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> aNálise do compoRtameNto: 
poR que as pessoas fazem o 
que fazem?
A ciência é um empreendimento que pode 
ser descrito e definido de muitas formas. Uma 
maneira comum de definir a ciência é afirmar 
que ela é uma busca 
por relações causais, 
ou relações entre cau-
sas e efeitos. Os ter-
mos “causa” e “efei-
to” têm suas limita-
ções, e podem ser discutidos do ponto de 
vista da filosofia da ciência (Laurenti, 2004; 
Skinner, 1953/1965). Por mais importantes 
que sejam, porém, não nos deteremos aqui 
em tais discussões. 
Por ora, interessa -nos 
apenas reconhecer 
que a ciência é, entre 
outras coisas, uma 
maneira sistemática 
de tentar responder a 
questões causais: por 
que um certo con-
junto de fenômenos 
acontece desta ou daquela forma?
A análise do comportamento é uma ci-
ência que, como indica sua denominação, 
toma o comportamento como objeto de estu-
do. Tornou -se comum entre os analistas do 
comportamento definir este objeto através de 
expressões mais amplas, como “interações 
orga nismo -am bien te” (Todorov, 1989) ou 
 O conceito de 8 
 liberdade e suas 
 implicações para a clínica
Alexandre Dittrich
ASSunToS do CAPÍTulo
> Ciência como busca de relações de determinação.
> Definição de comportamento.
> Explicações causais em psicologia.
> A posição determinista do Behaviorismo Radical.
> As vantagens de uma posição determinista para o psicólogo.
> Alguns dos principais significados de “liberdade” e como o analista do comportamento os 
compreende: como sentimento, como diminuição ou eliminação da coerção, como autocontrole.
> O analista do comportamento como profissional que busca a “liberdade” para a sociedade, 
incluindo os seus clientes.
A ciência é, entre 
outras coisas, uma 
maneira sistemática 
de tentar responder 
a questões causais.
Comportamento 
é sempre e inva‑
riavelmente um 
fenômeno relacional: 
comportar ‑se é 
interagir cons‑
tantemente com 
um entorno que a 
análise do compor‑
tamento denomina 
genericamente como 
“ambiente”.
88 Borges, Cassas & Cols.
“relações comporta-
mentais” (Tourinho, 
2006). Essas defini-
ções apontam para o 
fato de que o com-
portamento é sempre 
e invariavelmente um 
fenômeno relacional: 
com por tar -se é inte-
ragir constantemente 
com um entorno que 
a análise do comportamento denomina gene-
ricamente como “ambiente”. Uma distinção 
entre “o que uma pessoa faz” e “o ambiente 
no qual ela o faz” é importante para objetivos 
teóricos e práticos, mas entende -se que não 
há como isolar o fenômeno “comportamen-
to” do fenômeno “ambiente”. Os analistas do 
comportamento estudam, portanto, relações 
comportamentais: relações comportamento-
-ambiente.
O objetivo primordial do analista do 
comportamento é descobrir por que uma 
pessoa, ou grupo de pessoas, faz o que faz, da 
maneira como o faz. 
Para o analista do 
comportamento, esse 
“fazer” tem um am-
plo alcance: quere-
mos saber por que as 
pessoas falam o que 
falam, pensam o que 
pensam, sentem o 
que sentem. Ainda 
hoje algumas pessoas 
entendem “compor-
tamento” como sen-
do apenas aquilo que 
uma pessoa faz pu-
blicamente: os movimentos do corpo exter-
namente perceptíveis. A análise do compor-
tamento há muito superou essa concepção. 
Uma pessoa pode comportar -se de muitas 
maneiras, visíveis ou não para outra pessoa. 
O comportamento, não obstante, interessa-
-nos como objeto de estudo mesmo quando 
algumas de suas dimensões não são publica-
mente observáveis.
Relações comportamentais são, na aná-
lise do comportamento, relações causais – 
isto é, relações nas quais buscamos identifi-
car no ambiente de uma pessoa as causas 
para aquilo que ela faz. Essa é uma opção 
talvez óbvia: se nosso “efeito” é o comporta-
mento humano, tudo o que possa afetá -lo 
de alguma forma deve ser tratado como 
“causa” – e o que nos resta é o ambiente. 
