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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO ASPECTOS DESTACADOS DA NACIONALIDADE BRASILEIRA: AQUISIÇÃO, PERDA E REAQUISIÇÃO. DANIELA LIMAS PEREIRA Itajaí-SC. Novembro 2008 i UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO ASPECTOS DESTACADOS DA NACIONALIDADE BRASILEIRA: AQUISIÇÃO, PERDA E REAQUISIÇÃO. DANIELA LIMAS PEREIRA Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientadora: MSc. MÁRCIA SARUBBI LIPPMANN Itajaí-SC. Novembro 2008 ii AGRADECIMENTO À professora orientadora Márcia Sarubbi Lippmann pela forma paciente e incansável com que leu e releu meu texto, demonstrando confiança, e com suas críticas que sempre foram construtivas e procedentes. À minha amiga Camila Dias pela força incentivadora e compreensão. iii DEDICATÓRIA Aos meus pais Deolindo José Pereira e Maria Teresinha de Limas Pereira que foram um exemplo de vida e coragem, demonstrando sempre a importância da educação. Aos meus dois irmãos Deolindo José Pereira Júnior e Marcos Vinicius Pereira que sempre estão ao meu lado me compreendendo e me apoiando nas minhas decisões. Ao meu noivo Marcos Martins Puhl, pelo amor, respeito, pela paciência, pela compreensão e pelo apoio. iv TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e a Orientadora de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. Itajaí, 20 de novembro de 2008. Daniela Limas Pereira Graduanda v PÁGINA DE APROVAÇÃO A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Daniela Limas Pereira, sob o título Aspectos destacados da nacionalidade brasileira, foi submetida em 20 de novembro de 2008 à banca examinadora composta pelos seguintes professores:Márcia Sarubbi Lippmann, e Luciana Coelho aprovada com a nota 7,5(sete vírgula cinco). Itajaí,20 de novembro de 2008 . MSc. Márcia Sarubbi Orientadora e Presidente da Banca MSc. Antonio Augusto Lapa Coordenação da Monografia vi ROL DE CATEGORIAS AQUISIÇÃO: Formada do vocábulo latino acquisitio (ação de adiquirir), é empregado na linguagem jurídica para indicar o ato ou fato, em virtude do qual se opera a transferência do domínio ou propriedade de uma coisa móvel ou imóvel, ou a sua posse, ou a transferência de um direito, para uma pessoa, que assim se torna proprietária dela, ou titular deste direito Aquisição da nacionalidade – Expressão utilizada em Direito Público para indicar ou mostrar que uma pessoa adquiriu a nacionalidade de um país, isto é, que, segundo as leis do mesmo país, é considerada como pertencente a ele, tida como nacional ou nacionalizada. A nacionalidade, em regra, se adquire pelo nascimento no país, ainda de que pais estrangeiros, desde que não residindo nele em função ou a serviço de seu governo.Mais a nacionalidade também se adquire pela naturalização, que pode ser compulsória ou voluntária.1. ESTADO: deriva do latim status (estado, posição, ordem, condição), é vocábulo que possui sentidos próprios no Direito Público e no Direito Privado. Estado. No sentido do Direito Público, Estado, segundo conceito dado pelos juristas, é o agrupamento de indivíduos, estabelecidos ou fixados em um território determinado e submetidos à autoridade de um poder público ou soberano, que lhe dá autoridade orgânica. É a expressão jurídica mais perfeita da sociedade, mostrando-se também a organização política de uma nação, ou de um povo. Entretanto, há distinção entre as expressões povo, nação, sociedade e estado2. 1 SILVA, de Plácido e, – Vocabulário Jurídico I e II ,4º Edição, Editora forense, 1996 Rio de Janeiro, Volume I A-C pág. 181 e 182 2 SILVA, de Plácido e, – Vocabulário Jurídico I e II ,4º Edição, Editora forense, 1996 Rio de Janeiro, Volume I A-C, p 627 vii EXPULSÃO: Medida administrativa tomada pelo presidente da República para retirar do território nacional um estrangeiro que se mostra prejudicial aos interesses do País. Diferente da Extradição, que é julgada pelo Supremo Tribunal Federal, a pedido do país de origem do estrangeiro, a expulsão é uma decisão tomada pelo Poder Executivo. O pedido normalmente é feito via diplomática de governo a governo, e o Supremo Tribunal Federal é a autoridade competente a se pronunciar sobre o pedido. Em regra, é concedida a extradição de cidadão do país requisitante, salvo em casos de crime político. Brasileiros natos não podem ser extraditados. Os naturalizados podem sofrer o processo, nos casos previstos pela Constituição (Art. 5º, inciso LI). O andamento do pedido de extradição no Supremo Tribunal Federal depende de que o extraditando seja preso no Brasil e colocado à disposição da Justiça até que termine o processo (Prisão Preventiva para Extradição). Ele será submetido a interrogatório e terá direito a se defender por meio de advogado. A Procuradoria-Geral da República também deve se manifestar na ação.3 Extradição: (extraditio) – Entrega à autoridade competente e pelos meios regulares do individuo que, tendo praticado um delito dentro do território de sua jurisdição, se refugia em território estranho à esta, onde é capturado. Em quase todos os paises a sua concessão independe do tratado; alguns deles julgam necessário haver convenção a respeito. Os criminosos políticos, por princípio quase universal, estão excluídos da extradição. No Brasil, são também excluídos, além deste delito, o de opinião e o praticado por nacional. A extradição pode ser: a) interestadual, quando se verifica, mediante o cumprimento de formalidades especiais, entre unidades da própria Federação; b)internacional, quando por via diplomática o governo de uma nação pede ao de outra que lhe entregue certo individuo que homiziou no seu 3 www.centraljuridica.com/diconario/g/1/l/e/dicionario_juridico/dicionario_juridico.htm viii território , por haver praticado um crime no pais de onde saiu, a fim de que , perante a sua justiça, seja julgado ou cumpra a pena que lhe foi imposta. Não será concedida a extradição de estrangeiro, por crime político ou de opinião, e, em caso nenhum, a de brasileiro (Constituição Federal)4. NAÇÃO: Por sua origem etimológica, do latim natio, de natus (nascido), já se tem a idéia de que nação significa a reunião de pessoas, nascidas em um território dado, procedentes da mesma raça, falando o mesmo idioma, tendo os mesmos costumes e adotando a mesma religião, formando, assim, um povo, cujos elementos componentes trazem consigo as mesmas características raciais e se mantêm unidos pelos hábitos, tradições, religiãoe língua.. Mas, a rigor, os elementos território, língua, religião, costumes e tradição, por si sós, não constituem o caráter de nação. São requisitos secundários, que se integram na sua formação. O elemento dominante, que se mostra condição subjetiva para evidencia de uma nação assenta no vinculo que une estes indivíduos, determinando entre eles a convicção de um querer viver coletivo. É, assim, a consciência de sua nacionalidade, em virtude de qual se sentem constituindo um organismo ou agrupamento, distinto de qualquer outro, com vida própria, interesses especiais e necessidades peculiares. Nesta razão, o sentido de nação não se anula porque seja esta fracionada entre vários Estados, ou porque varias nações se unam para a formação de um Estado. O estado é uma forma política, adotada ´por um povo, que constitui uma nação, ou por vários povos de nacionalidades diferentes, para que se submetam a um poder publico soberano, emanado de sua própria vontade, que lhes vem dar unidade política. A nação preexiste sem qualquer espécie de organização legal. Mesmo no conceito da teoria clássica, em que é tido como a pessoa jurídica, constituída pelo conjunto de indivíduos que 4 NUNES, Pedro, Dicionário de Tecnologia Jurídica, volume I A-F, 11 edição revista ampliada e atualizada livraria Freitas bastos s.a rio de janeiro, p.454 ix formam o Estado, apresenta-se como distinta deste para mostra-se a depositária da soberania, em que assenta a organização política, fundada em sua vontade. E mesmo que, comumente, seja empregado em sinonímia de Estado, em realidade significa a substancia humana que o forma, atuando aquele em seu nome e no seu próprio interesse, isto é, pelo seu bem estar, por sua honra, por sua independência e por sua prosperidade5. NACIONALIDADE: Exprime a qualidade ou a condição de nacional, atribuída a uma pessoa ou coisa, em virtude do que se mostram vinculadas à nação, ou ao Estado, a que pertencem ou de onde se originam. Revelada a nacionalidade, sabe-se, assim, a que nação pertence a pessoa ou a coisa. E, por essa forma, se estabelecem os princípios jurídicos que possam ser aplicados quando venham as pessoas a ser agentes de ato jurídico e as coisas objeto destes mesmos atos. A nacionalidade, em regra, é decorrente do fato do nascimento, quanto às pessoas, ou da origem ou feitura, quanto às