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�1 Bianca Cristina Gonçalves LEGALIZAÇÃO DO ABORTO NO BRASIL E A QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA Monografia contendo como tema a Legalização do aborto no Brasil e a questão de saúde pública, objetivando a entrega para pesquisa jurídica na Universidade Estadual de Maringá, cuja área de concentração é o curso do primeiro ano matutino. Dra. Valéria Siva Galdino Cardin TURMA: 2 RA: 100729 Maringá, PR 2016 �2 Bianca Cristina Gonçalves LEGALIZAÇÃO DO ABORTO NO BRASIL E A QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA Monografia apresentada a disciplina de pesquisa na jurídica da Universidade Estadual de Maringá como exigência parcial da nota do quarto bimestre sobre orientação da Dra. Valéria Silva Galdino Cardin Maringá, _____ de Janeiro de 2017 BANCA EXAMINADORA __________________________________________ Profª. Dra. Valéria Silva Galdino Cardin �3 Dedico primeiramente a Deus, que sem ele eu não teria alcançado meus objetivos, depois aos meus pais que sempre investiram nos meus sonhos. Ao meu namorado, por sempre aguentar minhas crises e me manter nos eixos. Aos meus amigos, por serem parte desta caminhada e por fim à Dra. Valéria Silva Galdino Cardin, com seu jeito peculiar me fazer aprender tanto. �4 Agradecimentos A Deus pоr tеr mе dado saúde е força pаrа superar аs dificuldades. A esta universidade, sеυ corpo docente, direção е administração qυе oportunizaram а janela qυе hoje vislumbro υm horizonte superior, eivado pеlа acendrada confiança nо mérito е ética aqui presentes. À Profª. Dra. Valéria Silva Galdino Cardin pela oportunidade е apoio nа elaboração deste trabalho. Aos meus pais que investiram em meus sonhos e ao meu namorado , pelo amor, incentivo е apoio incondicional. E a todos qυе direta оυ indiretamente fizeram parte dа minha formação, о mеυ muito obrigado. �5 "É "de esquerda" ser a favor do aborto e contra a pena de morte, enquanto direitistas defendem o direito do feto à vida, porque é sagrada, e o direito do Estado de matá-lo se ele der errado.” (Luiz Fernando Verissimo) �6 Resumo A presente monografia visa tratar do aborto. Considerado um tabu social, ele é um fato presente na sociedade, porém ignorado pela maioria, razão pela qual existem poucos estudos à este respeito. Sendo uma questão de saúde pública, ele é um dos maiores responsáveis pela morte materna nos países subdesenvolvidos. A igreja é um dos maiores opositores da legalização do aborto, condenando vorazmente aquelas que abortam. A legalização é um tema recorrente, visto o seriedade dos casos médicos expostos, e da luta das mulheres por mais direitos sobre o próprio corpo. No Brasil é uma discussão atual, visto o fortalecimento do movimento feminista, a união das mulheres em busca de mais segurança e direitos, além da epidemia de zica vírus em gravidas onde os bebês nasciam anencéfalos. Palavras chave: Aborto; Tabu social; Saúde publica; Igreja; Legalização. �7 Abstract This monograph aims to address the abortion. Considered a social taboo, it is a fact present in society, but ignored by most, which is why there are few studies on this subject. As a public health issue, it is one of the most responsible for maternal death in underdeveloped countries. The church The church is one of the greatest opponent of abortion legalization, condemning voraciously those who abort. Legalization is a recurring theme, as the seriousness of exposed medical cases, and of women's struggle for more rights over their own bodies. In Brazil is a current discussion, as the strengthening of the feminist movement, the union of women in search of more security and rights, as well as viruses zica epidemic in pregnant where babies born anencephalic. Keywords: Abortion; social taboo; Public health; Church; Legalization. �8 Lista de Abreviaturas e Siglas CNBB Conferencia Nacional de Bispos do Brasil Art. Artigo Sec. Século �9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO……………………………………………….……………………………..10 1. O DIREITO A VIDA………………………………………………………………….…. 11 1.1 QUANDO TERIA INICO A VIDA………………………………………………………. 12 1.2 O DIREITO FUNDAMENTAL A VIDA………………………………………………… 13 1.3 INICIO DA PERSONALIDADE HUMANA…………………………………………… 14 2. A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA…………………………………………..…..16 2.1 DIGNIDADE DO FETO E DO NASCITURO……………..…………………………17 3. ABORTO………………………………………………………………………………….18 3.1 CONCEITO…………………………………….………………………………………..18 3.2 TIPOS DE ABORTO…………………………………………………………………….19 3.3 PRECEDENTES HISTÓRICOS DO ABORTO…………………..…………………. 20 3.4 HISTÓRICO DO ABORTO NO ORDENAMENTO BRASILEIRO…………………. 22 4. ABORTO COMO QUESTÃO DE SÚDE PÚBLICA………………………..……….. 24 4.1 ABORTO CRIMINOSO………………………………………………………………… 26 4.2 INFLUENCIAS DO ABORTO NO SISTEMA DE SAÚDE PÚBLICA…………….… 27 5. LEGALIZAÇÃO DO ABORTO…………………….……………………………………XX 6. O JULGAMENTO SOCIAL………………………………………………………………XX 7. CONSIDERAÇÃOES FINAIS…………………………………….…………………….XX BIBLIOGRAFIA �10 INTRODUÇÃO A presente monografia tem como análise da legalização do Aborto no Brasil. Sendo uma questão de saúde pública, ele é o quinto maior responsável pela morte materna nos países subdesenvolvidos. Fazendo uma síntese dos pontos que são mais relevantes, e que também são os mais discutidos pelos doutrinadores penalistas, sobre o aborto. No Capítulo 1º Tratarei do Direito a vida, e todos os aspectos relevantes que são discutidos na doutrina. No Capitulo 2º Tratarei da Dignidade da Pessoa Humana, e também seus aspectos relevantes discutidos na doutrina. No Capitulo 3º Falarei do Aborto, conceito, tipos de aborto, seus precedentes históricos, falando dos aspectos relevantes e discutidos na doutrina. No Capitulo 4º Falarei do aborto como questão de saúde pública, o aborto criminoso e as influencias do aborto no sistema de saúde pública. No Capitulo 5º Abordarei o tema falando sobre a legalização do aborto e a recente decisão da 1ª turma do Supremo Tribunal Federal. No Capitulo 6º Finalizarei tratando do julgamento social que cerca o tema assim como a visão da igreja sobre ele. E por fim farei uma breve conclusão a respeito do tema. Nessa monografia foi utilizado o método teórico que consiste na consulta de materiais já produzidos, como artigos, doutrinas, outras pesquisas pré realizadas. Aplica- se também o método histórico uma vez que faz se necessária uma retrospectiva para entender os rastros gerados pela criminalização do aborto e a forma que sua clandestinidade afeta a saúde publica e a sociedade. �11 1. O DIREITO À VIDA Como nos ensina Galante O direito à vida é um direito fundamental do homem, 1 podemos dizer que é um super direito, pois todos os demais direitos dependem dele para se concretizar, assim sem o direito a vida, não haveria os relativos a liberdade, a intimidade, etc. A evolução científica, sobretudo na área da biotecnologia, tem-nos possibilitado o beneplácito da cura de doenças e uma melhoria na qualidade de vida das pessoas em geral. Porém, paradoxalmente, os conceitos e concepções, inclusive acerca do início da vida e seu respectivo término, permanecem os mesmos de décadas atrás. O direito a vida assim como os demais Direitos, são garantidos aos brasileiros assim como dos estrangeiros residentes no Brasil e está prevista na Constituição Federal do Brasil de 1988 em seu artigo 5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida”. Não é mais possível que concebamos o direito à vida, na atualidade, tal como se fez há séculos, sob pena de nosso desenvolvimento sócio-tecnológico em nada auxiliar em nossas concepções mais filosóficas. O direito à vida deve ser analisado sob um novo enfoque, trazido pelo princípio constitucional da dignidade humana e pelo próprio contexto social da atualidade. O direitoà vida tutelado pelo nosso ordenamento jurídico e, em especial, pelas normas penais, só pode ser entendido em conformidade com o direito à dignidade da pessoa humana, constituindo-se em um direito à vida digna. Deve-se conceber o direito à vida não como um dogma intangível, mas admitir a sua relativização, prevista até mesmo constitucionalmente, em conformidade com a moderna doutrina de relativização dos direitos fundamentais e os próprios métodos de interpretação constitucional, que tratam da exigência de uma interpretação sistemática e da harmonização dos princípios constitucionais. GALANTE, Marcelo. Sinopse de direito constitucional para aprender direito. 6.ed. Rio de Janeiro: 1 BF, 2008. �12 1.1 QUANDO TERIA INICIO A VIDA Existem duas correntes respeitadas sobre quando teria inicio a vida, sendo elas a natalista, segundo a qual a vida teria inicio no nascimento com vida ; e a teoria 2 concepcionista, na qual a vida teria inicio na concepção . Embora existam estas 3 correntes, em nossa Assembléia Constituinte no sentido de que o direito à vida deveria ser assegurado desde a concepção ou desde o nascimento, o legislador constituinte simplesmente o garantiu sem traçar qualquer outra referência, delegando a demonstração do exato momento do surgimento da vida humana à doutrina e à jurisprudência, com a utilização dos conhecimentos científicos obtidos com os diversos ramos da ciência. Sob a ótica da bioética, pode-se afirmar que a vida humana, a pessoa, apresenta- se como uma unidade de espírito e corpo, sendo composta de elementos espirituais, intelectivos e morais, além dos meramente biológicos. O aspecto mais humano do homem está em sua essência, na "capacidade de se separar do determinismo do mundo e de estar na singularidade única por meio da consciência e da liberdade” . 