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DIVERSIDADE PUBLICIDADE manual da na PROJETO DIV.A.S. | Diversidade, Ação e Sensibilidade na Publicidade Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes Departamento de Comunicação Coordenadora do Projeto Fernanda Ariane Silva Carrera Docentes participantes (orientadores) Daniel Rodrigo Meirinho de Souza Josenildo Soares Bezerra Discente participantes Amanda Lai Heloize Beatriz Ibnny Afonso Larissa Oliveira Priscila Krüger Vírnia Martins Ilustrações Luana Gurgel Diagramação Priscila Krüger Índice 06 08 14 20 28 32 36 42 A presentação Gordos (as) Negro (as) Indígenas Pessoas com Deficiência Idosos Referências 6 | Manual de Diversidade na Publicidade Manual de Diversidade na Publicidade | 7 Este manual é fruto do projeto DIV.A.S. – Diversidade, Ação e Sensibilidade na Publicidade Brasileira, uma atividade de extensão desenvolvida pelo curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O projeto foi desenvolvido durante o ano de 2017 pelo grupo de pesquisa Ciberpublicidade e Sociabilidades Digitais, reunindo pesquisas bibliográficas, entrevistas e discussão de textos, com o objetivo de oferecer aos anunciantes, agências e profissionais do mercado um guia aprofundado para a criação publicitária diante das necessárias demandas da diversidade e da representatividade. Com o objetivo, portanto, de dar voz às minorias e aos indivíduos marginalizados no campo da produção midiática e da publicidade, o projeto DIV.A.S teve como primeiro passo a busca por sujeitos representantes de cada minoria aqui expressa, trazendo foco para suas problemáticas, seus desejos e reivindicações. Nesta primeira edição, buscamos compreender suas experiências e concluir sobre as melhores formas de tratar a representatividade dos gordos (as), dos sujeitos LGBT+, dos (as) negros (as), dos (as) idosos (as), dos (as) indígenas e das pessoas com deficiência nos anúncios publicitários. Após as entrevistas, buscamos aprofundar os estudos sobre representatividade e cada minoria por meio de pesquisas bibliográficas, artigos científicos e dados estatísticos, com o objetivo de embasar as dicas do manual e trazer argumentos sólidos para você vender a ideia para a marca. Então, se você é profissional de marketing, publicidade, comunicação ou mídia, este Manual da Diversidade foi feito para você! Vamos trabalhar para a construção de campanhas publicitárias mais ricas, inclusivas e socialmente responsáveis! Confira nossas dicas! Apresentação 8 | Manual de Diversidade na Publicidade Manual de Diversidade na Publicidade | 9 Neste sentido, confira aqui dicas para nortear a sua criação publicitária de forma a promover a inclusão das pessoas gordas de forma respeitosa e sem provocar constrangimentos ou inferiorização. Gordos (as) Desde o início do século XX, quando os corpos passaram a ser mais expostos socialmente e associados ao sucesso pessoal1, ser gordo (a) tornou- se sinônimo de desleixo, de falta de força de vontade, fraqueza e até mesmo doença. O culto ao corpo esbelto e a cultura das dietas milagrosas estabeleceram um padrão de exclusão social às pessoas gordas, que passaram a ser inferiorizadas por sua condição física. O próprio discurso da medicina tradicional, ao associar o corpo gordo ao surgimento de várias doenças2, provocou o crescimento da indústria do “corpo perfeito”, que visa padronizar, através de procedimentos estéticos e cirúrgicos, a aparência e estrutura física dos indivíduos. Os meios de comunicação, em especial a publicidade, também contribuíram significativamente para a disseminação deste padrão corporal, negando a existência das pessoas gordas ou associando-as ao cômico3, à infelicidade, à pobreza, ao fracasso; sempre numa perspectiva negativa ou menos favorecida em relação às pessoas magras. No entanto, com a disseminação de novas informações a respeito da obesidade na Internet e da criação de fóruns e grupos de discussão direcionados às pessoas gordas de cunho body/fat positive e de combate à gordofobia4, começou-se a questionar as formas de representação — e invisibilização — do (a) gordo (a) na sociedade através dos mais variados meios. O que não fazer? Gordo (a) sim!A palavra gordo (a) expressa uma condição física e não deve ter sentidos pejorativos. Portanto, não utilize eufemismos como: gordinho (a), fortinho(a), fofinho(a), cheinho (a) etc. A moda e a publicidade muitas vezes utilizam o plus size, mas não há nada de errado em ser gordo (a). Não trate a pessoa gorda como doente É importante ressaltar que a relação entre peso e saúde não é uma questão de causa e consequência, mas apenas de correlação, ou seja, uma maior tendência (estatística) ao desenvolvimento de determinadas doenças por esta parcela da população, o que não exprime uma regra. O peso de uma pessoa está muito mais ligado a questões de ordem genética do que propriamente relacionadas a hábitos alimentares ou questões de saúde. Existe até um termo para descrever esta condição: obesidade metabolicamente saudável, ou seja, indivíduos que possuem peso acima dos recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas que não apresentam doenças comumente associadas a este biotipo. Por isso, coloque a pessoa gorda na sua peça realizando atividades normais do dia a dia: praticando atividade física, indo a festas, trabalhando etc. Ela não está doente! Não faça a sua marca ser uma amiga magra sem noção Se existe uma coisa que a maior parte dos indivíduos se incomoda é com outras Beatriz5 Escutar dicas de emagrecimento - que eu não pedi - é uma coisa que me irrita muito. “Mas você não se preocupa com a saúde?”. Se preocupe com a sua saúde, obrigada. Até um “nossa, como você emagreceu, está bem mais bonita!” dá vontade de comer umas 5 pizzas na frente do indivíduo que falou isso e engordar tudo de novo. Mas o que mais acaba com a minha autoestima é o clássico “você tem um rosto tão bonito, seria linda se perdesse uns quilinhos”. 10 | Manual de Diversidade na Publicidade Manual de Diversidade na Publicidade | 11 Vídeo 01: Campanha Desafio Sabão em Pó x Líquido. Ariel. 2010 Não utilize o termo “gordice” Essa palavra, de cunho essencialmente pejorativo, é utilizada para descrever o comportamento que, supostamente, pessoas gordas possuem, sendo empregada, ainda, para designar uma comida mais calórica ou gordurosa8. O problema em utilizar este termo, bastante disseminado nos últimos anos, está justamente em supor que a condição física das pessoas gordas determina o que elas comem ou como elas agem (explícito na expressão “gordo só faz gordice”) e serve apenas para reforçar o estereótipo atribuído a essa parcela da população. Então, fuja dessa palavra! #FicaADica Então, o que fazer? Inclua pessoas gordas em suas campanhas Um dos principais problemas que levam as pessoas gordas ao comportamento de body- shaming9 (vergonha do próprio corpo) vem exatamente da falta de representatividade desses indivíduos na publicidade e nos meios de comunicação em geral. A invisibilização dessas pessoas na mídia reforça a ideia de que elas estão fora de um padrão aceitável, que não merece ser exposto aos olhos do grande público. Por isso, inclua pessoas gordas nas peças de sua campanha. Mas não faça isso de maneira caricata, insira a pessoa gorda entre outros personagens, sem destacar especificamente esta característica. O objetivo é mostrar que a pessoa gorda existe e é um indivíduo comum como qualquer outro e que também utiliza os produtos do seu cliente.Contrate pessoas gordas para sua empresa Uma maneira prática de combater a exclusão social que os gordos sofrem é incluí-los no seu quadro de funcionários, afinal de contas eles não são pessoas menos capazes de desempenhar funções criativas ou de gestão por possuírem esta característica, não é mesmo? Apesar disso, por mais incrível e absurdo que possa parecer, as pessoas gordas ainda sofrem mais com a falta de oportunidades de emprego que as pessoas magras10. Neste sentido, além de promover o acesso ao emprego para essas pessoas, você contará, ainda, com mais um profissional que pessoas se metendo na vida delas, não é mesmo? Com os gordos, geralmente é aquela pessoa magra que vem falar o que não deve. Por que, então, você associaria a sua marca a este comportamento desagradável? O argumento de que “está preocupada com a saúde da pessoa” não é válido, uma vez que, como já vimos, ser gordo não é doença. Não culpabilize a pessoa gorda por sua condição Como vimos, o peso de um indivíduo