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BERENICE- CAP 8- DANO MORAL

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DIAS, MARIA BERENICE. Manual de direito das famílias. 8ªed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011.
CAPÍTULO 8- DANO MORAL
“Há uma acentuada tendência de ampliar o instituto da responsabilização civil. O eixo desloca-se do elemento do fato ilícito para, cada vez mais, preocupar-se com a reparação do dano injusto”. 118
Há uma tendência atual de se expandirem os direitos da personalidade, o que acarreta numa aumento proporcional das hipóteses de ofensas indenizáveis.
“Visualiza-se abalo moral diante de qualquer fato que possa gerar um desconforto, aflição, apreensão ou dissabor”. 118
Para João Batista Villela o amor está para o direito de família assim como o acordo de vontades está para o direito dos contratos. Por esse motivo, quer-se transformar a desilusão pelo fim dos vínculos afetivos (separação, por exemplo) em obrigação indenizatória. 119
“Com a extinção instituto da separação, fica afastada a perquirição da culpa para a dissolução do vínculo matrimonial”. 119
“Fatores socioculturais e de ordem religiosa é que serviam de justificativa para a busca da identificação de um culpado para o fim da relação. A tentativa era manter a função institucional do casamento como meio de preservar a família, tida como cellula mater da sociedade. Por isso, a legislação pátria sempre consagrou o princípio da culpa como único fundamento para a dissolução coacta do casamento.” 119
Hoje o divórcio não admite perquirir causas.
Sempre que um ilícito estiver relacionado com o fim do casamento, há obrigação indenizatória. 
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
	A anulação do casamento por erro essencial ou infração dos deveres do casamento não necessariamente enseja reparação.
	A jurisprudência não alberga o posicionamento de boa parte da doutrina do direito de família de que a simples inobservância dos direitos do casamento configura dano indenizável. “Ninguém pode ser culpado por deixar de amar” 120. O cúmplice também não pode ser de modo algum responsabilizado.
“Somente ocorrerá a responsabilidade civil se presentes todos os seus elementos essenciais: dano, ilicitude e nexo causal” 120/121.
A causa de constituição dos vínculos afetivos não é a vontade mas o afeto.
 “Quando o amor acaba, não há possibilidade de impor responsabilidade indenizatória. Impor tal espécie de obrigação constituiria verdadeiro obstáculo à liberdade de entrar e sair do casamento ou da união estável” 121.
8.1 Deveres do casamento e da união estável
A lei impõe deveres e assegura direitos tanto no casamento como na união estável: 
Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:
I - fidelidade recíproca;
II - vida em comum, no domicílio conjugal;
III - mútua assistência;
IV - sustento, guarda e educação dos filhos;
V - respeito e consideração mútuos.
Art. 1.724. As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos.
“A violação desses direitos não constitui, por si só, ofensa à honra e à dignidade do consorte, a ponto de gerar obrigação indenizatória por danos morais.” 121.
Parte da doutrina se posiciona, e a autora aceita, que a violação de deveres do casamento pode ensejar indenização quando “tais posturas, ostentadas de maneira pública, comprometerem a reputação, a imagem e a dignidade do par, cabe a indenização por danos morais. No entanto, é mister a comprovação dos elementos caracterizadores da culpa – dano, culpa e nexo de causalidade-, ou seja, que os atos praticados tenham sido martirizantes, advindo profundo mal-estar e angustia.” 122.
8.2 Dano moral e alimentos
Obrigação de alimentar não se confunde com danos morais. Aquela não possui natureza indenizatória mas de necessidade de sustento.
Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.
§ 1º Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.
§ 2º Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia.
“Os alimentos só podem ser exigidos pelo cônjuge que prova necessidade, ao passo que a reparação civil pode ser exigida independentemente da situação econômica do prejudicado” José de Aguiar Dias 123.
8.3 Noivado e namoro
Cabe indenização quando o fim é premeditado, feito de má fé, com o objetivo de magoar um dos amantes... Principalmente se houver repercussão pública e consequente dano à honra objetiva.
Há quem defenda a indenização quando um dos cônjuges rompe de forma danosa e inesperada às vésperas ou na hora do casamento. Euclides Oliveira 125.
Há quem se posicione no sentido de só é possível a indenização por danos materiais e não morais, tendo em vista as providências tomadas devido a expectativa do casamento.
8.4 Perda de uma chance
“Trata-se de modalidade autônoma de dano, que configura a reparabilidade em razão da subtração da oportunidade de se obter um benefício futuro ou de se evitar um prejuízo, independente da certeza absoluta do resultado final” 125.
Não se confunde com lucros cessantes.
Ex.: mulher que esconde que está grávida e se casa com outro. Ex-marido perdeu a chance de aproveitar a paternidade.
“É indispensável a presença dos pressupostos comuns da responsabilidade civil (conduta, culpa, dano e nexo de causalidade), pois necessário que o demandate comprove a perda da vantagem sofrida, indicando as probabilidades sonegadas pelo ato culposo do ofensor” Rafael Peteffi da Silva 126.

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