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OAB material extra 2 fase

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OAB 2ª FASE XVII EXAME 
Processo Civil 
Sabrina Dourado 
MATERIAL EXTRA OAB SEGUNDA FASE XVII EXAME. 
MAIS MODELOS, ROC E CASO PRÁTICO DE EMBARGOS 
 
 
CASO PRÁTICO EMBARGOS DE DECLARAÇÃO 
 
Em ação de obrigação de fazer c/c indenizatória movida por José Alfredo contra empresa 
de telefonia Fale Fácil S/A, a qual tramita no 5º Juizado Especial cível da comarca de 
Diamantina-MG, o autor requereu a retirada de seu nome dos cadastros de proteção ao 
crédito tendo em vista que fora inserido indevidamente, por falta de pagamento de serviço 
que jamais solicitara, bem como indenização por danos morais, haja vista o 
constrangimento que passou no momento em que tomou conhecimento da inclusão, 
quando fora financiar um carro em concessionária, onde teve seu crédito negado. A ação 
fora devidamente contestada e em sentença o juiz determinou a condenação do réu ao 
pagamento de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a título de danos morais, determinando a 
extinção do processo com resolução de mérito após cumprimento de sentença. 
Ocorre que, o nome do autor continuou inserido nos cadastros de proteção ao crédito, o 
que insatisfeito, de posse da intimação da sentença, para que entre com a medida judicial 
cabível. 
 
 
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO com fulcro no artigo 48 da lei 9.099/95 bem como art. 
535, inciso II e seguintes do Código de Processo Civil. 
 
Endereçamento ao 5º Juizado Especial cível da comarca de Diamantina-MG 
 
Nº do processo 
 
Qualificação reduzida (embargante e embargado) 
 
Destacar a omissão por parte do juiz, no que tange a exclusão do nome do embargante 
dos órgãos de proteção ao crédito bem como o dispositivo da sentença 
 
Destacar a suspensão do prazo para recurso. Art. 50, Lei 9.099/95 
 
Concluir requerendo o conhecimento dos presentes embargos bem como seja dado 
provimento para, pronunciar-se sobre os pontos ora embargados, seja completada a 
prestação jurisdicional. 
 
MODELO DE ROC 
 
 
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO 
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS (pode ser 
presidente de um Tribunal Superior ou mesmo um juiz federal a depender da hipótese). 
MANDADO DE SEGURANÇA... 
MÉVIO, já qualificado por ser advogado que esta subscreve nos autos do Mandado de 
Segurança impetrado contra ato do Secretário da Educação do Estado de Minas Gerais, 
vem respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, não se conformando com a 
 
 
 
 
 
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respeitável sentença de fls... Interpor, com fundamento nos artigos 105, II daConstituição 
Federal, RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL pelas razões anexas. 
Requer seja recebido o recurso no seu efeito devolutivo com a posterior remessa ao 
Egrégio Superior Tribunal de Justiça (se for Roc contra MS ou Mandado de Injunção, 
apenas no devolutivo, nos demais, duplo efeito). 
Requer a juntada da inclusa guia de preparo devidamente recolhida. 
Termos em que, pede deferimento 
Local e data... 
ADVOGADO... 
OAB... 
EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA 
RAZÕES DE RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL 
RECORRENTE... 
RECORRIDO... 
EGRÉGIO TRIBUNAL 
COLÊNDA TURMA 
 
TEMPESTIVIDADE E CABIMENTO 
(estrutura igual a da apelação) 
 
RAZÕES RECURSAIS 
1. Trata-se 
2. O Venerando acórdão de fls. Entendeu que _________________ 
3. Merece reforma 
 
PEDIDO 
 
Isto posto requer: 
(i) Seja recebido e admitido o presente recurso tendo em vista o preenchimento dos 
pressupostos de admissibilidade 
(ii) Seja recebido o recurso ordinário no seu regular efeito devolutivo 
(iii) Seja dado provimento para o fim de______________ (reforma/invalidação) 
(iv) A inversão das custas e honorários para o encargo do recorrido 
(v) A intimação do recorrido para apresentar, em querendo, contrarrazões em quinze dias. 
(vi) A intimação do Ministério Público para que se manifeste no prazo de 5 dias nos 
termos do artigo 35 da Lei 8.038/90. 
 
Termos em que, pede deferimento 
Local e data... 
ADVOGADO... 
OAB... 
 
 
DA AÇÃO DE ANULAÇÃO E SUBSTITUIÇÃO DE TÍTULOS AO PORTADOR 
 
A Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que instituiu o Novo Código Civil, inseriu 
novamente no nosso ordenamento jurídico a possibilidade de emissão de títulos ao 
portador, desde que referida operação esteja autorizada por lei especial.1 Assim como já 
ocorria no Antigo Código Civil, o Novo Código também admite a emissão de três tipos de 
 
 
 
 
 
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títulos: ao portador, à ordem ou nominativo. 
 
O título ao portador tem como características a ausência de identificação da pessoa 
beneficiária - seja porque contém a cláusula “ao portador”, seja porque se mantém em 
branco o nome do beneficiário ou do tomador que é o possuidor do título - e a 
transferência por simples tradição. 
 
O título à ordem, por sua vez, é aquele em que o beneficiário nominalmente identificado 
transfere o título por endosso que pode ser em branco (sem indicação do beneficiário no 
título) ou em preto (em que o beneficiário é expressamente designado no título) e cuja 
transferência se realiza mediante entrega do título. 
 
O título nominativo, por fim, é aquele emitido em favor da pessoa cujo nome conste no 
registro do emitente. Transfere-se o título mediante termo, em registro do emitente, 
assinado pelo proprietário e pelo adquirente, ou também por endosso que contenha o 
nome do endossatário, devendo ser feita a competente averbação em seu registro para 
que a transferência tenha eficácia perante o emitente. 
 
Ocorre que a emissão de títulos ao portador, permitida pelo Antigo Código, foi 
expressamente proibida em 1990 pelo Presidente Fernando Collor, quando passou a 
exigir a identificação dos contribuintes para fins fiscais. A partir, então, da Lei nº 8.021, de 
12 de abril de 1990, ficou vedado o pagamento ou o resgate de qualquer título ou 
aplicação, incluindo seus rendimentos e ganhos, em que o beneficiário não estivesse 
identificado2, somente sendo atualmente permitida a emissão, pagamento ou 
compensação de cheques emitidos ao portador com valor igual ou inferior a R$100,003. O 
mesmo diploma legal estabelece que as Sociedades Anônimas só podem emitir ações 
nominativas.4 
 
Além disso, a Lei nº 8.088, de 31 de outubro de 1990, passou a exigir que todos os títulos 
fossem emitidos sob a forma nominativa, sendo transferíveis apenas por endosso em 
preto, tornando, assim, inexigível qualquer débito representado por título irregular. 
Entenda-se que “título irregular”, para a referida lei, é aquele ao portador e o nominativo 
endossado em branco, sem a respectiva identificação do beneficiário5. 
 
Como essas leis até hoje ainda não foram alteradas, essa é a regra vigente. O que o 
Novo Código Civil fez foi reintroduzir a possibilidade de voltarmos a ter no nosso sistema 
os títulos ao portador, desde que seja editada lei especial que permita a emissão desses 
títulos. Enquanto isso não ocorrer, o nosso sistema admite apenas que sejam emitidos 
cheques ao portador com valor igual ou inferior a R$100,00. 
 
Apesar da sistemática vigente, é importante ainda analisar a ação de anulação e 
substituição dos títulos ao portador, tendo em vista a vigência dos artigos do Código de 
Processo Civil que disciplinam referida ação e, também, pela possibilidade reaberta pelo 
Código Civil de podermos ter novamente em nosso sistema a emissão de títulos ao 
portador. 
 
Introdução 
 
Segundo ensina José Xavier Carvalho de Mendonça, “nos títulos ao portador o subscritor 
 
 
 
 
 
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ou emissor promete a quem lhos puser à vista (ao credor), no dia do vencimento, a 
prestação neles indicada”. E finaliza: “nascem e circulam sem o nome do titular”6. Quer 
dizer, título ao portador é aquele que não traz inscritoo nome do beneficiário do crédito 
nele afirmado7. 
 
Os títulos ao portador são assim classificados em virtude do critério de circulação, pois 
são aqueles que não identificam a pessoa do seu beneficiário e, por isso, quem possuí-
los, ao tempo do vencimento, será considerado seu portador legítimo, pois a promessa de 
pagamento feita pelo emitente do título é dirigida a pessoa indeterminada8. Logo, esses 
títulos podem circular por mera tradição, como disciplina o art. 904 do Código Civil. 
 
A obrigação do emissor do título existe a partir de sua emissão e, mesmo que o título 
tenha circulado contra a sua vontade, a obrigação ainda subsiste (art. 905, § único, do 
Código Civil), podendo o detentor do título exigir o pagamento (art. 905 do Código Civil)9. 
 
A circulação do título ao portador, então, independe de relação jurídica entre o subscritor e 
o tomador, ou seja, a cadeia em que está o portador atual é a que se forma pelas 
inúmeras relações jurídicas entre os possuidores sucessivos. A relação jurídica com o 
subscritor do título existe desde a posse – quando nasce o crédito –, e a pretensão 
somente nasce com a apresentação10. 
 
O devedor só poderá opor ao portador do título exceção fundada em direito pessoal ou 
em nulidade de sua obrigação (art. 906 do Código Civil). O devedor poderá opor ao 
portador três defesas apenas: a) nulidade interna do título, como, por exemplo, 
incapacidade prescritor; b) nulidade externa do título, como na hipótese de falsificação da 
assinatura do emissor; c) direito pessoal do emitente contra o possuidor, como 
compensação, etc11. 
 
É princípio basilar do direito cambiário o princípio da autonomia das obrigações cambiais, 
segundo o qual os vícios que comprometem a validade de uma relação jurídica, 
documentada em título de crédito, não se estendem às demais relações abrangidas no 
mesmo documento12. 
 