coisas. E coisa e pessoas têm a nacionalidade do Estado, sob cuja jurisdição territorial se tenham formado (coisas) ou nascido (pessoas).Mais, em relação às pessoas, a nacionalidade pode alterar-se pela adoção de outra. E as coisas também podem tomar nova nacionalidade. A mudança de nacionalidade sempre decorre de ato ou de fato que se diz de naturalização. Mas, a nacionalidade assim adquirida não se diz propriamente qualidade de nacional, sim qualidade de nacionalizado.A adoção de nova nacionalidade jamais é admitida por presunção. E indispensável que a pessoa, que não deseja conservar a nacionalidade de origem, ou deseja a que decorre do fato de nascimento demonstre por fato positivo o desejo de a mudar, adotando, outra nacionalidade, ou seja aquela do pais em que reside ou para aonde se transplantou. Em 5 NUNES, Pedro, Dicionário de Tecnologia Jurídica, volume I A-F, 11 edição revista ampliada e atualizada livraria Freitas Bastos S.A., Rio De Janeiro, p.1048 x relação às coisas a troca ou a mudança de nacionalidade diz-se, propriamente, nacionalização. Naturalização é privativa as pessoas. A questão da nacionalidade é de relevância em Direito, visto que , por ela, é que se determina, em vários casos, a aplicação da regra jurídica, que deve ser obedecida em relação às pessoas e aos atos que pretendam praticar, em país estrangeiro, notadamente no que se refere aos Direitos de Família, de Sucessão6. NACIONALIDADE DERIVADA: A nacionalidade derivada é adquirida mediante naturalização, definida como o ato pelo qual alguém adquire a nacionalidade de outro país. Costuma ocorrer mediante solicitação, escolha ou opção do indivíduo e por concessão do Estado cuja nacionalidade é solicitada7. NACIONALIDADE ORIGINÁRIA: Nacionalidade de origem vide nacionalidade natural. Nacionalidade Natural: Embora a questão de nacionalidade se apresente como essencialmente jurídica, notadamente porque resulta num vinculo de ordem jurídica, que prende as pessoas e coisas a determinado Estado, una-se da expressão simplesmente para a nacionalidade adquirida pelo nascimento, da que provem por naturalização. Por sua origem, em verdade, elas se distinguem: a de nascimento é efetivamente natural, a outra é uma nacionalidade que se deriva da mudança ou adoção de outra nacionalidade que vem substituir a que tinha pelo nascimento. A nacionalidade natural é igualmente dita de nacionalidade de origem ou originaria, porque, em regra, é fixada pelo lugar de nascimento. E a nacionalidade firmada pelo jus-soli. Há teoria , porem, que procura determinar a nacionalidade, não em razão do solo, 6 NUNES, Pedro, Dicionário de Tecnologia Jurídica, volume I A-F, 11 edição revista ampliada e atualizada livraria Freitas Bastos S.A Rio De Janeiro, p. 1047 e 1048 7 http://pt.wikipedia.org/wiki/Nacionalidade xi em que se nasceu mais em decorrência do sangue, de que se proveio. É a nacionalidade emanada do jus sanguinis8. NATURALIZAÇÃO: Formado de naturalizar (tornar natural), é o vocábulo usado na terminologia jurídica, para indicar o ato pelo qual o estrangeiro, renunciando sua nacionalidade de origem, adota a de outro pais. Nestas condições, pela naturalização, o estrangeiro torna-se cidadão do país, cuja nacionalidade adotou. Não se diz cidadão nato, que o adjetivo é próprio aos nascidos no pais ou nativos. Diz-se naturalizado. Embora, o naturalizado fique equiparado ao nacional, não se investe nos mesmos direitos assegurados ao nacional. Há direitos políticos e, mesmos, certas funções que são privativas do cidadão nato, dos quais não pode participar o cidadão naturalizado. A naturalização difere da nacionalização, A naturalização é a mudança da nacionalidade do pais de origem pelo pais de adoção. Vide: Nacionalizar.A nacionalização exprime toda ação de passar para o poder exclusivo do Estado tudo que se encontrava em posição diferente ou de integrar, como pertencente à nação, tudo que não lhe pertencia. Os princípios fundamentais para a naturalização são fixados na Constituição brasileira, nos incisos III e IV do art.129, E, por eles, a nacionalidade brasileira, conseqüente da naturalização, adquire-se de modo tácito ou expresso. Decorrem daí duas espécies de naturalização9. PÁTRIA: Do latim pátria, de pater (pai), entende-se, vulgarmente, o lugar ou pais em que se nasce ou que se teve origem. Nesta circunstância, demonstrando a pátria uma relação de origem natural, um fato humano, toda pessoa terá sempre uma pátria porque, em qualquer lugar, há de ter nascido. É, portanto, em sentido próprio, a significação de um fato ou 8 NUNES, Pedro, Dicionário de Tecnologia Jurídica, volume I A-F, 11 edição revista ampliada e atualizada livraria Freitas Bastos S.A Rio De Janeiro, p. 1048 9 SILVA, de Plácido e, – Vocabulário Jurídico I e II ,4º Edição, Editora forense, 1996 Rio de Janeiro, Volume III, p.1052 xii acontecimento, que não pode ser destruído pelas leis civis ou políticas. Entanto, empregam-no na acepção da nacionalidade, cujosentido é tecnicamente mais exato que se pode referir à situação jurídica que decorre do nascimento ou da naturalização. Pátria traz sempre consigo a idéia de origem ou primitividade, ligada a um fato, independentemente da vontade humana. Vide: Nascimento, Nacionalidade, Naturalização. Para a pessoa que perde a nacionalidade, diz-se apátrida ou sem-pátria. Mas, pátria, aí não tem sentido próprio. É tida em significação de nacionalidade, pois que a realidade é contrária ao principio de ordem natural: nasce-se sempre em alguma parte. Entanto, apátrida ou sem- pátria, a rigor, entende-se aquele cujo o lugar de nascimento não se sabe ou é desconhecido, embora geralmente determine a pessoa que se viu privada de sua nacionalidade10 POVO: Do latim populus (grande número de homens), em sentido vulgar, provindo de sua etimologia, significa a multidão de indivíduos ou de pessoas, acidentalmente reunidos, sem qualquer interesse que os prenda ou uma. É, assim, indicativo de uma porção de homens ou um grande numero de pessoas, sem referência ao aspecto político ou jurídico, em que se apresentem. Juridicamente, povo designa a totalidade de pessoas, que habita um território dado, já se apresentando como elemento formador de uma nacionalidade. É assim a população de um território ou a massa de indivíduos que compõem um Estado. E, nesta razão, vem, geralmente, qualificado: povo brasileiro, povo inglês, povo norte- americano, povo russo, povo etc., a fim de que, pela qualificação, seja determinada a extensão do território, em que se encontram, e feita alusão à organização política, a que pertencem. Embora, povo, como vocábulo jurídico, não se confunda com a palavra nação, que significa este mesmo povo vinculado por um interesse comum e subjugado por 10 SILVA, de Plácido e, – Vocabulário Jurídico I e II ,4º Edição, Editora forense, 1996 Rio de Janeiro, Volume III, p.1130 xiii uma firme consciência de sua nacionalidade, representa o elemento fundamental do Estado, que nele exerce, em principio, promana dele e em nome dele é exercido. Vide: Nação, Estado, Sociedade11 POPULAÇÃO:� Totalidade de habitantes de um pais ou de uma região. População designa igualmente, o conjunto de pessoas, em determinado território ou pais, que constitui ou forma uma classe: população escolar12 REAQUISIÇÃO: Ato ou efeito de readquirir , Readquirir . Adiquirir novamente13 11 SILVA, de Plácido e, – Vocabulário Jurídico I e II ,4º Edição, Editora forense, 1996 Rio de Janeiro, Volume III, p.1190 12 SILVA, de Plácido e, – Vocabulário Jurídico I e II ,4º Edição, Editora forense, 1996 Rio de Janeiro, Volume III, p. 1177 13 DINIZ, Maria Helena, Vocabulário Jurídico – Volume 4, Editora Saraiva, São Paulo, 1998, p.43. xiv SUMÁRIO RESUMO...............................................................................................................XV INTRODUÇÃO.........................................................................................................1 CAPÍTULO 1.............................................................................................................4 1.1- UMA INTRODUCAO SOBRE A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA NACIONALIDADE...................................................................................................4 1.1.2- Estado, Nação, Pátria E País, Povo e População....................................6 1.1.3- Nacionalidade sua Origem: espécies e Características.......................9 1.1.4-O Perfil da Nacionalidade na atualidade..............................................11 1.2- NATUREZA JURÍDICA....................................................................................16 1.3-CONCEITO DE NACIONALIDADE.................................................................18 CAPÍTULO 2 ..........................................................................................................22 2.1- NACIONALIDADE ORIGINÁRIA E DERIVADA..............................................22 2.1.1- Nacionalidade Originária ou primária..................................................22 2.1.2- Ius Solis e Ius Sanguinis............................................................................27 2.1.3- Nacionalidade Secundária ou Derivada.............................................31 2.1.4.