Buscar

Monografia Legalização do Aborto

Prévia do material em texto

�1
Bianca Cristina Gonçalves 
LEGALIZAÇÃO DO ABORTO NO BRASIL E A QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA 
Monografia contendo como tema a Legalização 
do aborto no Brasil e a questão de saúde 
pública, objetivando a entrega para pesquisa 
jurídica na Universidade Estadual de Maringá, 
cuja área de concentração é o curso do 
primeiro ano matutino. 
Dra. Valéria Siva Galdino Cardin 
TURMA: 2 
RA: 100729 
Maringá, PR 
2016 
�2
Bianca Cristina Gonçalves 
LEGALIZAÇÃO DO ABORTO NO BRASIL E A QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA 
Monografia apresentada a disciplina de 
pesquisa na jurídica da Universidade Estadual 
de Maringá como exigência parcial da nota do 
quarto bimestre sobre orientação da Dra. 
Valéria Silva Galdino Cardin 
Maringá, _____ de Janeiro de 2017 
BANCA EXAMINADORA 
__________________________________________ 
Profª. Dra. Valéria Silva Galdino Cardin 
�3
Dedico primeiramente a Deus, que sem ele eu 
não teria alcançado meus objetivos, depois aos 
meus pais que sempre investiram nos meus 
sonhos. Ao meu namorado, por sempre 
aguentar minhas crises e me manter nos eixos. 
Aos meus amigos, por serem parte desta 
caminhada e por fim à Dra. Valéria Silva 
Galdino Cardin, com seu jeito peculiar me fazer 
aprender tanto. 
�4
Agradecimentos 
A Deus pоr tеr mе dado saúde е força pаrа superar аs dificuldades. 
A esta universidade, sеυ corpo docente, direção е administração qυе 
oportunizaram а janela qυе hoje vislumbro υm horizonte superior, eivado pеlа acendrada 
confiança nо mérito е ética aqui presentes. 
À Profª. Dra. Valéria Silva Galdino Cardin pela oportunidade е apoio nа elaboração 
deste trabalho. 
Aos meus pais que investiram em meus sonhos e ao meu namorado , pelo amor, 
incentivo е apoio incondicional. 
E a todos qυе direta оυ indiretamente fizeram parte dа minha formação, о mеυ 
muito obrigado. 
�5
"É "de esquerda" ser a favor do aborto e contra 
a pena de morte, enquanto direitistas defendem 
o direito do feto à vida, porque é sagrada, e o 
direito do Estado de matá-lo se ele der errado.” 
 (Luiz Fernando Verissimo) 
�6
Resumo 
A presente monografia visa tratar do aborto. Considerado um tabu social, ele é um fato 
presente na sociedade, porém ignorado pela maioria, razão pela qual existem poucos 
estudos à este respeito. Sendo uma questão de saúde pública, ele é um dos maiores 
responsáveis pela morte materna nos países subdesenvolvidos. A igreja é um dos 
maiores opositores da legalização do aborto, condenando vorazmente aquelas que 
abortam. A legalização é um tema recorrente, visto o seriedade dos casos médicos 
expostos, e da luta das mulheres por mais direitos sobre o próprio corpo. No Brasil é uma 
discussão atual, visto o fortalecimento do movimento feminista, a união das mulheres em 
busca de mais segurança e direitos, além da epidemia de zica vírus em gravidas onde os 
bebês nasciam anencéfalos. 
Palavras chave: Aborto; Tabu social; Saúde publica; Igreja; Legalização. 
�7
Abstract 
This monograph aims to address the abortion. Considered a social taboo, it is a fact 
present in society, but ignored by most, which is why there are few studies on this subject. 
As a public health issue, it is one of the most responsible for maternal death in 
underdeveloped countries. The church The church is one of the greatest opponent of 
abortion legalization, condemning voraciously those who abort. Legalization is a recurring 
theme, as the seriousness of exposed medical cases, and of women's struggle for more 
rights over their own bodies. In Brazil is a current discussion, as the strengthening of the 
feminist movement, the union of women in search of more security and rights, as well as 
viruses zica epidemic in pregnant where babies born anencephalic. 
Keywords: Abortion; social taboo; Public health; Church; Legalization. 
�8
Lista de Abreviaturas e Siglas 
CNBB Conferencia Nacional de Bispos do Brasil 
Art. Artigo 
Sec. Século 
�9
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO……………………………………………….……………………………..10 
1. O DIREITO A VIDA………………………………………………………………….…. 11 
1.1 QUANDO TERIA INICO A VIDA………………………………………………………. 12 
1.2 O DIREITO FUNDAMENTAL A VIDA………………………………………………… 13 
1.3 INICIO DA PERSONALIDADE HUMANA…………………………………………… 14 
2. A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA…………………………………………..…..16 
 2.1 DIGNIDADE DO FETO E DO NASCITURO……………..…………………………17 
3. ABORTO………………………………………………………………………………….18 
3.1 CONCEITO…………………………………….………………………………………..18 
3.2 TIPOS DE ABORTO…………………………………………………………………….19 
3.3 PRECEDENTES HISTÓRICOS DO ABORTO…………………..…………………. 20 
3.4 HISTÓRICO DO ABORTO NO ORDENAMENTO BRASILEIRO…………………. 22 
4. ABORTO COMO QUESTÃO DE SÚDE PÚBLICA………………………..……….. 24 
4.1 ABORTO CRIMINOSO………………………………………………………………… 26 
4.2 INFLUENCIAS DO ABORTO NO SISTEMA DE SAÚDE PÚBLICA…………….… 27 
5. LEGALIZAÇÃO DO ABORTO…………………….……………………………………XX 
6. O JULGAMENTO SOCIAL………………………………………………………………XX 
7. CONSIDERAÇÃOES FINAIS…………………………………….…………………….XX 
BIBLIOGRAFIA 
�10
INTRODUÇÃO 
A presente monografia tem como análise da legalização do Aborto no Brasil. Sendo 
uma questão de saúde pública, ele é o quinto maior responsável pela morte materna nos 
países subdesenvolvidos. Fazendo uma síntese dos pontos que são mais relevantes, e 
que também são os mais discutidos pelos doutrinadores penalistas, sobre o aborto. 
No Capítulo 1º Tratarei do Direito a vida, e todos os aspectos relevantes que são 
discutidos na doutrina. 
No Capitulo 2º Tratarei da Dignidade da Pessoa Humana, e também seus aspectos 
relevantes discutidos na doutrina. 
No Capitulo 3º Falarei do Aborto, conceito, tipos de aborto, seus precedentes 
históricos, falando dos aspectos relevantes e discutidos na doutrina. 
No Capitulo 4º Falarei do aborto como questão de saúde pública, o aborto 
criminoso e as influencias do aborto no sistema de saúde pública. 
No Capitulo 5º Abordarei o tema falando sobre a legalização do aborto e a recente 
decisão da 1ª turma do Supremo Tribunal Federal. 
No Capitulo 6º Finalizarei tratando do julgamento social que cerca o tema assim 
como a visão da igreja sobre ele. 
E por fim farei uma breve conclusão a respeito do tema. 
Nessa monografia foi utilizado o método teórico que consiste na consulta de 
materiais já produzidos, como artigos, doutrinas, outras pesquisas pré realizadas. Aplica-
se também o método histórico uma vez que faz se necessária uma retrospectiva para 
entender os rastros gerados pela criminalização do aborto e a forma que sua 
clandestinidade afeta a saúde publica e a sociedade. 
�11
1. O DIREITO À VIDA 
Como nos ensina Galante O direito à vida é um direito fundamental do homem, 1
podemos dizer que é um super direito, pois todos os demais direitos dependem dele para 
se concretizar, assim sem o direito a vida, não haveria os relativos a liberdade, a 
intimidade, etc. 
A evolução científica, sobretudo na área da biotecnologia, tem-nos possibilitado o 
beneplácito da cura de doenças e uma melhoria na qualidade de vida das pessoas em 
geral. Porém, paradoxalmente, os conceitos e concepções, inclusive acerca do início da 
vida e seu respectivo término, permanecem os mesmos de décadas atrás. 
O direito a vida assim como os demais Direitos, são garantidos aos brasileiros 
assim como dos estrangeiros residentes no Brasil e está prevista na Constituição Federal 
do Brasil de 1988 em seu artigo 5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de 
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida”. 
Não é mais possível que concebamos o direito à vida, na atualidade, tal como se 
fez há séculos, sob pena de nosso desenvolvimento sócio-tecnológico em nada auxiliar 
em nossas concepções mais filosóficas. O direito à vida deve ser analisado sob um novo 
enfoque, trazido pelo princípio constitucional da dignidade humana e pelo próprio contexto 
social da atualidade. 
O direitoà vida tutelado pelo nosso ordenamento jurídico e, em especial, pelas 
normas penais, só pode ser entendido em conformidade com o direito à dignidade da 
pessoa humana, constituindo-se em um direito à vida digna. Deve-se conceber o direito à 
vida não como um dogma intangível, mas admitir a sua relativização, prevista até mesmo 
constitucionalmente, em conformidade com a moderna doutrina de relativização dos 
direitos fundamentais e os próprios métodos de interpretação constitucional, que tratam 
da exigência de uma interpretação sistemática e da harmonização dos princípios 
constitucionais. 
 GALANTE, Marcelo. Sinopse de direito constitucional para aprender direito. 6.ed. Rio de Janeiro: 1
BF, 2008. 
�12
1.1 QUANDO TERIA INICIO A VIDA 
Existem duas correntes respeitadas sobre quando teria inicio a vida, sendo elas a 
natalista, segundo a qual a vida teria inicio no nascimento com vida ; e a teoria 2
concepcionista, na qual a vida teria inicio na concepção . Embora existam estas 3
correntes, em nossa Assembléia Constituinte no sentido de que o direito à vida deveria 
ser assegurado desde a concepção ou desde o nascimento, o legislador constituinte 
simplesmente o garantiu sem traçar qualquer outra referência, delegando a demonstração 
do exato momento do surgimento da vida humana à doutrina e à jurisprudência, com a 
utilização dos conhecimentos científicos obtidos com os diversos ramos da ciência. 