4 A Igreja Católica entende que o início da vida se dá com a fecundação, repudiando qualquer tipo de experimentação com embriões, bem como seu congelamento, e inclusive as técnicas de fecundação in vitro. Ainda, tradicionalmente doutrina que a mulher não tem o direito de abortar nem mesmo para salvar sua própria vida, sendo contra a interferência direta no feto , posicionamento às vezes mitigado na atualidade . 5 6 Mesmo diante dos avanços conquistados, a medicina e as ciências biológicas têm dificuldades em estabelecer com clareza o momento no qual se inicia a real vida de um indivíduo. Uma vez que seria necessário definir o que é vida, se vida for ter ciência de sua existência a vida começaria com a maturidade do sistema nervoso. % O nascimento com vida requer a respiração, “se respirou viveu”, mesmo que apenas uma vez.2 Quando o espermatozoide fecundasse o óvulo inicia-se a vida.3 SGRECCIA, Elio. Manual de Bioética: I. Fundamentos e Ética Biomédica. Tradução de Orlando 4 Soares Moreira. São Paulo: Loyola, 2002. p. 112-113. Clèmerson Merlin Clève apud SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e Direitos 5 fundamentais na Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. Apresentação. PESSINI, Léo; BARCHIFONTAINE, Christian de Paul de. Problemas atuais de Bioética. 4. ed. 6 São Paulo: Loyola, 1997. p. 269. �13 É preciso vislumbrar que mudanças na interpretação do Direito estão ocorrendo, de modo que concepções que perduraram por muitos séculos apresentam-se maleáveis, sobretudo em função do avanço das Ciências Biomédicas, alterando conceitos de vida e morte. O aspecto mais importante da vida humana está em sua essência, na capacidade de se separar do determinismo do mundo e de estar na singularidade única por meio da consciência e da liberdade. No mesmo sentido, o princípio da dignidade da pessoa humana enuncia que se deve levar em consideração a idéia do indivíduo formador de si próprio e de sua vida segundo o seu projeto espiritual, a capacidade de autodeterminação de sua conduta. 1.2 O DIREITO FUNDAMENTAL A VIDA Não só a Constituição Federal do Brasil declara a inviolabilidade do direito à vida, como também acordos internacionais sobre Direitos Humanos que o Brasil assinou afirmam ser a vida inviolável. O principal desses acordos é a Convenção Internacional dos Direitos Humanos, que em seu artigo 4o Decreto 678/1992 prevê: “Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente.” A vida é um bem maior e deve ser protegido, e observa-se essa proteção através da moral e dos bons costumes, para que não ocorra o ato de um ser humano tirar a vida de outrem. Contudo, tal ato sempre foi praticado no decorrer da evolução da sociedade, levando à necessidade de positivar o direito à vida e garantir um efetivo cumprimento da letra da lei. O direito à vida está previsto no artigo 5º, “caput” da nossa Constituição Federal de 1988, e se define como uma Cláusula Pétrea, que é uma norma que age de forma integral que impede a alteração de determinados dispositivos legais. A sua previsão legal das Cláusulas Pétreas está no dispositivo do artigo 60, § 4º, IV da Constituição Federal de 1988, da qual não será deliberado ou não será proposta Emenda, e abrange, entre outros, o inciso IV, que versa sobre os direitos e garantias fundamentais, que, entre suas disposições, assegura o direito à vida. �14 Conceitua o doutrinador Alexandre de Moraes , definindo o direito à vida: 7 O início dessa preciosa garantia individual deverá ser dado pelo biólogo, cabendo ao jurista, tão- somente, dar-lhe o enquadramento legal, e, do ponto de vista biológico, não há dúvida de que a vida se inicia com a fecundação do óvulo pelo espermatozóide, resultando um ovo ou zigoto. Assim o demonstram os argumentos colhidos na Biologia. A vida viável começa, porém, com a nidação, quando se inicia a gravidez. Conforme adverte o biólogo Botella Lluziá no prólogo do livro Derecho a la vida e institución familiar, de Gabriel Del Estal, Madrid, Eapsa, 1979, em lição lapidar, o embrião ou feto representa um ser individualizado, com uma carga genética própria, que não se confunde nem com a do pai, nem com a da mãe, sendo inexato afirmar que a vida do embrião ou do feto está englobada pela vida da mãe. A vida, então, não somente é protegida pela Lei Maior, mas também pelas conveniências sociais, pelos costumes e a boa moral. Esse direito deve ser protegido e assegurado, uma vez que a Constituição tem a sua aplicação no nível mais elevado. 1.3 INICIO DA PERSONALIDADE HUMANA O que chamo aqui de personalidade humana é chamada pelo ordenamento jurídico de personalidade civil. Pessoa natural é sinônimo de pessoa física, é todo ser humano. Toda pessoa natural é dotada de personalidade (aptidão genérica para ser titular de direitos e contrair obrigações). Enuncia o art. 2º do CC que a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. O art. 2º do novo Código Civil reproduziu ipsis litteris o art. 4º do Código revogado 8 (de 1916): "A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.”. O atributo jurídico da pessoa passa a existir a partir do momento em que o feto sai do ventre da mãe, quer por parto natural, induzido ou artificial, e tenha vida. É a vida que dá a personalidade jurídica da pessoa. Alexandre de Moraes, Direitos Humanos Fundamentais, p. 80.7 Nos mesmos termos; tal como está escrito.8 �15 Até então, desde a concepção até o nascimento com vida, o embrião é um nascituro, gerado e concebido com existência no ventre materno; nem por isto pode ser considerado como pessoa. "A lei protege os interesses de um ser humano já concebido (óvulo fecundado), ordenando o respeito pelas expectativas daqueles direitos que esse ser humano virá a adquirir, se chegar a ser pessoa" , oque acontecerá, repetimos, somente após o nascimento com vida. O professor Washington de Barros Monteiro, com a experiência de um grande civilista esclarece: "Discute-se se o nascituro é pessoa virtual, cidadão em germe, homem in spem. Seja qual for a conceituação, há para o feto uma expectativa de vida humana, uma pessoa em formação. A lei não pode ignorá-lo e por isso lhe salvaguarda os eventuais direitos. Mas para que estes se adquiram, preciso é que ocorra o nascimento com vida. Por assim dizer, nascituro é pessoa condicional; a aquisição da personalidade acha-se sob a dependência de condição suspensiva, o nascimento com vida. A esta situação toda especial chama Planiol de antecipação da personalidade”. O surgimento da personalidade civil, apesar de positivado no artigo 2º do atual Código Civil Brasileiro, configura-se como assunto cercado por divergências e discussões, vez que o referido dispositivo trata do tema de maneira vaga e, até mesmo, contraditória. O dispositivo legal citado enuncia que “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”. Tal norma já era prevista no Código Civil de 1916, em seu artigo 4º, o qual restou praticamente repetido no atual texto legal. Considerando a palavra derivada do latim, nasciturus significa “que está por nascer”. Para o eminente professor Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, a palavra nascituro provém do latim nascituru, que é adjetivo e substantivo masculino, cujo significado é “que, ou aquele que há de nascer.” 9 Portanto, por nascituro deve-se entender, segundo a doutrina civilista, o ser vivo que está por nascer. Expressa o referido conceito a denominação do produto da concepção que ainda não foi retirado do ventre materno. Nascituro é aquele que está dentro do ventre materno e ainda não nasceu, mas é considerado ser desde a concepção. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de 9 Janeiro, v. 2, p.375. �16 2. A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA O Principio da dignidade da pessoa humana encontra-se recepcionado no art.1o, inciso III, da CF/88, pois vem a ser um valor supremo de ordem jurídica, Considerado uns dos princípios mais importantes por englobar todos os direitos e garantias fundamentais contidos na Constituição, começando pelo direito a vida e chegando ao direito de realização plena. Na Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu art 1o, inc III, está escrito que: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Dis t r i to Federa l , const i tu i -se em Estado Democrático de Direto e tem como fundamentos: […] III- a dignidade da pessoa humana. Neste sentido, Cretella Júnior (1998, p. 132) acrescenta comentários à Constituição Brasileira 1988, art 1o ao 5o LXVII: O ser humano, o homem, seja de qual origem for, sem descriminalização de cor, sexo, religião, convicção política, ou filosófica, tem direito a ser tratado, pelos semelhantes, como “pessoa humana”, fundando-se o atual Estado de Direito, em vários atributos, entre os quais se incluía dignidade do homem, relido, assim, como aviltante e merecedor de combate qualquer tipo de comportamento que atente contra este apanágio do homem. Confirma esta ideia Pena Júnior (2008, p.384), que descreve em sua obra: Este princípio constitucional superior aglutina em torno de si todos os demais direitos e garantias fundamentais contidas na Constituição Federal desde o direito a vida, passando pelo direito a liberdade, até chegar a realização plena, ao direito de ser feliz. Ele fundamenta-se na valorização da pessoa humana como fim em si mesmo e não como objeto ou meio para consecução de outros fins. Contudo não é fácil conceituar o que seja este princípio que é considerado tão importante e essencial para o ser humano, pois, se funda em matérias vagas e imprecisas. Desta maneira vem nos falar Ingo (2007, p. 227): �17 A possui uma dimensão dúplice, que se manifesta enquanto s imul taneamente expressão da autonomia da pessoa (vinculada à ideia de autodeterminação no que diz com as decisões essenciais a respeito da própria existência), bem como da necessidade de sua proteção (assistência) por par te da comun idade e do Es tado , especialmente quando fragilizada ou até mesmo, e principalmente – quando ausente a capacidade de autodeterminação. O dicionário Aurélio da língua portuguesa , assim define Dignidade como sendo: 10 “de quem é digno; nobreza; respeitabilidade; cargo ou titulo de alta graduação, qualidade de digno, modo digno de proceder, brio. Esclarecedor também é o entendimento de Segado (2006) que diz que o Princípio da Dignidade da pessoa humana está diretamente ligada à liberdade e à autodeterminação da pessoa. Para Sarlet, Ingo e Wolfgang (2007) Dignidade enquanto qualidade intrínseca de todo ser humano e inerente a ele se traduz primordialmente na capacidade de decidir livre e racionalmente qualquer modelo de conduta, com a conseqüente exigência de respeito por parte dos demais. O princípio da dignidade da pessoa humana se preocupa com a defesa da vida digna onde o ser humano nunca seja tratado como meio ou coisa, sendo este um principio constitucional fundamental de ordem jurídica constitucional brasileira. Assim como nos ensina Presente em cada pessoa, em sua essência mesma, esta dignidade é reconhecida como incomparável inviolável e inalienável. 