está muito mais ligado a condições genéticas do que a hábitos alimentares em si. Portanto, não atribua culpa à pessoa gorda por sua condição. Não é preguiça, não é falta de força de vontade, não é desleixo. Ao reforçar este discurso você vai estar apenas contribuindo para que mais pessoas gordas se sintam mal por serem quem são e buscarem um padrão inalcançável para sua condição. Este é apenas mais um artifício disseminado pela denominada cultura da dieta6 para movimentar o mercado de produtos para emagrecimento. Não inferiorize ou ridicularize a pessoa gorda Evite associar pessoas gordas a situações cômicas (ridicularizantes) ou representá-las de forma inferior a pessoas magras. É bastante comum observar pessoas gordas sendo representadas como desastradas, exageradas, desajeitadas, gulosas ou sem noção. Não seja uma dessas marcas! Uma pessoa gorda não deve ser motivo de riso para outras, nem deve ser representada como um indivíduo menos capaz que os demais. Não associe um corpo gordo a percepções negativas Também é comum observar que algumas marcas frequentemente associam pessoas gordas a situações ou sentimentos negativos, como o fracasso profissional, a infelicidade em relacionamentos ou uma vida sexual inexistente, como se a pessoa gorda não tivesse direito ou não fosse capaz de alcançar a realização pessoal nessas situações, como podemos observar na seguinte fala de “Ângelo” em entrevista ao Projeto DIV.A.S.: “[...] normalmente nos representam de forma caricata, seja como um gordinho engraçado, triste, sempre solteiro, o legal que todo mundo gosta mas ninguém pega. Sempre assim." Em situações extremas, os gordos são associados até mesmo à péssima qualidade de algum produto, atribuindo ao corpo gordo ali representado características como sujo, ruim, mal-cheiroso, nojento, desprezível, vide comercial da ARIEL7, veiculado na internet em 2010 e posteriormente retirado do ar pela própria empresa em função dos comentários negativos que a peça recebeu, justamente pela associação de ideias negativas ao personagem gordo representado. 12 | Manual de Diversidade na Publicidade Manual de Diversidade na Publicidade | 13 _________________________________________ 1. VASCONCELOS, Naumi; SUDO, Iana; SUDO, Nara. Um peso na alma: o corpo gordo e a mídia. In: Revista Mal-Estar e Subjetividade, Fortaleza, v. iv, n. 1, p. 65-93, mar/2004. 2. BOECHAT, Bernardo. Ser gordo é doença? 3. MARANHO, Elisa Peres; CONTIERO, Lucinéia. O riso na publicidade: uma estratégia de luta. In: IX Congresso de Comunicação da Região Sul, Intercom/Unicentro. São Paulo: Intercom, 2008. 4. BOECHAT, Bernardo. Gordofobia. 5. Alguns nomes foram trocados para garantir a privacidade dos entrevistados. 6. BOECHAT, Bernardo. Dieta é feita pra dar errado. 7. Campanha Desafio Sabão em Pó x Líquido. Ariel.2010 8. BOECHAT, Bernardo. Gordice. 9. Obesidade: auto-estigma pode aumentar o risco de síndrome metabólica. 10. BELLOTTO, Eduardo. Obesidade e preconceito 11. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Hábitos dos brasileiros impactam no crescimento da obesidade e aumenta prevalência de diabetes e hipertensão. VIGITEL BRASIL, 2016. 12. Moda plus size: explore este nicho de mercado 13. Enfim, chegou a vez dos gordos nas campanhas de publicidade 14. Gordinha, não. Gorda! poderá te ajudar a ter uma visão diferenciada sobre as ideias relacionadas à inclusão desses indivíduos nas campanhas da sua agência. Pense nisso! Invista em mobiliário adequado e acessibilidade Uma das humilhações diárias que as pessoas gordas sofrem é ter seu direito de ir e vir cerceado de várias maneiras, como por exemplo: não ter uma cadeira adequada para sentar, portas ou acessos insuficientes para que possam transitar sem esforço, falta de rampas e corrimãos, dentre outros que dificultam a execução de tarefas que são “fáceis” para a maior parte da população. Sem falar na indústria da moda em geral, que não produz roupas e calçados com numeração adequada para o corpo gordo. Pequenas atitudes como esta demonstram cuidado e respeito da sua empresa para com as pessoas gordas e podem ser adotados para minimizar o sentimento de exclusão presente na sociedade. E o mais importante de tudo: não julgue! Não cabe a você nem a sua marca dizer o que uma pessoa gorda deve ou não fazer em relação a seu corpo. Não faça da sua marca mais um agente de julgamento de um indivíduo apenas pelo que ele é e perpetuar um discurso de exclusão social que leva, todos os anos, mais e mais pessoas a desenvolverem quadros de depressão e distúrbios alimentares em geral. Ser gordo é apenas mais uma característica dentre tantas outras características que cada um de nós possui e é essa diversidade que faz o mundo ser tão interessante. O cliente pediu números? A gente sabe que no fim das contas seus clientes vão querer ser convencidos disso tudo que estamos discutindo até aqui, então para ajudar a mudar o pensamento deles em relação às pessoas gordas, separamos alguns dados que podem ser utilizados neste processo: •Segundo pesquisa do Ministério da Saúde11, quase 60% da população brasileira é composta por pessoas com sobrepeso ou obesas de acordo com os parâmetros da OMS, ou seja, hoje, mais da metade da população do país não se vê representada na maior parte da publicidade veiculada; •De acordo com a ABRAVEST (Associação Brasileira do Vestuário) o mercado plus size movimentou 6 bilhões de reais no Brasil em 201612, revelando uma grande oportunidade de negócio para quem trabalha com clientes deste ramo; •Apesar da crise econômica, a indústria têxtil registrou um crescimento de 14,3% na produção de peças do segmento plus size em relação à 201513. Que tal diversificar o portfólio da empresa oferecendo produtos desta linha também?; •Aqui um dado científico: 60% a 80% do peso que uma pessoa tem está ligado a características genéticas e não de comportamento alimentar14, ou seja, ser gordo não é uma doença, ou uma “epidemia” como querem fazer acreditar, é a manifestação de uma característica biológica, portanto, não há porque tornar estas pessoas invisíveis, elas devem ser representadas e, acima de tudo, respeitadas por serem quem são. 14 | Manual de Diversidade na Publicidade Manual de Diversidade na Publicidade | 15 Negros (as) Correspondendo a uma parcela equivalente a 53,6% dos brasileiros, de acordo com o IBGE (2012)1, a população negra economicamente ativa cresceu 58,3%, e sua renda média subiu cerca de 29,3% nos últimos anos. Essa ascensão social reflete no aumento da autoestima (de acordo com a pesquisa, houve um aumento de 6% das autodeclarações raciais dos negros entre 1999 e 2009) e, claro, no comportamento de consumo desta parte da população.Luciana Xavier “Ainda é preciso apontar que quase não são represen- tadas famílias negras compostas por um pai, uma mãe e filhos na publicidade. Eventualmente vê-se uma mãe e o filho ou filha. Raramente vejo um pai negro em alguma propaganda.” Professora de Estudos Étnico-Raciais da UFABC Em virtude destas mudanças socioeconômicas e culturais, a representação e a visibilidade positiva do negro vêm crescendo na mídia, porém ainda não são suficientes e, por muitas vezes, ainda são estereotipadas. É preciso lembrar que os meios de comunicação levam mensagens que entram em contato com diversas culturas, criando representações e transformando relações2 Sendo assim, devemos estar atentos para as práticas publicitárias, especialmente, uma vez que essas mensagens são formas simbólicas que podem ajudar a criar ou reforçar estereótipos, estabelecendo relações de dominação ou exclusão. Uma publicidade consciente, portanto, deve ser sensível às problemáticas que os homens e mulheres negras enfrentam diariamente, propondo, a partir do seu papel social, uma visão mais inclusiva, representativa e forte desta parte da população. Se você deseja criar uma peça de fato socialmente responsável, siga nossas dicas abaixo! Em geral... Não reforce estereótipos Há décadas as representações midiáticas de negros são marcadas por estereótipos como: empregada doméstica, garçom, jogador de futebol, morador da comunidade, criança carente etc. Além de serem diretamente associados à pobreza. Como vimos, a renda média da população negra no Brasil cresceu cerca de 29,3%, e essa parcela da população destina cerca de R$500 milhões por mês para o consumo de produtos não essenciais. Além disso, as ações afirmativas governamentais ajudaram a quase dobrar o número de negros em universidades3. 