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187 52 Destaques aVaLIaÇÃO DO PaCIeNte PeDIÁtRICO Na eNFeRMaRIa NeuROLÓGICa Guilherme Herrera Fernanda de Cordoba Lanza Mariana Rodrigues Gazzotti INtRODuÇÃO O tratamento ideal para o paciente começa muito antes da terapia propriamente dita. É de extrema importância realizar a avaliação global minuciosa para poder identificar alterações, traçar objetivos e elaborar o plano de tratamento. Assim, duas fontes fundamentais de dados sobre o paciente são necessárias: anamnese e o exame físico. No ambiente hospitalar, muitos dados são retirados do prontuário, como identificação do paciente, história pregres- sa, exames complementares, entre outros, porém muitas ve- zes é necessário que o fisioterapeuta realize questionamentos ao paciente ou a seu responsável. A anamnese inicia-se com o estabelecimento de uma relação de respeito e confiança com o paciente e sua família. Uma anamnese bem feita favorece a identificação de diversas hipóteses diagnósticas que se confirmarão ou não após a avaliação física. Deve ser realizada sem pressa. A avaliação pediátrica tem algumas peculiaridades que a distingue da avaliação de um paciente adulto, como a neces- sidade de obter a anamnese a partir dos pais ou do cuidador, principalmente nas crianças de pouca idade. Além disso, muitas crianças não são capazes de compreender comandos verbais, o que dificulta a aquisição das informações, portan- to, o fisioterapeuta deve ser um bom observador e ter conhe- cimento para estruturar o ambiente, e direcionar a avaliação com o objetivo de identificar a maior quantidade possível de alterações, importantes para o entendimento de cada caso. O paciente e seu responsável devem se sentir seguros e à vontade para falarem sobre assuntos pessoais. As perguntas devem ser de fácil compreensão e neutras, evitando assim a indução de respostas e a produção informações incorretas. tÓPICOs Da aVaLIaÇÃO queixa principal A queixa principal (QP) é o motivo que levou ao paciente a necessidade de procurar tratamento e deve ser registrada na avaliação da mesma forma que o paciente ou seu responsável informaram, seguida da abreviação SIC (segundo informa- t Ra ta d o d e Fi si o te Ra pi a H o sp it a La R – a ss is tê n Ci a in te G Ra L a o p a Ci en te 188 ções colhidas). A queixa principal pode direcionar seus ques- tionamentos na anamnese, mas nunca definir o tratamento do paciente. Um exemplo clássico é o da mãe de uma criança de 5 anos de idade com diagnóstico de paralisia cerebral (PC) do tipo tetraparesia espástica grave, cuja a QP é: “Quero que meu filho ande”. Provavelmente, a resolução da QP dessa cuidado- ra não poderá ser alcançada mesmo após árduo tratamento e deve-se deixar clara essa informação para que não haja des- contentamento e interrupção do tratamento. Portanto, a QP pode ter relação ou não com os objetivos do tratamento, que serão definidos apenas após conclusão da avaliação. História da moléstia atual A história da moléstia atual (HMA) é a descrição narra- tiva dos eventos relacionados à queixa principal – o motivo da internação – com a maior quantidade de informações possíveis sobre os sinais e sintomas, duração, frequência, fatores de melhora e piora e tratamentos realizados previa- mente; dessa maneira, podem-se identificar os fatores de risco para a doença e posteriormente realizar orientações para prevenção. Considerando o início dos sinais e sintomas, o avalia- dor deverá identificar se a sua instalação ocorreu de forma súbita (traumatismo cranioencefálico [TCE], lesão medular, anóxia, hemorragia) ou insidiosa (miopatias, neuropatias periféricas hereditárias, síndromes diversas), e há quanto tempo a criança encontra-se com as disfunções (fases aguda, subaguda ou crônica). Independentemente do tipo da lesão, é necessário corre- lacionar o momento de sua instalação com seu impacto no desenvolvimento neuropsicomotor. Por exemplo, crianças com PC por anóxia perinatal terão de aprender a realizar ati- vidades funcionais diante da presença de fraqueza, espastici- dade, incoordenação, movimentos involuntários e/ou déficit cognitivo, alterações estas que dificultarão o aprendizado. Condição diferente ocorre com a criança que adquiriu a lesão em certa fase do seu desenvolvimento; por exemplo, uma criança com 8 meses de idade, quadro de tetraparesia pós-TCE, que já vivenciou algumas etapas do seu desenvol- vimento como o controle cervical, o rolar, sentar sem apoio e o engatinhar. Essas experiências prévias, teoricamente, podem auxiliar no processo de recuperação funcional, pois facilitariam seu reaprendizado. No entanto, caso o treino de marcha seja um objetivo a ser alcançado, o terapeuta deverá considerar a falta de experiência prévia. História da moléstia pregressa No item história da moléstia pregressa (HMP) devem constar todas as doenças preexistentes e as internações às quais o paciente foi submetido. Principalmente para os ne- onatos e lactentes, as informações sobre a gestação e o parto são fundamentais na anamnese. Com a história pregressa poderemos correlacionar afecções prévias com as comorbi- dades atuais. Então, é possível evidenciar que as alterações iniciaram há algum tempo, tratando-se de doença crônica ou prematuridade, ou que não há alterações na história pregressa que se relacionem com as doenças atuais. Dessa forma, os questionamentos sobre particularidades da gestação e do par- to podem auxiliar na elaboração de hipóteses diagnósticas. Durante os questionamentos sobre a história da gestação estaremos em busca de doenças que a mãe possa ter adqui- rido, como infecção urinária, diabetes gestacional, doenças infectocontagiosas que possam favorecer o parto prematuro e o desenvolvimento inadequado do feto. Intercorrências como sangramentos, perda de líquido amniótico e quedas também devem ser investigadas, pois podem estar associadas ao retardo do crescimento intrauterino. É muito importante questionar se a mãe fez pré-natal e a quantidade de consultas para identificar o acompanhamento adequado pelo médico responsável, que tem por objetivo acompanhar a gestação, identificar e tratar intercorrências para evitar o parto prema- turo e complicações com a gestante. Em relação à história do parto, devem-se obter informa- ções sobre o tempo de trabalho de parto; tipo de parto rea- lizado e justificativa, caso tenha sido cesária; intercorrências como circular de cordão, mecônio no líquido amniótico, e dificuldade respiratória ao nascer. O peso ao nascimento e a idade gestacional permitirão identificar se o recém-nascido é pequeno para idade gestacio- nal (PIG) – o que é geralmente observado em bebês que ti- veram restrição do aporte sanguíneo durante a gestação; ade- quado para a idade gestacional (AIG); ou grande para idade gestacional (GIG) – estes, em geral, filhos de mães diabéticas. A avaliação do APGAR consiste na avaliação de cinco itens no primeiro e quinto minuto logo após o nascimento, tendo como pontuação máxima 10 e mínima 0; valores acima de 8 são considerados normais (Tabela 52.1). Sabe-se que valo- res baixos de APGAR estão relacionados a lesões neurológicas. tabeLa 52.1 ÍNDICe De aPGaR Pontos 0 1 2 Frequência cardíaca ausente < 100/min > 100/min Respiração ausente Fraca, irregular Forte/choro tônus muscular Flácido Flexão de pernas e braços Movimento ativo/boa flexão Cor Cianótico/ pálido Cianose de extremidades Rosado irritabilidade reflexa ausente algum movimento espirros/choro