2.1 DIGNIDADE DO FETO E DO NASCITURO Vejamos primeiramente o que prescreve o art. 2o do Código Civil de 2002: “Art. 2o. A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.” A partir do momento em que o embrião fecundado está no ventre materno, temos do ponto de vista jurídico o "nascituro", ou seja, aquele vai nascer. Fiúza (2002, p.114) preleciona que: “o nascituro não tem direitos propriamente ditos. Aquilo que o próprio legislador denomina “direitos do nascituro”, não são direitos subjetivos. São na verdade, direitos objetivos, isto é, regras impostas pelo legislador pra www.webdicionario.com/dignidade 10 �18 proteger um ser que tem a potencialidade de ser pessoa, e que , por já existi pode ter resguardados eventuais direitos que virá a adquirir quando nascer.” O nascituro tem seus direitos resguardados pela legislação, embora ainda não possua personalidade jurídica, e é protegido tanto pela legislação Civil, como no Penal. Na legislação civil encontramos o direito do nascituro tendo como exemplo, a mãe que representa o nascituro recebendo alimento e tendo direito de herança, já a legislação penal tutela a vida daquele que vai nascer, qual seja o nascituro, por isso é previsto em nosso ordenamento jurídico o aborto como crime. Temos uma questão bastante importante a ser tratada, que é a possibilidade de o nascituro ser portador da dignidade da pessoa humana, aos meus olhos, é perfeitamente aceitável uma vez que embora não seja considerado pessoa humana, e tão pouco seja detentor de personalidade jurídica, a nossa legislação de forma expressa garante o direito daquele que está no útero materno, e que ainda vai nascer, dentre essas garantias está o da dignidade da pessoa humana, trata-se de uma conclusão lógica, afinal, se a lei lhe assegura o direito a vida que está seja digna. Quem também defende essa idéia é Pereira (2004, p. 147): A incidência do principio da dignidade da pessoa humana sobre o nasc i tu ro , cons is te no reconhecimento de que a este devem ser proporcionados todos meios idôneos e necessários para seu desenvolvimento com todas as suas potencialidades. Não basta, portanto, garantir a vida do feto, deve-se, pois, conceder ao mesmo o direito de sobreviver em condições de plena dignidade. Portanto é claro e evidente que o nascituro é, em si, uma pessoa, e comotal, portadora de personalidade jurídica desde a concepção, com direitos garantidos desde tal momento, sendo o mais relevante de todos os direitos à vida, e a dignidade da pessoa humanos, constitucionalmente garantidos 3. ABORTO 3.1 CONCEITO Nas palavras de SALLES, aborto é “o aborto é a interrupção da gravidez com morte do feto, ou a destruição do produto da concepção (ovo, embrião ou feto)” . 11 SALLES JR, Romeu de Almeida, Código Penal Interpretado. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 11 341. �19 Aborto é entendido como o fim da gestação provocada pela morte do feto. “Aborto é a cessação da gravidez, antes do termo normal, causando a morte do feto ou embrião” . 12 O aborto pode se apresentar de algumas formas, entre uma delas, como o aborto econômico-social. O aborto econômico social é a cessão da gestante, causando a morte do feto ou embrião por razões econômicas ou sociais, quando a mãe não tem condições de cuidar do seu filho, seja porque não recebe assistência do Estado, seja porque possui família numerosa, ou até por política estatal . 13 Sobre essa classificação de NUCCI, é importante destacar que um dos principais motivos da prática do aborto está relativamente condicionado à situação de pobreza da gestante ou da família dela, evidenciando que o Estado não cria mecanismo político, social e econômico para que possa atender o indivíduo em situação de pobreza. Percebe- se que muitas vezes isso acontece não pelo fato da mãe não desejar o filho, mas pelas consequências financeiras que surgirão na vida da genitora e da sua família. A Constituição da República declara como princípio fundamental, o princípio da dignidade da pessoa humana, que tem como escopo primordial a preservação do mínimo existencial, ou seja, o mínimo de recursos materiais necessários à subsistência dos indivíduos. Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana. Não obstante, na consagração da Carta Maior, a desigualdade social ainda é um grande desafio do Poder Público, que não se encontra organizado para atender de forma adequada e eficaz às pessoas que necessitam dele. Segundo a Organização Mundial de Saúde, aborto é “aborto é a interrupção da gestante antes de 20-22 semanas ou com peso inferior a 500 gramas” . 14 NUCCI, Guilherme de Souza, Manual de Direito Penal, 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 12 2009. p. 625. Ibid., p. 62613 Disponível em: www.ans.gov.br/portal/upload/biblioteca/livro-portal>. Acessado em: 15 nov. 14 2016. �20 Para alguns autores, aborto significa matar um embrião humano, que na opinião de DWORKIN, quando não ocorrido por força natural ou de maneira acidental, é caracterizado como um ato criminoso, haja vista a violação da lei. Neste sentido, preceitua DWORKIN que “o aborto, que significa matar deliberadamente um embrião humano em formação” . 15 Ainda, segundo o DWORKIN, a vida humana, em qualquer forma, tem um valor sagrado. [...] é que a vida humana não tem apenas um valor intrínseco, mas também sagrado. A afirmação de que a vida humana é sagrada e por que tem uma base ao mesmo tempo secular e religiosa. Também tentarei demonstrar uma coisa ainda mais importante: em que sentido o pressuposto de que a maioria das pessoas aceita a santidade da vida humana, mas diverge de maneira complexa sobre suas implicações relativas ao aborto. [...] qualquer criatura humana, inclusive o embrião mais imaturo, é um triunfo da criação divina ou evolutiva que produz, como se fosse do nada, um ser complexo e racional, e igualmente um triunfo daquilo que comumente chamamos de “milagre” da reprodução humana, que faz com que cada novo ser humano seja, ao mesmo tempo, diferentes dos seres humanos que o criaram e uma continuação deles . 16 No campo moral, DWORKIN dá sua contribuição expondo da seguinte forma: A exaltada teoria do movimento “pró-vida” parece pressupor a afirmação derivativa de que um feto já é, desde o momento de sua concepção, uma pessoa em sua plenitude moral, com direitos e interesses de importância igual aos de qualquer membro da comunidade moral. Muito poucas pessoas, porém, -mesmos aqueles que pertencem aos grupos mais radicalmente antiaborto, realmente acreditam nisso. 17 Capez (2004, p.108), em sua obra, conceitua o referido assunto: Considera-se aborto a interrupção da gravidez com a conseqüente destruição do produto da concepção. Consiste na eliminação da vida intra- uterina. Não faz parte do conceito de aborto, a DWORKIN, Ronald. Domínio..., p. 2.15 DWORKIN, Ronald. Domínio..., p. 15.16 DWORKIN, Ronald. Domínio..., p. 15.17 �21 posterior expulsão do feto, pois pode ocorrer que o embrião seja dissolvido e depois reabsorvido pelo organismo materno, em virtude de um processo de autólise; ou então pode suceder que ele sofra processo de mumificação ou maceração, de modo que continue no útero materno. A lei não faz distinção entre o óvulo fecundado (3 primeiras semanas de gestação), embrião(3 primeiros meses), ou feto(a partir de 3 meses), pois em qualquer fase da gravidez estará configurado o delito de aborto, quer dizer desde o inicio da concepção ate o inicio do parto. Quem diverge essa idéia é Mirabette (2011, p. 57): A palavra aborto vem do latim ab-ortus que significa privação do nascimento a interrupção voluntária da gravidez com a expulsão do feto do interior do corpo materno, tendo como resultado a destruição do produto da concepção, assim também conceitua Pierandeli (2005, p.109). Este conceito é usado para fazer referência ao oposto de orior, isto é, o contrário de nascer. Como tal, o aborto é a interrupção do desenvolvimento do feto durante a gravidez. 