16 | Manual de Diversidade na Publicidade Manual de Diversidade na Publicidade | 17 Não associe a pele negra ou a cor negra a algo negativo. É importante lembrar que a construção da nossa identidade se dá por aproximação daquilo que nos assemelha e qualificamos como positivo, e por afastamento daquilo que julgamos diferente e qualificamos negativamente4. Nesse sentido, representações midiáticas negativas sobre a pele negra criam e contribuem para reforçar preconceitos, estabelecendo o alicerce para esse afastamento. Associar, na sua peça publicitária, a pele negra a atributos positivos, portanto, pode ajudar a construir mais autoestima para a população negra e também contribuir para a diminuição do preconceito racial. Ter empatia pela causa negra "Ter empatia é, basicamente, reconhecer que indivíduos brancos têm privilégios e, portanto, não devem desmerecer as reivindicações das pessoas negras", como afirma a entrevistada Silvinha Alves ao Projeto DIV.A.S. A escravidão que marca nossa história, o racismo diário, a diferença salarial (sabia que negros ganham cerca de 59% dos salários dos brancos?)5 e o encarceramento (quase 60% da população carcerária é negra)6 são algumas das questões e problemáticas vividas pelos negros e negras no Brasil. Cabe aos brancos a simples tarefa de entender e ouvir. Coloque o negro como protagonista realmente, e não como um “falso” protagonista. Embora seja possível perceber um aumento da presença de atores e atrizes negros nas produções midiáticas, raríssimas vezes estes ocupam papéis de protagonismo. Mesmo nestes casos, quando parecem ser os protagonistas, percebe-se que, na verdade, a trama gira em torno de uma personagem branca ou a personagem negra é marcada por um perfil totalmente estereotipado, como nos indicou a profa. Luciana Xavier, em entrevista ao Projeto DIV.A.S. Luciana destacou, como exemplo, a série “Sexo e as Nêga”, da Rede Globo. Ela lembra que a série possuía um elenco majoritariamente negro, porém sempre reforçava estereótipos, em especial a respeito da mulher negra. Além disso, embora a série possuísse 4 prováveis protagonistas negras, a trama na realidade girava em torno da personagem branca, causando essa sensação de “falso” protagonismo. Já Silvinha Alves lembrou da novela global Da Cor do Pecado: "o incômodo neste caso foi o fato de na trama, mesmo existindo uma protagonista negra (o que não é recorrente nas telenovelas), a personagem acaba se tornando uma falsa protagonista, uma vez que perde aos poucos o seu lugar para um ator branco. Este se torna a solução de todos os problemas da trama, como o herói da narrativa, e a personagem negra termina em segundo plano naquela que deveria ser a sua história." Vamos ultrapassar a pauta da diversidade? Embora seja importante a discussão sobre o tema, é importante que a prática publicitária e de marketing vá além de dizer “olha como apoiamos a diversidade”. Mais interessante que esse discurso é realmente inserir mulheres e homens negros em atividades e situações cotidianas na peça, e não somente quando for para falar sobre diversidade racial. Ou seja, antes de falar que promove a igualdade, por que não colocar uma família negra em vez de uma família branca na sua campanha de condomínios residenciais, por exemplo? Ou quando precisa criar um anúncio de marcas de luxo? Assim como a publicidade ajudou a naturalizar o preconceito por tanto tempo, está na hora de ajudar a naturalizar a existência do negro em todos os espaços. Contrate pessoas negras! Em uma pesquisa realizada pelo IBOPE com as 50 maiores agências do Brasil7, constatou-se que os negros ocupam apenas 0,74% dos cargos. Entre os 404 executivos, apenas 3 são negros. O dado torna-se ainda mais alarmante quando falamos da presença da mulher negra nas agências, que ainda de acordo com a pesquisa é quase inexistente, principalmente em cargos de liderança. Isso, é claro, reflete diretamente na forma através da qual os negros são representados na publicidade, principalmente tratando-se da mulher negra. Como ter um olhar sensível se não temos alguém para dar voz às suas próprias experiências? Ter um olhar diferente de dentro, principalmente em cargos de liderança e nos setores de criação, é o melhor caminho para tornar os anúncios mais inclusivos. Negros também têm família! Se pararmos para perceber, essas representações de famílias são sempre compostas, como disse a entrevistada Silvinha Alves, por uma mãe e um(a) filho(a), ou até mesmo em meio à presença de indivíduos brancos. Simbolicamente, essa ausência constrói o sentido de que os negros não possuem família ou história particular, ou como se estivessem sempre ao redor de protagonistas brancos. Existem marcas como a Itambé8, por exemplo, que inserem famílias negras em seus anúncios de forma natural na divulgação dos seus produtos. Essa é uma forma de gerar identificação e, sobretudo, mostrar que a marca realmente pensa na inclusão. Vamos parar com o whitewashing (embranquecimento)? O embranquecimento na publicidade e nos produtos de entretenimento aparece principalmente de duas maneiras: a primeira é a contratação de indivíduos negros “pero no mucho”, evidenciando de forma clara a problemática do colorismo9; a segunda é o total apagamento do negro e a contratação de pessoas brancas para representarem personagens negros (lembra do anúncio da Caixa Econômica com um ator branco representando Machado de Assis?)10, que pode acontecer também através da nossa já conhecida blackface11. De acordo com Chaves12, essas escolhas mostram que a publicidade continua reforçando o padrão de beleza contemporâneo, que é “branco, geralmente com traços afilados e 18 | Manual de Diversidade na Publicidade Manual de Diversidade na Publicidade | 19 cabelos lisos, o que faz com que a estética europeia torne-se hegemônicaem grande parte da mídia brasileira”. Nesse sentido, mesmo quando há negros nos anúncios, comumente eles sofrem um embranquecimento que envolve afinar o nariz, clarear a pele, diminuir a boca e a face, contribuindo para, inclusive o processo de diminuição da autoestima negra: Ora, na ausência de modelos positivos em que pudesse se espelhar, o negro recusava suas própria natureza, desembocando, muitas vezes, em crise de identidade étnica, descaracterizando-se, na busca pela supressão dos traços raciais afro13. Não erotize o corpo da mulher negra A erotização do corpo da mulher negra advém do período escravocrata, quando frequentemente as escravas eram estupradas pelos senhores de engenho14. O corpo da mulher negra, portanto, era visto como propriedade dos homens brancos, que separavam aquelas que seriam as mulheres “para casar” – brancas - e aquelas que poderiam ser “usadas” - negras. Infelizmente, essa concepção ainda paira na mente masculina, inclusive dos homens negros, como deixa claro Gleide Fragra em artigo sobre “a solidão da mulher negra”15. Na publicidade e nas produções midiáticas, essa erotização do corpo negro acontece muitas vezes de forma gratuita. Profa. Luciana Xavier lembra que na série “Sexo e as Nêga”, da Rede Globo, uma das atrizes negras frequentemente aparecia de lingerie sem que houvesse qualquer sentido para aquela exposição. O anúncio da cerveja Devassa é um bom exemplo do que NÃO fazer: Figura 01: Anúncio em revista. Cerveja Devassa. 2013 O cliente pediu números? •Mais da metade dos negros brasileiros (53,5%) pertencem hoje à classe média, incluindo a classe C, a nova classe média popular16. •Segundo os Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), entre os 10% mais ricos do Brasil, 1 em cada 4 chefes de família é negro ou mestiço. E entre os 1% de riquíssimos brasileiros, a proporção de chefe de famílias negros ou mestiços subiu de 9 para 15%17. •Segundo dados do estudo Retrato das desigualdades de gênero e raça, do Ipea, enquanto o desemprego atinge 5,3% dos homens brancos, entre os negros, o índice chega a 6,6%18. •Entre os homens que protagonizam comerciais de TV, 93% são brancos. No caso das mulheres, a esmagadora maioria das protagonistas de propaganda é branca, enquanto uma pequena parcela dos personagens se encaixa na categoria “diversa” (com pessoas de diferentes origens raciais interagindo) e apenas 1% mostram só mulheres negras em primeiro plano. Quando os protagonistas são crianças ou casais, a presença de negros e pardos cresce, mas sem superar a marca de 24%19 _________________________________________ 1. Estudo aponta que negro é protagonista do mercado emergente 2. ROSO, Adrian. STREY, Marlene Neves. GUARESCHI, Pedrinho. BUENO, Sandra M. Nora. Cultura e Ideologia: a mídia revelando estereótipos raciais de gênero. Pontifícia Universidade Católiaca de Porto Alegre. 