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4. O que h+í de novo na Psicologia Social latino americana, de Salvador Sandoval.

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100 
O QUE HÁ DE NOVO NA PSICOLOGIA 
SOCIAL LATINO-AMERICANA? 
GJ Salvador Sandoval, Ph.D. 
Para responder à questão colocada no título desse 
artigo, gostaríamos em primeiro lugar de fazer breve di-
>--_gf_essãQ acerca da gênese social da ciência. Nos dias 
~ atuais, é lugar comum argumentar que empreendimentos 
:}Ql> P científicos não são nem poderiam ser vistos como neutros . 
).l ,.>'- Não é preciso lembrar que a ciência nunca foi "neutra", 
" . ~ uma vez que, na maioria dos casos, suas preocupações, 
\ focos e objetivos são determinados por necessidades per-
cebidas e abordadas na sociedade em conjunturas históri-
cas particulares . Refletindo sobre a dive rsidade das 
ciências humanas, sabemos que o pensamento psicológico 
em geral, e a psicologia social em particular, não são 
exceções à regra. Ao contrário, considerando a maior sus-
cetibilidade das ciências sociais aos impactos advindos de 
forças sócio-econômicas, incluem-se notadamente a psico-
logia e a ciência política dentre aquelas mais marcadas por 
pressões societárias:J Nessas disciplinas, nem correntes 
teóricas alternativas maiores ou paradigmas sobrevivem 
ao impacto da hegemonia burguesa, ao mesmo tempo que, 
em rincões remotos e pouco notados do mundo acadêmico, 
algumas poucas correntes sociológicas e econômicas re-
sistiram ao encroacflme_ nt burguês. 
;,p."'Mffi) I ~ wtJe · 
O que tem pois essa afirmação de lugar comum acerca 
da gênese e dinâmica da sociologia da ciência a ver com a 
questão colocada no título desse artigo? O fato é que P.ara 
compreender a emergência de um novo "paradigma" na 
psicologia social temos de lembrar qual o contexto do qual 
emerge o pensamento sócio-psicológico e psicológico na 
América Latina não tem tradicionalmente respondido às 
demandas associadas a fatores econômicos e sociais do 
seu processo de desenvolvimento. Ao contrário, as c iên-
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imitações pobres e grosseiras das ciências das sociedades 
industrializadas. Teorias e práticas acabadas foram impor-
tadas não em função de sua relevância, mas por ter sido 
considerado como um moderno e da moda consumi-las da 
mesma forma que consurrúamos os últimos estilos em 
J )._ +!'.' dJJJ..~ e.o:1 -o, "WM,~ voga, os últimos eletrodomésticos ou automóveis, ou seja, IJ '"'independente de sua aplicabilidade aos traços específicos 
de nossas sociedades em rápido processo de mudança. 
Desenvolveu-se assim um mercado de consumo para essas 
'mercadorias' científicas importadas e para as escolas es-
tabelecidas do Primeiro Mundo, as quais viriam a treinar 
as novas gerações de acadêmicos responsáveis pela difu-
são de um novo enclave de desenvolvimento. 
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Nessa linha, a psicologia e a psicologia social na Amé-
rica Latina foram por -longo tempo apenas imagens de 
espelho de suas contrapartidas. mais dinâmicas no Atlân-
tico Norte, carentes no entanto de diversas qualidades que 
as pudessem tomar em apêndices das "originais" . Entre 
essas qualidades (ausentes de nossas ciências psicológi-
cas) incluíam-se séria curiosidade intelectual, inovação 
tecnológica e metodológica e, sobretudo, um interesse em 
explorar cientificamente as vidas de indivíduos e grupos 
no mundo do subdesenvolvimento. Ligada aos centros 
metropolitanos por via de códigos teóricos, regras metodo-
lógicas e paternalismo profissional, a ciência 'colonizada' 
nem contava com os méritos da criatividade nem com o 
valor de sua adequação às idiossincrasias históricas de 
sociedade em que se fincou. Em lugar disso, essas comu-
nidades científicas puniam desvios das normas metropo-
litanas: os moldes da ciência eram aqueles tal como 
definidos pelo Norte e os critérios temáticos de relevância 
eram aqueles definidos pelas revistas acadêmicas metro-
politanas, tal como refletido em suas publicações e linhas 
editoriais. Contra esse pano de fundo, emergem nossos 
estabelecimentos acadêmicos favorecendo práticas cien-
tíficas emuladas dos protótipos vindos do exterior e des-
,. conhecendo totalmente as relações históricas entre busca 
do conhecimento e o processo de desenvolvimento social 
do Ocidente. Isso é ilustrado num relance pela ilimitada 
variação das subáreas acadêmicas no campo d~;psicologia 
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dução científica no Brasil e indicativa da visão de mundo 
limitada e pobreza intelectual de uma ciência colonizada. 
