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1 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental Direito Ambiental Diogo Guanabara 1ª AVALIAÇÃO | 2019.1 Anotações por Marília Mattos maridmij@gmail.com 2 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental Avaliação: 08/04 e 10/06 diogoacg@gmail.com Anotações Aproximação do Direito com o meio ambiente Afirmar que o meio ambiente é um direito no Brasil implica em tratar o meio ambiente como um direito fundamental; Direito ambiental como ramo científico Princípios do Direito Ambiental O Meio Ambiente na Constituição Federal O meio ambiente é um direito, mas também um dever de participação. A Constituição garante isso por meio de ações como as ações civis públicas, habeas corpus, dentre outros instrumentos garantidores de direitos fundamentais no Brasil; Licenciamento ambiental Lei 6.938 | Política Nacional de Meio Ambiente |SISNAMA; instrumentos para proteger o meio ambiente: licenciamento, padronização, espaços protegidos, informação, servidão ambiental, concessão ambiental; Responsabilidade ambiental A responsabilidade ambiental pode se dar em três esferas: penal, administrativa ou cível. A condenação não implica violação ao princípio do ne bis in idem¸ pois esse se projeta apenas em uma mesma esfera. Espaços ambientalmente protegidos Os espaços ambientes protegidos são locais no território brasileiro em que ex sensibilidade ambiental e o Estado considera a área importante, limitando o uso daquele território em questão. LEI Nº 6.938, DE 31 DE AGOSTO DE 1981 Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art 1º - Esta lei, com fundamento nos incisos VI e VII do art. 23 e no art. 235 da Constituição, estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, constitui o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) e institui o Cadastro de Defesa Ambiental. 3 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC – Lei 9.985/2000) Código Florestal Lei 12.651/2012 Questões ambientais na atualidade A primeira solução global efetiva que o Direito participou na temática ambiental foi a substituição do CFC, chamado de Protocolo de Montreal, em 1989. Foi uma solução jurídica que tornou o problema do “buraco” na camada de ozônio menos alarmante que antes. O descontrole do aquecimento (aquecimento acima do normal) é provocado por uma interferência humana, como por exemplo quando produzimos uma serie de gases de efeito estufa. Esses gases são, normalmente, produzidos a partir da queima de combustíveis fósseis no mundo. O Direito funciona nesse cenário como regulador da utilização dos combustíveis fósseis e busca alternativas para este. A regulação da utilização dos combustíveis fósseis implica em mudanças impactantes em diversos ramos do Direito, como o Direito do Consumidor, o Direito Tributário, dentre outros. Outro problema ligado ao descontrole no aquecimento global é a modificação constante do clima e da temperatura. Devido a essas mudanças, temos a migração como consequência. São os chamados refugiados ambientais. Ainda, a gestão de resíduos é um problema da contemporaneidade. Cultivamos uma civilização do desperdício e do descarte irregular de materiais tóxicos. Consequentemente, a quantidade de resíduo radioativo cresce. Por fim, temos a questão da gestão de água potável. A porcentagem de agua disponível para consumo humano é mínima, sendo que a sua maioria se encontra congelado. A contaminação dos corpos d’água vêm crescendo com os crimes ambientais, enquanto o acesso à água vem diminuindo a medida em que as cidades e a população crescem. Direito Ambiental Internacional A preocupação jurídica com o meio ambiente é extremamente recente. Quando o caos se estabelece, é necessário colocar ordem na situação; e foi isso que fez com que o Direito entrasse em ação no Direito Ambiental. Os problemas tomam visibilidade quando novas descobertas científicas racionalizam o processo; essa evolução cientifica fez com que alguns fenômenos, antes inexplicáveis, passassem a ter uma explicação racional e plausível. A pressão social sobre Governo dos Estados fez com que os Estados começassem a se mobilizar, entretanto, não foi uma mobilização focada no Direito interno deles. 4 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental A Conferência de Estocolmo sobre Meio Ambiente, organizada pela ONU em 1972, foi a inserção dos Estados num debate global sobre meio ambiente. Ocorreu no âmbito internacional devido à crise ecológica (crise que conta com mudanças climáticas e meio ambiente, questões humanitárias como migração, etc) que exigiu da sociedade uma nova forma de pensar. A ONU buscou inserir os Estados em uma perspectiva que eles não possuíam antes. Essa conferência se deu pela (im)possibilidade de danos ao meio ambiente serem locais, pois não existem limites à poluição – ela encontra o seu limite natural. Portanto, qualquer solução que envolva o meio ambiente deve ser uma solução internacional, no primeiro momento. Nessa conferência, foi criado um tratado chamado Declaração do Meio Ambiente. A Declaração do Meio Ambiente trouxe o meio ambiente na qualidade de Direito Humano, e derivou da Declaração Universal dos Direitos do Homem¹. A inserção do ambiente como um direito humano modificou a estrutura do Direito em todo o mundo, principalmente nas constituições estaduais, pois exigiu que alterações fossem feitas em todas elas. Ainda, esse texto normativo trouxe o ser humano tanto quanto artífice quanto resultado do ambiente². Ao mesmo tempo em que o ser humano era causa para determinados atos na sociedade, ele também era consequência. A defesa do meio ambiente tornou-se importante pela proteção intergeracional³, ou seja, a sua proteção se daria pelas gerações atuais para as gerações futuras. Essa declaração também priorizou o desenvolvimento socioambiental em harmonia com a preservação ambiental. Isso porque, na sociedade, o modelo de desenvolvimento estatal era baseado em “quanto mais o ser humano tem, mais ele quer”. Aos poucos, percebeu-se que esse modelo de desenvolvimento ia de encontro à existência humana. A Conferência de Estocolmo sobre Meio Ambiente não trouxe como grande avanço apenas a Declaração anteriormente citada. Nessa Conferência, o Programa das Nações Unidas trouxe o desenvolvimento sustentável. O conceito de desenvolvimento sustentável foi formulado numa obra chamada “Relatório Brundtland”. O desenvolvimento sustentável é aquele modelo que satisfaz a necessidade do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades. Essa modelo traz a possibilidade de desenvolver-se economicamente, desde que permita que gerações futuras também usufruam daquele meio ambiente. Temos, então, três pilares básicos: o econômico, o social e o ambiental. O econômico é o dinheiro, pois o Estado ainda pode se desenvolver, entretanto, esse desenvolvimento não pode ser a qualquer custo ou às custas dos recursos ambientais. Essa dimensão retrata a criação de riqueza a partir da eficiência do uso de energia e dos recursos naturais, das mudanças nospadrões de consumo e da redução do desperdício. O ambiental é a preservação ambiental e refere-se a todas as condutas que, direta ou indiretamente, interferem ou provocam mudanças no meio ambiente. Essa dimensão retrata da utilização parcimoniosa dos Recursos Naturais e da preservação do meio ambiente natural. 