Este princípio tem como subprincípio a inoponibilidade das exceções pessoais aos 
terceiros de boa-fé. Em virtude desse subprincípio, o executado, em virtude de um título 
de crédito, não pode alegar, em seus embargos, matéria de defesa estranha à sua 
relação direta com o exeqüente, salvo por má-fé deste13. 
 
Portanto, os vícios de consentimento, como, por exemplo, o dolo e a coação, não poderão 
ser utilizados como defesa contra terceiro de boa-fé. Opõe-se a isso a negociabilidade do 
título. O vício aproveita a quem por si ou por terceiro coagir o subscritor do documento, 
mas não atinge a declaração unilateral de vontade que, por definição mesma, não 
concerne à dupla vontade14. 
 
Com relação a quem tem autorização para emissão de título ao portador, o Código Civil, 
em seu art. 907, dispõe que é nulo o título ao portador emitido sem autorização de lei 
especial. Assim, constitui crime contra a fé pública a emissão, sem previsão e permissão 
legal, de título que contenha promessa de pagamento em dinheiro ao portador (art. 292 
do Código Penal)15. 
 
 
 
 
 
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Tendo em vista que os títulos ao portador revestem-se de características excepcionais, 
seria desagradável que esses títulos constituíssem meios de fraude ou jogo, ou fossem 
abrir concorrência com as notas bancárias e do Tesouro16. Ademais, emissões não 
autorizadas por lei representariam sérios riscos inflacionários, devendo, portanto, haver 
esse controle17. 
 
O possuidor de um título de crédito que venha a se dilacerar (danificar), mesmo se puder 
ser identificado, poderá exigir que o emitente o substitua, mediante a sua devolução e o 
pagamento das despesas havidas com a substituição, havendo, assim, a emissão de um 
novo título em duplicata, representativo da obrigação cambial18. Esta é a norma de direito 
material constante do art. 908 do Código Civil e será revista quando da análise do art. 912 
do Código de Processo Civil. 
 
Quando o título ao portador se perder ou for furtado, caberá, nas palavras de Pontes de 
Miranda, oposição ao pagamento, na forma do art. 909 do Código Civil19. Entretanto, 
apenas nos casos de perda, extravio ou desapossamento injusto do título o seu portador 
poderá, por meio da Ação de Anulação e Substituição de Títulos ao Portador (disciplinada 
pelos arts. 909 a 913 do Código de Processo Civil – que mais adiante será analisada 
pormenorizadamente), suspender os efeitos cambiários do título, impedir seu pagamento 
a outrem, e obter em juízo novo título20. 
 
Entretanto, se o subscritor pagar o título sem ter conhecimento de ação pleiteada pelo 
proprietário para obter novo título (por ter sido extraviado ou perdido), estará exonerado, a 
menos que este comprove que aquele tinha conhecimento do fato (art. 909, § único do 
Código Civil)21. 
 
Frise-se, por necessário, que, quando mais tarde for feito o comentário do art. 907 do 
Código de Processo Civil, observar-se-á, novamente, as questões constantes do art. 909 
do Código Civil, quais sejam: a reivindicabilidade do título ao portador e a anulação e 
substituição desta espécie de título. 
 
Feitas as devidas observações de direito material, passamos aos comentários dos artigos 
907 a 913 do Código de Processo Civil que contempla três ações em relação aos títulos 
ao portador: a) ação reivindicatória ou vindicatória (art. 907, I); b) ação de anulação e 
substituição de título ao portador (art. 907, II); c) ação de substituição de título ao portador 
(art. 912). Vejamos. 
 
Análise dos Dispositivos 
 
Art. 907. Aquele que tiver perdido título ao portador ou dele houver sido injustamente 
desapossado poderá: 
 
I – reivindica-lo da pessoa que o detiver; 
 
II – requerer-lhe a anulação e a substituição por outro. 
 
A norma jurídica sob comentário institui a perda ou o desapossamento injusto de título ao 
portador como causa de pedir dos pedidos de reivindicação (inciso I) ou anulação e 
 
 
 
 
 
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substituição (inciso II). Perda é sinônimo tanto de desaparecimento como de destruição 
total do título por qualquer motivo (esquecimento em algum local, incêndio, inundação, 
desabamento, etc.). Já o desapossamento injusto se traduz na idéia de furto, roubo, 
apropriação indébita ou simplesmente esbulho, mas sempre pressupondo posse 
anterior22. 
 
Apesar de a perda ser equivalente à destruição total, como acima se afirmou, quando 
houver este segundo caso a ação cabível será a de substituição de título ao portador 
(sem a necessidade de anulação – ou amortização), pois não se concebe a amortização 
de título sabidamente destruído, que não está mais em circulação, sendo necessáo, 
sendo necessaçdestruçaççmou, tuver sido furtado ()erder o trior. rio apenas uma 
declaração dessa destruição total e a substituição por outro23. 
 
Importante ressaltar que se o título ao portador houver sido totalmente destruído – o que, 
como se disse acima, equivale a sua perda –, será descabida tanto a ação de 
reivindicação (art. 907, I), ante a inexistência material do título, quanto a ação de anulação 
e substituição (art. 907, II), pois desnecessário será retificar-se a eficácia de título 
totalmente destruído24. 
 
Assim, o autor da ação apenas pleiteará a substituição do destruído por outro, cujo 
procedimento a ser observado será o comum (ordinário ou sumário, conforme o valor da 
causa), dispensando-se as formalidades do art. 90825. Caso o título seja parcialmente 
destruído, o procedimento será o disposto no art. 912, para substituição da cártula, o qual 
será comentado mais adiante. 
 
Comecemos pela ação de reivindicação (ou vindicação) de posse dos títulos ao portador. 
Antes de qualquer coisa, cumpre ressaltar que esta ação segue o procedimento especial 
referido neste Capítulo do Código de Processo Civil, e não o procedimento ordinário, 
como querem alguns autores26. 
 
Em primeiro lugar, porque está disciplinada no inciso I deste artigo,que se encontra 
disposta dentro dos procedimentos especiais e, em segundo lugar, porque a ação 
reivindicatória terá a necessidade de obedecer ao procedimento do art. 908 do Código de 
Processo Civil, onde será oportunamente discutida esta questão. 
 
O título ao portador pode ser reivindicado de qualquer pessoa que o detenha por aquele 
que o perdeu ou de quem foi furtado. Quem perde o título ou quem dele é vítima de furto 
não o transfere, na forma comum da tradição. Por isso, não há ato que informe circulação 
legal, dando possibilidade da vindicação, inclusive contra o detentor de boa-fé27. 
 
Caso haja ato efetivo do portador, transferindo o título manualmente, haverá circulação 
que, apesar de viciosa, legitima a posse de terceiro de boa-fé. Assim, se o título foi obtido 
por estelionato, apropriação indébita etc., a reivindicação é possível, mas apenas contra o 
possuidor de má-fé, já que a circulação própria do título ao portador tornou o ato perfeito 
em relação a quem ignorava qualquer vício do ato transmitido28. 
 
Tal como a ação de imissão de posse, a ação de que trata o inciso I do artigo sob 
comento é petitória, fundada no direito à posse, e não simplesmente uma ação 
possessória, como são os interditos e as ações possessórias ordinárias29. 
 
 
 
 
 
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A viabilidade da reivindicação depende invariavelmente de ser conhecida a pessoa que 
detenha o título perdido ou furtado, pois, caso contrário, o pedido de recuperação se 
mostra inadequado, sendo o autor carecedor de ação por falta de interesse30. 
 
Quando se perder o título ao portador ou quando este houver sido furtado, e não se 
souber nas mãos de quem está, se terá que matar (amortizar) o título que está (ou 
poderia estar) em circulação, declarando a sobrevivência do crédito e anulando, através 
de sentença constitutiva negativa, o título e, por fim, condenando o devedor a substituí-lo 
por outro. Será o caso, então, de ação de anulação e substituição de título ao portador31. 
 
Importante observar a impropriedade do vocábulo “anulação”. Pontes de Miranda lamenta 
que o art. 907, II haja falado em “anulação”, pois o autor não vê qualquer elemento, na 
espécie, de validade, de modo ser absurdo pensar em anulação. Afirma o mestre que em 
verdade o que ocorre é a morte da cártula32. Trata-se de retirar a eficácia do título. 
 
A norma do art. 907, II, do Código de Processo Civil, no pensamento de Pontes de 
Miranda, é apenas uma pretensão à segurança, e não uma pretensão de direito material, 
que seja a res in iudicium deducta. A pretensão é de se evitar que o título extraviado, ou 
injustamente subtraído ao portador, venha a ser pago a outrem que não o devidamente 
legitimado. Hoje, a citação é para depósito, desde logo33. 
 
Alexandre Freitas Câmara destaca que, caso quem perdeu o título ou teve sua posse 
injustamente molestada saiba com quem está a cártula, poderá optar entre a ação 
vindicatória da posse e a ação de desvitalização e substituição de títulos ao portador, 
tratando-se de um “concurso eletivo de ações”, que lhe permite livremente optar por 
qualquer uma delas. 
 
Essa observação decorre da interpretação do art. 908, I, do Código de Processo Civil, que 
prevê a citação do detentor atual do título na ação de desvitalização e substituição de 
títulos ao portador, mostrando ser possível o ajuizamento desta demanda quando é 
conhecido o atual detentor da cártula34. 
 
Não ficam abrangidas pelo disposto nesse Capítulo as ações para amortização dos títulos 
cambiários e cambiariformes, como cheque, letra de câmbio, nota promissória, etc., que 
devem sujeitar-se à disciplina das respectivas leis especiais que os regulam36. 
 