Se esse quadro cinzento representa a trajetória das 
ciências psicológicas na América Latina - como parece 
representar para o Brasil - o que há pois d0e novo na 
psicologia social latino-americana? Poderíamos dizer que 
novo de fato é o crescente segmento de profissionais no 
campo que agora se preocupa com a realidade do subde-
senvolvimento em lugar de permanecer dentro das frontei-
ras definidas pela psicologia convencional/colonial. rA 
nova psicologia social veio a encontrar no mundo do sub-
desenvolvimento campo fértil para a verdadeira investiga-
ção científica e envolvimento social. O período de dita-
duras possivelmente acelerou esse processo na medida 
em que diversos opositores dos regimes autoritários pro-
cederam dos contingentes de psicólogos engajados que 
enxergaram além do autocontido "enclave consumista" 
em que se acomoda a psicologia tradicional e em direção 
da realidade da pobreza e do sofrimento- Iiumano. 
Tomando os primeiros passos em direção da outra 
maioria de nossas sociedades, a psicologia social não fez ~ 
muito mais do que olhar para o que havia ignorado em cada \ /\ 
esquina das cidades da América Latina: a criança mendi-
cante, a mãe sem teto e o trabalhador desempregado. 
Apesar disso, em que difere o olhar de outros tempos _para 
esses marginados do olhar nos tempos presentes da his-
tória? Por que teve o subdes.en..volvimento, afinal, um eco 
nos trabalhos de iniciativa científica? Certamente
não por 
razões de debilidade das sociedades e ciências burguesas. 
Tampouco porque fosse novo o fato da pobreza. A partir 
dessa ~ança de per~c~, a qual parece ~_?a à 
credibilidade e à visão de alguns acadêmicos dispo_§tos a 
questionar o establis1J,m_ent científico, revelaram-se as an-
siedades próprias df1 acadêmicos formados no Primeiro 
Mundo e perdidos nas contradições do Terceiro Mundo, 
não equipado e despreparado para confrontar os desafios 
de forjar a assim chamada nação desenvolvida. Demo-nos 
conta de que a nossa visão de favelas, pobreza e negligên-
cia era aterradora e que nossa impotência para intervir 
efetivamente nesse meio ainda de maior constrangimento. 
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r Dentro de nosso meio político, a psicologia e a psicologia 
. ~J social lograram pouca visibilidade, tendo sido os seus 
~ e-aportes freqüentemente ignorados como relevantes para 
cJô" planejar o desenvolvimento. Já que podíamos importar os 
últimos modismos teóricos e tecnologias profissionais, por 
que motivos seriam esses de aplicação inadequada aos 
esforços de desenvolvimento? Seria o caso de um conheci-
mento científico equivocado ou porque, de fato, nossa ciên-
cia tinha pouco a contribuir para mudar o status quo 
vigente? Um grande número de profissionais optou por não 
acreditar que nossa ciência devesse focalizar aqueles te-
mas e por longos anos sustentou a crença de que o conhe-
cimento científico se coloca acima de compromissos 
societários. Mas, alguns poucos iniciaram uma caminhada 
que, tempos depois, conduziriam a esse Colóquio. 
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Tal jornada começou com uma rejeição quase taxativa 
da chamada psicologia burguesa, suas teorias, métodos e 
práticas. O desconforto de encontrar-se despreparado 
para lidar com o subdesenvolvimento implicou em longos 
e ferventes ataques sobre o tipo de conhecimento que 
havia sido acumulado. Rejeitando o que sabiam e buscan-
do respostas na teoria marxista, sociologias alternativas e 
militância, esses tantos engajados passaram a deixar a 
acomodação de seus escritórios para entrar no mundo real 
de suas sociedaciles. 