Sob a ótica da bioética, pode-se afirmar que a vida humana, a pessoa, apresenta-
se como uma unidade de espírito e corpo, sendo composta de elementos espirituais, 
intelectivos e morais, além dos meramente biológicos. O aspecto mais humano do homem 
está em sua essência, na "capacidade de se separar do determinismo do mundo e de 
estar na singularidade única por meio da consciência e da liberdade” . 4
A Igreja Católica entende que o início da vida se dá com a fecundação, repudiando 
qualquer tipo de experimentação com embriões, bem como seu congelamento, e inclusive 
as técnicas de fecundação in vitro. Ainda, tradicionalmente doutrina que a mulher não tem 
o direito de abortar nem mesmo para salvar sua própria vida, sendo contra a interferência 
direta no feto , posicionamento às vezes mitigado na atualidade . 5 6
Mesmo diante dos avanços conquistados, a medicina e as ciências biológicas têm 
dificuldades em estabelecer com clareza o momento no qual se inicia a real vida de um 
indivíduo. Uma vez que seria necessário definir o que é vida, se vida for ter ciência de sua 
existência a vida começaria com a maturidade do sistema nervoso. 
% O nascimento com vida requer a respiração, “se respirou viveu”, mesmo que apenas uma vez.2
 Quando o espermatozoide fecundasse o óvulo inicia-se a vida.3
 SGRECCIA, Elio. Manual de Bioética: I. Fundamentos e Ética Biomédica. Tradução de Orlando 4
Soares Moreira. São Paulo: Loyola, 2002. p. 112-113.
 Clèmerson Merlin Clève apud SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e Direitos 5
fundamentais na Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. 
Apresentação.
 PESSINI, Léo; BARCHIFONTAINE, Christian de Paul de. Problemas atuais de Bioética. 4. ed. 6
São Paulo: Loyola, 1997. p. 269.
�13
É preciso vislumbrar que mudanças na interpretação do Direito estão ocorrendo, de 
modo que concepções que perduraram por muitos séculos apresentam-se maleáveis, 
sobretudo em função do avanço das Ciências Biomédicas, alterando conceitos de vida e 
morte. 
O aspecto mais importante da vida humana está em sua essência, na capacidade 
de se separar do determinismo do mundo e de estar na singularidade única por meio da 
consciência e da liberdade. No mesmo sentido, o princípio da dignidade da pessoa 
humana enuncia que se deve levar em consideração a idéia do indivíduo formador de si 
próprio e de sua vida segundo o seu projeto espiritual, a capacidade de autodeterminação 
de sua conduta. 
1.2 O DIREITO FUNDAMENTAL A VIDA 
Não só a Constituição Federal do Brasil declara a inviolabilidade do direito à vida, 
como também acordos internacionais sobre Direitos Humanos que o Brasil assinou 
afirmam ser a vida inviolável. O principal desses acordos é a Convenção Internacional dos 
Direitos Humanos, que em seu artigo 4o Decreto 678/1992 prevê: “Toda pessoa tem o 
direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei, em geral, 
desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente.” 
A vida é um bem maior e deve ser protegido, e observa-se essa proteção através 
da moral e dos bons costumes, para que não ocorra o ato de um ser humano tirar a vida 
de outrem. Contudo, tal ato sempre foi praticado no decorrer da evolução da sociedade, 
levando à necessidade de positivar o direito à vida e garantir um efetivo cumprimento da 
letra da lei. 
O direito à vida está previsto no artigo 5º, “caput” da nossa Constituição Federal de 
1988, e se define como uma Cláusula Pétrea, que é uma norma que age de forma integral 
que impede a alteração de determinados dispositivos legais. A sua previsão legal das 
Cláusulas Pétreas está no dispositivo do artigo 60, § 4º, IV da Constituição Federal de 
1988, da qual não será deliberado ou não será proposta Emenda, e abrange, entre outros, 
o inciso IV, que versa sobre os direitos e garantias fundamentais, que, entre suas 
disposições, assegura o direito à vida. 
�14
Conceitua o doutrinador Alexandre de Moraes , definindo o direito à vida: 7
O início dessa preciosa garantia individual deverá 
ser dado pelo biólogo, cabendo ao jurista, tão-
somente, dar-lhe o enquadramento legal, e, do 
ponto de vista biológico, não há dúvida de que a 
vida se inicia com a fecundação do óvulo pelo 
espermatozóide, resultando um ovo ou zigoto. 
Assim o demonstram os argumentos colhidos na 
Biologia. A vida viável começa, porém, com a 
nidação, quando se inicia a gravidez. Conforme 
adverte o biólogo Botella Lluziá no prólogo do livro 
Derecho a la vida e institución familiar, de Gabriel 
Del Estal, Madrid, Eapsa, 1979, em lição lapidar, o 
embrião ou feto representa um ser individualizado, 
com uma carga genética própria, que não se 
confunde nem com a do pai, nem com a da mãe, 
sendo inexato afirmar que a vida do embrião ou do 
feto está englobada pela vida da mãe. 
A vida, então, não somente é protegida pela Lei Maior, mas também pelas 
conveniências sociais, pelos costumes e a boa moral. Esse direito deve ser protegido e 
assegurado, uma vez que a Constituição tem a sua aplicação no nível mais elevado. 
1.3 INICIO DA PERSONALIDADE HUMANA 
O que chamo aqui de personalidade humana é chamada pelo ordenamento jurídico 
de personalidade civil. Pessoa natural é sinônimo de pessoa física, é todo ser humano. 
Toda pessoa natural é dotada de personalidade (aptidão genérica para ser titular de 
direitos e contrair obrigações). Enuncia o art. 2º do CC que a personalidade civil da 
pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os 
direitos do nascituro. 
O art. 2º do novo Código Civil reproduziu ipsis litteris o art. 4º do Código revogado 8
(de 1916): "A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei 
põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.”. O atributo jurídico da pessoa 
passa a existir a partir do momento em que o feto sai do ventre da mãe, quer por parto 
natural, induzido ou artificial, e tenha vida. É a vida que dá a personalidade jurídica da 
pessoa. 
 Alexandre de Moraes, Direitos Humanos Fundamentais, p. 80.7
 Nos mesmos termos; tal como está escrito.8
�15
Até então, desde a concepção até o nascimento com vida, o embrião é um 
nascituro, gerado e concebido com existência no ventre materno; nem por isto pode ser 
considerado como pessoa. "A lei protege os interesses de um ser humano já concebido 
(óvulo fecundado), ordenando o respeito pelas expectativas daqueles direitos que esse 
ser humano virá a adquirir, se chegar a ser pessoa" , oque acontecerá, repetimos, 
somente após o nascimento com vida. 
O professor Washington de Barros Monteiro, com a experiência de um grande 
civilista esclarece: 
"Discute-se se o nascituro é pessoa virtual, cidadão 
em germe, homem in spem. Seja qual for a 
conceituação, há para o feto uma expectativa de 
vida humana, uma pessoa em formação. A lei não 
pode ignorá-lo e por isso lhe salvaguarda os 
eventuais direitos. Mas para que estes se adquiram, 
preciso é que ocorra o nascimento com vida. Por 
assim dizer, nascituro é pessoa condicional; a 
aquisição da personalidade acha-se sob a 
dependência de condição suspensiva, o nascimento 
com vida. A esta situação toda especial chama 
Planiol de antecipação da personalidade”. 
O surgimento da personalidade civil, apesar de positivado no artigo 2º do atual 
Código Civil Brasileiro, configura-se como assunto cercado por divergências e discussões, 
vez que o referido dispositivo trata do tema de maneira vaga e, até mesmo, contraditória. 
O dispositivo legal citado enuncia que “a personalidade civil da pessoa começa do 
nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”. 
Tal norma já era prevista no Código Civil de 1916, em seu artigo 4º, o qual restou 
praticamente repetido no atual texto legal. 
Considerando a palavra derivada do latim, nasciturus significa “que está por 
nascer”. Para o eminente professor Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, a palavra 
nascituro provém do latim nascituru, que é adjetivo e substantivo masculino, cujo 
significado é “que, ou aquele que há de nascer.” 9
Portanto, por nascituro deve-se entender, segundo a doutrina civilista, o ser vivo 
que está por nascer. Expressa o referido conceito a denominação do produto da 
concepção que ainda não foi retirado do ventre materno. Nascituro é aquele que está 
dentro do ventre materno e ainda não nasceu, mas é considerado ser desde a concepção. 
 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de 9
Janeiro, v. 2, p.375.
�16
2. A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
O Principio da dignidade da pessoa humana encontra-se recepcionado no art.1o, 
inciso III, da CF/88, pois vem a ser um valor supremo de ordem jurídica, Considerado uns 
dos princípios mais importantes por englobar todos os direitos e garantias fundamentais 
contidos na Constituição, começando pelo direito a vida e chegando ao direito de 
realização plena. 
Na Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu art 1o, inc III, está escrito que: 
A República Federativa do Brasil, formada pela 
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do 
Dis t r i to Federa l , const i tu i -se em Estado 
Democrático de Direto e tem como fundamentos: 
[…] III- a dignidade da pessoa humana. 
Neste sentido, Cretella Júnior (1998, p. 132) acrescenta comentários à Constituição 
Brasileira 1988, art 1o ao 5o LXVII: 
O ser humano, o homem, seja de qual origem for, 
sem descriminalização de cor, sexo, religião, 
convicção política, ou filosófica, tem direito a ser 
tratado, pelos semelhantes, como “pessoa 
humana”, fundando-se o atual Estado de Direito, 
em vários atributos, entre os quais se incluía 
dignidade do homem, relido, assim, como aviltante 
e merecedor de combate qualquer tipo de 
comportamento que atente contra este apanágio do 
homem. 
Confirma esta ideia Pena Júnior (2008, p.384), que descreve em sua obra: 
Este princípio constitucional superior aglutina em 
torno de si todos os demais direitos e garantias 
fundamentais contidas na Constituição Federal 
desde o direito a vida, passando pelo direito a 
liberdade, até chegar a realização plena, ao direito 
de ser feliz. Ele fundamenta-se na valorização da 
pessoa humana como fim em si mesmo e não como 
objeto ou meio para consecução de outros fins. 
Contudo não é fácil conceituar o que seja este princípio que é considerado tão 
importante e essencial para o ser humano, pois, se funda em matérias vagas e 
imprecisas. 
Desta maneira vem nos falar Ingo (2007, p. 227): 
�17
A possui uma dimensão dúplice, que se manifesta 
enquanto s imul taneamente expressão da 
autonomia da pessoa (vinculada à ideia de 
autodeterminação no que diz com as decisões 
essenciais a respeito da própria existência), bem 
como da necessidade de sua proteção (assistência) 
por par te da comun idade e do Es tado , 
especialmente quando fragilizada ou até mesmo, e 
principalmente – quando ausente a capacidade de 
autodeterminação. 
