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APOSTILA DPC I

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Princípios constitucionais do direito processual civil
Eles ocupam-se especificamente com a conformação do próprio processo, assim entendido o método de exercício da função jurisdicional. São eles que fornecem as diretrizes mínimas, embora fundamentais, de como deve se dar o próprio comportamento do Estado-juiz. Eles prescrevem, destarte, o “modo de ser” (mais precisamente, de “dever-ser”) do processo na perspectiva constitucional.
Acesso à justiça
O primeiro dos princípios constitucionais do processo civil que deve ser exposto é o usualmente chamado de “acesso à justiça” e tem como sinônimos “acesso à ordem jurídica justa”, “inafastabilida- de da jurisdição” ou “inafastabilidade do controle jurisdicional”. Ele quer significar o grau de abertura imposto pela CF para o direito processual civil. Grau de aber- tura no sentido de ser amplamente desejável, no plano constitucional, o acesso ao Poder Judiciário. É o que se lê, com todas as letras, do inciso XXXV do art. 5o da CF: “A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
Devido processo legal (devido processo constitucional)
o princípio do “devido processo legal” volta-se, basicamente, a indicar as condições mínimas em que o desenvolvimento do processo, isto é, o método de atuação do Estado-juiz para lidar com a afirmação de uma situação de ameaça ou lesão a direito, deve se dar. Ele é expresso no inciso LIV do art. 5o da CF: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”.
Contraditório (cooperação)
O princípio do contraditório vem expresso no inciso LV do art. 5o da CF: “aos litigantes, em proces- so judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. O núcleo essencial do princípio do contraditório compõe-se, de acordo com a doutrina tradicional, de um binômio: “ciência e resistência” ou “informação e rea ção”. O primeiro desses elementos é sempre indispensável; o segundo, eventual ou possível. É desejável, contudo, ir além, até para distinguir o contraditório da ampla defesa. Contraditório deve ser entendido como possibilidade de participação e colaboração ou cooperação ampla de todos os sujeitos processuais ao longo de todo o processo.
Ampla defesa
O mesmo inciso LV do art. 5o da CF, que faz expressa referência ao princípio do contraditório, lista, também como princípio constitucional, o da ampla defesa com os recursos a ela inerentes. a garantia de todo e qualquer réu (nomenclatura mais utilizada para o processo civil) ter condições efetivas, isto é, concretas de se responder às imputações que lhe são dirigidas antes que seus efeitos decorrentes possam ser sentidos. Os “recursos a ela inerentes”, a que se refere o inciso LV do art. 5o da CF, devem ser entendidos como a criação de mecanismos, de formas, de técnicas processuais, para que a ampla defesa seja exercitada a contento.
Juiz natural
O “princípio do juiz natural” – por vezes também chamado de “princípio da vedação dos tribunais de exceção” – encontra fundamento expresso em dois dispositivos da CF, nos incisos XXXVII e LIII, ambos do art. 5o, os quais, respectivamente, prescrevem que: “não haverá juízo ou tribunal de exceção” e “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”. O “princípio do juiz natural” diz respeito, assim, à identificação do juízo, isto é, do órgão jurisdicional
constitucionalmente competente. É fundamental, destarte, compreender em que condições a CF cria e aceita determinados órgãos jurisdicionais para julgar determinados assuntos, determinadas pes- soas e assim por diante. Será “juiz natural” aquele que a Constituição indicar como competente ou, quando menos, quando ela, a CF, permitir que o seja.
Imparcialidade
O “princípio da imparcialidade” não tem previsão expressa na CF. A doutrina, contudo, não hesita em entendê-lo como decorrência do “princípio do juiz natural” ou, mais corretamente, como fator que o complementa.
Duplo grau de jurisdição
De todos os princípios constitucionais do direito processual, o mais difícil de ser identificado é o do “duplo grau de jurisdição”. Isso, basicamente, porque não há consenso na doutrina sobre sua extensão e significado, o que é agravado porque a CF não se refere a ele expressamente. Se em determinado caso concreto, a opção do CPC de 2015 em restringir a recorribilidade das interlocutórias da primeira instância, submetendo-as imediatamente ao Tribunal respectivo, violar algum direito do jurisdicionado, o princípio do duplo grau deverá preponderar e, nesse sentido, dar fundamento ao cabimento de um sucedâneo recursal que possa, naquele específico caso, suprir a deficiência do sistema recursal. O mais comum, nesses casos, é o uso do mandado de segurança contra ato judici- al.
Colegialidade nos Tribunais
Por “princípio da colegialidade” deve ser entendido que a manifestação dos Tribunais brasileiros deve ser colegiada no sentido de não poder ser realizada por um só de seus membros isoladamente ou, como se costuma dizer, monocraticamente. Decisão colegiada não deve ser entendida, contudo, como a decisão tomada necessariamente e em qualquer caso pela totalidade dos integrantes do Tribunal ao mesmo tempo.
Reserva do Plenário para declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo
Uma manifestação inequívoca do “princípio da colegialidade” é a reserva de plenário para declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo. Em rigor, mais que um princípio, trata-se de uma regra de competência estabelecida pelo art. 97 da CF, segundo o qual: “Somente pelo voto da maioria abso- luta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público”.
Isonomia
O princípio da isonomia ou da igualdade é basilar na organização do Estado brasileiro. É expresso sobre ele o caput e o inciso I do art. 5o, assim como, tendo em conta o Estado-administração, o art. 37, caput, e, com os olhos voltados à função tributária do Estado, o art. 150, II, todos da CF. A isonomia ou igualdade deve ser entendida no sentido de que o Estado-juiz (o magistrado, que o representa) deve tratar de forma igualitária os litigantes. Seja dando-lhes igualdade de condições de manifestação ao longo do processo, seja criando condições para que essa igualdade seja efetivamente exercitada.
Publicidade
O princípio da publicidade vem expresso no inciso LX do art. 5o da CF: “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem”. Ele também consta dos incisos IX
e X do art. 93 da CF, ambos com a redação que lhes deu a EC n. 45/2004, respectivamente: “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fun- damentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determina- dos atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação” A publicidade, tal qual exigida constitucionalmente, tem sentido duplo. A primeira acepção é a de que o direito brasileiro não admite julgamentos “secretos”.
Motivação
O princípio da motivação, também chamado de princípio da fundamentação, tem previsão expressa nos mesmos incisos IX e X do art. 93 da CF, os quais expressam o princípio da publicidade. Essa pe- culiaridade, contudo, não é suficiente para tratar os dois princípios como se eles fossem um só, embo- ra possa ser traçada alguma relação entre ambos. O princípio da motivação expressa a necessidade de toda e qualquer decisão judicial ser explicada, fundamentada e justificada pelo magistrado que a proferiu, levando em conta o direito aplicável e as vicissitudes do caso concreto.