- Espécie e Requisitos para a Naturalização no Brasil...........................34 2.1.4.1-Naturalização Comum..........................................................................34 2.1.4.2- Naturalização Extraordinária................................................................36 2.1.4.3-Naturalização Especial..........................................................................37 2.1.4.4- Naturalização Provisória.......................................................................38 2.2 - DIFERENÇAS CONSTITUCIONAIS ENTRE NATOS E NATURALIZADOS.........39 2.3- IGUALDADE DE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS DOS PORTUGUESE...............42 CAPÍTULO 3 ..........................................................................................................44 3.1- PERDA DA NATURALIZAÇÃO.......................................................................44 3.2-REAQUISIÇÃO DA NATURALIZAÇÃO...........................................................49 3.3- ANÁLISE JURISPRUDENCIAL.........................................................................52 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................63 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS....................................................................67 xv RESUMO O presente trabalho monográfico tem como objetivo fazer uma breve abordagem a respeito da Nacionalidade brasileira no que tange a sua aquisição, perda e reaquisição.O tema é atual e é de extrema importância, pois esclarece a necessidade da implementação e dos preceitos de Direito Internacional no que tange a nacionalidade, nas normas brasileiras.Aborda-se incialmente questões introdutórias e históricas acerca do presente instituto, conceituação e natureza jurídica. Analisa-se a nacionalidade originária e derivada, assim como seus critérios de atribuição e espécies e por derradeiro trata-se das formas de perda e reaquisição na nacionalidade pátria. 1 INTRODUÇÃO A presente Monografia tem como objeto o estudo da Nacionalidade brasileira, com a intenção de abordar os aspectos jurídicos concernentes a aquisição, perda e reaquisição da nacionalidade no ordenamento jurídico pátrio. A nacionalidade compreende a situação do indivíduo em face do Estado, podendo ser, nacional ou estrangeiro. Trata-se, na realidade, de um direito superior, garantido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nacional é o sujeito natural do Estado que, em seu conjunto, constitui o povo. O estrangeiro se define por exclusão, sendo aquele ao qual o direito do Estado não atribui a qualidade de nacional. Do direito brasileiro decorrem duas classes de nacionais: os natos e os naturalizados, contudo, a distinção entre ambas as categorias é tênue, já que a Constituição Federal de 1988 impede a criação ou tratamento diferenciado para o naturalizado enumerando, taxativamente, quais são os cargos e funções privativas de brasileiros natos. Quanto ao estrangeiro, assegura-se aos residentes no país, paridade com os brasileiros, no tocante aos direitos à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, facultando-se a qualquer pessoa, em temposde paz, a entrada, permanência ou saída do país, com seus bens. Neste texto, o Direito de Nacionalidade será abordado em seus mais diversos aspectos, tratando, inicialmente, de sua 2 conceituação jurídica e suas espécies, compreendidas entre primária e secundária. Serão comentados ainda os sistemas e as formas de aquisição de nacionalidade, apresentando, inclusive, variantes modos existentes de aquisição no direito comparado. Para tanto, principia-se, no Capítulo 1: 1.1- Uma Introdução sobre a Evolução Histórica da Nacionalidade; 1.1.2- Estado, Nação, Pátria e País, Povo e População; 1.1.3- Nacionalidade sua Origem: Espécies e Características; 1.1.4- O Perfil da Nacionalidade na Atualidade; 1.2- Natureza Jurídica e1.3- Conceito de Nacionalidade. No Capítulo 2: 2.1-Nacionalidades Originária e Derivada; 2.1.1- Nacionalidade Originária ou Primária; 2.1.2- Ius Solis e Ius Sanguinis; 2.1.3- Nacionalidade Derivada ou Secundária; 2.1.4- Histórico da Nacionalidade no Brasil; 2.1.5- Espécies e Requisitos para a Naturalização Brasileira; 2.1.5.1- Naturalização Comum; 2.1.5.2- Naturalização Extraordinária; 2.1.5.3-Naturalização Especial; 2.1.5.4- Naturalização Provisória; 2.2- Diferença Constitucionais entre Natos e Naturalizados e 2.3- Igualdade de Direito Civis e Políticos dos Portugueses. No Capítulo 3: 3.1-Perdas da Nacionalidade; 3.2- Reaquisição da Nacionalidade e 3.3-Analise Jurisprudencial. O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre o tema. Para a presente monografia foram levantadas as seguintes hipóteses: � A nacionalidade é um instituto de direito 3 interno que, todavia encontra repaldo no Direito internacional. � A nacionacionalidade brasileira é dividida em duas tipologias originária e derivada. � A nacionalidade brasileira pode ser perdida e readquirida sem restrições. Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente Monografia é composto na base lógica Indutiva. Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa Bibliográfica. 4 CAPÍTULO 1 HISTÓRICO EVOLUTIVO DA NACIONALIDADE 1.1 UMA INTRODUÇÃO SOBRE A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA NACIONALIDADE Independentemente do local ou qualquer outro fator, todo relacionamento social encontra seus fundamentos nas razões de afinidade entre as pessoas. Um grupo de amigos, uma sociedade de bairro, uma associação de classe, sempre acaba se unindo pelos interesses que têm em comum e pelos objetivos que almejam, e sobre todos paira o maior instinto da raça humana: a preservação. Na formação de um Estado o processo não é muito diverso; normalmente a sua aparição resulta da união de um povo reunido em um território delimitado, sob o governo de um representante a quem é delegada a função de comandá-lo, administrá-lo e atender aos interesses reivindicados. Segundo Bastos14: É um truísmo afirmar que o homem é um animal social. Com efeito, tem sido esta a sua situação em todos os tempos, a de viver em sociedade. Quer nos parecer que nunca será possível identificar uma razão específica para a formação da sociedade. Ela se 14 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional - Celso Bastos Editor, São Paulo, 2002. 5 confunde com o próprio evoluir do homem, perdendo-se, portanto, mas origens da própria espécie humana. Aliás, em geral, sempre foi possível visualizar graficamente a identidade de um Estado: bastava um mapa e uma bandeira do território soberano. As leis, os costumes e tradições, o povo, tudo era representado por estes símbolos. Na visão de Miranda15: “Não surpreende, naturalmente, a variedade histórica das formas por que o Estado aparece, em correlação com as causas locais do acontecimento". Aliás, em geral, sempre foi possível visualizar graficamente a identidade de um Estado: bastava um mapa e uma bandeira do território soberano. As leis, os costumes e tradições, o povo, tudo era representado por estes símbolos. Segundo Miranda16: Seria dizer, na situação atual das coisas, o homem é um ser preso a terra, e, para que uma determinada ordem jurídica possa ser exclusiva num determinado espaço, ela tem necessariamente de dispor de uma parcela do globo terrestre" nessa linha de raciocínio prossegue em seguida observando que eliminar o território seria eliminar o próprio Estado, o que não é verdade. Já com relação ao povo, a regra não é a mesma, pois de fato todo Estado é a organização soberana de um povo. Eliminar um povo e substituí-lo por outro seria o mesmo que destruir um Estado e constituir um outro. 15 MIRANDA, Jorge, Teoria do Estado e da Constituição. Forense, 2002, p.21 16 MIRANDA, Jorge, Teoria do Estado e da Constituição. Forense, 2002, p.21 6 Na opinião de Miranda17: No plano da antropologia histórica, revelam-se processos mais importantes, a conquista, a migração, a aglutinação por laços de sangue ou por laços econômicos, a evolução social pura e simples para organizações cada vez mais complexas. 