O dicionário Aurélio da língua portuguesa , assim define Dignidade como sendo: 10
“de quem é digno; nobreza; respeitabilidade; cargo ou titulo de alta graduação, qualidade 
de digno, modo digno de proceder, brio. 
Esclarecedor também é o entendimento de Segado (2006) que diz que o Princípio 
da Dignidade da pessoa humana está diretamente ligada à liberdade e à 
autodeterminação da pessoa. 
Para Sarlet, Ingo e Wolfgang (2007) Dignidade enquanto qualidade intrínseca de 
todo ser humano e inerente a ele se traduz primordialmente na capacidade de decidir livre 
e racionalmente qualquer modelo de conduta, com a conseqüente exigência de respeito 
por parte dos demais. O princípio da dignidade da pessoa humana se preocupa com a 
defesa da vida digna onde o ser humano nunca seja tratado como meio ou coisa, sendo 
este um principio constitucional fundamental de ordem jurídica constitucional brasileira. 
Assim como nos ensina Presente em cada pessoa, em sua essência mesma, esta 
dignidade é reconhecida como incomparável inviolável e inalienável. 
2.1 DIGNIDADE DO FETO E DO NASCITURO 
Vejamos primeiramente o que prescreve o art. 2o do Código Civil de 2002: “Art. 2o. 
A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, 
desde a concepção, os direitos do nascituro.” 
A partir do momento em que o embrião fecundado está no ventre materno, temos 
do ponto de vista jurídico o "nascituro", ou seja, aquele vai nascer. 
Fiúza (2002, p.114) preleciona que: “o nascituro não tem direitos propriamente 
ditos. Aquilo que o próprio legislador denomina “direitos do nascituro”, não são direitos 
subjetivos. São na verdade, direitos objetivos, isto é, regras impostas pelo legislador pra 
 www.webdicionario.com/dignidade 10
�18
proteger um ser que tem a potencialidade de ser pessoa, e que , por já existi pode ter 
resguardados eventuais direitos que virá a adquirir quando nascer.” 
O nascituro tem seus direitos resguardados pela legislação, embora ainda não 
possua personalidade jurídica, e é protegido tanto pela legislação Civil, como no Penal. 
Na legislação civil encontramos o direito do nascituro tendo como exemplo, a mãe que 
representa o nascituro recebendo alimento e tendo direito de herança, já a legislação 
penal tutela a vida daquele que vai nascer, qual seja o nascituro, por isso é previsto em 
nosso ordenamento jurídico o aborto como crime. 
Temos uma questão bastante importante a ser tratada, que é a possibilidade de o 
nascituro ser portador da dignidade da pessoa humana, aos meus olhos, é perfeitamente 
aceitável uma vez que embora não seja considerado pessoa humana, e tão pouco seja 
detentor de personalidade jurídica, a nossa legislação de forma expressa garante o direito 
daquele que está no útero materno, e que ainda vai nascer, dentre essas garantias está o 
da dignidade da pessoa humana, trata-se de uma conclusão lógica, afinal, se a lei lhe 
assegura o direito a vida que está seja digna. 
Quem também defende essa idéia é Pereira (2004, p. 147): 
A incidência do principio da dignidade da pessoa 
humana sobre o nasc i tu ro , cons is te no 
reconhecimento de que a este devem ser 
proporcionados todos meios idôneos e necessários 
para seu desenvolvimento com todas as suas 
potencialidades. Não basta, portanto, garantir a vida 
do feto, deve-se, pois, conceder ao mesmo o direito 
de sobreviver em condições de plena dignidade. 
Portanto é claro e evidente que o nascituro é, em si, uma pessoa, e comotal, 
portadora de personalidade jurídica desde a concepção, com direitos garantidos desde tal 
momento, sendo o mais relevante de todos os direitos à vida, e a dignidade da pessoa 
humanos, constitucionalmente garantidos 
3. ABORTO 
3.1 CONCEITO 
Nas palavras de SALLES, aborto é “o aborto é a interrupção da gravidez com morte 
do feto, ou a destruição do produto da concepção (ovo, embrião ou feto)” . 11
 SALLES JR, Romeu de Almeida, Código Penal Interpretado. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 11
341.
�19
Aborto é entendido como o fim da gestação provocada pela morte do feto. “Aborto 
é a cessação da gravidez, antes do termo normal, causando a morte do feto ou 
embrião” . 12
O aborto pode se apresentar de algumas formas, entre uma delas, como o aborto 
econômico-social. 
O aborto econômico social é a cessão da gestante, 
causando a morte do feto ou embrião por razões 
econômicas ou sociais, quando a mãe não tem 
condições de cuidar do seu filho, seja porque não 
recebe assistência do Estado, seja porque possui 
família numerosa, ou até por política estatal . 13
Sobre essa classificação de NUCCI, é importante destacar que um dos principais 
motivos da prática do aborto está relativamente condicionado à situação de pobreza da 
gestante ou da família dela, evidenciando que o Estado não cria mecanismo político, 
social e econômico para que possa atender o indivíduo em situação de pobreza. Percebe-
se que muitas vezes isso acontece não pelo fato da mãe não desejar o filho, mas pelas 
consequências financeiras que surgirão na vida da genitora e da sua família. 
A Constituição da República declara como princípio fundamental, o princípio da 
dignidade da pessoa humana, que tem como escopo primordial a preservação do mínimo 
existencial, ou seja, o mínimo de recursos materiais necessários à subsistência dos 
indivíduos. 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada 
pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e 
do Distrito Federal, constitui-se em Estado 
Democrático de Direito e tem como fundamentos: III 
- a dignidade da pessoa humana. 
Não obstante, na consagração da Carta Maior, a desigualdade social ainda é um 
grande desafio do Poder Público, que não se encontra organizado para atender de forma 
adequada e eficaz às pessoas que necessitam dele. 
Segundo a Organização Mundial de Saúde, aborto é “aborto é a interrupção da 
gestante antes de 20-22 semanas ou com peso inferior a 500 gramas” . 14
 NUCCI, Guilherme de Souza, Manual de Direito Penal, 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 12
2009. p. 625.
 Ibid., p. 62613
 Disponível em: www.ans.gov.br/portal/upload/biblioteca/livro-portal>. Acessado em: 15 nov. 14
2016.
�20
Para alguns autores, aborto significa matar um embrião humano, que na opinião de 
DWORKIN, quando não ocorrido por força natural ou de maneira acidental, é 
caracterizado como um ato criminoso, haja vista a violação da lei. 
Neste sentido, preceitua DWORKIN que “o aborto, que significa matar 
deliberadamente um embrião humano em formação” . 15
Ainda, segundo o DWORKIN, a vida humana, em qualquer forma, tem um valor 
sagrado. 
[...] é que a vida humana não tem apenas um valor 
intrínseco, mas também sagrado. A afirmação de 
que a vida humana é sagrada e por que tem uma 
base ao mesmo tempo secular e religiosa. Também 
tentarei demonstrar uma coisa ainda mais 
importante: em que sentido o pressuposto de que a 
maioria das pessoas aceita a santidade da vida 
humana, mas diverge de maneira complexa sobre 
suas implicações relativas ao aborto. 
[...] qualquer criatura humana, inclusive o embrião 
mais imaturo, é um triunfo da criação divina ou 
evolutiva que produz, como se fosse do nada, um 
ser complexo e racional, e igualmente um triunfo 
daquilo que comumente chamamos de “milagre” da 
reprodução humana, que faz com que cada novo 
ser humano seja, ao mesmo tempo, diferentes dos 
seres humanos que o criaram e uma continuação 
deles . 16
No campo moral, DWORKIN dá sua contribuição expondo da seguinte forma: 
A exaltada teoria do movimento “pró-vida” parece 
pressupor a afirmação derivativa de que um feto já 
é, desde o momento de sua concepção, uma 
pessoa em sua plenitude moral, com direitos e 
interesses de importância igual aos de qualquer 
membro da comunidade moral. Muito poucas 
pessoas, porém, -mesmos aqueles que pertencem 
aos grupos mais radicalmente antiaborto, realmente 
acreditam nisso. 17
Capez (2004, p.108), em sua obra, conceitua o referido assunto: 
Considera-se aborto a interrupção da gravidez com 
a conseqüente destruição do produto da 
concepção. Consiste na eliminação da vida intra-
uterina. Não faz parte do conceito de aborto, a 
 DWORKIN, Ronald. Domínio..., p. 2.15
 DWORKIN, Ronald. Domínio..., p. 15.16
 DWORKIN, Ronald. Domínio..., p. 15.17
�21
posterior expulsão do feto, pois pode ocorrer que o 
embrião seja dissolvido e depois reabsorvido pelo 
organismo materno, em virtude de um processo de 
autólise; ou então pode suceder que ele sofra 
processo de mumificação ou maceração, de modo 
que continue no útero materno. A lei não faz 
distinção entre o óvulo fecundado (3 primeiras 
semanas de gestação), embrião(3 primeiros 
meses), ou feto(a partir de 3 meses), pois em 
qualquer fase da gravidez estará configurado o 
delito de aborto, quer dizer desde o inicio da 
concepção ate o inicio do parto. 
Quem diverge essa idéia é Mirabette (2011, p. 57): 
A palavra aborto vem do latim ab-ortus que significa 
privação do nascimento a interrupção voluntária da 
gravidez com a expulsão do feto do interior do 
corpo materno, tendo como resultado a destruição 
do produto da concepção, assim também conceitua 
Pierandeli (2005, p.109). 
Este conceito é usado para fazer referência ao oposto de orior, isto é, o contrário 
de nascer. Como tal, o aborto é a interrupção do desenvolvimento do feto durante a 
gravidez. 
3.2 TIPOS DE ABORTO 
O aborto geralmente é dividido em dois tipos, aborto espontâneo e aborto induzido. 
Outras classificações também são usadas, de acordo com o tempo de gestação por 
exemplo. 
Aborto e a interrupção da gravidez, com a interrupção do produto da concepção, e 
a morte do ovo (ate 3 semanas de gestação),embrião(de 3 semanas a 3 meses) o 
feto(após 3 meses), não implicando necessariamente sua expulsão. O produto da 
concepção pode ser dissolvido, reabsorvido, pelo organismo da mulher, ou até 
mumificado, ou pode a gestante morrer antes da expulsão não deixara de haver, no caso, 
o aborto. 