Vedação das provas ilícitas ou obtidas por meios ilícitos
O “princípio da vedação das provas ilícitas” é expresso no inciso LVI do art. 5o da CF. De acordocom o dispositivo, “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos”. O que o princípio quer proteger, acima de tudo, é a intimidade das pessoas nos termos amplos do inciso X do mesmo art. 5o. O referido inciso LVI permite a distinção entre “provas ilícitas” e entre provas obtidas por meios ilícitos. Prova ilícita é aquela que, em si mesma considerada, fere o ordenamento jurídico. Assim, por exemplo, a tortura, expressamente proibida pelo inciso III do art. 5o da CF. Prova obtida por meios ilícitos é aquela que, como meio de prova, é admitida ou tolerada pelo sistema, mas cuja forma de obtenção, de constituição, de formação, fere o ordenamento jurídico. Bem ilustra a situação o desrespeito ao sigilo de correspondência ou a oitiva de conversas telefônicas não autorizada nos termos da lei (art. 5o, XII, da CF).
Assistência jurídica integral e gratuita
Trata-se de princípio expressamente previsto no inciso LXXIV do art. 5o da CF: “O Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos” e que permite reduzir, se não eliminar, obstáculos financeiros que privariam o economicamente hipossuficiente de adequado acesso à Justiça. O inciso LXXVII do art. 5o determina que “são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cida- dania”.
Duração razoável do processo (eficiência processual)
O inciso LXXVIII do art. 5o da CF, introduzido pela EC n. 45/2004, dispõe que “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. A razoável duração do processo deve ser compreendida invariavelmente levando em conta as especificidades de cada caso concreto.
Efetividade do processo (efetividade do direito pelo e no processo)
O princípio da efetividade do processo, por vezes denominado de efetividade da jurisdição, também encontra seu fundamento na locução contida no inciso XXXV do art. 5o da CF de que a lei não exclui- rá nenhuma lesão ou ameaça a direito da apreciação do Poder Judiciário. a razão pela qual me parece mais adequado propor, para substituir a tradicional expressão “efetividade do processo”, outra, que coloca ênfase onde ela deve ser posta: efetividade do direito pelo e no processo. Não se trata,
enfatizo, de entender “efetivo” o processo em si mesmo considerado. A efetividade do processo mede-se pela sua capacidade de tornar reais (concretizados) os direitos controvertidos, ameaçados ou lesionados.
NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL
São as normas que querem ser fundantes não só do próprio Código mas também de todo o direito processual civil. À exceção do art. 12, os demais dispositivos encontram assento expresso, às vezes com o emprego do mesmo texto, no “modelo constitucional do direito processual civil” e, nesse sentido, seriam, todos desnecessários, a começar pelo principal deles, o art. 1o. O CPC de 2015, em seus onze primeiros dispositivos, acolhe – e o faz expressamente – essa forma de pensar, normatizando-a. A lei, nesse sentido, deve-se adequar, necessariamente, ao atingimento daqueles fins; não o contrário. E o CPC de 2015 não está imune a esse contraste nem a essa crítica, não obstante e justamente por força do seu art. 1o.
O princípio da inércia da jurisdição
O art. 2o, ao estabelecer que “o processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei”, agasalha, em primeiro lugar, o princípio da inércia da jurisdição. Na perspectiva infraconstitucional, o mesmo art. 2o dá ensejo à construção do consagrado “princípio dispositivo” ou da “inércia jurisdicional”, basilar ao direito processual civil, amalgamando em um só dispositivo o que no CPC de 1973 vinha veiculado em seus arts. 2o e 262. As “exceções previstas em lei” são os casos em que o ordenamento impõe a predominância do “princípio inquisitório”, isto é, em que a atuação oficiosa do magistrado é admitida (em rigor, é imposta). Tal atuação, contudo, não significa – e não pode querer significar – dispensa ou eliminação de pré- vio contraditório, exigência esta que, na perspectiva do CPC de 2015, é enfatizada pelos arts. 9o e 10, reiterando, no particular, o que, superiormente, decorre diretamente do art. 5o, LIV, da CF.
Acesso à justiça e meios alternativos de solução de conflitos
O caput do art. 3o (“Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito”) traz à mente o art. 5o, XXXV, da CF. Trata-se do princípio do “acesso à Justiça” ou da “inafastabilidade da jurisdição”, na perspectiva, que ora, interessa. As exceções feitas pelos parágrafos – da arbitragem e dos “meios alternativos (ou consensuais) de solução de conflitos” – são plenamente compatíveis com o referido princípio e devem ser – como, felizmente, são – incentivadas pelas leis processuais civis e, de maneira absolutamente incisiva e revela- dora, também pelo CPC de 2015. Prova segura da afirmação está na obrigatoriedade, como regra, de audiência de conciliação ou de mediação como um dos primeiros atos a serem praticados no procedi- mento comum (art. 334, caput e § 4o, I).
Princípio da eficiência processual
O art. 4o reproduz, no plano infraconstitucional, o “princípio da eficiência processual” constante do art. 5o, LXXVIII, da CF, incluído pela EC n. 45/2004, Aqui, cabe enfatizar, em caráter de absoluta essencialidade, a compreensão de que o precitado dis- positivo constitucional não busca um processo rápido no sentido de que somente o tempo (o menor) de sua duração, independentemente de quaisquer outros fatores é relevante. Chama a atenção, na letra do art. 4o, a expressa inclusão, pertinente, da “atividade satisfativa” ao lado (e sem prejuízo) da “solução integral do mérito”. É o reconhecimento expresso, pelo CPC de 2015, da compreensão das bandeiras do neoconcretismo quanto a não poder a ênfase recair apenas na etapa cognitiva do processo Por isso mesmo, o art. 4o também tem sua função didática ao permitir compreender mais adequada- mente o “processo sincrético”, indubitavelmente albergado pelo CPC de 2015, assim compreendido o processo que se divide em fases (ou etapas) sem solução de continuidade, nas quais se distribuem “atividades cognitivas” (de conhecimento) e “atividades satisfativas” (de cumprimento ou de execu- ção) de diversa ordem, mas sempre com a finalidade principal de verificar para quem a tutela jurisdicional deve ser prestada e também criar condições de sua efetiva prestação, isto é, a satisfação do direito tal qual reconhecido existente pelo Estado-juiz.
A boa-fé objetiva
O art. 5o impõe a todos os que participarem do processo – todos os sujeitos processuais, portanto – o dever de comportar-se de acordo com a boa-fé. Trata-se de boa-fé objetivamente considerada e, por isso, vai além dos deveres de probidade de que trata o art. 77 e, de resto, não se confunde com e nem se restringe às diversas situações em que a ausência de boa-fé subjetiva é reprimida pelo CPC de 2015. A doutrina ensina que a boa-fé objetiva é verdadeira cláusula geral – e é tratada como tal pelo art. 5o–, que encerra uma série de comportamentos desejados ou esperados dos agentes em geral e aqui, no plano do processo, de todos os sujeitos processuais que, em última análise, conduzem à proteção da confiança legítima. De acordo com a primeira faceta, a boa-fé objetiva é elemento que deve ser levado em conta necessariamente na interpretação dos atos A segunda faceta da boa-fé objetiva acima destacada relaciona-se a outros princípios como o da le- aldade processual. Trata-se, nesse contexto, de entendê-la como meio que enaltece o necessário cum- primento dos deveres processuais que garantam o atingimento daqueles valores, vedando quaisquer abusos processuais.. Não há espaço para duvidar da importância da compreensão da boa-fé objetiva nos amplos moldes que acabei de anunciar e de sua função, em boa hora tornada expressa pelo art. 5o. Não obstante, importa constatar que o referido art.5o não deve permitir o transporte, puro e simples, de formulações típicas do direito privado para o campo processual onde, quando considerado em si mesmo, predomina o direito público. Uma coisa é entender (corretamente) que os sujeitos do proces- so, todos eles, devam se comportar de acordo com standards de boa-fé objetiva, de lealdade e de etici- dade, até por causa (se não em função) dos princípios do devido processo constitucional e da cooperação (art. 6o). Na perspectiva do magistrado, até mesmo a moralidade que deve permear toda atuação estatal (art. 37, caput, da CF) merece ser levada em conta para tanto, para fundamentar o dever de atu- ar de boa-fé, com lealdade e com a eticidade desejadas e hipertrofiadas.