Essa concepção pode dar a alguns a impres-
são de que o ser humano está sendo tratado 
de forma excessivamente passiva: o ser hu-
mano não age sobre o mundo, não o trans-
forma? Obviamente que sim! B. F. Skinner, 
o precursor da análise do comportamento, 
afirma isso textualmente (1957, p. 1), e o 
fato de que o homem age sobre o mundo e o 
transforma constitui o cerne do que os ana-
listas do comportamento chamam de com-
portamento operante.1 Sob esse ponto de 
vista, o comportamento humano é, sem dú-
vida, causa para vários efeitos em seu am-
biente, e isso é parte importante da descri-
ção que o analista do comportamento faz 
das relações comportamentais. Ainda assim, 
nossa pergunta causal primordial continua 
sendo sobre o comportamento, por mais ati-
vo e transformador que seja: o que o causa?
É importante perceber que a resposta a 
essa pergunta só pode estar nas relações do 
comportamento com o ambiente, e não no 
próprio comportamento.2 Se nos pergunta-
mos sobre as causas do fazer de alguém, não 
podemos tomar esse próprio fazer como ex-
plicação – ele é justamente o que queremos 
explicar. Se algum comportamento é invoca-
do como variável importante para explicar 
outro comportamento, é natural que pergun-
temos, por sua vez, por que o comportamen-
to inicial ocorreu. Em algum momento, ine-
vitavelmente, veremo -nos novamente investi-
gando relações comportamentais.
Uma distinção entre 
“o que uma pessoa 
faz” e “o ambiente 
no qual ela o faz” 
é importante para 
objetivos teóricos 
e práticos, mas 
entende ‑se que não 
há como isolar o 
fenômeno “compor‑
tamento” do fenôme‑
no “ambiente”.
Ainda hoje algumas 
pessoas entendem 
“comportamento” 
como sendo apenas 
aquilo que uma pes‑
soa faz publicamen‑
te: os movimentos do 
corpo externamente 
perceptíveis. A análi‑
se do comportamen‑
to há muito superou 
essa concepção. 
Uma pessoa pode 
comportar ‑se de 
muitas maneiras, 
visíveis ou não para 
outra pessoa.
Clínica analítico ‑comportamental 89
A psicologia, com sua ampla variabilida-
de teórica, oferece outros caminhos. Explica-
ções causais em psicologia frequentemente se-
guem o modelo “a mente causa o comporta-
mento”. Mesmo que algum psicólogo adote 
essa postura, ainda 
lhe restará a tarefa de 
explicar causalmente 
a ocorrência dos even-
tos chamados “men-
tais”. Fatalmente, esse 
psicólogo, em algum 
momento, deverá re-
met er -se às relações 
da pessoa com seu 
ambiente. Se insistir 
que não deve ou não 
precisa fazê -lo, pode-
-se desafiá -lo a mudar qualquer aspecto da vida 
mental de uma pessoa sem alterar nada em 
seu ambiente (e devemos lembrar aqui que o 
comportamento verbal de um psicólogo faz 
parte do ambiente das pessoas com as quais 
ele interage). Outro desafio que poderia le-
gitimamente ser lançado a este psicólogo se-
ria demonstrar que algo foi mudado na men-
te de uma pessoa, sem que o comportamen-
to dela (verbal ou não verbal) pudesse ser 
tomado como indício de tal mudança.
Tendemos a utilizar verbos para desig-
nar o que a mente faz: pensar, imaginar, sen-
tir, decidir... Isso é importante, porque evi-
dencia que estamos tratando de comporta-
mentos, mesmo que algumas de suas 
dimensões não sejam publicamente observá-
veis. (Troquemos “mente” por “pessoa”, na 
primeira frase, e teremos uma definição per-
feitamente aceitável para qualquer analista do 
comportamento.) “Decidir” talvez seja aqui 
um verbo importante. Para a análise do com-
portamento, decidir é comportar -se: é fazer 
algo e, com isso, produzir certas consequên-
cias (Skinner, 1953/1965, p. 242-244). O 
número de situações em nosso dia a dia nas 
quais efetivamente nos engajamos no com-
portamento de decidir antes de fazer alguma 
outra coisa provavelmente é muito menor do 
que gostaríamos de pensar. Talvez nossa vida 
fosse impossível se as coisas não fossem assim. 
