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UNOCHAPECÓ ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS E JURÍDICAS CURSO: DIREITO COMPONENTE CURRICULAR: SOCIOLOGIA DO DIREITO PROFESSOR: CESAR DA SILVA CAMARGO Acadêmicos: Ricardo Metz Weitz, Eduarda Gob, Samira Reis, Tailine Campos, Gabriel Borges, Maicon Diego Casagrande Redução da Maioridade Penal A questão sobre a redução da maioridade penal no Brasil é mais um dos temas polêmicos que vivenciamos hoje. Há quem defenda em manter o começo da responsabilidade penal para 18 anos, há quem defenda em baixá-la para 16, e, entre ambos os lados, existem aqueles que defendem uma punição adequada para cada situação. Como todo tema binário, e também por se tratar de uma questão social, é impossível saber o que trará melhores benefícios para o país, até porque fazer isto seria prever o futuro. O que pode ser feito é especular sobre as consequências que cada medida tomada hoje pode resultar futuramente. O debate, nesse caso, é uma das ferramentas mais importantes para tomarmos decisões acertadas. A metodologia que o grupo seguiu consiste diversas etapas. Primeiramente damos uma introdução ao tema, discorrendo de forma breve sobre do que se trata e explicitando como nosso país lida com a juventude na questão penal. Em seguida discorremos sobre algumas iniciativas já tomadas e quais as etapas necessárias para que entre em vigor qualquer possível alteração na nossa legislação sobre o tema. Como se trata de um tema complexo, qualquer decisão tomada inevitavelmente trará consequências positivas e negativas. Tentaremos abordar, fugindo do senso comum, as mais variadas implicações causadas pelas propostas de mudança hoje tão debatidas. Nosso objetivo não é, sob hipótese alguma, convencer nossos interlocutores à serem favoráveis ou não à redução. Nosso propósito é fomentar o debate, com argumentos que fogem ao senso comum, e, dessa forma, promover discussões que propiciam sempre as melhores tomadas de decisões. Comparação com outros países A presente questão é tema de debates acalorados não somente no Brasil. Com o passar do tempo muitos países mudaram suas leis, principalmente depois da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU e da Convenção sobre os Direitos da Criança da UNICEF, visando adaptar a legislação com a realidade atual e com os tratados internacionais. Em alguns países, como a Índia, a idade de responsabilidade penal chega a ser de 7 anos, contrastando à países que é de 21 anos, como por exemplo o Japão. Cabe ressaltar que em alguns países como Índia e Austrália, já existem jurisprudências que normalmente evitam condenações de crianças, visto que tal ato violaria vários tratados internacionais de Direitos Humanos. Fonte: Folha de São Paulo <http://direito.folha.uol.com.br/blog/democracia-nao-determina-maioridade-penal-e-nem-vice-versa> Código de Menores x ECA Historicamente o Brasil evoluiu muito no tratamento de jovens infratores menores de 18 anos. Antes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) havia o Código de Menores. Criado em 1927, tal código trajava o princípio da “situação irregular”. Isso significa que o Estado era responsável por tutelar o menor de idade que vivia em condição degradante. Um grave erro do antigo código era não separar o “menor abandonado” do “menor delinquente”. Dessa forma, uma criança abandonada pelos pais por exemplo, convivia no mesmo espaço que um menor infrator retirado do tráfico. Havia evidentes prejuízos para a formação desses jovens, visto que os chamados reformatórios se tornaram presídios infantis e mini escolas do crime. Contudo o principal defeito do antigo código, consistia em se preocupar somente com as consequências, e não com as causas geradoras de tais situações. Com a criação do ECA em 1990, vários paradigmas foram quebrados em relação ao jovens. Primeiramente, distingue-se menor infrator de menor abandonado. A tutela estatal continua sobre ambos, porém ao abandonado é propiciado pelo Estado amparo psicológico para sua família, e, quando necessário, o mesmo é destinado às chamadas “famílias acolhedoras, visando dessa forma propiciar um ambiente mais semelhante possível com o familiar. Já ao jovem infrator o ECA age buscando a reeducação para o convívio em sociedade. Assim, é propiciado ao jovem oportunidade de educação e inserção no mercado de trabalho. Nos casos mais graves, o estatuto prevê internação, de no máximo três anos, em instituições estatais especializadas, as quais são responsáveis por propiciar todos os direitos garantidos pela lei à estes jovens. Realidade brasileira Infelizmente a realidade vivenciada no Brasil não condiz com aquela descrita na norma. Vivemos uma profunda crise que reflete em praticamente todos os aspectos da vida social. Não há investimento eficaz em educação, saúde, segurança, entre outros direitos sociais. Para dilatar ainda mais a situação, vemos casos absurdos de corrupção, os quais só aumenta o descrédito e a falta de esperança da população, principalmente aquela parte que vive à margem de onde chega o poder público. Erroneamente temos o costume de tratar somente as consequências, quando o mais importante a tratar são as causas do problema. É preciso entender o porquê do aumento da violência infanto-juvenil. A falta de educação é o motivo mais frequente e mais