Princípio da cooperação (modelo cooperativo de processo)
O art. 6o trata do “princípio da cooperação”, querendo estabelecer um modelo de processo coopera- tivo – nitidamente inspirado no modelo constitucional – vocacionado à prestação efetiva da tutela jurisdicional, com ampla participação de todos os sujeitos processuais, do início ao fim da atividade ju- risdicional. O CPC de 2015 apresenta inúmeras aplicações concretas do princípio da cooperação naquelas quatro facetas, permitindo, com segurança, atestar que ele já implementou verdadeiro modelo de processo cooperativo. Assim, por exemplo, quando o magistrado antes de indeferir a inicial indica precisamente o que, no seu entender, macula aquele ato processual e deve ser corrigido sob pena de indeferimento (art. 321) – dever de esclarecimento; quando o juiz determina a prévia oitiva das partes para só depois decidir (art. 9o), ainda que se trata de matéria que ele deva apreciar de ofício (art. 10) – dever de con- sulta; quando o magistrado busca suprir a ausência de pressupostos processuais e, mais amplamente, de outros vícios que podem comprometer a prestação da tutela jurisdicional (arts. 139, IX, e 317), in- clusive no âmbito recursal (art. 932, parágrafo único) – dever de prevenção; e no que diz respeito à modificação do ônus da prova diante dos pressupostos do art. 373, §§ 1o e 2o – dever de auxílio.
Princípio da isonomia (paridade de armas)
O art. 7o, ao estatuir ser “... assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório”, assegura, em primazia o “princípio da isonomia”, sem deixar de evidenciar, desde logo – e sem prejuízo do que dispõem os seus arts. 9o e 10 Paridade no sentido de ser viabilizada, ao magistrado, iguais chances aos sujeitos do processo ao longo de todo o processo. Bilateralidade no sentido de que o magistrado deve ouvir em igualdade de oportunidade os sujeitos do processo ao longo de todo o processo.
Hermenêutica do direito processual civil
O art. 8o busca aprimorar e atualizar, para as escolas hermenêuticas atualmente em voga – sobretu- do as de índole constitucional –, os arts. 4o e 5o da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. diretrizes que devem guiar o magistrado na interpretação – e, consequente- mente, na aplicação – do ordenamento jurídico em cada caso concreto que lhe é submetido para análi- se e decisão. São elas: o atendimento aos fins sociais e às exigências do bem comum resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana (que dialogam, em última análise, com os princípios fundantes do Esta- do brasileiro, expressados pelo art. 3o da CF). Para atingimento daquela finalidade, o magistrado ob- servará a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência (que permitirão a escorreita concreção da norma jurídica à luz do caso concreto, o que é bastante para afastar, em ple- na harmonia com o art. 140, o non liquet). Importa acentuar, a despeito do silêncio do art. 8o, que cabe ao magistrado, sempre e invariavelmen- te, também contrastar a constitucionalidade das leis, formal e substancialmente, para atender o dispos- to no art. 1o, o que, no âmbito dos Tribunais, por imposição do art. 97 da CF, deve ser observado no procedimento regulado pelos arts. 948 a 951 do CPC de 2015.
Princípio do contraditório
O art. 9o ocupa-se com os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa (art. 5o, LV, da CF). Enfatizando o que decorre diretamente do “modelo constitucional do direito processual civil”, todas
as decisões devem ser proferidas apenas depois de ser franqueado o prévio contraditório a seus destinatários. É enfático o caput do dispositivo: “não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida”. O objetivo do dispositivo é viabilizar a prévia participação dos destinatários da decisão. Participa- ção no sentido de os destinatários terem condições efetivas de influir ou de influenciar o conteúdo da decisão a ser proferida. A iniciativa redunda, como se vê do art. 10, na expressa vedação das chamadas “decisões-surpresa”. Nas hipóteses do parágrafo único do art. 9o, é importante frisar, o que ocorre é mero postergamento do contraditório, diante da escolha feita (validamente) pelo legislador sobre a preponderância momen- tânea de outro princípio, no caso, o da efetividade do processo, efetividade do direito material pelo processo. Não se trata – e nem poderia, sob pena de atrito não só com o referido dispositivo, mas, superiormente, com o “modelo constitucional” e o alcance do inciso XXXV do art. 5o da CF – de eliminação do contraditório.
Ainda e mais o contraditório: vedação das decisões-surpresa
O art. 10, aplicando (e desenvolvendo) o que se pode extrair do art. 9o, quer evitar o proferimento das chamadas “decisões-surpresa”, isto é, aquelas decisões proferidas pelo magistrado sem que tenha permitido previamente às partes a oportunidade de influenciar sua decisão e, mais do que isso, sem permitir a elas que tivessem conhecimento de que decisão como aquela poderia vir a ser proferida. A vedação, novidade textual do CPC de 2015, é expressa: “O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício”.