5 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental O social trata de todo capital humano que está, direta ou indiretamente, relacionado as atividades desenvolvidas por uma empresa. Isso inclui, além de seus funcionários, seu público alvo, sua comunidade, etc. Deve-se proporcionar um ambiente sustentável na sociedade. Essa dimensão trata de uma repartição mais justa das riquezas (justiça social), da universalização do acesso à educação e saúde, e da equidade entre sexos, grupos étnicos e religiosos. Em 1992, a ONU criou uma nova Conferência, a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento. O objetivo dessa conferencia era estabelecer aliança mundial mediante a criação de novos níveis de cooperação entre Estados e setores-chave da Sociedade, como ONGs, Universidades, Centros de Pesquisa, dentre outros. A estrutura de desenvolvimento econômico precisava ser modificada para a sociedade assumir o desenvolvimento sustentável como uma possibilidade real. Essa Conferência serviu como Centro dos Debates, pois buscava incentivar o desenvolvimento econômico social em harmonia com a preservação do meio ambiente. Além disso, o Princípio da Responsabilidade Comum, mas diferenciada traz que os Estados são responsáveis pela conservação, proteção e recuperação do ecossistema na medida em que contribuíram, em graus variados, para a degradação. Ou seja, os países ricos têm mais ônus de preservação ambiental que os países pobres. Isso porque para alcançar o seu desenvolvimento muitos dos países ricos utilizaram de recursos ambientais, e temos como exemplo os Estados Unidos. A Agenda 21 não é um tratado, não é uma norma jurídica, é uma norma política. Portanto, ao descumprir uma norma ali presente, não há uma sanção jurídica. É um documento que chamamos de soft law, pois não há imposição da norma; ela está ali presente para ser cumprida, mas caso contrário, não há sanção. Por fim, essa Conferência formulou documentos específico como a Convenção sobre a Diversidade Biológica, a Convenção sobre Mudanças do Clima, e a Declaração de Princípios sobre o Uso das Florestas. Visões do Direito Ambiental: antropocentrismo vs. ecocentrismo Antropocentrismo clássico O modelo do antropocentrismo clássico traz que o homem é o centro de qualquer coisa que existe, pois tudo gira em torno dele e é ele o eixo principal de um sistema. Ou seja, o ambiente encontra-se à disposição do homem. Esse modelo é baseado no especismo de Richard D. Ryde, que visa trazer outras espécies como inferiores ao homem. O conceito de especismo formulado por Ryde é o de um preconceito ou atitude tendenciosa que existe de alguém a favor dos interesses de membros de sua própria espécie de contra os de outra. 6 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental Ecocentrismo O modelo do ecocentrismo parte da ideia de que o meio ambiente está no topo. Não há uma divisão de importância entre aquele que é humano e aquele que não é, pois nesse modelo o que prevalece é a harmonia. O animalismo parte do estudo da relação jurídica entre animais humanos e não humanos, podendo se manifestar pelo âmbito do bem-estarismo ou do abolicionismo. Bem-estarismo: criado por Peter Singer, o bem-estarismo prega que todos os seres devem ser considerados igualitariamente, devendo observar os interesses de todos. Deve haver um princípio igual consideração de interesse; Abolicionismo: criado por Tom Regan, essa teoria traz que os animais não humanos devem ter direitos. Entretanto, esse conceito abarcaria somente aqueles animais sensíveis e autoconscientes (chamados de “sujeitos-de- uma-vida”), para que estes optem entre o melhor e o pior para viver. A Constituição brasileira garante a defesa dos animais pelo Estado adotando políticas como a proibição de crueldade contra animais, por exemplo. Antropocentrismo Alargado No antropocentrismo alargado, há a superação da limitação antropocêntrica para admitir a proteção da natureza pelo seu valor intrínseco. Mesmo assim, esse antropocentrismo não concede direitos à animais ou outros recursos ambientais, mas sim a imposição de deveres aos humanos para a proteção dos animais não-humanos. O antropocentrismo alargado consegue, então, um equilíbrio entre o antropocentrismo e o ecocentrismo. Previsões legais: Convenção Europeia para Conservação da Fauna e Habitat Naturais (1979); Carta Mundial da Natureza (1982); Convenção da Biodiversidade (1992); Constituições da Bolívia e do Equador; Tutela jurídica dos animais não-humanos no Brasil Lei seca Elevação da proteção animal ao status constitucional; Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: 7 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. Proteção contra a prática de crueldade; Art. 32 da Lei 9605/98 (Lei de Crimes Ambientais); Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. § 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal. Jurisprudência Vaquejada; Caso da “Farra do Boi” (RE 153.531-8/SC) – 1997 Proibição de festejo; Caso da “objeção de consciência” (AO 2007.71.00.019882-0/RS) Não obrigação de aluno participar de aula com vivissecção; Propedêuticas sobre Direito Ambiental É a ciência jurídica que estuda, analisa e discute as questões e os problemas ambientais e a sua relação com o ser humano, tendo por finalidade a proteção do meio ambiente e a melhoria das condições de vida no planeta (conceito de Luís Paulo Sirvinskas). As esferas de atuação são a esfera preventiva (administrativa), a esfera reparatória (cível) e a esfera repressiva (penal). Classificação jurídico-constitucional do meio ambiente Em termos constitucionais, a Constituição fala de vários meios ambientes. O meio ambiente natural, o meio ambiente artificial, o meio ambiente cultural e o meio ambiente de trabalho. Meio ambiente natural O meio ambiente natural é aquele que chamamos comumente de natureza. É o meio ambiente físico, os recursos hídricos, o subsolo, a atmosfera, a flora, a fauna, dentre outros. É tudo o que flutua no nosso imaginário como natureza. Esse meio ambiente está protegido na Constituição pelo artigo 225 da Constituição Federal, e é o meio ambiente no qual o estudo do Direito Ambiental é focado. 8 Anotações por Marília Mattos Direito AmbientalMeio ambiente artificial Esse meio ambiente é o meio ambiente urbano. É o meio ambiente ligado inteiramente às criações artificiais que o homem impôs ao seu redor, ou seja, é o meio ambiente transformado pelo homem, diretamente vinculado às cidades. O Direito que atua sob o meio ambiente artificial é o direito urbanístico, com previsão constitucional no art. 5º XXIII, art. 21 XX, art. 182 e art. 225. Apesar de o Direito Ambiental não regular esse meio, pode haver hipóteses em que ele incide sob esse meio. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; Art. 21. Compete à União: XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos; Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Meio Ambiente Cultural É o meio ambiente que lida com a proteção do patrimônio cultural brasileiro. Basicamente, quem protege e lida com esse meio ambiente é o Direito Administrativo. Está previsto no art. 216 da Constituição Federal. Patrimônio cultural: traduz a história de um povo, a sua formação, cultura e, portanto, os próprios elementos identificadores de sua cidadania; Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. 9 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental Meio Ambiente do Trabalho O trabalho é o local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais relacionadas à saúde, sejam remuneradas ou não. Esse meio ambiente é regulado principalmente pelo Direito do Trabalho. Esse equilíbrio está baseado na salubridade do meio e na ausência de agentes que comprometam a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores. Existem, por exemplo, adicionais de insalubridade que os indivíduos recebem quando são expostos a atividades que comprometam a sua saúde e bem-estar. O tratamento constitucional desse meio está previsto no art. 7 XXIII e no art. 200, VIII. Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. Princípios do Direito Ambiental Princípio do Desenvolvimento Sustentável Durante a Conferência Mundial do Meio Ambiente em Estocolmo (1972), surgiu a oportunidade das presentes e futuras gerações gozarem do Ambiente sadio e equilibrado. Houve também a manutenção das bases vitais de produção e reprodução do homem e de suas atividades. Nesse princípio, encontram-se os pilares da economia e da preservação do ambiente. Retomamos, então, ao conceito de desenvolvimento sustentável formulada na Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente. Por muitos, esse princípio não é visto exatamente como um princípio. Isso porque ele não se conflita com nenhum outro, não se sustentando, portanto, como principiológico na visão de Dworkin e Hart. Esse princípio está previsto na CF no art. 225 caput e no art. 170 VI. Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: 10 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; No Princípio do Desenvolvimento Sustentável, temos a dimensão social, a econômica e a ambiental. A dimensão social seria uma repartição mais justa das riquezas (justiça social), a universalização do acesso à educação e saúde, e a equidade entre sexos, grupos étnicos e religiosos. A dimensão econômica, por sua vez, seria a criação de riqueza a partir da eficiência do uso de energia e dos recursos naturais, as mudanças nos padrões de consumo, e a redução do desperdício. Por fim, a dimensão ambiental seria a utilização parcimoniosa dos recursos naturais e a preservação do meio ambiente natural. Princípio da Capacidade do Suporte Também chamado de Princípio do Limite, a lógica desse princípio é que alguém deve ser responsável por estabelecer os padrões de qualidade ambiental no Brasil. No Estado brasileiro, quem deve estabelecer os padrões de qualidade ambiental é a Administração Pública, conforme art. 225 §3º. Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; (Regulamento) II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; (Regulamento) (Regulamento) (Regulamento) (Regulamento) III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; (Regulamento) IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; (Regulamento) V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; (Regulamento) VI - promover a educação ambientalem todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade 11 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental Princípio do Poluidor-Pagador (PPP) O Princípio do Poluidor Pagador se divide duas vertentes: a preventiva e a repressiva, e busca responder ao seguinte questionamento: “Poluir mediante pagamento?”. A vertente preventiva visa prevenir que os danos ambientais ou a poluição não ocorra. Esse princípio atua nessa vertente ao evitar o dano ambiental, desestimulando aquela atividade ou setor econômico que é potencialmente poluidor, e evitando a privatização dos lucros e socialização das perdas. A ideia de desestimular a atividade ou setor econômico que é potencialmente poluidor se satisfaz na ideia de inserir no valor dos produtos o dano ambiental que eles causam. Um exemplo de uma forma de desestimular esse comportamento é a inserção de tributos ambientais; se temos um marcador para quadro branco que polui pouco e tem poucos impactos negativos no meio ambiente, temos para essa marca tributos menores; por outro lado, se temos uma marca que polui muito e causa impactos negativos no meio ambiente, temos também tributos maiores. Portanto, visa-se utilizar o mecanismo do Estado como uma forma de desestimular a conduta contrária ao meio ambiente através da internalização dos custos ambientais nos produtos. A vertente repressiva consiste no Princípio da Responsabilização. Esse princípio é fundamento para a aplicação de sanções pelo cometimento de atos antijurídicos, ou de obrigações de reparar os danos ambientais. Essa responsabilização ambiental ocorre nas esferas cível, administrativa e penal. No viés repressivo, a lógica é: “se você poluiu, você vai arcar com as consequências repressivas do seu ato de poluir”. Princípio do Usuário-Pagador No Princípio do Usuário Pagador, o que está em jogo não é o dano ambiental ou a poluição, não está em jogo a responsabilização de um indivíduo por ter poluído. A lógica desse princípio é que se o indivíduo utiliza de um recurso ambiental, ele deve pagar por essa utilização. O que está em pauta nesse princípio, então, é a compensação financeira à coletividade pela utilização de recursos naturais. Está previsto no art. 4º da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente. Lei nº 6.938 de 31 de Agosto de 1981 Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Art 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará: VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. 12 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental Princípio da Prevenção A lógica da prevenção é que “é melhor prevenir que remediar”. Ou seja, esse princípio é diretriz para a restrição de uma atividade diante da evidencia de prejuízo ou risco ambiental concreto e certo. Há certeza da ocorrência do dano, é o que chamamos de risco in concreto, pois as evidências cientificas e dados são claros em relação a esse problema. Exemplo: Diogo recebe um pedido de licenciamento para construção de um resort na Ilha de Fernando de Noronha, com cinco torres e enorme área a ser desmatada. Diogo sabe que essa construção não vai dar certo. Os riscos ambientais de superpopulação, de armazenamento de lixo, de poluição, dentre outros, são tão claros que já temos a certeza da ocorrência do dano, portanto esse risco deve ser prevenido. Princípio da Precaução O princípio da precaução consiste na preocupação de evitar qualquer risco de dano ao ambiente (in dubio pro ambiente). A inversão do ônus da prova consiste na ideia de que aquele a quem se imputa o dano ambiental (efetivo ou potencial) é quem deve suportar o ônus de provar que sua atividade não traz risco. Exemplo: se a empresa ABC é acusada de causar danos ao meio ambiente, ela deve provar que não causa esses danos para se livrar da acusação, ainda que esse risco e danos sejam incertos. O ônus da prova é de quem imputa o dano ambiental, e não de quem acusa. Os pressupostos desse princípio se pautam na possibilidade de que condutas humanas causem danos coletivos vinculados a situações catastróficas que podem afetar o macrobem ambiental. Outro pressuposto é o art. 1º caput da Lei de Biossegurança, que em suma trata da falta de evidencia cientifica (incerteza) a respeito da existência do dano temido. Art. 1o Esta Lei estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de organismos geneticamente modificados - OGM e seus derivados, tendo como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de biossegurança e biotecnologia, a proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal, e a observância do princípio da precaução para a proteção do meio ambiente. Princípio da Participação Também chamado de Princípio Democrático, esse princípio tem dois sentidos: o direito de participar no processo de tomada de decisões políticas ambientais e o dever e atuação da coletividade na proteção e preservação do meio ambiente; 13 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental Existem medidas administrativas fundadas nesse princípio, as quais correspondem, por exemplo, ao direito de informação e ao direito de petição, e ambos têm previsão constitucional no art. 5º, incisos XXXIII e XXIV. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição; XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; Princípio da Informação Ambiental Esse princípio consiste no direito à informação, e tem previsão constitucional no art. 5º inc. XIV; XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; Temos como instrumentos destinados a difundir a informação ambiental; 1. R.I.M.A 2. “Selo ruído” contra a poluição sonora; 3. Relatório de qualidade ambiental; 4. Publicação do pedido de licenciamento ambiental; Princípio da Educação Ambiental Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: VI - promover a educação ambientalem todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; Esse princípio rege a educação ambiental como um instrumento para a conscientização pública sobre a proteção ambiental. Existe a Lei Ambiental (Lei 9.795/99), que define o que é a educação ambiental formal e a educação ambiental informal. A educação ambiental formal consiste naquela que é desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino público e privado. A educação ambiental informal, por sua vez, não está vinculada aos currículos escolares. Princípio da Integração Também chamado de Princípio da Ubiquidade, esse princípio consiste na obrigatoriedade de integração das exigências ambientais na definição e 14 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental aplicação das políticas públicas. Não há como se pensar em meio ambiente de modo restrito ou compartimentalizado. Afirmamos, então, a necessidade de políticas públicas transversais. Dentro elas, temos a Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) como instrumento de integração, entretanto não há previsão legal no Brasil. Princípio da Proibição do Retrocesso Ambiental Esse princípio compreende que as garantias de proteção ambiental, uma vez conquistadas não podem retroceder, independente de medidas legislativas e executivas. O objetivo desse princípio é preservar o bloco normativo (constitucional e infraconstitucional) já consolidado no ordenamento jurídico, impedindo ou assegurando o controle de atos que venham provocar a sua supressão ou restrição dos níveis de efetividade vigentes dos direitos fundamentais. Ordem Constitucional do Meio Ambiente O tratamento na Constituição Federal de 1988 se dá expressamente, pelos artigos seguintes: art. 5º LXXIII, art. 23 VI, art. 24 VI e VII, art. 129 III, art. 170 VI, art. 182, art. 200 VIII, e art. 225. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência; Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 15 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes. (Regulamento) (Vide Lei nº 13.311, de 11 de julho de 2016) Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. Dentre eles, temos o artigo 225, que é o mais voltado para a nossa interpretação. Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; Comentário: ver a Lei 11.105/05, que é a Lei da Biossegurança; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; Comentário: é de papel importante no licenciamento ambiental, pois é um estudo ambiental mais complexo para atividades com significativo impacto ambiental; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; Comentário: temos como exemplos os defensivos agrícolas, os pesticidas, e os adubos químicos; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; Comentário: educação ambiental como “meio” para se chegar ao “fim”; modo de conscientização pública sobre o Meio Ambiente; 16 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. § 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. Comentários: o parágrafo 2º traz o reconhecimento da atividade de mineração no Brasil na defesa do ambiente, diz que essa atividade deve estar fundamentada no meio ambiente, e diz que todo aquele que exercer essa atividade será obrigado a recuperar o ambiente de acordo com a determinação do órgão público competente. Portanto, ao mesmo tempo em que existe uma outorga para explorar recurso mineral, o indivíduo deve recuperar o ambiente em que está trabalhando. A recuperação do ambiente é a restituição do ecossistema degradado a uma condição não degradável, que pode ser igual ou diferente da sua composição original. A restauração do meio ambiente, por sua vez, é um aspecto muito diferente, pois consiste na restituição do ecossistema degradado o mais próximo possível da condição original. Atualmente, existe a necessidade de um plano de recuperação da área degradada (PRAD). § 3º As condutas e atividadesconsideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Comentários: esse parágrafo trata da tríplice responsabilização. A responsabilização se dá no âmbito cível, no âmbito penal e no âmbito administrativo. É uma das poucas possibilidades onde se pode responsabilizar uma pessoa jurídica por conta de uma atividade lesiva ao meio ambiente. Ainda, a mesma conduta pode ser triplamente responsabilizada, sem que isso corresponda a uma violação ao princípio do ne bis in idem (proibição de dupla punição), pois as responsabilizações não ocorrem na mesma esfera. § 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se- á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. Comentários: o parágrafo 4º não converte em bem público as terras particulares existentes dentro desses Biomas; § 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. Comentários: as terras devolutas têm origem no direito agrário e são aquelas terras que pertencem ao Estado (União ou Estado Membro), mas não estão demarcadas. São aqueles espaços no território que não tem dono registrado, considerando-se, portanto, terras inalienáveis quando essas terras forem necessárias a proteção dos ecossistemas naturais. Essas terras têm origem na época das sesmarias, onde os portugueses deveriam vir colonizar a Terra. Entretanto, uns vieram e outros não, ficando essas terras sem dono. § 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas. Comentários: o Estado deve criar uma lei federal que discipline onde serão localizadas as usinas nucleares no Brasil. A lei não diz onde vai ser, mas traz as 17 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental condições mínimas do local para instalar uma usina nuclear. Atualmente, o estado que mais investiu nessas usinas foi o Rio de Janeiro. § 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar dos animais envolvidos. Comentários: esse parágrafo dialoga com o texto constitucional do inciso VII do § 1º que diz “proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma de lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade”. Esse parágrafo foi criado pela Emenda Constitucional nº96 de 2017, e regulamenta tão somente o que seria crueldade em nível de práticas desportivas. Ainda, não há nenhuma manifestação cultural abarcada por esse artigo; essa manifestação deve ser registrada e reconhecida como um bem imaterial pertencente ao patrimônio cultural brasileiro. Além disso, essa prática desportiva deve ser regulamentada por uma lei específica que deve assegurar o bem-estar do animal. A única prática esportiva que se encaixa nos preceitos desse artigo é a vaquejada. Essa norma pode ser federal, tendo em vista que é uma competência concorrente, entretanto as normas também são de competência suplementar supletiva, ou seja, em ausência de norma federal em contrário, os Estados podem regularizar. Competências Constitucionais Ambientais A competência comum corresponde a todos os entes que são dotados de autonomia, e dentro do Direito Ambiental destacam-se os seguintes incisos que abordam essa competência. São os incisos III, IV, VI, VII e XI do art. 23 da Constituição Federal. É a competência para proteger o meio ambiente, de combater a poluição em qualquer das suas formas, de preservar as florestas, a fauna e a flora, e de registrar, acompanhar e fiscalizar a concessão de direitos de pesquisa e exploração de Recursos Hídricos e Minerais em seus territórios. Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural; VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios; Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. 18 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental A competência concorrente, por sua vez, corresponde às competências especificamente focadas em Estado, União e DF. Corresponde aos incisos VI, VII, e VIII do art. 24 da Constituição Federal. É a competência que se refere às florestas, à caca, à pesca, à fauna, à conservação e defesa dos recursos naturais, à proteção do meio ambiente, ao controle da poluição, e à proteção do patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico. Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; A competência privativa da União traz que cabe à União legislar sobre determinada matéria, contudo, pode delegá-la a outro ente, seja Estado ou Município. É a competência privativa para legislar sobre águas, energia, jazidas, minas e outros recursos naturais, e atividades nucleares. Está prevista no art. 22, incisos IV, XII, XIV e XXVI. Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia; XIV - populações indígenas; XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza; Quanto aos municípios, eles podem legislar sobre meio ambiente, tendo em vista que o art. 30 da Constituição Federal, incisos I e II, confere aos municípios a competência suplementar. Ou seja, os municípios podem suplementar a lei estadual ou a lei federal no âmbito do seu interesse local. Então, tudo o que for de interesse local pode ser suplementado pelo município em questão de lei especifica. Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; Política e Sistema Nacional do Meio Ambiente A política ambiental consiste em movimentos articulados do Poder Público comvistas a estabelecer os mecanismos capazes de promover a utilização de recursos ambientais de forma mais eficiente possível. Temos políticas ambientais federais, estaduais e municipais. 19 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental No art. 3º da PNMA (Política Nacional do Meio Ambiente), estão presentes os conceitos importantes a serem abordados no Direito Ambiental Brasileiro. Lei nº 6.938 de 31 de Agosto de 1981 Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente; III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental; V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. Em suma, temos cinco conceitos presentes nesse artigo. O de meio ambiente (inciso I), degradação de qualidade ambiental (inciso II), poluição (inciso III), poluidor (inciso IV) e recursos ambientais (inciso V). Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) Os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente estão previstos no art. 9º da Lei 6938/81. Art 9º - São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente: I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; II - o zoneamento ambiental; (Regulamento) III - a avaliação de impactos ambientais; IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; VI - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas; VII - o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente; VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental; 20 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental. X - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA; XI - a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzí-las, quando inexistentes; XII - o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais. XIII - instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro ambiental e outros. Temos também outros instrumentos para efetivação da PNMA. São eles: os padrões de qualidade ambiental e o zoneamento ambiental. Os padrões de qualidade ambiental são fixados pelo CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), conforme estabelece o art. 8º inc. VI e VII da PNMA (Lei 6938/81). Esses padrões são importantes na medida em que fixa metas no licenciamento e planeja os empreendimentos de acordo com padrões técnicos. Lei nº 6.938 de 31 de Agosto de 1981 Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Art. 8º Compete ao CONAMA: (Redação dada pela Lei nº 8.028, de 1990) VI - estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da poluição por veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante audiência dos Ministérios competentes; VII - estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos. O Zoneamento Ambiental, por sua vez, equivale ao que chamamos também de zoneamento ecológico econômico. Esse zoneamento estabelece as diretrizes gerais, os objetivos e alguns aspectos que devem ser levados em consideração para fixação dezenas de proteção ambiental. Então, divide-se o território em parcelas nas quais se autoriza determinas atividades ou se interdita de forma total ou parcial. Vale ainda ressaltar que o zoneamento ambiental não substitui o PDDU (Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano). O Sistema Nacional de Informações sobre Meio Ambiente consiste no Direito à Informação Ambiental. A Lei que confere acesso público aos dados e informações existentes nos órgãos e entidades do SISNAMA é a Lei Federal nº 10.650/13. O Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental é um cadastro de registro obrigatório para entidades que desenvolvam 21 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental atividades consideradas por lei como potencialmente poluidoras, utilizadoras de recursos ambientais ou que realizem atividades de defesa ambiental. A Servidão Ambiental está prevista no art. 9º-A da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). A servidão ambiental se dá quando o proprietário rural voluntariamente renuncia, em caráter permanente ou temporário, total ou parcialmente, o direito de uso, exploração ou supressão de recursos naturais existentes em sua propriedade. Para isso, há a necessidade de averbação no cartório de registro de imóveis, e não pode ser instituída em Área de Preservação Permanente (APP) ou Reserva Legal. Art. 9o-A. O proprietário ou possuidor de imóvel, pessoa natural ou jurídica, pode, por instrumento público ou particular ou por termo administrativo firmado perante órgão integrante do Sisnama, limitar o uso de toda a sua propriedade ou de parte dela para preservar, conservar ou recuperar os recursos ambientais existentes, instituindo servidão ambiental § 1o O instrumento ou termo de instituição da servidão ambiental deve incluir, no mínimo, os seguintes itens: I - memorial descritivo da área da servidão ambiental, contendo pelo menos um ponto de amarração georreferenciado; II - objeto da servidão ambiental; III - direitos e deveres do proprietário ou possuidor instituidor: IV - prazo durante o qual a área permanecerá como servidão ambiental. § 2o A servidão ambiental não se aplica às Áreas de Preservação Permanente e à Reserva Legal mínima exigida. § 3o A restrição ao uso ou à exploração da vegetação da área sob servidão ambiental deve ser, no mínimo, a mesma estabelecida para a Reserva Legal. § 4o Devem ser objeto de averbação na matrícula do imóvel no registro de imóveis competente: I - o instrumento ou termo de instituição da servidão ambiental; II - o contrato de alienação, cessão ou transferência da servidãoambiental. § 5o Na hipótese de compensação de Reserva Legal, a servidão ambiental deve ser averbada na matrícula de todos os imóveis envolvidos. § 6o É vedada, durante o prazo de vigência da servidão ambiental, a alteração da destinação da área, nos casos de transmissão do imóvel a qualquer título, de desmembramento ou de retificação dos limites do imóvel. § 7o As áreas que tenham sido instituídas na forma de servidão florestal, nos termos do art. 44-A da Lei no 4.771, de 15 de setembro de 1965, passam a ser consideradas, pelo efeito desta Lei, como de servidão ambiental. Por fim, temos a Concessão Florestal. Essa concessão se dá nos termos da Lei 11.284/06, e é a delegação onerosa do direito de praticar manejo florestal sustentável de Florestas Públicas. 