3.2 TIPOS DE ABORTO O aborto geralmente é dividido em dois tipos, aborto espontâneo e aborto induzido. Outras classificações também são usadas, de acordo com o tempo de gestação por exemplo. Aborto e a interrupção da gravidez, com a interrupção do produto da concepção, e a morte do ovo (ate 3 semanas de gestação),embrião(de 3 semanas a 3 meses) o feto(após 3 meses), não implicando necessariamente sua expulsão. O produto da concepção pode ser dissolvido, reabsorvido, pelo organismo da mulher, ou até mumificado, ou pode a gestante morrer antes da expulsão não deixara de haver, no caso, o aborto. O aborto pode ser Espontâneo ou natural, para Nucci (2010) aborto espontâneo, involuntário ou casual, é a interrupção da gravidez oriunda de causas patológicas, que ocorre de maneira espontânea, nas palavras de Assim também nos ensina Diniz (2009, p.30): Cabe acrescentar que o aborto espontâneo ou natural é geralmente causado por doenças no curso �22 da gravidez por péssimas ou precárias condições de saúde da gestante preexistentes a fecundação, alguns exemplos são: sífilis, anemia profunda, cardiopatia, diabetes, nefrite crônica entre outras. Ou por defeitos estruturais no ovo, embrião ou feto. Outra forma de aborto é o aborto acidental. Nas preciosas palavras Teles (2006, p. 130): O aborto acidental também pode ser chamado de ocasional ou circunstancial, acontece quando inexiste qualquer propósito em interromper o ciclo gravídico, geralmente provocado por um agente externo, como emoção violenta, susto, queda, ocasionando traumatismo, não existindo ato culposo, ou seja, negligência imprudência ou imperícia. Neste sentido também discorre a respeito Belo (1999, p.21): O aborto espontâneo e acidental, não são puníveis. No primeiro a interrupção espontânea da gravidez, ocorrendo por exemplo, quando presente alguma anormalidade no crescimento do feto, ou , uma doença infecciosa, ou ainda um distúrbio glandular. O segundo o aborto acidental, ocorre com interferência externa involuntária, como por exemplo a queda. Aborto Natural trata-sedo aborto espontâneo, que ocorre de maneira involuntária em decorrência de problema biológico, orgânico ou mesmo por uma deformidade do ovo. Por se considerado um ato involuntário, esse ato instintivo não constitui crime. A maior parte dos abortos ocorre quando os cromossomos do espermatozóide encontram com os cromossomos do óvulo. Muitas vezes o bebê (também chamado de feto) não se desenvolve por completo, ou desenvolver-se de maneira anormal. Em casos como estes, o aborto é a maneira que o corpo termina a gravidez que não está se desenvolvendo normalmente. Outras causas possíveis de aborto incluem infecção do útero, diabetes sem controle, alterações hormonais, e problemas no útero. Excesso de cigarro, álcool e drogas ilegais como a cocaína também causam o aborto principalmente no início da gravidez quando os principais órgãos do bebê estão se desenvolvendo. Segundo a pesquisa realizada pela Medicinet, “o aborto natural normalmente ocorre nas 13 (treze) primeiras semanas de gravidez”, podendo ser evitado ou reduzido quando há possibilidade de identificar os problemas. A pesquisa ainda relata o acréscimo de abortamento espontâneo em decorrência da idade avançada da mulher. �23 Os abortos naturais geralmente acontecem ao longo das 13 primeiras semanas de gestação. Embora a probabilidade geral de aborto natural seja de 15 a 20%, estudos demonstram que a partir do momento em que a função cardíaca do feto é detectada, a probabilidade de aborto natural se reduz a menos de 5% [fonte: MedicineNet (em inglês)]. Infelizmente, o índice de abortos naturais pode mudar de acordo com a condição de saúde e a idade da mãe. As mulheres entre 35 e 45 anos têm entre 20 e 35% de probabilidade de aborto natural, e as mulheres com mais de 45 anos têm probabilidade de aborto natural de 50%. Passar por um aborto natural também eleva ligeiramente as chances de novas ocorrências similares. Uma mulher com menos de 35 anos que tenha sofrido um abordo natural tem 25% de probabilidade de sofrer um segundo [fonte: APA (em inglês)]. Conforme imposição do Código de Direito Penal, aborto provocado pela gestante ou com o consentimento dela é caracterizado como crime doloso. Tais crimes encontram- se disciplinados nos artigos 124, 125, 126 e 127, com penas variadas, conforme descrito: Art. 124. - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque: Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos. Aborto provocado por terceiro Art. 125. - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos. Art. 126. - Provocar aborto com o consentimento da gestante Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 14 (quatorze) anos, ou é al ienada ou débi l mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. Forma qualificada Art. 127. - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte” �24 vO art. 128, I e II, do Código Penal cuida de duas hipóteses de excludente de ilicitude com relação ao aborto, chamados pelos doutrinadores de aborto terapêutico e aborto sentimental. O terapêutico trata-se de um procedimento realizado por um profissional médico com intuito de salvar a vida da gestante nos casos de gravidez de risco. Já o aborto sentimental ocorre quando a gravidez é resultado de estupro. Art. 128 – Não se pune o aborto praticado por médico: I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante; II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. A Ministra CÁRMEM LÚCIA explicitou-se sobre o aborto necessário ou terapêutico da seguinte maneira: A primeira hipótese é o denominado aborto necessário ou terapêutico justificável pelo estado de necessidade, em face de diagnósticos médicos que atestem inviabilidade da vida da gestante sem a interrupção da gravidez. Na escolha entre os dois bens jurídicos: a vida da gestante ou a do feto, opta-se pela certeza da vida adulta, afastando-se o que ainda é uma possibilidade, sobrevalorizando-se a vida da gestante em detrimento da do feto. Neste caso, o Código Penal não considera o ilícito do p r o c e d i m e n t o a d o t a d o , m e s m o s e m o consentimento da gestante, "se justificada por iminente perigo de vida" (art. 146, § 3°). Sobre esse assunto, COSTA JÚNIOR destacou alguns casos que há risco para a vida da gestante: Casos mais freqüentes de aborto necessário são o estado epilético, graves vômitos incoercíveis, leucemia, cardioplastias, anemia perniciosa, polinefrite, hemorragias corpiosas etc. O aborto necessário pode ser terapêutico (curativo) ou profilático (preventivo). Em qualquer caso, é o médico em quem deverá decidir, conferindo-lhe a lei. O ideal seria procurar salvar, praticando-se a cesariana, caso o feto já fosse dotado de suficiente maturidade, a mãe e o filho . 18 Ainda nesse sentido, o legislador atual, quando do julgamento da ADPF 54, manifestou-se expondo a liberdade e a autonomia privada da mulher em relação à COSTA JÚNIOR, Paulo José da. Comentários ao Código Penal. 4. ed. São Paulo: Saraiva. 18 1996. p. 388. �25 interrupção da gravidez quando se tratar de gestação em que há risco de morte para mãe e de gravidez resultada de estupro. O legislador, no campo da exclusão de ilicitude, trouxe duas exceções a essa regra do art. 124 do Código Penal. No primeiro caso, quando a vida da mãe estiver em perigo – aborto necessário (art. 128, I). No segundo caso, quando a honra da mãe for violada de tal forma que torne insustentável para ela a manutenção da gravidez – aborto sentimental (art. 128, II). Em ambos os casos, é preciso ressaltar, a lei apenas exclui a ilicitude da conduta. Ou seja, a norma permite que a mãe decida se quer continuar com a gestação e deixa de punir sua conduta caso ela opte pela interrupção da gravidez. A lei preserva o direito de escolha da mulher, não atentando para a viabilidade ou inviabilidade do feto. Estamos, portanto, diante de uma tutela jurídica expressa da liberdade e da autonomia privada da mulher. Veja-se: a lei não determina que n e s s e o u n a q u e l e c a s o o a b o r t o d e v a necessariamente ocorrer. A norma penal chancela a liberdade da mulher de optar pela continuidade ou pela interrupção da gestação. E, neste caso, não incrimina sua conduta. Em se tratando de feto com vida extrauterina inviável, a questão que se coloca é: não há possibilidade alguma de que esse feto venha a sobreviver fora do útero materno, pois, qualquer que seja o momento do parto ou a qualquer momento em que se interrompa a gestação, o resultado será invariavelmente o mesmo: a morte do feto ou do bebê. A antecipação desse evento morte em nome da saúde física e psíquica da mulher contrapõe-se ao princípio da dignidade da pessoa humana, em sua perspectiva da liberdade, intimidade e autonomia privada? Nesse caso, a eventual opção da gestante pela interrupção da gravidez poderia ser considerada crime? Entendo que não, Sr. Presidente. Isso porque, ao proceder à ponderação entre os valores jurídicos tutelados pelo direito, a vida extrauterina inviável e a liberdade e autonomia privada da mulher, entendo que, no caso em tela, deve prevalecer a dignidade da mulher, deve prevalecer o direito de liberdade desta de escolher aquilo que melhor representa seus interesses pessoais, suas convicções morais e religiosas, seu sentimento pessoal. 