2012 3. Percentual de negros nas universidades dobra em 10 anos 4. CARNEIRO, Sueli. Gênero Raça e Ascensão Social. Estudos Feministas, v. 3, n. 2, p. 544, 1995. 5. Diferença cai em 2015, mas negro ganha cerca de 59% do salário do branco. 6. Mapa do Encarceramento aponta: maioria da população carcerária é negra 7. A presença dos negros nas agências de publicidade 8. Itambé cria anúncio com família negra e ganha simpatia de ativistas sociais 9. Sobre Escalas, Colorismo e Padrões de Aceitação 10. Caixa tira do ar propaganda que mostra Machado de Assis branco 11. Blackface era uma prática teatral que colocava atores brancos coloridos com carvão de cortiça para representarem personagens negros. Apesar de não mais utilizar carvão de cortiça, a prática continua acontecendo. Dá uma olhada nesse anúncio da Netshoes 12. CHAVES, Maria Laura Barbosa. O negro na mídia brasileira. Brasília, 2008. 13. DOMINGUES, Petrônio José. Negros de Almas brancas? A ideologia do branqueamento interior da comunidade negra em São Paulo, 1915-1930. Estudos Afro-Asiáticos, ano 24, n. 3, 2002. 14. HOOKS, Bell. Intelectuais negras. Revista Estudos Feministas, V.3, nº 2, 1995. 15. Sobre a solidão da mulher negra 16. Ascensão dos negros no Brasil 17. 53,5% dos negros brasileiros já estão na classe média 18. 8 dados que mostram o abismo social entre negros e brancos 19. Na publicidade, mais de 90% dos protagonistas ainda são brancos 20 | Manual de Diversidade na Publicidade Manual de Diversidade na Publicidade | 21 De acordo com pesquisa realizada pela Out Leadership (2015)1, o potencial financeiro do segmento LGBT+ no Brasil é avaliado em 133 bilhões de dólares, o equivalente a 418,9 bilhões de reais ou 10% do PIB nacional. Segundo o IBGE (2010), existem ao menos 67,4 mil casais formados por pessoas do mesmo sexo no país. No entanto, como alerta Reinaldo Gregori (2015), sócio da consultoria Cognattis: “O número é subavaliado, já que nem todos se declararam homossexuais”2. Não é à toa que muitos não se sentem confortáveis para assumir a sua orientação sexual. Em reportagem publicada em julho de 2016, o NY Times aponta para uma “epidemia de violência contra gays”3. Em 2015, aqui no Brasil, o Disque 100 recebeu quase 2 mil denúncias de agressões contra público LGBT+4, contribuindo para um cenário assustador de 1 morte violenta de homossexual a cada 28 horas, de acordo com o Relatório de Assassinatos LGBT+ no Brasil produzido pelo Grupo Gay da Bahia em 20165. Nesse contexto, é claro que a publicidade não incita diretamente a violência contra o público LGBT+, mas por muito tempo e ainda hoje ajuda a construir estereótipos e imagens que desqualificam os sujeitos Em geral... Não dê ênfase à dubiedade, com humor (será que ele/ela é) A orientação sexual não diz respeito a ninguém senão ao próprio sujeito e não é motivo de chacota. Além disso, campanhas que dão foco no “será que ele/ela é” associam a sexualidade a determinados tipos de comportamento. Ex: se gosta ou não de algum gênero musical; se gosta ou não de futebol. Já sabemos que essa é uma relação preconceituosa e incorreta. Em 2015, aqui no Brasil, o Disque 100 recebeu quase 2 mil denúncias de agressões contra público LGBT4, contribuindo para um cenário assus- tador de 1 morte violenta de homossexual a cada 28 horas, de acordo com o Relatório de Assassinatos LGBT no Brasil produzido pelo Grupo Gay da Bahia em 20165.” Não à homofobia em prol de uma normatividade hétero e cisgênero6. Esses discursos que circulam nas publicidades autorizam e alimentam os comportamentos de violência. Sendo assim, enquanto algumas marcas já se engajaram na busca por representações do público LGBT+ mais coerentes e responsáveis, outras ainda esbarram em imagens e discursos estigmatizantes e ridicularizadores, ajudando a construir uma atmosfera hostil para estes sujeitos em sua vida social. Veja a seguir algumas mudanças sugeridas para uma publicidade mais inclusiva, sensível e diversa para o público LGBT+. 22 | Manual de Diversidade na Publicidade Manual de Diversidade na Publicidade | 23 Não crie produtos/serviços específicos A orientação sexual não é determinante para o comportamento de consumo. Assim como não se deve dar tratamento diferente a homens e mulheres, não há necessidade de tratamento diferenciado para o público LGBT+. Por ex: não seja como a cerveja Proibida, que criou uma cerveja específica para mulheres: Figura 02: Anúncio em revista. Cerveja Proibida Rosa vermelha Mulher. 2017 Na verdade, o que todos querem é o tratamento igualitário, tanto na oferta de produtos quanto no atendimento do ponto de venda. Treine seus funcionários para a diversidade! Não associe qualquer orientação sexual a algo negativo Assim como não se deve enfatizar a dubiedade daorientação sexual, pior ainda é associá-la a algo negativo. Por ex: ser um homem gay afeminado ou uma mulher lésbica mais masculina não é motivo de vergonha. Não seja essa marca! Que tal não dar ênfase à diferença? Insira o LGBT+ em atividades e situações cotidianas Algumas campanhas têm tentado falar sobre o preconceito e a diversidade sexual como forma de associar a marca a estas pautas importantes. Mas sabe o que seria mais eficiente? Colocar o público LGBT+ em sua campanha sem que o mote dela seja esse. Ex: se o cliente é um shopping e a sua ideia é mostrar “bons momentos que são passados ali”, insira casais gays/pessoas trans/ gente sem gênero definido em meio a pessoas heterossexuais e cisgênero. Sua campanha vai ser inclusiva sem precisar falar diretamente sobre isso. Colocando sujeitos LGBT+ em situações da vida cotidiana, a publicidade ajuda a educar as pessoas para vê-los de forma natural, sem estranhamento. Melhor ainda: como anda a contratação de pessoas LGBT+ na sua agência? Sabemos que as agências ainda são formadas majoritariamente por pessoas cisgênero e heterossexuais. Dificilmente uma ideia pode refletir experiências que não são as nossas. Por isso, ter um olhar diferente dentro, sobretudo, do setor de criação, pode ser o melhor caminho para anúncios mais inclusivos. O homem gay... Não associe à promiscuidade A associação entre o gay e o comportamento promíscuo é uma “produção cultural sócio- historicamente localizada”7, altamente preconceituosa. Não associe à prostituição Infelizmente, tanto a promiscuidade quanto a prostituição são conceitos associados ao homem gay como forma de mantê-los à margem da sociedade. Não ajude a reforçar estes estereótipos na sua campanha. Não dê ênfase apenas no afeminado, mas também não o exclua O homem gay afeminado é quase o único a ser representado na mídia e na publicidade. Por muito tempo, inclusive, era associado a personagens cômicos, com o objetivo de provocar o riso através da sua orientação sexual. Isso ajudou, claro na associação entre um tipo de jeito de ser (afeminado) à orientação homossexual: “ser gay é ser afeminado”. No entanto, nem todo gay é afeminado e, portanto, os que não são não conseguem se ver nestas representações. E nenhum quer ver sua sexualidade como mote para a zombaria! Evite caricaturas Há homens gays magros, musculosos, gordos, negros e brancos. Há gays que gostam de pop e de rock, de samba e de funk. Há aqueles que amam e odeiam futebol. Os que adoram e odeiam cozinhar. Os que amam e os que nem ligam para decoração. Novamente: consumo e comportamento de compra não são diretamente associados à orientação sexual. Evite o foco apenas em gays heteronormativos Uma vez que a mídia colocou por muito tempo o foco nos gays afeminados como associação para a zombaria, ser um homem gay “sem que ninguém perceba” começou a ser visto como moralmente superior. A publicidade não pode reforçar estas associações. Mostre diversidade nestas representações também! A mulher gay... Não associe à masculinidade, à força O estereótipo da mulher lésbica é constantemente reforçado pela mídia há muito tempo: “já que ela gosta de mulher, ela é masculinizada”. No entanto, há mulheres lésbicas que não se identificam com esta representação e, assim como o homem gay afeminado, não devem de forma alguma ser associadas à ideia de um comportamento “risível”. Não trate com fetichização A orientação sexual da mulher não é um objeto para o prazer do olhar masculino, embora muitos produtos midiáticos adorem explorar essa ideia. Não vá por aí! Não