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2. CRIMES CONTRA A HUMANIDADE

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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
Por Fernanda Evlaine
[1: A imagem se chama Bloody Saturday (Sábado Sangrento). Diz respeito à batalha de Xangai, o primeiro dos muitos ataques sofridos pela China em meio a Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937-1945), quando o Japão ocupou o território chinês e posteriormente o de outros países asiáticos. ]
CRIMES CONTRA A HUMANIDADE.
1. INTRODUÇÃO E ASPECTOS GERAIS
	Os crimes contra a humanidade também conhecidos como crimes lesa-humanidade, são infrações previstas em Direito Internacional, julgados por Tribunais Internacionais. Em muitos casos, possuem tipos penais internos que lhe são análogos, mas independem da criminalização interna para sua caracterização.
	Histórico
Os crimes contra a humanidade não possuem uma convenção específica, mas pode-se dizer que surgiram no Estatuto de Londres de 1945, que criou o Tribunal de Nuremberg, que, contudo, exigia o warnexus (conexão com situação de Guerra). 
O warnexus foi primeiramente derrubado no caso DuskoTadic (1997), do Tribunal Penal Internacional pela Ex-Iugoslávia. Após isso, o Estatuto do TPI também não consignou essa exigência, sobretudo em razão do cometimento de ilícitos graves por ditaduras.
Conceituam-se como determinado ato de violação grave de direitos humanos, realizado em um quadro de ataque generalizado ou sistemático contra a população civil, havendo conhecimento desse ataque. Há atos dessa categoria que se incluem em outras categorias específicas, como tortura, experiências ilícitas com humanos, escravidão e práticas correlatas e apartheid.
Em tal caso, pratica crimes contra a humanidade quem se vale da máquina do Estado ou de organização privada para graves violações de direitos humanos, em ataques à população civil. Ataques a militares são regidos por normas de guerra.
Atenção aos requisitos do crime:
Exige intencionalidade especial – a “mens rea” se caracteriza não apenas pelo dolo mas, também pela potencial consciência da ilicitude e, “in casu”, omissão do agente; 
Olha o gancho: Teoria da Cegueira Deliberada ou Teoria do avestruz ou Willful Blindness ou ainda Ostrich Instructions (atenção para os sinônimos!!)
Conceito: A teoria da cegueira deliberada, também denominada teoria do avestruz, de origem norte-americana, está no âmbito dos crimes de lavagem de capitais e visa à tornar típica a conduta do agente que tem consciência sobre a possível origem ilícita dos bens ocultados por ele ou pela organização criminosa a qual integra, mas, mesmo assim, deliberadamente, cria mecanismos que o impedem de aperfeiçoar sua representação acerca dos fatos. Ao evitar a consciência quanto à origem ilícita dos valores, assume os riscos de produzir o resultado, daí porque responde pelo delito de lavagem de capitais a título de dolo eventual.
Origem do nome: O nome desta teoria provém de um mito: uma avestruz enterra sua cabeça na areia para que não veja ou escute más notícias, evitando assim, tomar conhecimento de fatos desagradáveis. É exatamente o que acontece com a pessoa que finge não saber que está praticando um ato ilícito; “enterra” a cabeça para não tomar conhecimento da natureza ou extensão deste ilícito.
A teoria da cegueira deliberada ou das instruções do avestruz tem exatamente por objetivo acabar com o “eu não sabia”; “eu não sei de nada”.
Essa teoria tem sido aplicada no Brasil nos crimes de lavagem de dinheiro, mas já ocorre a sua aplicação em determinados crimes eleitorais, quando, p. ex., o candidato presenteia eleitores para a obtenção de voto.
#Deolhonocasoconcreto: Um caso que ficou conhecido no Brasil, dando origem ao filme “Assalto ao Banco Central”, foi o furto no Banco Central em Fortaleza, em 6 de agosto de 2005, quando uma quadrilha furtou, através de um túnel, exatos R$ 164.755.150,00 (cento e sessenta e quatro milhões, setecentos e cinquenta e cinco mil, cento e cinquenta de reais), sendo 3.295.103 notas de cinquenta reais.
Após o furto, membros da quadrilha deslocaram-se a uma concessionária, na qual compraram 11 automóveis com R$ 1.000.000 (um milhão de reais) em espécie.
