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Estudo Dirigido - AV 1 - FCC

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1. Como a Antropologia pode ajudar a sua ciência? 
O Direito é uma ciência cultural normativa e objetiva que busca no que acontece de fato na vida social 
postular um fim a ser atingido, através de normas e regras, que em última instância é a justiça. É um 
produto cultural; assim, em diferentes sociedades com diferentes culturas pode haver antagonismos 
entre seu entendimento entre Direito e Justiça. Desta forma uma lei aplicada eficazmente em um local 
pode não atingir os mesmos efeitos em outro lugar. 
O Jurista deve entender que a cultura é uma construção histórica, não é algo natural, é um produto 
coletivo da vida humana, assim para ter eficácia as normas devem estar adequadas a sociedade a qual 
serão inseridas. Isto posto, faz-se evidente uma leitura interdisciplinar da realidade social, onde o 
direito encontra na Antropologia uma forma de ampliar sua dimensão do mundo sobre uma visão 
holística da realidade, permitindo ao jurista situar o Direito na sua melhor dimensão que é a da 
educação- prevenção. 
Partindo do entendimento da antropologia como a ciência da alteridade, aquela que busca estudar o 
outro, essencialmente diferente de mim, uma leitura antropológica permite a fuga da individualização, 
devolvendo a responsabilidade social aos indivíduos. Dessa forma, é possível definir o que somos a 
partir da imagem que temos do outro. A interação começa no indivíduo para mudar a sociedade. 
Vale salientar que a alteridade, o respeito pelo outro, há de ser tema de primeira discussão, tendo em 
vista a eminente força atribuída aos direitos humanos e a dignidade da pessoa humana nas últimas 
décadas. 
Assim, a finalidade do Estado de Direito, é manter pacífica a convivência social, através de “regras de 
conduta” capazes e eficazes de sustentar e manter a solidez social. E, quando vamos além, e falamos 
em Estado Democrático de Direito, estamos nos referindo a um Estado de participação ampla, a ponto 
de fornecer ao indivíduo mecanismos de defesa, de preservação de direitos, de respeito às garantias 
e liberdades, passíveis de serem invocados até mesmo contra o próprio Estado. 
Portando, a importância da Antropologia para o Direito está em ampliar sua dimensão do mundo, de 
forma a perceber que não há culturas melhores ou piores, mas diferentes, que variam no tempo e 
espaço, e o entendimento que a diferença não pode gerar desigualdade para que o direito 
desempenhe efetivamente o seu papel emancipatório. 
 
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2. Quais os períodos de evolução da ciência antropológica em busca da definição do seu objeto? 
Apenas no final do século XVIII é que começa a se constituir um saber científico que toma o homem 
como objeto de conhecimento, e não mais a natureza. A segunda metade do século XIX, durante o 
qual a antropologia se atribui objetos empíricos autônomos: as sociedades então ditas "primitivas", ou 
seja, exteriores às áreas de civilização europeias ou norte-americanas. A antropologia acaba, portanto, 
de atribuir-se um objeto que lhe é próprio: o estudo das populações que não pertencem à civilização 
ocidental. Serão necessárias ainda algumas décadas para elaborar ferramentas de investigação que 
permitam a coleta direta no campo das observações e informações. Mas logo após ter firmado seus 
próprios métodos de pesquisa - no início do século XX - a antropologia percebe que o objeto empírico 
que tinha escolhido (as sociedades "primitivas") está desaparecendo; pois o próprio Universo dos 
"selvagens" não é de forma alguma poupada pela evolução social. Ela se vê, portanto, confrontada a 
uma crise de identidade. 
1) O antropólogo aceita, por assim dizer, sua morte, e volta para o âmbito das outras ciências humanas. 
Ele resolve a questão da autonomia problemática de sua disciplina reencontrando, especialmente a 
sociologia, e notadamente o que é chamado de "sociologia comparada". 
2) Ele sai em busca de uma outra área de investigação: O camponês, este selvagem de dentro, objeto 
ideal de seu estudo, particularmente bem adequado, já que foi deixado de lado pelos outros ramos 
das ciências do homem. 
3) Finalmente, ele afirma a especificidade de sua prática, não mais através de um objeto empírico 
constituído (o selvagem, o camponês), mas através de uma abordagem epistemológica constituinte. O 
objeto teórico da antropologia não está ligado, na perspectiva na qual começamos a nos situar a partir 
de agora, a um espaço geográfico, cultural ou histórico particular. Pois a antropologia não é senão um 
certo olhar, um certo enfoque que consiste em: a) o estudo do homem inteiro; b) o estudo do homem 
em todas as sociedades, sob todas as latitudes em todos os seus estados e em todas as épocas. 
 