O aborto pode ser Espontâneo ou natural, para Nucci (2010) aborto espontâneo, 
involuntário ou casual, é a interrupção da gravidez oriunda de causas patológicas, que 
ocorre de maneira espontânea, nas palavras de 
Assim também nos ensina Diniz (2009, p.30): 
Cabe acrescentar que o aborto espontâneo ou 
natural é geralmente causado por doenças no curso 
�22
da gravidez por péssimas ou precárias condições 
de saúde da gestante preexistentes a fecundação, 
alguns exemplos são: sífilis, anemia profunda, 
cardiopatia, diabetes, nefrite crônica entre outras. 
Ou por defeitos estruturais no ovo, embrião ou feto. 
Outra forma de aborto é o aborto acidental. Nas preciosas palavras Teles (2006, p.
130): 
O aborto acidental também pode ser chamado de 
ocasional ou circunstancial, acontece quando 
inexiste qualquer propósito em interromper o ciclo 
gravídico, geralmente provocado por um agente 
externo, como emoção violenta, susto, queda, 
ocasionando traumatismo, não existindo ato 
culposo, ou seja, negligência imprudência ou 
imperícia. 
Neste sentido também discorre a respeito Belo (1999, p.21): 
O aborto espontâneo e acidental, não são puníveis. 
No primeiro a interrupção espontânea da gravidez, 
ocorrendo por exemplo, quando presente alguma 
anormalidade no crescimento do feto, ou , uma 
doença infecciosa, ou ainda um distúrbio glandular. 
O segundo o aborto acidental, ocorre com 
interferência externa involuntária, como por 
exemplo a queda. 
Aborto Natural trata-sedo aborto espontâneo, que ocorre de maneira involuntária 
em decorrência de problema biológico, orgânico ou mesmo por uma deformidade do ovo. 
Por se considerado um ato involuntário, esse ato instintivo não constitui crime. 
A maior parte dos abortos ocorre quando os cromossomos do espermatozóide 
encontram com os cromossomos do óvulo. Muitas vezes o bebê (também chamado de 
feto) não se desenvolve por completo, ou desenvolver-se de maneira anormal. Em casos 
como estes, o aborto é a maneira que o corpo termina a gravidez que não está se 
desenvolvendo normalmente. Outras causas possíveis de aborto incluem infecção do 
útero, diabetes sem controle, alterações hormonais, e problemas no útero. Excesso de 
cigarro, álcool e drogas ilegais como a cocaína também causam o aborto principalmente 
no início da gravidez quando os principais órgãos do bebê estão se desenvolvendo. 
Segundo a pesquisa realizada pela Medicinet, “o aborto natural normalmente 
ocorre nas 13 (treze) primeiras semanas de gravidez”, podendo ser evitado ou reduzido 
quando há possibilidade de identificar os problemas. A pesquisa ainda relata o acréscimo 
de abortamento espontâneo em decorrência da idade avançada da mulher. 
�23
Os abortos naturais geralmente acontecem ao longo das 13 primeiras semanas de 
gestação. Embora a probabilidade geral de aborto natural seja de 15 a 20%, estudos 
demonstram que a partir do momento em que a função cardíaca do feto é detectada, a 
probabilidade de aborto natural se reduz a menos de 5% [fonte: MedicineNet (em inglês)]. 
Infelizmente, o índice de abortos naturais pode mudar de acordo com a condição de 
saúde e a idade da mãe. As mulheres entre 35 e 45 anos têm entre 20 e 35% de 
probabilidade de aborto natural, e as mulheres com mais de 45 anos têm probabilidade de 
aborto natural de 50%. Passar por um aborto natural também eleva ligeiramente as 
chances de novas ocorrências similares. Uma mulher com menos de 35 anos que tenha 
sofrido um abordo natural tem 25% de probabilidade de sofrer um segundo [fonte: APA 
(em inglês)]. 
Conforme imposição do Código de Direito Penal, aborto provocado pela gestante 
ou com o consentimento dela é caracterizado como crime doloso. Tais crimes encontram-
se disciplinados nos artigos 124, 125, 126 e 127, com penas variadas, conforme descrito: 
Art. 124. - Provocar aborto em si mesma ou 
consentir que outrem lhe provoque: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos. 
Aborto provocado por terceiro 
Art. 125. - Provocar aborto, sem o consentimento 
da gestante: 
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos. 
Art. 126. - Provocar aborto com o consentimento da 
gestante 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. 
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, 
se a gestante não é maior de 14 (quatorze) anos, 
ou é al ienada ou débi l mental, ou se o 
consentimento é obtido mediante 
fraude, grave ameaça ou violência. 
Forma qualificada 
Art. 127. - As penas cominadas nos dois artigos 
anteriores são aumentadas de um terço, se, em 
conseqüência do aborto ou dos meios empregados 
para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de 
natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer 
dessas causas, lhe sobrevém a morte” 
�24
vO art. 128, I e II, do Código Penal cuida de duas hipóteses de excludente de 
ilicitude com relação ao aborto, chamados pelos doutrinadores de aborto terapêutico e 
aborto sentimental. O terapêutico trata-se de um procedimento realizado por um 
profissional médico com intuito de salvar a vida da gestante nos casos de gravidez de 
risco. Já o aborto sentimental ocorre quando a gravidez é resultado de estupro. 
Art. 128 – Não se pune o aborto praticado por 
médico: 
I – se não há outro meio de salvar a vida da 
gestante; 
II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é 
precedido de consentimento da gestante ou, 
quando incapaz, de seu representante legal. 
A Ministra CÁRMEM LÚCIA explicitou-se sobre o aborto necessário ou terapêutico 
da seguinte maneira: 
A primeira hipótese é o denominado aborto 
necessário ou terapêutico justificável pelo estado de 
necessidade, em face de diagnósticos médicos que 
atestem inviabilidade da vida da gestante sem a 
interrupção da gravidez. Na escolha entre os dois 
bens jurídicos: a vida da gestante ou a do feto, 
opta-se pela certeza da vida adulta, afastando-se o 
que ainda é uma possibilidade, sobrevalorizando-se 
a vida da gestante em detrimento da do feto. Neste 
caso, o Código Penal não considera o ilícito do 
p r o c e d i m e n t o a d o t a d o , m e s m o s e m o 
consentimento da gestante, "se justificada por 
iminente perigo de vida" (art. 146, § 3°). 
Sobre esse assunto, COSTA JÚNIOR destacou alguns casos que há risco para a 
vida da gestante: 
Casos mais freqüentes de aborto necessário são o 
estado epilético, graves vômitos incoercíveis, 
leucemia, cardioplastias, anemia perniciosa, 
polinefrite, hemorragias corpiosas etc. O aborto 
necessário pode ser terapêutico (curativo) ou 
profilático (preventivo). Em qualquer caso, é o 
médico em quem deverá decidir, conferindo-lhe a 
lei. O ideal seria procurar salvar, praticando-se a 
cesariana, caso o feto já fosse dotado de suficiente 
maturidade, a mãe e o filho . 18
Ainda nesse sentido, o legislador atual, quando do julgamento da ADPF 54, 
manifestou-se expondo a liberdade e a autonomia privada da mulher em relação à 
 COSTA JÚNIOR, Paulo José da. Comentários ao Código Penal. 4. ed. São Paulo: Saraiva. 18
1996. p. 388.
�25
interrupção da gravidez quando se tratar de gestação em que há risco de morte para mãe 
e de gravidez resultada de estupro. 
O legislador, no campo da exclusão de ilicitude, 
trouxe duas exceções a essa regra do art. 124 do 
Código Penal. No primeiro caso, quando a vida da 
mãe estiver em perigo – aborto necessário (art. 
128, I). No segundo caso, quando a honra da mãe 
for violada de tal forma que torne insustentável para 
ela a manutenção da gravidez – aborto sentimental 
(art. 128, II). Em ambos os casos, é preciso 
ressaltar, a lei apenas exclui a ilicitude da conduta. 
Ou seja, a norma permite que a mãe decida se quer 
continuar com a gestação e deixa de punir sua 
conduta caso ela opte pela interrupção da gravidez. 
A lei preserva o direito de escolha da mulher, não 
atentando para a viabilidade ou inviabilidade do 
feto. Estamos, portanto, diante de uma tutela 
jurídica expressa da liberdade e da autonomia 
privada da mulher. Veja-se: a lei não determina que 
n e s s e o u n a q u e l e c a s o o a b o r t o d e v a 
necessariamente ocorrer. A norma penal chancela a 
liberdade da mulher de optar pela continuidade ou 
pela interrupção da gestação. E, neste caso, não 
incrimina sua conduta. Em se tratando de feto com 
vida extrauterina inviável, a questão que se coloca 
é: não há possibilidade alguma de que esse feto 
venha a sobreviver fora do útero materno, pois, 
qualquer que seja o momento do parto ou a 
qualquer momento em que se interrompa a 
gestação, o resultado será invariavelmente o 
mesmo: a morte do feto ou do bebê. A antecipação 
desse evento morte em nome da saúde física e 
psíquica da mulher contrapõe-se ao princípio da 
dignidade da pessoa humana, em sua perspectiva 
da liberdade, intimidade e autonomia privada? 
Nesse caso, a eventual opção da gestante pela 
interrupção da gravidez poderia ser considerada 
crime? Entendo que não, Sr. Presidente. Isso 
porque, ao proceder à ponderação entre os valores 
jurídicos tutelados pelo direito, a vida extrauterina 
inviável e a liberdade e autonomia privada da 
mulher, entendo que, no caso em tela, deve 
prevalecer a dignidade da mulher, deve prevalecer 
o direito de liberdade desta de escolher aquilo que 
melhor representa seus interesses pessoais, suas 
convicções morais e religiosas, seu sentimento 
pessoal. 
3.3 PRECEDENTES HISTÓRICOS DO ABORTO 
A história do aborto é um tanto quanto conflituosa, pois desde os tempos remotos 
vem causando muitas discussões e instâncias. Para se ter uma noçãodo que aconteceu 
ao longo dos anos, a Revista Eletrônica do Núcleo de Estados e Pesquisas do 
�26
Protestantismo da EST, baseada na obra de Giulia Galeotti, publicou uma resenha na qual 
é feito um traço importante do que ocorreu ao longo da história. 