Fazemos muitas coisas “sem pensar”, porque 
nossa experiênciaem situações semelhantes 
nos dá alguma segurança de que os resultados 
do que faremos são previsíveis. Quando não 
o são, porém, podemos preliminarmente “de-
cidir” – isto é, buscar 
subsídios que nos 
permitam tomar um 
certo curso de ação e 
não outros.
Se decidir é 
comportar -se, porém, 
o fato de que decidi-
mos também deve ser 
causalmente explica-
do. Ninguém nasce 
sabendo como deci-
dir, e presumivelmen-
te algumas pessoas decidem melhor, ou com 
mais frequência, do que outras. Isso quer dizer 
que o comportamento de decidir também 
deve ser aprendido, no sentido de ser selecio-
nado por suas consequências:
Um homem pode gastar muito tempo plane-
jando sua própria vida – ele pode escolher as 
circunstâncias nas quais viverá com muito cui-
dado, e pode manipular seu ambiente cotidia-
no em larga escala. Tais atividades parecem 
exemplificar um alto grau de autodetermina-
ção. Mas elas também são comportamento, e 
nós as explicamos através de outras variáveis 
ambientais e da história do indivíduo. São es-
sas variáveis que proveem o controle final 
(Skinner, 1953/1965, p. 240).
É importante notar também que, se um 
comportamento é aprendido, ele pode ser en-
sinado. Se tratamos o decidir como um acon-
tecimento mental inalcançável e inexplicável, 
essa perspectiva se fecha. Se o tratamos, po-
rém, como uma relação comportamental, po-
demos interferir sobre ele. Esse é o lado positi-
Explicações cau‑
sais em psicologia 
frequentemente 
seguem o modelo 
“a mente causa o 
comportamento”. 
Mesmo que algum 
psicólogo adote essa 
postura, ainda lhe 
restará a tarefa de 
explicar causalmen‑
te a ocorrência dos 
eventos chamados 
“mentais”.
Ninguém nasce sa‑
bendo como decidir, 
e presumivelmente 
algumas pessoas 
decidem melhor, ou 
com mais frequência 
do que outras. Isso 
quer dizer que o 
comportamento de 
decidir também deve 
ser aprendido, no 
sentido de ser se‑
lecionado por suas 
consequências.
90 Borges, Cassas & Cols.
vo da insistência dos 
analistas do compor-
tamento em buscar 
“causas” ambientais 
para “efeitos” com-
portamentais: se po-
demos mudar o am-
biente que afeta uma 
pessoa, podemos mudar seu comportamento.
> o compoRtameNto 
HumaNo é livRe?
Analisamos o comportamento de decidir 
porque ele costuma ser apontado como um 
exemplo claro de que cada ser humano go-
verna sua própria vida de forma autônoma, 
mesmo que se admita que o ambiente in-
fluencie seu comportamento em alguma me-
dida. Mas se mesmo o comportamento de 
decidir pode ser causalmente explicado, o 
que resta de autonomia, de liberdade para o 
ser humano?
A controvérsia entre determinismo e 
livre -arbítrio tem uma história praticamente 
tão longa quando a da própria filosofia. É um 
tema complexo, que desperta discussões apai-
xonadas. Para a psicologia, esta é uma discus-
são inevitável: não importando os conceitos e 
teorias utilizados por 
diferentes psicólogos, 
é razoável afirmar que 
todos estão interessa-
dos em saber por que 
as pessoas fazem o 
que fazem, dizem o 
que dizem, pensam o 
que pensam, sentem 
o que sentem. Como 
qualquer ciência, a 
psicologia está inte-
ressada em relações 
causais: ela busca identificar causas para certos 
efeitos. Esses efeitos podem ser chamados de 
comportamentais e/ou mentais, a depender da 
teoria utilizada – mas suas causas devem ser 
obrigatoriamente procuradas entre fenômenos 
que não sejam “comportamento” ou “mente”. 