3. Por que o etnocentrismo define o civilizado como bom e o selvagem como mau? 
A partir do século XVI, com o movimento das Grandes Navegações – foi proporcionada a descoberta 
de novos mundos e, por conseguinte, de novos povos. O homem europeu foi obrigado ao confronto 
visual, constatando uma profunda diferença entre eles e os habitantes dessas regiões. Os 
antropólogos, chamariam essa constatação de confronto com a alteridade, ou seja, o outro é outro 
porque é diferente em relação ao que observa. A pergunta colocada naquela oportunidade aos 
colonizadores foi a seguinte: “aqueles que acabaram de ser descobertos pertencem à humanidade? ”. 
A grande questão naquela oportunidade e até no século seguinte, fruto da avaliação etnocêntrica dos 
europeus, foi estabelecer o estatuto de humanidade do nativo dos novos mundos a partir dos preceitos 
religiosos: diziam os europeus que a definição de homem estava presa à existência ou não de alma. Se 
tiver alma é humano. Se não tem alma não é humano. Aqui, neste momento histórico, o nativo não 
era o homem primitivo do início da Antropologia e nem muito menos o homem total da sua fase 
posterior. O nativo dos colonizadores era tratado como selvagem. No interior dessa discussão os 
colonizadores, mas também estudiosos e sacerdotes, construíram duas ideologias que se destacaram 
naquele período: a primeira tratava o nativo como bom e o civilizado como mau; e a segunda 
considerava o nativo como mau e o civilizado com bom. Ou, para ser bem fiel ao texto de Laplatine, 
“figura do bom selvagem e do mau civilizado; e a figura do mau selvagem e do bom civilizado. ” 
Um ponto importante a ser destacado refere-se ao fato de as duas ideologias definirem os estados de 
bom ou de mau a partir da proximidade do nativo com a natureza; ou os estados de bom ou de mau a 
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partir da proximidade do europeu com a civilização. Veja o seguinte: o nativo na primeira ideologia foi 
tratado como bom por estar muito próximo da natureza. Não foram as suas regras sociais, suas práticas 
culturais ou os seus conhecimentos tecnológicos que serviram para a definição de ser bom, mas apenas 
o grau de proximidade com a natureza. Por outro lado, o estado de ser mau também estava 
relacionado com a proximidade: o nativo é mau porque não tem cultura, não tem religião, não tem 
estado e até moral. E por que não tem todas essas características? Não tem por estar muito próximo 
à natureza, compartilhando, dessa forma, todas as práticas consideradas pelos europeus como 
assimiladas aos animais. A partir das explicações acima se pode concluir que os defensores das duas 
ideologias naturalizavam o nativo, tornando-o um ser dependente dos benefícios ou malefícios que a 
natureza pudesse oferecer: mau e bom era o resultado da proximidade e das influências recebidas – 
positivas ou negativas. É possível utilizar os mesmos argumentos para a definição dos estados de mau 
e de bom para o homem civilizado: a proximidade, segundo aqueles pensadores, causava influências 
negativas ou positivas. O civilizado era bom porque a civilização tinha oferecidoqualidades especiais 
que o colocava em patamares de superioridade – religião, cultura, estado, ordem, lei, moral etc.. 
Enquanto do outro lado, o civilizado era tratado como mau porque essa mesma civilização o 
contaminara com as suas presumíveis mazelas. É claro que hoje sabemos que tais critérios eram 
absolutamente etnocêntricos, ou seja, o europeu olhava a cultura indígena e a comparava coma sua, 
portanto, via o índio permanentemente em falta. 
 