Art. 908. No caso do n. II do artigo antecedente, exporá o autor, na petição inicial, a 
quantidade, espécie, valor nominal do título e atributos que o individualizem, a época e o 
lugar em que o adquiriu, as circunstâncias em que o perdeu e quando recebeu os últimos 
juros e dividendos, requerendo: 
 
I – a citação do detentor e, por edital, de terceiros interessados para contestarem o 
pedido; 
 
II – a intimação do devedor, para que deposite em juízo o capital, bem como juros ou 
dividendos vencidos ou vincendos; 
 
III – a intimação da Bolsa de Valores, para conhecimento de seus membros, a fim de que 
 
 
 
 
 
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eles não negociem os títulos. 
 
Em primeiro lugar, devemos fazer algumas observações em razão do alcance deste 
artigo. Este artigo refere-se, apenas, à ação constante do inciso II do artigo antecedente, 
o que não é adequado. Admitindo que a referência feita pelo inciso I do art. 907 à ação de 
reivindicação do título não tenha como finalidade exclusiva dispor no plano do direito 
material para simplesmente criar uma pretensão, ou para advertir aos interessados que 
ela existe no direito brasileiro, ou, ainda, para permitir-nos a conclusão de que a ação 
reivindicatória a que o artigo anterior alude teria procedimento ordinário, impõe-se que 
consideremos a ação reivindicatória de título ao portador como uma ação especial37. 
 
Essa conclusão decorre de duas circunstâncias: a) carece das providências indicadas no 
art. 908 do Código de Processo Civil tanto aquele que tenha perdido quanto o outro que 
tenha sofrido desapossamento injusto de título ao portador; b) é perfeitamente admissível 
que a sentença, na ação de reivindicação de título, determine sua amortização e 
substituição por outro, sempre que a recuperação se torne impossível38. 
 
Aquele que for vítima de desapossamento injusto em verdade perderá o título, ficando 
exposto aos mesmos riscos a que estaria sujeito o possuidor legítimo, em caso de 
extravio. Quer dizer então que é imperativo se considerar a ação de reivindicação de título 
ao portador como ação de procedimento especial abrangida pelas disposições deste 
capítulo, pois a pretensão é comum a ambas as ações, cuja especialidade consiste nas 
medidas acautelatórias dispostas no artigo agora em discussão39. 
 
O artigo em questão traz especificamente dois requisitos intrínsecos que a petição inicial 
das ações de anulação e substituição de títulos ao portador e de reivindicação devem 
preencher. No caput ficam disciplinados alguns requisitos que a inicial deve conter, 
relativos à causa de pedir: a) quanto ao título (quantidade, espécie, valor nominal, e 
outros elementos que o individualizem, como seu número, cor, tamanho, dizeres, nome do 
devedor, etc.); b) quanto à sua aquisição (época e lugar – com precisão, se possível); c) 
quanto às circunstâncias da perda ou do desapossamento (narrativa dos fatos 
relevantes); d) quanto ao último recebimento de juros e dividendos (se recebidos), o que 
demonstra e atesta a existência do título40. 
 
Em segundo lugar, ficam disciplinados pelos incisos deste artigo dois requisitos 
concernentes à regularidade do processo e que correspondem aos requerimentos de 
citação e intimação de pessoas que sofrerão os efeitos de algumas medidas 
acautelatórias embutidas nesse procedimento especial. A falta dos requisitos do caput e 
dos requisitos dos incisos do artigo em tela pode gerar o indeferimento liminar da petição 
inicial41. 
 
Requererá o autor a citação do detentor e, por edital, de terceiros interessados (na 
medida em que sua esfera de direitos poderá ser afetada pelos efeitos decorrentes do 
eventual acolhimento do pedido formulado pelo autor), a fim de que contestem o pedido. 
O devedor será intimado para que deposite em juízo o capital (o valor do título) e os juros 
ou dividendos vencidos ou vincendos. Caso se trate de títulos negociáveis na Bolsa de 
Valores, esta também deverá ser intimada para conhecimento de seus membros, a fim de 
não negociarem o título objeto do pedido42. 
 
 
 
 
 
 
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Algumas considerações devem ser feitas no que concerne às citações e intimações 
referidas neste artigo. Só se pode cogitar da citação pessoal do atual detentor quando 
este for conhecido do demandante. Sendo desconhecido, será o caso de aplicar o art. 
231, I, do Código de Processo Civil, que determina a citação por edital do demandado 
desconhecido e incerto43. 
 
Neste caso, aproveitar-se-á o edital que será publicado para citar os terceiros 
interessados, fazendo-se num único edito a citação do detentor atual da cártula, o que 
também se fará no caso em que apenas o paradeiro, e não a identidade, do detentor atual 
for desconhecido44. 
 
Além da citação do detentor atual do título, serão citados, ainda, os terceiros 
interessados. O procedimento especial de que ora se trata é um “procedimento edital”, 
chamado assim quando não é possível a priori a determinação dos demandados, nem se 
podendo ter como certa sua existência, fazendo-se uma citação para conhecimento geral 
dos hipotéticos interessados45. 
 
É de se notar, a propósito, que os terceiros interessados, apesar do uso do vocábulo 
terceiros, são partes na demanda, são réus. Isto implica que eventual interessado que 
tome conhecimento da demanda venha a se manifestar sobre a pretensão do 
demandante através de contestação46. 
 
A lei ainda determina que se faça intimação do devedor para que deposite em juízo o 
valor da dívida. Não está estabelecendo o vencimento antecipado da obrigação, mas, 
ocorrendo o vencimento da dívida no curso do processo da ação de anulação e 
substituição de título, caberá ao devedor depositar, no próprio processo e sem maiores 
formalidades, o valor do débito, evitando-se o risco de pagar mal e ter, com isso, de pagar 
duas vezes. Logo, o devedor não é parte desse processo, por isso é que ele será tão-
somente intimado da existência do feito, para que possa, quando do vencimento, efetuar 
o depósito a que se referiu47. 
 
Há também a intimação da Bolsa de Valores para conhecimento dos seus membros do 
que se passa, a fim de não negociarem os títulos, medida ligada a pretensão à segurança 
(como se viu nos comentários do artigo antecedente). Não é a res in iudicium deducta. Se 
os membros da Bolsa de Valores negociam os títulos ao portador, a respeito dos quais há 
ação de amortização, são responsáveis perante os adquirentes, porque negociaram com 
o que não podiam negociar. Nada disso influi na relação jurídica entre o autor da ação de 
amortização e o réu. O autor pediu a intimação e ela foi feita48. 
 
Art. 909. Justificado quanto baste o alegado, ordenará o juiz a citação do réu e o 
cumprimento das providências enumeradas nos ns. II e III do artigo anterior. 
 
Parágrafo único: A citação abrangerá também terceiros interessados, para responderem à 
citação. 
 
A expressão “justificado quanto baste o alegado” demonstra a necessidade de um juízo 
de cognição sumária por parte do magistrado, ao receber a causa. Mas pode o juiz 
designar audiência de justificação, a fim de que sejam ouvidas testemunhas do autor, com 
o intuito de formar convencimento da probabilidade do êxito da ação, como condição para 
 
 
 
 
 
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que o processo prossiga, na hipótese de a prova documental não convencer o juiz 
devidamente49. 
 
Essa “justificação” se fundamenta tendo em vista a natural facilidade de circulação dos 
títulos ao portador, e qualquer tentativa de retirar sua eficácia, substituindo-o por outro, só 
poderá ser admitida em casos excepcionais. Logo, só se poderá aceitar que prossiga o 
processo iniciado pelo ajuizamento da ação de anulação e substituição de título ao 
portador se houver probabilidade de existência do direito do demandante, probabilidade 
esta que tem de ser demonstrada logo ao início do processo50. 
 
Segundo Ernane Fidélis dos Santos, a justificação que refere o artigo ora comentado é 
pressuposto de desenvolvimento válido do processo, inclusive para que se complete a 
relação processual, com as citações necessárias, é a justificação dos fatos alegados, que 
poderá fundar-se em documento, como comunicação da agência bancária, que o tinha em 
depósito, do extravio, ou em prova testemunhal, bastando o exame superficial da prova, 
ficando o juiz adstrito à possibilidade de existência dos fatos51. 
 
Entretanto, essa justificação liminar funda-se, na idéia de Adroaldo Furtado Fabrício, na 
excepcionalidade da própria ação de anulação e substituição de títulos ao portador, pois 
os princípios que presidem a teoria desses títulos baseiam-se na proteção jurídica da 
aparência, de modo que a posse de um título ao portador deve coincidir com a titularidade 
da respectiva relação de crédito nele expressa, independentemente da causa da posse. 
Então, prossegue o autor, a concessão de uma ação para anular o título, destruindo a 
presunção de legitimidade da posse e titularidade do crédito que o mesmo representa á 
sempre uma medida excepcional52. 
 
A justificação liminar deve produzir elementos capazes de dar ao julgador uma base 
razoavelmente segura a respeito da veracidade das afirmações do autor. Assim, 
certamente não deve ser considerada suficiente a “mera possibilidade” da existência dos 
fatos afirmados pelo demandante. A mera possibilidade, se fosse bastante para a 
finalidade pretendida por este artigo, reduzi-lo-ia a uma pura inutilidade, pois mera 
possibilidade é condição geral de admissibilidade de qualquer ação53. 
 
Trata-se, em face de tudo isso, de um entrave ao prosseguimento da ação, para não 
provocar insegurança no mercado de títulos mobiliários ao portador, o legislador impõe ao 
autor o dever de pré-constituir a prova de sua alegação de perda, extravio ou 
desapossamento do título, evitando a perda da característica intrínseca do título, qual 
seja, sua livre circulabilidade54. 
 
Quando o juiz verificar a ausência de interesse de agir por parte do autor, por não ter 
justificado documentalmente a necessidade de se promover a anulação e a substituição 
do título ao portador, indeferirá a petição inicial, nos termos do art. 295 do Código de 
Processo Civil55. 
 