É plausível imaginar que algum psicólogo se 
satisfaça com explicações causais nas quais a 
mente é causa, e o comportamento, efeito. 
Mas também é plausível imaginar que, em al-
gum momento, esse psicólogo precisará expli-
car a própria origem do que chama de “men-
te”. Nesse caso, repetimos, é inevitável que re-
corra a relações com o ambiente. Enquanto 
pesquisador, ao apontar variáveis ambientais 
atuais ou passadas como responsáveis pelo que 
as pessoas fazem, falam, pensam ou sentem, 
um psicólogo está provendo suporte empírico 
à plausibilidade de uma posição determinista, 
seja qual for a teoria que fundamenta seu tra-
balho.
Skinner apresenta uma posição marca-
damente determinista ao longo de sua obra. 
Esse parece ser um resultado natural de sua fi-
losofia, dadas as relações causais que a análise 
do comportamento busca estudar. Vejamos 
alguns trechos de sua obra nos quais ele trata 
do assunto:
Para ter uma ciência da psicologia, precisamos 
adotar o postulado [itálico nosso] fundamental 
de que o comportamento humano é um dado 
ordenado, que não é perturbado por atos ca-
prichosos de um agente livre – em outras pala-
vras, que é completamente determinado (Skin-
ner, 1947/1972, p. 299).
Se vamos usar os métodos da ciência no 
campo dos assuntos humanos, devemos 
pressupor [itálico nosso] que o comporta-
mento é ordenado e determinado (Skinner, 
1953/1965, p. 6).
A hipótese [itálico nosso] de que o homem 
não é livre é essencial para a aplicação do mé-
todo científico ao estudo do comportamento 
humano (Skinner, 1953/1965, p. 447).
Embora Skinner apresente uma posição 
firme sobre o assunto, chama a atenção nessas 
Ao olharmos para 
comportamento 
como um fenômeno 
determinado por 
sua relação com 
o ambiente, esta‑
mos mais perto de 
encontrarmos meios 
de mudá ‑los.
Ao apontar variá veis 
ambientais atuais ou 
passadas como res‑
ponsáveis pelo que 
as pessoas fazem, 
falam, pensam ou 
sentem, um psicó‑
logo está provendo 
suporte empírico 
à plausibilidade 
de uma posição 
determinista, seja 
qual for a teoria que 
fundamenta seu 
trabalho.
Clínica analítico ‑comportamental 91
passagens o uso de palavras como “postula-
do”, “pressupor” e “hipótese”. Skinner não 
está afirmando, como verdade absoluta, que 
o comportamento humano é determinado, 
mas sim que o cientista do comportamento 
deve pressupor que o seja. Mas por quê? Isso 
faz alguma diferença?
A análise do comportamento tem entre 
seus objetivos prever e controlar o comporta-
mento. É para isso, afinal, que ela busca in-
vestigar relações causais: para intervir sobre 
causas ambientais e produzir efeitos compor-
tamentais. Pressupor a determinação do com-
portamento é benéfi-
co para uma ciência 
do comportamento 
que busca investigar 
quais as variáveis que 
o determinam. Um 
cientista que supõe a 
existência de variá-
veis que controlam o 
comportamento ten-
de a procurá -las; um 
cientista que supõe 
que elas talvez não existam possivelmente não 
terá bons motivos para aprofundar suas in-
vestigações. Assim, enquanto pressuposto, o 
determinismo impulsiona a pesquisa: mesmo 
que não consiga, em um primeiro momento, 
identificar as variáveis relevantes para a previ-
são e controle de certas classes de comporta-
mentos, o analista do comportamento insisti-
rá em procurá -las. Eis uma passagem na qual 
Skinner se manifesta explicitamente nesse 
sentido:
Determinismo é um pressuposto útil, por-
que encoraja a busca por causas. [...] O pro-
fessor que acredita que um estudante cria 
uma obra de arte exercitando alguma facul-
dade interna e caprichosa não buscará as 
condições sob as quais ele de fato trabalha 
criativamente. Ele também será menos ca-
paz de explicar tal trabalho quando ele ocor-
re, e menos inclinado a induzir estudantes a 
se comportar criativamente (Skinner, 1968, 
p. 171).