4. Como a Antropologia atinge a dimensão científica no século XIX? 
Com o Renascimento (Século XVI) é valorizada a filosofia da consciência (da razão) e isso vai alterar as 
visões de homem e de mundo, pois os indivíduos começam a ter consciência de si mesmos e também 
da coletividade com a qual se relacionam. Com isso surgem novas disciplinas que visam melhor 
compreender o homem e a realidade onde vive, bem como suas relações com a natureza. É nesse novo 
cenário renascentista que surgem as denominadas ciências humanas e que vão ser sistematizadas a 
partir do Século XIX. Como consequência tem-se a alteração na visão de homem e de mundo trazidas 
por essas novas ideias. Também os empiristas no Século XVIII e a Filosofia Positivista de A. Comte no 
Século XIX, influenciaram fortemente a ciência moderna. As ciências naturais, sustentadas pelo 
“método experimental”, ganham força e se impõem como modelo de cientificidade, fundamentadas 
na observação e na experimentação, tendo a objetividade e a neutralidade como pressupostos básicos. 
As ciências humanas que estavam se sistematizando, nessa época utilizam o mesmo método das 
ciências naturais (o “método científico”), pois, para os positivistas não existia diferença entre as 
ciências da natureza e as ciências do homem (unicidade do conhecimento). É preciso ficar claro que o 
objeto de estudo das ciências humanas é o próprio homem vivendo em sociedade, ou seja, é um objeto 
construído historicamente pelo ator social homem e está em constante estado de mudança e 
transformação. Desse modo ele difere-se do objeto das ciências naturais, pois a natureza é uma 
realidade dada, exterior ao homem, percebida pelos sentidos e experimentada nos laboratórios. 
 
5. Fale sobre porque o índio torna-se objeto de estudo privilegiado do olhar antropológico no 
início da descoberta das Américas. 
A Antropologia surgiu no bojo do movimento neocolonialista, atendendo aos interesses, sobretudo, 
da formação das ciências do final do século XVIII e século XIX. Os antropologistas escolheram o homem 
primitivo como objeto de estudo. A maior visibilidade dos nativos na América impulsionou estudiosos 
do Velho Continente a uma busca frenética por mais e melhores informações. A preocupação naquele 
momento era estudar esses povos antes que desaparecessem. Havia, no meio dos estudiosos da área, 
o receio de que esses povos e as suas respectivas culturas fossem suprimidos através da urbanização 
acelerada, perdendo-se, dessa forma, informações importantes para o conhecimento da origem do 
homem. 
 
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6. Segundo o texto do Roberto Cardoso, quais são os elementos presentes no olhar enquanto 
olhar antropológico? 
No texto em questão Roberto Cardoso de Oliveira questiona algumas das “faculdades do 
entendimento” socio-cultural que, segundo ele, são inerentes ao modo de conhecer das ciências 
sociais. Estas faculdades seriam o olhar, o ouvir e o escrever e seriam essenciais para a construção do 
saber. Começando pelo “olhar”, o autor coloca que o olhar do pesquisador é domesticado pelas 
disciplinas acadêmicas e que isso faz com que o pesquisador altere o objeto de estudo desde a sua 
primeira percepção do mesmo. Entretanto, ele defende que esse conhecimento conceitual anterior, 
obtido na academia, é necessário para se compreender o que os olhos veem. É importante que o 
antropólogo tenha o olhar disciplinado. A teoria social pré-estrutura nosso olhar e sofistica a nossa 
capacidade de observação. 
 