3.3 PRECEDENTES HISTÓRICOS DO ABORTO A história do aborto é um tanto quanto conflituosa, pois desde os tempos remotos vem causando muitas discussões e instâncias. Para se ter uma noçãodo que aconteceu ao longo dos anos, a Revista Eletrônica do Núcleo de Estados e Pesquisas do �26 Protestantismo da EST, baseada na obra de Giulia Galeotti, publicou uma resenha na qual é feito um traço importante do que ocorreu ao longo da história. Para Galeotti, a linha divisória fundamental da história do aborto encontra-se no século XVIII quando, a partir dos descobrimentos médicos e sob a ratificação dos Estados nacionais que se consolidaram após a Revolução Francesa, começou-se a privilegiar a vida do feto, futuro trabalhador e soltado. Antes desse marco, o aborto era fundamentalmente uma questão da mulher, a única que podia testemunhar acerca de sua gravidez. O feto, em geral, era considerado simples apêndice do corpo da mulher. Assim, no mundo grego-romano, por exemplo, a mulher que abortasse apenas era punida caso estivesse ferindo aos interesses de seu marido. A sociedade daquela época aceitava a prática do aborto, pois entendia que a mulher tinha autonomia em poder dispor de seu próprio corpo, desde que não afetasse os interesses do marido, ou seja, embora ela tivesse liberdade, sempre estava subordinada à vontade do seu cônjuge, e o feto não tinha importância, seria penas um elemento dispensável ou não. Na Antiguidade greco-romana, o aborto era moralmente aceito e juridicamente lícito, mas a sua prática não podia contrariar a expectativa do pai, do marido ou do patrão, o que foi lembrado por Chico Buarque “mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas/ geram pr’os seus maridos os novos filhos de Atenas/ Elas não têm gosto ou vontade/ Nem defeito nem qualidade/ Têm medo apenas/ Não têm sonhos, só têm presságios. Segundo DWORKIN, no mundo grego-romano, o aborto era comum, mas o assunto teve discussão no campo religioso dos primórdios do cristianismo. Os Santos Agostinho e Jerônimo também manifestaram sobre o assunto: O aborto era comum no mundo grego-romano, mas em já em seus primórdios o cristianismo o condenou.“ No sec. V. Santo Agostinho referiu-se como “prostitutas” as mulheres, inclusive casadas, que para evitar as consequências do sexo procuravam veneno que as esterilizassem e, quando estes não funcionam, destroem de algum modo o feto que trazem no útero, preferindo que seu filho morra antes de chegar a viver, ou se já estava vivo no útero, que seja morto antes de nascer. Nenhuma das primeiras denúncias contra o aborto pressupunha que o feto havia sido animado- dotado de alma por Deus – momento da concepção”. Santo Agostinho declarou-se inseguro quanto a esse ponto e assim admitiu que nos �27 abortos feitos no início da gravidez um “filho” pode morrer “antes de chegar a viver”. São Jerônimo afirmou que as sementes formam-se gradualmente no útero, e [o aborto] não é considerado homicídio enquanto os elementos dispersos não adquirem sua aparência de seus membros”. 19 A HUNGRIA também se pronunciou acerca da história do aborto: No que se refere aos precedentes históricos, a prática do aborto nem sempre foi objeto de incriminação, sendo comum entre as civilizações hebraicas e gregas. Em Roma, a lei das XII Tabuas e as leis da Republica não cuidavam do aborto, pois consideravam produto da concepção como parte do corpo da gestante e não como ser autônomo, de modo que a mulher que abortava nada mais fazia que dispor do próprio corpo. Em tempos posteriores o aborto passou a ser considerado uma lesão do Direito do marido a prole sendo sua pratica castigada. Foi então com o cristianismo que o aborto passou a ser efetivamente reprovado no meio social, tendo os imperadores Adriano, Constantino, e Teodósio, reformado o direito e assimilado o aborto criminoso ao homicídio . 20 O filósofo católico do século III, São Tomás de Aquino, afirmou que o feto só adquire alma depois de um determinado tempo e de maneira diferente entre o homem e a mulher, conforme expõe DWORKIN: O feto não tem uma alma intelectual ou racional no momento em que é concebido, mas que a adquire em algum momento posterior-quarenta dias no caso de um feto masculino, segundo a doutrina católica tradicional, e mais tarde no caso de um feto feminino . 21 Ainda, segundo DWORKIN, São Tomás de Aquino negava que a alma humana estivesse no embrião, pois era considerado apenas como matéria prima de um ser humano: Santo Tomás, portanto, negava que a alma humana já tivesse impregnada no embrião que o homem e uma mulher criam juntos por meio do sexo. Esse embrião inicial, pensava ele, é apenas a matéria prima de um ser humano cujo desenvolvimento é dirigido por uma série de almas, cada qual DWORKIN, Ronald. Domínio da Vida: Aborto, eutanásia e liberdades individuais. 1.ed. São 19 Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 55. HUNGRIA, Nelson. Precedentes históricos, comentários. 5. ed. São Paulo: Forense, 1981, p. 20 268. DWORKIN, Ronald. Domínio... p. 5621 �28 apropriada ao estágio que alcançou e cada qual corrompida e substituída pela seguinte, até que o embrião finalmente alcance o desenvolvimento necessário a uma alma claramente humana . 22 Por muitos séculos discutiu-se acerca da possibilidade de o feto ter uma alma ou não. Os argumentos do Santo Tomás continuaram: “[...] sustentou que o aborto nas primeiras semanas de gravidez, antes que o feto esteja “formado”, não é um assassinato porque a alma ainda não se acha presente” . 23 Foi publicado, no século XIX, um manual importante sobre o aborto, objetivando a instrução dos seminaristas daquela época, que declarou que “apesar de não dotado de alma, o feto se dirige para a formação de um homem; sua ejeção constitui, pois, um homicídio antecipado” . 24 O aborto era considerado um “homicídio antecipado”, o que caracterizava um pecado, apesar de São Jerônimo achar que o feto não possuía alma. O aborto prematuro era certamente tipo em conta de um grave pecado, como insiste a expressão “homicídio antecipado. Ainda que São Jerônimo não acreditasse que um feto prematuro tivesse alma, e que Santo Agostinho se mostrasse em dúvida quanto a essa questão, nenhum deles estabeleceu qualquer distinção entre a pecaminosidade do aborto prematuro e a do tardio . 25 Na Idade Média, o aborto era constituído como homicídio e contra a dádiva divina: “o homicídio, era às vezes usado para designar qualquer crime, inclusive a contracepção, contra a ordem cutural da procriação, e portanto, contra a santidade da vida concebida como dádiva divina” . 26 Em 1869, o Papa Pio IX publicou o Apostolicae Sedis, um documento que trazia na sua essência a excomunhão para aquelas mulheres que praticassem o aborto. Muitos acreditam que um decreto papal de 1869, no qual Pio IX declarava que até mesmo o aborto prematuro podia ser punido com a excomunhão, marcou a primeira rejeição oficial da concepção DWORKIN, Ronald. Domínio..., p. 56.22 Ibid., p. 59.23 Ibid., p. 59.24 Ibid., p. 59.25 Ibid., p. 60.26 �29 tradicional de que o feto é dotado de alma algum tempo depois da concepção, e a adoção oficial da concepção atual de animação imediata . 27 Depois da Primeira Guerra Mundial, a legislação proibia com rigor o aborto e o coito interrompido, em decorrência da necessidade de se constituir família com grande quantitativo de pessoas, cujo objetivo era conquistar novos terrenos para implementar a economia. Depois da Primeira Guerra Mundial, as nações, levadas pela vaga nacionalista, que pregava a necessidade de famílias numerosas, adotaram sanções normativas mais severas com relação à contracepção e ao aborto. Afirmava António Visco que o coitus interruptus “defrauda a natureza exaltando o egoísmo sexual e defrauda o Estado, na medida em que subtrai milhares e milhares de cidadãos à nação”. Obviamente, tal afirmação tinha um duplo componente ideológico: o crescimento demográfico como condição de desenvolvimento econômico nacional e o comportamento imperialista para o qual esse aumento é importante na óptica da conquista colonial e doalargamento territorial.13 No decorrer da Segunda Guerra Mundial, os nazistas pregavam o aperfeiçoamento da raça, afirmando ser necessário excluir os filhos de mulheres de raça inferior, de modo que a legislação permitia o aborto: A legislação nazista, que tinha o objetivo de preservar o aperfeiçoamento da raça, afirmava que era preciso impedir que as mulheres de raça inferior tivessem filhos. Portanto, o aborto era permitido e incentivado nos territórios ocupados, pois, como dizia o Fürer, a e produção das populações não alemãs não se reveste de nenhum interesse para nós. Em meio a essas controvérsias, conforme verificado acima, nota-se que, na trajetória histórica do aborto, a proteção do feto ficou em segundo plano, visto que a posição sempre foi o interesse social e econômico para alavancar os países, razão pela qual se evitavam os abortos, assim como não se permitia o coito interrompido, não com o intuito de preservar a verdadeira essência da vida, mas sim para que houvesse mão-de- obra necessária e imprescindível para o crescimento econômico. No Livro do Êxodo (1000 a.c.), o aborto foi condenado e o culpado passou a ser obrigado a Ibid., p. 62.27 �30 indenizar a quantia estabelecida pelo marido da mulher ou por árbitros. Se houvesse dano grave, aplicava-se a Lei de Talião. Nessa época, a perda do feto era considerada um prejuízo econômico, porque o filho era uma mão-de-obra a mais para o sustento da família. A antiga União Soviética foi o primeiro país a introduzir a legalização do aborto. ´ Em 1917, a antiga União Soviética foi o primeiro país a suprimir a repressão ao aborto. Por quatro anos ele foi praticado indistintamente, até que por razões de saúde pública foi limitado apenas a clínicas e médicos custeados pelo Estado. O governo soviético tinha por objetivo recrutar as mulheres para o trabalho da mesma forma que os homens, de modo que incentivou às mulheres a terem liberdade tanto para o divórcio quanto para praticarem o aborto. A União Soviética tornou-se o primeiro país do mundo a garantir às mulheres o direito ao aborto legal. Dois anos antes, em 1918, o Código da Família, promulgado pelos bolcheviques, havia instituído o casamento civil em substituição ao religioso e estabelecido o divórcio a pedido de qualquer um dos cônjuges. O governo que emergiu da Revolução comunista de 1917 também incentivou a educação feminina e encorajou as mulheres a assumirem os mesmos postos de trabalho que os homens pelos mesmos salários. Na década de 20, as mulheres soviéticas começaram a ocupar mais e mais postos de trabalho nas indústrias e creches e restaurantes estatais se encarregavam das tarefas antes consideradas domésticas. As novas condições materiais somadas à facilidade para se casar e se divorciar e ao acesso ao aborto permitiram o surgimento de novos arranjos familiares, baseados no amor livre, e não na dependência econômica. Por fim, entre uma história e outra, entre gerações e gerações, percebe-se que o aborto sempre foi questionado de modo peculiar, observando a diversidade cultural e crenças de cada momento. Entrementes, na atualidade o questionamento acerca da autonomia da mulher em poder dispor de seu próprio corpo está relativamente fundado nos aspectos religiosos, mediante as imposições das igrejas, que quase sempre dominaram e interferiram nas ações sócio-políticas dos Estados. O movimento antiaborto é liberado por grupos religiosos, utiliza uma linguagem religiosa, invoca �31 Deus o tempo todo e frequentemente atribui uma grande importância à oração . 