use caricaturas Novamente: Há mulheres de todos os tipos, estilos, gostos musicais que gostam de namorar outras mulheres. Não é por ser lésbica que a mulher vai gostar ou não de determinado produto, marca, restaurante, música, atividade etc. Evite o foco em mulheres lésbicas heteronormativas Mostre diversidade nas representações de mulheres lésbicas. De novo: o comportamento e a orientação sexual de alguém não devem ser 24 | Manual de Diversidade na Publicidade Manual de Diversidade na Publicidade | 25 constrangidos para o conforto dos outros. Existem mulheres lésbicas que são masculinizadas e também aquelas mais femininas (de acordo com o significa ser "masculino" e "feminino" na nossa cultura atual). O (a) Trans... Segundo a Antra, Associação Nacional de Travestis e Transexuais (2013)8, 90% da população trans está na prostituição, uma vez que a falta de oportunidade e a rejeição social impedem a sua entrada em outros espaços. Nesse contexto, sua agência pode ajudar a mudar essa realidade. Veja algumas ideias: Não sexualize e não associe à prostituição Em virtude da associação com a prostituição, as pessoas trans são hipersexualizadas. Evite essa ligação, já que precisamos inseri-las em outros lugares, permitindo seu acesso a espaços públicos inclusive de poder. Ex: embora a campanha da Magnum “Be true to your pleasure”9 tenha inovado ao colocar personagens travestis/ transexuais, a percepção sexualizada ainda está muito proeminente , como alertou a entrevistada “Carla” em entrevista ao Projeto DIV.A.S.: “Legal colocarem travestis, porém o ponto negativo é que mais uma vez as utilizaram na forma sexual com o uso do picolé. Ficou feio esse duplo sentido. Aumenta aquela coisa de travesti aliada à prostituição”. Ofereça emprego No caso específico das pessoas trans e travestis, é fundamental que o RH da agência também esteja pensando na diversidade, sobretudo para cargos de grande visibilidade. Uma vez que 90% da população trans está na prostituição, os outros 10% estão em “empregos invisíveis”10, isto é, aqueles que não permitem contato com o público. Não dá, portanto, para falar em diversidade nos discursos publicitários e continuar contribuindo para a marginalização das pessoas trans e travestis. Alie as políticas de RH as suas perspectivas de inclusão! Por que não fugir do binarismo de gênero? Os gêneros não-binários são caracterizados por “indivíduos que não serão exclusiva e totalmente mulher ou exclusiva e totalmente homem, mas que irão permear em diferentes formas de neutralidade, ambiguidade, multiplicidade, parcialidade, ageneridade, outrogeneridade, fluidez em suas identificações” 11. Algumas marcas já entraram na discussão sobre identidade de gênero, no entanto, sobretudo pela falta de aprofundamento sobre o assunto, terminam esbarrando no discurso vazio. Por exemplo, a C&A e sua campanha “Tudo lindo e misturado” foi amplamente criticada por encerrar a questão do não-binarismo no anúncio. Nenhuma diferença foi vista, por exemplo, nos pontos de venda, que continuaram a separar as peças em masculino e feminino. Vídeo 02: Campanha Misture, Ouse, Divirta-se. C&A. 2016 Já a ZARA optou por criar uma coleção de peças sem gênero (ungendered), mas esbarrou em apresentar peças apenas básicas e majoritariamente cinzas e lisas, como apontou Noelle (2016): “Porque é preciso superar a ideia de que roupas sem gênero são camisetas e moletons lisos, sem muita forma, que parecem ter saído do armário de um menino bem básico. Chamar isso de “ousado” ou de “inovador” é forçar um pouco a barra”. Ou seja, se a ideia é realmente propor uma visão genderless, é preciso pensar de uma forma integrada, de modo que os sentidos sejam reforçados em todos os pontos de contato do público-alvo com a marca. E não apenas no âmbito do anúncio publicitário. Figura 03: Anúncio Zara Ungendered. 2017 26 | Manual de Diversidade na Publicidade Manual de Diversidade na Publicidade | 27 O cliente pediu números? A gente sabe que cliente gosta mesmo é de números. Por isso separamos alguns dados importantes para você apresentarna sua defesa de campanha e mostrar que a diversidade também pode ser um caminho bastante lucrativo para as marcas. Sobre o público consumidor composto por gays e lésbicas no Brasil: • Padrão de consumo 30% maior do que heterossexuais de mesma faixa de renda12 • Existem no Brasil ao menos 67,4 mil casais formados por pessoas do mesmo sexo 13 • Apenas os turistas LGBT movimentam R$ 150 bilhões no Brasil, por ano. 14 • 83% são das classes A e B (inSearch Tendências e Estudos de Mercado)15 • São leitores de jornais (88%), revistas (94%) e livros (57% compram até oito livros por ano) (inSearch Tendências e Estudos de Mercado)16 • Gostam de ir ao cinema (73%) e ao teatro (46% veem uma peça por mês) (inSearch Tendências e Estudos de Mercado)17 • A renda mensal familiar em 1999 era em média R$ 3.500,00 (Silos Representações, 1999)18, e em 2014 de 5.208 reais, quase o dobro de uma família formada por casal heterossexual19 • São consumidores exigentes de estilo, criativos, fiéis e dispostos a gastar20 • Um quinto dos casais que se autodeclaram homossexuais no Brasil tem filhos — percentual muito parecido ao de países como os Estados Unidos21 _________________________________________ 1. Outleadership: Pesquisa Brasil 2. Potencial de compras LGBT é estimado em R$ 419 bilhões no Brasil 3. Brazil Is Confronting an Epidemic of Anti-Gay Violence 4. Disque 100: denúncias de abuso contra crianças e adolescentes caíram em 2015 5. A cada 28 horas, um homossexual morre de forma violenta no Brasil 6. Pessoa que se identifica com o mesmo gênero que aquele registrado em seu nascimento. 7. TOLEDO, Lívia Gonsalves. PINAF, Tânia. A clínica psicológica e o público LGBT. Psic. Clin., Rio de Janeiro, vol. 24, n.1, p. 137 – 163, 2012 8. O preconceito contra transexuais no mercado de trabalho 9. Be true to your pleasure 10. Mercado de trabalho ainda discrimina pessoas trans 11. DOS REIS, Neilton. PINHO, Raquel. Gêneros não-binários: identidades, expressões e educação. Revista Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v. 24, n. 1, p. 7-25, Jan./Abr. 2016. 12. Público gay consome, em média, 30% mais que consumidor hétero 13. Quem é o público GLS 14. Idem 15. Potencial do mercado homossexual no Brasil 16. BERNDT, Marina Kretzer. PEREIRA, Vitor do Vale Plano de Negócios: o lançamento de uma marca de rouoas e acessórios para o público homossexual masculino em Florianópolis. Universidade Federal de Santa Catarina. Centro Sócio Econômico. 2016 17. Idem 18. FAGUNDES, Élida Cristiane. Atributos de Compra do Consumidor Homossexual para o Segmento de Vestuário. Dissertação. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Programa de Pós- Graduação em Administração e Negócios. 2006 19. Como aproveitar o potencial de consumo dos gays 20. FAGUNDES, Élida Cristiane. Atributos de Compra do Consumidor Homossexual para o Segmento de Vestuário. Dissertação. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Programa de Pós- Graduação em Administração e Negócios. 2006 21. Como aproveitar o potencial de consumo dos gays 28 | Manual de Diversidade na Publicidade Manual de Diversidade na Publicidade | 29 Indígenas A expressão “povos indígenas” é usada para se referir aos descendentes dos povos originários que mantêm vivas partes de suas tradições, costumes e cultura. Nesse sentido, a população indígena brasileira é de 817.963 indígenas, dos quais mais de 500 mil vivem na zona rural e cerca de 315 mil habitam as zonas urbanas brasileiras. Embora a região Norte seja a que concentra o maior número de indivíduos, os povos indígenas estão presentes nas cinco regiões do Brasil1. O contingente de brasileiros que se considerava indígena cresceu 150% na década de 90. O ritmo de crescimento foi quase seis vezes maior que o da população em geral. O percentual de indígenas em relação a população total brasileira saltou de 0,2% em 1991 para 0,4% em 2000, totalizando 734mil pessoas. Fundação Nacional do Índio No entanto, mesmo sendo parte expressiva da população e fundamental para a existência e construção da nossa cultura, as representações midiáticas e publicitárias mostram uma “identidade social do indígena construída segundo formas impessoais e opacas, formando cidadãos de segunda e terceira classes” 2. Nesse sentido, se você quer criar campanhas ou conteúdos de marca REALMENTE inclusivos, responsáveis e sensíveis com os indígenas, siga nossas dicas abaixo: Não generalize! De acordo com o IBGE (CENSO, 2010) há mais de 305 etnias no Brasil. Logo, não tem como todos eles serem iguais, não é mesmo? Pois cada tribo tem seus valores, seus costumes e sua própria língua. Se optar por apresentar um índio em sua campanha, uma dica é dizer expressamente qual a sua etnia e tribo. Não apresente índios como símbolo do passado De acordo com o CENSO 2010, há 315.180 índios vivendo nos centros urbanos. Os índios não são do passado. Eles evoluíram junto com o país. Na real, é a sociedade que só gosta de fetichizar a imagem do índio quinhentista e só considera índio “de verdade” se ele for carregado de estereótipos. Não faça relações entre indígenas “de verdade” ou não Novamente: há mais de 305 etnias no Brasil. Alguns indígenas vivem em centros urbanos e outros em tribos. Alguns assimilaram mais a evolução cultural da sociedade brasileira e outros optaram por preservar suas tradições. Não cabe à publicidade dizer o que é ser indígena ou não. Ou seja: “ser indígena é um sentimento de pertencimento, não cabendo ao estado ou a um não indígena dizer quem é ou não índio” (MPF, 2017)3. 