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25SCHNEIDER, E.L. et al. / UNOPAR Cient. Exatas Tecnol., Londrina, v. 7, p. 25-30, Nov. 2008 Análise dos Parâmetros de Usinagem no Acabamento Superficial de PolímerosArtigo originAl / originAl Article Eduardo Luis Schneider* André Canal Marques* Roberto R. Faller* Wilson Kindlein Júnior* * Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Resumo Neste estudo analisou-se a influência do avanço e da velocidade de corte da ferra- menta sobre a temperatura e o acabamento de superfícies usinadas dos polímeros termoplásticos poliamida e poliuretano, usando uma máquina fresadora CNC. Para tanto, utilizou-se análises termográficas e também medidas de Rugosidade Média Aritmética (Ra). Os resultados das análises mostraram que a deformação viscosa, provocada por temperaturas na zona de corte acima da temperatura de transição vítrea (Tg) dos polímeros, exerce um papel decisivo na qualidade do acabamento superficial destes materiais, sendo que as melhores condições verificadas foram para velocidades altas de avanço e baixas velocidades de corte. Palavras-chave: Materiais poliméricos. Parâmetros de usinagem. Engenharia. Abstract This study analyses the influence of feed and speed of cutting tools in the temperature and roughness of machined surfaces of polyamide and polyurethane thermoplastic polymers, using a CNC milling machine. Thus, thermographic analyses and Arith- metic Average Roughness (Ra) were utilized. The results of the analyses showed that viscous deformation, caused by temperatures in the cutting area above the glass transition temperature (Tg) of polymers, exerts a decisive role in the quality of the surface of these materials, whereas the best conditions were found for high speeds of feed and low speeds of cutting. Key-words: Polymer materials. Machining parameters. Engineering Análise dos Parâmetros de Usinagem no Acabamento Superficial de Polímeros Analysis of Machining Parameters Effects on Polymers Surface Quality 1 Introdução Durante o desenvolvimento de novos produtos o material do protótipo é escolhido com base em pré- requisitos de projeto. Porém, na prática, o modelamento em CAD (Computer Aided Design) nem sempre está embasado em dados técnicos. Após a execução de um protótipo, muitas vezes, faz-se necessário realizar alterações nos parâmetros de usinagem visando melhor acabamento superficial. Figura 1 - Modelo CAD do brinquedo: Jogo para crianças com deficiencia visual. Em A, o Alfabeto Braille em um dos lados do jogo. Em B, Sistema Numérico Braille do lado oposto. Para a confecção de um brinquedo intitulado “Jogo para crianças deficientes visuais” (figura 1), premiado pela Abiplast em 2005, foram projetados e usinados, utilizando máquina CNC, 2 protótipos em diferentes polímeros, Poliamida (PA) tipo 66 e Poliuretano (PU). Evidenciou-se assim, a grande influência dos parâmetros de usinagem, como o avanço e a velocidade de corte da ferramenta de corte na qualidade do acabamento super- ficial (MARQUES; FALLER; KINDLEIN JÚNIOR, 2006). 26 SCHNEIDER, E.L. et al. / UNOPAR Cient. Exatas Tecnol., Londrina, v. 7, p. 25-30, Nov. 2008 Análise dos Parâmetros de Usinagem no Acabamento Superficial de Polímeros A usinagem de polímeros tem sido crescentemente utilizada e tem se tornado necessária quando a quantida- de de peças ou produtos a serem produzidos não justifica o custo de usinagem com ferramenta para moldes ou extrusão por matriz, ou quando é necessário um produto com alta exatidão dimensional, como por exemplo, lentes poliméricas (XIAO; ZHANG, 2002). Durante o processo de usinagem é gerado calor por deformação dos cavacos e o atrito com a ferramenta. Na usinagem de polímeros, devido a suas baixas con- dutividades