1.1.2 Estado , Nação, Pátria e País, Povo e População Apesar de abarcar características de patriotismo, o conceito de povo não se confunde com o conceito de nação, que envolve pessoas unidas por sentimentos históricos e culturais, com passado, presente e futuro, a preservação das tradições. Na visão de Doria18: Para o autor, nação é primeiro o conjunto de homens que derivam de uma origem comum, com a mesma raça, a mesma língua, certa fé predominante, as mesmas tradições, o mesmo destino histórico, não importando suportar o jugo de governo estrangeiro durante certa época, podendo até mesmo ser partilhado às vezes. Apesar de abarcar características de patriotismo, o conceito de povo não se confunde com o conceito de nação, que envolve pessoas unidas por sentimentos históricos e culturais, com passado, presente e futuro, a preservação das tradições. 17 MIRANDA, Jorge, Teoria do Estado e da Constituição. Forense, 2002, p.21 18 DORIA, Sampaio, Direito Constitucional, 4a edição, vol 1 tomo 1 Max Limonad, 1958 7 Segundo Miranda19: “Há grande dificuldade em distinguir povo de nação, uma vez que o Estado Moderno de tipo europeu emergiu na história como Estado Nacional, tendo sido a nação o instituto a lhe conferir unidade e coesão”. No princípio a raça, a crença, bem como a língua, era utilizada para identificar um Estado, sendo que até hoje, alguns Estados adotam uma religião oficial. No Brasil, à época do Império, a religião oficial era a católica. Na visão de Azambuja20: A nação é a base para um Estado sólido. Essa clássica afirmação levou a doutrina a confeccionar um dos conceitos de Estado como nação politicamente organizada. "Os Estados formados pela força, pela sujeição de nações diferentes, cedo ou tarde se esfacelam ou desaparecem". O Estado Democrático de Direito, dotado de liberdade de crença e de pensamento, e igualdade de raças, veio separar oficialmente a figura do Estado da figura da nação. Na opinião de FerreiraFilho21: “Durante “longos séculos, o estrangeiro foi considerado como o inimigo e não raro se lhe recusava qualquer direito”. Na Constituição brasileira o único resquício aparente de um elemento ligado à nação é a adoção do português como idioma oficial da República Federativa do Brasil (artigo 13 caput), no entanto, em 19 MIRANDA, Jorge, Teoria do Estado e da Constituição. Forense, 2002 20 AZAMBUJA, Darcy. Teoria Geral do Estado - Globo, 28a Edição, Porto Alegre, 1991,p.23 21 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves, Curso de Direito Constitucional, Saraiva, 29a edição 2002 p.110 8 momento algum se proíbe a utilização de outra língua no país, respeitando-se assim a forma de expressão, o que leva a crer que se trata de um dispositivo neutro. Comenta Miranda22: Entre nação e pátria existe coincidência no essencial, todavia, a nação é um conceito cultural acompanhado de vivências dominantes afetivas; a pátria pertence toda ela ao domínio da afetividade. Na Constituição brasileira o único resquício aparente de um elemento ligado à nação é a adoção do português como idioma oficial da República Federativa do Brasil (artigo 13 caput), no entanto, em momento algum se proíbe a utilização de outra língua no país, respeitando-se assim a forma de expressão, o que leva a crer que se trata de um dispositivo neutro. Na opinião de Miranda23: Por sua vez, o termo população também se relaciona com o tema nacionalidade, outrossim, diverge do conceito de nação e de povo, por abranger todas as pessoas que definitivamente habitam um determinado território, sejam elas nacionais ou estrangeiras. "Do conceito de povo distingue-se claramente o de população. O Povo corresponde a um conceito jurídico e político, a população a um conceito demográfico e econômico. O primeiro é uma unidade de ordem, a segunda a simples soma de uma 22 Novo Aurélio Século XXI Editora Nova Fronteira, 3a edição 1999. 23 MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional Tomo III Estrutura Constitucional do Estado, 2a edição Coimbra Editora Limitada. 1988 p.59 9 multiplicidade de homens atomisticamente considerados. Ainda no que diz respeito à pátria, se crê que os símbolos, mencionados no parágrafo 1o do artigo 13 da Constituição Federal, a bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais foi uma forma que o constituinte encontrou de positivar o significado desse instituto. Entretanto, cabe ressalvar que o termo lá utilizado (República Federativa do Brasil) é a denominação do Estado, sendo a pátria, o Brasil. 1.13 Nacionalidade sua Origem , Espécies e Características Conforme já colocado, o instituto da nacionalidade originou-se do conceito de povo, cabendo lembrar que ambos se resumem os grupos de pessoas unidas por afinidade, visando, sobretudo preservar-se. Na visão de Ferreira Filho24: O nacional é o sujeito natural do estado. O conjunto de nacionais é que constitui o povo sem o qual não pode haver Estado. De acordo com o direito internacional público o nacional está preso ao Estado por um vínculo que o acompanha em suas deslocações no espaço, inclusive no território de outros Estados. 24 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves, Curso de Direito Constitucional, Saraiva, 29a edição 2002 p. 109. 10 É possível citar as famílias, as tribos e as ordens como às raízes do instituto da nacionalidade, sempre traçando objetivos comuns, unidos por um vínculo, esses grupos procuraram não se misturar uns com os outros visando a perpetuação. As famílias e os grupos étnicos valorizavam mais a hereditariedade, os integrantes de um tronco comum correspondiam aos sentidos dos nacionais, enquanto os demais seriam os estrangeiros. Segundo Bueno25: “Sob o seu aspecto jurídico a nacionalidade designa o laço que une o indivíduo a um Estado determinado. A teoria da nacionalidade é, portanto, aquela que tem por objeto indicar o Estado de que depende cada um. Esse fato ensejou a possibilidade de muitos poderem se apresentar como polipádridas, e deu origem ao sistema eclético da nacionalidade, no qual os critérios do ius soli e do ius sanguinis convivem harmonicamente. Segundo a Emenda26: Grande parte dos Estados que se organizaram ou reorganizaram entre o fim século XVIII e início do século XX adotaram esse sistema. Os descendentes de um imigrante italiano que se radicou no Brasil são exemplos disso, embora nascidos no Brasil são italianos perante a legislação do país de seu ancestral que adota o ius sanguinis, e brasileiros pois aqui se adota o ius solis. 25 BUENO, Pimenta. Direito publico brasileiro e análise da Constituição do Império. Rio de Janeiro, Nova Edição, 1958 26 Os Estados Unidos da América adotaram inicialmente o ius soli em 1787, e através da quarta emenda de 1866 adotou-se na prática o sistema eclético. 11 Aqueles que não estabelecem nenhum vínculo com nenhum Estado passaram a ser considerados apátridas. Definida a formação de grupos nacionais oriundos do critério "ius sanguinis", bem como o estabelecimento quase que definitivo do mapa terrestre, viu-se praticamente esgotada a possibilidade de surgirem novos grupos. O movimento de expansão dos povos foi substituído pelo de circulação, o que levou ao surgimento de uma nova modalidade de nacionalidade, diversa daquela adquirida com o nascimento. 1.1.4 O Perfil da Nacionalidade na Atualidade Conforme exposto, nota-se que ao longo do tempo o instituto da nacionalidade sofreu influências dos fenômenos da preservação das origens e da proteção do território conquistado. Atualmente, com a aceleração do fenômeno da internacionalização, o instituto veio sofrer novas mutações. Dois fatores se destacam como os principais a exercerem essa influência: a valorização do indivíduo independentemente de sua origem, e o preenchimento das necessidades do mercado de trabalho mundial aliado à exploração da economia global. Não é de hoje que a economia colabora com a mudança das regras da nacionalização e integração do estrangeiro. Analisando-se bem, não foi à toa que a Constituição de 1891 trouxe no seu bojo a regra da nacionalização tácita, afinal o Brasil necessitava de um povo que se estabelecesse definitivamente a fim de desenvolver economicamente um país que acabara de ser formado. 12 Durante muito tempo, o isolamento geográfico e o fechamento das fronteiras foram valorizados. Recebia tratamento privilegiado aquele que possuísse vínculo com o Estado onde vivia. O povo e o país se desenvolviam sem grandes influências dos demais Estados, por isso cada país tratava os nacionais e estrangeiros da forma que melhor julgava adequada. No entanto, com a revolução tecnológica e o desenvolvimento econômico, vários países tiveram seus mercados de trabalho alterados repentinamente, ou com excesso, ou com falta de mão de obra, o que ensejou um aumento na movimentação de pessoas que procuravam adequar-se aos espaços e a funções que surgiam. Paralelamente, a valorização do individuo como ser humano, independente de suas origens, fez com que os países flexibilizassem suas regras quanto à nacionalidade aproximando cada vez mais o nacional do estrangeiro. Na opinião de Ferreira Filho27 : A identidade da natureza humana acabou por ser reconhecida e, mercê do estoicismo e do cristianismo especialmente, aos estrangeiros se foram reconhecendo direitos a ponto de se equipararemeles aos próprios nacionais, salvo participação no governo. Segundo Ferreira Pinto28: 27 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves, Curso de Direito Constitucional, Saraiva, 29a edição 2002 p.110 28 FEREIRA, Pinto, Curso de Direito Constitucional, Saraiva, 11a edição, São Paulo, 2001. 