30 | Manual de Diversidade na Publicidade Manual de Diversidade na Publicidade | 31 Não diga que o índio é selvagem ou relativo à selvageria Infelizmente, desde os tempos da escola até às representações midiáticas, estamos acostumados a ouvir que o indígena é um ser selvagem ou associá-lo à selvageria. No entanto, respeitar a natureza e sobreviver da caça e da pesca não é ser selvagem. Sobretudo por todas as conotações negativas que essa palavra tem na nossa língua, não a associe ao povo indígena. Não coloque o índio como símbolo de preguiça Quando chegaram ao Brasil, os colonizadores não respeitaram a cultura do povo indígena e seu modo próprio de organização e divisão do trabalho, “criando o estigma de ‘preguiçoso’ sobre a figura do indígena, desconsiderando que seus modos de vida respeitavam os ciclos da mãe natureza” (MPF, 2017)4.Os índios não são preguiçosos (pescam, caçam, cultivam e organizam a tribo) e sua campanha não deve fortalecer esse preconceito. Índio não é “exótico” É comum incentivar poses e expressões faciais em modelos para que “pareçam indígenas” na peça publicitária, sob o véu do “exótico”. Na verdade, essas poses são animalescas, na tentativa de aproximar o índio a algo não humano. A dica é trabalhar com a realidade, pesquisando os seus costumes. Quer colocar um indígena na sua peça? Ótimo! Use um indígena, ok? O respeito à cultura passa também pelo oferecimento de espaço e visibilidade. Se deseja falar sobre a cultura indígena, É IMPRESCINDÍVEL usar modelos indígenas. Basta de whitewashing5 na indústria da publicidade. Veja só a campanha abaixo: Figura 03: Campanha da Ipanema. 2013: Whitewashing Respeite a cultura e os grafismos indígenas Os grafismos indígenas são muito utilizados no marketing e na publicidade como forma de inserir “exotismo” à peça, à embalagem ou ao produto. No entanto, o grafismo para a cultura indígena não é meramente estético. Há significados em cada traço que devem ser respeitados. Estude sobre a cultura que você deseja colocar na sua peça! Não sexualize De acordo com relatório da ONU em 20106, as mulheres indígenas têm mais chancede serem estupradas do que outras mulheres, revelando uma cultura mundial de desvalorização da indígena que surge, aqui no Brasil, desde a invasão dos portugueses em 1500. O estupro, no processo de colonização, era uma forma de humilhação e limpeza étnica, sendo mais tarde romantizado pela literatura brasileira. Nesse contexto, a representação do indígena, sobretudo das mulheres, geralmente vem com um apelo sexual. É comum representá-las seminuas com um interesse sexual incontrolável pelo “homem branco”7. Se você não quer contribuir para esse cenário, não sexualize a mulher indígena! Saia do estereótipo do indígena que “fala errado” A história do índio que só fala na terceira pessoa é preconceituosa e ignora que a maioria da população indígena (quase 70%, segundo o IBGE)7 se comunica em português quando fora dos seus domicílios. Essa maneira de representar o indígena também é uma forma de associá-lo ao passado e à selvageria. NÃO FAÇA! _________________________________________ 1. Censo IBGE 2010. 2. BRAGA , Claudomilson Fernandes. TUZZO, Simone Antoniaci. CAMPOS, Pedro Humberto Faria. Representações Sociais e Comunicação: A Identidade do Indígena na Mídia Impressa Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste .Campo Grande, MS. 7 a 9/6/2012 . 3. Para fazer de nossa sociedade um lugar livre de preconceito contra os povos indígenas 4. Idem 5. White (branco) + wash (limpeza) = termo utilizado para denominar a representação midiática comum de personagens de outras etnias por pessoas brancas. 6. Mulheres indígenas são vítimas de estupro como forma de desmoralização. 7. CARVALHO, Vívian de Nazareth Santos et al. O indígena na telenovela brasileira: discursos e acontecimentos. 2015. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Pará 8. IBGE aponta que 605,2 mil índios falam português no país 32 | Manual de Diversidade na Publicidade Manual de Diversidade na Publicidade | 33 Pessoas com deficiência De acordo com o IBGE1, quase 24% da população brasileira é composta por pessoas que possuem algum tipo de deficiência. No entanto, em trabalho sobre a representação destas pessoas na teledramaturgia brasileira, a autora Bruna Silveira aponta pesquisa realizada em 2009, realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas2, na qual 96,5% dos entrevistados afirmaram que têm preconceito com relação à pessoa com deficiência. “Esse número mostra que a população brasileira não só é preconceituosa, como não está preparada para viver com o diferente daquilo que lhes foi ensinado como sendo o ‘normal’”3. Essa percepção de “anormalidade” é também construída e refletida midiaticamente, uma vez que os produtos de entretenimento e a publicidade costumam tratar a deficiência como tragédia pessoal, meio para curas milagrosas e caridade, e ponte para exagerada dramatização e sensacionalismo4. Toda essa forma estereotipada de representar as pessoas com deficiência (PcDs), sobretudo pela publicidade, deixa de considerá-las como pessoas economicamente ativas e como potenciais consumidores. Além disso, a pessoa com deficiência só aparece como público-alvo em anúncios de produtos adaptados (carros e imóveis, por exemplo), criados para facilitar as suas vidas cotidianas. E suas vidas param aí? Pessoas com deficiência trabalham, saem com os amigos, compram desodorante, bebem cerveja etc. Aliás, somente no Nordeste, segundo o IBGE5, as PcDs injetam na economia mais de 590 milhões de reais mensalmente. Associar a marca à diversidade, portanto, é incluir também as pessoas com deficiência nos anúncios, compreendendo, inclusive, sua importância como Pessoas emocionadas com nossa história de superação? Aceitamos. Revoltadas junto conosco com as coisas que nos revoltam? Aceitamos também, fazemos muito gosto. Mas comovidas não. Comoção é algo tão depressivo. Cego é feliz, gente. Revoltado tem demais, mas triste é o que menos se vê. Arthur Silva Atleta paralímpico da Seleção Brasileira de Judô. Categoria de peso até 90kg, classificação visual B1 ( atletas sem visão nenhuma) em entrevista ao Projeto DIV.A.S. fatia relevante do consumidor potencial dos seus produtos. Confira, então, algumas dicas de como fazer sua criação publicitária mais inclusiva! Use a terminologia correta! Na Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidade das Pessoas com Deficiência, ficou decidido que o termo correto é PESSOAS COM DEFICIÊNCIA (PcDs) e não Portador de deficiência, portador de necessidades especiais ou deficiente. Comece falando certo! A pessoa com deficiência também adora CRIATIVIDADE! Uma vez que a pessoa com deficiência é considerada quase que exclusivamente em anúncios de produtos adaptados, sua abordagem geralmente é racional, mostrando apenas os atributos daquilo que se vende. Ou seja, “tem-se a conclusão equivocada de que o perfil do deficiente é caracterizado generalizadamente como o de um consumidor frio e racional, para o qual a sedução, a criatividade e a interatividade são elementos dispensáveis”6. Mas não são! Não utilize eufemismos O eufemismo é uma forma de suavizar uma expressão desagradável, e o termo “pessoa com deficiência” não se encaixa aí. Portanto, nada de “capacidades especiais”, “pessoas com habilidades diferenciadas”, “pessoas com eficiências diferentes” etc. Não associe o deficiente a alguém digno de pena A pessoa com deficiência não deseja despertar pena em ninguém. Ela quer ser vista como alguém capaz de fazer o que quiser. 