avaliação realizada no primeiro e quinto minuto após nascimento; valor normal: acima de 8; abaixo de 7 pode significar anóxia neonatal. A necessidade de reanimação, intercorrências durante a internaçãono berçário, necessidade de internação em terapia intensiva, uso de ventilação mecânica e/ou de oxigênio são fatores que podem desencadear disfunções neonatais com posterior repercussão na infância. Essas observações são im- portantes, pois existem doenças como a síndrome do descon- 52 • AV A LI A Ç Ã O D O P A C IE N TE P ED IÁ TR IC O N A E N FE RM A RI A N EU RO LÓ G IC A 189 forto respiratório, a displasia broncopulmonar, a hemorragia peri-intraventricular, a leucomalácia e a icterícia patológica neonatal que podem ocorrer em neonatos e justificar compro- metimentos motor e/ou respiratório a curto e longo prazos. Informações sobre o ambiente em que a criança vive e as condições de moradia, como número de cômodos da casa, número de pessoas, saneamento básico e se a rua é de terra, podem identificar condições que favorecem doenças ocupacionais ou doenças do sistema gastrointestinal pelas condições de alimentação e limpeza. Em relação aos antecedentes familiares, informações como história familiar de doenças genéticas ou adquiridas, relação familiar e social, utilização de drogas ilícitas, tabagis- mo, etilismo podem facilitar a compreensão de transtornos emocionais, direcionar a hipótese diagnóstica e auxiliar na prevenção de doenças. INICIO Da FIsIOteRaPIa Nas enfermarias, a maioria das crianças encontra-se na fase aguda da lesão, e o início precoce da intervenção fisiote- rapêutica global se faz necessário. Não são raras as condições crônicas nas quais a criança retorna ao ambiente hospitalar. Nesses casos, deve-se ques- tionar se a criança já havia sido submetida ao tratamento fisioterapêutico e, em caso afirmativo, as intervenções an- teriores devem ser analisadas para que o fisioterapeuta da enfermaria possa definir a necessidade de dar continuidade ou modificar o tratamento. Outras terapias Já é do conhecimento de todos que atuam na área da saúde que o atendimento em equipe multidisciplinar é im- perativo. O fisioterapeuta necessita da intervenção de outros profissionais para que o seu tratamento resulte no efeito desejado. Para exemplificar a importância dessa integração, vamos considerar o caso de uma criança de 3 anos, com sequela de TCE, que apresenta quadro de tetraparesia e disfagia e per- manece inativa no leito da enfermaria. Ao ser avaliada pelo fisioterapeuta, observa-se a necessidade de treinamento do rolar para maior independência em explorar o meio, sedes- tação para o estímulo dos controles de cervical e de tronco, ortostatismo para auxiliar na formação óssea e esquema corporal, assim como o posicionamento adequado para mi- nimizar os riscos de broncoaspiração e consequente quadro de infecção pulmonar. É evidente que essa criança, ao iniciar o tratamento, apresentará um maior gasto energético e, por- tanto, o caso deverá ser discutido com o nutricionista para que a dieta receba as modificações necessárias para uma ade- quada oferta de nutrientes, e assim possibilitar a realização das atividades propostas. Da mesma forma, o fonoaudiólogo também tem importância crítica, pois pode promover o trei- namento da deglutição, para facilitar a alimentação, e auxiliar no combate às infecções pulmonares. É bastante comum que as crianças que não recebem esse tipo de suporte, ao inicia- rem o treinamento, fadiguem rapidamente ou apresentem quadro de emagrecimento e desnutrição. Pacientes com dificuldades para a comunicação podem se beneficiar com a intervenção do fonoaudiólogo por meio do treinamento da própria fala ou pelo uso de comunicação alternativa que vai desde pranchas de comunicação até sof- twares sofisticados. Assim, o fisioterapeuta pode intervir a partir de uma interação mais objetiva. A falta do convívio familiar, do ambiente escolar, o medo e o estresse são alguns dos fatores que facilmente podem de- sencadear distúrbios psicológicos. O psicólogo deve sempre acompanhar a criança internada para avaliação do seu estado emocional. A depressão observada em alguns pacientes inter- nados pode prejudicar ou retardar o tratamento clínico. Os pais também devem ser acompanhados para que sejam identi- ficados distúrbios que possam interferir na dinâmica familiar. A equipe da terapia ocupacional é fundamental para que, em conjunto com a fisioterapia, sejam realizadas as adapta- ções e os treinos funcionais necessários à criança, tornando-a mais independente de acordo com a faixa etária. A equipe da enfermagem auxilia na prevenção e no trata- mento de escaras, incisões cirúrgicas e cicatrizes de gastros- tomia e demais procedimentos, informações sobre imuniza- ções e data que deve ocorrer, orienta e realiza a higienização, orienta e administra medicações e monitora sinais vitais. A equipe médica constata o diagnóstico clínico do paciente por exame físico e complementa com exames la- boratoriais e de imagem, identifica a necessidade de medi- cações e as prescreve, e realiza intervenções cirúrgicas, caso necessário A equipe da assistencia social avalia as condições da família, dentro e fora do ambiente hospitalar, realizando o acompanhamento durante todo o período de internação até a preparação para a alta. Esse profissional auxiliará, por exemplo, nos casos em que há a necessidade de dietas es- peciais, exames específicos, aparelhos ortopédicos, cadeira de rodas adaptada, transferência para outras instituições e inclusão escolar. Não é difícil encontrarmos crianças em fase de alfabeti- zação que permanecem internadas por período prolongado. A internação pode interferir, de forma importante, no de- senvolvimento das funções intelectuais. Portanto, a atuação da pedagoga no hospital é de extrema importância para não ocorrer a perda do conteúdo já aprendido. A Lei n. 9.394/96 estabelece as diretrizes e bases da educação nacional e obri- ga todos os hospitais a ter ensino continuado às crianças internadas. “Tem direito ao atendimento escolar os alunos do ensino básico internados em hospital, em serviços ambulatoriais de atenção integral à saúde ou em domicílio; alunos que estão impossibi- litados de frequentar a escola por razões de proteção à saúde ou segurança abrigados em casas de apoio, casas de passagem, casas-lar e residências terapêuticas.” Assim, as equipes multi e interdisciplinares são extre- mamente importantes para que possa ser realizada a reabi- litação, contemplando de forma global as necessidades do paciente e de sua família. t Ra ta d o d e Fi si o te Ra pi a H o sp it a La R – a ss is tê n Ci a in te G Ra L a o p a Ci en te 190 bloqueios químicos No Brasil, é crescente a indicação de bloqueadores quí- micos, como toxina botulínica do tipo A ou fenolização, para diminuição de atividade muscular indesejada, e essa interven- ção vem se tornando cada vez mais frequente com a criança ainda no ambiente hospitalar. Apesar de ser uma intervenção médica, é o fisioterapeuta o responsável pelo tratamento pós- -infiltração. Portanto, o conhecimento dos mecanismos de ação, tempo de duração do efeito, tipo de bloqueador utiliza- do, bem como dos grupos musculares ou ramos nervosos in- filtrados, é importante para o direcionamento do tratamento. Demais medicações É necessário elencar os medicamentos que são admi- nistrados no paciente, pois, dependendo de sua ação, eles podem tanto interferir na efetividade da terapia quanto