Para Galeotti, a linha divisória fundamental da 
história do aborto encontra-se no século XVIII 
quando, a partir dos descobrimentos médicos e sob 
a ratificação dos Estados nacionais que se 
consolidaram após a Revolução Francesa, 
começou-se a privilegiar a vida do feto, futuro 
trabalhador e soltado. Antes desse marco, o aborto 
era fundamentalmente uma questão da mulher, a 
única que podia testemunhar acerca de sua 
gravidez. O feto, em geral, era considerado simples 
apêndice do corpo da mulher. Assim, no mundo 
grego-romano, por exemplo, a mulher que 
abortasse apenas era punida caso estivesse ferindo 
aos interesses de seu marido. 
A sociedade daquela época aceitava a prática do aborto, pois entendia que a 
mulher tinha autonomia em poder dispor de seu próprio corpo, desde que não afetasse os 
interesses do marido, ou seja, embora ela tivesse liberdade, sempre estava subordinada à 
vontade do seu cônjuge, e o feto não tinha importância, seria penas um elemento 
dispensável ou não. 
Na Antiguidade greco-romana, o aborto era 
moralmente aceito e juridicamente lícito, mas a sua 
prática não podia contrariar a expectativa do pai, do 
marido ou do patrão, o que foi lembrado por Chico 
Buarque “mirem-se no exemplo daquelas mulheres 
de Atenas/ geram pr’os seus maridos os novos 
filhos de Atenas/ Elas não têm gosto ou vontade/ 
Nem defeito nem qualidade/ Têm medo apenas/ 
Não têm sonhos, só têm presságios. 
Segundo DWORKIN, no mundo grego-romano, o aborto era comum, mas o 
assunto teve discussão no campo religioso dos primórdios do cristianismo. Os Santos 
Agostinho e Jerônimo também manifestaram sobre o assunto: 
O aborto era comum no mundo grego-romano, mas 
em já em seus primórdios o cristianismo o 
condenou.“ No sec. V. Santo Agostinho referiu-se 
como “prostitutas” as mulheres, inclusive casadas, 
que para evitar as consequências do sexo 
procuravam veneno que as esterilizassem e, 
quando estes não funcionam, destroem de algum 
modo o feto que trazem no útero, preferindo que 
seu filho morra antes de chegar a viver, ou se já 
estava vivo no útero, que seja morto antes de 
nascer. Nenhuma das primeiras denúncias contra o 
aborto pressupunha que o feto havia sido animado- 
dotado de alma por Deus – momento da 
concepção”. Santo Agostinho declarou-se inseguro 
quanto a esse ponto e assim admitiu que nos 
�27
abortos feitos no início da gravidez um “filho” pode 
morrer “antes de chegar a viver”. São Jerônimo 
afirmou que as sementes formam-se gradualmente 
no útero, e [o aborto] não é considerado homicídio 
enquanto os elementos dispersos não adquirem 
sua aparência de seus membros”. 19
A HUNGRIA também se pronunciou acerca da história do aborto: 
No que se refere aos precedentes históricos, a 
prática do aborto nem sempre foi objeto de 
incriminação, sendo comum entre as civilizações 
hebraicas e gregas. Em Roma, a lei das XII Tabuas 
e as leis da Republica não cuidavam do aborto, pois 
consideravam produto da concepção como parte do 
corpo da gestante e não como ser autônomo, de 
modo que a mulher que abortava nada mais fazia 
que dispor do próprio corpo. Em tempos posteriores 
o aborto passou a ser considerado uma lesão do 
Direito do marido a prole sendo sua pratica 
castigada. Foi então com o cristianismo que o 
aborto passou a ser efetivamente reprovado no 
meio social, tendo os imperadores Adriano, 
Constantino, e Teodósio, reformado o direito e 
assimilado o aborto criminoso ao homicídio . 20
O filósofo católico do século III, São Tomás de Aquino, afirmou que o feto só 
adquire alma depois de um determinado tempo e de maneira diferente entre o homem e a 
mulher, conforme expõe DWORKIN: 
O feto não tem uma alma intelectual ou racional no 
momento em que é concebido, mas que a adquire 
em algum momento posterior-quarenta dias no caso 
de um feto masculino, segundo a doutrina católica 
tradicional, e mais tarde no caso de um feto 
feminino . 21
Ainda, segundo DWORKIN, São Tomás de Aquino negava que a alma humana 
estivesse no embrião, pois era considerado apenas como matéria prima de um ser 
humano: 
Santo Tomás, portanto, negava que a alma humana 
já tivesse impregnada no embrião que o homem e 
uma mulher criam juntos por meio do sexo. Esse 
embrião inicial, pensava ele, é apenas a matéria 
prima de um ser humano cujo desenvolvimento é 
dirigido por uma série de almas, cada qual 
 DWORKIN, Ronald. Domínio da Vida: Aborto, eutanásia e liberdades individuais. 1.ed. São 19
Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 55.
 HUNGRIA, Nelson. Precedentes históricos, comentários. 5. ed. São Paulo: Forense, 1981, p. 20
268.
 DWORKIN, Ronald. Domínio... p. 5621
�28
apropriada ao estágio que alcançou e cada qual 
corrompida e substituída pela seguinte, até que o 
embrião finalmente alcance o desenvolvimento 
necessário a uma alma claramente humana . 22
Por muitos séculos discutiu-se acerca da possibilidade de o feto ter uma alma ou 
não. Os argumentos do Santo Tomás continuaram: “[...] sustentou que o aborto nas 
primeiras semanas de gravidez, antes que o feto esteja “formado”, não é um assassinato 
porque a alma ainda não se acha presente” . 23
Foi publicado, no século XIX, um manual importante sobre o aborto, objetivando a 
instrução dos seminaristas daquela época, que declarou que “apesar de não dotado de 
alma, o feto se dirige para a formação de um homem; sua ejeção constitui, pois, um 
homicídio antecipado” . 24
O aborto era considerado um “homicídio antecipado”, o que caracterizava um 
pecado, apesar de São Jerônimo achar que o feto não possuía alma. 
O aborto prematuro era certamente tipo em conta 
de um grave pecado, como insiste a expressão 
“homicídio antecipado. Ainda que São Jerônimo não 
acreditasse que um feto prematuro tivesse alma, e 
que Santo Agostinho se mostrasse em dúvida 
quanto a essa questão, nenhum deles estabeleceu 
qualquer distinção entre a pecaminosidade do 
aborto prematuro e a do tardio . 25
Na Idade Média, o aborto era constituído como homicídio e contra a dádiva divina: 
“o homicídio, era às vezes usado para designar qualquer crime, inclusive a contracepção, 
contra a ordem cutural da procriação, e portanto, contra a santidade da vida concebida 
como dádiva divina” . 26
Em 1869, o Papa Pio IX publicou o Apostolicae Sedis, um documento que trazia na 
sua essência a excomunhão para aquelas mulheres que praticassem o aborto. 
Muitos acreditam que um decreto papal de 1869, no 
qual Pio IX declarava que até mesmo o aborto 
prematuro podia ser punido com a excomunhão, 
marcou a primeira rejeição oficial da concepção 
 DWORKIN, Ronald. Domínio..., p. 56.22
 Ibid., p. 59.23
 Ibid., p. 59.24
 Ibid., p. 59.25
 Ibid., p. 60.26
�29
tradicional de que o feto é dotado de alma algum 
tempo depois da concepção, e a adoção oficial da 
concepção atual de animação imediata . 27
Depois da Primeira Guerra Mundial, a legislação proibia com rigor o aborto e o 
coito interrompido, em decorrência da necessidade de se constituir família com grande 
quantitativo de pessoas, cujo objetivo era conquistar novos terrenos para implementar a 
economia. 
Depois da Primeira Guerra Mundial, as nações, 
levadas pela vaga nacionalista, que pregava a 
necessidade de famílias numerosas, adotaram 
sanções normativas mais severas com relação à 
contracepção e ao aborto. 
Afirmava António Visco que o coitus interruptus 
“defrauda a natureza exaltando o egoísmo sexual e 
defrauda o Estado, na medida em que subtrai 
milhares e milhares de cidadãos à nação”. 
Obviamente, tal afirmação tinha um duplo 
componente ideológico: o crescimento demográfico 
como condição de desenvolvimento econômico 
nacional e o comportamento imperialista para o 
qual esse aumento é importante na óptica da 
conquista colonial e doalargamento territorial.13 
No decorrer da Segunda Guerra Mundial, os nazistas pregavam o aperfeiçoamento 
da raça, afirmando ser necessário excluir os filhos de mulheres de raça inferior, de modo 
que a legislação permitia o aborto: 
A legislação nazista, que tinha o objetivo de 
preservar o aperfeiçoamento da raça, afirmava que 
era preciso impedir que as mulheres de raça inferior 
tivessem filhos. Portanto, o aborto era permitido e 
incentivado nos territórios ocupados, pois, como 
dizia o Fürer, a e produção das populações não 
alemãs não se reveste de nenhum interesse para 
nós. 
Em meio a essas controvérsias, conforme verificado acima, nota-se que, na 
trajetória histórica do aborto, a proteção do feto ficou em segundo plano, visto que a 
posição sempre foi o interesse social e econômico para alavancar os países, razão pela 
qual se evitavam os abortos, assim como não se permitia o coito interrompido, não com o 
intuito de preservar a verdadeira essência da vida, mas sim para que houvesse mão-de-
obra necessária e imprescindível para o crescimento econômico. 
No Livro do Êxodo (1000 a.c.), o aborto foi 
condenado e o culpado passou a ser obrigado a 
 Ibid., p. 62.27
�30
indenizar a quantia estabelecida pelo marido da 
mulher ou por árbitros. Se houvesse dano grave, 
aplicava-se a Lei de Talião. Nessa época, a perda 
do feto era considerada um prejuízo econômico, 
porque o filho era uma mão-de-obra a mais para o 
sustento da família. 
A antiga União Soviética foi o primeiro país a introduzir a legalização do aborto. ´ 
Em 1917, a antiga União Soviética foi o primeiro 
país a suprimir a repressão ao aborto. Por quatro 
anos ele foi praticado indistintamente, até que por 
razões de saúde pública foi limitado apenas a 
clínicas e médicos custeados pelo Estado. 
O governo soviético tinha por objetivo recrutar as mulheres para o trabalho da 
mesma forma que os homens, de modo que incentivou às mulheres a terem liberdade 
tanto para o divórcio quanto para praticarem o aborto. 