34 | Manual de Diversidade na Publicidade Manual de Diversidade na Publicidade | 35 Seja criativo: saia da ideia da superação! Se não explora a pessoa com deficiência tentando provocar a pena do público, a segunda estratégia mais comum é emocionar pela ideia da superação. Saia desse clichê e mostre a vida normal que elas podem ter! Não camufle nem esconda a deficiência! Novamente, a deficiência não é motivo para vergonha! Não faça brincadeiras com a deficiência A publicidade, as telenovelas e os programas humorísticos são campeões em tratar com escárnio as pessoas com nanismo7, por exemplo. Embora a cultura brasileira, sobretudo, faça parecer que não há problema nisso, os problemas de acessibilidade e a falta de atendimento às suas necessidades específicas fizeram a condição ser reconhecida como deficiência física no Brasil em 20048. Não há nada engraçado em qualquer deficiência, por isso, se for para representá-la, que seja com respeito. Não enfatize a diferença A campanha da Johnson’s9 foi muito bem aceita pelo público, uma vez que inseriu um bebê com Síndrome de Down sob sua marca de “bebê Johnson’s”. No entanto, ainda há ali a tentativa de dar foco à iniciativa e não, de fato, à pessoa com deficiência. Mostre que estas pessoas podem e devem ter uma vida normal! A melhor forma de fazer isso é inserindo a pessoa com deficiência em meio a outros indivíduos (a Avon fez isso muito bem)10. Vídeo 03: Campanha Dona Dessa Beleza. Avon. C&A. 2016 Quer representar as pessoas com deficiência? Utilize REALMENTE alguém com deficiência! Dar visibilidade a alguém é, de fato, dar espaço, voz e holofotes para suas questões, problemas, estética etc. Parece óbvio, mas todos nós lembramos da campanha da Vogue Brasil11. Figura 04: Campanha Vogue Brasil. 2016 A pessoa com deficiência pode estrelar qualquer anúncio publicitário Já passou da hora de levar a representatividade para todas as marcas e segmentos, como afirma o entrevistado Vilson Souza ao Projeto DIV.A.S.: “a representatividade na publicidade só ocorre nos períodosdos jogos paralímpicos12, o que é bastante válido, mas deveria ocorrer em outras propagandas também". Não espere que essa cobrança venha do seu público, como aconteceu com a OshKosh13. Empregue pessoas com deficiência Nada mais eficiente do que ter em sua equipe alguém que faz parte da parcela do público que você deseja representar. Não adianta falar em representatividade sem olhar para o seu próprio RH. Sabia que, de acordo com a Lei de Cotas 8213/91, empresas com mais de 100 funcionários são obrigadas a reservar de 2% a 5% das vagas de seu quadro de efetivos para pessoas com deficiência? O cliente pediu números? • Conforme Dados fornecidos no Censo 2010 do IBGE, há 25 milhões de pessoas com deficiência (PcDs) no Brasil. •O IBGE (2010) aponta que, somente no Nordeste, há 126.207 PcDs que possuem renda individual superior a 5 salários mínimos. Esse dado desconsidera a renda familiar e representa mais de R$ 590 milhões de reais. •Segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) 2015, 403,2 mil pessoas com deficiência atuam formalmente no mercado de trabalho14, ou seja: potencial de consumo! • 259,0 mil destas pessoas no mercado de trabalho são do sexo masculino e 144,2 mil do sexo feminino14. • No âmbito da comunicação segmentada no Brasil, existem quatro grandes revistas dirigidas às PcDs. Nesses meios de comunicação, 60% de seu conteúdo é destinado à publicidade. A maioria desses anúncios referem-se a automóveis (40% do volume de anúncios) e suas adaptações. Adaptação imobiliária, por exemplo, é um ontem ainda não bem explorado, apesar de aumentar o valor venal do imóvel em até 30%.14 _________________________________________ 1. Censo IBGE 2010. 2. Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas 3. OLIVEIRA, Juliane Senatore de. SILVA, Ana Cristina. Caracterização do deficiente físico em peças publicitárias 4. Idem 5. Censo IBGE 2010. 6. OLIVEIRA, Juliane Senatore de. SILVA, Ana Cristina. Caracterização do deficiente físico em peças publicitárias 7. Comercial Nova Schin 8. Decreto 3.298/1999 9. Campanha Todo bebê é um bebê Johnson’s 10. Campanha Avon: Dona dessa Beleza 11. Vogue Brasil usa Photoshop para "desmembrar" atores em campanha das paralimpíadas 12. “We’re the superhumans” : Rio Paralympics 2016 13. Modelo com Síndrome de Down. Campanhas para OshKosh 14. RAIS 2011 - Secretaria Especial dos Direitos da Pessoa com Deficiência 36 | Manual de Diversidade na Publicidade Manual de Diversidade na Publicidade | 37 Idosos (as) De acordo com o IBGE (2016)1, a população brasileira está envelhecendo. Isto é, a proporção de pessoas idosas (60 anos ou mais), em relação à população jovem e adulta, vem crescendo rapidamente. No entanto, embora esse segmento seja responsável por 21% do rendimento total do país, movimentando mais de 400 bilhões de reais anualmente (BIP, 2015)2, as empresas parecem ainda não estar preparadas para atender este público: “45% dizem que há pouca oferta de produtos voltados para o público acima dos 70 anos” 3. Em 2022,a população idosa do Brasil poderá ultrapassar os 30 milhões de pessoas e deverá representar quase 13% da população ao final deste período. IBGE1 retornam ao trabalho pós- aposentadoria porque sentem a necessidade de complementar a renda, mas alguns são motivados pela ocupação do tempo ocioso ou a “vontade de permanecer ativo”5. Essa relevância para o consumo e para a economia, contudo, não é refletida nos modos de tratamento dos idosos aqui no Brasil. De acordo com De Sousa et. al6, o “idadismo” (ageism ou etarismo)7 ainda é expressivo na sociedade brasileira, revelando, especialmente nos discursos, estereótipos e preconceitos que prejudicam a autoestima e a qualidade de vidas das pessoas idosas. As autoras ainda apontam para a importância da transformação como forma de construção de sociabilidade e de satisfação pessoal: Tal situação permite identificar consequências: de um lado, o quanto do preconceito manifesto na língua faz decorrer a muitos idosos a discriminação familiar, social, na área da saúde, do trabalho, dentre outras, e como isso pode afetar sua subjetividade, trazendo- lhe efeitos negativos (de baixa autoestima, de total precariedade, de sentimentos de insegurança pela perda de sua posição na família e na sociedade). De outro lado, acreditando- se em um declínio dos efeitos do preconceito/ discriminação, o quanto estas poderiam sentir-se socializadas harmonicamente com as demais gerações para uma convivência produtiva e feliz 8. A publicidade, portanto, como uma das práticas discursivas da nossa cultura, ajuda a compor esse cenário. Reconhecer a importância desse público para o mercado do consumo é mais do que pensar em produtos para suas Aliado ao envelhecimento da população brasileira, outro dado é relevante para o segmento do consumo: cresce o número de idosos no mercado de trabalho (Tomazelli e Neder, 2015)4. A justificativa para esse crescimento é diversa: muitos 38 | Manual de Diversidade na Publicidade Manual de Diversidade na Publicidade | 39 necessidades. É também ajudar a desconstruir estereótipos sobre o que significa envelhecer e pensar em peças publicitárias que incluam os idosos na sua mais completa complexidade. Como representar as pessoas idosas? Não trate o idoso como criança A paternalização e a condescendência são muito comuns no contexto das interações que envolvem pessoas idosas9. Esse tipo de tratamento, que muitas vezes vem com aparente doçura, na verdade é sentido pelos idosos como uma forma de mostrar superioridade e falta de respeito10. Por isso, ao representar pessoas conversando com idosos, não os faça parecer que estão se comunicando com crianças, mas com adultos conscientes das suas subjetividades. Não associe idade à decrepitude/cansaço/ fragilidade/doença A publicidade ajudou, por muito tempo, a fortalecer uma imagem negativa em relação à velhice. O discurso comum, cristalizado nas percepções dos indivíduos, é o que vê o processo de envelhecimento como “uma época sombria, decrépita, repleta de temores da morte, de acometimento de doenças e que culmina com o isolamento do indivíduo dos processos de socialização” 11. A expressão “terceira idade”, aliás, veio como uma forma de distanciar os sentidos negativos já associados culturalmente