difi- cultar o tratamento. Pacientes em uso de anticonvulsivantes geralmente se tornam mais sonolentos poucas horas após sua administração; assim, é interessante adequar o horário da sessão de fisioterapia para que haja mais atividade e reação aos estímulos. Caso o paciente esteja internado em unidade de terapia intensiva (UTI),a utilização de drogas vasoativas, necessárias para adequar a pressão arterial, devem ser identi- ficadas e, caso o paciente esteja instável hemodinamicamen- te, a realização da fisioterapia pode ser protelada. aparelhos ortopédicos Este tópico vem ocupando espaço importante na atuação do fisioterapeuta dentro das UTIs e enfermarias em geral. Os aparelhos ortopédicos são dispositivos que exercem inúme- ras funções, como prevenir deformidades, proteger, facilitar a função e conter movimentos indesejados. Mesmo que o avaliador, durante a inspeção, não observe o dispositivo, deve questionar se a criança possui algum aparelho ortopédico, e, em caso afirmativo, deve-se investigar se sua uti- lização está sendo correta (forma de colocar, estrutura, tempo de uso, higiene). Se o paciente não for usuário de órteses, é fun- ção do fisioterapeuta verificar a necessidade de prescrição. No capítulo seguinte serão discutidas suas principais indicações. Desenvolvimento neuromotor Deve-se elencar a idade das principais aquisições mo- toras, como sustentar a cabeça, rolar na cama, sentar sem apoio, engatinhar, ficar em pé com apoio, andar, primeiras palavras, controles esfincterianos. Desenvolvimento afetivo É preciso observar o comportamento da criança, a rela- ção dela com familiares e amigos, e a sua disciplina. Desenvolvimento cognitivo Devem-se identificar as capacidades de interação com o meio e a compreensão do significado das coisas. Quando aplicável, questionar sobre o desenvolvimento da linguagem e o desempenho escolar. atividades da vida diária Consiste em um dos tópicos mais importantes da avalia- ção. Não basta apenas questionar se a criança é independen- te, semidependente ou dependente; há a necessidade de ava- liar minuciosamente cada item. É evidente que as atividades da vida diária (AVDs) clássicas, como vestuário, alimentação, higiene e locomoção, não serão abordadas em crianças de pouca idade, consequentemente, deve-se conhecer todo o desenvolvimento neuropsicomotor normal para definir quais atividades deverão ser avaliadas, dependendo da faixa etária e do grau de compreensão. exaMe FÍsICO Após a anamnese, o fisioterapeuta está apto a prosse- guir com o exame físico da criança. É fundamental que o exame se realize em um ambiente de confiança, estando o fisioterapeuta atento para detalhes importantes como lavagem e aquecimento das mãos, manutenção da mãe ou acompanhante no raio de visão da criança, explicação da finalidade dos aparelhos utilizados. Os atos de despir, trocar ou segurar o paciente deverão sempre ser realizados pela mãe ou acompanhante. Em algumas situações, no ambiente hospitalar, o grande número de procedimentos nos pacientes e o número de pes- soas ao seu redor podem interferir nessa avaliação, podendo ser necessário que esta se encerre naquele momento e seja continuada posteriormente sob condições mais tranquilas. INsPeÇÃO Neste momento, o paciente deve permanecer com pou- ca roupa. Serão feitos os registros de todas as informações importantes que, de alguma forma, podem auxiliar a carac- terizar uma determinada doença ou impactar no tratamento fisioterapêutico, por exemplo, pele (lesões cutâneas, cicatri- zes), padrão postural (PP), trofismo (Fig. 52.1), traqueosto- mia, sondas, malformações, alteração do perímetro cefálico, derivação ventriculoperitonial, reflexos patológicos (Fig. 52.2), deformidades ósseas (Fig. 52.3), entre outras. Fig. 52.1. atrofia severa de extremidades decorrente da doença de Charcot-Marie-tooth. 52 • AV A LI A Ç Ã O D O P A C IE N TE P ED IÁ TR IC O N A E N FE RM A RI A N EU RO LÓ G IC A 191 to, deve ser considerada a postura em que ela permanece a maior parte do tempo. Portanto, deve-se definir se a criança permanece deitada, sentada ou bípede e descrever detalhada- mente o posicionamento dos segmentos corporais. A Fig. 52.4 mostra uma criança com tetraparesia espásti- ca grave que permanece a maior parte do tempo no leito. O seu posicionamento levou ao encurtamento dos flexores da coxa bilateralmente, adutores e rotadores internos da coxa esquerda, evoluindo para luxação do quadril, abdutores e ro- tadores externos da coxa direita, flexores da perna e flexores plantares, bilateralmente. Fig. 52.3. Criança apresentando deformidades ósseas devidas à osteo- gênese imperfeita. Fig. 52.2. Reflexo tônico cervical assimétrico (paralisia cerebral do tipo tetraparesia espástica). A seguir serão abordados alguns tópicos que merecem atenção especial por exercerem impacto importante no tra- tamento fisioterapêutico na enfermaria. Interação e compreensão A interação e a compreensão podem estar comprome- tidas por fatores como medicação, nível de consciência e irritabilidade. No entanto, são frequentes os casos em que a criança não apresenta nenhuma condição que poderia influenciar essas funções, mas, ainda assim, não conseguem interagir com o meio ou compreender significados. As in- capacidades de interação e compreensão estão diretamente relacionadas ao déficit da função cognitiva. Sendo assim, é importante que o fisioterapeuta consiga identificar essa al- teração. Posteriormente será discutido o impacto do déficit cognitivo no desenvolvimento e tratamento das crianças. Padrão postural A partir da avaliação do PP pode-se inferir o provável desenvolvimento de lesões cutâneas, encurtamentos muscu- lares, deformidades ósseas, comprometimento respiratório, entre outros. Acreditava-se que o PP deveria ser avaliado na forma com que o terapeuta encontrava a criança, no entan- Ao final da avaliação, o terapeuta deverá definir, de acor- do com o déficit neurológico, se a criança tem ou não condi- ções de realizar a troca de posturas e tomar as medidas ne- cessárias para prevenir a instalação de alterações secundárias, como encurtamentos musculares, diminuição da capacidade cardiorrespiratória e atraso no desenvolvimento neuropsico- motor (ADNPM). Ou, ainda, se as intervenções são capazes de modificar o quadro funcional da criança, permitindo adoção de novas posturas e promovendo maior mobilidade. tipo de tórax Para observar o tipo de tórax, a criança deve estar em sedestação ou em decúbito dorsal (DD) com o tórax des- nudo. Alterações acentuadas podem acarretar alterações da mecânica respiratória. Tórax em tonel ou barril: aumento do diâmetro ânte- ro-posterior e horizontalização das costelas. Comum nas doenças obstrutivas. Tórax cariniforme (pectus carinatum): esterno pro- eminente. Pode ser congênito ou adquirido, e o raquitismo infantil é a principal causa desse tipo de tórax. Essa alteração pouco acarreta sintomas cardiorrespiratórios. Tórax infundibuliforme (pectus escavatum): depres- são no terço inferior do esterno. Pode ser congênito ou adquirido. Crianças com raquitismo podem apre- sentar esse tipo de tórax. Quando essa alteração é muito acentuada, pode levar a um distúrbio restritivo, causando dispneia e fadiga. Tórax em sino: alargamento acentuado da região inferior do tórax, comum nas grandes hepatoespleno- Fig. 52.4. padrão postural. t Ra ta d o d e Fi si o te Ra pi a H o sp it a La R – a ss is tê n Ci a in te G Ra L a o p a Ci en te 192 megalias e ascites. A criança