28 [...] Atualmente, a posição oficial da Igreja sobre a vida do feto encontra-se em sua Instrução sobre o respeito pela vida humana em sua origem e sobre a dignidade da procriação, publicada em 1987 pela Sagrada Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé, com o consentimento do Papa. A Instrução declara que “todo ser humano” tem direito à vida e à integridade física desde o momento da concepção até a morte . 29 Já o autor Capez (2004, p. 108/9) cita que: Na idade média o teólogo Santo Agostinho com base na doutrina de Aristóteles considerava que o aborto seria crime apenas quando o feto tivesse recebido alma, o que se julgava correr quarenta ou oitenta dias após a concepção segundo se tratasse de varão ou mulher. Já, são Basílio, não admitia qualquer distinção, considerando o aborto sempre criminoso. No Velho Testamento, também, se pode considerar que as crianças são vistas como uma benção. A primeira benção sobre o homem foi sagradas escrituras- Bíblia Sagrada - Gen. 1,28 Genesis.1,28 “Crescei e multiplicai-vos, povoai e submetei a terra.” Percebe-se que no meio dessa civilização o aborto era tido como algo reprovável. Assim, a posição tradicional da Igreja é rechaçar a hipótese de aborto, sendo uma questão extremamente polêmica, pois envolve conceitos religiosos, ou seja, crenças de um povo. Esta benção foi renovada com Noé (Gen 9,7) Bíblia Sagrada, Gen.9,7: Uma esposa como a videira fecunda no interior de sua casa e os filhos como rebentos de oliveira ao redor de sua mesa”, sendo que o contexto, de ambas as passagens, mostra que se trata mais de um dom do que de um verdadeiro preceito. Na sociedade do Velho Testamento as crianças eram tidas como um dom de Deus e como uma recompensa para a fé nele. Para aquele homem que teme ao Senhor e segue o seu caminho, os Salmos protegem. DWORKIN, Ronald. Domínio..., p. 49.28 Ibid., p. 54.29 �32 Assim, a posição Tradicional da Igreja é repelir a prática do aborto, sendo, portanto uma questão de grande repercussão, pois envolve questões religiosas, ou seja, crença de um povo. Outro tipo de aborto existente é o aborto humanitário e o necessário, assim bem conceitua Capez (2004, p.124): Trata-se do aborto realizado pelos médicos nos casos em que a gravidez decorreu de um crime de estupro. O estado não pode obrigar a mulher a gerar um filho que e fruto de um coito vagínico violento, dados os danos maiores, em especial psicológicos, que isso lhe pode acarretar. Nada justifica que se obrigue a mulher estuprada a aceitar uma maternidade odiosa, que dê vida a um ser que lhe recordará perpetuamente o horrível episódio da violência sofrida. . Desta forma o Estado deu a mulher o direito de fazer ou não o aborto. Bitencourt (2007) assim disserta sobre o tema: o código Penal ao lecionar que “não se pune o aborto”, apresenta o aborto lícito nestas duas hipóteses, Humanitário e Necessário. Na prática, para evitar abusos, o médico só deve agir mediante prova concludente do alegado estupro, salvo se o fato é notório ou se já existe sentença judicial condenatória do estuprador. Em seus ensinamentos leciona Noronha (1998, p.64) a respeito do tema: Mulher violentada, agravada na honra e envilecida por abjeta lubricidade, tem o direito de desfazer-se do fruto desse coito. Diversos códigos assim também dispõe: o da polônia, Uruguai, equador, cuba, argentina e outros. Assim a excludente da ilicitude vai incidir, quando a gravidez for decorrente de estupro, e quando a gestante consentir o aborto. 3.4 HISTÓRICO DO ABORTO NO ORDENAMENTO BRASILEIRO Durante um certo tempo, o crime do aborto não existia no ordenamento brasileiro, tendo em vista que o Estado considerava que a mulher era proprietária de seu corpo e �33 poderia dispor deste, tendo a opção de interromper a gravidez a qualquer tempo sem que lhe fosse atribuída sanção. Somente com o Código Penal do Império de 1830 em que abortar era crime grave contra a segurança das pessoas e da vida. O aborto foi incluído nos crimes contra a segurança da pessoa e da vida, em seus arts. 199 e 200, nesses artigos eram detalhados dois tipos de figura criminosa: Aborto consentido e aborto sofrido, neste sentido o aborto provocado não era punido. O referido código do Império do Brasil estabelecia: Art 199. Ocasionar aborto por qualquer meioempregado anterior ou exteriormente com o consentimento da mulher pejada. Pena: Prisão com trabalho de 1 a 5 anos. Se o crime for cometido sem o consentimento da mulher pejada. Penas dobradas. Art 200. Fornecer, com o consentimento de causa, drogas ou quaisquer meios para produzir o aborto, ainda que este não se verifique. Pena: Prisão com trabalho de 2 a 6 anos. Se esse crime for cometido por médico, boticário ou cirurgião ou ainda praticantes de tais artes. Penas: dobradas. Assim, o Código Penal de 1830 punia apenas o aborteiro, com a pena de 1 a 5 anos,duplicando no caso do ato ser efetuado sem o consentimento da mulher, sendo que não previa o crime de Aborto praticado pela própria gestante(auto-Aborto),sendo a mesma em qualquer hipótese,isenta de punição. Nas palavras de Capez (2004) no Brasil, o código do Império de 1830 nada previa sobre o crime de aborto, praticado pela própria gestante, mas apenas criminalizava a conduta de terceiros que realizassem o ato, com ou sem o consentimento dela já o, código de 1890, passou a prever o crime de aborto praticado pela gestante e somente com o Código Penal de 1940, que tipificou o crime de aborto provocado, sofrido, e o consentido. Depois de 1890 introduziu-se o “Código Penal da República”, passou a criminalizar o aborto praticado pela própria gestante (auto-Aborto), passando a distinguir o aborto com ou sem expulsão do feto, agravando-se caso ocorresse a morte da gestante. Conforme nos ensina Bitencourt (2007, p. 129): Quando o aborto era praticado para ocultar desonra própria a pena era consideravelmente atenuada. Este código passou a autorizar o aborto para salvar a v i da da ges tan te , nes te caso , pun ia �34 eventualmente imperícia do médico ou parteira que culposamente causassem a morte da gestante. O referido Código Penal do Império de 1890-prescrevia: Art.300 provocar aborto haja ou não a expulsão do produto da concepção. No primeiro caso:pena de prisão celular por 2 a 6 anos. No segundo caso:pena de prisão celular por 6 meses a 1 ano.§1o Se em conseqüência do Aborto, ou dos meios empregados para provocá-lo, seguir a morte da mulher. Pena de prisão de 6 a 24 anos. §2o Se o aborto foi provocado por médico, parteira legalmente habilitada para o exercício da medicina. Pena: a mesma procedente estabelecida e a proibição do exercício da profissão por tempo igual ao da reclusão. Art.301 Provocar Aborto com anuência e acordo da g e s t a n t e . P e n a : p r i s ã o c e l u l a r d e 1 a 5 anos.Parágrafo único :Em igual pena incorrera a gestante que conseguir abortar voluntariamente, empregado para esses fim os meios; com redução da terça parte se o crime foi cometido para ocultar desonra própria. Art.302 Se o médico ou parteira, praticando o aborto legal,para salvar da morte inevitável, ocasionam-lhe a morte por imperíc ia ou negligencia. Penas: prisão celular de 2 meses a 2 anos e privado de exercício da profissão por igual tempo de condenação.” Assim pode-se observar a grande importância deste código para a criminalização do aborto no país, pois passou a ser punido o auto-Aborto, e previsto como legal o Aborto para salvar a vida da gestante. Finalmente o Código Penal de 1940 tipificou as figuras do aborto provocado (CP, art.124 –a gestante assume a responsabilidade pelo abortamento) , aborto sofrido(CP, art. 125- o aborto é realizado por terceiro sem o consentimento da gestante) e aborto consentido(CP,art.126-o aborto é realizado por terceiro com o consentimento da gestante. Sobre este código assevera o Bitencourt (2007, p.129): O código Penal de 1940 foi publicado segundo a cultura, costume e hábitos na década de 30. Passaram mais de 60 anos, e, nesse lapso, não foram apenas os valores da sociedade que se modificaram, mais principalmente os avanços científicos e tecnológicos, que produziram verdadeira revolução na ciência médica. No atual estagio, a medicina tem condições de definir com absoluta certeza e precisão, eventual anomalia, do feto e, conseqüentemente, a viabilidade da vida �35 extra-uterina. Nessas condições, e perfeitamente defensável a orientação do anteprojeto de reforma da parte especial do Código