Essa fase inicial de rebeldia contra a.Psicologia con5 
vencional, ou a que chamamosli2sicologia colonial (não por 
ter sido imposta por poderes imperiais, mas por havermos 
permitido absorvê-la de forma acrítica, como o fazem men-
tes coloniais) marcou um primeiro confronto com os para-
digmas predominantes do Primeiro Mundo a partir do 
questionarrrento de sua habilidade de prover orientação 
ontológica e epistemológica na produção de conhecimen-
to, teórico ou prático, a respeito da realidade do Terceiro 
Mundo. Chegamos a perceber, embora de forma gradual, 
que a ciência do Primeiro Mundo havia sido feita para 
necessidades do Primeiro Mundo e não para as necessida-
des do Terceiro Mundo. Essa fase trouxe consigo o impe-
rativo de criar nossas abordagens próprias e mais 
adequadas para as tarefas em mãos. A ruptura foi forte e 
polarizante provavelmente pela descoberta de que a ciên-
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eia, em sua condicionalidade, não era neutra mas antes 
uma arte moldada por homens e mulheres que respon-
diam às chamadas de seus mundos reais. Mas a polari-
zação serviu como divisor de águas entre u~bor­
dagem colonial às iniciativas científicas e uma nova, 
sendo explorada por acadêmicos ÇQIDprometidos com a 
mudança social, encarada como ponto de partida para uma 
definição intelectual de sua ciência e de prioridade em 
seus deveres de cidadania. \-! ., ,1 ~ -,< i J}w.J yíJ 
A revolta contra o modo colonial de apr"õtriar conheci-
mento foi necessária, mas não uma precondição suficiente 
para a emergência de uma alternativa viável. Fomos muito 
lentos em admitir que "a falha estava em nós mesmos e 
não em nossas estrelas", o que equivale dizer que o pro-
blema na mentalidade colonial e não na produção científica 
dos países desenvolvidos. Não reconhecemos desde o 
início que havíamos importado indiscriminadamente 
aquele conhecimento, estruturado aquele tipo de ciência 
em nosso meio e o havíamos reproduzido em ensinamen-
tos, práticas e em vidas acadêmicas. Em conseqüência, o 
simples desejo de tomar um pé!J)el ativo para alcançar uma 
sociedade mais justa e desenvolvida leva a duas tarefas 
maiores: a primeira relacionada a transformar nossa per-
cepção da realidade relevante que as iniciativas científicas 
deveriam estudar e outra referente a cortar nossa depen-
dência na importação não crítica de conhecimento "enla-
tado". Foi a primeira tarefa que desembocou na segunda. 
Em procurando romper o cordão umbilical colonial e 
tendo penetrado no mundo dos excluídos, concluiu-se que 
laltemativas teóricas e prá1iç_as1 não só eram necessárias, 
como também urgentes se esse esforço iconoclasta deve9-
se ser bem-sucedido. Fizeram-se, pois, prementes quadros 
conceituais que focalizassem simultaneam!2.!.1te os temas 
da pobreza e da mudança social. Após compreender que 
o terreno natural de investigação científica e de aplicaçãq 
era o mundo do subdesenvolvimento, logo percebemos 
que mudança (individual ou coletiva, entendida como 
conscientização, mobilização e empoderamento) deveria 
ser um componente central de nossa abordagem, a qual, 
nesse contexto, requeria compreensão sociopsicológi-
ca/psicossociológica integrada para adequadamente lidar 
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com a pobreza (entendida como exclusão, opressão e im-
potência). Pior ainda, essas questões não poderiam ser 
colocadas na camisa de força das divisões interdisciplina-
res que haviam dado aparente sensação de segurança e 
conforto no mundo acadêmico, mas que distorceram nos-
sas visões do mundo. 