pode apresentar padrão restritivo acompanhado de fadiga e dispneia por com- pressão dos pulmões. Tórax cifoescoliótico: é a alteração cifótica acompa- nhada da escoliose, comum em crianças com neuro- patia crônica. Essa alteração pode levar a compressão pulmonar, com perda de volumes e capacidades pulmonares, acarretando desequilíbrio na relação ventilação/perfusão e acúmulo de secreção. Deve-se tambémavaliar a existência de abaulamentos e depressões torácicas, pois podem traduzir algumas doenças cardiopulmonares. O derrame pleural, a hipertrofia de ven- trículo direito e o aneurisma de aorta podem causar abaula- mentos torácicos; já a atelectasia causa depressão. Padrão respiratório Para avaliar o padrão respiratório, a criança também deve estar em sedestação ou DD, com o tórax desnudo. Deve-se observar atentamente a movimentação do tórax e do abdome para identificar as regiões em que o movimento é mais am- plo. Em situações que cursam com o aumento do conteúdo abdominal prefere-se observar o padrão respiratório em DD para que o conteúdo abdominal não interfira na avaliação. O padrão respiratório dos neonatos e lactentes é o abdo- minal ou diafragmático, em virtude da horizontalização das costelas, diminuição da zona de aposição e imaturidade da musculatura abdominal, resultando em pequena expansibi- lidade torácica. Outro padrão respiratório é o costal ou apical, em que o movimento predominante é da parte superior do tórax. Nesse padrão há predomínio da ação dos músculos escaleno e esternocleidomastóideo. O padrão respiratório misto ou toracoabdominal é aque- le em que evidenciamos a movimentação simultânea do tórax e do abdome. Com o desenvolvimento da caixa toráci- ca e da mecânica respiratória, as crianças passam a ter esse padrão respiratório. Frequência respiratória Para avaliar a frequência respiratória de uma criança é necessário observar a expansibilidade torácica durante um minuto. O valor de normalidade varia de acordo com a idade da criança (Tabela 52.2). Apneia: é a parada respiratória por mais de 20 segun- dos ou menos, com repercussão clínica como cianose e/ou bradicardia. Pausa respiratória: é a parada respiratória por menos de 20 segundos sem repercussão clínica. Ritmo respiratório Os neonatos e lactentes apresentam um ritmo respirató- rio irregular, com pausas respiratórias. Em decorrência dessa alteração, para avaliar o ritmo respiratório dessa população é necessário observar a expansibilidade torácica durante pelo menos um minuto. Deve-se analisar a sequência, a forma e a amplitude das incursões respiratórias, e qualquer alteração em algum desses tópicos gera um ritmo anormal. Cheyne-Stokes: caracteriza-se por incursões respira- tórias profundas, atingindo amplitude máxima segui- da de apneia; essa alteração ocorre de forma cíclica. Recém-nascidos podem apresentar esse ritmo sem ter nenhuma doença. As doenças mais frequentes que levam a esse ritmo respiratório são a insuficiência cardíaca grave, o traumatismo cranioencefálico e o acidente vascular encefálico. Biot: caracterizada por uma respiração anárquica com períodos de apneia. Esse ritmo respiratório ocorre por lesão no centro respiratório e indica mal prognóstico. Kussmaul: respiração rápida com grande amplitude e ruidosa. Os pacientes com esse ritmo respiratório apresentam aumento do volume-minuto, comum em cetoacidose diabética e na insuficiência renal. expansibildiade torácica A expansibilidade torácica pode ser avaliada na inspeção, com o paciente em DD com o tórax desnudo e bem posi- cionado, evitando rotações laterais. O observador deve ficar posicionado no pé da maca e observar se a incursão torácica é simétrica e apresenta boa amplitude. Também pode ser avaliada colocando-se as mãos abaixo das últimas constelas, para identificar a expansão torácica (Fig. 52.5). tabeLa 52.2 – VaLORes De NORMaLIDaDe Da FRequêNCIa ResPIRatÓRIa De aCORDO COM a IDaDe (ResPIRaÇões POR MINutO) idade Frequência respiratória Recém-nascido 30 – 50 Lactente 20 – 30 2-12 anos 12 – 20 Eupneia: é o valor normal da frequência respiratória. Bradipneia: é a diminuição da frequência respiratória. Taquipneia: é o aumento da frequência respiratória. Fig. 52.5. avaliação da expansão torácica pode ser realizada na região anterior ou posterior do tórax, em a inspiração e B expiração. A B Qualquer doença que afete a pleura, a caixa torácica ou o pulmão pode alterar a expansibilidade torácica. Deve-se avaliar dos ápices até as bases pulmonares. A expansibilidade 52 • AV A LI A Ç Ã O D O P A C IE N TE P ED IÁ TR IC O N A E N FE RM A RI A N EU RO LÓ G IC A 193 torácica pode ser classificada em preservada, assimétrica ou diminuída. A diminuição pode ser uni ou bilateral. A diminuição unilateral na região do ápice pode traduzir um processo infeccioso, processo cicatricial e na base por derrame pleural e hepatoesplenomegalias. A diminuição difusa unilateral pode ser causada por atelectasia e derrame pleural. A diminuição bilateral pode ser causada por ascite, obesidade ou derrame pleural bilateral. sinais de desconforto respiratório Para avaliar os sinais de desconforto respiratório, é im- portante que o pacientes esteja com o tórax desnudo. Os principais sinais de desconforto respiratório são: batimento de asa de nariz – para diminuir a resistên- cia das vias aéreas, ocorre a dilatação das narinas. É um sinal de desconforto frequente nos lactentes; retrações torácicas – ocorre com frequência nos recém-nascidos devidas à pressão negativa gerada durante a inspiração na caixa torácica, que ainda é muito complacente; cianose – pode ser central (que traduz hipoxemia) ou periférica (relacionada à hipóxia). Para neonatos pode ser utilizado o Boletim de Silverman e Andersen (BSA) para quantificar o desconforto respiratório (Fig. 52.6). PaLPaÇÃO É utilizada para complementar as informações colhidas durante a inspeção. O paciente deve estar com o tórax des- nudo, e a palpação deve ser feita na região anterior, posterior e lateral do tórax. Durante a palpação é importante observar se a criança apresenta face de dor ou, no caso de crianças maiores, se relata dor. Podemos avaliar, durante a palpação, enfisema subcutâneo, sensibilidade, retrações e edemas. Assim como na inspeção, pode-se também avaliar a expansibilidade torácica por meio da palpação, sendo este mais sensível a pequenas variações. PeRCussÃO Consiste em uma técnica que avalia a propagação de ondas sonoras pela caixa torácica, partindo do princípio de que o tecido pulmonar aerado transmite de forma ressonante uma percussão gerada na superfície da caixa torácica. A per- cussão ressonante também pode ser chamada de normal ou som claro pulmonar. Em condições nas quais o pulmão apresenta excesso de ar em relação à quantidade de tecido, a percussão gera uma hipersonoridade pulmonar que ocorre nos casos de hiperin- suflação. Quando ocorre a redução ou o desaparecimento de ar nos alvéolos, haverá diminuição ou inexistência da sonoridade pulmonar, chamadas de submacicez e macicez, respectivamente. Esse fenômeno pode ocorrer nos casos de derrame pleural, atelectasia e em áreas de consolidação. O som timpânico indica aprisionamento de ar no espaço pleural ou a presença de grande cavidade intrapulmonar, sendo exemplos o pneumotórax e a caverna tuberculosa. Para realizar a percussão, é necessário que o paciente esteja com o tórax desnudo e deve estar em DD ou em se- destação. É um procedimento comparativo, sendo necessário avaliar do ápice para a