Princípios da publicidade e da fundamentação
O art. 11, que encontra fundamento bastante no inciso IX do art. 93 da CF, refere-se ao “princípio da publicidade” e do “princípio da motivação”. A fundamentação, por sua vez, refere-se à necessidade de o magistrado explicar suficientemente nas decisões que profere as razões de seu convencimento. Inovação importante trazida pelo CPC de 2015 acerca da questão está naquilo que o art. 11 não enuncia. Refiro-me, em especial, ao § 1o do art. 489 que, embora de forma indireta (e pela negativa), indica em que situações as decisões judiciais não es- tão suficientemente motivadas. A exceção veiculada no parágrafo único do art. 11 sobre o segredo de justiça (“nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente das partes, de seus advogados, de defensores públi- cos ou do Ministério Público”) harmoniza-se com o referido dispositivo constitucional sendo certo, todavia, que de acordo com a própria previsão constitucional, o sigilo não pode prejudicar “o interesse público à informação”. Cabe ao magistrado, consoante as peculiaridades de cada caso concreto conju- gar aqueles dois valores opostos (intimidade e interesse público à informação) para bem concretizar a norma constitucional e a codificada
Ordem cronológica de conclusão
A última “norma fundamental do processo civil”, na visão do CPC de 2015, é a ordem cronológica para o proferimento de sentenças e/ou acórdãos, prevista no art. 12, que deve ser compreendido como regra de organização do gabinete dos magistrados e bem intencionada, não o nego, com vistas a criar maior publicidade – se se quiser transparência – no gerenciamento dos pro- cessos prontos para proferir sentença ou acórdão, até como forma de tornar mais eficiente a prestação jurisdicional e assegurar a isonomiaentre os litigantes a partir da eleição de critério adequado para tanto. O dispositivo, como acabei de acentuar, quer criar condições objetivas de controlar a ordem dos pro- cessos nos gabinetes judiciais. Por ele, os magistrados devem proferir sentenças (na primeira instân- cia) ou acórdãos (nos Tribunais) com observância da ordem cronológica da conclusão, disponibilizada a lista respectiva, para fins de controle, ao público em geral no próprio cartório ou secretaria judicial, e também na rede mundial de computadores (§ 1o). Para garantir o cumprimento do art. 12, há expressa previsão para que o escrivão ou chefe de secre- taria observe a ordem cronológica de recebimento para publicação e efetivação dos pronunciamentos judiciais, mantendo lista para consulta pública (art. 153). De outra parte, e com o mesmo intuito, o § 5o do art. 1.046, situado no Livro Complementar do CPC de 2015 impõe que a primeira lista de processos para julgamento em ordem cronológica observará a antiguidade da distribuição entre os já conclusos na data de sua entrada em vigor.
APLICAÇÃO DAS NORMAS PROCESSUAIS
O art. 13, que abre o Capítulo II do Título Único do Livro I da Parte Geral do CPC de 2015, dispõe que a jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas as disposições espe- cíficas previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil seja parte. O art. 14 estabelece a irretroatividade da norma processual e a sua aplicabilidade imediata aos pro- cessos em curso. Também impõe o respeito aos atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada, o que traz à mente o disposto no inciso XXXVI do art. 5o da CF e a proteção ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito lá estabelecida. A primeira parte do art. 14 agasalha expressamente o princípio do tempus regit actum, que deve ser entendido como a incidência imediata das novas leis no processo em curso com a preservação dos atos processuais já praticados. A regra é harmônica com o caput do art. 1.046, que estabelece expressamen- te a aplicação imediata do CPC de 2015 aos processos em curso com a sua entrada em vigor (art. 1.045), com a expressa revogação do CPC de 1973. O art. 15, ao encerrar o Capítulo II do Título Único da Parte Geral do CPC de 2015, quer acentuar o caráter supletivo (no sentido de complementar aquelas normas, suprindo suas lacunas) e o subsidiário (no sentido de auxiliar e de contribuir na compreensão daquelas outras normas) da nova codificação aos demais processos jurisdicionais – o dispositivo faz referência expressa ao processo trabalhista e ao processo eleitoral – e ao processo administrativo.
TEORIA DA AÇÃO (NCPC) PROCESSO CIVIL
• ACEPÇÕES DA PALAVRA AÇÃO
1) AÇÃO = DIREITO DE AÇÃO → para a primeira acepção, o direito de ação é um direito fundamental: o direito de acesso à justiça, de submeter um determinado problema à solução jurisdicional. Decorre do princípio da inafastabilidade: o direito de ação é um direito abstrato de levar ao Judiciário qualquer alegação de violação a direito. - Visualizar duas situações: o direito de provocar o Judiciário (direito de ação, provocado contra o Estado) e o direito que se afirma ter quando se provoca o Judiciário (direito afirmado, provocado contra o réu). Percebe-se que o direito de ação é autônomo em relação ao direito afirmado: o sujeito pode ir ao Judiciário sem ter razão, mas tem o direito de provocá-lo. - O direito de ação contém o direito de acesso a uma ordem jurídica devida e justa (devido processo legal). - O direito de ação é um direito de conteúdo complexo ou compósito. Instaurado o processo, surgem novas situações jurídicas. Ex.: direito de provocar a atividade jurisdicional, de tornar alguém réu, de provar o alegado, de escolher o procedimento a ser adotado, de obter uma resposta do Judiciário, de recorrer, dentre vários outros.
2) AÇÃO = DIREITO MATERIAL AFIRMADO → para essa acepção, ação é o direito que se alega ter quando se vai ao Judiciário (ação em sentido material). Contudo, sabe-se que direito de ação e direito afirmado são distintos e autônomos: o direito de ação é abstrato, pois independe do conteúdo do que se afirma quando se provoca a jurisdição.
3) AÇÃO = DEMANDA → na primeira e na segunda acepções, a ação é um direito. Aqui, ela é um ato, um agir: o EXERCÍCIO DO DIREITO DE AÇÃO. A demanda instaura o processo e define os limites da atuação jurisdicional. O ato de demandar é o exercício do direito de ação com a afirmação de um outro direito (direito afirmado). Toda demanda é um ato concreto, porque se refere sempre a pelo menos um direito afirmado. Esta é a acepção sobre que nos debruçaremos: os elementos da ação são, na verdade, os elementos da demanda, cujo conteúdo é uma relação jurídica (direito afirmado).
• A DEMANDA E A RELAÇÃO JURÍDICA SUBSTANCIAL
- Em toda demanda, há no mínimo a afirmação de um direito. Esse direito afirmado se chama res judicium deducta (a coisa que foi deduzida em juízo) e o processo serve para transformar aquilo que foi deduzido em res judicata (coisa julgada): transformar o deduzido em julgado. Inexistindo ao menos a afirmação de uma relação jurídica de direito material, o ato demanda não terá conteúdo, será um recipiente vazio. O direito afirmado é o conteúdo da demanda (relação jurídica), o objeto do processo.
• ELEMENTOS DA AÇÃO: PARTES, PEDIDO E CAUSA DE PEDIR
1) PARTES → ser parte do processo é estar no processo agindo com parcialidade.
PARTE PROCESSUAL PARTE MATERIAL PARTE LEGÍTIMA É aquela que está em uma relação jurídica processual, faz parte do contraditório, atuando com parcialidade e podendo sofrer alguma consequência com a decisão. CONCEITO QUE DEVE SER UTILIZADO.
Sujeito da situação jurídica discutida em juízo. Pode ou não ser a parte processual. Casos de legitimação extraordinária.
Tem autorização para estar em juízo discutindo determinada situação jurídica. Atenção: parte ilegítima também é parte porque pode alegar sua própria ilegitimidade.
- Em geral, são partes principais o autor e o réu. Parte auxiliar é aquela que, apesar de parcial, não formulou o pedido ou não teve o pedido contra si formulado (caso do assistente). Há também a parte em um incidente do processo (ex.: o juiz é parte de um incidente de suspeição). - Carnelutti fala da parte complexa (incapaz ou pessoa jurídica + representante).
2) PEDIDO → será estudado em outro capítulo.
3) CAUSA DE PEDIR → será estudado em outro capítulo.
• CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES
1) Ações reais e pessoais → a ação é real quando a relação jurídica (causa de pedir próxima) for um direito real. Quando for um direito pessoal, a ação será pessoal. Essa classificação leva em conta o direito afirmado.