Após a justificação liminar que exige o artigo em tela, o juiz, entendendo que foram 
suficientes as alegações trazidas pelo autor ou as informações obtidas na audiência de 
justificação, dará prosseguimento ao feito, intimando o devedor, para que deposite em 
juízo o capital, bem como juros ou dividendos vencidos ou vincendos, além da Bolsa de 
Valores, para conhecimento de seus membros, a fim de que eles não negociem os títulos, 
 
 
 
 
 
OAB 2ª FASE XVII EXAME 
Processo Civil 
Sabrina Dourado 
na forma do art. 908, II e III, conforme quer o presente artigo. 
 
O parágrafo único do artigo em questão repete a regra do art. 908, I, do Código de 
Processo Civil (que exige a citação por edital dos terceiros interessados para contestarem 
o pedido), acima comentado, pois tem a finalidade de permitir o exercício do direito de 
contestar a ação. O legislador quis deixar bem claro a possibilidade concreta de qualquer 
pessoa do povo, desde que se apresente munida em juízo do título reclamado (conforme 
art. 910 – ver infra), poder impugnar o pedido56. 
 
Art. 910. Só se admitirá a contestação quando acompanhada do título reclamado. 
 
Parágrafo único. Recebida a contestação do réu, observar-se-á o procedimento ordinário. 
 
De acordo com o caput, do referido artigo, a contestação somente será admitida quando 
acompanhada do título reclamado. Isso vale tanto para a ação de anulação e substituição 
quanto para a reivindicatória, apesar da discordância de alguns doutrinadores como 
Adroaldo Furtado Fabrício.57 
 
Isso explica-se pela necessidade de intimarem-se (ou citarem-se) os terceiros, ainda 
quando o autor da ação indique o atual detentor do título, decorrendo isso da próprianatureza desses papéis, que podem ser transferidos a qualquer momento, mesmo depois 
da citação para a ação, tornando-se legitimados os novos portadores pela simples 
circunstância da transferência da posse. Assim, mesmo quando o detentor atual seja certo 
e sabido, a citação-edital não pode ser dispensada, já que aquele citado pessoalmente 
poderia transferir a outrem o título, ao invés de trazê-lo para os autos com a 
contestação58. 
 
Tendo em vista esta peculiaridade dos títulos ao portador, faz-se necessária, então, a 
inclusão da ação de reivindicação no procedimento especial estabelecido pelo art. 907, 
que, ademais, faz expressa alusão a esta ação, devendo-se, então, utilizar a citação-
edital. E como as intimações do art. 908, II e III não dispensam a cognição liminar do art. 
909, devemos concluir que a reivindicatória exige o mesmo procedimento especial 
prescrito para a ação de anulação e substituição de títulos ao portador, não sendo o 
procedimento ordinário adequado para assegurar ao autor daquela ação a tutela 
necessitada59. 
 
Não obstante isso, importante destacar, também, que não apenas contestação poderá ser 
apresentada, mas também todas as defesas e exceções que tiverem, desde que não 
sujeitas à apresentação do título. Assim, as exceções de incompetência, de suspeição ou 
de impedimento não estariam sujeitas à regra do caput do art. 910. O que não caberá, na 
espécie, é a apresentação de reconvenção, diante da especialidade do rito. 
 
Para efeito de aplicação do referido artigo, deve-se, ainda, levar em consideração a 
possibilidade de outros interessados, também citados como réus, terem interesses 
diversos a defender, que não tenham relação com a disputa da posse. Como exemplo, 
tome-se o caso daquele que á apontado como autor da apropriação indevida do título, 
mas que já o transferiu a outrem e que, sem dúvida, tem legítimo interesse em contestar a 
ação anulatória para demonstrar a improcedência do alegado pelo promovente. Sua 
contestação jamais teria possibilidade de ser acompanhada da exibição do título.60 
 
 
 
 
 
OAB 2ª FASE XVII EXAME 
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Sabrina Dourado 
 
O mesmo ocorre com aquele que é tido, pela ação, como detentor e que, em verdade, 
nunca o foi. Sua defesa, obviamente, não poderá submeter-se à exigência do art. 910 e, 
ainda, autoriza o exercício da denunciação da lide, para garantir-se da evicção contra 
aquele de quem houve o título disputado (art. 70, do CPC).61 
 
Ainda, o emissor do título poderá contestar, independentemente da apresentação do 
título, na hipótese de pretender anulação e substituição do título já pago, que pode estar 
nas mãos do emissor (que o pagou) ou então pode ter sido por ele destruído 
legitimamente. Razoável, então, que esse, que não é parte na demanda, apresente 
contestação por ter interesse em obstar a anulação e substituição. 
 
Dessa forma, a exigência do referido artigo deve ser entendida de forma limitada apenas 
ao caso em que a contestação versar exclusivamente sobre a disputa da posse legítima 
do título. 
 
Com o recebimento da contestação, e mesmo na hipótese de ausência dessa, o rito 
passará a ser o ordinário. Frise-se que a ação prosseguirá pelo rito ordinário, mesmo em 
se tratando de reivindicatória, isso em razão de que não é mais prevista a ação 
reivindicatória de coisas móveis pelo procedimento sumário, em face da nova redação 
dada ao art. 275, inciso II, alínea a, do CPC pela Lei nº 9.245/95. Mesmo assim, ainda 
que fosse considerado o sistema revogado, não se aplicaria o art. 275, inciso II, alínea a 
(com a redação antiga) ao caso, em virtude de a conversão de rito ocorrer durante o 
trâmite da ação, não sendo permitido ao autor o preparo da prova como exigido pela lei 
(art. 276, do CPC).63 
 
Art. 911. Julgada procedente a ação, o juiz declarará caduco o título reclamado e 
ordenará ao devedor que lavre outro em substituição, dentro do prazo que a sentença Ihe 
assinar. 
 
Julgado procedente o pedido anulatório, a sentença conterá dois provimentos: declarará 
caduco o título reclamado e ordenará ao devedor que lavre outro em substituição. 
 
A declaração de caducidade é determinada sem fazer-se distinção entre as hipóteses de 
título totalmente desaparecido e de apreensão desse junto com a contestação. Quanto à 
segunda hipótese, Pontes de Miranda a ressalva, para admitir que, estando a cártula em 
juízo, não haveria necessidade de invalidá-la para posteriormente expedir-se outra, 
bastando a autorização do juiz para desentranhá-la dos autos.64 Já Adroaldo Furtado 
Fabrício entende que o juiz não pode eximir-se da imperatividade do comando legal em 
qualquer situação, sob pena de julgar o pedido extra peitita e contra legem.65 
 
A tese mais plausível parece a de Pontes de Miranda considerando-se o caráter finalístico 
e instrumental do processo. Não se pode conceber que a letra de um dispositivo formal 
sobreponha-se à utilidade que as partes ou a sociedade esperam da tutela jurisdicional. 
Nesse sentido, afirma Humberto Theodoro Júnior: 
 
As normas instrumentárias não podem, à evidência, transformar-se em obstáculo à 
realização do direito material e em veículos de complicação e eternização dos litígios. Sua 
função e sua destinação, sem dúvida, são a pronta pacificação das lides.66 
 
 
 
 
 
OAB 2ª FASE XVII EXAME 
Processo Civil 
Sabrina Dourado 
 
Assim, a norma deve ser compreendida no sentido de que, primordialmente, sua função é 
constitutiva, exercida pela anulação da cártula extraviada, sendo que essa função 
somente prevalecerá enquanto não estiver ao alcance do autor a posse física do título, 
pois, se essa for possível, ocorrerá então a reintegração do documento primitivo em sua 
esfera de disponibilidade, sem a necessidade de se recorrer à criação de outro título. 
 
Na realidade, portanto, não há falta de lógica alguma em considerar-se a pretensão de 
recuperação in natura do título extraviado como compreendida subsidiariamente dentro da 
pretensão de anulá-lo para constituir-se novo exemplar. Assim como não deve considerar-
se julgamento extra petita a ordem judicial de entrega ao autor do título depositado pelo 
réu ao invés de ordenar, ao enseja da procedência da ação, que outro seja expedido em 
seu lugar. 
 
Quanto aos óbices à circulação do título extraviado, decorrentes de intimações feitas ao 
devedor e à Bolsa de Valores (art. 908, incisos I e II), não representam empecilho à 
medida, porque são facilmente removíveis por meio de simples contra-intimação. 
 
O devedor, estranho à relação processual, jamais responderá pelos encargos da 
sucumbência. Somente pagará custas e honorários advocatícios aquele que vier a 
contestar e for derrotado, ou contra o autor, se o seu pedido for julgado improcedente. 
 
Não sendo o devedor réu na ação anulatória, a ordem que o juiz expede, na sentença, 
para que o título extraviado e anulado seja substituído, não tem natureza de condenação, 
sendo apenas um reconhecimento da existência de uma obrigação legal. Por essa razão, 
não há que se pensar em ação de execução. O eventual descumprimento da sentença 
não será diverso do que ocorre com as obrigações em geral, uma vez definida em juízo 
(art. 475-N, inciso I, do CPC). Apenas autorizará o autor a se valer das medidas 
adequadas ao cumprimento das obrigações de fazer, sob feitio cominatório, além da 
possibilidade de perdas e danos (art. 475-I, do CPC). 
 
O exercício dos direitos creditícios em face do devedor, originados do título extraviado, 
não depende da recriação da cártula. Assim que o título ao portador é anulado por 
sentença, constitui-se, automaticamente, o direito do promovente à cobrança da 
prestação devida, até então só exigível mediante a apresentação da cártula, e que a lei 
permite, agora, fazer-se sem risco para o devedor e independentemente de exibição do 
título (arts. 905 e 909, parágrafoúnico, do CC). 
 
Não há também que se falar em recriação do título quando seu vencimento ocorre no 
curso do processo e o seu valor é consignado em juízo. Após efetuada a anulação por 
sentença, o único interesse do credor é o levantamento da quantia depositada pelo 
devedor. 
 