ao termo velhice, isto é, “ainda que aponte para a etapa final da vida, a nomenclatura terceira idade faz desaparecer a alusão direta a vocábulos tão semanticamente marcados, como velhice, senilidade e envelhecimento 12. No entanto, a nomenclatura é o que menos importa: de que forma a pessoa idosa APARECE no seu anúncio? Um dos preconceitos mais sofridos pelos idosos é a associação direta da sua idade com o adoecimento13. Esses estereótipos distanciam o idoso da sua plena capacidade de ser ativo, saudável e feliz. A idade não impede ninguém de ter entusiasmo, de fazer atividade física, viajar, consumir, produzir e trabalhar. Explore isso! Não explore os estereótipos, inclusive de gênero! Há imagens cristalizadas na mente dos brasileiros quando o assunto é a representação dos idosos. E estas imagens podem revelar até mesmo estereótipos de gênero que reduzem os sentidos do envelhecimento para mulheres e homens. A imagem do idoso jogando cartas/ dominó na praça e da mulher idosa na cadeira de balanço fazendo crochê (ou cozinhando para os netos), por exemplo, são algumas das associações mais usadas, sobretudo nos anúncios publicitários. EVITE! Coloque os idosos em situações diversas: por que não fazendo algum esporte, trabalhando, conversando com amigos em bares, restaurantes etc.? Não associe determinado comportamento/modode existir à idade Aqui é mais um exemplo de que as mulheres idosas sofrem tipos diferenciados de preconceito em relação aos homens idosos. No caso delas, é comum a comunicação de regras de vestimenta, por exemplo. Dizer que há roupas “apropriadas para a idade” dela é restringir seus gostos e delimitar de que forma ela se sente bem com seu corpo. Não faça! Além disso, há outros tipos de constrangimento sobre o que significa ser idoso: tatuagem, piercing, falar gírias, gostar de determinados estilos musicais, comer determinado tipo de comida...já percebeu que a gente vai colocando os idosos em caixinhas muito específicas? Extrapole estes limites! Há idosos bem diferentes destes estereótipos que cresceram com a gente! Não os coloque em situações de isolamento De acordo com Coimbra14, a redução dos contatos sociais é uma realidade enfrentada por muitas pessoas no processo de envelhecimento. Estas perdas podem levar a sentimentos de solidão e depressão, que acarretam no aumento, inclusive das tentativas de suicídio.15 Sendo assim, é importante que a publicidade reconheça sua importância como discurso de construção sociocultural, ao propor novas visões para o envelhecimento que não incluam o isolamento e a solidão dos idosos. Represente a mulher e o homem idosos como pessoas inteligentes, interessantes e comunicativas, envoltas em redes de relacionamento e socialização. Empregue uma pessoa idosa A associação da idade com falta de produtividade e de vitalidade ajuda a reforçar o preconceito contra os idosos e, mais do que isso, dificulta a contratação de pessoas acima dos 50 anos16. No entanto, estas pessoas muitas vezes carregam a bagagem de anos de experiência que podem ser muito ricos para o crescimento das empresas. Ademais, além de experiência, estas pessoas podem ser úteis na identificação de como querem ser representadas pelos anúncios publicitários e quais são suas reais necessidades do quesito consumo. Quer ser realmente inclusivo (a) na sua agência? Contrate uma pessoa idosa! O cliente pediu números? • A terceira idade no contexto brasileiro cresceu cerca de 11 vezes nos últimos 60 anos. Em 2025, serão 64 milhões de idosos, e, em 2050, a previsão é de que 1 em cada 3 brasileiros seja idoso no Brasil.17. •Negócios com potencial de crescimento para o segmento da terceira idade: Moda e vestuário; turismo; atividades físicas; cosméticos; compras pela internet; editorial (jornal, revistas e livros); alimentação fora de casa e produtos alimentares específicos; shoppings e espaços de convivência.18 •As mulheres são maioria no segmento da terceira idade, mas os homens ainda são responsáveis pelos domicílios.19 •Entre os censos de 1991 e 2000, do IBGE, houve um crescimento da renda média dos idosos em 63%.20 40 | Manual de Diversidade na Publicidade Manual de Diversidade na Publicidade | 41 • Daqui a 20 anos, a expectativa é que 40% da população brasileira seja composta por consumidores com mais de 60 anos.21 •86,4% deles afirmam ser os responsáveis pelo controle das finanças e são os tomadores de decisão na hora da compra22. - O poder de compra dos consumidores acima de 60 anos deve superar R$ 30 trilhões em todo mundo em 2020.23 •70% dos idosos afirmam já ter feito compras em lojas virtuais24 _________________________________________ 1. ESTATÍSTICA, IBGE. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira: 2016 / IBGE. Coordenação de População e Indicadores Sociais. - Rio de Janeiro: IBGE, 2016 2. BIP (Boletim de Informação para Publicitários). O poder da nova terceira idade. 3. Quem são e como vivem os idosos do Brasil 4. Idosos voltam ao mercado de trabalho 5. VANZELLA, Elidio; NETO, Eufrásio de Andrade Lima; DA SILVA, César Cavalcanti. A terceira idade e o mercado de trabalho. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, v. 14, n. 4, p. 97-100, 2011. 6. DE SOUSA, Ana Carla Santos Nogueira et al. Alguns apontamentos sobre o Idadismo: a posição de pessoas idosas diante desse agravo à sua subjetividade. Estudos Interdisciplinares sobre o Envelhecimento, v. 19, n. 3, 2014. 7. Termo criado para dar nome ao preconceito sobre o processo de envelhecimento. Sobre isso, ver: CASTRO, Gisela GS. O envelhecimento na retórica do consumo: publicidade e idadismo no Brasil e Reino Unido. Associação Nacional dos Programas de Pós- graduação em Comunicação, Compós, p. 1-15, 2015. 8. Idem 9. NELSON, Todd D. (Ed.). Ageism: Stereotyping and prejudice against older persons. MIT press, 2004. 10. DE SOUSA, Ana Carla Santos Nogueira et al. Alguns apontamentos sobre o Idadismo: a posição de pessoas idosas diante desse agravo à sua subjetividade. Estudos Interdisciplinares sobre o Envelhecimento, v. 19, n. 3, 2014. 11. PALACIOS, Annamaria. Fragmentos do discurso publicitário para idosos no Brasil: estratégias de positivação da velhice, novos velhos ou novos mercados de consumo? In: Moisés de Lemos Martins & Manuel Pinto (Orgs.) (2008) Comunicação e Cidadania - Actas do 5º Congresso da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação 6 - 8 Setembro 2007, Braga: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (Universidade do Minho) 12. PALACIOS, A. R. J. P. Velhice, palavra quase proibida; terceira idade, expressão quase hegemônica: apontamentos sobre o conceito de mudança discursiva na publicidade contemporânea. Comunicação apresentada no XX Encontro da Associação Portuguesa de Linguisitca (APL). Lisboa, 2004. 13. DE SOUSA, Ana Carla Santos Nogueira et al. Alguns apontamentos sobre o Idadismo: a posição de pessoas idosas diante desse agravo à sua subjetividade. Estudos Interdisciplinares sobre o Envelhecimento, v. 19, n. 3, 2014. 14. COIMBRA, Joana Fátima Mendes. O sentimento de solidão em idosas institucionalizadas: A influência da autonomia funcional e do meio ecológico. Tese de Doutorado. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade de Coimbra, Coimbra, 2008. 15. FERNANDES Carmo, Cecília; DIAS COUTO, Vilma Valéria; SCORSOLINI- COMIN, Fabio. A experiência de solidão e a rede de apoio social de idosas. Psicologia em Estudo, v. 19, n. 4, 2014. 16. O desafio de arrumar emprego após os 50 anos 17. A terceira idade no Brasil cresceu cerca de 11 vezes nos últimos 60 anos, passando de 1,7 milhão para 18,5 milhões de pessoas nesta faixa etária 18. Negócios com potencial crescimento para a terceira idade 19. Dados sobre o envelhecimento no brasil. 20. Idem 21. Pesquisa identifica o hábito de consumo das pessoas acima de 60 anos 22. Idem 23. Poder de consumo da Terceira Idade deve surpreender nos próximos anos 24. Pesquisa identifica o hábito de consumo das pessoas acima de 60 anos 42 | Manual de Diversidade na Publicidade Manual de Diversidade na Publicidade | 43 ABESO. Obesidade: auto-estigma pode aumentar o risco de síndrome metabólica. Disponível em: <http://www.abeso.org. br/noticia/obesidade-auto-estigma-pode-aumentar-risco-de-sindrome-metabolica>. Acesso em: 20 jun. 2017. BARNES, Colin. Disabling imagery and the media: an exploration of the principles for media representations of disabled people. Halifax: Ryburn Book Production, 1992. 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