13 No entanto é curioso observar que quando da formação do Estado Federativo norte americano, processo semelhante ocorreu. A Constituição americana de 1797 não aludia expressamente o problema da cidadania e foi somente através da décima quarta emenda de 1866 que se adotou a aquisição da nacionalidade pelo nascimento ou pela naturalização. Esta mesma emenda, admitiu a dupla cidadania a da União e a do Estado Membro em que residisse o cidadão. Essa dupla cidadania também foi aceita pela Suíça, na Constituição de 1874 e pela Alemanha em 1929 na Carta de Weimar. No Brasil, a adoção da dignidade da pessoa humana como princípio fundamental solidificou a idéia que naturalmente não deve haver distinção entre nacional ou estrangeiro. Os objetivos firmados pelo constituinte no artigo 3oda Constituição reforçam a tese. Ao afirmar que deseja construir uma sociedade livre, justa e solidária e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, revela ele, a sua intenção de tratar a nacionalidade apenas como um fenômeno jurídico que implica na relação entre indivíduo e Estado. Na visão de Di Ruffia29: Para encerrar invoca-se o pensamento de Di Ruffia que afirma que, o povo é formado pelo conjunto de pessoas que, em razão de sua pertença ao Estado (a chamada cidadania; estabelecida com base em 29 DI RUFFIA, Paolo Biscaretti, Direito Constitucional (Instituições de Direito Público). Tradução Maria Helena Diniz São Paulo, Revista dos Tribunais, 1984 14 critérios fixados por oportunas normas jurídicas), estão submetidas de modo pertinente e institucional à autoridade do governo; porém não se as está considerando individualmente, em um momento determinado (caso em que surgiria o conceito estático de população), mas sim estimando-as através das continuas vicissitudes e sucessões das gerações, em sua multiforme e complexa unidade. Na visão de Dal Ri Junior30: Não obstante, pode-se inferir que os princípios basilares da cidadania surgiram na Grécia antiga. Contudo, naquele contexto grego, não se conhecia “o termo cidadania, nem o significado que este adquiriu na modernidade. Havia, entretanto, a noção de “virtude cívica”, elemento pelo qual se reconhecia os “cidadãos” – homens adultos, livres e comprometidos com os interesses da polis a qual pertenciam. É evidente o fator discriminatório na determinação do status de cidadão, uma vez que eram excluídos da participação político- social as mulheres, os escravos e os metecos. Portanto, o sistema oligárquico grego excluía grande parte da população, vez que eram poucos que detinham o status de cidadão. Na opinião de Dal Ri Junior31: 30 DAL RI JUNIOR, Arno. Evolução histórica e fundamentos políticos-jurídicos da cidadania. In: DAL RI JUNIOR, Arno; OLIVEIRA, Odete Maria de (Orgs.). Cidadania e nacionalidade: efeitos e perspectivas nacionais, regionais, globais. Ijuí: Unijuí, 2002. p. 26. 31 DAL RI JUNIOR, Arno,. Na Roma antiga, Civitate era o conjunto de cidadãos que constituíam uma cidade e, deste modo, não se confunde com a Urbs, conjunto de edificações. Já Civitas tem o mesmo significado 15 Evoluindo-se historicamente, o conceito de cidadania, em Roma, se aprimora, na medida em que é outorgado ao cidadão romano um rol de direitos e deveres. A influência grega é identificada no mundo romano, onde a concepção de “cidadão” foi empregada, desenvolvendo-se, deste modo, a Civitas Romana. A discussão entre a questão do pertencimento do indivíduo ao Estado (nacionalidade) e o pertencimento do indivíduo à comunidade política (cidadania) é discutida por Enrico Grosso da seguinte maneira: Foi procurado demonstrar, precedentemente, que a idéia de cidadania dominante na Grécia clássica, mais do que estar conexa com o pertencimento étnico a um povo e aos seus destinos, ou com o conceito de status da pessoa, ressaltando as relações entre indivíduo e autoridade, se confunde, ao invés, com a noção de participação política. A cidadania é um atributo que compete a cada homem livre, enquanto tenha a capacidade e a vontade de participar do governo da coisa pública. Ela assume de fato, algumas vezes, a função de instrumento de integração política de populações inteiras, independentemente de suas origens, podendo ser englobadas na vida da polis por meio do reconhecimento coletivo da politeia. Nas palavras de Barbalet32 32 BARBALET, J. M. Cittadinanza: diritti, conflitto e disuguaglianza sociale. Torino: Liviana, 2004. p. 30. Na versão consultada, em italiano: “La differenza principale fra la cittadinanza nella città-stato della Grécia clássica e quella nel moderno Stato democratico nazionale sta nell’ambito o nell’estensione della comunità política in ciascuno di essi. Per Aristotele la cittadinanza era lo status privilegiato del gruppo dominante entro la città-stato. Nel moderno Stato democratico la base della cittadinanza è la capacità di partecipare all’esercizio del potere politico attraverso la procedura elettorale. Perciò nel moderno Stato nazionale la partecipazione dei cittadini implica l’appartenenza giuridica a una comunità politica fondata sul suffragio universale e quindi anche l’appartenenza a una 16 Com propriedade, J. M. Barbalet aponta as principais diferenças entre os conceitos de cidadania na Grécia clássica e no Estado moderno: A diferença principal entre a cidadania na cidade-Estado da Grécia clássica e aquela no moderno Estado democrático nacional reside no âmbito ou na extensão da comunidade política existente em cada um deles. Para Aristóteles, a cidadania era o status privilegiado do grupo dominante dentro da cidade-Estado. No moderno Estado democrático, a base da cidadania é a capacidade de participar do exercício do poder político por meio do procedimento eleitoral. Portanto, no moderno Estado nacional, a participação dos cidadãos implica o pertencimento jurídico a uma comunidade política fundada no sufrágio universal e, conseqüentemente, também ao pertencimento a uma comunidade civil fundada no Estado de direito. Para Aristóteles, o status da cidadania era limitado àqueles que participavam efetivamente das deliberações e do exercício do poder. Hoje a cidadania nacional se estende a toda sociedade. Na Grécia e em Roma o estrangeiro não tinha direitos, pois estes derivavam exclusivamente da religião, da qual o estrangeiro era excluído. Não podia ser proprietário, não podia casar-se, os filhos nascidos da união de um cidadão e uma estrangeira eram considerados bastardos, o estrangeiro não poderia contratar com cidadãos e não podia exercer o comércio; lhe era vedado herdar de um cidadão e transmitir seus bens a um cidadão por herança. comunità civile fondata sullo Stato di diritto. Per Aristotele lo status della cittadinanza era limitato a coloro che partecipavano effetivamente alle deliberazioni e all’esercizio del potere; oggi la cittadinanza nazionalesi estende a tutta la società.” 17 Quando se verificou a necessidade de fazer justiça para o estrangeiro, foi criado um Tribunal especial. Roma tinha pretor para julgar o estrangeiro, o pretor peregrinus e, em Atenas, o juiz dos estrangeiros era o polemarca, o magistrado encarregado dos cuidados de guerra e de todas as relações com os inimigos. Na Índia antiga, os nascidos fora do território eram considerados impuros, em nível abaixo dos parias e dos sudras. No Egito, só os ribeirinhos do Nilo eram puros, o resto da terra era sede de impurezas. O egípcio não abraçaria um grego, não se serviria da faca de um grego, não comeria da carne de um boi que tivesse sido cortado com a faca de um grego, nem comeria na companhia de estrangeiros. Na Caldéia e na Assíria, não havia reconhecimento de direitos do estrangeiro. Já na Pérsia revelou-se certa tolerância para com determinados povos estrangeiros, o mesmo ocorrendo na China antiga. Às vezes, as cidades gregas celebravam entre si convênios de ajuda judicial em que determinavam que juízes seriam competentes para litígios que viessem a ocorrer entre pessoas das diferentes cidades. Vigia em Roma originariamente o jus civile para os cidadãos romanos e jus peregrinum para os estrangeiros. Diante dos contatos entre peregrinos de origens diversas e de peregrinos com cidadãos romanos foi criado o jus gentium, destinado a disciplinar estas relações jurídicas. Aí existe uma manifestação de Direito Internacional Privado, segundo alguns autores, pois que encerrava uma solução para o conflito entre regimes jurídicos diversos. O Jus gentium não representava um sistema de normas indiretas, indicadoras de direito aplicável, mas era 18 ele próprio um sistema uniforme de normas diretas, substantivas, a ser aplicado a romanos e peregrinos sem distinções. 