O juiz de primeira instância aplicou a teoria em análise, haja vista que pelas circunstâncias (um milhão de reais em espécie) para a compra de 11 carros, os responsáveis pela concessionária “fingiram de bobo” (passaram-se por cego) para não saber a origem ilícita do dinheiro utilizado na compra dos veículos. Em primeira instância foram condenados com fulcro no art. 1º, § 2º, inc. I da Lei 9.613/98 (lavagem de dinheiro).
Em segunda instância, os responsáveis pela venda dos veículos foram absolvidos, sob o fundamento de que a Lei de Lavagem de Capitais exige o dolo direto, e não o dolo eventual.
O ataque deverá ser dirigido a uma população civil. A ausência desse elemento impedirá o reconhecimento do crime contra a humanidade, mas a ocorrência isolada de qualquer das condutas descritas embora afaste, em tese, a competência da Corte Criminal Internacional, não afasta a possível responsabilização do Estado frente à comunidade internacional.
Tais crimes estão ligados a uma política interna do país (Estatuto do TPI, art 7.2.a), seja formalizada ou não.
	Crimes contra a humanidade são considerados crimes políticos?
NÃO! Os autores de crimes de guerra, de genocídio, crimes contra a paz e a humanidade não são equiparados aos criminosos políticos, pois tais delitos constituem uma violação não só às normas do direito interno, mas também, às normas do direito internacional. 
Assim decidiu o STF (Pedidos de extradição n. 272, 273, 274 e HC n º 44.074): 
“(...) 8) Genocídio. A ulterior tipificação do genocídio, em convenção internacional e na lei brasileira, ou de outro estado, não exclui a criminalidade dos atos descritos, pois a extradição é pedida com fundamento em homicídio qualificado. 9) Crime político. A exceção de crime político não cabe, no caso, mesmo sem a aplicação imediata da convenção sobre genocídio, ou da Lei n º 2.889/56, porque essa excusativa não ampara os crimes cometidos com especial perversidade ou crueldade (extr. 232, 1961). o presumido altruísmo dos delinqüentes políticos não se ajusta à fria premeditação do extermínio em massa”. A Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio, de 1948, é enfática: “Art. VII – o genocídio e os outros atos enumerados no art. III não serão considerados crimes políticos para efeito de extradição. As partes contratantes se comprometem, em tal caso, a conceder a extradição de acordo com sua legislação e com os tratados em vigor”.
	OLHA O GANCHO: Comissão Nacional da Verdade recomenda o aperfeiçoamento da legislação brasileira para tipificação das figuras penais correspondentes aos crimes contra a humanidade e ao crime de desaparecimento forçado.
Calma, aê!! Nem sei o que é essa tal de Comissão Nacional da Verdade, coach! 
Então segura aí que tá na hora de saber [2: Terapia: Existem easter eggs ao longo do material, você consegue encontrá-los? 	]
Comissão Nacional da Verdade – Anunciada durante o lançamento do PNDH-3, o Projeto de Lei que a institui foi aprovado em 2011. Teve como objetivo apurar violações aos direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988 – principalmente o período que correspondeu à ditadura militar (1964-1988). Trata-se de esclarecimento de fatos, não havendo viés punitivo.