base, nas regiões anterior, lateral e posterior. No tórax realiza-se a percussão dígito-digital, com os dedos posicionados entre os espaços intercostais. ausCuLta PuLMONaR É um método de extrema valia, capaz fornecer, de forma rápida, importantes informações. Porém, ao auscultar um recém-nascido, a atenção deve ser maior, pois, por ter uma parede torácica fina, o som pode se propagar e não indicar corretamente o local acometido. Alguns estudos sugerem que a ausculta pulmonar anormal referência apenas a reper- cussão acústicade alterações na passagem de ar, sem repre- sentar com acurácia a localização e o mecanismo gerador. É de extrema importância que o pacientes esteja com o tórax desnudo e a ausculta seja realizada dos ápices para as bases sempre bilateralmente, por ser uma avaliação compara- Fig. 52.6. Boletim de silverman e andersen (Bsa). Retração intercostal sincronizado declive inspiratório Balancim Marcada Marcada Marcado pouco visível pouco visível discreto audível só com estetoscópio audível sem estetoscópio sem tiragem ausente ausente ausente Retração xifoide Batimento de asa nasal Gemido expiratóriosuperior inferior 0 1 2 User Highlight Rever trecho; sem sentido. Parece faltar algo...null t Ra ta d o d e Fi si o te Ra pi a H o sp it a La R – a ss is tê n Ci a in te G Ra L a o p a Ci en te 194 tiva, e nas regiões anterior, lateral e posterior. A intensidade da compressão do estetoscópio sobre o tórax e a espessura da roupa utilizada influenciam o som auscultado (Fig. 52.7). de alta frequência. Os roncos indicam a presença de secre- ção ou colapso da via aérea proximal; estão presentes na inspiração e expiração. Os sibilos representam obstrução de vias aéreas centrais e de pequeno calibre; estão presentes na inspiração e na expiração. O atrito pleural é causado pelo deslizamento da pleural visceral sobre a parietal quando existe pleurite; é um som grave de grande duração mais intenso durante a inspiração. Um som importante na ausculta pediátrica é o estridor laríngeo, causado pela obstrução da laringe ou da traqueia, muitas vezes observado após a extubação. Para a avaliação desse ruído, o estetoscópio deve ser colocado na região an- terior do pescoço. sINaIs VItaIs A frequência cardíaca deve ser verificada durante a avaliação fisioterapêutica, e o seu valor de normalidade varia com a idade (Tabela 52.3). O aumento da frequência cardíaca, chamado de taquicardia, ocorre durante exercício físico, febre, sepse, hipoxemia entre outros. A diminuição da frequência cardíaca, bradicardia, é encontrada em casos de hipotermia e arritmia. A pressão arterial é uma variável utilizada principalmen- te em pacientes instáveis, sendo portanto pouco utilizada na enfermaria – apenas em casos de pacientes com história de hipertensão arterial, insuficiência renal e dislipidemia. Deve- -se utilizar um estetoscópio e esfigmomanômetro quando for realizada de forma manual. Seu valor de normalidade dependente da idade (Tabela 52.4). Valores acima do normal, hipertensão arterial, ocorrem nos casos de aumento da resis- tência vascular sistêmica. A hipotensão arterial, diminuição da pressão arterial, ocorre nos casos de hipovolemia, insufi- ciência cardíaca, sepse, entre outros. A perfusão periférica é avaliada pela técnica do enchi- mento capilar. Faz-se uma pressão na base da unha, de modo que a coloração passe de rosada para pálida. Retirando-se a pressão, a coloração rosada deve retomar num tempo infe- rior a três segundos. Se o tempo ultrapassar três segundos, é sinal de que a perfusão periférica está comprometida, lentificada (oxigenação/perfusão inadequadas). No frio, essa avaliação é prejudicada. Fig. 52.7. pontos torácicos para realizar a ausculta pulmonar. sequência de 1 a 10 para realizar a ausculta pulmonar, em a vista anterior, em B vista posterior e em C vista lateral do tórax, segundo de Wilkins RL 1997. A B C O som auscultado no tórax de um indivíduo normal associado a inspiração e expiração é conhecido como aus- culta pulmonar normal, ou murmúrio vesicular. Parece estar estabelecido que o som normal auscultado na inspiração seja gerado pela turbulência do ar nas vias aéreas segmentares e lobares, enquanto o som normal auscultado na expiração é gerado pela turbulência do ar em vias aéreas centrais. A Associação Internacional de Sons Pulmonares (IALS) tem recomendado a utilização dos termos roncos, sibilos (ruídos contínuos) e estertores (ruídos descontínuos) para a classificação dos sons pulmonares anormais ou adventícios. A diretriz publicada pela American Thoracic Society (ATS) e a IALS em 1997 ainda comenta sobre a possibilidade da subdivisão dos estertores em finos e grossos. Os ruídos descontínuos são classificados em estertores finos e estertores grossos. Os primeiros são produzidos pela abertura sequencial de vias aéreas anteriormente fechadas. Estão relacionados à presença de líquido ou exsudato nos alvéolos, como nas pneumonias e bronquiolite. Ocorrem no final da inspiração, são agudos, de curta duração, não se mo- dificando com a tosse, mas com a mudança de postura. Já os estertores grossos originam-se na abertura e no fechamento de vias aéreas contendo secreção viscosa e espessa; são sons graves e de maior duração. São audíveis no início da inspi- ração e em toda a expiração e sofrem alteração com a tosse. Ocorrem na bronquite crônica e nas bronquiectasias. Os ruídos contínuos são classificados em roncos, sons graves, ou seja, de baixa frequência, e os sibilos, sons agudos, tabeLa 52.3 VaLORes De NORMaLIDaDe Da FRequêNCIa CaRDÍaCa (batIMeNtOs POR MINutO) idade Mínima Média Máxima Recém-nascido 70 125 190 1-11 meses 80 120 160 1-2 anos 80 110 130 2-4 anos 80 100 120 4-6 anos 75 100 115 6-8 anos 70 90 110 8-10 anos 70 90 110 Fonte: stape et al., 1998. 1 4 5 2 3 6 2 3 6 7 109 8 5 4 1 8 5 4 1 2 3 6 7 52 • AV A LI A Ç Ã O D O P A C IE N TE P ED IÁ TR IC O N A E N FE RM A RI A N EU RO LÓ G IC A 195 tabeLa 52.4 VaLOR De NORMaLIDaDe Da PRessÃO aRteRIaL POR IDaDe (MMHG) idade Pressão sistólica p50 Pressão sistólica p95 Pressão diastólica p50 Pressão diastólica p95 até seis meses 70 110 45 60 3 anos 95 112 64 80 5 anos 97 115 65 84 10 anos 110 130 70 92 15 anos 116 138 70 95 Fonte: stape et al., 1998. FuNÇÃO PuLMONaR Os testes de função pulmonar e de força da muscula- tura respiratória são excelentes instrumentos para avaliar o grau de prejuízo respiratório nos pacientes com doenças neuromusculares e antes de grandes cirurgias, visando quantificar a gravidade de uma doença já diagnosticada e para avaliar os riscos de procedimentos cirúrgicos. Essa avaliação quantitativa, realizada precocemente, pode per- mitir qualquer intervenção clínica antes da instalação de danos pulmonares irreversíveis, permitindo, dessa forma, a diminuição da morbidade e da mortalidade precoce, uma vez que as mudanças aceleradas existentes na função pulmonar desses pacientes estão relacionadas com a dimi- nuição da sobrevida. Os parâmetros de função pulmonar que devem ser observados são a capacidade vital forçada, pressões inspira- tórias e expiratórias máximas, e o pico de fluxo expiratório. Em crianças com doenças neuromusculares, a fraqueza da musculatura respiratória, incluindo o diafragma e músculos da parede torácica, resulta em tosse ineficiente e hipoventi- lação; com isso, as bases pulmonares são pouco ventiladas favorecendo infecções. Além do mais, crianças com fraqueza da musculatura respiratória têm reduzida habilidade para tossir, tendo como