Esse exemplo aplicado à educação pode 
ser facilmente transferido para outras modali-
dades de aplicação da análise do comporta-
mento – como a clínica. O clínico analítico-
-comportamental está interessado em mudar 
aspectos do comportamento de seu cliente, 
incluindo o que ele 
fala, pensa ou sente. 
Se o clínico pressu-
põe que o comporta-
mento de seu cliente, 
por mais complexo 
que seja, é determi-
nado por suas rela-
ções com o ambien-
te, ele deve intervirsobre tais relações e 
verificar se isso surte 
o efeito esperado no 
repertório comporta-
mental do cliente. Caso isso não aconteça, o 
clínico continuará tentando produzir tais 
efeitos, lançando mão de outras estratégias de 
intervenção sobre as relações comportamen-
tais; em outras palavras, ele continuará bus-
cando as causas do comportamento de seu 
cliente. O teste final sobre o sucesso dessa 
empreitada é empírico: se o comportamento 
do cliente muda, o clínico conseguiu intervir 
sobre pelo menos parte de suas causas. Um 
clínico analítico -compor tamental jamais de-
sistirá de mudar o comportamento de um 
cliente por julgar que ele não tem causas. Essa 
é a utilidade do determinismo enquanto pres-
suposto no trabalho do clínico.
> existem outRos sigNificados 
paRa “libeRdade”?
A palavra “liberdade”, como qualquer outra 
palavra, pode ser utilizada de diversas formas, 
Um cientista que 
supõe a existência 
de variáveis que 
controlam o com‑
portamento tende 
a procurá ‑las; um 
cientista que supõe 
que elas talvez não 
existam possivel‑
mente não terá 
bons motivos para 
aprofundar suas 
investigações.
Se o clínico 
pressupõe que o 
comportamento 
de seu cliente, por 
mais complexo que 
seja, é determinado 
por suas relações 
com o ambiente, 
ele deve intervir 
sobre tais relações 
e verificar se isso 
surte o efeito espe‑
rado no repertório 
comportamental do 
cliente.
92 Borges, Cassas & Cols.
em diferentes situações. Um analista do com-
portamento pode, eventualmente, defender 
certos tipos de liber-
dade, mesmo adotan-
do o determinismo 
como pressuposto. 
Não há nisso qual-
quer tipo de contra-
dição, como veremos 
ao analisar alguns 
sentidos possíveis do 
termo.
liberdade como sentimento
A classe de relações comportamentais deno-
minada reforçamento positivo parece favore-
cer o relato de certos sentimentos, que po-
dem receber vários nomes: amor, felicidade, 
confiança, fé, segurança, interesse, perseve-
rança, entusiasmo, dedicação, felicidade e 
prazer são apenas alguns deles (Cunha e Bor-
loti, 2005). O sentimento de liberdade tam-
bém pode ser relatado nesse contexto. Quan-
do nosso comportamento é positivamente re-
forçado, sentimos que fazemos o que 
queremos, gostamos ou escolhemos. Não há 
sentimento de coer-
ção ou obrigatorie-
dade – há sentimen-
to de liberdade.
Até que ponto 
é possível ou desejá-
vel abrir mão da uti-
lização deliberada de 
relações comporta-
mentais coercivas (de 
punição e reforçamento negativo) na aplica-
ção da análise do comportamento é assunto 
discutível, e os subsídios mais importantes 
para essa discussão devem, sem dúvida, deri-
var de dados empíricos. Ainda assim, é razoá-
vel afirmar que os analistas do comportamen-
to tendem a favorecer a utilização de relações 
comportamentais de 
reforçamento positi-
vo. Com isso, podem 
favorecer também o 
relato de sentimen-
tos de liberdade. Esse 
é um resultado previ-
sível e desejável da prática do clínico analítico-
-comportamental. Não há nisso nenhuma 
contradição com a adoção do determinismo 
enquanto pressuposto por parte do clínico.
