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{ ( ( ( ( { ( ( ( ( ( ( ~ ( i { ( ( ( { ( ( ( t . '·/ Referências bibliográficas APPLE, M. (1979). Ideology and curriculum . Routledge & Ke- gan Paul. BOSI, A. (1992). Dialética da colonização. São Paulo, Companhia das Letras . DOGAN, M., PAHRE, R. (1991). L'innovation dans les sciences sociales: la marginalité créatrice. Paris, PUF. GARCIA, N.C . (1989). Culturas híbridas: estratégias para entrar y salir de la modernidad. México, Grijalbo. GIDDENS, A (1996). Novas regras do método sociológico: uma crítica positiva às sociologias interpretativas. Lisboa, Gradiva. HERRERA, A et al. (1994). La capacidad de investigación y desarrollo en la America Latina. Jn : Las nuevas tecnologias y el futuro de America Latina: riesgo y oportunidad. Mexico, Siglo Veintiuno. IBÁNEZ, J .L. (1996). Modernidad, razon e identidad en America Latina. Santiago, Andres Bello. LEWIN, K. (1967) . Le conflit dans les modes de pensée Aristote- lécien et Galiléen dans la psychologie contemporaine. In: Psychologie dynamique. Paris, PUF. MEIS, L., LETA, J. (1996). O perfil da ciência .brasileira . Rio de Janeiro, Editora UFRJ. PARKER, C . (1993) . Otra logica en America Latina: religión popular y inodernización capitalista . Santiago, Fondo de Cultura Económica. PAZ, O. ln: IBÁNEZ, J.L. (1996). Modernidad, razon e identidad en America Latina . Santiago, Andres Bello. PROGRAMME des Nations Unies pour le Developpement (PNUD) (1993) . Rapport Mondial sur le Développement Hu- main. Paris, Economica. ~~~~ ~---------- 100 O QUE HÁ DE NOVO NA PSICOLOGIA SOCIAL LATINO-AMERICANA? GJ Salvador Sandoval, Ph.D. Para responder à questão colocada no título desse artigo, gostaríamos em primeiro lugar de fazer breve di- >--_gf_essãQ acerca da gênese social da ciência. Nos dias ~ atuais, é lugar comum argumentar que empreendimentos :}Ql> P científicos não são nem poderiam ser vistos como neutros . ).l ,.>'- Não é preciso lembrar que a ciência nunca foi "neutra", " . ~ uma vez que, na maioria dos casos, suas preocupações, \ focos e objetivos são determinados por necessidades per- cebidas e abordadas na sociedade em conjunturas históri- cas particulares . Refletindo sobre a dive rsidade das ciências humanas, sabemos que o pensamento psicológico em geral, e a psicologia social em particular, não são exceções à regra. Ao contrário, considerando a maior sus- cetibilidade das ciências sociais aos impactos advindos de forças sócio-econômicas, incluem-se notadamente a psico- logia e a ciência política dentre aquelas mais marcadas por pressões societárias:J Nessas disciplinas, nem correntes teóricas alternativas maiores ou paradigmas sobrevivem ao impacto da hegemonia burguesa, ao mesmo tempo que, em rincões remotos e pouco notados do mundo acadêmico, algumas poucas correntes sociológicas e econômicas re- sistiram ao encroacflme_ nt burguês. ;,p."'Mffi) I ~ wtJe · O que tem pois essa afirmação de lugar comum acerca da gênese e dinâmica da sociologia da ciência a ver com a questão colocada no título desse artigo? O fato é que P.ara compreender a emergência de um novo "paradigma" na psicologia social temos de lembrar qual o contexto do qual emerge o pensamento sócio-psicológico e psicológico na América Latina não tem tradicionalmente respondido às demandas associadas a fatores econômicos e sociais do seu processo de desenvolvimento. Ao contrário, as c iên- 101 ---- --- --------·-·----------- --- -------------- ( ( ( ...... \,,..4 ..... ~ ....................... ~---- --- ---- - - imitações pobres e grosseiras das ciências das sociedades industrializadas. Teorias e práticas acabadas foram impor- tadas não em função de sua relevância, mas por ter sido considerado como um moderno e da moda consumi-las da mesma forma que consurrúamos os últimos estilos em J )._ +!'.' dJJJ..~ e.o:1 -o, "WM,~ voga, os últimos eletrodomésticos ou automóveis, ou seja, IJ '"'independente de sua aplicabilidade aos traços específicos de nossas sociedades em rápido processo de mudança. Desenvolveu-se assim um mercado de consumo para essas 'mercadorias' científicas importadas e para as escolas es- tabelecidas do Primeiro Mundo, as quais viriam a treinar as novas gerações de acadêmicos responsáveis pela difu- são de um novo enclave de desenvolvimento. tz'~ ~ Gi.1~ cç 8 5 ~ ~(7~ ' :(;, - ~ f ~ °" p~ :i 5 Cl.t ~Cj 1 ·-~tJ• ~/).. :/-G k 85 ( ... \, ~ l~~ ( 1 \ ~ q, ).