Art. 912. Ocorrendo destruição parcial, o portador, exibindo o que restar do título, pedirá a 
citação do devedor para em 10 (dez) dias substituí-lo ou contestar a ação. 
 
Parágrafo único. Não havendo contestação, o juiz proferirá desde logo a sentença; em 
caso contrário, observar-se-á o procedimento ordinário. 
 
 
 
 
 
 
OAB 2ª FASE XVII EXAME 
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Sabrina Dourado 
Quando o título ao portador, seja por qual motivo for, é destruído, fico o possuidor em 
situação análoga à do extravio, já que não dispõe do instrumento indispensável à 
cobrança da prestação. Essa destruição física do título pode ser total ou parcial. No 
primeiro caso, a situação será tratada como se tivesse ocorrido furto ou perda, segundo o 
rito especial dos arts. 908 a 911.71 No segundo, a posição do credor é de quem ainda 
pode demonstrar a posse da cártula, seja com fragmentos ou resíduos disponíveis. Para 
essa última situação, há procedimento especial, disposto no art. 912. 
 
Demonstrada ao devedor a adulteração da cártula, o natural seria que a substituição 
ocorresse de forma voluntária, no entanto, na ocorrência de resistência, ficará configurada 
uma lide suficiente para instaurar o processo. A relação processual, no entanto, não 
envolve terceiros, pois o remanescente do título é a prova da posse pelo autor, que exclui 
a citação de terceiros interessados e restringe a relação jurídica a quem pretende a troca 
do título danificado e a quem resiste a essa pretensão. 
 
Cumpre ressaltar que o julgador deverá estar atento para a caracterização do interesse de 
agir na demanda proposta: na ação de recartulação, somente estará configurado o 
interesse de agir se o autor demonstrar ter havido recusa do réu em emitir novo título em 
substituição àquele danificado. 
 
Para a solução do litígio, o portador deverá exibir, com a inicial, o que ainda resta do título 
e promoverá a citação do devedor para, em 10 dias, substituí-lo ou contestar a ação. Com 
a contestação, o feito prossegue segundo o rito ordinário, mas, em caso de inércia 
durante o decêndio legal, o juiz desde logo proferirá sentença, acolhendo o pedido do 
autor. 
 
Note-se que o fragmento do título é indispensável à instrução da petição inicial. Isso se 
deve ao fato de que esses fragmentos devem ao menos permitir a identificação da 
cártula, sob pena de a parte principal dessa ainda estar em circulação, legitimando outrem 
a exigir sua recuperação frente ao devedor. Mas se a parte desaparecida é tão grande a 
ponto de absorver os elementos principais da cártula, o procedimento adequado não será 
o do artigo em questão, mas o do art. 908 a 911, referentes a perda ou desapossamento 
injusto. 
 
A sentença que acolher o pedido de substituição será de natureza eminentemente 
condenatória, impondo ao réu que, em prazo determinado pelo juiz, troque o título 
danificado por outro equivalente. O título novo deverá ter as mesmas características e 
teor do substituído, já que não se trata de obrigação nova, mas de reinstrumentação74 da 
antiga. Em caso de inadimplemento, admitir-se-á a execução forçada, nos moldes das 
obrigações de fazer. A situação, portanto, será diversa da ação de perda e 
desapossamento injusto, em que o devedor não é parte e não sofre, por isso, uma 
condenação propriamente dita. 
 
Com relação à sucumbência, responderá o devedor sempre que o pedido for acolhido em 
juízo. Mesmo ocorrendo a situação de não contestação e substituição dentro do prazo de 
resposta, a hipótese será de sucumbência, pois determinado comportamento significa o 
reconhecimento do pedido por parte do réu. O devedor somente conseguirá eximir-se de 
arcar com a sucumbência se contestar a ação alegando falta de interesse por ausência de 
prévia manifestação pessoal junta a ele. 
 
 
 
 
 
OAB 2ª FASE XVII EXAME 
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Art. 913. Comprado o título em bolsa ou leilão público, o dono que pretender a restituição 
é obrigado a indenizar ao adquirente o preço que este pagou, ressalvado o direito de 
reavê-lo do vendedor. 
 
Da leitura do artigo, é possível cogitar-se duas situações: a) o autor, quando ingressa com 
a ação, já possui conhecimento de que o título foi adquirido em bolsa ou leilão pelo réu e 
desde logo prontifica-se ao reembolso do preço por este pago; b) o autor só vem a ter 
conhecimento dessa situação quando o réu opõe ao pedido a alegação correspondente. 
 
Na primeira hipótese, não há empecilho em o autor depositar, desde logo, a quantia que 
tenha de pagar ao réu, antecipando-se a defesa desse. Esse mesmo depósito pode ser 
sempre realizado, sempre com caráter incidente, a qualquer momento do processo 
vindicatório. Seja como for, o depósito do autor constitui mera faculdade, sendo-lhe lícito 
aguardar a execução. 
 
Na segunda hipótese, ignorando o autor a situação, após demonstrada pelo réu a 
condição em que adquiriu a cártula, não havendo pagamento ou depósito por parte do 
autor, a sentença será de procedência, tomando a forma de condenação condicional. 
 
MODELO: 
 
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA ____ª VARA CÍVEL DA COMARCA 
DE (XXX) 
 
 
 
Autos nº 
 
 
NOME DO REQUERENTE (ou Autor, Demandante, Suplicante), (Nacionalidade), 
(Profissão), (Estado Civil), portador da Carteira de Identidade nº (xxx), inscrito no CPF sob 
o nº (xxx), residente e domiciliado à Rua (xxx), nº (xxx), Bairro (xxx), Cidade (xxx), Cep. 
(xxx), no Estado de (xxx), por seu procurador infra-assinado, vem à presença de V. Exa., 
propor 
 
AÇÃO DE ANULAÇÃO E SUBSTITUIÇÃO DE TÍTULOS AO PORTADOR 
 
em face de NOME DA REQUERIDA (ou Réu, Demandada, Suplicada), empresa com 
sede à Rua (xxx), nº (xxx), Bairro (xxx), Cidade (xxx), Cep. (xxx), no Estado de (xxx), 
 
 
 
 
 
OAB 2ª FASE XVII EXAME 
Processo Civil 
Sabrina Dourado 
pelos motivos que passa a expor: 
 
1. É possuidor de (xxx) ações representativas do capital da Requerida, ações ao 
portador, cada uma do valor nominal de R$ (xxx)(valor expresso), emitidas em 
(xx/xx/xxxx), de números (xxx), (doc. 1). 
 
2. Vinha recebendo regularmente os respectivos dividendos, os últimos em 
(xx/xx/xxxx).Esses últimos, que se encontravam em (xxx)(indicar local), perderam-se 
(indicar a forma da perda). O requerente tomou as providências que lhe pareceram úteis 
(doc. 2/4). 
 
3. Diz o artigo 907 do Código Processo Civil: 
 
Aquele que tiver perdido título ao portador ou dele houver sido injustamente desapossado 
poderá: 
I - reivindicá-lo da pessoa que o detiver; 
II - requerer-lhe a anulação e substituição por outro. 
 
4. Em sede jurisprudencial é o mesmo entender: 
APELAÇÃO CÍVEL 0026405.91 DF DATA DE JULGAMENTO: 24.06.93 Órgão Julgador: 
SEGUNDA TURMA CÍVEL RELATOR: RELATOR DESIGNADO: DESEMBARGADOR 
VALTENIO MENDES CARDOSO Publicação no Diário da Justiça - Seção II / Seção III 
DATA: 15.09.93 - PÁGINA: 37.944 - INFORMA JURÍDICO VERSÃO 12 N.65374 
 
Pelo exposto, REQUER: 
 
- A citação, por edital, do eventual detentor e dos terceiros interessados para responderem 
à ação. 
- A intimação da devedora, para que deposite em juízo os juros e dividendos vencidos e 
vincendos. 
- A intimação da Bolsa de Valores, para conhecimento de seus membros, a fim de que não 
negociem os títulos. 
 
 
 
 
 
 
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Por fim, as medidas supra, justificando que está, através dos documentos n°s (1/4), o fato 
alegado. Todavia, se este respeitável juízo acharpor bem apresentação de novos 
elementos, pede que sejam ouvidas as testemunhas abaixo arroladas. 
 
Pede a final que, declaradas caducas as referidas ações, V. Exa. se digne de ordenar 
à Requerida, que lavre outras, em substituição às perdidas. 
 
Protesta-se por prova pericial, documental e oral. 
 
Dá-se à causa o valor de (xxx)(valor expresso). 
 
Termos que, 
Pede deferimento. 
 
(Local, data, ano) 
Advogado 
OAB 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Processo Civil 
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AÇÃO DE DIVISÃO E DEMARCAÇÃO DE TERRAS 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Desde o antigo direito romano o proprietário pode utilizar-se de duas ações para 
individualizar seu bem imóvel, a actio finium regundorum denominada ação de 
demarcação e a actio communi dividundo denominada ação de divisão. 
 
O presente artigo tem como objetivo abordar os principais características e requisitos da 
ação de divisão de terras particulares através de uma analise teórica de sua aplicação 
dentro do sistema jurídico brasileiro. 
 
 Serão abordadas na presente pesquisa bibliográfica, as noções gerais de divisão, 
previsão legal, a natureza jurídica da ação de divisão, competências para julgar a ação, 
objetivo e cabimento da ação de divisão, a legitimidade ativa, a legitimidade passiva, a 
possibilidade de cumulação de demanda entre as ações de divisão e demarcação de 
terras particulares, as duas fases da ação de divisão, os requisitos especiais da petição 
inicial da ação de divisão, como é realizada a citação na ação de divisão, o prazo para 
contestação e a execução material da divisão. 
 
Tendo em vista a importância que tem a ação de divisão de terras particulares, para 
sistema jurídico brasileiro, uma vez que ela é o instrumento processual fundado no direito 
material do condômino de exigir a individualização de seu imóvel, em virtude da 
característica de exclusividade do seu direito de propriedade, extinguindo a comunhão 
existente, uma vez que ninguém pode ser obrigado a viver em comunhão contra sua 
própria vontade. 
 