consequência ineficiência para remover secreções das vias aéreas. Essa avaliação dos músculos respiratórios é realizada pela mensuração da pressão inspiratória máxima (PImáx) e pressão expiratória máxima (PEmáx), procedimento mais comum para avaliação de força produzida pelos músculos respiratórios, por tratar-se de uma técnica mais simples, sensível e com re- produtibilidade aceitável, traduzindo de forma global a força dos músculos respiratórios. A PImáx e a PEmáx, são medidas com um manovacuô-metro no nível da boca, estando a via aérea ocluída (Fig. 52.8). Devem-se avaliar a PImáx do volume residual e a PEmáx da capacidade pulmonar total. Será então solicitado ao paciente, desde que possível, um esforço inspiratório e expiratório máximo, com comando verbal para seu incentivo, sendo repetida a manobra cinco vezes para cada tipo (PImáx e PEmáx) ou até que sejam reprodutíveis as mensurações. Fig. 52.8. Manovacuômetro para medida de pimáx e pemáx. aVaLIaÇÃO NeuROFuNCIONaL É extremamente complexa e, portanto, deve ser realizada com muita atenção para que não ocorram interpretações inadequadas. Sua importância é crítica na formulação das hipóteses diagnósticas, assim como no processo de inter- venção terapêutica, pois identifica as principais dificuldades e potencialidades de cada criança. Todos os itens devem ser interpretados e correlacionados a todo o momento. amplitude de movimento É o primeiro item que deve ser avaliado, pois permitirá conhecer a amplitude de movimento (ADM) disponível para a realização dos itens que se seguem. Esse teste deve ser rea- lizado de forma passiva, lenta, e o terapeuta deve identificar limitações ocasionadas por alterações articulares (luxações, fraturas, malformações) ou por encurtamentos musculares. Sempre que houver a suspeita de envolvimento articular, é necessário a radiografia para confirmação das hipóteses. Deve-se ter conhecimento adequado das estruturas e dos movimentos de cada articulação. Crianças com tetra- paresia espástica, por exemplo, podem apresentar o padrão de adução e rotação interna da articulação do ombro; caso o avaliador não realize a rotação lateral para a avaliação da abdução além dos 90º, ele pode inferir inadequadamente que t Ra ta d o d e Fi si o te Ra pi a H o sp it a La R – a ss is tê n Ci a in te G Ra L a o p a Ci en te 196 há a limitação da ADM, no entanto, essa limitação é devida ao impacto da tuberosidade maior do úmero e do acrômio. Em relação à avaliação dos encurtamentos, os músculos devem ser colocados em posição de máximo alongamento, considerando sua origem e inserção. Quando se avaliam os membros superiores, o posiciona- mento de um membro não influencia no teste do membro contralateral. Considerando os membros inferiores, o posi- cionamento do membro contralateral interfere no teste de alguns músculos do membro avaliado. Testes específicos fo- ram desenvolvidos para que se consiga identificar, de forma adequada, possíveis encurtamentos. Todos os grupos que serão mencionados a seguir têm forte tendência a desenvolver o encurtamento pelo posicio- namento prolongado na mesma postura, ocasionado pelo déficit motor e/ou pela alteração tônica. Para facilitar a avaliação devemos iniciar com o teste do ângulo poplíteo (Fig. 52.9), que avalia os flexores da perna. A criança deve ser posicionada em DD com as coxas flexiona- das a 90º para a retificação da coluna lombar; a partir desse posicionamento, o terapeuta estende a perna e verifica o ân- gulo formado entre os segmentos da perna e a coxa. O encur- tamento desses músculos tem um importante impacto fun- cional no posicionamento no leito e na transição da postura sentada para bípede. Poderá também impossibilitar a adoção da postura bípede e, em pacientes deambuladores, impedirá Fig. 52.9. teste do ângulo poplíteo. Fig. 52.10. teste de thomas. Fig. 52.12. teste dos adutores biarticulares.Fig. 52.11. teste dos adutores monoarticulares. a extensão do joelho na fase de apoio médio e no ato de subir e descer degraus, aumentando o gasto energético. Caso os flexores da perna estejam encurtados, o teste a seguir deverá ser realizado com esse segmento para fora da maca. O teste de Thomas (Fig. 52.10) verifica o encurta- mento dos flexores da coxa e deve ser iniciado em DD com as coxas em ângulo de hiperflexão. Em seguida, o terapeuta libera o membro a ser testado, aplica uma força no sentido da extensão (veja seta na figura), e verifica o ângulo formado entre o segmento da coxa e a maca. O seu encurtamento vai impedir a extensão completa do quadril e, além das disfunções citadas no teste anterior, o encurtamento desses músculos também pode impedir o rolar e o posicionamento em decúbito ventral (DV). O teste dos adutores da coxa deve ser realizado em duas etapas. Na primeira, para avaliação dos músculos uniarticulares, o paciente deve permanecer em DD com as coxas flexionadas a 90º, e o terapeuta faz a abdução destas (Fig. 52.11). Em seguida, os membros inferiores são posi- cionados em extensão (Fig. 52.12) e é realizada a abdução para testar o grácil (biarticular). O encurtamento desses músculos vai limitar o movimento de abdução da coxa, o que interfere na higiene, no vestuário, posicionamento na postura sentada e na marcha (marcha em tesoura). Em crianças não deambuladoras é a principal causa de luxação do quadril. 52 • AV A LI A Ç Ã O D O P A C IE N TE P ED IÁ TR IC O N A E N FE RM A RI A N EU RO LÓ G IC A 197 A avaliação dos flexores plantares inicia-se com a perna flexionada para testar o músculo sóleo (Fig. 52.13); além disso, esse posicionamento inibe o padrão extensor e facilita o teste em casos de espasticidade importante. O terapeuta traciona o osso calcâneo no sentido da flexão dorsal; em seguida, mantendo a tração do calcâneo, faz-se a extensão da perna e verifica-se a amplitude dos gastrocnêmios (Fig. 52.14). O seu encurtamento vai limitar a flexão dorsal, difi- cultando a adoção da postura bípede e a marcha, em virtude da diminuição da base de apoio. Os abdutores e rotadores laterais da coxa geralmente es- tão encurtados em crianças que permanecem com os mem- bros inferiores em posição de “abandono” (Fig. 52.15). Esse teste deve ser realizado com o paciente em decúbito lateral (DL). O avaliador deve flexionar a coxa do segmento a ser testado e liberá-lo em seguida. Em caso de encurtamento, o membro inferior ficará suspenso (Fig. 52.16). O encurtamen- to desses músculos interfere no ato de rolar e, consequente- mente, na independência da criança. O teste de Ely tem como finalidade averiguar o compri- mento do reto femoral. Esse músculo é biarticular e auxilia a flexão da coxa e a extensão do joelho. O paciente é posi- cionado em DV e o terapeuta realiza a flexão da perna; caso haja o encurtamento, o quadril se eleva em virtude da flexão da coxa (Fig. 52.17). O encurtamento desse músculo dificulta principalmente as fases de balanço inicial e médio. Fig. 52.13. teste do sóleo. Fig. 52.14. teste dos gastrocnêmios. Fig. 52.15. postura de abandono. Fig. 52.16. teste de ober. Fig. 52.17. teste de ely. t Ra ta d o d e Fi si o te Ra pi a H o sp it a La R – a ss is tê n Ci a in te G Ra L a o p a Ci en te 198 tônus A avaliação do tônus em crianças consiste em uma tarefa bastante difícil e pode gerar interpretação equivocada, caso não seja feita de forma atenciosa. Um dos pré-requisitos básicos para a avaliação desse item é que o indivíduo esteja relaxado, e essa é a maior dificuldade, pois muitas crianças não conseguem