A União Soviética tornou-se o primeiro país do 
mundo a garantir às mulheres o direito ao aborto 
legal. Dois anos antes, em 1918, o Código da 
Família, promulgado pelos bolcheviques, havia 
instituído o casamento civil em substituição ao 
religioso e estabelecido o divórcio a pedido de 
qualquer um dos cônjuges. O governo que emergiu 
da Revolução comunista de 1917 também 
incentivou a educação feminina e encorajou as 
mulheres a assumirem os mesmos postos de 
trabalho que os homens pelos mesmos salários. 
Na década de 20, as mulheres soviéticas 
começaram a ocupar mais e mais postos de 
trabalho nas indústrias e creches e restaurantes 
estatais se encarregavam das tarefas antes 
consideradas domésticas. As novas condições 
materiais somadas à facilidade para se casar e se 
divorciar e ao acesso ao aborto permitiram o 
surgimento de novos arranjos familiares, baseados 
no amor livre, e não na dependência econômica. 
Por fim, entre uma história e outra, entre gerações e gerações, percebe-se que o 
aborto sempre foi questionado de modo peculiar, observando a diversidade cultural e 
crenças de cada momento. Entrementes, na atualidade o questionamento acerca da 
autonomia da mulher em poder dispor de seu próprio corpo está relativamente fundado 
nos aspectos religiosos, mediante as imposições das igrejas, que quase sempre 
dominaram e interferiram nas ações sócio-políticas dos Estados. 
O movimento antiaborto é liberado por grupos 
religiosos, utiliza uma linguagem religiosa, invoca 
�31
Deus o tempo todo e frequentemente atribui uma 
grande importância à oração . 28
[...] Atualmente, a posição oficial da Igreja sobre a 
vida do feto encontra-se em sua Instrução sobre o 
respeito pela vida humana em sua origem e sobre a 
dignidade da procriação, publicada em 1987 pela 
Sagrada Congregação do Vaticano para a Doutrina 
da Fé, com o consentimento do Papa. A Instrução 
declara que “todo ser humano” tem direito à vida e 
à integridade física desde o momento da concepção 
até a morte . 29
Já o autor Capez (2004, p. 108/9) cita que: 
Na idade média o teólogo Santo Agostinho com 
base na doutrina de Aristóteles considerava que o 
aborto seria crime apenas quando o feto tivesse 
recebido alma, o que se julgava correr quarenta ou 
oitenta dias após a concepção segundo se tratasse 
de varão ou mulher. Já, são Basílio, não admitia 
qualquer distinção, considerando o aborto sempre 
criminoso. 
No Velho Testamento, também, se pode considerar que as crianças são vistas 
como uma benção. A primeira benção sobre o homem foi sagradas escrituras- Bíblia 
Sagrada - Gen. 1,28 Genesis.1,28 “Crescei e multiplicai-vos, povoai e submetei a terra.” 
Percebe-se que no meio dessa civilização o aborto era tido como algo reprovável. 
Assim, a posição tradicional da Igreja é rechaçar a hipótese de aborto, sendo uma 
questão extremamente polêmica, pois envolve conceitos religiosos, ou seja, crenças de 
um povo. 
Esta benção foi renovada com Noé (Gen 9,7) Bíblia Sagrada, Gen.9,7: 
Uma esposa como a videira fecunda no interior de 
sua casa e os filhos como rebentos de oliveira ao 
redor de sua mesa”, sendo que o contexto, de 
ambas as passagens, mostra que se trata mais de 
um dom do que de um verdadeiro preceito. Na 
sociedade do Velho Testamento as crianças eram 
tidas como um dom de Deus e como uma 
recompensa para a fé nele. Para aquele homem 
que teme ao Senhor e segue o seu caminho, os 
Salmos protegem. 
 DWORKIN, Ronald. Domínio..., p. 49.28
 Ibid., p. 54.29
�32
Assim, a posição Tradicional da Igreja é repelir a prática do aborto, sendo, portanto 
uma questão de grande repercussão, pois envolve questões religiosas, ou seja, crença de 
um povo. 
Outro tipo de aborto existente é o aborto humanitário e o necessário, assim bem 
conceitua Capez (2004, p.124): 
Trata-se do aborto realizado pelos médicos nos 
casos em que a gravidez decorreu de um crime de 
estupro. O estado não pode obrigar a mulher a 
gerar um filho que e fruto de um coito vagínico 
violento, dados os danos maiores, em especial 
psicológicos, que isso lhe pode acarretar. 
Nada justifica que se obrigue a mulher estuprada a aceitar uma maternidade 
odiosa, que dê vida a um ser que lhe recordará perpetuamente o horrível episódio da 
violência sofrida. . Desta forma o Estado deu a mulher o direito de fazer ou não o aborto. 
Bitencourt (2007) assim disserta sobre o tema: o código Penal ao lecionar que “não 
se pune o aborto”, apresenta o aborto lícito nestas duas hipóteses, Humanitário e 
Necessário. 
Na prática, para evitar abusos, o médico só deve agir mediante prova concludente 
do alegado estupro, salvo se o fato é notório ou se já existe sentença judicial condenatória 
do estuprador. 
Em seus ensinamentos leciona Noronha (1998, p.64) a respeito do tema: 
Mulher violentada, agravada na honra e envilecida 
por abjeta lubricidade, tem o direito de desfazer-se 
do fruto desse coito. Diversos códigos assim 
também dispõe: o da polônia, Uruguai, equador, 
cuba, argentina e outros. 
Assim a excludente da ilicitude vai incidir, quando a gravidez for decorrente de 
estupro, e quando a gestante consentir o aborto. 
3.4 HISTÓRICO DO ABORTO NO ORDENAMENTO BRASILEIRO 
Durante um certo tempo, o crime do aborto não existia no ordenamento brasileiro, 
tendo em vista que o Estado considerava que a mulher era proprietária de seu corpo e 
�33
poderia dispor deste, tendo a opção de interromper a gravidez a qualquer tempo sem que 
lhe fosse atribuída sanção. 
Somente com o Código Penal do Império de 1830 em que abortar era crime grave 
contra a segurança das pessoas e da vida. O aborto foi incluído nos crimes contra a 
segurança da pessoa e da vida, em seus arts. 199 e 200, nesses artigos eram detalhados 
dois tipos de figura criminosa: Aborto consentido e aborto sofrido, neste sentido o aborto 
provocado não era punido. 
O referido código do Império do Brasil estabelecia: 
Art 199. Ocasionar aborto por qualquer meioempregado anterior ou exteriormente com o 
consentimento da mulher pejada. Pena: Prisão com 
trabalho de 1 a 5 anos. Se o crime for cometido 
sem o consentimento da mulher pejada. Penas 
dobradas.

Art 200. Fornecer, com o consentimento de causa, 
drogas ou quaisquer meios para produzir o aborto, 
ainda que este não se verifique. Pena: Prisão com 
trabalho de 2 a 6 anos. Se esse crime for cometido 
por médico, boticário ou cirurgião ou ainda 
praticantes de tais artes. Penas: dobradas. 
Assim, o Código Penal de 1830 punia apenas o aborteiro, com a pena de 1 a 5 
anos,duplicando no caso do ato ser efetuado sem o consentimento da mulher, sendo que 
não previa o crime de Aborto praticado pela própria gestante(auto-Aborto),sendo a mesma 
em qualquer hipótese,isenta de punição. Nas palavras de Capez (2004) no Brasil, o 
código do Império de 1830 nada previa sobre o crime de aborto, praticado pela própria 
gestante, mas apenas criminalizava a conduta de terceiros que realizassem o ato, com ou 
sem o consentimento dela já o, código de 1890, passou a prever o crime de aborto 
praticado pela gestante e somente com o Código Penal de 1940, que tipificou o crime de 
aborto provocado, sofrido, e o consentido. 
Depois de 1890 introduziu-se o “Código Penal da República”, passou a criminalizar 
o aborto praticado pela própria gestante (auto-Aborto), passando a distinguir o aborto com 
ou sem expulsão do feto, agravando-se caso ocorresse a morte da gestante. 
Conforme nos ensina Bitencourt (2007, p. 129): 
Quando o aborto era praticado para ocultar desonra 
própria a pena era consideravelmente atenuada. 
Este código passou a autorizar o aborto para salvar 
a v i da da ges tan te , nes te caso , pun ia 
�34
eventualmente imperícia do médico ou parteira que 
culposamente causassem a morte da gestante. 
O referido Código Penal do Império de 1890-prescrevia: 
Art.300 provocar aborto haja ou não a expulsão do 
produto da concepção. No primeiro caso:pena de 
prisão celular por 2 a 6 anos. No segundo 
caso:pena de prisão celular por 6 meses a 1 
ano.§1o Se em conseqüência do Aborto, ou dos 
meios empregados para provocá-lo, seguir a morte 
da mulher. Pena de prisão de 6 a 24 anos. §2o Se o 
aborto foi provocado por médico, parteira 
legalmente habilitada para o exercício da medicina. 
Pena: a mesma procedente estabelecida e a 
proibição do exercício da profissão por tempo igual 
ao da reclusão. 
Art.301 Provocar Aborto com anuência e acordo da 
g e s t a n t e . P e n a : p r i s ã o c e l u l a r d e 1 a 5 
anos.Parágrafo único :Em igual pena incorrera a 
gestante que conseguir abortar voluntariamente, 
empregado para esses fim os meios; com redução 
da terça parte se o crime foi cometido para ocultar 
desonra própria. 
Art.302 Se o médico ou parteira, praticando o 
aborto legal,para salvar da morte inevitável, 
ocasionam-lhe a morte por imperíc ia ou 
negligencia. Penas: prisão celular de 2 meses a 2 
anos e privado de exercício da profissão por igual 
tempo de condenação.” 
Assim pode-se observar a grande importância deste código para a criminalização 
do aborto no país, pois passou a ser punido o auto-Aborto, e previsto como legal o Aborto 
para salvar a vida da gestante. 
Finalmente o Código Penal de 1940 tipificou as figuras do aborto provocado (CP, 
art.124 –a gestante assume a responsabilidade pelo abortamento) , aborto sofrido(CP, art.
125- o aborto é realizado por terceiro sem o consentimento da gestante) e aborto 
consentido(CP,art.126-o aborto é realizado por terceiro com o consentimento da gestante. 