O Código Civil de 2002 expõe no seu art.1320 que “a todo tempo será lícito ao condômino 
exigir a divisão da coisa comum, respondendo o quinhão de cada um pela sua parte nas 
despesas da divisão”. 
 
Desse direito nasce à ação de divisão, que para se exercido efetivamente deverá seguir 
os procedimentos especiais previstos nos artigos 967 a 981 do código de processo civil. 
Fazendo-se necessário para uma boa aplicação da norma jurídica que se conheça as 
suas principais característica e requisitos, em que serão os objetos da presente pesquisa. 
 
2 DESENVOLVIMENTO 
 
2.1 Noções Gerais 
 
O mais amplo dos direitos reis regulado pelo direito brasileiro é sem dúvida o direito de 
propriedade. Em que uma das principais características é a exclusividade, tendo o 
proprietário à faculdade de usar, gozar e dispor da coisa bem como o de reavê-la do 
poder de quem injustamente a possua ou detenha (Código Civil de 2002, art. 1228). 
 
Desde o antigo direito romano o proprietário pode utilizar duas ações para individualizar 
seu bem imóvel, a actio finium regundorum denominada ação de demarcação e a actio 
communi dividundo denominada ação de divisão.Para Humberto Theodoro Junior. 
 
 
 
 
 
 
OAB 2ª FASE XVII EXAME 
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Sabrina Dourado 
É o caráter de exclusividade e absolutismo do domínio, sem embargos das tendências 
restritivas e socializantes direito moderno, que inclui e mantém no poderes do proprietário 
o de forçar a demarcação do seu prédio ou a divisão do prédio comum, pois tanto a 
incerteza dos limites como a comunhão criam embaraços sérios e indesejáveis ao 
exercício completo das faculdades inerentes ao direito de propriedade que não podem 
persistir sempre que o dono se disponha a usufruir plenamente seus direitos subjetivos 
sobre o imóvel[1]. 
 
 No Código Civil de 1916 no que dispunha o art. 527, esses poderes que configuram o 
domínio do ponto de vista jurídico erram exclusivos e ilimitados, até prova em contrário, 
mas com advento da criação da Constituição de 1988, que veio no seu art. 5ºXXIII limitar 
a propriedade a sua função social, o Código Civil de 2002 veio a adequar-se a essa 
limitação. Mas apesar dessas limitações “a propriedade presume-se plena e exclusiva até 
que se prove o contrário” (Código Civil de 2002 art.1231). 
 
Para que esse direito possa ser exercido dentro de sua plenitude, é necessário que ele 
possa ser individualizado, para isso é assegurado no art.1320 do Código Civil de 2002 
“que a todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão da coisa comum, respondendo 
o quinhão de cada um pela sua parte nas despesas da divisão”. 
 
Notasse a imprescritibilidade da ação divisória, pois a divisão poderá ser promovida a 
qualquer tempo, sendo o estado condominial transitório, pois ninguém é obrigado a 
permanecer nele, desde que a coisa comum não seja indivisível. A esse respeito, Luiz 
Rodrigues Wambier explica: 
 
O requisito essencial da ação de divisão é que o imóvel seja divisível. Se for indivisível 
por determinação legal (como, por exemplo, dispõe o art. 65 da Lei 4504/64 - Estatuto da 
Terra, que proíbe a divisão de imóvel em áreas de dimensão inferior ao modulo rural) ou a 
divisão torná-lo imprópria ao seu destino, a solução será a adjudicação do imóvel a um só 
condômino, ou a venda, repartindo-se o preço (art.1322 do Código Civil de 2002) [2]. 
 
Caso seja proposta a ação de divisão para imóveis indivisíveis, o processo será extinto 
sem resolução do mérito, por não haver interesse de agir. Outro aspecto importante 
apontado por Marcos Vinicius Rios Gonçalves (2010, v2, p 296) é que a ação de “divisão 
trata exclusivamente da divisão de terras particulares. As devolutas, bens públicos 
dominicais, deverão ser objetos das ações discriminatórias, tratadas pela lei n.6383/76”. 
 
“Pode os condôminos acordar que a coisa fique indivisível por prazo não maior que cinco 
anos, suscetível de prorrogação”, finalizando o prazo poderá ser exigido a divisão, mesmo 
que só um condômino a queira (parágrafo 1º do art. 1320). 
 
Caso a indivisão seja estabelecida por atos inter vivos (doação) ou causa mortis 
(testamento ou legado) não poderá exceder o prazo de cinco anos (parágrafo 2º do art. 
1320), que cuida para que a indivisão não perca seu caráter de transitoriedade. 
 
Porém existindo graves razões, e a requerimento de qualquer dos interessados, poderá o 
juiz determinar a divisão da coisa comum antes do prazo convencionado (parágrafo 3º do 
art.1320). 
 
 
 
 
 
 
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2.2 Da previsão legal 
 
 As ações de divisão de terras particulares são tratadas no Código de Processo 
Civil, dentro, no capítulo VIII. Os primeiros artigos 946 a 949 cuidam das disposições 
gerais, das ações de demarcação e de divisão. Os procedimentos específicos da ação de 
divisão estão expressos nos artigos 967 a 981. 
 
2.3 Natureza jurídica da ação de divisão 
 
 Existem controvérsias a respeito da natureza jurídica das ações de demarcação e 
de divisão. Alguns autores afirmam que ação de demarcação não constitui um direito real, 
mas uma obrigação que decorre do direito de vizinhança, de natureza propter rem. Mas 
em função de repercutir sobre a propriedade, devem ser tratadas como uma ação real. E 
o mesmo vale para a ação de divisão, que repercutirá sobre o domínio do imóvel. 
 
Humberto Theodoro Junior defende a idéia de que “ações de divisão e demarcação, do 
ponto vista civilístico, tendo seu fundamento em um direito real, a suas naturezas devem 
corresponder a deste direito”. Lembrando que nas ações reais o autor deverá agir 
mediante anuência de seu cônjuge (art. 10 do CPC), e o mesmo acontece nas ações de 
divisão.Discute-se ainda se sua natureza é declaratória ou constitutiva o artigo 631 código civil 
1916 afirmava que erra declaratória e não atributiva de propriedade, apesar do novo 
código 2002 nada dispor sobre o assunto entende-se que nada mudou a respeito, pois os 
condôminos antes da divisão já são proprietário. 
 
2.4 Competência 
 
 No âmbito internacional “compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão 
de qualquer outra conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil” (art.89 do 
CPC).O artigo 95 do CPC afirma que “Nas ações fundadas em direito real sobre imóveis é 
competente o foro da situação da coisa ou. Não podendo o autor optar pelo foro do 
domicílio ou de eleição, quando o litígio recair sobre direito de propriedade, vizinhança, 
servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova”, sendo o 
forum rei sitae uma regra de competência absoluta. Caso o imóvel esteja situado em mais 
de uma comarca, a competência será dada pela prevenção, observado o disposto no 
artigo 219 do CPC. 
 
2.5 Objetivo e cabimento da ação de divisão 
 
O objetivo da ação de divisão, exposto no art. 946, II, do CPC é obrigar os demais 
consortes, a partilhar a coisa comum, transformando a cota parte de cada um em uma 
parte concreta, determinada e individualizada, extinguindo assim a comunhão existente e 
tornado certo o quinhão de cada um. Cabendo ao condômino que queira a partilhar a 
coisa comum. 
 
2.6 Da legitimidade ativa 
 
Poderá ser exigida a divisão da coisa comum por qualquer dos condôminos, 
 
 
 
 
 
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independente da anuência dos demais condôminos, da opinião da maioria ou da extensão 
da sua cota parte. 
 
O que se discute é se apenas o proprietário pode requerer a divisão ou se ela pode ser 
requerida por outros titulares de direito reais e ao possuidor, ensina Marcos Vinicius Rios 
Gonçalves (2010, v2, p 300 -302), “que a divisão pode ser requerida por titulares de 
outros direitos reais, ou pelo possuidor. Não se trata da divisão da propriedade, mas dos 
direitos correspondentes ou da composse”. 
 
 Humberto Theodoro Junior ensina ainda: 
 
O condômino que tem a faculdade de requerer a divisão é ordinariamente, aquele que se 
apresenta como titular de direito de propriedade sobre terras comuns. Mas não é 
somente o titular do direito pleno e integral [...]. 
É claro, porém, que os titulares de direitos reais limitados, assim como os possuidores só 
são legítimos para postular a divisão quando apresentam sua pretensão em face de 
outros titulares de igual direito ou situação jurídica sobre o imóvel dividendo. Só há 
condomínio ou co-propriedade, para efeito de autorizar a divisão quando todos os 
consortes se apresentam em situação jurídica homogênea, detendo direitos iguais. 
Um usufrutuário tem, assim, legitimidade para postular a divisão do imóvel usufruído, 
desde que o faça perante outro co-usufrutuário. Jamais a de se pensar que o enfiteuta 
possa querer dividir o imóvel, sobre que recai seu direito real, com o senhorio. Entre eles 
não há relação de co-propriedade, posto que seus direitos são diverso e necessariamente 
devem coexistir[3]. 
 
2.7 Legitimidade passiva 
 
No pólo passivo da ação de divisão proposta por um dos condôminos, figurão os demais 
consortes, sendo necessária a citação de todos os condôminos, o artigo 967 exige que a 
petição inicial seja elaborada contendo o nome, o estado civil, a profissão e a residência 
de todos os condôminos, especificando-se os estabelecidos no imóvel com benfeitorias e 
culturas, além das benfeitorias comuns. 
 
Más nada impedem que sejam intimados terceiros com interesse na causa, pois se 
tiverem benfeitorias indenizáveis podem entrar com embargos que podem suspendes a 
execução ou provocar novo processo. 
 