2) Ações mobiliárias ou imobiliárias → a ação será mobiliária quando tiver como objeto de pedido um móvel, e imobiliária quando tiver como objeto um imóvel. - Uma ação mobiliária ou imobiliária pode ter como causa de pedir tanto um direito real como um direito pessoal. Existem direitos reais sobre móveis e direito reais sobre imóveis, e direitos pessoais sobre móveis e direitos pessoais sobre imóveis. Temos a tendência de pensar que os direitos reais são sempre para bens imóveis. O despejo, por exemplo, é fundado num direito pessoal, mas o objeto é um imóvel.
3) Ação de conhecimento, ação cautelar e ação de execução → depende do tipo de tutela jurisdicional pretendido: certificação de direito (conhecimento), efetivação de direito (execução) ou proteger a efetivação de um direito (cautelar). A classificação perdeu importância porque as demandas têm assumido natureza sincrética e servindo a vários tipos de tutela e propósitos.
4) Ações dúplices → no sentido processual, ação dúplice é sinônimo de pedido contraposto. Nos Juizados Especiais, o réu pode formular um pedido contra o autor no bojo da contestação. - O que importa, contudo, é o sentido material: QUANDO UMA AÇÃO É MATERIALMENTE DÚPLICE, A DEFESA DO RÉU É O EXERCÍCIO DE UM DIREITO SEU, OU SEJA, AO SE DEFENDER, JÁ ESTÁ
AFIRMANDOUM DIREITO PRÓPRIO. No sentido processual, o réu se defende e formula um pedido contraposto ao autor (são coisas diferentes). Na ação materialmente dúplice, o fato de o réu se defender já é a afirmação de um direito. Pensar no cabo de guerra: as equipes se defendem e atacam ao mesmo tempo. A defesa do réu não vai ser só defesa, mas também puxar a corda pra o lado dele. O réu que se defende numa ação que não é dúplice só quer não perder; numa ação materialmente dúplice, o réu sai com algo que ele não tinha (ele não apenas “não perde”). Ex. um pai vai a juízo oferecendo alimentos a seu filho (R$ 1000). O filho se defende e diz que mil reais não é um valor suficiente, que é necessário o valor de R$ 1500. Essa defesa, por si só, já é uma afirmação de um direito dele. Se o juiz disser que, de fato, devem ser pagos apenas os mil reais, o pai ganhou, mas quem executa a sentença é o réu. A definição do valor dos alimentos é um problema que qualquer um dos dois poderia ter levado ao Judiciário. - TODA AÇÃO MERAMENTE DECLARATÓRIA É MATERIALMENTE DÚPLICE. Eu peço que o juiz declare que existe uma relação jurídica. A defesa do réu será dizer que ela não existe (uma ação declaratória contrária). Uma ação é materialmente dúplice a depender do direito que eu afirme ter. O que torna a ação materialmente dúplice não é o procedimento, mas o tipo de direito. - São materialmente dúplices: ação de usucapião, ADI e ADC, ação de consignação em pagamento, ação declaratória de inexistência de relação jurídica tributária, ação declaratória de união estável. - A ação possessória é uma ação duplamente dúplice (em ambos os sentidos) porque o réu, além de se defender do pleito possessório (no qual já afirmará sua posse, ou seja, o seu próprio direito – materialmente dúplice), poderá formular um pedido de indenização contra o autor, no bojo da contestação (pedido contraposto – processualmente dúplice).
• CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES DE CONHECIMENTO
- DIREITO A UMA PRESTAÇÃO é o poder jurídico de exigir de outrem o cumprimento de uma prestação (uma CONDUTA), que pode ser um FAZER, NÃO FAZER, DAR DINHEIRO OU DAR COISA. O direito a uma prestação precisa ser concretizado no mundo físico. É um direito que só se executa com a realização da conduta devida, com ATOS MATERIAIS. - Quando o sujeito passivo não cumpre a prestação, fala-se em inadimplemento (os direitos a uma prestação são os únicos que podem ser inadimplidos). A tutela executiva pressupõe inadimplemento. - Somente o direito a uma prestação se submete à prescrição. A possibilidade de exigir de outrem uma prestação chama-se pretensão. - Executar é satisfazer uma prestação devida. A execução pode ser voluntária ou forçada. Ela pode realizar-se com o devedor simplesmente adimplindo, voluntariamente; ou pode ser forçada através do Judiciário.
EXECUÇÃO DIRETA EXECUÇÃO INDIRETA A DECISÃO EXECUTIVA impõe uma prestação ao réu e prevê uma medida coercitiva direta. Não precisa da colaboração do executado: o Estado-juiz se substitui ao devedor e realiza a prestação por ele. É também chamada de execução por sub-rogação.
A DECISÃO MANDAMENTAL impõe uma prestação ao réu e prevê uma medida coercitiva indireta. A execução indireta atua na vontade do executado para que ele mesmo cumpra a prestação. Para isso, o Estado se vale de coações psicológicas: medo (ex.: prisão civil e multa coercitiva) ou incentivo (ex.: sanções premiais,
Medidas sub-rogatórias: desapossamento, transformação, expropriação etc.
como a isenção de custas e honorários para que o réu cumpra o mandado monitório). O resultado buscado é o mesmo: a tutela jurisdicional executiva. As formas com que se buscam essa tutela é que se distinguem. A tendência atual é a de prestigiar os meios executivos indiretos (menos onerosos).
- Vamos ver agora a evolução das ações de prestação. - 1973: as ações de prestação eram ações de pura declaração, ou seja, você ia ao Judiciário obter uma decisão que reconhecia o seu direito a uma prestação. Essa decisão lhe permitia a instaurar um novo processo apenas para executá-la. Em regra, as ações de prestação à época eram NÃO SINCRÉTICAS, eram AÇÕES CONDENATÓRIAS, que tinham o propósito de gerar um título para ser executado depois. Ação condenatória é aquela em que se afirma a titularidade de um direito a uma prestação e pela qual se busca a certificação e a efetivação desse mesmo direito, com a condenação do réu ao cumprimento da prestação devida. - Sucede que alguns procedimentos especiais inseriam atos executivos no próprio processo de conhecimento. Ex.: mandado de segurança, ações possessórias, ação de nunciação de obra nova. Essas ações sincréticas eram divididas em duas espécies: AÇÕES MANDAMENTAIS (se efetivavam por execução indireta) e AÇÕES EXECUTIVAS EM SENTIDO AMPLO (se efetivavam por execução direta). Ambas visam à efetivação de uma prestação devida e se distinguem pela técnica executiva utilizada. - Com a generalização da tutela antecipada, o legislador passou a prever a prática de atos executivos no procedimento padrão. Ambas são espécies da ação condenatória. - Conclusões: AC (regra geral, não sincrética) + AM e AESA (exceção, sincréticas). - Havia quem dissesse que essa tripartição das ações de prestação era indevida e que todas as ações de prestação deveriam chamar-se de ações condenatórias porque todas são substancialmente idênticas, porque todas servem à prestação de um direito. As variações técnicas não justificariam essa divisão.