Penal, que autoriza o aborto quando o nascituro apresentar graves e irreversíveis anomalias físicas ou mentais, ampliando a abrangência do aborto eugênico ou piedoso. Desta forma, pode-se perceber que no decorrer dos anos, muitas alterações foram feitas na tipificação do aborto no Brasil, e a partir de novos avanços científicos e tecnológicos muitas mudanças correrão, pois a história nos mostra que tais mudanças parecem inevitáveis. Segundo a Revista Brasileira de História das Religiões, a Constituição do Império do Brasil de 1824 considerou o aborto voluntário como um crime grave contra a vida humana. Em 1824, segundo os ditames da norma constitucional então vigente, a interrupção voluntária da gestação era considerada como um crime grave contra a vida humana (SOUZA, 2009). No entanto, dado o cuidado que se tinha com a punição das mulheres à época, quando o aborto era praticado pela própria gestante ela era preservada do infligir de alguma pena. A interrupção da gravidez foi condenável no Código Penal do Império de 1830, apesar da prática abortiva já se encontrar condenável pelo catolicismo português na fase colonial, assim como na Constituição do Império. Art. 197. Matar algum recém-nascido. Penas - de prisão por tres a doze anos, e de multa correspondente á metade do tempo. Art. 198. Se a propria mãe matar o filho recém- nascido para ocultar a sua desonra. Penas - de prisão com trabalho por um a três annos. Art. 199. Ocasionar aborto por qualquer meio empregado interior, ou exteriormente com consentimento da mulher pejada. Penas - de prisão com trabalho por um a cinco annos. Se este crime for comettido sem consentimento da mulher pejada. Penas - dobradas. �36 Art. 200. Fornecer com conhecimento de causa drogas, ou quaisquer meios para produzir o aborto, ainda que este se não verifique. Penas - de prisão com trabalho por dois a seis anos. Se este crime for cometido por medico, boticario, cirurgião, ou praticante de taes artes. Penas – dobradas. O Código Penal da República de 1890 passou a condenar, também, o aborto praticado por terceiros, com o consentimento da gestante, conforme preceitua os artigos 300, 301 e 302. Art. 300. Provocar aborto, haja ou não a expulsão do fruto da concepção: No primeiro caso: - pena de prisão celular por dois a seis anos. No segundo caso: - pena de prisão celular por seis meses a um ano. § 1º Si em consequencia do aborto, ou dos meios empregados para provoca-lo, seguir-se a morte da mulher: Pena - de prisão celular de seis a vinte e quatro anos. § 2º Si o aborto for provocado por medico, ou parteira legalmente habilitada para o exercício da medicina: Pena - a mesma precedentemente estabelecida, e a de privação do exercício da profissão por tempo igual ao da condenação. Art. 301. Provocar aborto com anuência e acordo da gestante: Pena - de prisão celular por um a cinco anos. Parágrafo único. Em igual pena incorrerá a gestante que conseguir abortar voluntariamente, empregado para esse fim os meios; e com redução da terça parte, si o crime for cometido para ocultar a desonra própria. Art. 302. Si o medico, ou parteira, praticando o aborto legal, ou aborto necessário, para salvar a gestante de morte inevitável, ocasionar-lhe a morte por imperícia ou negligencia: �37 Pena - de prisão celular por dois meses a dois anos, e privação do exercício da profissão por igual tempo ao da condenação. Com a edição do Código Penal de 1940, o aborto ficou tipificado como crime contra a vida, conforme estabelecido nos artigos 124 a 127, que passou a permitir somente em duas situações extremas: quando tiver risco de morte para a gestante e nos casos de estupro, consoante o art.128: Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: Aborto necessário I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; Aborto no caso de gravidez resultante de estupro II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. Segundo o Ministro AURÉLIO, em manifestação ao julgamento da ADPF 54, o aborto provocado ou com o consentimento da gestante, na legislação vigente, possui um grau de reprovação diferente do infanticídio. Explicitou também acerca do aborto nos casos de estupro, em que o bem tutelado não é a vida. Vê-se, claramente, que os graus de reprovabilidade são diferentes e que a situação da mãe ou gestante é levada em consideração. Praticar o infanticídio não gera penas tão graves quanto cometer um homicídio, que, por sua vez, é punível de forma mais exasperada do que a prática de um aborto. Ainda, é de se considerar que a lesão corporal grave tem uma pena máxima maior do que a do aborto. Também é importante frisar que o aborto provocado sem o consentimento da gestante tem pena de 3 a 10 anos, bem inferior à de homicídio. Assim, para fins de valoração da reprovabilidade, espera-se menos da relação da gestante e da sociedade com o feto do que na relação entre dois indivíduos já totalmente formados organicamente no que tange à proteção da vida e do direito à plenitude da integridade física como bens jurídicos. Lembre-se, ademais, que o estupro é causa de excludente de ilicitude do crime de aborto (art.128, II, do Código Penal), mesmo que o feto seja plenamente viável. Ou seja, no caso de estupro não há interesse em proteger o feto contra a gestante. Fica evidente que, para o direito penal, vida não é, em hipótese alguma, um valor único e absoluto. �38 No campo da estatística, acredita-se que na Europa o índice de abortamento é alarmante, a ponto de causar sérios problemas econômicos com a consequente diminuição da população, comprometendo o consumo, assim como o serviço militar e prejudicando a não satisfação dos aposentados, em decorrência do reflexo na contribuição previdenciária. Na Europa, o problema assume níveis catastróficos. Todos ou quase todos os países da Europa já aprovaram leis permissivas do aborto, sob a alegação de que a vida começa com o nascimento e não na concepção (fecundação ou união do esperma com o óvulo) e que cabe à mulher dispor sobre o seu próprio corpo. A Itália detém o recorde de crescimento negativo da população. Isso causa problemas econômicos, em face do envelhecimento da maioria aposentada, sem o correspondente crescimento da massa trabalhadora e consequente respaldo da contribuição previdenciária, incluindo o consumo e o serviço militar. 4. ABORTO COMO QUESTÃO DE SÚDE PÚBLICA Estima-se que 1 milhão de abortos clandestinos sejam realizados por ano no Brasil. Mesmo ilegal esta é uma realidade vivenciada, cerca de 1 milhão de mulheres se submetem a riscos inimagináveis pois o sistema de saúde publica não pode auxilia-las a passar por este trauma. O aborto não é apenas “impedir uma vida”, mas sim salvaguardar outra, mesmo que para isso cause sequelas naquela que precisou se sujeitar a tal desgaste. Uma 30 mulher não iria escolher por um fim a vida de um filho, a menos que não veja outra saída para ela e para o fruto de seu ventre. O abortamento é um tema a ser discutido na saúde pública, em virtude da sua grande representatividade entre as causas de mortalidade e morbidade materna. Estudos mostram que mulheres grávidas nos países em desenvolvimento continuam morrendo devido a quatro causas principais: hemorragias severas pós-parto, infecções, distúrbios hipertensivos e abortos. As sequelas são físicas e psicológicas, uma vez que o aborto causa um colapso no corpo da 30 mulher, que ao perder o feto para de produzir hormônios o que causa um processo extremamente danoso para a mulher que precisou passar por este trauma �39 Como não é legalizado, o aborto precisa ser feito de forma clandestina, o que, na maior parte das vezes, significa em clinicas sem estruturas, com médicos carniceiros, e métodos desumanos. As mulheres pobres, sem condições de pagar uma clinica bem estruturada e um médico adequado , acabam recorrendo a esses médicos e métodos 31 que colocam a vida das usuárias em sérios riscos . Graças à essas “medidas 32 desesperadas”, no Brasil mais de 250 mil internações por complicações são registradas ao ano. Essas complicações se não forem atendidas à tempo podem evoluir para um 33 quadro mais grave, levando à perda do útero e, em casos mais graves , ao óbito. 34 Tratando-se de um tabu social, muitas mulheres acabam esperando até o ultimo momento para procurar ajuda especializada, com medo de ser julgada, mal tratada e denunciada para as autoridades , fatos os quais existem relatos e registro de realmente ocorrerem. 35 Devido esta demora, causada pelo receio, as mulheres chegam aos hospitais já em estado grave, onde não há muito o que fazer para salva-las. O mais trágico é o fato de, até mesmo as mulheres que buscam auxilio pouco depois do procedimento, acabam por perder a vida devido à erros médicos realizados durante os abortos inseguros, como perfuração do útero, uma má realização da curetagem , infecções proveniente de equipamentos e local mal higienizados, entre 36 outras atrocidades pelas quais mulheres precisam se submeter já que o Estado não lhes presta assistência, privando-as até mesmo de um direito básico como a saúde. 