determinante a gerar tal problema. Ao contrário do que muitas vezes se pensa, o Brasil investe pesado em educação. A parcela é relevante tanto quando se trata em porcentagem do PIB, tanto quando se compara com países em desenvolvimento semelhante. O problema é que tal investimento é extremamente ineficaz no seu objetivo. Além dos diversos desvios ocorridos no caminho, como citamos acima, o investimento é feito de maneira não planejada e na grande maioria das vezes com objetivos secundários eleitoreiros. Uma educação de qualidade é passo fundamental para termos menos desigualdade de renda, e com isso propiciar oportunidades mais igualitárias a todos. Desse modo, os índices de violência e criminalidade infanto-juvenil tendem a se tornar cada vez menores. Relação das PEC´s com a maioridade penal no Brasil PEC é a abreviação de proposta de emenda à Constituição, é uma atualização, deve ser muito bem elaborada e preparada pois se for aprovada mudará a Constituição Federal. A votação requer dois turnos em cada uma das Casas Legislativas, Câmara Dos Deputados e Senado Federal. O caminho da PEC começa na Câmara Dos Deputados, esse processo é chamado de tramitação, ela é enviada para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) onde é verificado se ela pode ou não ser aceita, após ser aceita é enviada para a Comissão Especial, nessa comissão ela deve preencher requisitos exigidos pela Constituição, caso não tenha os requisitos é considerada inadmissível e não vai adiante, com isso a PEC deixa de serexaminada, mas se o autor da mesma pedir por uma apreciação preliminar pelo plenário ela vai precisar de um terço dos deputados para decidir se a proposta pode ser ou não admitida. Se for admitida ela vai para a CCJ onde os deputados analisam a proposta, e o relator pode fazer mudanças de acordo com a Constituição. Após a Comissão de Constituição e Justiça a PEC passa pela Comissão Especial onde no prazo de 40 sessões será analisado o conteúdo do texto, o parecer da Comissão é só uma sugestão para a decisão do Plenário da Câmara. No plenário para ser aprovada precisa de três quintos dos votos, no caso 308 dos 513 deputados, se caso não atinja o percentual de votos a PEC é mandada para o arquivo e não poderá mais ser apresentada na mesma Legislatura pois está com impedimento constitucional. Já tivemos inúmeras PEC´s com o propósito de diminuir a maioridade, nesse caminho elas são analisadas pois tratam do futuro de adolescentes infratores que estão nas mãos do estado. A algumas PEC´s que tem uma visão mais psicológica sobre o indivíduo e a partir do momento em que se debate sobre atribuir responsabilidade penal a jovens abaixo dos 18 anos que a PEC 73/2007, por exemplo, defende a diminuição da idade penal com base em avaliações médicas e psicológicas que vai determinar a capacidade de entendimento do sujeito e a maturidade diante do ato infracional que ele cometeu, a PEC 87/2007 é semelhante a anterior, mas ela aponta para uma fragilidade do parâmetro biológico, o qual, de acordo com os legisladores que a propuseram, desconsidera o fato de que os indivíduos estão em diferentes estados psicológicos. A partir da ideia de analisar o comportamento psicológico dos infratores seria preciso conhecer a história da família, analisar seu comportamento a sua personalidade isso seria ampliar o poder do judiciário sobre sua vida e uma base para a punição a ser aplicada. Fora desse critério psicológico a inúmeras PEC´s que se baseiam na ideia mais racional, por exemplo, a PEC 223/2012 que traz a ideia de que um jovem já pode votar, trabalhar e casar mas não pode responder por seus crimes? Quando são utilizados tais argumentos para defender a ideia de que o jovem deve responder por seus atos são negligenciados os direitos sociais que o próprio ECA prevê, além disso as políticas públicas não são problematizadas nessas propostas. Mesmo que esses jovens tenham garantia aos direitos sociais a uma diferenciação dos que devem ou não ser considerados sujeitos de direitos, essa igualdade de direitos perante a lei gera uma discriminação negativa ainda que não implica em uma exclusão mas em uma desigualdade e também uma periculosidade que marca esses jovens. Porque não reduzir a idade penal para 16 anos? Educação de qualidade é uma ferramenta muito mais eficiente para resolver o problema da criminalidade entre os jovens. O sistema prisional brasileiro não contribui para a reinserção dos jovens na sociedade. O índice de reincidência nas prisões brasileiras, é relativamente alto. Não há estrutura para recuperar o presidiário, por isso é provável que os jovens saiam de lá mais perigosos do que quando entraram. Crianças e adolescentes estão em um patamar de desenvolvimento psicológico diferente dos adultos. Diversas entidades de psicologia posicionaram-se contra a redução, por entender que a adolescência é uma fase de transição e maturação do indivíduo e que, por isso, os indivíduos nessa fase de vida devem ser protegido por meio de políticas de promoção de saúde, educação e lazer. O tráfico de drogas é hoje responsável pela grande maioria das prisões entre adultos no Brasil. Obviamente, isso reflete nas infrações de menores, as quais seguem o mesmo caminho. A falta de oportunidades proveniente da crise econômica e do desemprego muitas vezes é o que acaba