- 1994 (primeira grande reforma do CPC): o legislador tornou sincréticas todas as ações de PRESTAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER (passaram a ter “força executiva própria”). Nesse sentido, alguns diziam que como todas as ações de prestação de fazer e de não fazer são sincréticas, não há mais ação condenatória de fazer e de não fazer, porque ou eram mandamentais ou executivas em sentido amplo. Por outro lado, outros continuavam a afirmar que não há porque fazer essa distinção já que todas são condenatórias, o legislador muda a técnica, mas não muda a substância. - Fortaleceram-se as noções de sentença mandamental e sentença executiva como sendo modelos de decisões sincréticas.
- 2002 (segunda etapa da reforma do CPC): o legislador tornou sincréticas todas as ações para ENTREGA DE COISA (art. 461-A). De um lado, havia aqueles que diziam que não existe mais ação condenatória para entrega de coisa, já que agora são todas sincréticas. Para essa parte da doutrina, apenas restavam as ações condenatórias de prestação de dar dinheiro. Outra parte continuava afirmando que todas as ações eram condenatórias, não havendo motivo para a tripartição. Art. 287 do CPC (redação antiga): foi retirado o verbo “condenar”.
- 2005: tornaram-se sincréticas as AÇÕES DE DAR DINHEIRO, ou seja, agora TUDO VIROU SINCRÉTICO. A Lei 11.232/05 criou a fase de cumprimento da sentença. - As regras da execução de título extrajudicial aplicam-se subsidiariamente, no que couber, ao cumprimento ou execução da sentença.
CONDENATÓRIAS FAZER e NÃO FAZER ENTREGA DE COISA ENTREGA DE DINHEIRO (não sincréticas) tornam-se sincréticas tornam-se sincréticas tornam-se sincréticas
1973 1994 2002 2005
MAJORITÁRIA (3) ADA PELLEGRINI (4) CARLOS ALBERTO ALVARO (5)
Constitutiva Declaratória Condenatória (mandamentais e AESA são espécies)
Constitutiva Declaratória Mandamental AESA
Constitutiva Declaratória Condenatória Mandamental AESA
- A teoria ternária (majoritária) não distingue diferenças no conteúdo de sentenças condenatórias, executivas lato sensu e mandamentais. Em todas elas há a imputação de cumprimento de uma prestação ao réu, havendo diferença somente na forma de satisfação dessa prestação. - Nota-se que para Ada Pellegrini, não existe mais a ação condenatória. - Carlos Alberto Alvaro de Oliveira entende necessária a tripartição das ações de prestação, mesmo que todas sejam sincréticas, fazendo-se uma tripartição de acordo com o tipo de prestação. Para essa corrente, ação condenatória é ação de prestação pecuniária; a ação mandamental é ação para fazer e não fazer; e ação executiva em sentidoamplo são as ações para entrega de coisa.
- Diferentemente do direito a uma prestação, o DIREITO POTESTATIVO É O DIREITO QUE ALGUÉM TEM DE SUBMETER OUTREM À ALTERAÇÃO, CRIAÇÃO OU EXTINÇÃO DE SITUAÇÕES JURÍDICAS (“ESTADO DE SUJEIÇÃO”). O direito potestativo efetiva-se NORMATIVAMENTE: basta a decisão judicial para que ele se realize, sem qualquer ato material. Exatamente por operarem no mundo jurídico, não precisam de execução, pois não há prestação devida. Não há ato material a ser praticado, não há prestação (conduta) do sujeito passivo. Por isso, são direitos que não podem ser violados, inadimplidos. Ex.: direito à invalidação do ato jurídico, direito ao divórcio, à resolução do negócio, direito de decidir uma sentença, direito de casar. É por isso que se diz que “sentença constitutiva, que diz respeito a um direito potestativo, não é título executivo”. - Chiovenda diz que o direito potestativo é um direito-meio: é um meio de remover um direito existente (extintivo) ou é um instrumento (“tentáculo”) de um direito-possível que aspira surgir. O direito potestativo esgota-se com o seu exercício. - Os direitos potestativos submetem-se, se houver previsão legal, a prazos decadenciais. - AÇÃO CONSTITUTIVA é a demanda que tem o objetivo de obter a certificação e efetivação de um direito potestativo. - As ações constitutivas costumam ser ações que produzem efeitos apenas para frente, eficácia ex nunc. Nada impede, porém, que o direito atribua à ação constitutiva uma eficácia retroativa, é excepcional, mas pode ocorrer.
- Atenção: a efetivação de um direito potestativo pode gerar um direito a uma prestação. Isso porque a situação jurídica criada após a efetivação de um direito potestativo pode ser exatamente um direito a uma prestação. Ex.: a decisão que rescinde uma sentença que já fora executada gera, por efeito anexo, o direito do executado à indenização pelo exequente dos prejuízos que lhe foram causados em razão da execução malsinada. Essa decisão tem aptidão para transformar-se em título executivo, pois torna certa a obrigação de indenizar, que ainda é ilíquida, impondo-se a liquidação.
DIREITOS A UMA PRESTAÇÃO DIREITOS POTESTATIVOS Efetiva-se no mundo físico com atos materiais (fazer, não fazer, dar dinheiro ou dar coisa).
Efetiva-se no mundo jurídico com a alteração, criação ou extinção de uma situação jurídica. Prazos prescricionais. Prazos decadenciais. Ação condenatória. Ação constitutiva. Podem ser inadimplidos e, nesse caso, executados (satisfação da prestação).
Não podem ser inadimplidos e executados. A própria sentença constitutiva já certifica e efetiva o direito potestativo.
- Já analisamos a ação condenatória nos direitos a uma prestação e a ação constitutiva nos direitos potestativos. Agora vamos analisar a terceira ação de conhecimento: ação declaratória. - Na AÇÃO DECLARATÓRIA pede-se o reconhecimento da existência, da inexistência de uma relação jurídica ou o modo de ser dessa relação ou a declaração de autenticidade ou da falsidade de documento. Não se busca a efetivação de direito algum, nem direito à prestação, nem direito potestativo. O que se pretende é a mera declaração de certeza jurídica. - Vejamos o que o NCPC diz sobre a ação declaratória:
Art. 19. O interesse do autor pode limitar-se à declaração: I - da existência, da inexistência ou do modo de ser de uma relação jurídica; II - da autenticidade ou da falsidade de documento.
- Súmula 181 do STJ: é admissível ação declaratória, visando a obter certeza quanto à exata interpretação de cláusula contratual. - Também é admitida a ação declaratória para interpretar decisão judicial. - Fora o caso da declaração de autenticidade ou falsidade de documento (art. 19, II), não se admite ação meramente declaratória de fato. - Exemplos de ações declaratórias: ADC (ação declaratória de constitucionalidade), ação de usucapião, ação declaratória de inexistência de relação jurídica tributária, ação declaratória de inexistência de união estável, consignação em pagamento etc. - Exatamente porque se busca a mera certeza de uma relação, e não a prestação de um direito (prescrição) ou a afirmação de um direito potestativo (decadência), não se submetem a prazos. - O art. 20 do NCPC repete o art. 4o do CPC antigo, vejamos:
Art. 20. É admissível a ação meramente declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do direito.