liberdade como diminuição ou 
eliminação da coerção
Se o reforçamento positivo pode gerar relatos 
de sentimentos de liberdade, relações com-
portamentais coercivas (de punição ou refor-
çamento negativo) podem gerar, além do re-
lato de outros sentimentos (ansiedade, raiva, 
tristeza, entre muitos 
outros) uma “luta 
pela liberdade” – 
que, neste caso, nada 
mais é do que uma 
luta contra esse tipo 
de relação. Social-
mente, a luta contra 
as relações compor-
tamentais coercivas pode receber diversos no-
mes: busca -se promover a liberdade política, 
econômica, religiosa, sexual, etc. Em cada um 
desses campos, quando pessoas são proibidas 
de emitir certos comportamentos ou obriga-
das a emitir outros, surge a possibilidade de 
que se revoltem contra esse tipo coercivo de 
controle.
Skinner (1971) analisou profundamen-
te a luta por esse tipo de liberdade, e reconhe-
ceu sua importância: “A literatura da liberda-
de tem feito uma contribuição essencial para 
a eliminação de muitas práticas aversivas no 
governo, na religião, na educação, na vida fa-
miliar e na produção de bens” (p. 31). Analis-
tas do comportamento, portanto, podem 
Um analista do 
comportamento 
pode, eventualmen‑
te, defender certos 
tipos de liberdade, 
mesmo adotando o 
determinismo como 
pressuposto. Não há 
nisso qualquer tipo 
de contradição.
“Quando nosso 
comportamento 
é positivamente 
reforçado, sentimos 
que fazemos o que 
queremos, gostamos 
ou escolhemos. Não 
há sentimento de co‑
erção ou obrigatorie‑
dade – há sentimen‑
to de liberdade.”
Os analistas do 
comportamento 
tendem a favorecer 
a utilização de rela‑
ções comportamen‑
tais de reforçamento 
positivo.
Quando pessoas são 
proibidas de emitir 
certos comporta‑
mentos ou obrigadas 
a emitir outros, surge 
a possibilidade de 
que se revoltem con‑
tra esse tipo coerci‑
vo de controle.
Clínica analítico ‑comportamental 93
igualmente defender certos tipos de liberda-
des sociais, sem que haja nisso qualquer con-
tradição com a adoção do determinismo en-
quanto pressuposto.
Um dos problemas apontados por Skin-
ner na mesma obra é que as pessoas tendem a 
identificar a ausência 
de coerção com liber-
dade absoluta, igno-
rando o tipo mais po-
deroso de controle – 
isto é, aquele exercido 
através de reforça-
mento positivo. Ele é 
poderoso, entre ou-
tros motivos, porque, 
via de regra, não nos 
revoltamos contra ele 
– aliás, sequer costumamos reco nhe cê -lo 
como um tipo de controle. O controle por re-
forçamento positivo, como qualquer tipo de 
controle, pode ser utilizado com objetivos es-
púrios, em benefício dos controladores, mas 
com graves prejuízos de longo prazo para os 
controlados. Empregados que enfrentam jor-
nadas exaustivas ou insalubres de trabalho, 
aliciadores que levam adolescentes a se prosti-
tuir, crianças e adolescentes atraídos para o 
tráfico de drogas ou pessoas levadas a consu-
mir produtos prejudiciais à sua saúde são al-
guns exemplos. Diante disso, é compreensí-
vel a afirmação de Skinner de que “um siste-
ma de escravidão tão bem planejado que não 
gere revolta é a verdadeira ameaça” (Skinner, 
1971, p. 40). A “revolta” contra um sistema 
desse tipo só é possível, em primeiro lugar, se 
o escravo percebe que é um escravo. Por isso, 
de acordo com Skinner, “o primeiro passo na 
defesa contra a tirania é a exposição mais 
completa possível das técnicas de controle” 
(Skinner, 1955-1956/1972, p. 11).