Sobre este código assevera o Bitencourt (2007, p.129): 
O código Penal de 1940 foi publicado segundo a 
cultura, costume e hábitos na década de 30. 
Passaram mais de 60 anos, e, nesse lapso, não 
foram apenas os valores da sociedade que se 
modificaram, mais principalmente os avanços 
científicos e tecnológicos, que produziram 
verdadeira revolução na ciência médica. No atual 
estagio, a medicina tem condições de definir com 
absoluta certeza e precisão, eventual anomalia, do 
feto e, conseqüentemente, a viabilidade da vida 
�35
extra-uterina. Nessas condições, e perfeitamente 
defensável a orientação do anteprojeto de reforma 
da parte especial do Código Penal, que autoriza o 
aborto quando o nascituro apresentar graves e 
irreversíveis anomalias físicas ou mentais, 
ampliando a abrangência do aborto eugênico ou 
piedoso. 
Desta forma, pode-se perceber que no decorrer dos anos, muitas alterações foram 
feitas na tipificação do aborto no Brasil, e a partir de novos avanços científicos e 
tecnológicos muitas mudanças correrão, pois a história nos mostra que tais mudanças 
parecem inevitáveis. 
Segundo a Revista Brasileira de História das Religiões, a Constituição do Império 
do Brasil de 1824 considerou o aborto voluntário como um crime grave contra a vida 
humana. 
Em 1824, segundo os ditames da norma constitucional então vigente, a interrupção 
voluntária da gestação era considerada como um crime grave contra a vida humana 
(SOUZA, 2009). No entanto, dado o cuidado que se tinha com a punição das mulheres à 
época, quando o aborto era praticado pela própria gestante ela era preservada do infligir 
de alguma pena. 
A interrupção da gravidez foi condenável no Código Penal do Império de 1830, 
apesar da prática abortiva já se encontrar condenável pelo catolicismo português na fase 
colonial, assim como na Constituição do Império. 
Art. 197. Matar algum recém-nascido. 
Penas - de prisão por tres a doze anos, e de multa 
correspondente á metade do tempo. 
Art. 198. Se a propria mãe matar o filho recém-
nascido para ocultar a sua desonra. 
Penas - de prisão com trabalho por um a três 
annos. 
Art. 199. Ocasionar aborto por qualquer meio 
empregado interior, ou exteriormente com 
consentimento da mulher pejada. 
Penas - de prisão com trabalho por um a cinco 
annos. 
Se este crime for comettido sem consentimento da 
mulher pejada. 
Penas - dobradas. 
�36
Art. 200. Fornecer com conhecimento de causa 
drogas, ou quaisquer meios para produzir o aborto, 
ainda que este se não verifique. 
Penas - de prisão com trabalho por dois a seis 
anos. 
Se este crime for cometido por medico, boticario, 
cirurgião, ou praticante de taes artes. 
Penas – dobradas. 
O Código Penal da República de 1890 passou a condenar, também, o aborto 
praticado por terceiros, com o consentimento da gestante, conforme preceitua os artigos 
300, 301 e 302. 
Art. 300. Provocar aborto, haja ou não a expulsão 
do fruto da concepção: 
No primeiro caso: - pena de prisão celular por dois 
a seis anos. 
No segundo caso: - pena de prisão celular por seis 
meses a um ano. 
§ 1º Si em consequencia do aborto, ou dos meios 
empregados para provoca-lo, seguir-se a morte da 
mulher: 
Pena - de prisão celular de seis a vinte e quatro 
anos. 
§ 2º Si o aborto for provocado por medico, ou 
parteira legalmente habilitada para o exercício da 
medicina: 
Pena - a mesma precedentemente estabelecida, e 
a de privação do exercício da profissão por tempo 
igual ao da condenação. 
Art. 301. Provocar aborto com anuência e acordo 
da gestante: 
Pena - de prisão celular por um a cinco anos. 
Parágrafo único. Em igual pena incorrerá a gestante 
que conseguir abortar voluntariamente, empregado 
para esse fim os meios; e com redução da terça 
parte, si o crime for cometido para ocultar a desonra 
própria. 
Art. 302. Si o medico, ou parteira, praticando o 
aborto legal, ou aborto necessário, para salvar a 
gestante de morte inevitável, ocasionar-lhe a morte 
por imperícia ou negligencia: 
�37
Pena - de prisão celular por dois meses a dois 
anos, e privação do exercício da profissão por igual 
tempo ao da condenação. 
Com a edição do Código Penal de 1940, o aborto ficou tipificado como crime contra 
a vida, conforme estabelecido nos artigos 124 a 127, que passou a permitir somente em 
duas situações extremas: quando tiver risco de morte para a gestante e nos casos de 
estupro, consoante o art.128: 
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por 
médico: 
Aborto necessário 
I - se não há outro meio de salvar a vida da 
gestante; 
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro 
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é 
precedido de consentimento da gestante ou, 
quando incapaz, de seu representante legal. 
Segundo o Ministro AURÉLIO, em manifestação ao julgamento da ADPF 54, o 
aborto provocado ou com o consentimento da gestante, na legislação vigente, possui um 
grau de reprovação diferente do infanticídio. Explicitou também acerca do aborto nos 
casos de estupro, em que o bem tutelado não é a vida. 
Vê-se, claramente, que os graus de reprovabilidade são diferentes e que a situação 
da mãe ou gestante é levada em consideração. Praticar o infanticídio não gera penas tão 
graves quanto cometer um homicídio, que, por sua vez, é punível de forma mais 
exasperada do que a prática de um aborto. Ainda, é de se considerar que a lesão corporal 
grave tem uma pena máxima maior do que a do aborto. Também é importante frisar que o 
aborto provocado sem o consentimento da gestante tem pena de 3 a 10 anos, bem 
inferior à de homicídio. Assim, para fins de valoração da reprovabilidade, espera-se 
menos da relação da gestante e da sociedade com o feto do que na relação entre dois 
indivíduos já totalmente formados organicamente no que tange à proteção da vida e do 
direito à plenitude da integridade física como bens jurídicos. Lembre-se, ademais, que o 
estupro é causa de excludente de ilicitude do crime de aborto (art.128, II, do Código 
Penal), mesmo que o feto seja plenamente viável. Ou seja, no caso de estupro não há 
interesse em proteger o feto contra a gestante. Fica evidente que, para o direito penal, 
vida não é, em hipótese alguma, um valor único e absoluto. 
�38
No campo da estatística, acredita-se que na Europa o índice de abortamento é 
alarmante, a ponto de causar sérios problemas econômicos com a consequente 
diminuição da população, comprometendo o consumo, assim como o serviço militar e 
prejudicando a não satisfação dos aposentados, em decorrência do reflexo na 
contribuição previdenciária. 
Na Europa, o problema assume níveis catastróficos. Todos ou quase todos os 
países da Europa já aprovaram leis permissivas do aborto, sob a alegação de que a vida 
começa com o nascimento e não na concepção (fecundação ou união do esperma com o 
óvulo) e que cabe à mulher dispor sobre o seu próprio corpo. A Itália detém o recorde de 
crescimento negativo da população. Isso causa problemas econômicos, em face do 
envelhecimento da maioria aposentada, sem o correspondente crescimento da massa 
trabalhadora e consequente respaldo da contribuição previdenciária, incluindo o consumo 
e o serviço militar. 
4. ABORTO COMO QUESTÃO DE SÚDE PÚBLICA 
Estima-se que 1 milhão de abortos clandestinos sejam realizados por ano no Brasil. 
Mesmo ilegal esta é uma realidade vivenciada, cerca de 1 milhão de mulheres se 
submetem a riscos inimagináveis pois o sistema de saúde publica não pode auxilia-las a 
passar por este trauma. 
O aborto não é apenas “impedir uma vida”, mas sim salvaguardar outra, mesmo 
que para isso cause sequelas naquela que precisou se sujeitar a tal desgaste. Uma 30
mulher não iria escolher por um fim a vida de um filho, a menos que não veja outra saída 
para ela e para o fruto de seu ventre. 
O abortamento é um tema a ser discutido na saúde pública, em virtude da sua 
grande representatividade entre as causas de mortalidade e morbidade materna. Estudos 
mostram que mulheres grávidas nos países em desenvolvimento continuam morrendo 
devido a quatro causas principais: hemorragias severas pós-parto, infecções, distúrbios 
hipertensivos e abortos. 
 As sequelas são físicas e psicológicas, uma vez que o aborto causa um colapso no corpo da 30
mulher, que ao perder o feto para de produzir hormônios o que causa um processo extremamente 
danoso para a mulher que precisou passar por este trauma 
�39
Como não é legalizado, o aborto precisa ser feito de forma clandestina, o que, na 
maior parte das vezes, significa em clinicas sem estruturas, com médicos carniceiros, e 
métodos desumanos. As mulheres pobres, sem condições de pagar uma clinica bem 
estruturada e um médico adequado , acabam recorrendo a esses médicos e métodos 31
que colocam a vida das usuárias em sérios riscos . Graças à essas “medidas 32
desesperadas”, no Brasil mais de 250 mil internações por complicações são registradas 
ao ano. 
Essas complicações se não forem atendidas à tempo podem evoluir para um 33
quadro mais grave, levando à perda do útero e, em casos mais graves , ao óbito. 34
Tratando-se de um tabu social, muitas mulheres acabam esperando até o ultimo momento 
para procurar ajuda especializada, com medo de ser julgada, mal tratada e denunciada 
para as autoridades , fatos os quais existem relatos e registro de realmente ocorrerem. 35
Devido esta demora, causada pelo receio, as mulheres chegam aos hospitais já em 
estado grave, onde não há muito o que fazer para salva-las. 
O mais trágico é o fato de, até mesmo as mulheres que buscam auxilio pouco 
depois do procedimento, acabam por perder a vida devido à erros médicos realizados 
durante os abortos inseguros, como perfuração do útero, uma má realização da 
curetagem , infecções proveniente de equipamentos e local mal higienizados, entre 36
outras atrocidades pelas quais mulheres precisam se submeter já que o Estado não lhes 
presta assistência, privando-as até mesmo de um direito básico como a saúde. 