O relatório final da CNV foi apresentado em dezembro de 2014 e conta com mais de quatro mil páginas. Destacam-se aqui, apenas, as medidas sugeridas de atuação:
Reconhecimento, pelas Forças Armadas, de sua responsabilidade institucional pela ocorrência de graves violações de direitos humanos durante a ditadura militar (1964 a 1985);
Determinação, pelos órgãos competentes, da responsabilidade jurídica– criminal, civil e administrativa – dos agentes públicos que deram causa às graves violações de direitos humanos ocorridas no período investigado pela CNV, afastando-se, em relação a esses agentes, a aplicação dos dispositivos concessivos de anistia inscritos nos artigos da Lei no 6.683, de 28 de agosto de1979, e em outras disposições constitucionais e legais;
Proposição, pela administração pública, de medidas administrativas e judiciais de regresso contra agentes públicos autores de atos que geraram a condenação do Estado em decorrência da prática de graves violações de direitos humanos;
Proibição da realização de eventos oficiais em comemoração ao golpe militar de 1964;
Reformulação dos concursos de ingresso e dos processos de avaliação contínua nas Forças Armadas e na área de segurança pública, de modo a valorizar o conhecimento sobre os preceitos inerentes à democracia e aos direitos humanos;
Modificação do conteúdo curricular das academias militares e policiais, para promoção da democracia e dos direitos humanos;
Retificação da anotação da causa de morte no assento de óbito de pessoas mortas em decorrência de graves violações de direitos humanos;
Retificação de informações na Rede de Integração Nacional de Informações de Segurança Pública, Justiça e Fiscalização (Rede Infoseg) e, de forma geral, nos registros públicos;
Criação de mecanismos de prevenção e combate à tortura;
Desvinculação dos institutos médicos legais, bem como dos órgãos de perícia criminal, das secretarias de segurança pública e das polícias civis;
Fortalecimento das Defensorias Públicas;
Dignificação do sistema prisional e do tratamento dado ao preso;
Instituição legal de ouvidorias externas no sistema penitenciário e nos órgãos a ele relacionados;
Fortalecimento de Conselhos da Comunidade para acompanhamento dos estabelecimentos penais;
Garantia de atendimento médico e psicossocial permanente às vítimas de graves violações de direitos humanos;
Promoção dos valores democráticos e dos direitos humanos na educação;
Apoio à instituição e ao funcionamento de órgão de proteção e promoção dos direitos humanos;
Revogação da Lei de Segurança Nacional;
Aperfeiçoamento da legislação brasileira para tipificação das figuras penais correspondentes aos crimes contra a humanidade e ao crime de desaparecimento forçado;
Desmilitarização das polícias militares estaduais;
Exclusão de civis da jurisdição da Justiça Militar federal;
Supressão, na legislação, de referências discriminatórias das homossexualidades;
Alteração da legislação processual penal para eliminação da figura do auto de resistência à prisão;
Introdução da audiência de custódia, para prevenção da prática da tortura e de prisão ilegal;
Estabelecimento de órgão permanente com atribuição de dar seguimento às ações e recomendações da CNV;
Prosseguimento das atividades voltadas à localização, identificação e entrega aos familiares ou pessoas legitimadas, para sepultamento digno, dos restos mortais dos desaparecidos políticos;
Preservação da memória das graves violações de direitos humanos;
Prosseguimento e fortalecimento da política de localização e abertura dos arquivos da ditadura militar.[3: Para aprofundamento, sugerimos a leitura: http://www.cnv.gov.br/images/relatorio_final/Relatorio_Final_CNV_Parte_5.pdf]
	ATENÇÃO! Tese Institucional da Defensoria #SANGUEVERDE
CRÍTICAS:
1. Tipificação de crimes em tratado internacional = Princípio da reserva legal: A tipificação de crimes deve ser objeto de lei em sentido formal ou estrito, o que não é o caso do Estatuto de Roma, por ser um tratado internacional. O postulado da reserva constitucional de lei em sentido formal encontra-se expresso também na CADH e no Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos. 
Em tal caso, tais argumentos dão suporte a tese da DPU de que a tipificação dos crimes contra a humanidade fere o princípio da legalidade estrita e da reserva legal, pois somente lei interna poderia prever crime ou cominar pena. A lei é a única fonte incriminadora. 
OBS: A tese lembra um pouco o entendimento que o STF utilizou para rechaçar a aplicação da convenção de Palermo para configurar o crime de Organização Criminosa antes de existir a Lei n. 12.850/13.[4: Caso emblemático que será abordado no material de Organizações Criminosas. ]
2. Novas hipóteses de imprescritibilidade penal = Entende-se que os crimes de competência do TPI não prescrevem. Entretanto, sabe-se também que somente lei interna pode qualificar-se, constitucionalmente, como a única fonte formal direta, legitimadora da regulação normativa concernente à prescritibilidade ou à imprescritibilidade da pretensão estatal de punir. 
	#TUDOJUNTOEMISTURADO
Aprofundando ainda mais a discussão sobre a prescritibilidade penal como direito de todo ser humano, pode-se fazer ligação de tal tese com o entendimento proveniente da Corte Interamericana no caso Fermin Ramirez vs Guatemala, onde a Corte decidiu que todo indivíduo possui direito ao esquecimento (Além de rechaçar juízo de periculosidade). A tese do direito ao esquecimento é corroborada pelo STF ao entender que os maus antecedentes não podem prevalecer ad eternum. 