22 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental A TCFA é a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental, prevista no art. 17 da PNMA. Art. 17-B. Fica instituída a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA, cujo fato gerador é o exercício regular do poder de polícia conferido ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA para controle e fiscalização das atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos naturais. Art. 17-C. É sujeito passivo da TCFA todo aquele que exerça as atividades constantes do Anexo VIII desta Lei. § 1o O sujeito passivo da TCFA é obrigado a entregar até o dia 31 de março de cada ano relatório das atividades exercidas no ano anterior, cujo modelo será definido pelo IBAMA, para o fim de colaborar com os procedimentos de controle e fiscalização. § 2o O descumprimento da providência determinada no § 1o sujeita o infrator a multa equivalente a vinte por cento da TCFA devida, sem prejuízo da exigência desta. Art. 17-F. São isentas do pagamento da TCFA as entidades públicas federais, distritais, estaduais e municipais, as entidades filantrópicas, aqueles que praticam agricultura de subsistência e as populações tradicionais. Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA A Lei 6938/81 criou um sistema integrado de ordem administrativa focados na proteção do sistema especifico do meio ambiente. É o conjunto de órgãos e instituições vinculadas ao Poder Executivo que são encarregados de O SISNAMA possui no seu órgão superior o Conselho de Governo, no órgão central o Ministério do Meio Ambiente, no órgão consultivo e deliberativo o CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), no órgão executor em nível federal temos o IBAMA e o ICMBIO, no órgão seccional temos os órgãos Estaduais em nível de Estado membro, e nos órgãos locais temos os órgãos municipais em nível municipal. Na Bahia, temos um órgão executor que se chama INEMA (Instituto Estadual do Meio Ambiente); e em Salvador temos um órgão chamado SEDUR. A junção e coordenação de todos esses órgãos trazem a ideia de como o sistema nacional de meio ambiente se organiza. No Brasil, temos uma legislação que permite a cooperação entre esses órgãos. Fazendo uma analogia, uma das questões que mais são vistas no Brasil é a falta de cooperação e integração entre as polícias no combate ao tráfico. Pensando nisso e tendo isso como uma realidade, a Lei Complementar 140/11 (Lei do Meio Ambiente) foi criada como uma forma de permitir a cooperação entre os entes da federação em matéria de Direito Ambiental. A Lei Complementar 140/11 visa proteger melhor o meio ambiente em conjunto com uma parceria e integração entre os Estados Membros. Os instrumentos de cooperação incluem os consórcios públicos, os convênios, 23 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental acordos de cooperação técnica, a criação de comissões tripartite nacional, tripartite estadual e bipartite do DF, fundos públicos e privados, e a delegação de atribuições e execução de um ente federativo a outro. Art. 4o Os entes federativos podem valer-se, entre outros, dos seguintes instrumentos de cooperação institucional: I - consórcios públicos, nos termos da legislação em vigor; II - convênios, acordos de cooperação técnica e outros instrumentos similares com órgãos e entidades do Poder Público, respeitado o art. 241 da Constituição Federal; III - Comissão Tripartite Nacional, Comissões Tripartites Estaduais e Comissão Bipartite do Distrito Federal; IV - fundos públicos e privados e outros instrumentos econômicos; V - delegação de atribuições de um ente federativo a outro, respeitados os requisitos previstos nesta Lei Complementar; VI - delegação da execução de ações administrativas de um ente federativo a outro, respeitados os requisitos previstos nesta Lei Complementar. Art. 5o O ente federativo poderá delegar, mediante convênio, a execução de ações administrativas a ele atribuídas nesta Lei Complementar, desde que o ente destinatário da delegação disponha de órgão ambiental capacitado a executar as ações administrativas a serem delegadas e de conselho de meio ambiente. O inciso V e VI são os incisos que serão estudados, tendo em vista que são aqueles que mais geram polêmica e problemas na aplicação prática. Esses incisos permitem que um ente repasse a outro ente federativo a realização de uma atribuição em seu nome. Exemplo: a matéria de portos e navios em regiões portuárias é de competência privativa da União, portanto, do IBAMA. O IBAMA, por vezes delega essa atividade aos Estados por meio de isenção de tributos ou algo do tipo. Entretanto, o que ocorre é que várias vezes não há compromisso e responsabilidade dos Estados no que tange a cumprir as tarefas que lhes foram delegadas. No art. 5º dessa mesma Lei que tratamos, estão enumerados os requisitos para a delegação da qual trata os incisos V e VI: dentre esses requisitos, temos que o ente que for receber a atribuição deve ter um órgão capacitado para realização daquelas atividades que lhes foram delegadas. O órgão capacitado seria aquele que possui seus técnicos próprios ou em consórcio, devidamente habilitados e em número compatível com a demanda das ações administrativas a serem delegadas. Outro requisito é que o ente que vai receber essa tarefa deve ter um Conselho do Meio Ambiente, que deve ser um Conselho de caráter deliberativo e participativo. Exemplo: a licença ambiental para atividade de mineração no Brasil é de competência do Estado Membro (no caso da Bahia, o INEMA). Vamos supor que o Estado da Bahia (INEMA) transferiu para o município de Ipiaú a competência para administrar o empreendimento do minério. Diogo ganhou a outorga para minerar no município de Ipiaú da Bahia; esse município tem um órgão ambiental que é composto pelo secretário, secretária do secretário e por técnicos ambientais (professora, açougueiro e advogado). Diogo, então, entrou com um 24 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental pedido de licença ambiental nessa mina respeitando esse acordo feito entre o INEMA e o município, porém teve a sua licença negada. A sua decisão administrativa decisória de licença ambiental foi negada também em recurso. O que acontece, nesse caso, é que o pedido de licença ambiental não pode ser analisado pelo corpo técnico em questão: o órgão técnico existe, mas não possui profissionais/técnicos habilitados para tal. As possibilidades de saída, nesse