4.1 ABORTO CRIMINOSO 
 Mesmo sendo clandestinas, existem clinicas com boas estruturas, condições de higiene e 31
médicos treinados que realizam abortos por uma pequena fortuna, sendo de acesso apenas 
aquelas com uma melhor condição econômica 
 Aborto inseguro 32
 Sangramentos intra-uterinos, infecções, esterilidade, danos psíquicos e morte 33
 Casos os quais, infelizmente não são raros 34
 Mesmo ferindo o sigilo médico - paciente, muitos denunciam as mulheres por estas terem ferido 35
preceitos religiosos e culturais, prezados por muitos 
 Procedimento no qual as paredes do útero são raspadas para a retirada de resquícios do 36
endométrio e do feto 
�40
Nas palavras de Bitencourt (2007) o aborto só é criminoso quando provocado, pois, 
possui a finalidade de interromper a gravidez, e eliminar o produto da concepção, sendo 
exercido sobre a gestante, ou sobre o próprio feto ou embrião. 
Sobre o mesmo tema o autor referido ainda continua a discorrer que, o crime de 
aborto e suas excludentes estão previstas nos arts.124 a 128 do código Penal Brasileiro, 
caso em que será punido, ou considerado lícito. Apenas variam de detenção de 1(um) a 
3(três) anos, e reclusão de 1(um ) a 10(dez) anos. 
 Nas lições Diniz (2008, p.36): 
“a)gravidez, período que abrange a fecundação do 
ovulo, com a constituição do ovo, até o começo do 
processo de parto, devendo ser sua existência 
devidamente comprovada pelos meios legais 
admissíveis.[...]não haverá tutela penal na gravidez 
molar, ante o desenvolvimento anormal do ovo que 
provoca sua degeneração, causando a expulsão do 
útero da “mola hidatiforme” nem na gravidez extra-
uterina, por ser um estado Patólogico. b) dolo, isto 
é, intenção livre e consciente de interromper a 
gravidez, provocando a morte do produto da 
concepção [...](c)emprego de técnicas abortivas[…] 
d) morte do concepto no ventre materno ou logo 
após sua expulsão. ” 
Assim, para que exista o aborto criminoso é necessária a comprovação, da 
gravidez, do dolo e da morte da concepção. 
As modalidades do Aborto Criminoso são: o aborto provocado pela própria gestante 
(auto-aborto)-(art.124.1a parte) de acordo com Capez (2004) é a própria mulher que 
executa a ação material, ou seja, ela própria emprega os meios ou manobra abortiva em 
si mesma. 
Já Bitencourt (2007) esclarece que: a mulher apenas consente na prática abortiva, 
mais a execução material do crimee feito por terceira pessoa, podendo, porém haver o 
concurso material de pessoas. 
Há de se concluir diante de tais afirmativas que quem pratica o auto aborto, ou até 
mesmo, auxilia, induz ou colabora sem interferir deverá responder no mínimo pelo crime 
na condição de participe. 
�41
No Aborto Consentido (art.124-2a parte) a mulher apenas consente com a prática 
abortiva, mais a execução material do crime e realizada por terceira pessoa (CAPEZ, 
2004) 
O Aborto Provocado por Terceiro, com consentimento da gestante. (art.126.CP) 
para Teles (2006), ocorre quando o agente obtém o consentimento valido da gestante e 
provoca a interrupção da gravidez devendo responder pelo mesmo crime. 
Capez (2004) cita que o Aborto provocado por Terceiro, sem consentimento da 
gestante (art.125) trata-se da forma mais gravosa do delito de aborto, pois neste caso não 
há o consentimento da gestante no emprego dos meios ou manobras abortivas por 
terceiros, afinal a ausência de consentimento da gestante. 
Já Bitencourt (2007) ao falar sobre o Aborto Qualificado-(art.127 CP) menciona 
que. tal artigo apresenta duas causas especiais de aumento de pena, para o crime 
praticado com o consentimento da gestante:Lesão corporal de natureza grave e morte da 
gestante.Somente a lesão corporal de natureza Grave, e a morte, qualificam o crime de 
aborto. Essas qualificadoras aplicam-se a apenas ao aborto praticado, por terceiro, não 
sendo aplicado ao aborto praticado pela própria gestante, pois não se pune a auto lesão, 
nem o ato de matar-se. 
v O aborto , tem sido nos últimos oito anos um debate acirrado por diversos 
segmentos da sociedade , incluindo ; religiosos , movimentos feministas , partidos 
políticos, e parte de um setor da classe médica . Uns defendem à descriminalização do 
aborto , outros defendem à prática do aborto como questão de saúde.Há várias correntes 
em relação ao tema . O que diz a ciência ?. O segmento , está divido. 
A verdade é que , por ano morrem milhares de mulheres no Brasil vitima da prática 
do aborto clandestino e vidas inocentes que não pediram para serem concebidas. O 
aborto , é um crime contra a vida , passivo de punição severa , um ato que deve ser 
intolerável , porque não há justificativa palatável, e não é uma saída para solução da 
saúde da mulher. Em vez de propor o aborto , porque não inserir na pauta da discussão , 
o planejamento familiar , informações de como funciona o corpo da mulher , orientação a 
adolescência sobre a prática do sexo responsável , o momento ideal para a prática do 
sexo. 
�42
Por que as instituições , a imprensa não fala o que está por trás do aborto , 
sabemos que , a prática ao aborto envolve várias questões e situações . São jovens que 
engravidam de maneira irresponsáveis , são mulheres casadas que tem relação extra-
conjugais , são homens casados que se envolvem com outras mulheres que engravidam 
e forçam essas mulheres a prática do aborto. 
Não podemos tomar decisões sem nos aprofundar na realidade dos fatos . É 
preciso discutir o assunto com mais responsabilidades e com dados concretos. A própria 
imprensa , a mídia , já veiculou reportagens em que mulheres que injetaram remédios 
abortivos e não obtiveram sucesso, voltaram atrás , deram continuidade a gravidez , 
tiveram seus filhos , e hoje , declaram felizes por terem dado continuidade a gestação . 
A sociedade vive num processo de degeneração total , a vida não vale mais nada , 
os verdadeiros valores foram esquecidos por essa geração , os bons atos e costumes 
foram deixados na lata do lixo. E voltando ao assunto da questão de saúde , algumas 
pesquisas que foram realizadas , comprovam que mulheres que praticaram o aborto , 
tiveram certos problemas de saúde , afetaram várias partes do corpo . Muitos médicos já 
declaram , que , a mulher que pratica o aborto , não serão mais as mesmas. 
A mídia , que muitas vezes ocupam o espaço para muitas vezes estimular a prática 
do aborto, por que , essa mesma mídia , não ocupa o espaço para orientar as mulheres , 
as jovens e adolescentes sobre o sexo , as práticas mais saudáveis para evitar a gravidez 
indesejada. Se existem várias maneiras de evitar a gravidez , se existem vários métodos 
para evitar a gravidez? 
Mas , me parece , que não interessa a mídia falar de métodos contraceptivos , o 
mais interessante é falar do assunto que mais dar audiência. E por que, as instituições 
públicas , ongs , não fazem campanhas educativas ? E por que nos postos , centros de 
saúde e hospitais , não fazem campanhas educativas e distribuem preservativos . E por 
que , o governo através do ministério da saúde , não estimula ao homem fazer a 
vasectomia ? A solução para evitar a prática do aborto , está na prevenção , na 
informação , na orientação . 
4.2 INFLUENCIAS DO ABORTO NO SISTEMA DE SAÚDE PÚBLICA 
O aborto trata-se de um caso de saúde publica, milhares de mulheres morrem por 
ano em decorrência de abortos mal feitos. A saúde publica gasta bem mais para dar fazer 
�43
procedimentos de correção de danos causados por abortos inseguros, do que gastariam 
realizando abortos. Garantir um acesso as mulheres à clinicas seguras, com médicos 
especializados e em boas condições de higiene, diminuiria drasticamente os casos de 
morte, e poderia amenizar as danos que o aborto gera na mulher, uma vez que poderiam 
ter acompanhamento psicológico, e teriam um tratamento decente para não gerar tantos 
danos ao seu corpo. 
O aborto envolve vários aspectos da sociedade, tanto o âmbito jurídico , moral , 37 38
religioso , a saúde publica e o âmbito econômico . Podendo gerar efeitos em todos 39 40 41
eles, uma vez que legalizado ou não. 
No âmbito jurídico por exemplo, uma vez legalizado o aborto, diminuiria o numero 
de processos, pois existem mulheres que são acusadas de abortarem, logo são 
processadas pelo estado, apenas para cumprir a lei, mesmo que o final do processo lhe 
renda apenas o cumprimento de trabalho voluntário ou o pagamento de cestas básicas. 
Faz-se uma ressalva neste ponto, as mulheres processadas são quase exclusivamente 
pobres, pois apenas aquelas que precisam recorrer à saúde publica são denunciadas. 
Estas então não possuem condições de manter nem mesmo seus lares, logo acabam se 
ausentando do julgamento, ficando o caso sem encerramento. 
Na saúde publica, uma vez legalizado, poderiam ser criados mecanismos de auxilio 
para as mulheres durante o processo do aborto, como assistência psicológica, criação de 
métodos mais humanitários , acesso para todas a clinicas higienizadas e a médicos 42
especializados, diminuindo as complicações pós aborto, logo podendo erradicar as mortes 
maternas causadas por aborto. 
No quesito econômico, diminuiria os gastos públicos, devido o diminuição de 
processos no jurídico e, como os procedimentos relacionados ao aborto são mais baratos 
que os procedimentos de reparação de danos gerados por um aborto inseguro. Então, 
 Uma vez que a legalização trata-se de um aspecto legal 37
 Muitas pessoas, ainda hoje, consideram imorais as mulheres que abortam 38
 Como já citado, a igreja é vorazmente contra o aborto 39
 É considerado questão de saúde pública uma vez que ocorre em quantidades alarmante e 40
causa impacto para a saúde da população 
 Os tratamentos necessários para tratar das consequências de um aborto inseguro, são mais 41
caros do que os procedimentos necessários para realizar um aborto seguro 
 Que causem menos danos à saúde da mãe e não sejam tão cruéis com o feto42
�44
economicamente é recomendado a legalização do aborto, para a diminuição de gastos 
públicos, com questões que poderiam ser evitadas. 
5. LEGALIZAÇÃO DO ABORTO 
Sabemos que no Brasil o aborto é crime e só tem exceções para os casos de 
estupro e risco de vida/saúde da mulher. 
Em 2004, o ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello, 
liminarmente, criou mais uma exceção, no caso dos fetos anencéfalos. Tal decisão foi

Continue navegando