1.2 NATUREZA JURÍDICA No que dizer respeito à natureza jurídica, a nacionalidade, no sistema do Direito Positivo brasileiro, é material e formalmente constitucional, salvo-conduto que o assunto fundamental monopoliza a forma do Estado, a forma do governo, o estilo de obtenção e a destreza do poder político, o consignação dos órgãos públicos, o alcance de sua ação, os direitos fundamentais , as garantias constitucionais e a ordem econômica e social. Segundo Moraes33: Por ilação, no que concerne à natureza, a nacionalidade, no sistema do Direito Positivo brasileiro, é material e formalmente constitucional, visto que a matéria constitucional açambarca a forma do Estado, a forma do governo, o modo de aquisição e o exercício do poder político, o estabelecimento dos órgãos públicos, os limites de sua ação, os direitos fundamentais , as garantias constitucionais e a ordem econômica e social. É assinalada a Revolução Francesa como estirpe da natureza de direito constitucional da nacionalidade, natureza essa recentemente concretizada. 33 MORAES, Guilherme Pena de Nacionalidade, Lúmen Júris, Rio de Janeiro, 2000, p.3 19 Na visão Tavares34: “è apontada a Revolução Francesa como origem da natureza de direito constitucional da nacionalidade, natureza essa atualmente consolidada”. Nesta acepção, o que diz reverência à pertinência para adequar a nacionalidade, todo país é aberto para constituir as cláusulas legais sobre nacionalidade, consentida, contundida, adequada os princípios de Direito Internacional. Para Moraes35: Neste sentido, o que diz respeito à atribuição para regular a nacionalidade, cada país é livre para estabelecer as normas jurídicas sobre nacionalidade, atendidos, contundo, certos princípios de Direito Internacional. O pátrio é elemento natural de uma sociedade estatal com capacidade intrínseco a sua individualidade, que motiva fixação e conhecimento constantes. A nacionalidade relaciona-se consecutivamente com a soberania de cada Estado. Trata-se de uma junção processual de direito público interno. Apesar de não ter natureza obrigacional, desta conexão atribuída por lei, transcorrem direitos e obrigações. Na visão Silva36: O nacional é membro natural de uma comunidade estatal com aptidão intrínseca a sua personalidade, que determina sujeição e participação permanentes. 34 TAVARES, André Ramos, Curso de Direito Constitucional, 3ºed., Saraiva, São Paulo, 2008, p.673 35 MORAES, Guilherme Pena de Nacionalidade, Lúmen Júris, Rio de Janeiro, 2000, p.3 36 SILVA, José Afonso, Curso de Direito Constitucional Positivo, 26º ed. Malheiros,p. 319 20 A nacionalidade relaciona-se sempre com a soberania de cada Estado. Trata-se de um liame legal (não contratual) de direito público interno. Embora não tenha natureza obrigacional, deste vínculo, imposto por lei, decorrem direitos e obrigações. 1.3 CONCEITO DE NACIONALIDADE Portanto, que valores ligados à afetividade, ainda interferem na elaboração de normas que regulamentam a aquisição da nacionalidade. No entanto, atualmente não têm o condão de impedir que indivíduos sejam privados de exercer direitos fundamentais, os quais devem ser respeitados independentemente do local em que vivem ou do Estado com quem mantém vínculo político jurídico. Na opinião de Tavares37: A nacionalidade é a ligação juridicamente estabelecida entre um indivíduo e determinado Estado. Daí decorre a distinção entre nacionais e estrangeiros, tendo como parâmetro a existência ou não daquele entrelaçamento. A nacionalidade é o acordo juridicamente constituído entre uma pessoa e determinado Estado. Daí transcorre a altivez entre nacionais e estrangeiros, aproxima-se assim como parâmetro a vivência ou não daquele entrelaçamento. Para Moraes38: 37 TAVARES, André Ramos, Curso de Direito Constitucional, 3ºed., Saraiva, São Paulo, 2008, p.673 21 A nacionalidade, no esteio da melhor doutrina, é o vínculo jurídico-político que une uma pessoa a um determinado Estado, para considerá-la como integrante da população deste. A nacionalidade, no apoio do mais perfeito ensinamento, é o liame jurídico-político que acopla um indivíduo a um determinado Estado, para considerá-la como integrante da população deste. Na visão de Moraes39: Nacionalidade é o vínculo jurídico que liga um individuo a certo e determinado Estado fazendo deste individuo um componente do povo, da dimensão pessoal deste Estado, capacitando-o a exigir sua proteção e sujeitando-o ao cumprimento de deveres impostos. Nacionalidade é a junção legal que congrega um individuo a certo e determinado Estado fazendo deste individuo um elemento do povo, da extensão pessoal deste Estado, capacitando-o a estabelecer sua assistência e sujeitando-o a realização de obrigações estabelecidas. Para Araújo40: “... é de suma importância, visto que aqueles reconhecidos como nacionais integram o povo do respectivo país e, somados aos estrangeiros residentes, formam a população do país”. 38 MORAES, Guilherme Pena de Nacionalidade, Lúmen Júris, Rio de Janeiro, 2000, p.3 39 MORAES, Alexandre de, Direito Constitucional, 15º ed.,Atlas, São Paulo, 2004,p.214 22 É de compêndio seriedade, salvo-conduto que aquele distinguido como nacionais agregam o povo do concernente país e, adicionadoaos estrangeiros residentes, aperfeiçoam a população do país. Na visão de Moraes41: Neste sentido, a nacionalidade corresponde a um vinculo jurídico, porquanto é da qualidade de nacional que decorrem direitos subjetivos e deveres jurídicos para os indivíduos, tais como a entrada no território do Estado da nacionalidade e o serviço militar obrigatório, nos termos dos arts. 5º, XV, 22, XV, e 143, caput, da Constituição da República. A nacionalidade surge-nos, porquanto destarte como o adjacência que invocar, há um andamento, o acoplar que liga o individuo à particular concepção social que é o Estado, como igualmente o contíguo de anverso e obrigação da decorrente. Segundo Tavares42: A nacionalidade surge-nos, pois assim como o termo que evoca, a um tempo, o vinculo que liga o individuo à particular formação social que é o Estado, como outrossim o conjunto de direitos e deveres (o particular estatuto) daí decorrente. 40 ARAÚJO, Luiz Alberto David, Curso de Direito Constitucional, 9 ºed., Saraiva, São Paulo, 2005, p.215 41 MORAES, Guilherme Pena de Nacionalidade, Lúmen Júris, Rio de Janeiro, 2000, p.3 42 TAVARES, André Ramos, Curso de Direito Constitucional, 3ºed., Saraiva, São Paulo, 2008, p.674 23 A nacionalidade é por decorrência porque vínculo que conectar o individua a um Estado assentado. Qualquer pessoa pode nascer hoje em dia sem ter a sua pátria. A ela está atrelada por motivados laços, provocando direitos e obrigações. Na opinião de Ferreira43: A nacionalidade é por conseqüência aquele laço que une o individuo a um Estado determinado. Nenhuma pessoa pode nascer hoje em dia sem ter a sua pátria. A ela está vinculada por determinados laços, gerando direitos e obrigações. 43 FERREIRA, Pinto, Curso de Direito Constitucional, 11ºed., Saraiva, São Paulo, 2001,p.162 24 CAPÍTULO 2 AQUISIÇÃO DA NACIONALIDADE 2.1- NACIONALIDADE ORIGINÁRIA E DERIVADA 2.1.1- Nacionalidade Originária ou Primária A nacionalidade é originária quando deriva do nascimento. Cognomina-se, ainda, primária ou atribuída. Este tipo de nacionalidade transcorre, via de regra, de dois discernimento que ocorre no período do nascimento. Na opinião de Dolinger44: A nacionalidade é originária quando decorre do nascimento. Denomina-se, também, primária ou atribuída [16]. Este tipo de nacionalidade decorre, via de regra, de dois critérios que incidem no momento do nascimento: o ius soli e o ius sanguinis e que, às vezes, se combinam em critério eclético . A nacionalidade, como a ocasião de obtenção, é aquinhoar em nacionalidade originária, do mesmo modo designada de primária ou de origem, e nacionalidade derivada, igualmente instituida de secundária ou de eleição. Segundo Moraes45: A nacionalidade, quanto ao momento de aquisição, é dividida em nacionalidade originária, também 44 DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado – parte geral. 5ª edição. Rio de Janeiro: Renovar, 2000,p. 141 45 MORAES, Guilherme Pena de Nacionalidade, Lúmen Júris, Rio de Janeiro, 2000, p14-15. 