparar os danos causados. 
[4] Como exemplo podemos citar a inserção do compromisso de 
ajustamento de conduta, denominado também de “TAC” (Termo de 
Ajustamento de Conduta), no ordenamento jurídico pátrio, realizada 
pelo artigo 113 do Código de Defesa do Consumidor, pois permitiu 
com que os órgãos públicos legitimados para a propositura da ação 
civil pública pudessem firmar acordos com os degradadores do meio 
ambiente, no âmbito extrajudicial, para adequar a conduta irregular 
aos ditames da legislação ambiental. Trata-se de um título executivo 
extrajudicial, passível de execução judicial pelo legitimado que o 
firmou, no caso de não adimplemento voluntário pelo 
compromissário. Representa, portanto, um instrumento de tutela 
 
INPA 
INSTITUTO DE PESQUISAS APLICADAS 
 1515
ambiental bastante útil, eis que permite a efetivação da tutela 
ambiental de forma mais célere, sem grandes burocracias, alem de 
ser um exemplo da utilização da consciência ética e bioética na 
melhora da qualidade de vida da humanidade. 
[5] A criação de uma Política Nacional de Meio Ambiente, 
consubstanciada na Lei Federal n° 6.938, de 31 de agosto de 1.981, 
foi o primeiro passo no desenvolvimento de todo um arcabouço legal, 
mais elaborado, de proteção ao meio ambiente, que nos dias atuais, 
é um dos sistemas jurídicos de tutela ambiental mais desenvolvido do 
mundo. 
[6] HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Bioética e 
Biodireito: revolução biotecnológica, perplexidade humana e 
prospectiva jurídica inquietante. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 
66, jun. 2003. Disponível em: 
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4193>. Acesso em: 
18 abril 2008. 
[7] DINIZ, Maria Helena. O Estado Atual do Biodireito, 4ª ed. ver. 
e atual. Conforme a Lei n. 11.105/2005, São Paulo: Editora Saraiva, 
2007, 18p. 
[8] A bioética ganhou concretude a partir de um livro publicado por 
Van Ressenlaer Potter, em 1971 - Bioethics: A bridge to the future, 
Englewood Cliffs: Prentice-Hall. 
[9] CAMARGO, Marculino. Fundamentos de Ética Geral e 
Profissional, editora Vozes, 2ª edição, 2001. 
[10] GOLDIM JR. Bioética e Interdisciplinariedade. Educação, 
Subjetividade & Poder 1997;4:24- 
[11] Presidente da Red-Latinoamericana e do Caribe de Bioética da 
UNESCO - REDBIOÉTICA; Presidente da Secção Latino-Americana da 
Sociedade Internacional de Bioética - SIBI; Coordenador da Cátedra 
UNESCO de Bioética da Universidade de Brasília; coordenador do 
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Bioética da Universidade de 
Brasília - UnB; foi presidente e vice-presidente da Sociedade 
Brasileira de Bioética; Editor Chefe da Revista Brasileira de Bioética 
da Sociedade Brasileira de Bioética. 
[12] GARRAFA, Volnei e BERLINGUER, Giovanni. Reflexões bioéticas 
sobre ciência, saúde e cidadania. Bioética, n. 6, p. 2, 1998. 
[13] A Declaração de Helsinque II foi a primeira manifestação 
internacional de sua importância. No Brasil, suas características e 
atribuições estão dispostas na Resolução 196/96 do Conselho 
Nacional de Saúde. Todos os Comitês de Ética em Pesquisa no Brasil 
 
INPA 
INSTITUTO DE PESQUISAS APLICADAS 
 1616
devem ser credenciados pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa 
(CONEP). 
[14] Passados mais de dois meses de discussões, em 29 de maio de 
2008, o Supremo Tribunal Federal (STF) finalmente, definiu-se pela 
constitucionalidade das pesquisas com células-tronco embrionárias no 
país. Com a decisão, o Brasil se tornou o primeiro país da América 
Latina a permitir as pesquisas de células-tronco e o 26º no mundo. 
Entra no rol de países como Finlândia, Grécia, Suíça, Holanda Japão, 
Austrália, Canadá, Coréia do Sul, Estados Unidos, Reino Unido e 
Israel. 
A propósito, afirmou ministro da Saúde José Gomes Temporão em 
seu comunicado à imprensa: "A decisão do STF é uma vitória da vida, 
pois atende à expectativa de milhares de pacientes que têm 
esperança de cura para as suas doenças. As pesquisas de células 
tronco abrem inúmeras possibilidades para encontramos respostas 
para doenças que não têm tratamento hoje. O resultado permite à 
ciência brasileira assumir uma nova posição no cenário internacional".

Outros materiais