Essas foram apenas as precondições subjacentes à 
emergência de um "Paradigma Latino-Americano'\ Não é 
suficiente enfocar os destituídos e a pobreza, a exclusão 
ou a opressão, nem basta estar comprometido com a tarefa 
de mudança social, já que intervenção somada a engaja-
mento não oferece a base para o desenvolvimento e sedi-
mentação de um novo paradigma. Após anos de debates, 
de exploração de teorias criticas e experimentação em 
J..'>. 
ação social iniciou-se uma identificação de contornos ge- 1 ~ 
rais de um paradigma alternativo. ~-ª.J2aradirunas não se JJJ."" .ffi 
consolidam previamente a teorias: de fato soem emergir <..fi 
simultaneamente um em apoio do outro. Pressupostos 
paradigmáticos gerais influenciam o modo pelo qual teori-
zamos e pesquisa.mos, o que, por outro lado, substancia e 
delineia o paradigma. ,1 
. -' 
" A segunda fase tem sido a busca de \insumos teóricos 
que possam contribuir para nossos esforços, conduzindo à 
intensificação da atividade intelectual e à exploração de 
correntes teóricàs criticas na Europa e na América do 
Norte. Nesse sentido, a América Latina tem sido sempre 
uma região privilegiada para o pensamento criativo como 
ponto de interseção entre tradições intelectuais norte-
americanas e européias. A filosofia, a história, a literatura 
e as artes desde longa data· sabem disso e de forma 
habilidosa combinaram informação intelectual com a rea-
lidade latino-americana na produção de inequívocas con-
tribuições ao conhecimento universal. A isso deve-se o 
surgimento de renomados historiadores, filósofos, literatos 
e artistas plásticos latino-americanos. Infelizmente, a ri-
qµeza dessas interseções teve pouco impacto sobre as 
ciências sociais dado que a mentalidade científica_colonial 
as encarava, não como oportunidade de troca~ntelectuais 
nos férteis terrenos do Novo Mundo, mas de confrontação
entre escolas metropolitanas de pensamento das wais os 
cientistas locais se viam como fiéis representantes. 
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Ainda com respeito à alquuma da nova ps1co1og1a 
social, pode-se dizer que os entroncamentos de correntes 
intelectuais trazidas por estudantes e acadêmicos regres-
sando de estadias nos países desenvolvidos provaram ser 
oportunos. Na procura de insumos teóricos, esses cientis-
tas rebeldes criaram grupos de estudos, grupos de pesqui-
sa em associações nacionais e até fundaram suas próprias 
associações, como a ABRAPSÓ: que serviriam de veículos 
para que correntes teóricas divergentes fossem reunidas 
através do compromisso indispensável de construir nossa 
própria abordagem científica ao desenvolvimento societá-
rio. Afinal de contas, não foi a história das ciências, tal 
como a conhecemos hoje, ao mesmo tempo a história das 
respostas de pesquisadores brilhantes às demandas de 
desenvolvimento e crescimento das suas próprias socieda-
des? Do mesmo modo, nosso conhecimento científico só irá 
avançar na medida em que formos CélQazes de processar a 
realidade própria da América Latina. O apelo pois para urna 
nova psicologia social foi, ainda que inconscientemente, 
urna chamada para modernizar nossas sociedades e para 
resgatar a investigação científica das armadilhas da menta-
lidade colonial. Nesse sentido, a nova psicologia socíal lati- ,11 
no-americana pode ser encarada como uma ciência ~ocial IP- 'f 
progressista na medida dos avanços de seu próprio desen- r u . _o. 
volvirnento paradigmático e do seu foco sobre a realidade ~ ...-
_social, em lugar de seguir enquadrando suas premissas i_íl~ 
§.quela realidade (como nos casos da sociologia e da ciência PP'-..!> 
política), ou de enquadrar a realidade às suas próprias pre- o. 
missas (como no caso aa cíenc1a econômica)~ 
Mas apesar de quaisquer méritos que possam inspirar 
os primeiros passos de um paradigma latino-americano 
(entendido como alternativa àqueles do mundo desenvol-
vido, e não como uma alternativa paradigmática específica 
apenas da América Latina) resta ainda a tarefa mais cru-
cial e desafiante de incorporar o novo paradigm~eorias, 
práticas e filosofias a cargo daqueleê._co:n;mrometidos com 
tal esforço. Gostaria pois de concluir essas reflexões reite-
rando a necessidade de uma sistematização em tomo dos 
seguintes pontos principais: 
1) É inegável que quaisquer esforços de elaboração 
teórica requerem respaldo nas contribuições teóricas dos 
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Se-Íam adotar salvaguardas adequados para evitar um 
retrocesso a manifestações da mentalidade colonialdo 
passado, tanto em termos de uma reprodução irrefletida 
como de modismos científicos. 