ou têm dificuldade em seguir esse comando, sendo assim, não é raro a motricidade voluntária ser confun- dida com espasticidade. Para evitar esse tipo de confusão, deve-se estar atento àquilo que está sendo observado durante a avaliação. O teste do tônus deve ser iniciado com o grupo muscular em posição de máximo encurtamento, e este deve ser alon- gado rapidamente. As duas condições que podem ser encon- tradas são a diminuição do tônus (hipotonia ou atonia) e o aumento do tônus (espasticidade). A primeira podeocorrer em casos de envolvimento do sistema nervoso central, como síndrome de Down, PC do tipo atáxica e algumas malforma- ções, mas caracterizam principalmente lesões que envolvem o corpo celular do neurônio motor inferior (amiotrofia espi- nhal progressiva e poiliomielite), nervo periférico (doença de Charcot-Marie-Tooth) e músculo (distrofias de Duchenne e Becker). Nesse caso, o segmento avaliado é movimentado facilmente sem resistência ao seu deslocamento. A segunda ocorre na lesão do neurônio motor superior em qualquer parte do seu trajeto, e é caracterizada por uma resistência, ocasionada pela contração reflexa, que aparece em um ponto específico do arco de movimento e depois cede. O teste deve ser realizado e repetido até que se tenha certeza do que está sendo avaliado. Quando se observa a resistência iniciando em diferentes ângulos do arco de movimento, há a presença de motricidade interferindo no teste, assim, não é possível definir a alteração tônica. A espasticidade é identificada quando a resistência ocorre sempre na mesma angulação. Não deve haver a pre- ocupação da saturação do fuso neuromuscular em relação à repetição do teste, pois a espasticidade é devida à lesão do neurônio motor superior e só haverá sua alteração em casos de neuroplasticidade ou aumento da área de lesão. Existem várias formas de se graduar a espasticidade, sendo a escala de Ashworth modificada a mais utilizada, por sua praticidade. Deve-se lembrar sempre que a avaliação do tônus é parte de um processo complexo de investigação com o objetivo de traçar hipóteses diagnósticas. Confundir motricidade voluntária com espasticidade é inferir que a criança apresen- ta alguma doença que acomete o neurônio motor superior e, portanto, as estratégias de intervenção serão aplicadas equivocadamente. Outros sinais Outros sinais de liberação tornam-se evidentes na lesão da via corticoespinal. A presença do sinal de Babinski é considerada normal em crianças com até um ano de idade, pois as vias cortico- espinais apresentam-se ainda imaturas. Após esse período, sua permanência ou reaparecimento são indicativos de lesão. O clônus caracteriza-se por contrações rítmicas que são evocadas com o estiramento rápido do músculo testado, podendo estar presente ou não nas lesões do trato corti- coespinal. Pode ser classificado como esgotável, quando as contrações cessam, e inesgotável, quando as contrações permanecem enquanto o músculo estiver sendo estirado. Os grupos musculares que podem apresentar essa alteração são os flexores plantares, extensores da perna e flexores de punho e dedos. Destes, o clônus dos flexores plantares deve ter aten- ção especial, pois pode dificultar a aquisição e manutenção de posturas, como a sedestação e a bipedestação. Reflexos miotendíneos A percussão seca do tendão pode auxiliar no direciona- mento da avaliação neurológica, sendo a hiporreflexia suges- tiva de lesões periféricas (corpo celular do neurônio motor inferior, nervo periférico e músculo), e a hiper-reflexia indi- cativa de lesões centrais (trato corticoespinal). No entanto, essa informação nunca deve ser interpretada isoladamente, e sim em um contexto. Por exemplo, crianças com síndrome de Down apresentam hiporreflexia e não possuem compro- metimento periférico, sendo essa alteração decorrente do en- volvimento cerebelar. Da mesma forma, crianças com lesão medular aguda apresentam a fase de choque, caracterizada por arreflexia, sem comprometimento periférico. A avaliação desse item nem sempre é tarefa fácil, pois muitas crianças não permanecem relaxadas durante o exame. Reflexos primitivos Devem ser avaliados e associados à idade da criança para que possam ser identificados possíveis desvios. Sua presença além do período esperado sugere atraso do desenvolvimento motor ou pode estar relacionado com lesão estrutural per- manente das estruturas suprassegmentares. Motricidade voluntária Indiscutivelmente, este é o item mais complexo da ava- liação neuropediátrica e, portanto, deve ser realizado com extrema cautela. É a partir dele que serão identificados os principais déficits e, mais importante, as potencialidades de cada criança. A motricidade deve ser descrita da forma mais detalhada possível; para tanto, algumas especificidades devem ser estabelecidas. Nas lesões suprassegmentares podemos encontrar duas condições: a ausência de motricidade voluntária, denomi- nada plegia, e a diminuição da motricidade voluntária, uma fraqueza de origem central, denominada paresia. O termo paresia pode ser utilizado em duas condições distintas. Quando a criança apresenta a diminuição da mo- tricidade voluntária, mas consegue, mesmo com dificuldade e algumas compensações, realizar movimentos seletivos, como flexionar e estender os dedos isoladamente, utiliza-se o termo “paresia seletiva”. Caso a criança apresente algum tipo de motricidade, porém os movimentos ocorram em padrões, como ao flexionar os dedos da mão ocorra a flexão de punho, pronação e flexão de antebraço, adução e rotação interna do braço, utiliza-se o termo “paresia não seletiva”. 52 • AV A LI A Ç Ã O D O P A C IE N TE P ED IÁ TR IC O N A E N FE RM A RI A N EU RO LÓ G IC A 199 Este último deve ser empregado em um contexto ade- quado. Vamos considerar duas situações: a primeira consiste em uma criança com quatro anos de idade que apresenta um quadro de hemiparesia pós-TCE há dois meses e que não consegue realizar movimentos seletivos no membro superior comprometido; a segunda é representada por uma criança com hemiparesia como consequência de uma lesão encefáli- ca que ocorreu durante o nascimento e também não conse- gue “seletivar” os movimentos. No primeiro caso, a criança já teve experiências prévias em relação ao uso dos segmentos corporais e a incapacidade de realizar movimentos seletivos está relacionada com a gravidade da lesão. Já no segundo caso, a criança pode não conseguir realizar movimentos se- letivos por não os ter aprendido. A distinção entre essas duas situações define a estratégia a ser empregada no tratamento, pois nas crianças que não conseguem realizar movimentos seletivos pela gravidade da lesão o objetivo terapêutico é estimular o retorno da motricidade voluntária. Em contra- partida, as crianças que não têm seletividade por ainda não terem aprendido o movimento devem ser ensinadas a ativar os grupos musculares específicos em atividades específicas. A Fig. 52.18 mostra uma criança com PC que tenta alcan- çar um objeto em cima de uma cadeira. Os membros inferio- res se mantêm em padrão extensor, o que impede a aquisição da postura ajoelhada. A primeira impressão é que a criança apresenta uma paresia não seletiva, no entanto, na avaliação identificou-se que ela é capaz de contrair os flexores de coxa e perna (Fig. 52.19). Dessa forma, fica evidente que a criança ainda não aprendeu a contrair os músculos adequados para a aquisição da postura ajoelhada e, portanto, deve ser submeti- da ao treinamento (Figs. 