~ ,., Q. \ "~~ ,.:;'<'~ \ ,... Nessa linha, a psicologia e a psicologia social na Amé- rica Latina foram por -longo tempo apenas imagens de espelho de suas contrapartidas. mais dinâmicas no Atlân- tico Norte, carentes no entanto de diversas qualidades que as pudessem tomar em apêndices das "originais" . Entre essas qualidades (ausentes de nossas ciências psicológi- cas) incluíam-se séria curiosidade intelectual, inovação tecnológica e metodológica e, sobretudo, um interesse em explorar cientificamente as vidas de indivíduos e grupos no mundo do subdesenvolvimento. Ligada aos centros metropolitanos por via de códigos teóricos, regras metodo- lógicas e paternalismo profissional, a ciência 'colonizada' nem contava com os méritos da criatividade nem com o valor de sua adequação às idiossincrasias históricas de sociedade em que se fincou. Em lugar disso, essas comu- nidades científicas puniam desvios das normas metropo- litanas: os moldes da ciência eram aqueles tal como definidos pelo Norte e os critérios temáticos de relevância eram aqueles definidos pelas revistas acadêmicas metro- politanas, tal como refletido em suas publicações e linhas editoriais. Contra esse pano de fundo, emergem nossos estabelecimentos acadêmicos favorecendo práticas cien- tíficas emuladas dos protótipos vindos do exterior e des- ,. conhecendo totalmente as relações históricas entre busca do conhecimento e o processo de desenvolvimento social do Ocidente. Isso é ilustrado num relance pela ilimitada variação das subáreas acadêmicas no campo d~;psicologia 102 ' .... ~ í -i 1 1 ~ - - .J - dução científica no Brasil e indicativa da visão de mundo limitada e pobreza intelectual de uma ciência colonizada. Se esse quadro cinzento representa a trajetória das ciências psicológicas na América Latina - como parece representar para o Brasil - o que há pois d0e novo na psicologia social latino-americana? Poderíamos dizer que novo de fato é o crescente segmento de profissionais no campo que agora se preocupa com a realidade do subde- senvolvimento em lugar de permanecer dentro das frontei- ras definidas pela psicologia convencional/colonial. rA nova psicologia social veio a encontrar no mundo do sub- desenvolvimento campo fértil para a verdadeira investiga- ção científica e envolvimento social. O período de dita- duras possivelmente acelerou esse processo na medida em que diversos opositores dos regimes autoritários pro- cederam dos contingentes de psicólogos engajados que enxergaram além do autocontido "enclave consumista" em que se acomoda a psicologia tradicional e em direção da realidade da pobreza e do sofrimento- Iiumano. Tomando os primeiros passos em direção da outra maioria de nossas sociedades, a psicologia social não fez ~ muito mais do que olhar para o que havia ignorado em cada \ /\ esquina das cidades da América Latina: a criança mendi- cante, a mãe sem teto e o trabalhador desempregado. Apesar disso, em que difere o olhar de outros tempos _para esses marginados do olhar nos tempos presentes da his- tória? Por que teve o subdes.en..volvimento, afinal, um eco nos trabalhos de iniciativa científica? Certamente não por razões de debilidade das sociedades e ciências burguesas. Tampouco porque fosse novo o fato da pobreza. A partir dessa ~ança de per~c~, a qual parece ~_?a à credibilidade e à visão de alguns acadêmicos dispo_§tos a questionar o establis1J,m_ent científico, revelaram-se as an- siedades próprias df1 acadêmicos formados no Primeiro Mundo e perdidos nas contradições do Terceiro Mundo, não equipado e despreparado para confrontar os desafios de forjar a assim chamada nação desenvolvida. Demo-nos conta de que a nossa visão de favelas, pobreza e negligên- cia era aterradora e que nossa impotência para intervir efetivamente nesse meio ainda de maior constrangimento. 