2.8 Cumulação de demandas 
 
 É lícita a cumulação das ações de demarcação e divisão, caso em que deverá 
processar-se primeiramente a demarcação total ou parcial da coisa comum, citando-se os 
confinantes e condôminos (art. 947 do CPC). Segundo Marcos Vinicius Rios Gonçalves: 
 
A cumulação pressupõe um imóvel com mais de um proprietário, cujas divisas com o 
imóvel vizinho não estejam claramente estabelecidas ou precisem ser aviventadas. 
Haverá por parte dos condôminos dois interesses distintos. O primeiro é que o imóvel 
comum seja estremado do vizinho, e de que as divisas fiquem estabelecidas. O segundo 
é que a coisa comum seja dividida. O curioso é que o réu da demarcação e da divisão 
não são os mesmos. Por isso determina a lei que se processe primeiro a demarcação. 
 
 
 
 
 
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Deve ser citado o proprietário do imóvel vizinho para ocupar o pólo passivo, e os demais 
condôminos, para ocuparem o pólo ativo, na qualidade de litisconsortes necessários[4]. 
 
 Concluída demarcação definitiva, os confinantes serão considerados terceiros 
quanto ao processo divisório, pois o proprietário do imóvel confinante, não terá mais 
interesse, ficando-lhe, porém, assegurado o seu direito de vindicarem os terrenos de que 
se julguem despojados por invasão das linhas limítrofes constitutivas do perímetro ou a 
reclamarem uma indenização pecuniária correspondente ao seu valor (art.948 do CPC). 
Caso o proprietário confinante perceber que sua área foi invadida na demarcação, poderá 
ajuizar ações reivindicatórias, possessórias ou indenizatórias. 
 
Para reivindicar seu direito o proprietário do imóvel confinante, deverá observar as 
seguintes situações, se ainda não houver sido homologada sentença que julgou a divisão, 
serão citados para a ação todos os condôminos, pois compreendem todos juntos a 
umidade do condomínio, figurante no pólo ativo da demanda de demarcação, caso 
homologado a sentença que julgou a divisão, será citado somente aquele ou aqueles que 
se beneficiou com a parte invadida. É o que se entende com a leitura do artigo 949 do 
CPC “Serão citados para a ação todos os condôminos, se ainda não transitou em julgado 
a sentença homologatória da divisão; e todos os quinhoeiros dos terrenos vindicados, se 
proposta posteriormente”. 
 
No seu parágrafo único ressalta a possibilidade de condenar os quinhoeiros a restituir os 
terrenos ou a pagar a indenização. Neste caso, a sentença que julga procedente a ação, 
valerá como título executivo em favor dos quinhoeiros para haverem dos outros 
condôminos, que forem parte na divisão, ou de seus sucessores por título universal, na 
proporção que Ihes tocar, a composição pecuniária do desfalque sofrido. Essa ressalva 
existe para que o condômino que arcou sozinho com a indenização ou restituiu ao vizinho 
parte da fração que lhe pertencia, não fique desfalcado do seu patrimônio, e ao mesmo 
tempo haja um enriquecimento indevido dos demais condôminos. 
 
2.9 As duas fases da divisão 
 
A ação de divisão está dividida em duas parte ou fases, o artigo 955 dispõe que “havendo 
contestação, observar-se-á o procedimento ordinário; não havendo, aplica-se o disposto 
no art. 330, II”. Ou seja, até a contestação o processo é ordinário com possibilidade de 
julgamento antecipado da lide, se houver revelia, após o trânsito e julgado da sentença da 
primeira fase, se inicia um novo procedimento que é especial, observado o rito 
preconizado pelos artigos 969 a 981, todos do CPC. A este aspecto Humberto Theodoro 
Junior comenta: 
 
Na ação de divisão o procedimento se desdobra em duas fases, na primeira fase o 
procedimento é ordinário, com possibilidade de julgamento antecipado da lide, se houver 
revelia (art. 955 do CPC), e na segunda fase, o procedimento é especial, observado o rito 
preconizado pelos artigos 969 a 981, todos do CPC. Sendo inadequada a conceituação 
da segunda fase como ”executória”, porque ela não executa a sentença da primeira, quenem se quer tem natureza condenatória, mas sim meramente declaratória, positiva ou 
negativa conforme reconheça ou não o direito de dividir[5]. 
 
Marcos Vinicius Rios Gonçalves afirma a respeito das duas fases nas ações de divisão e 
 
 
 
 
 
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demarcação: 
 
Em ambas as ações, o procedimento desdobra-se em duas fases: uma contenciosa, que 
se encerra com a sentença, e outra que só ocorrerá caso a sentença da primeira fase seja 
de procedência. Essa segunda tem natureza meramente executiva ou administrativa. 
Não se trata de um processo de execução, já que a sentença que encerra a primeira fase 
é declaratória, mas na prática dos atos que visam tornar efetiva a decisão judicial que 
determinou a demarcação ou divisão[6]. 
2.10 Da petição inicial 
 
Com a postulação marca o inicio da primeira fase do processo de divisão, nessa fase o 
procedimento é ordinário, com possibilidade de julgamento antecipado da lide (art. 955 do 
CPC). 
 
O art. 967do CPC exige que ao elaborar a petição inicial, deve ser observado também 
requisito especial da ação de divisão, além dos requisitos genéricos previstos no art. 282. 
 
A petição inicial deve ser instruída com a prova da propriedade, ou seja, os títulos de 
domínio do promovente, e conterá a indicação da origem da comunhão e a denominação, 
situação, limites e característicos do imóvel. É preciso que se esclareça se o condomínio 
é convencional, eventual ou legal. Será convencional quando sua constituição decorrer da 
vontade das partes, eventual quando decorrer da vontade de terceiro e legal quando 
decorrer de lei. 
 
Deverá conter também o nome, o estado civil, a profissão e a residência de todos os 
condôminos, especificando-se os estabelecidos no imóvel com benfeitorias e culturas, a 
ação de divisão é real e imobiliária, para qual deve ser citados ambos os cônjuges, 
quando casados. Outra observação importante é que devem ser citados todos os 
condôminos a falta de algum acarreta a nulidade do processo, pela possibilidade de 
acarretar prejuízo, ao condômino não citado. 
 
Por fim deve ser mencionadas as benfeitorias comuns e as particulares, para que na 
divisão possa beneficiar o condômino com as benfeitorias que já tinha antes da divisão. 
 
2.11 Citações 
 
 As citações serão realizadas na mesma forma, em que dispõe na ação de demarcação, 
sendo que os réus que residirem na comarca serão citados pessoalmente, e os demais, 
por edital. O que geram duras criticas, pois a citação por edital é ficta, e deveria ser 
utilizada somente quando não fosse possível a citação pessoal. 
 
2.12 Prazo para contestação 
 
 Feitas as citações, os réus terão o prazo comum de 20 (vinte) dias para contestar, o 
prazo não dobra em caso de advogados diferentes, pois é comum a todos eles, mas 
começa a correr o prazo quando todos eles forem citados. Havendo contestação, 
observar-se-á o procedimento ordinário; não havendo, o juiz procederá ao julgamento 
antecipado do mérito. 
 
 
 
 
 
 
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2.13 Execução material da divisão 
 
A execução material da divisão acontece após o transito e julgado da sentença da 
primeira fase e marca o inicio da segunda fase onde o procedimento é especial observado 
o rito preconizado pelos artigos 969 a 981 do CPC. Para o inicio da segunda fase o juiz 
nomeará arbitradores e agrimensor, que iniciarão as operações de divisão pela medição 
do imóvel (art. 969 do CPC). 
 
Todos os condôminos serão intimados a apresentar, dentro em 10 (dez) dias, os seus 
títulos, se ainda não o tiverem feito; e a formularem os seus pedidos sobre a constituição 
dos quinhões (art. 970 do CPC), é a etapa do processo em que os condôminos deverão 
pedir para que a parte que lhe caberá na divisão seja a mesma que contenta as suas 
benfeitorias, aos pedidos dos quinhões cabe impugnação no prazo de 10 dias (art.971do 
CPC). 
 
De acordo com o artigo 971do CPC, O juiz ouvirá as partes no prazo comum de 10 (dez) 
dias. Se os pedidos poderem ser conciliados e não houver impugnação, o juiz 
determinará a divisão geodésica do imóvel, se houver, proferirá, no prazo de 10 (dez) 
dias, uma decisão sobre os pedidos e os títulos que devam ser atendidos na formação 
dos quinhões. Trata-se de uma decisão interlocutória passível de agravo 
 
A medição será efetuada na mesma forma que na demarcação e exposta nos seus artigos 
960 a 963 do CPC que contem regras técnicas para a demarcação (art. 972 do CPC). 
Sendo respeitadas as benfeitorias permanentes dos confinantes, feitas há mais de 1 (um) 
ano, bem como os terrenos onde estiverem, os quais não se computarão na divisão 
(art.973 do CPC). Porém poderá o usurpado pedir a restituição (art. 974 do CPC). Sendo 
a regra semelhante à exposta no artigo 949 do CPC, onde deverão ser observadas as 
seguintes situações, se ainda não houver sido homologada sentença que julgou a divisão, 
serão citados para a ação todos os condôminos, caso homologado a sentença que julgou 
a divisão, será citado somente aquele ou aqueles que se beneficiou com a parte invadida. 
Neste caso terá os quinhoeiros o direito, a haver dos outros condôminos à restituição pelo 
desfalque sofrido. 
 
Concluídos os trabalhos de campo, levantará o agrimensor a planta do imóvel e 
organizará o memorial descritivo das operações, observando as regra técnicas contidas 
nos arts. 961 a 963 do CPC referentes à demarcação (art. 975 do CPC). 
 