4.1 ABORTO CRIMINOSO Mesmo sendo clandestinas, existem clinicas com boas estruturas, condições de higiene e 31 médicos treinados que realizam abortos por uma pequena fortuna, sendo de acesso apenas aquelas com uma melhor condição econômica Aborto inseguro 32 Sangramentos intra-uterinos, infecções, esterilidade, danos psíquicos e morte 33 Casos os quais, infelizmente não são raros 34 Mesmo ferindo o sigilo médico - paciente, muitos denunciam as mulheres por estas terem ferido 35 preceitos religiosos e culturais, prezados por muitos Procedimento no qual as paredes do útero são raspadas para a retirada de resquícios do 36 endométrio e do feto �40 Nas palavras de Bitencourt (2007) o aborto só é criminoso quando provocado, pois, possui a finalidade de interromper a gravidez, e eliminar o produto da concepção, sendo exercido sobre a gestante, ou sobre o próprio feto ou embrião. Sobre o mesmo tema o autor referido ainda continua a discorrer que, o crime de aborto e suas excludentes estão previstas nos arts.124 a 128 do código Penal Brasileiro, caso em que será punido, ou considerado lícito. Apenas variam de detenção de 1(um) a 3(três) anos, e reclusão de 1(um ) a 10(dez) anos. Nas lições Diniz (2008, p.36): “a)gravidez, período que abrange a fecundação do ovulo, com a constituição do ovo, até o começo do processo de parto, devendo ser sua existência devidamente comprovada pelos meios legais admissíveis.[...]não haverá tutela penal na gravidez molar, ante o desenvolvimento anormal do ovo que provoca sua degeneração, causando a expulsão do útero da “mola hidatiforme” nem na gravidez extra- uterina, por ser um estado Patólogico. b) dolo, isto é, intenção livre e consciente de interromper a gravidez, provocando a morte do produto da concepção [...](c)emprego de técnicas abortivas[…] d) morte do concepto no ventre materno ou logo após sua expulsão. ” Assim, para que exista o aborto criminoso é necessária a comprovação, da gravidez, do dolo e da morte da concepção. As modalidades do Aborto Criminoso são: o aborto provocado pela própria gestante (auto-aborto)-(art.124.1a parte) de acordo com Capez (2004) é a própria mulher que executa a ação material, ou seja, ela própria emprega os meios ou manobra abortiva em si mesma. Já Bitencourt (2007) esclarece que: a mulher apenas consente na prática abortiva, mais a execução material do crimee feito por terceira pessoa, podendo, porém haver o concurso material de pessoas. Há de se concluir diante de tais afirmativas que quem pratica o auto aborto, ou até mesmo, auxilia, induz ou colabora sem interferir deverá responder no mínimo pelo crime na condição de participe. �41 No Aborto Consentido (art.124-2a parte) a mulher apenas consente com a prática abortiva, mais a execução material do crime e realizada por terceira pessoa (CAPEZ, 2004) O Aborto Provocado por Terceiro, com consentimento da gestante. (art.126.CP) para Teles (2006), ocorre quando o agente obtém o consentimento valido da gestante e provoca a interrupção da gravidez devendo responder pelo mesmo crime. Capez (2004) cita que o Aborto provocado por Terceiro, sem consentimento da gestante (art.125) trata-se da forma mais gravosa do delito de aborto, pois neste caso não há o consentimento da gestante no emprego dos meios ou manobras abortivas por terceiros, afinal a ausência de consentimento da gestante. Já Bitencourt (2007) ao falar sobre o Aborto Qualificado-(art.127 CP) menciona que. tal artigo apresenta duas causas especiais de aumento de pena, para o crime praticado com o consentimento da gestante:Lesão corporal de natureza grave e morte da gestante.Somente a lesão corporal de natureza Grave, e a morte, qualificam o crime de aborto. Essas qualificadoras aplicam-se a apenas ao aborto praticado, por terceiro, não sendo aplicado ao aborto praticado pela própria gestante, pois não se pune a auto lesão, nem o ato de matar-se. v O aborto , tem sido nos últimos oito anos um debate acirrado por diversos segmentos da sociedade , incluindo ; religiosos , movimentos feministas , partidos políticos, e parte de um setor da classe médica . Uns defendem à descriminalização do aborto , outros defendem à prática do aborto como questão de saúde.Há várias correntes em relação ao tema . O que diz a ciência ?. O segmento , está divido. A verdade é que , por ano morrem milhares de mulheres no Brasil vitima da prática do aborto clandestino e vidas inocentes que não pediram para serem concebidas. O aborto , é um crime contra a vida , passivo de punição severa , um ato que deve ser intolerável , porque não há justificativa palatável, e não é uma saída para solução da saúde da mulher. Em vez de propor o aborto , porque não inserir na pauta da discussão , o planejamento familiar , informações de como funciona o corpo da mulher , orientação a adolescência sobre a prática do sexo responsável , o momento ideal para a prática do sexo. �42 Por que as instituições , a imprensa não fala o que está por trás do aborto , sabemos que , a prática ao aborto envolve várias questões e situações . São jovens que engravidam de maneira irresponsáveis , são mulheres casadas que tem relação extra- conjugais , são homens casados que se envolvem com outras mulheres que engravidam e forçam essas mulheres a prática do aborto. Não podemos tomar decisões sem nos aprofundar na realidade dos fatos . É preciso discutir o assunto com mais responsabilidades e com dados concretos. A própria imprensa , a mídia , já veiculou reportagens em que mulheres que injetaram remédios abortivos e não obtiveram sucesso, voltaram atrás , deram continuidade a gravidez , tiveram seus filhos , e hoje , declaram felizes por terem dado continuidade a gestação . A sociedade vive num processo de degeneração total , a vida não vale mais nada , os verdadeiros valores foram esquecidos por essa geração , os bons atos e costumes foram deixados na lata do lixo. E voltando ao assunto da questão de saúde , algumas pesquisas que foram realizadas , comprovam que mulheres que praticaram o aborto , tiveram certos problemas de saúde , afetaram várias partes do corpo . Muitos médicos já declaram , que , a mulher que pratica o aborto , não serão mais as mesmas. A mídia , que muitas vezes ocupam o espaço para muitas vezes estimular a prática do aborto, por que , essa mesma mídia , não ocupa o espaço para orientar as mulheres , as jovens e adolescentes sobre o sexo , as práticas mais saudáveis para evitar a gravidez indesejada. Se existem várias maneiras de evitar a gravidez , se existem vários métodos para evitar a gravidez? Mas , me parece , que não interessa a mídia falar de métodos contraceptivos , o mais interessante é falar do assunto que mais dar audiência. E por que, as instituições públicas , ongs , não fazem campanhas educativas ? E por que nos postos , centros de saúde e hospitais , não fazem campanhas educativas e distribuem preservativos . E por que , o governo através do ministério da saúde , não estimula ao homem fazer a vasectomia ? A solução para evitar a prática do aborto , está na prevenção , na informação , na orientação . 4.2 INFLUENCIAS DO ABORTO NO SISTEMA DE SAÚDE PÚBLICA O aborto trata-se de um caso de saúde publica, milhares de mulheres morrem por ano em decorrência de abortos mal feitos. A saúde publica gasta bem mais para dar fazer �43 procedimentos de correção de danos causados por abortos inseguros, do que gastariam realizando abortos. Garantir um acesso as mulheres à clinicas seguras, com médicos especializados e em boas condições de higiene, diminuiria drasticamente os casos de morte, e poderia amenizar as danos que o aborto gera na mulher, uma vez que poderiam ter acompanhamento psicológico, e teriam um tratamento decente para não gerar tantos danos ao seu corpo. O aborto envolve vários aspectos da sociedade, tanto o âmbito jurídico , moral , 37 38 religioso , a saúde publica e o âmbito econômico . Podendo gerar efeitos em todos 39 40 41 eles, uma vez que legalizado ou não. No âmbito jurídico por exemplo, uma vez legalizado o aborto, diminuiria o numero de processos, pois existem mulheres que são acusadas de abortarem, logo são processadas pelo estado, apenas para cumprir a lei, mesmo que o final do processo lhe renda apenas o cumprimento de trabalho voluntário ou o pagamento de cestas básicas. Faz-se uma ressalva neste ponto, as mulheres processadas são quase exclusivamente pobres, pois apenas aquelas que precisam recorrer à saúde publica são denunciadas. Estas então não possuem condições de manter nem mesmo seus lares, logo acabam se ausentando do julgamento, ficando o caso sem encerramento. Na saúde publica, uma vez legalizado, poderiam ser criados mecanismos de auxilio para as mulheres durante o processo do aborto, como assistência psicológica, criação de métodos mais humanitários , acesso para todas a clinicas higienizadas e a médicos 42 especializados, diminuindo as complicações pós aborto, logo podendo erradicar as mortes maternas causadas por aborto. No quesito econômico, diminuiria os gastos públicos, devido o diminuição de processos no jurídico e, como os procedimentos relacionados ao aborto são mais baratos que os procedimentos de reparação de danos gerados por um aborto inseguro. Então, Uma vez que a legalização trata-se de um aspecto legal 37 Muitas pessoas, ainda hoje, consideram imorais as mulheres que abortam 38 Como já citado, a igreja é vorazmente contra o aborto 39 É considerado questão de saúde pública uma vez que ocorre em quantidades alarmante e 40 causa impacto para a saúde da população Os tratamentos necessários para tratar das consequências de um aborto inseguro, são mais 41 caros do que os procedimentos necessários para realizar um aborto seguro Que causem menos danos à saúde da mãe e não sejam tão cruéis com o feto42 �44 economicamente é recomendado a legalização do aborto, para a diminuição de gastos públicos, com questões que poderiam ser evitadas. 5. LEGALIZAÇÃO DO ABORTO Sabemos que no Brasil o aborto é crime e só tem exceções para os casos de estupro e risco de vida/saúde da mulher. Em 2004, o ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello, liminarmente, criou mais uma exceção, no caso dos fetos anencéfalos. Tal decisão foi
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