0 1") &~vl. l.J'ji - ,I./' 103 l ( ( ( ( I \ ~ ( l ( ' ' r Dentro de nosso meio político, a psicologia e a psicologia . ~J social lograram pouca visibilidade, tendo sido os seus ~ e-aportes freqüentemente ignorados como relevantes para cJô" planejar o desenvolvimento. Já que podíamos importar os últimos modismos teóricos e tecnologias profissionais, por que motivos seriam esses de aplicação inadequada aos esforços de desenvolvimento? Seria o caso de um conheci- mento científico equivocado ou porque, de fato, nossa ciên- cia tinha pouco a contribuir para mudar o status quo vigente? Um grande número de profissionais optou por não acreditar que nossa ciência devesse focalizar aqueles te- mas e por longos anos sustentou a crença de que o conhe- cimento científico se coloca acima de compromissos societários. Mas, alguns poucos iniciaram uma caminhada que, tempos depois, conduziriam a esse Colóquio. t 'l)1'J1~ \ Tal jornada começou com uma rejeição quase taxativa da chamada psicologia burguesa, suas teorias, métodos e práticas. O desconforto de encontrar-se despreparado para lidar com o subdesenvolvimento implicou em longos e ferventes ataques sobre o tipo de conhecimento que havia sido acumulado. Rejeitando o que sabiam e buscan- do respostas na teoria marxista, sociologias alternativas e militância, esses tantos engajados passaram a deixar a acomodação de seus escritórios para entrar no mundo real de suas sociedaciles. Essa fase inicial de rebeldia contra a.Psicologia con5 vencional, ou a que chamamosli2sicologia colonial (não por ter sido imposta por poderes imperiais, mas por havermos permitido absorvê-la de forma acrítica, como o fazem men- tes coloniais) marcou um primeiro confronto com os para- digmas predominantes do Primeiro Mundo a partir do questionarrrento de sua habilidade de prover orientação ontológica e epistemológica na produção de conhecimen- to, teórico ou prático, a respeito da realidade do Terceiro Mundo. Chegamos a perceber, embora de forma gradual, que a ciência do Primeiro Mundo havia sido feita para necessidades do Primeiro Mundo e não para as necessida- des do Terceiro Mundo. Essa fase trouxe consigo o impe- rativo de criar nossas abordagens próprias e mais adequadas para as tarefas em mãos. A ruptura foi forte e polarizante provavelmente pela descoberta de que a ciên- 104 I , 1 \ \ fJ eia, em sua condicionalidade, não era neutra mas antes uma arte moldada por homens e mulheres que respon- diam às chamadas de seus mundos reais. Mas a polari- zação serviu como divisor de águas entre u~bor dagem colonial às iniciativas científicas e uma nova, sendo explorada por acadêmicos ÇQIDprometidos com a mudança social, encarada como ponto de partida para uma definição intelectual de sua ciência e de prioridade em seus deveres de cidadania. \-! ., ,1 ~ -,< i J}w.J yíJ A revolta contra o modo colonial de apr"õtriar conheci- mento foi necessária, mas não uma precondição suficiente para a emergência de uma alternativa viável. Fomos muito lentos em admitir que "a falha estava em nós mesmos e não em nossas estrelas", o que equivale dizer que o pro- blema na mentalidade colonial e não na produção científica dos países desenvolvidos. Não reconhecemos desde o início que havíamos importado indiscriminadamente aquele conhecimento, estruturado aquele tipo de ciência em nosso meio e o havíamos reproduzido em ensinamen- tos, práticas e em vidas acadêmicas. Em conseqüência, o simples desejo de tomar um pé!J)el ativo para alcançar uma sociedade mais justa e desenvolvida leva a duas tarefas maiores: a primeira relacionada a transformar nossa per- cepção da realidade relevante que as iniciativas científicas deveriam estudar e outra referente a cortar nossa depen- dência na importação não crítica de conhecimento "enla- tado". Foi a primeira tarefa que desembocou na segunda. Em procurando romper o cordão umbilical colonial e tendo penetrado no mundo dos excluídos, concluiu-se que laltemativas teóricas e prá1iç_as1 não só eram necessárias, como também urgentes se esse esforço iconoclasta deve9- se ser bem-sucedido. Fizeram-se, pois, prementes quadros conceituais que focalizassem simultaneam!2.!.1te os temas da pobreza e da mudança social. Após compreender que o terreno natural de investigação científica e de aplicaçãq era o mundo do subdesenvolvimento, logo percebemos que mudança (individual ou coletiva, entendida como conscientização, mobilização e empoderamento) deveria ser um componente central de nossa abordagem, a qual, nesse contexto, requeria compreensão sociopsicológi- ca/psicossociológica integrada para adequadamente lidar 105 e,/ ({, ~ .s- .,J./J- L~~ j ( e •Ili' I ( ( ( ( ( ( ( ' ( ( ( ( ( ( \ ( ' ( l com a pobreza (entendida como