 
7. Como surgem as Ciências Sociais? Que necessidades estão presentes para que este 
conhecimento se concretize como ciência? 
No séc. XVIII, as Ciências Sociais tiveram como principais marcos para seu surgimento a Revolução 
Industrial e a Revolução Francesa. Podemos dizer que a Revolução Industrial representou uma 
mudança na base econômica da sociedade. Enquanto a Revolução Francesa representou uma 
mudança na forma de pensar. Essas mudanças determinaram profundas mudanças na sociedade, 
gerando a necessidade de uma análise pormenorizada por parte dos pensadores da época que visavam 
solucionar os problemas sociais da época. Desde do surgimento das ciências humanas, há o debate em 
torno de sua cientificidade. As ciências ditas humanas surgiram depois das ciências matemáticas e 
naturais que definiram as ideias de cientificidade e a origem foi no período que prevalecia a concepção 
empirista. Com o surgimento das ciências humanas, surgi consequentemente o interesse pelo homem 
como objeto científico no século XIX, a filosofia até então tratava somente do humano. As ciências 
humanas estavam se organizando, utilizando o método científico, que era usado pelas ciências 
naturais, pois, até então não existia diferença para os positivistas entre as ciências da natureza e as 
ciências do homem, isso fez com que a ciência humana ficasse engessada, pois havia uma 
especificidade única do objeto das ciências humanas. Iniciando assim, a discussão epistemológica 
sobre a cientificidade das ciências humanas, sendo o ponto principal dessa discussão a dificuldade em 
reconhecê-la como uma ciência verdadeira. 
A cientificidade traz critérios que permitem definir o que constitui um conhecimento científico de fato 
e distingui-lo claramente das outras formas de saber não-cientifico; essa cientificidade utiliza o método 
científico para as ciências naturais, e as ciências humanas não podem compartilhar desses mesmos 
critérios, pois possuem o homem como objeto de investigação. 
 
8. Por que a relativação consegue combater o olhar etnocêntrico? 
(Natália Bercattini 360 meridianos) 
Relativismo cultural é justamente o método utilizado pelos antropólogos para entender os sistemas 
de costumes de outros povos de uma forma, digamos, mais isenta. Mas nós, meros viajantes e 
observadores do mundo, podemos enriquecer muito nossas interpretações dos outros povos se 
entendermos o que esses dois conceitos querem dizer. A grosso modo, o relativismo social consiste 
em buscar conhecer e entender o sistema de valores e crenças de uma sociedade para julgar os 
costumes dentro de seu próprio contexto. Uma coisa que a gente pode ter certeza nessa vida é que as 
coisas não são assim porque elas sempre foram assim. Todos os aspectos de uma cultura têm um 
motivo de existir. Relativizar significa ir atrás desses motivos, conhecer a história, os aspectos 
geográficos, as dificuldades, as situações sociais que podem ter levado à instituição daquele costume. 
E de que isso me serve? Entender ajuda a gerar empatia. Saber os motivos por trás de algo traz aquele 
aspecto cultural, que em um primeiro olhar pode parecer chocante, para mais perto da gente. 
Entender ajuda a fugir de conclusões fáceis e equivocadas. Entender e respeitar não é o mesmo que 
concordar. Da mesma forma, eu não preciso concordar com tudo na cultura que eu visito. Em muitos 
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casos, esses aspectos podem ser, de fato, nocivos para os membros daquela sociedade. Não existe 
nenhuma forma de eu aplaudir, por exemplo, o infanticídio de meninas na Índia. No entanto, antes de 
classificar essas pessoas como monstros sem coração, eu posso entender, por exemplo, que ter uma 
filha nesse país significa, em geral, um problema financeiro para a família. Que, apesar de abolido, o 
pagamento de dote ainda é uma prática muito difundida na cultura indiana. Que muitos pais não têm 
condições de sustentar uma, duas, três meninas e, desesperados, acabam decidindo interromper agravidez de meninas. É claro, eu espero que o governo e a sociedade indiana encontrem o caminho 
para terminar com essa prática, mas, ao compreender todas essas questões envolvidas, eu já tirei o 
foco da suposta maldade do povo indiano e descobri que esse tipo de feminicídio é um problema 
estrutural dessa cultura, com razões complexas que favorecem a perpetuação dessa prática. E qual 
sociedade não tem problemas estruturais tão arraigados que se tornam difíceis de solucionar? 
 
9. Por que a Antropologia abandona o pensamento positivista para compreender a realidade? 
Apesar de aspectos do paradigma positivista terem significado o avanço da ciência moderna, muitos 
autores o criticam, principalmente, por sua característica de pretender-se modelo a todos os métodos 
científicos e apontam suas impropriedades para o estudo de todos os conhecimentos humanos. 
Considerando a ciência uma atividade da imaginação, os pressupostos do positivismo não se 
sustentam, principalmente, diante do estudo do homem e dos fenômenos sociais, dando lugar às 
contribuições do materialismo histórico e da psicanálise para a abordagem científica das relações 
humanas. Em se tratando de fatos humanos, individuais e sociais, não é razoável esperar ver para crer, 
nem desconsiderar a subjetividade intrínseca à observação e, menos ainda, considerar que a uma ação 
corresponde apenas uma reação. Ao contrário, é absolutamente necessário levar em conta o ponto de 
vista do cientista, considerando que ele é condicionado por seus valores, crenças e outros elementos 
construídos histórica e culturalmente. 
 