	#ATENÇÃO O que é cláusula martens?
A clásula Martens visa proteger a população civil dos crimes contra a humanidade. Em uma guerra, os beligerantes devem ter em mente que o conflito não deve envolver a população civil. 
A cláusula recebe este nome por ter sido proposta por Fyodor Fyodorovich Martens, consultor do czar russo, na Primeira Conferência da Paz, em 1899. Segundo o preâmbulo da Convenção de Haia de 1907 sobre os Costumes da Guerra Terrestre, fixa que:
 “Até que um código mais completo das leis de guerra seja editado, as altas partes contratantes consideram conveniente declarar que, em casos não incluídos nas regulamentações por elas adotadas, os civis e beligerantes permanecem sob a proteção e a regulamentação dos princípios do direito internacional, uma vez que estes resultam dos costumes estabelecidos entre povos civilizados, dos princípios da humanidade e dos ditames da consciência pública”.
	2. CONDUTAS TIPIFICADAS
O Art. 7º do Estatuto de Roma (TPI) tipifica como crimes contra a humanidade os seguintes atos, perpetrados “no quadro de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil, havendo conhecimento desse ataque":[5: Alta incidência em prova de primeira fase]
Eugênio Aragão durante uma palestra explicou que: “estão definidos no art. 7º do Estatuto de Roma, que é o que trata do funcionamento do que institui o Tribunal Penal Internacional. No art. 7º nós temos uma definição bastante complexa porque, na verdade, o art. 7º vai fazer mais ou menos o seguinte: ele vai dar uma definição circunstancial, geral, e depois vai definir uma série de atos, basicamente doze atos, que podem constituir crimes contra a humanidade, mas dentro de um contexto. 
A contextualização está assim: crimes contra a humanidade são os seguintes atos quando cometidos como parte de um ataque extenso ou sistemático dirigido contra qualquer população civil, com o conhecimento do ataque. Então, ataque sistemático a uma população civil. É verdade que esse termo advém do direito de guerra. Ataque contra a população civil parece que é uma guerra.
 Mas o termo “ataque” está definido no § 2º, que diz: “Ataque contra uma população civil significa o curso de conduta, envolvendo o múltiplo cometimento de atos, referidos no § 1º, portanto aquele ato especificamente, contra qualquer população civil, segundo ou em apoio a uma política de Estado ou organização para cometer tal ataque”.
Percebe-se que a competência do TPI nesse aspecto é restrita, exigindo a participação do Estado ou pelo menos sua ciência, ou de organização (v.g. Rebeldes). Vejamos o que diz a Lei:
Artigo 7º
Crimes contra a Humanidade
1. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "crime contra a humanidade", qualquer um dos atos seguintes, quando cometido no quadro de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil, havendo conhecimento desse ataque:
a) Homicídio;
b) Extermínio;
c) Escravidão;
d) Deportação ou transferência forçada de uma população;
e) Prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em violação das normas fundamentais de direitointernacional;
f) Tortura;
g) Agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização forçada ou qualquer outra forma de violência no campo sexual de gravidade comparável;
h) Perseguição de um grupo ou coletividade que possa ser identificado, por motivos políticos, raciais, nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou de gênero, tal como definido no parágrafo 3º, ou em função de outros critérios universalmente reconhecidos como inaceitáveis no direito internacional, relacionados com qualquer ato referido neste parágrafo ou com qualquer crime da competência do Tribunal;
i) Desaparecimento forçado de pessoas;
j) Crime de apartheid;
k) Outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem intencionalmente grande sofrimento, ou afetem gravemente a integridade física ou a saúde física ou mental.
À vista da alínea “k”, o rol é exemplificativo.