25 denominada de primária ou de origem, e nacionalidade derivada, também designada de secundária ou de eleição. O ensinamento qualifica a nacionalidade como de origem, ou originária, ou primária ou nata e nacionalidade, apanhada ou decorrente de naturalização. Na opinião de Tavares46: “A doutrina classifica a nacionalidade como de origem, ou originária, ou primária ou nata e nacionalidade, adquirida ou decorrente de naturalização”. É ato donairoso, já que nem um país é compelido a naturalizar esse ou aquele estrangeiro. É, assim sendo, uma capacidade do conveniente poder Executivo. Segundo Amorim47: naturalização: "é vínculo político. É ato gracioso, pois nenhum país é obrigado a naturalizar esse ou aquele estrangeiro. É, portanto, uma faculdade do próprio poder Executivo." Ensina Miranda48: Que a originária é a nacionalidade “que resulta do fato mesmo do nascimento, ou porque se determine qual a ligação de sangue à massa dos nacionais de um Estado, ou qual a ligação à ocorrência do nascimento no território de um Estado, ou qual a 46 TAVARES, André Ramos, Curso de Direito Constitucional, 3ºed., Saraiva, São Paulo, 2008, p.676 47 AMORIM, Edgar Carlos de. Direito Internacional Privado. Forense: Rio de Janeiro, 2001. 48 MIRANDA, Pontes, Comentários à Constituição de 1967 com a Emenda n.1, de 1969, t.4, p. 351 26 relação tida por suficiente pelo Estado de que se trata para que o nascimento forme o laço da nacionalidade”. Percebe-se que não é apenas o nascimento que, em tais circunstâncias, determina a nacionalidade. Outro elemento sempre se agrega para fins de atribuir determinada nacionalidade em função do nascimento. Comenta Moraes49:”A nacionalidade originária é adquirida por fato natural, ou seja, pelo nascimento”. A nossa Carta Magna conjetura extenuante e taxativamente as proposições de obtenção da nacionalidade originária, ou seja, exclusivamente serão brasileiros natos aqueles que atestarem os pré-requisito constitucionais das hipóteses únicas do art. 12, inciso I. Na opinião de Moraes50: A Constituição Federal prevê exaustiva e taxativamente as hipóteses de aquisição da nacionalidade originária, ou seja, somente serão brasileiros natos aqueles que preencherem os requisitos constitucionais das hipóteses únicas do art. 12, inciso I. Como ressalta Francisco Rezek, analisando hipótese semelhante, “seria flagrante, na lei, o vício de inconstitucionalidade, quando ali detectássemos o intento de criar, à margem da Lei Maior, um novo caso de nacionalidade originária. 49 MORAES, Guilherme Pena de Nacionalidade, Lúmen Júris, Rio de Janeiro, 2000, p.15. 50 MORAES, Alexandre de, Direito Constitucional, 15º ed.,Atlas, São Paulo, 2004,p.216 27 São dois os discernimentos para a consignação da nacionalidade primária: o discernimento da genealogia sangüínea, ou ius sanguinis, pelo como se adjudica a nacionalidade em cátedra do vinculo de sangue, reputando-se pátrio os descendentes de nacionais, o discernimento da origem territorial, ou ius solis, pelo qual se comina a nacionalidade a quem nasce na jurisdição do Estado de que se trata. Salienta Silva51: São dois os critérios para a determinação da nacionalidade primária: (a) o critério da origem sangüínea, ou ius sanguinis, pelo qual se confere a nacionalidade em função do vinculo de sangue, reputando-se nacionais os descendentes de nacionais; (b) o critério da origem territorial, ou ius solis, pelo qual se atribui a nacionalidade a quem nasce no território do Estado de que se trata. O episódio do nascimento é que, em veracidade, origina a nacionalidade primária, alistar, entretanto, a um daquele discernimento. A adoção de um ou de seguinte destes é enigma político de cada Estado. Em geral, os Estados de emigração, como a maioria dos europeus, selecionam a regra do ius sanguinis, com base na qual a abaixamento de sua população pela saída para outros países não envolver em abatimento dos integrantes da nacionalidade.Comenta Silva52: 51 SILVA, José Afonso, Curso de Direito Constitucional Positivo, 26º ed. Malheiros,p.320 52 SILVA, José Afonso, Curso de Direito Constitucional Positivo, 26º ed. Malheiros,p. 28 O fato do nascimento é que, em verdade, determina a nacionalidade primária, relacionado, porém, a um daqueles critérios. A adoção de um ou de outro destes é problema político de cada Estado. Em geral, os Estados de emigração, como a maioria dos europeus, preferem a regra do ius sanguinis, com base na qual a diminuição de sua população pela saída para outros países não importará em redução dos integrantes da nacionalidade. Os Estados de imigração, como a maioria dos americanos, acolhem a do ius solis, pela qual os descendentes da massa dos imigrantes passam a integrar a sua nacionalidade, o que não ocorreria se perfilhassem critério do sangue. Para a atribuição da nacionalidade originária, aquela se alcança pelo nascimento, podem-se apontar dois sistemas legislativos: jus soli e jus sanguinis. Ressalte-se, contudo, que esses sistemas não são adotados de forma inflexível, admitindo-se temperamentos. 2.1.2-Ius Solis e Ius Sanguinis No sistema do jus soli, a nacionalidade originária é obtida em virtude do território onde o indivíduo tenha nascido do lugar do nascimento. Logo, não importa a nacionalidade dos pais. Trata-se de sistema largamente usado durante a Idade Média, época em a terra, o solo, era o centro de gravidade da economia, feudalismo, e da Sociedade, senhores feudais e servos, da época. Na América, o jus soli também tem grande aplicação, pois é região de imigração, sendo conveniente para os Estados dessa região, por meio desse critério, evitar a 29 formação de minorias estrangeiras sob a proteção de outros Estados. É o sistema adotado no Brasil. Pelo critério do jus soli, serão nacionais aqueles que nascerem no território do Estado, independentemente da nacionalidade de seus ascendentes. A condição de existência e sobrevivência da espécie humana é a vida social sendo que, todos vêm ao mundo como membro de uma família, de uma cidade, de uma nação. Na opinião Guimarães53: “Os critérios determinadores da nacionalidade originária são o ius sanguinis e o ius solis”. Pelo critério do ius soli, serão nacionais aqueles que nascerem no território do Estado, independentemente da nacionalidade de seus ascendentes. Por outro lado, o critério do ius sanguinis entende que será nacional todo aquele que descender de nacionais independentemente do território do nascimento. Na visão de Moraes54: Cabe frisar que a nacionalidade primária se materializa através dos critérios ius soli- aquisição da nacionalidade do país em cujo território tenha havido o nascimento, inerente aos Estados de imigração- e ius sanguinis- aquisição da nacionalidade dos país à época do nascimento, imanente aos Estados de emigração. 53 GUIMARÃES, Francisco Xavier da Silva, Nacionalidade- Aquisição, Perda e Reaquisição, Editora Forense, 2ºed.,Rio de Janeiro, 2002,p. 12 54 MORAES, Guilherme Pena de Nacionalidade, Lúmen Júris, Rio de Janeiro, 2000, p.15. 30 Art. 12 - São brasileiros: I - natos: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; A primeira hipótese é a de indivíduos "nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país" (artigo 12, I, a, CF). O legislador optou aqui claramente pelo critério do ius solis, ainda que atenuado pela previsão de pais estrangeiros que estejam a serviço de seu país, não se atribuindo, nesse caso, a nacionalidade brasileira aos seus filhos nascidos na República Federativa do Brasil. Salienta Moraes55: Cabe assinalar que o critério ius sanguinis, na sistemática da Constituição de 1988, opera-se em combinação com o elemento funcional ou com os elementos residência e opção, ex vi do disposto no art. 12, I, alíneas b e c, respectivamente. b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em 55 MORAES, Guilherme Pena de Nacionalidade, Lúmen Júris, Rio de Janeiro, 2000, p.15. 31 qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; Pelo sistema do jus sanguinis, a nacionalidade originária obtém-se de acordo com a dos pais, à época do nascimento. Trata-se de nacionalidade obtida de acordo com a filiação. Se os pais tiverem nacionalidades diferentes, prevalecerá a do pai. Se o filho for natural, ou de pai desconhecido, seguirá a nacionalidade da mãe. (15) Se ambos os pais forem desconhecidos, não será possível a adoção do jus sanguinis, fixando-se a nacionalidade pelo critério do jus soli. O critério do jus sanguinis foi adotado na Antigüidade Clássica e Oriental. Posteriormente, com a Revolução Francesa, movimento que pôs fim ao Antigo Regime e, com ele, lembranças do feudalismo, passou a ser mais utilizado. Simetricamente ao que acontece com o sistema do jus soli, o jus sanguinis é adotado pelos países de emigração, sobretudo os europeus, que desejam manter vínculos com seus nacionais. O critério do jus sanguinis entende que será nacional todo aquele que descender de nacionais independentemente do território do nascimento. Nas palavras de Keesing56: Tomando a questão da descendência ou ascendência como princípio de continuidade social, tem-se a hipótese de que a conservação das linhas de descendência podem ter uma função importante para a definição da situação dentro da sociedade, no que diz respeito à posição e autoridade, influência sobre a sucessão e a herança, como orientação da 56 KEESING, Félix. Antropologia cultural. 