caso, seria recorrer na via administrativa (onde a decisão já foi negada), ou impetrar mandado de segurança pedindo a nulidade do ato pois houve uma violação ao direito líquido e certo de ter uma licença ambiental. O melhor remédio,então, seria uma ação anulatória culminada com uma ação declaratória de licença ambiental. Esse acordo, portanto, seria nulo, tendo em vista que no caso em questão o órgão ambiental não é competente. Tendo em vista todo o exposto, temos que sempre que tratamos de atividades delegadas, o primeiro passo é investigar a competência do município para aquele procedimento ambiental. União A União tem como órgãos consultivos o CONAMA, e como órgãos executivos o IBAMA e o ICMBIO (Instituto Chico Mendes da Biodiversidade). O CONAMA é um órgão consultivo e deliberativo. A ele, cabe assessorar e propor ao governo diretrizes políticas e governamentais para o meio ambiente. Na função consultiva, cabe ao CONAMA pura e simplesmente opinar. Na função deliberativa, o CONAMA decide no âmbito da sua competência sobre órgãos e padrões compatíveis com o meio ambiente. As deliberações do CONAMA são deliberações importantíssimas, pois são atos normativos, ou seja, atos administrativos de caráter geral e abstrato, com eficácia erga omnes. Os atos normativos do CONAMA são chamados de resoluções. Essas resoluções podem estabelecer normas e critérios para o licenciamento ambiental (Resolução 237), podem determinar e apreciar o EIA/RIMA (Resolução 0186), julgar recursos administrativos (Resoluções de Julgamento) e/ou determinar normas e padrões de qualidade ambiental. É fundamental entender o alcance e a possibilidade que o CONAMA tem para a União. A composição do CONAMA se dá por meio de uma união dos membros no plenário. Temos também, dentro do CONAMA, Câmaras Especiais Recursais, comitês, câmaras técnicas, grupos de trabalho e grupos assessoras. Uma das competências do CONAMA é que esse órgão é o órgão recursal do IBAMA. Sabemos que no Brasil uma lei pode tratar de apenas uma matéria, porém, temos a Lei 11.941/09 que originalmente trata da redução de alíquota, mas em um dos seus artigos revogou o artigo que trata da competência recursal do CONAMA. Discute-se, então, a (in) constitucionalidade dessa lei. Entretanto, mesmo com esse artigo revogada, a câmara de recursos do CONAMA continua trabalhando como se nada tivesse acontecido. O IBAMA é o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e é uma autarquia federal. O IBAMA possui um poder de polícia 25 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental ambiental e tem como atribuições executar ações das PNMA relativas a licenciamento ambiental, controlar a qualidade ambiental, autorizar o uso dos recursos naturais e fiscalização, monitorar e controlar o âmbito ambiental a partir de diretrizes do MMA, além de executar atribuições e ações relativas. Como o IBAMA estava sobrecarregado de atividades, foi criado o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), uma autarquia federal responsável por resolver uma atribuição que antes era do IBAMA, pois esse segundo órgão (o IBAMA) não mais dava conta da demanda que possuía. O ICMBIO, então, passou a ter como única e exclusivamente a atividade de exercer o poder de polícia sob unidades de conservação do âmbito federal. Estados-membros Os Estados-membros possuem, individualmente, seus próprios órgãos consultivos/consultores e executores. Na Bahia, o órgão consultivo é o CEPRAM e o órgão executor é o INEMA. O Sistema Estadual de Proteção Ambiental na Bahia tem como órgão central a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA). Além disso, tem como órgão deliberativo e consultivo o CEPRAM (Conselho Estadual de Meio Ambiente) e o CONERG (Conselho Estadual de Recursos Hídricos). Por fim, tem como órgão executor o antigo CRA e o INEMA (Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos). Municípios Os municípios possuem, individualmente, sistemas municipais de proteção ao meio ambiente. Em Salvador, temos o COMAM (Conselho Municipal do Meio Ambiente) como órgão consultivo/consultor, e como órgão executor temos o SEDUR. Procedimento do Licenciamento Ambiental O licenciamento ambiental é diferente da licença. O licenciamento ambiental é um procedimento administrativo, já a licença é o ato administrativo decorrente do procedimento do licenciamento. A lógica do licenciamento é prevenir; temos como fundamento para isso o Princípio da Precaução e o Princípio da Prevenção. É um ato de enorme carga de discricionariedade, de caráter definitivo e que pode gerar indenização ao particular em caso de cancelamento. O procedimento do Licenciamento Ambiental está previsto no art. 10, da Res. CONAMA 237/97. Esse artigo tem como atribuições previstas: Definir os documentos, projetos e estudos necessários; o O termo de referência é o rol de documentos e estudos ambientais que o órgão deve apresentar; Requerer a licença ambiental (princípio da publicidade); o Esse requerimento de licença se dá por certidão da prefeitura municipal e autorização para supressão de vegetação. É necessário também haver a sua publicização, seja em site ou em Diário Oficial; Analisar os documentos, projetos e estudos; 26 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental o É um procedimento de diálogo, não há como deferir sem a participação do requerente; Solicitar esclarecimentos e complementações; Audiência pública; Solicitar esclarecimentos e complementações sobre as audiências públicas; Emitir os pareceres técnicos conclusivos (é o parecer que analistas técnicos ambientais dos órgãos avaliam os pros e os contras daqueles empreendimentos) e os pareceres jurídicos (analisa se foram seguidas todas as regras do presente artigo); Deferir ou indeferir a solicitação, também seguindo o princípio da publicidade; A regra no Brasil é o procedimento trifásico, que veremos a seguir. Entretanto, pode-se criar procedimentos específicos de licença ambiental; por exemplo, podemos tratar a mineração como uma atividade que necessita de um procedimento específico para exercício. Esse procedimento específico para as licenças ambientais é de competência dos entes federativos, e a sua existência se dá pela necessidade de agilizar e simplificar os procedimentos ambientais. Para esses procedimentos específicos, deve-se observar o art. 12 do CONAMA 237/97. É necessário analisar a natureza, características e peculiaridades da atividade ou empreendimento; e compatibilizar o processo de licenciamento com as etapas de planejamento, implantação e operação. Como abordado anteriormente, temos que os licenciamentos ambientais no Brasil são trifásicos. Ou seja, passam por três fases (a licença prévia, a licença de instalação, e a licença de operação). Para cada uma dessas licenças, é necessário passar por todo o procedimento de licenciamento ambiental novamente. Entretanto, nem todos os processos de empreendimento necessitam passar por essas três etapas; a construção de um hotel, por exemplo, não causa tantos danos e impactos ambientais como a construção de uma ponte. Licença prévia •A licença prévia está prevista no art. 8º, inciso I do CONAMA 237/97. Uma vez que o agente consegue a licença prévia, o empreendedor tem a certeza de que o local e a concepção do projeto apresentado foram aprovados. Essa licenca, então, aprova a localização e a concepção do projeto. Essa licença tem validade de 5 (cinco) anos. Esse prazo equivale à possibilidade e ao prazo para solicitar a segunda licença, que é a licença de instalação. Licença de instalação •Uma vez que a licença de instalação é concedida ao empreendedor, ele pode construir aquilo que foi autorizado previamente. A instalação deve estar de acordo com as especificaçõesconstantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e as demais condicionantes. Essa licença tem validade de 6 (seis) anos. Isso quer dizer que em até seis anos a obra deve ser concluída. Licença de operação •Essa licença é a licença que autoriza a operação/funcionamento. É concedida quando o órgão autoriza a atividade daquele projeto/empreendimento ao verificar o efetivo cumprimento das licenças anteriores. A validade dessa licença é de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. 