influenciando o jovem a traficar. Jovens são usados por traficantes para os serviços com mais risco de prisão, já que tais jovens são tutelados pelo ECA. Porém, reduzir a maioridade penal para 16 anos, nesse contexto vai somente fazer com que o tráfico foque em jovens com menos idade ainda. Atualmente menos de 2% dos crimes hediondos cometidos no Brasil são de responsabilidade de jovens menores de 18 anos. Tais situações são exceções e não regra. Por isso, reduzir a maioridade vai generalizar todos os menores a partir de algumas exceções que existem. Portanto tal proposta resume-se à um desvio do real foco, o qual deveria ser as causas do problema. Porque reduzir a maioridade penal para 16 anos? Com a enxurrada de informações e tecnologias que nos foram propiciadas pelo avanço da globalização, é consenso que o jovem se desenvolve cada vez mais cedo. O argumento que o jovem de 16 anos não tem discernimento para responder penalmente por seus atos já se mostra ligeiramente ultrapassado. A psicologia, em grande parte de seus estudos científicos, já trata tais jovens como adultos ou, ao menos, discernes de suas atitudes. O próprio poder executivo brasileiro, em praticamente todas as vezes que rejeitou as propostas de redução da maioridade, não o fez segundo a máxima do discernimento. A adultização precoce dos adolescentes de hoje, positiva ou não, está presente e às vistas de todos, de modo a descaracterizar a alegação, cada vez mais frágil, de que o jovem não possui discernimento sobre seus atos. O grande argumento utilizado para manter a idade penal em 18 anos é de que a falta de oportunidades e a ausência do Estado é responsável por “empurrar” os jovens ao crime. Tal argumento é, entre todos, aquele que se mostra mais verdadeiro. Porém é necessário aqui, fazer algumas ponderações sobre ele. Os brasileiros têm o costume de sempre apontar o Estado como causador de todas as mazelas sociais que vivemos, eximindo-se assim da sua própria parcela de culpa. Primeiramente, o Estado é governado por pessoas escolhidas pelo povo. Se olharmos para o passado vemos um vasto histórico de erros na escolha dos nosso representantes, seja porque grande parcela dos cidadãos vende o próprio voto, seja porque acredita em discursos fáceis de salvadores da pátria, ou por qualquer outro motivo. Elegendo pessoas erradas, perpetuamos a corrupção e a impunidade e, com isso, a falta de programas sociais eficientes e oportunidades à todos. Há de se comentar também no famoso “jeitinho brasileiro” de levar vantagem em tudo. Mostra-se assim, que a crise não se encontra somente no Estado, mas sim na própria sociedade, a qual tem grande parcela de culpabilidade também. Temos no Brasil o problema de as cadeias não servirem para seu principal propósito. A detenção, que devia ser oportunidade de reflexão e instrução visando ressocializar o cidadão para o convívio em sociedade, serve mais como um meio de se aprimorar naschamadas “carreiras do crime”. Porém, esse é um problema que perpassa o âmbito da questão debatida. Não é com base nisso que deve-se pensar em não reduzir a maioridade penal, visto que as prisões brasileiras não ressocializam ninguém. Há de se pensar políticas públicas com objetivo de reduzir a reincidência, os crimes e a violência dentro dos presídios. Contudo vemos que é outro assunto, não deve ser misturado com a questão da maioridade, visto que mesmo sem reduzi-lá há um problema grave quanto à isso. A função da pena não é somente reeducar e ressocializar o infrator. Existem funções secundárias, porém também de grande relevância. Uma delas é servir de exemplo. Existem casos comprovados de jovens no Brasil, principalmente em questões relacionadas ao tráfico de drogas, que tiram proveito da impunidade garantida, até mesmo assumindo crimes cometidos por adultos para os livrarem da pena. Há também que se dar uma resposta a sociedade. Regular a sociedade é uma das principais funções do Estado e objetivo do Direito, dessa forma não podemos renegar a função da punição como resposta social, visto que tal resposta é frequentemente responsável por manter a ordem no presente e no futuro. Conclusão Vivemos em uma época de pouca tolerância à opiniões alheias, principalmente quando estas divergem da nossa. Em temas controversos, como o tratado no presente estudo, é importante analisar com cautela todas as informações e opiniões disponíveis. Respeitar a opinião do outros é sempre necessário, independente de concordar ou não. Afinal, o correr da história já nos mostrou que verdades absolutas não existem. O presente tema infelizmente é usado muitas vezes por membros do executivo para dar uma resposta rápida ao eleitorado. Soluções fáceis e discursos prontos, muitas vezes acalmam os ânimos da sociedade civil, principalmente em tempos de crise, como o que estamos vivendo, com aumento de desemprego e das taxas de violência. É preciso ter cuidado ao avaliar tal assunto, isto é, examinar com mais profundidade todo o complexo envolvido, não somente as consequências. É preciso fugir do senso comum, dos “argumentos de facebook”, do discurso pronto que agrada as massas de manobra, para se debruçar em estudar o que realmente pode ser feito, tomando como exemplo as diversas iniciativas já tomadas aqui e também em outros países.
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