10. O que é cultura e como ela está presente em nosso cotidiano? 
Cultura é um termo complexo e de grande importância para as ciências humanas em geral. Sua 
etimologia vem do latim culturae, que significa “ato de plantar e cultivar”. Aos poucos, acabou 
adquirindo também o sentido de cultivo de conhecimentos. Nesse sentido, podemos dizer que a 
cultura engloba os modos comuns e aprendidos de viver, transmitidos pelos indivíduos e grupos em 
sociedade. Para além de um conjunto de práticas artísticas, tradições ou crenças religiosas, devemos 
compreender a cultura como uma dimensão da vida cotidiana de determinada sociedade. Ao tratar do 
conceito de cultura, a sociologia se ocupa em entender os aspectos aprendidos que o ser humano, em 
contato social, adquire ao longo de sua convivência. Esses aspectos, compartilhados entre os 
indivíduos que fazem parte deste grupo de convívio específico, refletem especificamente a realidade 
social desses sujeitos. Características como a linguagem, modo de se vestir em ocasiões específicas são 
algumas características que podem ser determinadas por uma cultura que acaba por ter como função 
possibilitar a cooperação e a comunicação entre aqueles que dela fazem parte. A cultura possui tanto 
aspectos tangíveis - objetos ou símbolos que fazem parte do seu contexto - quanto intangíveis - ideias, 
normas que regulam o comportamento, formas de religiosidade. Esses aspectos constroem a realidade 
social dividida por aqueles que a integram, dando forma a relações e estabelecendo valores e normas. 
Uma característica da cultura é que ela é indissociável da realidade social. A cultura está presente 
sempre que os seres humanos se organizam em sociedade. A cultura é uma construção histórica e 
produto coletivo da vida humana. Isso quer dizer que falar em cultura implica necessariamente se 
referir a um processo social concreto. Costumes, tradições, manifestações culturais e folclóricas como 
festas, danças, cantigas, lendas, etc. só fazem sentido enquanto parte de uma cultura específica; ou 
seja, as manifestações culturais não podem ser compreendidas fora da realidade e história da 
sociedade a qual pertencem. 
 
11. Como a Antropologia analisa os limites entre normal e anormal? 
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Como é possível distinguir o que é normal do que é anormal? Essa pergunta, que parece simples à 
primeira vista, deve receber muita atenção principalmente quando não nos satisfazemos com a 
naturalização que sofrem os fenômenos sociais hoje em dia. Mais ainda, quando estamos convencidos 
de que a normalidade não é um dado da natureza, mas um conceito construído socialmente. O 
conceito de normalidade pode versar sobre três aspectos distintos: aquilo que está dentro das regras 
sociais, aquilo que é estatisticamente corriqueiro e aquilo que designa a distinção saúde/doença. É 
tranquilo, nos dias de hoje, em muitas camadas da população, pensar as regras sociais como 
construções históricas e políticas, que ganham sentido no interior de uma cultura. Nesse aspecto, é 
qualificado como normal tudo aquilo aceito numa dada sociedade, numa determinada época. O 
mesmo se passa com a normalidade estatística, relacionada à dimensão de um evento, à sua 
ocorrência maciça. Ela é expressa em números que não carregam valor ou julgamento em si mesmo, 
cabendo às pessoas que estudam determinado evento julgar correlações possíveis ou classificá-lo em 
uma escala de normalidade. Sua atribuição de valor, portanto, é uma construção teórica e também 
histórica. 
 
