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aborto de feto anencefalo

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O ABORTO DE FETOS ANENCÉFALOS E O 
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 
7º SEMESTRE A.M 
SÃO PAULO- 2015 
INTRODUÇÃO 
O aborto de fetos anencéfalos, legalizado pelo STF em 2012, foi tema que 
gerou grande polêmica em toda a sociedade dividindo-se entre os favoráveis a tal decisão, e os moralistas que se posicionam contra a descriminalização desta conduta. Foram levantadas questões principiológicas, religiosas, médicas, constitucionais, questões do direito à vida, etc. 
Mas como pode o direito interferir nestas questões que geram tantas 
divergências? Até que ponto, e como, nós operadores do direito devemos nos posicionar a respeito deste assunto? São questões como essas, e ainda questões com relação ao direito à vida, (bem maior tutelado pelo ordenamento jurídico) em conflito com outros princípios constitucionais como a dignidade da pessoa humana, e liberdade da mulher que iremos tratar neste trabalho. 
ABORTO DE FETOS ANENCÉFALOS E O STF 
No inicio de 2012 houve julgamento de grande repercussão no plenário do 
STF. Por maioria dos votos a corte decidiu que a interrupção da gravidez de fetos anencéfalos não é crime, desta forma, caberá à mulher decidir se levará a gravidez adiante ou se realiza a antecipação terapêutica do parto. 
O caso chegou ao Supremo Tribunal Federal com uma ação proposta em 
2004 pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde- CNTS por meio de uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, ADPF-54. A entidade defende a antecipação do parto, quando há má formação cerebral sem chance de longa sobrevivência para criança. Até a decisão do STF, a interrupção nesses casos, não era permitida. De fato é uma questão muito polêmica e muito difícil de ser decidida, vez que estão em pauta direitos fundamentais como a dignidade humana e o direito à vida. 
De acordo com o Código Penal Brasileiro o aborto é crime, exceto se 
houver estupro ou risco de morte da mãe, entretanto, entende-se que interromper a gestação, no caso em que o feto não tem vida em potencial não configura a hipótese de aborto descrito no código penal, portanto, deve ser uma faculdade da mulher, um direito de escolha, independentemente de autorização judicial. 
Outra questão importante é que o aborto é geralmente definido como a 
interrupção da gravidez, podendo ser espontâneo ou provocado. No caso de anencefalia o termo "aborto" não é o mais adequado para indicar a interrupção da gestação já que este designa a morte de um feto que tem potencial para transformar- se em um Ser humano. Na má formação incompatível com a vida, o mesmo não ocorre, pois o feto é inviável, isto é, não tem chances de vida fora do útero materno. Portanto, os termos: parto terapêutico e antecipação de parto de feto inviável seriam os termos mais apropriados pra denominar a interrupção da gestação de feto 
anencéfalo, fato que afasta ainda mais o conceito de aborto descrito na norma penal. 
A anencefalia é uma má formação congênita do tubo neural, estrutura que 
dá origem ao cérebro e à medula espinhal e pode surgir entre o 21º e o 26º dia de 
gestação, o diagnóstico é feito por meio de ultrassonografia no pré-natal a partir de 12 
semanas de gravidez. É uma patologia totalmente incompatível com a vida extrauterina. Apesar do problema, mesmo com a anencefalia, parte do cérebro pode continuar funcionando, mais a expectativa de vida do bebê é muito curta e pode trazer muitos riscos à saúde da mulher, inclusive há índices de que 5% delas perderam o útero devido a hemorragias sofridas durante o parto, que é muito complicado. Antes da decisão do STF, mães que quisessem interromper essa gravidez precisavam de uma autorização judicial. 
O Brasil é o quarto país no mundo em casos de fetos anencéfalos, só fica 
atrás do Chile, do México e do Paraguai, segundo a Organização Mundial da Saúde a incidência aqui no país é de aproximadamente um caso para cada mil nascimentos. 
Diante de um tema tão técnico e polêmico, o Relator do processo Ministro 
Marco Aurélio, convocou uma audiência pública para discutir o assunto. Participaram dos debates especialistas contra e a favor à interrupção da gravidez de anencéfalos. A audiência foi realizada no Supremo em setembro de 2008. Foram quatro dias de debates, entre representantes do governo, especialistas em genética, entidades religiosas e da sociedade civil. 
Quatro anos depois da audiência pública, em 2012, o processo começou a 
ser julgado pelo plenário do supremo. Houve manifestações religiosas um dia antes na praça dos três poderes, e no grande dia as manifestações continuaram. 
O julgamento que durou dois dias, atraiu a atenção da opinião pública e dividiu religiosos e especialistas no assunto. 
O Relator do processo, ministro Marco Aurélio, começou o voto 
ressaltando que o Brasil é um Estado laico e que o direito não se submete à religião, devendo esta ficar em relação privada. Defendeu ainda que o anencéfalo não tem direito à vida porque não existe vida em potencial, para ele, ainda que exista tese de que haveria direito à vida intrauterina esse direito não pode se sobrepor a outros também garantidos pela Constituição Federal. O Relator foi seguido por sete ministros, apenas dois votaram contra o direito da mulher de interromper a gravidez de fetos anencéfalos. O único que não participou do julgamento, foi o ministro Dias Toffoli, que se declarou impedido. 
A ministra Carmem Lucia, assim como os outros ministros, também 
chamou a atenção para o objeto da ação que estava sendo julgada. 
O Supremo, não estava decidindo, nem tão pouco permitindo o aborto, 
mas sim a possibilidade jurídica de uma pessoa ou de um médico ajudar aquela pessoa que esteja grávida de um feto anencéfalo de ter a liberdade de fazer a escolha sobre qual é o melhor caminho a ser seguido. Não é uma escolha fácil, é uma escolha trágica sempre, em qualquer que seja a decisão da mulher. 
Obrigar a mulher a prosseguir a gravidez, fere seu direito à liberdade 
reprodutiva, pois não há interesse social concreto em tutelar uma vida que não vai se desenvolver socialmente, não há que se dizer que existe interesse em proteger um ser que se mostra inviável em suas condições biológicas. Proteger o feto é proteger na 
verdade uma percepção moral difusa por um meio evidentemente ineficaz, proteger a 
mulher é garantir concretamente a sua liberdade de escolha sobre seu papel reprodutivo. 
Oito ministros votaram a favor, e dois contra. O Ministro Ricardo 
Lewandowisk foi o primeiro a abrir divergência, para ele ao decidir sobre o tema, o Supremo estaria invadindo a competência privativa do Congresso Nacional. Ele foi seguido pelo então presidente da Corte na época do julgamento ministro César Peluzo, que acredita ser impossível falar em morte, sem que tenha existido uma vida. 
A partir da decisão o procedimento pode ser feito sem prévia autorização 
judicial desde que a doença seja diagnosticada por um médico habilitado. É a mulher quem decide se vai ou não levar a gravidez à diante. Aguarda-se agora, que a decisão se torne Lei. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Diante de todo o estudo realizado, visando todas as questões técnicas e 
polêmicas averiguadas no tema, e ainda em análise à votação do STF, que por maioria dos votos, decidiu pela descriminalização do aborto no caso de fetos anencéfalos, podemos concluir que nós como operadores do direito não devemos tratar deste assunto, (nem de qualquer outro), impondo nossas opiniões pessoais, principiológicas ou religiosas, pois é algo muito subjetivo que só cabe a mulher decidir. Dessa forma, percebemos que seria inviável criminalizar tal conduta, pois é totalmente atípica.

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