Considerado esse sentido da palavra li-
berdade, podemos inclusive classificar a edu‑
cação para a liberdade como uma tarefa im-
portante para os analistas do comportamen-
to. Uma educação para a liberdade estimula a 
formação de cidadãos críticos, bem informa-
dos e ativos, e pode cumprir um papel impor-
tante para o futuro de nossas culturas.
liberdade como autocontrole
O clínico analítico -comportamental, via de 
regra, deseja que seu cliente “tome as rédeas 
de sua vida”, seja au-
tônomo e indepen-
dente, governe seu 
cotidiano – entre ou-
tros motivos, para 
que não seja depen-
dente do próprio clí-
nico. Ora, tudo isso 
não parece funda-
mentalmente contra-
ditório com o pres-
suposto de que o comportamento humano é 
determinado? Como pode um clínico ana lí-
tico -comportamental fomentar autonomia 
em seus clientes se adota tal pressuposto?
O clínico analítico-comportamental, 
enquanto parte importante do ambiente de 
seus clientes, trans-
forma parte de seu 
repertório comporta-
mental. Ele pode en-
sinar seus clientes a 
analisar seu próprio 
comportamento e as 
variáveis que o con-
trolam. Ao fazer isso, 
ele estará gerando em 
seus clientes o que 
Skinner (1953/1965,cap. 15) chamou de 
autocontrole – isto é, estará proporcionando a 
eles a oportunidade de identificar e controlar 
algumas das variáveis que controlam seu pró-
prio comportamento. Como o autocontrole 
também é comportamento, ele também é, 
por si só, efeito de causas ambientais – e o 
Um dos problemas 
apontados por 
Skinner é que as 
pessoas tendem a 
identificar a ausên‑
cia de coerção com 
liberdade absoluta, 
ignorando o tipo 
mais poderoso de 
controle – isto é, 
aquele exercido 
através de reforça‑
mento positivo.
O clínico analítico‑
‑comportamental via 
de regra deseja que 
seu cliente “tome 
as rédeas de sua 
vida”, seja autônomo 
e independente, 
governe seu coti‑
diano – entre outros 
motivos, para que 
não seja dependente 
do próprio clínico.
O clínico analítico‑
‑comportamental 
transforma parte 
de seu repertório 
comportamental. 
Pode ensinar seus 
clientes a analisar 
seu próprio com‑
portamento e as 
variáveis que o con‑
trolam. Ao fazer isso, 
ele estará gerando 
em seus clientes 
autocontrole.
94 Borges, Cassas & Cols.
comportamento do clínico responde, neste 
caso, pela maior parte de tais causas. O uso da 
expressão “autocon-
trole”, portanto, não 
significa que o com-
portamento da pes-
soa que o exerce não 
esteja sujeito à deter-
minação ambiental. 
Como afirma Skin-
ner, “o ambiente de-
termina o indivíduo 
mesmo quando ele altera o ambiente” (Skin-
ner, 1953/1965, p. 448). Em certo sentido, 
porém, é possível afirmar que pessoas que 
exercem um alto grau de autocontrole são 
mais autônomas, independentes e “livres” do 
que as que não o fazem. O clínico analíti-
co-comportamental, nesse sentido, busca en-
sinar e promover a liberdade.
Se compreendermos a palavra “liber-
dade” em qualquer um desses três sentidos, 
podemos concluir que os analistas do com-
portamento – entre eles os clínicos analí-
tico-comportamentais – promovem a liber-
dade com frequência. Ainda assim, como 
behavioristas radicais, os clínicos analíti-
co-comportamentais tendem a adotar o de-
terminismo enquanto pressuposto, sem que 
haja nisso qualquer contradição implicada. 
A adoção desse pressuposto, como vimos, 
justifica-se por sua utilidade para os pró-
prios objetivos do trabalho terapêutico. Por 
mais paradoxal que isso possa parecer, pres-
supor o determinismo ajuda os clí nicos 
analí ti co-com por tamentais a torna rem os seus 
clien tes mais livres!
> Notas
 1. Sobre comportamento operante, sugere -se ler o Ca-
pítulo 2.
 2. Para uma maior compreensão do modelo causal da 
análise do comportamento, ler Capítulo 7.
> RefeRêNcias
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Pessoas que exer‑
cem um alto grau 
de autocontrole são 
mais autônomas, 
independentes e 
“livres” do que as 
que não o fazem. 
O clínico analítico‑
comportamental 
busca ensinar e pro‑
mover a liberdade.
	PARTE I - As bases da clínica analítico-comportamental
	8. O conceito de liberdade e suas implicações para a clínica

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