térmicas (quando comparadas com as dos metais), a maior parte do calor tem que ser removida pela ferramenta. Isso causa aumento na temperatura da zona de corte, a qual influencia o processo de duas maneiras: aumentando o desgaste da ferramenta e prejudicando a qualidade da superfície usinada (DONALDSON; PET- TERSON, 1984). O acréscimo na velocidade de corte gera calor que aumenta a temperatura na zona do corte, aumentando também a mobilidade das moléculas de longo alcance do material, reduzindo assim o limite de resistência à tração ou o esforço de tensão cisalhante (DEBRA, 1984). Usualmente nos processos de usinagem, alguns parâ- metros como a profundidade de corte, o avanço por dente e a velocidade de corte, podem ser variados de forma independente dentro dos limites das máquinas utilizadas. Esses parâmetros têm grande importância industrial, pois eles são diretamente proporcionais ao tempo de produção e conseqüentemente ao custo do produto. Para obter uma boa qualidade superficial recomenda- se selecionar os parâmetros de usinagem de modo que a temperatura da zona de corte não ultrapasse a tem- peratura de transição vítrea (Tg) do polímero e que os cavacos não entrem no regime visco-plástico (SALLES; CORRÊA; GONÇALVES, 2003). Figura 2 - Modelo CAD dos corpos de prova. Neste trabalho verificou-se a influência da velocida- de de avanço (por dente) e da velocidade de corte da ferramenta na temperatura e no acabamento de super- fícies usinadas. Para tanto, utilizaram-se medidas de Rugosidade Média Aritmética (Ra) e também análises termográficas. 2 Materiais e Métodos Os materiais utilizados foram o Poliamida tipo 66 (com Tg entre 54 e 66 °C) e o Poliuretano (Tg entre 120 e 160°C). Para a preparação das amostras para os testes de usinagem, foi utilizado um programa CAD para modelamento da geometria (figura 2). A idéia do formato escolhido foi facilitar a fixação das peças e aproveitar ao máximo o material. Um programa CAM foi utilizado para criar as estraté- gias de usinagem para padronização dos corpos de pro- va, bem como a usinagem das superfícies das amostras (figura 3A). Com o mesmo programa foi possível realizar a simulação da usinagem para verificação de possíveis colisões (figura 3B). Para a realização da usinagem foram utilizados os seguintes parâmetros: rotações (N) de 10.000 e 20.000 rpm, velocidade de avanço (Vf) de 3.000, 1.500 e 500 mm/min, diâmetro da ferramenta de 3 mm e profundida- de de corte (P) de 1 mm. Os demais parâmetros foram calculados utilizando-se as equações que relacionam essas grandezas (Vc = n.Pi.d/1000; Vf = f.n; f = fz.z), Figura 3 - O Modelo CAM pode ser visualizado em A e a Simulação em B (DINIZ; MARCONDES; COPPINI, 2000; SENAI, 1996). A tabela 1 apresenta um resumo com todos esses parâmetros. Foi utilizada uma fresadora marca Tecnodrill modelo Digimill 3D (potência 0,35 kW e rotação máxima de 24000 rpm) e uma fresa de marca Alltech modelo Eta 0304 (material metal duro, de topo reto, ângulo de corte 35º e 4 arestas de corte). 27SCHNEIDER, E.L. et al. / UNOPAR Cient. Exatas Tecnol., Londrina, v. 7, p. 25-30, Nov. 2008 Análise dos Parâmetros de Usinagem no Acabamento Superficial de Polímeros A análise termográfica foi realizada com um Termó- grafo Thermoteknix Visir 102, posicionado em frente à fresadora com enquadramento direcionado na zona de corte das amostras (figura 4) e utilizando uma emissi- vidade de 0,90 para os dois materiais. As medidas de rugosidade das amostras foram realizadas de acordo com as normas: NBR ISO 4287, ISO 3274, ISO 11562 e ISO 4288, utilizando um rugosímetro Mitutoyo Surftest 401. Ensaio Rotação - N (rpm) Velocidade de Corte - Vc (m/min) Velocidade de Avanço - Vf (mm/min) Avanço - f (mm/volta) Avanço por aresta - fz (mm/dente) 1 10.000 94,248 3.000 0,30 0,08 2 10.000 94,248 1.500 0,15 0,04 3 10.000 94,248 500 0,05 0,01 4 20.000 188,496 3.000 0,15 0,04 5 20.000 188,496 1.500 0,08 0,02 6 20.000 188,496 500 0,03 0,01 Figura 4 - Termógrafo utilizado para as medidas das temperaturasdurante os ensaios de usinagem em A e amostra de poliuretano sendo usinada em B 3 Resultados e Discussão A figura 5 demonstra um exemplo de imagem obtida com as medições de termografia para o PA e PU. Figura 5 - Termografias: Em A do PA, e em B do PU. Ambas referentes ao Ensaio 1 da tabela 1 Tabela 1 - Parâmetros utilizados nos ensaios de usinagem Ensaio Temperatura (ºC) PA PU 1 70,9 95,6 2 80,7 98,7 3 95,5 99,5 4 79,8 109,8 5 86,2 122,5 6 108,2 137,5 Tabela 2 - Temperaturas máximas em ºC registradas nas termografias dos materiais analisados 28 SCHNEIDER, E.L. et al. / UNOPAR Cient. Exatas Tecnol., Londrina, v. 7, p. 25-30, Nov. 2008 Análise dos Parâmetros de Usinagem no Acabamento Superficial de Polímeros Na tabela 2 pode-se observar as temperaturas máxi- mas (em ºC) registradas nas termografias. Conforme os valores listados na tabela 2, observa- se que o PU tende a aquecer mais na zona de corte da ferramenta, o que está de acordo com sua condutividade térmica que é um pouco menor que a do PA. A figura 6 Amostra a variação da temperatura com o avanço por aresta nos ensaios. Conforme se observa na figura 6 A, ambos materiais tendem a aumentar a temperatura na zona de corte com a diminuição do avanço. Observa-se que esse comporta- mento é mais pronunciado para as faixas de temperatura na qual os polímeros estão acima de suas Tgs, ocorrendo deformação viscosa. Isso fica evidente para o PU que na figura 6A onde a Vc utilizada foi de 94,248 m/min e não atingiu 100 ºC e ficou abaixo de sua Tg. Já na figura 6 B, NA a Vc utilizada foi de 188,496 m/ min e foi atingida a Tg do PU, sua variação da temperatu- ra com o avanço por aresta foi consideravelmente maior. Figura 6 - Variação da temperatura com o avan- ço por aresta para a Vc de 94,248 m/min em A e de 188,496 m/min em B A tabela 3 mostra as medidas de rugosidade e a figura 7 o método de medição desse parâmetro. Para o ensaio 1, os parâmetros de ensaio provocaram no PU uma rugosidade elevada comparável em escala ao do ensaio 6 do mesmo material, porém sem a ocorrência de deformação viscosa, onde a elevada rugosidade é devida a temperatura de 137º C que é superior a Tg desse polímero. 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 0,08 0,04 0,01 Te m pe ra tu ra ( ºC ) Avanço por aresta (mm/dente) Vc = 94,248 m/min NA PU 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 0,04 0,02 0,01 Te m pe ra tu ra ( ºC ) Avanço por aresta (mm/dente) Vc = 188,496 m/min NA PU A B Para o PA, os valores listados crescem devido ao aumento de temperatura provocado pela relação de parâmetros utilizados que provocam a elevação da tem- peratura na zona de corte que para todos os ensaios esteve acima de sua Tg. A relação de parâmetros que proporcionou a menor rugosidade para o PU foi a do ensaio 3, o que indica que para esse material, a combinação de velocidade de corte de 94,248 m∕min e avanço por aresta de 0,1 mm/ dente não gera deformação viscosa e conseqüentemente garante um bom acabamento superficial. A maior velocidade de corte provocou um aumento na temperatura da zona de corte e, esse comportamento, foi mais pronunciado para os menores avanços (ensaios 5 e 6) onde a temperatura da zona de corte tanto do PA quanto a do PU estiveram acima de suas Tgs, onde a mobilidade das moléculas de longo alcance dos polímeros é facilitada. 