Em seguida, o Estatuto de Roma explana:
a) Por "ataque contra uma população civil" entende-se qualquer conduta que envolva a prática múltipla de atos referidos no parágrafo 1º contra uma população civil, de acordo com a política de um Estado ou de uma organização de praticar esses atos ou tendo em vista a prossecução dessa política;
b) O "extermínio" compreende a sujeição intencional a condições de vida, tais como a privação do acesso a alimentos ou medicamentos, com vista a causar a destruição de uma parte da população;
c) Por "escravidão" entende-se o exercício, relativamente a uma pessoa, de um poder ou de um conjunto de poderes que traduzam um direito de propriedade sobre uma pessoa, incluindo o exercício desse poder no âmbito do tráfico de pessoas, em particular mulheres e crianças;
d) Por "deportação ou transferência à força de uma população" entende-se o deslocamento forçado de pessoas, através da expulsão ou outro ato coercivo, da zona em que se encontram legalmente, sem qualquer motivo reconhecido no direito internacional;
e) Por "tortura" entende-se o ato por meio do qual uma dor ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são intencionalmente causados a uma pessoa que esteja sob a custódia ou o controle do acusado; este termo não compreende a dor ou os sofrimentos resultantes unicamente de sanções legais, inerentes a essas sanções ou por elas ocasionadas;
f) Por "gravidez à força" entende-se a privação ilegal de liberdade de uma mulher que foi engravidada à força, com o propósito de alterar a composição étnica de uma população ou de cometer outras violações graves do direito internacional. Esta definição não pode, de modo algum, ser interpretada como afetando as disposições de direito interno relativas à gravidez;
g) Por "perseguição'' entende-se a privação intencional e grave de direitos fundamentais em violação do direito internacional, por motivos relacionados com a identidade do grupo ou da coletividade em causa;
h) Por "crime de apartheid" entende-se qualquer ato desumano análogo aos referidos no parágrafo 1°, praticado no contexto de um regime institucionalizado de opressão e domínio sistemático de um grupo racial sobre um ou outros grupos nacionais e com a intenção de manter esse regime;
i) Por "desaparecimento forçado de pessoas" entende-se a detenção, a prisão ou o seqüestro de pessoas por um Estado ou uma organização política ou com a autorização, o apoio ou a concordância destes, seguidos de recusa a reconhecer tal estado de privação de liberdade ou a prestar qualquer informação sobre a situação ou localização dessas pessoas, com o propósito de lhes negar a proteção da lei por um prolongado período de tempo.
Prescrição: São imprescritíveis, por costume internacional (tese do MPF) ou por constituírem jus cogens. Existe, no âmbito da ONU, a “Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos Crimes Contra a Humanidade”, que, contudo, não foi internalizada pelo Brasil. O próprio Estatuto do TPI, por sua vez, também declara a imprescritibilidade (art. 29).
Ademais, no que diz respeito especificamente ao desaparecimento de pessoas, a jurisprudência da Corte Interamericana (Caso Goiburú, v.g.) consolidou o seguinte: (a) os Estados têm a obrigação de investigar e punir esses crimes; (b) cuida-se de obrigação que emana do juscogens; (c) cuida-se de delito de execução permanente (até que se descubram os corpos). Tratando-se de delitos permanentes, não se inicia a contagem da prescrição, enquanto não cessa a permanência (CP, art. 111, III). A permanência se dá enquanto seus autores continuem ocultando o destino e o paradeiro da pessoa desaparecida e enquanto os fatos não forem esclarecidos.
Questão da prova oral do 27º CPR: Como são chamados os crimes de competência do TPI?
Em síntese, os crimes de competência do TPI são crimes de jus cogens, que se definem como aqueles que, quando cometidos, afetam valores essenciais da comunidade internacional. São crimes de jus cogens os crimes de agressão, os crimes contra a humanidade, os crimes de guerra e o crime de genocídio.
	Entrega (Surrender ou remise)
É o instituto pelo qual o Estado entrega um estrangeiro ou mesmo brasileiro para que seja julgado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia (Holanda). Previsto no Estatuto de Roma. Entrega é diferente de extradição. Extradição ocorre entre dois países soberanos. A entrega é a remessa para um órgão supranacional (o TPI).[6: Maiores informações sobre o TPI serão abordadas no material de Direito Internacional.]
Brasileiro nato pode ser julgado pelo TPI?
SIM!
Vamos lembrar? Diferenças entre deportação, expulsão, extradição e entrega:
#Dizerodireito
	DEPORTAÇÃO
	EXPULSÃO
	EXTRADIÇÃO
	ENTREGA
(surrender ouremise)
	O Estado manda embora um estrangeiro que entrou ou permaneceu no Brasil de forma irregular.
	O Estado manda embora um estrangeiro que tem comportamento nocivo ou inconveniente aos interesses nacionais.
	O Estado entrega a outro país um indivíduo que cometeu um crime que é punido segundo as leis daquele país (e também do Brasil) a fim de que lá ele seja processado ou cumpra a pena por esse ilícito.