exclusão, opressão e im- potência). Pior ainda, essas questões não poderiam ser colocadas na camisa de força das divisões interdisciplina- res que haviam dado aparente sensação de segurança e conforto no mundo acadêmico, mas que distorceram nos- sas visões do mundo. Essas foram apenas as precondições subjacentes à emergência de um "Paradigma Latino-Americano'\ Não é suficiente enfocar os destituídos e a pobreza, a exclusão ou a opressão, nem basta estar comprometido com a tarefa de mudança social, já que intervenção somada a engaja- mento não oferece a base para o desenvolvimento e sedi- mentação de um novo paradigma. Após anos de debates, de exploração de teorias criticas e experimentação em J..'>. ação social iniciou-se uma identificação de contornos ge- 1 ~ rais de um paradigma alternativo. ~-ª.J2aradirunas não se JJJ."" .ffi consolidam previamente a teorias: de fato soem emergir <..fi simultaneamente um em apoio do outro. Pressupostos paradigmáticos gerais influenciam o modo pelo qual teori- zamos e pesquisa.mos, o que, por outro lado, substancia e delineia o paradigma. ,1 . -' " A segunda fase tem sido a busca de \insumos teóricos que possam contribuir para nossos esforços, conduzindo à intensificação da atividade intelectual e à exploração de correntes teóricàs criticas na Europa e na América do Norte. Nesse sentido, a América Latina tem sido sempre uma região privilegiada para o pensamento criativo como ponto de interseção entre tradições intelectuais norte- americanas e européias. A filosofia, a história, a literatura e as artes desde longa data· sabem disso e de forma habilidosa combinaram informação intelectual com a rea- lidade latino-americana na produção de inequívocas con- tribuições ao conhecimento universal. A isso deve-se o surgimento de renomados historiadores, filósofos, literatos e artistas plásticos latino-americanos. Infelizmente, a ri- qµeza dessas interseções teve pouco impacto sobre as ciências sociais dado que a mentalidade científica_colonial as encarava, não como oportunidade de troca~ntelectuais nos férteis terrenos do Novo Mundo, mas de confrontação entre escolas metropolitanas de pensamento das wais os cientistas locais se viam como fiéis representantes. 106 1 l j 1 1 l Ainda com respeito à alquuma da nova ps1co1og1a social, pode-se dizer que os entroncamentos de correntes intelectuais trazidas por estudantes e acadêmicos regres- sando de estadias nos países desenvolvidos provaram ser oportunos. Na procura de insumos teóricos, esses cientis- tas rebeldes criaram grupos de estudos, grupos de pesqui- sa em associações nacionais e até fundaram suas próprias associações, como a ABRAPSÓ: que serviriam de veículos para que correntes teóricas divergentes fossem reunidas através do compromisso indispensável de construir nossa própria abordagem científica ao desenvolvimento societá- rio. Afinal de contas, não foi a história das ciências, tal como a conhecemos hoje, ao mesmo tempo a história das respostas de pesquisadores brilhantes às demandas de desenvolvimento e crescimento das suas próprias socieda- des? Do mesmo modo, nosso conhecimento científico só irá avançar na medida em que formos CélQazes de processar a realidade própria da América Latina. O apelo pois para urna nova psicologia social foi, ainda que inconscientemente, urna chamada para modernizar nossas sociedades e para resgatar a investigação científica das armadilhas da menta- lidade colonial. Nesse sentido, a nova psicologia socíal lati- ,11 no-americana pode ser encarada como uma ciência ~ocial IP- 'f progressista na medida dos avanços de seu próprio desen- r u . _o. volvirnento paradigmático e do seu foco sobre a realidade ~ ...- _social, em lugar de seguir enquadrando suas premissas i_íl~ §.quela realidade (como nos casos da sociologia e da ciência PP'-..!