27 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental As renovações das licenças ambientais devem ser requeridas com antecedência mínima de 120 dias de expiração do prazo de validade fixado na respectiva licença. Caso a renovação seja feita no prazo correto e previsto em lei (art. 14º. §4º, da LC 140/11), a sua atividade é automaticamente prorrogada até a manifestação definitiva do órgão ambiental competente. Por outro lado, caso esse prazo não seja cumprido, o empreendimento deve imediatamente suspender o seu funcionamento. Prazos de análise para a concessão das Licenças Ambientais No Brasil, não existe a licença ambiental tácita. O que existe aqui são prazos para a análise da licença ambiental. Entretanto, mesmo que esses prazos não sejam cumpridos, não ocorre uma concessão tácita. O prazo para o poder público conceder ou não a licença ambiental é de 6 (seis) meses a contar da data do requerimento. Se o órgão ambiental exigir que o empreendedor apresente junto ao requerimento um Estudo de Impacto Ambiental (EIA), o prazo sobe para 12 (doze) meses, tendo em vista que o procedimento é mais complexo. O prazo fica suspenso em duas hipóteses. A primeira hipótese é durante a elaboração dos estudos ambientais. A segunda hipótese é na preparação de esclarecimentos pelo empreendedor. Ainda, não ocorre decurso de prazo sem a emissão da licença, pois configura-se a competência supletiva dos outros entes nas hipóteses previstas no art. 15 da LC 140/11, que estabelece competências para a fiscalização ambiental. A grosso modo, temos que a competência sempre será do ente “imediatamente superior”. Caso inexista órgão capacitado ou conselho de meio ambiente no município, é competência do Estado. Caso não exista no Estado, é competência da União. Caso não exista no DF, também é competência da União. Art. 15. Os entes federativos devem atuar em caráter supletivo nas ações administrativas de licenciamento e na autorização ambiental, nas seguintes hipóteses: I - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado ou no Distrito Federal, a União deve desempenhar as ações administrativas estaduais ou distritais até a sua criação; II - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Município, o Estado deve desempenhar as ações administrativas municipais até a sua criação; III - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado e no Município, a União deve desempenhar as ações administrativas até a sua criação em um daqueles entes federativos. Se o requerente der causa à parada do processo por um ano, o processo será arquivado. Ou seja, a demora do atendimento das solicitações do órgão ambiental pelo requerente gera arquivamento do processo. 28 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental Modificação, suspensão e cancelamento da licença ambiental A modificação, suspensão e cancelamento da licença ambiental se dá por hipóteses previstas no art. 19, CONAMA 237/97. I. A violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas legais gera cancelamento ou suspensão. a. Por exemplo, se Diogo recebe uma licença de instalação e violou uma condicionalmente da licença prévia, pode ter licença de instalação suspensa ou cancelada. II. A omissão ou falta descrição de informações relevantes que subsidiaram a expedição da licença gera cancelamento ou suspensão. a. Por exemplo, Diogo sabe que se disser que a construção daquele prédio vai matar espécies em extinção que vivem naquele subsolo, então ele omite essa informação do órgão competente para prosseguir com o seu empreendimento. III. A superveniência de graves riscos ambientais e de saúde gera cancelamento e modificação. a. Por exemplo, se no âmbito da superveniência ambiental descobrir-se um risco ambiental ou de saúde que não havia sido notado anteriormente, a licença pode ser cancelada ou modificada. Ainda, no Brasil, há a possibilidade de indenização ou compensação financeira ao empreendedor nesses casos. Se o empreendedor violou ou omitiu uma informação (conforme as duas primeiras hipóteses), o agente não tem direito a nenhuma indenização, e muito pelo contrário, pois é como se fosse uma penalidade. Entretanto, na terceira hipótese, caso o órgão perceba a superveniência de graves riscos ambientais e de saúde, há a possibilidade de indenização ou de compensação financeira ao agente. Competência para o Licenciamento Ambiental A competência para conceder uma licença ambiental é um assunto muito complexo. Cada ente federativo tem um raio de competência. Em tese, a Constituição deu a todos os entes da federação capacidade de exercitar o seu poder de polícia ambiental. Os requisitos para os entes licenciarem estão previstos no art. 15, LC 140/11. É possuir conselhos de Meio Ambiente, através de lei, de caráter deliberativo e participativo. Na União, esse órgão é o CONAMA. Na Bahia, esse órgão é o CEPRAM. Em Salvador, esse órgão é o CONAM. Além disso, esses órgãos devem possuir quadros de profissionais legalmente habilitados. Art. 15. Os entes federativos devem atuar em caráter supletivo nas ações administrativas de licenciamento e na autorização ambiental, nas seguintes hipóteses: I - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado ou no Distrito Federal, a União deve desempenhar as ações administrativas estaduais ou distritais até a sua criação; 29 Anotações por Marília Mattos Direito Ambiental II - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Município, o Estado deve desempenhar as ações administrativas municipais até a sua criação; e III - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado e no Município, a União deve desempenhar as ações administrativas até a sua criação em um daqueles entes federativos. No Brasil, não existe o licenciamento ambiental superposto. Isso quer dizer que os empreendimentos e atividades serão licenciados ou autorizados apenas por um único ente federativo. Os demais entes federativos interessados podem manifestar-se ao órgão responsável pela licença ou autorização, de maneira não vinculante, conforme art. 13 da LC 140/11. Art. 13. Os empreendimentos e atividades são licenciados ou autorizados, ambientalmente, por um único ente federativo, em conformidade com as atribuições estabelecidas nos termos desta Lei Complementar. § 1o Os demais entes federativos interessados podem manifestar-se ao órgão responsável pela licença ou autorização, de maneira não vinculante, respeitados os prazos e procedimentos do licenciamento ambiental. § 2o A supressão de vegetação decorrente de licenciamentos ambientais é autorizada pelo ente federativo licenciador. § 3o Os valores alusivos às taxas de licenciamento ambiental e outros serviços afins devem guardar relação de proporcionalidade com o custo e a complexidade do serviço prestado pelo ente federativo. Os critérios utilizados para distribuição
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