52.20 a 52.22). Fig. 52.18. padrão extensor dos membros inferiores. Fig. 52.19. Contração seletiva dos flexores da coxa e perna. Fig. 52.20. transferência de peso para o lado esquerdo. Fig. 52.21. estimulação manual dos flexores da coxa do membro inferior direito. No entanto, não basta apenas referir que a criança apre- senta uma paresia; se faz necessário identificar os grupos musculares ativos e descrever as características do movimen- to – por exemplo, se os movimentos são realizados em toda a amplitude articular, se a motricidade voluntária proximal tem as mesmas características que a distal, se a musculatura agonista é ativada da mesma forma que a antagonista. Crianças com hemiparesia espástica podem apresentarmelhor motricidade voluntária proximal, com dificuldades em fazer a preensão e a pinça; a utilização de adaptadores facilitará a funcionalidade e estimulará a utilização desse segmento. t Ra ta d o d e Fi si o te Ra pi a H o sp it a La R – a ss is tê n Ci a in te G Ra L a o p a Ci en te 200 Fig. 52.22. Vivência da postura ajoelhada. Crianças com paralisia braquial obstétrica podem apre- sentar desequilíbrio de força muscular com predomínio dos flexores sobre os extensores de punho e dedos; essa condição interfere na capacidade de realizar a preensão forçada, e a utilização de um dispositivo que contenha a flexão de punho facilitará essa atividade. Atenção especial deve ser dispensada a uma condição bastante frequente, em que há a presença de motricidade voluntária seletiva, porém a criança não tem funcionalidade. Frequentemente, essas crianças têm o diagnóstico de PC do tipo tetraparesia por apresentar importante atraso do desen- volvimento neuropsicomotor e ser totalmente dependentes, no entanto, não apresentam déficits motores e alteração tô- nica que justifiquem essa condição. Assim, deve-se analisar a função cognitiva. Quando essa função está comprometida, a criança não consegue ou tem dificuldade em interagir com o meio ambiente. Os prejuízos da atenção e intenção, e a incapacidade de realizar associações, tornam difícil o esta- belecimento do movimento funcional. Mais detalhes sobre as intervenções terapêuticas serão fornecidos no capítulo seguinte. Crianças com lesão medular adquirida devem ser sub- metidas à avaliação dos músculos-chave para definição do nível motor. Portadores de mielomeningocele (lesão medular congênita) devem ser classificados de acordo com os níveis de lesão: torácico, lombar alto, lombar baixo e sacral. Nas lesões nervosas periféricas, há a necessidade de ava- liar os grupos musculares referentes aos ramos nervosos ter- minais: músculo deltoide (nervo axilar), músculos flexores do antebraço (nervo musculocutâneo), músculos extensores do antebraço, punho e dedos (nervo radial), músculos flexo- res de punho e dedos (nervo mediano), músculos intrínsecos da mão (nervo ulnar). No caso das miopatias, devem-se avaliar todos os gran- des grupos musculares para identificar o grau de debilidade. Nas doenças que acometem a medula espinhal, os ner- vos periféricos e os músculos, é necessária a graduação da força muscular. Essa não é uma tarefa simples, pois, além de subjetiva, depende da experiência do avaliador, que deve ter sensibilidade para perceber as diferenças entre as idades. Coordenação Os testes clínicos utilizados em adultos, como índex-ín- dex, índex-nariz e calcanhar-joelho, raramente são utilizados em crianças. No entanto, isso não é um problema, pois a simples observação é tão informativa quanto o exame clínico detalhado. Durante a observação da interação da criança com brinquedos e em outras atividades como alimentação, vestuário, postura bípede, marcha, o avaliador é capaz de identificar a dismetria, o tremor de intenção, a decomposição dos movimentos e a disdiadococinesia, alterações caracterís- ticas de comprometimento cerebelar. Movimentos involuntários São movimentos indesejados que estão presentes no re- pouso, mas se intensificam durante os movimentos voluntá- rios, estresse, irritabilidade, tensão e agitação, desorganizan- do a função motora. São indicativos de comprometimento dos núcleos da base (caudado, putâmen e globo pálido). Muitas vezes, não é uma tarefa fácil para o avaliador menos experiente identificar movimentos involuntários discretos e diferenciá-los. Para facilitar esse processo, deve-se estar atento às descrições clássicas, da coreia, atetose e distonia. sensibilidade Este teste tem como objetivo pesquisar possíveis compro- metimentos das vias de condução da sensibilidade (sistema nervoso periférico e medula), bem como sua interpretação (córtex sensitivo) para composição das hipóteses diagnósti- cas e do tratamento. Em doenças que apresentam alteração importante da sensibilidade, como a mielomeningocele, são características as lesões cutâneas, portanto, um dos objetivos importantes do tratamento é a prevenção destas. Esse teste nem sempre é possível de ser realizado, pois depende da interação entre o avaliado e o avaliador. Portan- to, bebês, crianças com déficits cognitivo, de atenção e de lin- guagem, não são capazes de fornecer informações adequadas para a interpretação do fisioterapeuta. transições entre posturas Demonstram a capacidade da criança de se deslocar de forma independente. Como no ambiente hospitalar nem 52 • AV A LI A Ç Ã O D O P A C IE N TE P ED IÁ TR IC O N A E N FE RM A RI A N EU RO LÓ G IC A 201 sempre há a possibilidade de manusear a criança fora do lei- to, o terapeuta deverá analisar a viabilidade de realizar todas as trocas posturais ou se avaliará apenas aquelas pertinentes para o momento. Quando a intervenção está restrita ao leito, o rolar, a transição entre as posturas de DD e sentada, e a própria pos- tura sentada devem ser avaliadas atentamente. O terapeuta deve identificar se a criança adota a postura de forma inde- pendente ou se há a necessidade do auxílio de terceiros. Caso a criança não seja capaz de adotar a postura, o terapeuta deve posicioná-la e verificar se permanece na posição. Muitos hospitais já apresentam ambientes que possibili- tam uma intervenção mais ampla, como são os casos das brin- quedotecas e classes hospitalares. Crianças com algum tipo de comprometimento neurológico apresentam aumentado risco de queda e, portanto, devem ser treinadas a se levantar do solo de forma independente. Nesses casos avalia-se a capacidade da criança em realizar as “posturas de gato”, ajoelhado, semia- joelhado, transição para a postura bípede e marcha. O profundo conhecimento de biomecânica e análise do movimento é necessário para o entendimento do que está dificultando ou impedindo a aquisição das posturas. É evidente que, antes de avaliar esse tópico, o fisioterapeuta deve considerar as avaliações da ADM, do tônus e da motri- cidade voluntária, para identificar quais as possíveis posturas que deverão ser analisadas. Crianças com mielomeningocele do nível lombar alto têm paralisia dos extensores da coxa e perna e, portanto, não serão capazes de adotar, de forma inde- pendente, as posturas ajoelhado e semiajoelhado; crianças com espasticidade grave não são capazes de adotar funcionalmente a “postura de gato”, tanto pelo padrão extensor dos membros inferiores quanto pelo padrão flexor dos membros superiores. bIbLIOGRaFIa ReCOMeNDaDa 1. Algranati PS. Effect of developmental status on the approach to physical examination. Pediatr Clin North Am. 1998;45:1-23. 2. Anand KJS, Hickey PR. 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