2) A elaboração teórica deve estar focalizada sobre as 
aplicações práticas do conhecimento da mudanÇâ_ê.ocial, 
o que implica a necessidade de analisar e sistematizar 
criticamente as experiências de intervenção visando pro-
duzir materiais que permitam a sua difusão. 
3) Para serem contribuições verdadeiras ao conheci-
mento científico, nossos produtos intelectuais têm de man-
ter um nível de rigor teórico e empírico que os tomem 
capazes de competir em pé de igualdade com os Qadrões 
da ciência do Primeiro Mundo. Tanto os supostos tEJóricos 
quanto os preceitos metodológicos decorrentes das feições 
novas de um paradigma latino-americano têm de ser tra-
tados com o mesmQrigor científico iencontrado nos centros 
metropolitanos do Primeiro Mundo, não para satisfazer aos 
princípios dos seus círculos acadêmicos, mas para alcan-
çar um padrão de excelência que corresponda à audácia 
da tarefa que assumimos. Paradigmas científicos perten-
cem não apenas à disciplina específica, à nação ou ao 
continente, mas são também destinados a se tornar parte 
do acervo intelectual de uma época histórica. 
4) Pela primeira vez o pensamento psicológico latino-
americano é pioneiro na abertura de caminhos novos. Há 
uma busca de fundamentos e:Qistemológicos, teorizaç,ão e 
inovações metodológicas que nos tornem capazes de colo-
car os esforços intelectuais a serviço do desenvolvimento 
humano e da mudança social. Hoje, a nova psicologia 
social latino-americana representa para a ciência psicoló-
gica o que representou a teoria da dependência nos anos 
sessenta, em um estágio análogo em que se confrontaram 
a sociologia e a economia no continente. Ao contrário da 
teoria da dependência, o pensamento sociopsicológico de-
fine os agentes da mudan~sociaj - o homem e a mulher 
comuns; a organização e a mobilização direc10nada-s para 
impulsionar transformações e empoderamento como suas 
metas. Vale comentar que a probabilidade de rápido declí-
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J.J..J.V ua .i..J.VY\.A. .tJ...., ........ ....., ........ ::;:, ... - ... _ .... _.., __ ------- ---· ' 
que ocorreu com a teoria da dependência, é mais remota 
dado que os teóricos da dependência, em contraste com 
os teóricos da nova psicologia social latino-americana, não 
estiveram obrigados a reformular seus paradigmas nem a 
repensar suas teorias pela ausência de um conte,xto inte-
lectual que exigisse abordagens transdisciplinares. Por 
esse motivo, as mudanças no pensamento científico intro-
duzidas pela nova psicologia social são mais profundas e 
duráveis quando comparadas à evolução histórico-cientí-
fica da sociologia latino-americana. 
5) A nova psicologia social, focalizando o desenvolvi-
mento humano e a mudança social, provê diretivas em 
tomo das quais a pesquisa científica pode avançar e, ao 
mesmo tempo, evitar a c.r_es~te fragmenta~ão caracterís-
tica da psicologia social do Primeiro Mundo. 
6) A construção de paradigmas significa a construção 
de teorias. Como tal, é imperativo prestar maior atenção 
aos modelos teóricos que são os substratos de nossas 
aplicações e resistir à tentação de cair nas diversas formas 
de improvisação empírica e de intervencionismo. 
7) A construção de paradigmas requer a elaboração de 
modelos teóricos e aplicações práticas que demonstrem a 
sua vitalidade. Em sistematizando nossas experiências, 
faz-se necessário canalizar energias para forjar uma dis-
ciplina diversa daquela do ponto de partida e a qual 
implique: a) na necessidade de estabelecer as bases insti-
tucionais para trocas sistemáticas entre seus membros; b) na 
ocupação de espaços institucionais nas formas estabelecidas 
das ciências; e c) na reestruturação do treinamento das novas 
gerações de profissionais que irão seguir nossas passadas. 
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