Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Universidade de São Paulo Instituto de Química Disciplina PAE QFL2453 Físico-Química Experimental Experimento Proposto: Ângulos de Contato Aluna: Thais Lucy Ogeda NºUSP: 6750982 2 Introdução Já observou que o pato entra na água e, quando sai, parece que nem se molhou? E que o cachorro, ao contrário, tem que se sacudir todo para se livrar da água? Não é apenas uma questão de penas e pêlos; é uma questão de Química de Superfície. Uma gota de água apresenta um formato diferente para cada superfície que se espalha, pois o modo como o volume de água de uma gota se acomoda depende das interações entre a água e o a superfície do material em que foi depositada. É, portanto, possível medir o ângulo com que uma gota fica na superfície e com isto caracterizar a superfície. Os ângulos de contato de uma gota de água numa folha, no vidro, no azulejo, etc. são todos diferentes. Ele influencia como a água fica numa superfície, determinando assim a molhabilidade da mesma. Uma modificação química na superfície, por reação ou adsorção, pode ser usada para aumenta ou diminuir o ângulo de contato, de acordo com a necessidade, influenciando assim na molhabilidade do sólido pelo líquido. O ângulo de contato inicial de um material também pode ser alterado com o tempo; por exemplo, um material hidrofóbico que ficou muito tempo em contato com a água tem seu ângulo de contato modificado, pois o mesmo “acostumou-se” com a água. Isto ocorre porque mesmo uma adsorção física pequena de água na superfície do sólido altera o ângulo de contato do material, tornando-o menos hidrofóbico. Inúmeras aplicações podem ser relatadas relativas à utilização do conhecimento e controle do ângulo de contato e, portanto, do molhamento de superfícies. Por exemplo, um pára-brisa de um carro, quando adequadamente limpo, deveria escorrer toda a água que nele caísse. Quando a água não escorre completamente de uma superfície de vidro, é sinal que existe alguma sujeira ou ranhura local que alterou o ângulo de contato. Teoria Dentre o estudo da físico-química de líquidos e colóides, muito se destaca a medição do ângulo de molhabilidade entre uma gota do líquido e a superfície no qual ela repousa. Este ângulo é definido como o ângulo entre um plano tangente a uma gota do líquido e um plano contendo a superfície onde o líquido se encontra depositado,1 conforme esquematizado na Figura 1.2 Logo, a molhabilidade de uma superfície depende do equilíbrio termodinâmico entre este sistema de três interfaces: sólido, líquido e vapor. Assim, o ângulo de contato representa uma medida quantitativa do processo de molhabilidade. Formalmente, a ângulo de contato entre uma gota de um líquido com uma tensão superficial conhecida e uma superfície sólida depende da relação entre as forças adesivas (que fariam a gota se espalhar sobre a superfície) e as forças coesivas do líquido (que querem contrair a gota a uma esfera com uma superfície mínima). Se a gota repousa sobre uma superfície homogênea perfeitamente nivelada, forma-se um ângulo de contato de equilíbrio entre o líquido e a superfície sólida em qualquer ponto da linha de três fases, onde se encontram o sólido, o líquido e a fase de vapor.1 3 Figura 1. Definição do ângulo de contato θ entre uma gota líquida e uma superfície. O conceito de energia de superfície pode ser mais facilmente compreendido usando um líquido como exemplo. Átomos e moléculas do líquido podem se mover livremente procurando ocupar uma posição de menor energia potencial. Ou seja, um lugar onde as forças (atrativas e repulsivas), que agem em todas as direções, estejam em equilíbrio.3 Por outro lado, as partículas na superfície do líquido experimentam apenas forças dirigidas para dentro do mesmo (Figura 2). Figura 2. Forças atuando em átomos ou moléculas no interior e na superfície de um material. Devido a isto, as superfícies são sempre regiões de maior energia. E é justamente a diferença entre as energias das espécies na superfície e no interior do material que se denomina energia de superfície ou tensão interfacial. De acordo com o princípio da menor energia, a natureza tende sempre a um estado de mínima energia. É por esta razão, por exemplo, que uma gota de água tende à forma esférica, pois esta é a forma geométrica de mesmo volume com a menor área superficial. Da mesma forma, a adesão de um material sobre outro será tanto melhor quando maiores forem as energias de superfícies envolvidas. Rigorosamente falando, γS como apresentado na Figura 1 é a energia de superfície do sólido apenas quando este se encontra no vácuo. A diferença é denominada pressão de espalhamento pe (pe = γS - γSV, onde γSV seria a energia de superfície do sólido em equilíbrio com o vapor). Todavia, é assumido que a adsorção de vapor em sólidos de baixa energia de superfície, como é o caso dos polímeros, é desprezível. Com isto, γSV = γS, representa a energia de superfície do sólido em uma atmosfera qualquer. Também nesta figura, γS e γLV são a energia de superfície do sólido e a tensão superficial do líquido em equilíbrio com o vapor, respectivamente; γSL é a energia da interface sólido-líquido. Considerando que a gota esteja em equilíbrio, tem-se a equação de Young:1 γS = γSL + γLV .cos θ (1) γLV . cos θ = γS - γSL (2) O trabalho de adesão, Wa, entre o sólido e o líquido pode ser expressa pela equação de Dupré: 1 Wa = γLV + γS - γSL (3) 4 Efetuando-se a combinação algébrica das equações (2) e (3), obtém-se a equação de Young-Dupré: Wa = γLV (cos θ + 1) (4) Esta última equação é mais útil no estudo desses sistemas físico-químicos, já que ela relaciona duas grandezas determináveis com relativa facilidade e precisão: θ (ângulo de contato) e a tensão superficial do líquido, γLV. Quando θ = 0, cos θ = 1 e então: Wa = 2 γLV (5) A quantidade 2 γLV, ou seja, o dobro da tensão superficial do líquido, é denominada trabalho de coesão do líquido (Wc), que é relativo à energia mínima necessária para romper uma coluna líquida com área unitária. Quando isso acontece, observa-se que o trabalho de adesão líquido-sólido iguala, ou supera, o trabalho de coesão do líquido: assim, o líquido se espalha pela a superfície sólida (apresentando alta molhabilidade – Figura 3a, abaixo).4 Figura 3. Ângulos de contato de líquidos com superfícies sólidas, para líquidos: (a) perfeitamente molhante; (b) predominantemente molhante; (c) predominantemente não-molhante; (d) não-molhante. Quando este se situar entre 0° < θ < 90° (Figura 3b), diz-se que o líquido molha a superfície do sólido; entre 90° < θ < 180° (Figura 3c), considera-se que o líquido não molha o sólido. Por outro lado, quando θ = 180°, tem-se cos θ = -1, e o trabalho de adesão líquido-sólido é zero. Este é o caso limite quando não há adesão entre as duas fases (o líquido não apresenta molhabilidade – Figura 3d). Parte Experimental Materiais Substratos sugeridos � Vidro; � Teflon; � Borracha de silicona; � Metal; � Acrílico. Solventes sugeridos � Água; 5 � Glicerol; � Isopropanol (para limpeza). Outros � Seringa; Procedimento Este experimento é mais bem observado quando realizado com diversos substratos, como os sugeridos nos Materiais. Os substratos devem então ser ajustados aos suportes específicos para este fim e colocados sob uma lâmpada de um projetor de slides ou um retroprojetor (ver Figura 4). Toda a aparelhagem deve ser montada em algum ambiente escuro ou fracamente iluminado, a fim de que a gota projetada fique o mais nítida possível. O laboratóriode Química Geral do IQ-USP possui um projetor de slides, funcionalizado com um prisma e sendo utilizado em experimentos de decomposição da luz. É possível retirar o prisma e utilizar o suporte ali presente para a realização deste experimento. Figura 4. Esquema representando um projetor de slides e sua imagem em tela. Os substratos devem ser sempre limpos com isopropanol. As gotas do líquido de interesse na superfície devem ser sempre de mesmo volume, e depositadas com o auxílio de uma seringa. Em cada um dos substratos devem ser depositados os líquidos citados: água (polar) e glicerol (apolar) – sendo o perfil de cada uma das gotas imediatamente desenhado em uma folha de sulfite contra a parede (na “tela” da Figura 4, acima) ou obtido com o auxílio de uma máquina fotográfica. Os ângulos de contato entre o líquido e a superfície sólida, de ambos os lados, podem ser calculados com a ajuda de um transferidor (no caso do papel) ou do programa Corel Draw (no caso da fotografia). Com os ângulos medidos, é possível o cálculo dos respectivos trabalhos de adesão, que irão permitir a caracterização de cada um dos substratos estudados. 6 Considerações Finais Uma das principais vantagens deste experimento é a geração de resíduos praticamente inexistentes, já que não é preciso que cada grupo de alunos no laboratório realize seu experimento isoladamente. Devido à presença de apenas um projetor de slides, o experimento deve ser conduzido por um professor/monitor com o auxílio dos alunos, sendo que estes, ao final, devem possuir uma cópia de cada gota formada para a confecção de seu relatório. Assim sendo, trata-se também de um experimento rápido (aproximadamente 40 minutos), podendo ser realizado em conjunto com algum outro experimento curto no laboratório de Físico-Química Experimental. Há, entretanto, a necessidade de um ambiente escuro para a realização do mesmo. Os laboratórios de ensino do IQ-USP possuem algumas salas que se ajustam bem a essa necessidade; porém, uma reserva deverá ser feita. Dentre os conceitos envolvidos neste experimento, ele atua em conjunto com o experimento de Tensão Superficial (através do método de destacamento do anel de du Nouy), que introduz o aluno às propriedades de superfície de líquidos bem como estas são alteradas. O experimento de Ângulos de Contato completa os conceitos apresentados através de um aumento nas variáveis presentes. O primeiro experimento lida apenas com a interface líquido-ar e suas interações intermoleculares; o segundo, além disso, introduz a interação do líquido com o sólido no qual ele se deposita. Relacionados com a tensão de superfície dos materiais, temos uma série de fenômenos físico- químicos relevantes em comum, como a molhabilidade, espalhamento e capilaridade. Alguns conceitos importantes envolvidos são os de trabalho de superfície, energia livre de Gibbs, entropia, isoterma de adsorção de Gibbs, tensões superficiais e interfaciais, interações hidrofóbicas e hidrofílicas, além de interações intermoleculares. Bibliografia 1 Shaw, D. J., Introdução à Química de Colóides e Superfícies; Editora Edgard Blucher/Edusp, 1ª Ed., 1975, S.P.; 2 Adamson, A. W., Gast, A. P., Physical Chemistry of Surfaces; A Wiley-Interscience Publication, 6ª Ed., 1997, N.Y.; 3 Silverstein, T. P., Polarity, miscibility and surface tension of liquids, J. Chem. Edu., 1993, 70, 253. 4 Karmanov, I., Wetting or non-wetting liquid?, Phys. Edu., 2000, 77, 58.
Compartilhar