4 Conclusões Os ensaios de usinagem realizados para os polímeros Poliamida tipo 66 e Poliuretano mostraram que ambos materiais tendem a diminuir a temperatura na zona de corte com o aumento no avanço por aresta e com a diminuição da velocidade de corte. Observou-se que essa variação da temperatura com o avanço por aresta e a velocidade de corte foi mais pronunciada para as faixas de temperatura onde os polímeros estão acima de suas Tgs. As condições ideais de usinagem que proporcionam os melhores acabamentos superficiais devem ser baseadas nas propriedades dos polímeros tais como temperatura de transição vítrea e mobilidade molecular. Para minimizar a rugosidade da superfície os parâmetros de usinagem devem ser relacionados de modo que não ocorra deformação viscosa. Material Ensaio 1 2 3 4 5 6 PA 1,24 3,1 3,72 4 7,02 9,38 PU 12,94 5,98 5,02 6,48 5,3 13,58 Figura 7 - Rugosímetro utilizado para as medidas de rugosidade Tabela 3 - Medidas de Rugosidade (Ra) 29SCHNEIDER, E.L. et al. / UNOPAR Cient. Exatas Tecnol., Londrina, v. 7, p. 25-30, Nov. 2008 Análise dos Parâmetros de Usinagem no Acabamento Superficial de Polímeros A relação de parâmetros de usinagem que gerou o menor valor de rugosidade e conseqüentemente o melhor acabamento superficial para o PA foi o ensaio 1. Os ensaios 2, 3 e 4 também apresentaram valores baixos de rugosidade. Para o PU, porém, a combinação de parâmetros dos ensaios 1 e 6 acabaram provocando uma rugosidade elevada. Para esse material, portanto, a combinação de valores altos de avanço por aresta e baixos de velocidade de corte (ensaios 2 e 3) geraram um acabamento superficial com menor rugosidade. Agradecimentos Este artigo foi realizado com o apoio do professor Dr. Arno Krenzinger, CNPq e CAPES. Referências DEBRA, D.B. Design of laminar fow restrictors for damping pneumatic vibration isolators. CIRP Annals, v. 33, p. 351-361. 1984. DINIZ, A.E.; MARCONDES, F.C.; COPPINI, N. L. Tecnologia da usinagem dos materiais. 2. ed. São Paulo: ArtLiber, 2000. DONALDSON, R.R.; PATTERSON, S.R. Design and construction of a large, vertical axis diamond turning machine. Proceedings of the SPIE, v. 7, p. 433-462, 1983. MARQUES, A.C.; FALLER, R.R.; KINDLEIN JÚNIOR, W. Design de jogos: desenvolvimento de um jogo (en- sino/aprendizagem) do alfabeto Braille para educação infantil. In: P&D DESIGN 2006 - CONGRESSO BRA- SILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM DESIGN, Curitiba, Anais... Curitiba, 2006. SALLES, J.l.C; CORRÊA, L.O; GONÇALVES, M.T.T. Effects of machining parameters on surface quality of the ultra high molecular weight polyethylene (UHM- WPE). Revista Matéria, Rio de Janeiro, v.8, p. 1- 10, 2003. SENAI. Informações técnicas-mecânica. 10. ed. rev. e ampl., Porto Alegre: CFP SENAI de Artes Gráficas “HenriqueD’Avila Bertaso”, 1996. XIAO, K.Q.; ZHANG, L.C. The role of viscous deforma- tion in the machining of polymers. International Journal of Mechanical Sciences, v. 44, p. 2317-2336, 2002. 30 SCHNEIDER, E.L. et al. / UNOPAR Cient. Exatas Tecnol., Londrina, v. 7, p. 25-30, Nov. 2008 Análise dos Parâmetros de Usinagem no Acabamento Superficial de Polímeros Eduardo Luis Schneider Doutorando em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e-mail: edu.ufrgs@gmail.com André Canal Marques Doutorando em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Docente da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) e-mail: andrecm4@terra.com.br Roberto R. Faller Mestrando em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Docente Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) e-mail: robertofaller@yahoo.com.br Wilson Kindlein Júnior* Doutorado em Engenharias - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e-mail: ndsm@ufrgs.br *Endereço para correspondência: Av. Osvaldo Aranha, 99/604 – Centro. CEP 90035-190. Porto Alegre/RS.
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