12. Quais as questões antropológicas presentes no filme Flor do Deserto? 
O filme Flor do Deserto, conta história verídica de Waris Dirie, garota somali que aos 13 anos, foge de 
sua tribo de seu país e de seu continente, rumo à Londres, na tentativa de escapar de um casamento 
forçado. Porém, apesar de suas desventuras na fuga, Waris ainda estava por enfrentar seu maior 
desafio: a adaptação a uma nova cultura e a descoberta de que era “diferente” das outras mulheres. 
Waris descobre que é diferente quando revela à amiga Marylin que foi circuncisada aos 3 anos de 
idade, seguindo costume de seu povo. Direta ou indiretamente, o filme aborda uma miríade de temas 
– tais como o debate sobre o que significa ser mulher, entre outros –, porém o foco sem dúvida recai 
sobre a questão da mutilação genital. Pelo prisma dos Direitos Humanos, a temática bem se enquadra 
no clássico confronto entre universalismo e relativismo cultural. A discussão acerca da própria 
nomenclatura da prática revela matizes ora universalistas, ora relativistas, ora ecléticas. De início, 
empregou-se a expressão técnica “circuncisão feminina”. Todavia, a patente similaridade entre essa 
terminologia e a da “circuncisão masculina” suscitou críticas, pois ensejava que se traçassem paralelos 
entre o que se considerava uma clara violação de direitos humanos, de um lado, e um procedimento 
médico provedor de benefícios higiênicos e à saúde, de outro. 
O que o filme mostra é justamente a maior dificuldade de os Direitos Humanos Universais intervirem 
em assuntos tão relativos como os relacionados às diferentes culturas. Estando ciente do vício 
inerentes à assunção de uma posição categórica; ao agirmos assim, talvez acabemos por julgar o Outro 
com base em nossos pré-conceitos e preconceitos, e talvez involuntária e implicitamente ergamos uma 
hierarquia “civilizado x não-civilizado”. Por outro lado, pautar-nos por um distanciamento crítico 
exacerbado, apesar de consignar uma exigência importante ao intelectual, pode desembocar, no 
limite, em irresponsabilidade, em renúncia a nossos valores morais. Por conseguinte, defendemos: a 
mutilação genital não é justificável, pois viola direitos humanos – o direito à igualdade de gênero e 
direitos da criança, já que a grande maioria das circuncisões se dá em meninas e jovens com menos de 
18 anos. 
 
13. Quais as questões antropológicas presentes no filme Minha Vida em Cor de Rosa? 
Apesar de ser lançado no ano de 1997, nos traz uma temática que retrata o que acontece nos dias 
atuais em nossa sociedade brasileira, a qual não está preparada para lidar com naturalidade referente 
às diferenças, sejam estas em quaisquer âmbitos (raça, gênero, opção sexual, condições financeiras, 
entre outros.); no caso do filme relacionado a questões de gênero. Um menino de 7 anosque não 
reconhece sua identidade como menino e se comporta e acredita que é uma menina, fato que ofende 
os valores morais dos pais e do lugar onde vivem, o filme nos faz refletir acerca das questões sociais 
que estamos inseridos, as construções desses padrões sociais do que temos por ser menino ou menina 
e como estas construções quando equivocadas nos fazem julgar ou não aceitar determinados 
comportamentos que não temos como “normal’ em nossa sociedade. A criança e a família sofrem pela 
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não aceitação do que foge de padrões pré-determinados; sexo e gênero são faces de uma mesma 
moeda, na qual sexo vai além de diferenças corporais, pois, uma vez que se reduz a isto levamos para 
o reino da natureza e algo que é natural não pode ser mudado; o sexo é também o modo como 
atribuímos sentido (socialmente construídos) às diferenças sexuais entre homens e mulheres. O 
gênero é mais amplo que o sexo e inclui o próprio sexo, se trata de uma construção social tanto para 
diferenças anatômicas como comportamentais. As questões expressas no filme são reflexo de uma 
sociedade patriarcal, que envolve relações de gênero, a construção social do que é “ser menino” e o 
que é “ser menina”, fruto de uma estrutura social que leva os indivíduos a cometerem violência, por 
um simples isso é certo ou aquilo é errado, não respeitando a subjetividade dos indivíduos. 
Particularmente, pensamos que o modo de vida que fomos criados, nos impede de desde o nascimento 
de nossos filhos dar-lhes a chance de criarem um conceito próprio sobre seu gênero, talvez por ideias 
preconceituosas que temos a respeito de sexo, gênero e sexualidade e talvez se estas questões 
estivessem bem esclarecidas e resolvidas em nossa sociedade, não enxergaríamos como algo fora dos 
padrões de normalidade

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