2 ed. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1972, v. 2. 32 interdependência e, nas relações mútuas entre parentes. (16) Segundo Tavares57: O critério da origem sangüínea (jus sanguinis) considera como nacionais os descendentes de nacionais. Corresponde, pois, esse critério à nacionalidade genitora. O critério da origem territorial (jus soli) considera nacional aquele que nascer em território do respectivo Estado. Corresponde, pois, ao local do nascimento. 2.1.3-Nacionalidade Secundária ou Derivada A aquisição de nacionalidade brasileira secundária resulta de manifestação de vontade, observados os requisitos legais. A Constituição Federal apresenta hipóteses no seu artigo 12, II, não mais contemplando a denominada "naturalização tácita" – presente nas Constituições de 1824 e 1891 –, mas somente a "naturalização expressa". Na visão de Moraes58: A nacionalidade derivada é adquirida por fato voluntário, posterior ao nascimento, quer dizer, pela naturalização. Cumpre grifar que a aquisição da nacionalidade secundária é, em regra, informada por dois critérios, quais sejam: ius domicilii- aquisição da nacionalidade do país em cujo território tenha sido fixado domicílio- e o ius laboris- aquisição da 57 TAVARES, André Ramos, Curso de Direito Constitucional,3ºed., Saraiva, São Paulo, 2008, p.677 58 MORAES, Guilherme Pena de Nacionalidade, Lúmen Júris, Rio de Janeiro, 2000, p.15. 33 nacionalidade do país em favor do qual foram prestados serviços relevantes. A nacionalidade secundária ou derivada é a que se adquire por vontade própria, após o nascimento, em regra pela naturalização, tácita ou expressa, portanto, naquela há solicitação e, nesta, aceitação de nacionalidade oferecida. Segundo Silva59: Os modos de aquisição da nacionalidade secundária dependem da vontade: (a) do indivíduo, nos casos em que se lhe dá o direito de escolher determinada nacionalidade, a vista de alternativas que se lhe oferecem, como prevê no art. 12, I, c (esclarecimento infra), e II, a, da Constituição; (b) do Estado, mediante outorga ao nacional de outro, espontaneamente ou a pedido, como fora, para a primeira hipótese, a grande naturalização concedida pela Constituição de 1891 (art. 69, IV e V) e como agora, a hipótese do art. 12, II, b, em que se reconhece a aquisição da nacionalidade pelo fato residência há mais de quinze anos no Brasil (redação da ECR- 3/94), bastando o pedido do interessado, havendo aqui uma combinação da vontade do individuo com a do Estado. Esse modo de aquisição da nacionalidade secundaria variam de Estado para Estado. Nacionalidade secundária, por seu turno “é a que se adquire” em seguida do aparecimento, ou aquele, ao nascer, o indivíduo 59 SILVA, José Afonso, Curso de Direito Constitucional Positivo, 26º ed. Malheiros,p.321 34 incluir outra, ou outras nacionalidades, e não ainda a de que se trata, ou assim como entre a obtenção da nacionalidade e a data do nascimento interceder no equívoco de período em que o individuo não teve nacionalidade. Nas palavras de Tavares60: Nacionalidade secundária, por seu turno “é a que se adquire” depois do nascimento, ou porque, ao nascer, a pessoa tenha outra, ou outras nacionalidades, e não ainda a de que se trata, ou porque entre a aquisição da nacionalidade (secundária) e a data do nascimento medeie lapso de tempo em que o individuo não teve nacionalidade. Segundo de Amorim61: naturalização “é vínculo político”. É ato gracioso, pois nenhum país é obrigado a naturalizar esse ou aquele estrangeiro. É, portanto, uma faculdade do próprio poder Executivo. � A proveniência da nacionalidade derivada, geralmente, se dá pelo casamento ou naturalização, mas pode resultar também de certos modos mais complexos, estabelecidos pela legislação interna de certos países e que determinam a aquisição automática, ou a pedido, da nova nacionalidade. 2.1.4 Espécies e Requisitos para a naturalização brasileira� � 60 TAVARES, André Ramos, Curso de Direito Constitucional, 3ºed., Saraiva, São Paulo, 2008, p.676 61 AMORIM, Edgar Carlos de. Direito Internacional Privado. Forense: Rio de Janeiro, 2001. 35 Conforme exemplifica a Lei 6.815, de 19 de agosto de 1980, sobre as espécies e requisitos para a naturalização brasileira. A naturalização se divide em: comum, extraordinária, especial e provisória. 2.1.4.1 Naturalização Comum Caso o estrangeiro tenha interesse em se tornar um cidadão brasileiro deverá preencher os requisitos descritos no artigo 112 da Lei nº. 6.815/80, e requerer esta modalidade junto ao Departamento de Polícia Federal mais próximo do local de residência, o qual, além de outras providências, certificará se o interessado sabe ler e escrever a língua portuguesa, considerada a sua condição. Art. 112. São condições para a concessão da naturalização: I - capacidade civil, segundo a lei brasileira; II - ser registrado como permanente no Brasil; III - residência contínua no território nacional, pelo prazo mínimo de quatro anos, imediatamente anteriores ao pedido de naturalização; IV - ler e escrever a língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; V - exercício de profissão ou posse de bens suficientes à manutenção própria e da família; VI - bom procedimento; VII - inexistência de denúncia, pronúncia ou condenação no Brasil ou no exterior por crime doloso a que seja cominada pena mínima de prisão, abstratamente considerada, superior a 1 (um) ano; e VIII - boa saúde. 36 § 1º não se exigirá a prova de boa saúde a nenhum estrangeiro que residir no País há mais de dois anos. § 2º verificada, a qualquer tempo, a falsidade ideológica ou material de qualquer dos requisitos exigidos neste artigo ou nos arts. 113 e 114 desta Lei, será declarado nulo o ato de naturalização sem prejuízo da ação penal cabível pela infração cometida. § 3º A declaração de nulidade a que se refere o parágrafo anterior processar-se-á administrativamente, no Ministério da Justiça, de ofício ou mediante representação fundamentada, concedido ao naturalizado, para defesa, o prazo de quinze dias, contados da notificação. Art. 113. O prazo de residência fixado no artigo 112, item III, poderá ser reduzido se o naturalizando preencher quaisquer das seguintes condições: I - ter filho ou cônjuge brasileiro; II - ser filho de brasileiro; III - haver prestado ou poder prestar serviços relevantes ao Brasil, a juízo do Ministro da Justiça; IV - recomendar-se por sua capacidade profissional, científica ou artística; ou V - ser proprietário, no Brasil, de bem imóvel, cujo valor seja igual, pelo menos, a mil vezes o Maior Valor de Referência; ou ser industrial que disponha de fundos de igual valor; ou possuir cota ou ações integralizadas de montante, no mínimo, idêntico, em sociedade comercial ou civil, destinada, principal e 37 permanentemente, à exploração de atividade industrial ou agrícola. Parágrafo único. A residência será, no mínimo, de um ano, nos casos dos itens I a III; de dois anos, no do item IV; e de três anos, no do item V. Concedida ao estrangeiro residente no Brasil pelo prazo mínimo de quatro anos, que atenda as demais exigências do artigo 112, da Lei 6.815/80. 2.1.4.2- Naturalização Extraordinária Esta é destinada aos estrangeiros que vivem no Brasil há mais de quinze anos e têm interesse em adquirir a nacionalidade brasileira, já que se estabeleceu em território nacional, além do cumprimento das demais exigências descritas no art. 12, alínea b da Constituição Federal. A naturalização extraordinária que se processa pela forma simplificada está prevista no artigo 12, inciso II, letra "b", da Constituição Federal de 1988, in verbis: os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. Podemos perceber da leitura deste dispositivo legal a presença de três requisitos que devem ser preenchidos pelo estrangeiro que deseja se tornar brasileiro: a) Residência na República Federativa do Brasil há mais de 15 anos ininterruptos - Não é qualquer saída do território nacional 38 que se configura como causa interruptiva do prazo. Viagens ao exterior que não tenham o ânimo de mudar a residência para outro país são permitidas. A contagem desse prazo deve ser feita do requerimento para trás, ou seja, os quinze anos devem ser anteriores ao pedido de naturalização. b) Ausência de condenação penal – a nosso ver, trata- se, aqui, de qualquer tipo
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