> política), ou de enquadrar a realidade às suas próprias pre- o. missas (como no caso aa cíenc1a econômica)~ Mas apesar de quaisquer méritos que possam inspirar os primeiros passos de um paradigma latino-americano (entendido como alternativa àqueles do mundo desenvol- vido, e não como uma alternativa paradigmática específica apenas da América Latina) resta ainda a tarefa mais cru- cial e desafiante de incorporar o novo paradigm~eorias, práticas e filosofias a cargo daqueleê._co:n;mrometidos com tal esforço. Gostaria pois de concluir essas reflexões reite- rando a necessidade de uma sistematização em tomo dos seguintes pontos principais: 1) É inegável que quaisquer esforços de elaboração teórica requerem respaldo nas contribuições teóricas dos 107 ( ( ( (" ( ( ( ( \. ( ( ' ( ( r ' li 1 , .;.1 • ... \/ ~· mundOS desenVOlVldO e menOS QeSenVUiV!UU, !UClb ucvca- Se-Íam adotar salvaguardas adequados para evitar um retrocesso a manifestações da mentalidade colonialdo passado, tanto em termos de uma reprodução irrefletida como de modismos científicos. 2) A elaboração teórica deve estar focalizada sobre as aplicações práticas do conhecimento da mudanÇâ_ê.ocial, o que implica a necessidade de analisar e sistematizar criticamente as experiências de intervenção visando pro- duzir materiais que permitam a sua difusão. 3) Para serem contribuições verdadeiras ao conheci- mento científico, nossos produtos intelectuais têm de man- ter um nível de rigor teórico e empírico que os tomem capazes de competir em pé de igualdade com os Qadrões da ciência do Primeiro Mundo. Tanto os supostos tEJóricos quanto os preceitos metodológicos decorrentes das feições novas de um paradigma latino-americano têm de ser tra- tados com o mesmQrigor científico iencontrado nos centros metropolitanos do Primeiro Mundo, não para satisfazer aos princípios dos seus círculos acadêmicos, mas para alcan- çar um padrão de excelência que corresponda à audácia da tarefa que assumimos. Paradigmas científicos perten- cem não apenas à disciplina específica, à nação ou ao continente, mas são também destinados a se tornar parte do acervo intelectual de uma época histórica. 4) Pela primeira vez o pensamento psicológico latino- americano é pioneiro na abertura de caminhos novos. Há uma busca de fundamentos e:Qistemológicos, teorizaç,ão e inovações metodológicas que nos tornem capazes de colo- car os esforços intelectuais a serviço do desenvolvimento humano e da mudança social. Hoje, a nova psicologia social latino-americana representa para a ciência psicoló- gica o que representou a teoria da dependência nos anos sessenta, em um estágio análogo em que se confrontaram a sociologia e a economia no continente. Ao contrário da teoria da dependência, o pensamento sociopsicológico de- fine os agentes da mudan~sociaj - o homem e a mulher comuns; a organização e a mobilização direc10nada-s para impulsionar transformações e empoderamento como suas metas. Vale comentar que a probabilidade de rápido declí- 108 J.J..J.V ua .i..J.VY\.A. .tJ...., ........ ....., ........ ::;:, ... - ... _ .... _.., __ ------- ---· ' que ocorreu com a teoria da dependência, é mais remota dado que os teóricos da dependência, em contraste com os teóricos da nova psicologia social latino-americana, não estiveram obrigados a reformular seus paradigmas nem a repensar suas teorias pela ausência de um conte,xto inte- lectual que exigisse abordagens transdisciplinares. Por esse motivo, as mudanças no pensamento científico intro- duzidas pela nova psicologia social são mais profundas e duráveis quando comparadas à evolução histórico-cientí- fica da sociologia latino-americana. 5) A nova psicologia social, focalizando o desenvolvi- mento humano e a mudança social, provê diretivas em tomo das quais a pesquisa científica pode avançar e, ao mesmo tempo, evitar a c.r_es~te fragmenta~ão caracterís- tica da psicologia social do Primeiro Mundo. 6) A construção de paradigmas significa a construção de teorias. Como tal, é imperativo prestar maior atenção aos modelos teóricos que são os substratos de nossas aplicações e resistir à tentação de cair nas diversas formas de improvisação empírica e de intervencionismo. 7) A construção de paradigmas requer a elaboração de modelos teóricos e aplicações práticas que demonstrem a sua vitalidade. Em sistematizando nossas experiências, faz-se necessário canalizar energias para forjar uma dis- ciplina diversa daquela do ponto de partida e a qual implique: a) na necessidade de estabelecer as bases insti- tucionais para trocas sistemáticas entre seus membros; b) na ocupação de espaços institucionais nas formas estabelecidas das ciências; e c) na reestruturação do treinamento das novas gerações de profissionais que irão seguir nossas passadas. 109 · 1
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