Durante os trabalhos de campo procederão os arbitradores ao exame, classificação e 
avaliação das terras, e benfeitorias, entregando o laudo ao agrimensor.Em seguida os 
arbitradores e o agrimensor proporão, em laudo fundamentado, a forma da divisão, 
devendo consultar, quanto possível, a comodidade das partes, respeitarem, para 
adjudicação a cada condômino, a preferência dos terrenos contíguos às suas residências 
e benfeitorias e evitar o retalhamento dos quinhões em glebas separadas(arts. 976,977 e 
978 do CPC). 
 
 Sobre o cálculo e o plano da divisão as partes serão ouvidas, no prazo comum de 10 
(dez) dias, e o juiz deliberará sobre a divisão, em decisão interlocutória agravável. Em 
cumprimento desta decisão, procederá o agrimensor, assistido pelos arbitradores, à 
demarcação dos quinhões (art. 979 do CPC). 
 
 
 
 
 
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As benfeitorias comuns, que não comportarem divisão cômoda, serão adjudicadas a um 
dos condôminos que deverá pagar aos demais condôminos, quando forem indispensáveis 
instituirá servidões, será incluindo o respectivo valor no orçamento para que, não se 
tratando de servidões naturais, seja compensado em dinheiro o condômino aquinhoado 
com o prédio serviente, as benfeitorias particulares que excederem a área a que têm 
direito, serão adjudicadas ao quinhoeiro vizinho mediante reposição em dinheiro se outra 
coisa não acordarem as partes (art. 979 do CPC). 
 
Terminados os trabalhos e desenhados na planta os quinhões e as servidões aparentes, 
organizará o agrimensor o memorial descritivo. Em seguida, cumprido o disposto no art. 
965, o escrivão lavrará o auto de divisão, seguido de uma folha de pagamento para cada 
condômino. Assinado o auto pelo juiz, agrimensor e arbitradores, será proferida sentença 
homologatória da divisão, da qual caberá apelação no efeito devolutivo. 
 
A sentença que homologatória da divisão deverá ser levada a registro, no cartório de 
registro de imóveis, para ter efeito erga omnes, sendo a folha de pagamento o titulo que 
será levado ao registro competente. 
 
3 CONCLUSÃO 
 
A ação de divisão é o instrumento processual fundado no direito material do condômino 
de exigir a individualização de seu imóvel, em virtude da característica de exclusividade 
do seu direito de propriedade, está prevista nos artigos 946 a 949 asdisposições gerais, e 
o procedimento específico da ação de divisão, estão expressos nos artigos 967 a 981 
todos do CPC. 
 
 Esse direito é assistido ao proprietário desde o antigo direito romano, através da actio 
communi dividundo, que constitui uma ação meramente declaratória não gerando 
propriedade, e de natureza real e imobiliária, devendo ser citados ambos os cônjuges, e 
sendo competente para seu julgamento o foro da situação da coisa, ou por prevenção, 
caso o imóvel esteja situado em mais de uma comarca. 
 
O objetivo da ação é a divisão da coisa comum e divisível, extinguindo a comunhão 
existente e individualizando o quinhão de cada um, cabendo ser exigida a divisão pelo 
condômino, proprietário ou titulares de outros direitos reais bem como pelo possuidor, a 
qualquer tempo independente da opinião da maioria ou da extensão da sua cota parte, 
sendo necessária a citação de todos os condôminos para figurarem no pólo passivo da 
ação. 
 
Poderá cumular a ação de divisão com a de demarcação, caso em que será processada 
primeira a demarcação. 
 
A divisão é composta de duas fases, na primeira o procedimento é ordinário, com 
possibilidade de julgamento antecipado da lide (art.955 do CPC), onde petição inicial 
deverá ser redigida observando os requisitos especiais exigidos no art. 967 do CPC, além 
dos já previstos no art. 282 do CPC. Para a citação será observado as regra dos artigos 
953, 954, 955 todos do CPC, feitas as citações os réus terão o prazo comum de 20 dias 
para contestar, ou haverá o julgamento antecipado do mérito. 
 
 
 
 
 
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 Na segunda, o procedimento é especial, observado os ritos preconizados nos artigos 969 
a 981, todos do CPC, nesta fase o juiz nomeará arbitradores e o agrimensor para fazer a 
medição, avaliação e a demarcação. A sentença que homologatória da divisão deverá ser 
levada a registro, no cartório de registro de imóveis, para ter efeito erga omnes. 
 
MODELO: 
 
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA 
COMARCA ________ 
 
 
 
 
 
 
 ______________ (nome, qualificação e residência), por seu bastante procurador 
firmatário, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência para, com fundamento no 
art. 947 do Código Processo Civil, propor a presente 
 
AÇÃO CUMULADA DE DEMARCAÇÃO E DIVISÃO 
 
sendo a primeira contra os respectivos confinantes do imóvel, demarcando em, A, B e C 
(nome, qualificação e residência), e a segunda, contra os demais condôminos D, E e F 
(nome, qualificação e residência), levando em consideração os motivos seguintes: 
I - Do fato e da propriedade dos pedidos cumulados 
 
1° O Requerente, juntamente com os Requeridos D, F e E, são senhores e possuidores 
legítimos, em condomínio, da Fazenda Barra Fria, situada neste Município, no lugar 
denominado _________ com a Área de _________ alqueires, confrontando com os 
confinantes Requeridos, havida no inventário do finado conforme o formal de partilha 
anexo, extraído dos autos do referido inventário e devidamente registrado no Registro 
Geral de imóveis do, sob n°______ Livro _________ a fls. _____; 
 
2° A propriedade acima descrita não está demarcada, tanto assim que, não possuindo 
limites assinalados por marcos, confunde-se com os limites das propriedades dos 
confinantes A, B e C; 
 
3° Desta forma, tratando-se de propriedade ainda não demarcada, na conformidade do 
disposto no art. 569, do Código Civil, justifica-se a propositura da presente ação, para 
compelir os Requeridos confinantes a demarcá-la, juntamente com o Requerente e 
demais condôminos, sendo as despesas do processo demarcatório partilhadas "pro rata"; 
 
4° Por outro lado, tratando-se de uma propriedade comum e não mais interessando ao 
Requerente a comunhão, assiste-lhe o direito, com fundamentos no art. 629, do Código 
Civil, de exigir dos Requeridos condôminos a sua divisão, correndo as despesas do 
processo divisório em proporção; 
 
5° Por sua vez, a cumulação dos pedidos de demarcação e divisão da propriedade em 
 
 
 
 
 
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causa tem o mais perfeito apoio no art. 947, do Cód. Proc. Civil, processando-se 
preliminarmente a demarcação dos limites com os confinantes e, posteriormente, 
concluída aquela fase, a sua divisão entre os condôminos, com a exclusão daqueles 
Requeridos, nesta última fase processual; 
II - Da demarcatória 
 
6° A propriedade demarcando, no dizer dos títulos dominais, é dividida parcialmente por 
cercas não oficiais, tendo como únicos limites naturais, ao norte, o espigão da montanha 
Barra Grande e, ao Sul, o Córrego da Barra, os quais, por serem limites naturais, devem 
constituir o ponto de partida para a demarcação, tanto mais que essa é a área ocupada 
pelo Requerente e demais condôminos, há longos anos, na qual possuem benfeitorias 
constantes de plantações, pastos e residências; 
 
7° Assim, tomando-se por base o ponto de partida ao norte, o espigão da montanha Barra 
Grande e, ao sul, o Córrego da Barra, o Requerente e demais condôminos pretendem, 
por via desta ação demarcatória, tornar certos os limites de sua propriedade, com os 
confinantes requeridos; 
III - Da divisão 
 
8° A propriedade "sub judice", cuja divisão se pretende por meio desta lide, é constituída 
de uma gleba de__ alqueires, com plantações, pastos, diversas residências, quedas 
d'água e estradas de acesso interno, pertencente, em condomínio, com os requeridos 
condôminos; 
 
9° A divisão que se pretender por força desta ação, deve atender aos mais rígidos 
princípios de igualdade na, constituição dos quinhões dos condôminos, tendo-se em nota 
a diversidade de valores da gleba e das benfeitorias que a integram; 
IV - Do valor da causa 
Para os efeitos legais e fiscais, dá-se à presente o valor de R$__________ 
(________________); 
V - Do pedido 
Em face do exposto, requer a citação dos Requeridos A, B e C para, na qualidade de 
confinantes do imóvel, responderem aos termos da presente ação de demarcação, e a 
citação dos Requeridos D, E e F para, na qualidade de condôminos, responderem aos 
termos da presente ação de divisão, nas quais se requer preliminarmente a demarcação 
e, posteriormente, a divisão da propriedade acima referida e descrita, após cumpridas as 
formalidades legais, bem como a condenação nas custas e honorários advocatícios do 
Requerido ou Requeridos que se opuserem ao procedimento ora intentado, forçando a 
instauração da fase contenciosa. 
 
Dá-se à presente o valor de R$__________ (________________). 
 
Termos em que Pede e Espera Deferimento 
 
_________ de _________ de 20_____ 
 
Assinatura do advogado 
 
OBS.: - No caso de existirem confinantes incertos e não sabidos, deverá constar tal 
 
 
 
 
 
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circunstância na petição inicial, bem como o pedido de expedição de editais citatórios 
desses confinantes ignorados. As mulheres dos confinantes casados deverão participar 
do feito. 
 
 
 
 
 
 
 
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AÇÃO DE INVENTÁRIO (JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL) 
 
Com a morte, acontece a abertura da sucessão[1] e a transmissão de todo patrimônio 
constituinte da herança aos respectivos sucessores testamentários e legais. No entanto, 
nesse período inicial, os bens se encontram em estado de comunhão e indivisão entre 
eles, que não figuram ainda como donos individualizados perante o Registro de Imóveis. 
 
Para a superação de tal estado, que não favorece o aproveitamento econômico dos bens 
e dá ocasião a possíveis desentendimentos, é necessária a realização do inventário e, em 
seguida, a partilha, com a expedição do formal de partilha e, ao fim e ao cabo, a 
distribuição dos itens da herança aos

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