	O Estado entrega um estrangeiro ou mesmo brasileiro para que seja julgado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia (Holanda). Previsto no Estatuto de Roma.
Entrega é diferente de extradição. Extradição ocorre entre dois países soberanos. A entrega é a remessa para um órgão supranacional (o TPI).
	Exs: passaporte vencido, visto vencido etc.
	Ex: o estrangeiro praticou um crime aqui no Brasil.
	Ex: um cidadão dos EUA lá comete um crime e foge para o Brasil.
	Ex: indivíduo praticou genocídio, crime de guerra, de agressão ou crime contra a humanidade.
	É ato de ofício do Brasil.
	É ato de ofício do Brasil.
	Depende de pedido formulado pelo outro país.
	Depende de pedido do TPI.
	É ato de competência do Departamento de Polícia Federal.
	É ato de competência do Presidente da República, podendo ser delegado ao Ministro da Justiça.
	O pedido de extradição feito por Estado estrangeiro é examinado pelo STF. Autorizado o pleito extradicional pelo STF, cabe ao Presidente da República decidir, de forma discricionária, sobre a entrega, ou não, do extraditando ao governo requerente.
	Os demais temas sobre a entrega para o TPI ainda estão em discussão, sendo o mais importante deles o seguinte:
É possível a entrega de um brasileiro nato para ser julgado pelo TPI?
1ª) SIM. A entrega de um nacional brasileiro não fere a CF/88 (art. 5º, LI) porque a entrega se dá ao TPI e não a um Estado estrangeiro. Desse modo, a entrega é diferente de extradição. O que a CF veda é a extradição de brasileiros natos (Valério Mazzuoli).
2ª) NÃO. Apesar da “diferença técnica”, formal, portanto, entre os institutos, parece evidente que, materialmente, ambos implicam o mesmo tipo e grau de constrangimento à liberdade individual (Paulo Queiroz).
Prevalece a 1ª corrente.
	O deportado é mandado para o país de sua nacionalidade ou procedência, ou para outro que aceite recebê-lo.
	O expulso é mandado para o país de sua nacionalidade ou procedência,ou para outro que aceite recebê-lo.
	A pessoa extraditada é mandada para o país que requereu a extradição.
	
	O deportado poderá reingressar no Brasil se obtiver todos os documentos necessários e ressarcir o Tesouro pelas despesas com a sua deportação, além de pagar a multa devida.
	O estrangeiro somente poderá retornar ao Brasil se o decreto que o expulsou for revogado por outro decreto.
	Segundo o entendimento do Ministério da Justiça, nada impede o retorno ao Brasil de estrangeiro já extraditado, após o cumprimento da pendência com a Justiça do país requerente, desde que não haja também sido expulso do território nacional.
	
	Como o assunto foi cobrado em provas?
1. (DPE-MS – Defensor Público/2014)
Segundo o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, dentre os “crimes contra a humanidade”, o extermínio é definido como aquele que compreende:
a) Dirigir intencionalmente ataques ao pessoal, instalações, material, unidades ou veículos que participem numa missão de manutenção da paz.
b) A privação intencional e grave de direitos fundamentais em violação do direito internacional, por motivos relacionados com a identidade do grupo ou da coletividade em causa.
c) Atacar ou bombardear, por qualquer meio, cidades, vilarejos, habitações ou edifícios que não estejam defendidos e que não sejam objetivos militares.
d) A sujeição intencional a condições de vida, tais como a privação do acesso a alimentos ou medicamentos, com vista a causar a destruição de uma parte da população.
Gabarito:[7: D, Letra pura e simples do artigo 7º, 2, “b”do Estatuto de Roma.]
2. (PGR – Procurador da República/2011)
Os crimes contra a humanidade, na definição consuetudinária:
a) Só podem ser praticados no contexto de conflito armado;
b) Prescindem o contexto de conflito armado;
c) São praticadas no contexto de um ataque extenso e sistemático a população civil;
d) Compreendem o crime de genocídio.
Gabarito: [8: B. Conforme dito antes, o termo “ataque” não quer dizer ataque de guerra/militar, mas sim a prática reiterada de qualquer uma das condutas previstas no art. 7º, I. Com relação a alternativa C, esta se encontra errada por não refletir fielmente a letra da Lei. ]

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