- O exemplo continua o mesmo: caso Wladimir Herzog (jornalista judeu que apareceu morto numa cela em SP com uma corda no pescoço), em que Clarice Herzog, viúva, pediu ao Judiciário apenas o reconhecimento do direito à indenização, sem, porém, pedir a condenação da União ao pagamento. A União alegou falta de interesse e o Tribunal (TFR) entendeu que ela possuía o direito. Depois, Clarice resolveu pedir indenização com base na sentença. - Quando uma ação declaratória é ajuizada e a sentença declara a existência de direito a prestação exigível, ela terá força executiva. Não é necessário ajuizar outra ação condenatória. Nesse caso, é difícil distinguir de uma sentença de prestação. - O NCPC repete o que estava previsto no art. 475-N:
Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título: I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa;
- Atenção: o direito à declaração não prescreve, mas o direito à prestação sim. Ação meramente declaratória ajuizada quando já poderia ter sido ajuizada uma ação condenatória não interrompe a prescrição. Isso porque não houve comportamento do credor que revelasse a sua vontade de buscar a efetivação da prestação. E todos os fatos interruptivos da prescrição se justificam em um comportamento do credor direcionado ao cumprimento da prestação pelo sujeito passivo. Na ação declaratória, o demandante não anuncia o desejo de efetivar o seu direito após a certificação judicial. É diferente do que ocorre na ação condenatória, em que o comportamento do credor direciona-se ao cumprimento da prestação pelo sujeito passivo. Distinguir 3 situações:
AÇÃO DECLARATÓRIA SEM QUE TENHA HAVIDO LESÃO
AÇÃO DECLARATÓRIA QUANDO HOUVE LESÃO (ART. 20)
AÇÃO CONDENATÓRIA
Não há prescrição, pois não houve violação do direito.
Há prescrição, pois a violação do direito já ocorreu. O despacho que ordena a citação não interrompe a prescrição, pois não há pretensão à efetivação.
Há prescrição, que é interrompida pele o despacho que ordena a citação.
- Os efeitos da sentença declaratória são ex tunc (só declara o que já existe). Exceção: art. 27 da Lei 9.868/99, que permite a modulação temporal dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade.
• CONDIÇÕES DA AÇÃO
- Para o CPC-73, eram condições da ação a POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO, o INTERESSE DE AGIR e a LEGITIMIDADE AD CAUSAM. Assim, o processo era extinto sem resolução de mérito quando ausente alguma condição da ação (art. 267, VI). - A doutrina criticava: ou a questão é de mérito ou é de admissibilidade. O NCPC NÃO MENCIONA MAIS A CATEGORIA ‘CONDIÇÃO DA AÇÃO’. Isso não quer dizer que não haja nenhuma análise sobre o que correspondia à possibilidade jurídica do pedido, o interesse de agir e a legitimidade ad causam. Essas questões são analisadas, mas não mais dentro do assunto ‘condições da ação’, agora inexistente.
Nota: essa é a posição de Didier (livro-base desse resumo). Boa parte da doutrina ainda continua falando das condições da ação. - O NPCP NÃO MENCIONA MAIS A POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. A questão passa a ser examinada como hipótese de IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO, no capítulo respectivo.
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;
- Nota-se, então, que as antigas condições da ação ‘interesse de agir’ e ‘legitimidade ad causam’ agora permitem decisão de inadmissibilidade. Mas não são mais chamadas de ‘condições da ação’. Também não se fala mais em ‘carência de ação’. Na verdade, a legitimidade e ointeresse passarão a constar da exposição sistemática dos pressupostos de validade: O INTERESSE, COMO PRESSUPOSTO DE VALIDADE OBJETIVO EXTRÍNSECO; A LEGITIMIDADE, COMO PRESSUPOSTO DE VALIDADE SUBJETIVO RELATIVO ÀS PARTES.
CPC-73 NCPC Estudava-se o instituto da ‘condição da ação’, que abrangia a possibilidade jurídica, a legitimidade ad causam e o interesse processual. A ausência de uma condição levava à carência da ação e à extinção do processo sem resolução de mérito.
Não existe mais o instituto ‘condição da ação’. POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO → analisada como hipótese de improcedência liminar do pedido. INTERESSE DE AGIR → analisado como pressuposto de validade objetivo extrínseco. LEGITIMIDADE AD CAUSAM → analisado como pressuposto de validade subjetivo relativo às partes.
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS (NCPC) PROCESSO CIVIL
• PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA E REQUISITOS DE VALIDADE
- Pressupostos processuais são todos os elementos de existência, os requisitos de validade e as condições de eficácia do procedimento. É uma expressão consagrada na doutrina que engloba os PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA e os REQUISITOS DE VALIDADE. - Para que a relação jurídica processual exista (pressupostos de existência), basta que alguém (capacidade de ser parte) postule (demanda) perante um órgão investido de jurisdição (juiz). - O processo existe sem réu. Para ele, só poderá produzir alguma consequência jurídica se for validamente citado. - Pode-se falar em pressupostos de existência de cada um dos atos jurídicos que compõem o procedimento, independentemente da existência da relação jurídica processual. Ex.: se a sentença é proferida por um não-juiz, o processo existe, mas a sentença que não preencheu os elementos mínimos do seu suporte fático.
Subjetivos Juiz (órgão investido de jurisdição) EXISTÊNCIA Parte (capacidade de ser parte)
Objetivos – Demanda (objeto litigioso)
- O procedimento também tem seus requisitos de validade: a forma do ato deve ser respeitada bem como os sujeitos (juiz e parte) devem ser capazes.
VALIDADE
Subjetivos Juiz (competência e imparcialidade)
Partes (capacidade processual, postulatória e legitimidade ad causam) 
Objetivos Intrínseco (respeito ao formalismo processual)
Extrínseco
- Negativos: inexistência de perempção, litispendência, coisa julgada ou
convenção de arbitragem; - Positivo: interesse de agir (legitimidade + interesse processual).
- Nem toda falta de pressuposto processual leva ao juízo de inadmissibilidade do processo (ex.: reconhecida a incompetência, os autos vão para o juiz competente). - Nem toda falta de pressuposto processual pode ser conhecida de ofício (ex.: incompetência relativa, existência de convenção de arbitragem etc). - Nem toda falta de pressuposto processual pode ser conhecida a qualquer tempo ou grau de jurisdição (ex.: convenção de arbitragem, alegação da falta de citação). - Nem toda falta de pressuposto processual é defeito que não pode ser corrigido (sempre deve se buscar a correção do defeito processual). - Nem toda falta de um pressuposto processual impede a decisão de mérito. Nesse sentido:
Art. 488. Desde que possível, o juiz resolverá o mérito sempre que a decisão for favorável à parte a quem aproveitaria eventual pronunciamento nos termos do art. 485.
• PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA DO PROCESSO
1) CAPACIDADE DE SER PARTE → APTIDÃO GENÉRICA E ABSOLUTA DOS SUJEITOS DE DIREITO PARA SER SUJEITO DE UMA RELAÇÃO JURÍDICA OU ASSUMIR UMA SITUAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL . É A PERSONALIDADE JUDICIÁRIA. - Têm personalidade judiciária: pessoas físicas, pessoas jurídicas, condomínio, massa falida, espólio, nascituro, nondum conceptus (prole eventual), sociedade de fato, comunidades indígenas, sociedades irregulares, órgãos públicos como o MP, o Tribunal de Contas e a Defensoria Pública etc. - Noção absoluta: ou tem ou não tem personalidade judiciária. - NÃO SE EXIGE A CAPACIDADE DE SER PARTE DO RÉU. Como o processo nasce com a demanda, ele nasce sem a presença do réu em juízo. Diante da não indicação do réu, o juiz deve intimar para regularizar a petição inicial e, depois, se não o fizer, extinguirá o processo por defeito do instrumento da demanda.
2) ÓRGÃO INVESTIDO DE JURISDIÇÃO → se a demanda for “ajuizada” perante um não-juiz, o processo será inexistente.
3) DEMANDA → é o ato de pedir que delimita a prestação jurisdicional. O pedido e a causa de pedir são seus elementos. Já foi analisada no capítulo ‘Teoria da Ação’.
• REQUISITOS DE VALIDADE DO PROCESSO - SUBJETIVOS
1) CAPACIDADE PROCESSUAL → CAPACIDADE PARA ESTAR EM JUÍZO PESSOALMENTE OU ATRAVÉS DE PESSOAS INDICADAS NA LEI. - A capacidade processual pressupõe a capacidade de ser parte. É possível ter capacidade de ser parte e não ter capacidade para estar em juízo, mas não é possível ter capacidade para estar em juízo e não ter capacidade de ser parte.
Art. 70. Toda pessoa que se encontre no exercício de seus direitos tem capacidade para estar em juízo.
- Capacidade processual ≠ capacidade de ser parte: a processual pode existir para um ato e não existir para o outro, a de ser parte é genérica. - Nada impede que a lei crie situações de incapacidade material e capacidade material plena. Exemplos:
a) O incapaz sem representante tem capacidade processual para pedir a designação de um curador especial que o represente; b) O interdito tem capacidade processual para pedir o levantamento da interdição (art. 756, §1o, CPC);
c) O cidadão-eleitor com 16 anos, embora relativamente incapaz no âmbito civil, tem plena capacidade processual para ajuizar ação popular. - O estudo da capacidade processual abrange a REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL, a CAPACIDADE PROCESSUAL DAS PESSOAS CASADAS e CURATELA ESPECIAL.
- REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL → é uma forma de suprir a incapacidade processual. - O art. 71 reproduz o art. 8o do CPC-73:
Art. 71. O incapaz será representado ou assistido por seus pais, por tutor ou por curador, na forma da lei.
- Embora o art. 75 indique hipóteses de representação em juízo, há, no seu rol, hipóteses de REPRESENTAÇÃO E PRESENTAÇÃO:
UNIÃO AGU, diretamente ou mediante órgão vinculado Presentação. ESTADO E DF Procuradores Presentação. MUNICÍPIO Prefeito ou procurador Presentação. AUTARQUIA E FUNDAÇÃO DE DIREITO PÚBLICO
Quem a lei do ente federado designar Presentação.
MASSA FALIDA Administrador judicial Representação HERANÇA JACENTE OU VACANTE Curador Representação. ESPÓLIO Inventariante* Representação. PESSOA JURÍDICA Quem os respectivos atos constitutivos designarem
ou, não havendo essa designação, seus diretores
Presentação.
SOCIEDADE E ASSOCIAÇÃO IRREGULARES E OUTROS ENTES DESORGANIZADOS SEM PERSONALIDADE JURÍDICA**
Pessoa a quem couber a administração de seus bens
Representação.
PESSOA JURÍDICA ESTRANGEIRA Gerente, representante ou administrador de sua filial, agência ou sucursal aberta ou instalada no Brasil***
Presentação.
CONDOMÍNIO Administrador ou síndico Representação.
* Quando o inventariante for dativo, os sucessores do falecido serão intimados no processo no qual o espólio seja parte (§1o, basicamente reproduz o art. 12, §1o do CPC-73). Nesse caso, qualquer herdeiro poderá, em nome próprio, propor demanda para defender o condomínio que existe sobre a herança (a representação é conjunta). Isso porque o inventariante dativo é pessoa estranha à família. ** A sociedade ou associação sem personalidade jurídica não poderá opor a irregularidade de sua constituição quando demandada (§2o, basicamente reproduz o art. 12, §2o do CPC-73). A regra protege a boa-fé processual e evita o abuso do direito. *** O gerente de filial ou agência presume-se autorizado pela pessoa jurídica estrangeira a receber citação para qualquer processo (§3o, basicamente reproduz o art. 12, §3o do CPC-73). - As pessoas jurídicas têm capacidade processual, razão pela qual não são representadas, mas, sim, presentadas. Na representação há sempre, no mínimo, dois sujeitos. Com a pessoa jurídica em juízo isso não acontece, em regra. A relação entre a empresa e o órgão é orgânica, este faz parte dela e, porisso, não representam, mas a tornam presente (presentam). É apenas a materialização da empresa,
faz parte dela mesma e não diz respeito a outra pessoa. Quem age não é o representante da empresa, é a empresa. Ex.: pessoa/mão/murro. - Novidade do NCPC:
Art. 75, §4o. Os Estados e o Distrito Federal poderão ajustar compromisso recíproco para prática de ato processual por seus procuradores em favor de outro ente federado, mediante convênio firmado pelas respectivas procuradorias.
- Admite-se a interpretação analógica da regra, de modo a abranger as autarquias e fundações de direito público estaduais e distritais. A regra se estende também ao MP e às DP, que também podem celebrar convênios (ex.: DPU e DPE-RJ; MPF e MP-PE, etc). - O art. 242 cuida de duas situações em que se presume a representação processual do réu:
§1o Na ausência do citando, a citação será feita na pessoa de seu mandatário, administrador, preposto ou gerente, quando a ação se originar de atos por eles praticados. §2o O locador que se ausentar do Brasil sem cientificar o locatário de que deixou, na localidade onde estiver situado o imóvel, procurador com poderes para receber citação será citado na pessoa do administrador do imóvel encarregado do recebimento dos aluguéis, que será considerado habilitado para representar o locador em juízo.
- Cita-se ainda como caso de representação processual:
Art. 245. Não se fará citação quando se verificar que o citando é mentalmente incapaz ou está impossibilitado de recebê-la. §5o A citação será feita na pessoa do curador, a quem incumbirá a defesa dos interesses do citando.
- Os entes despersonalizados que não constam do art. 75 serão representados ou presentados em juízo pela pessoa que exerça as funções de administração, gerência, direção, liderança, conforme se constate no caso concreto. Ex.: a Câmara de Vereadores será presenteada por seu presidente; a tribo pelo cacique etc. - A INCAPACIDADE PROCESSUAL É SEMPRE SANÁVEL.
Art. 76. Verificada a incapacidade processual ou a irregularidade da representação da parte, o juiz suspenderá o processo e designará prazo razoável para que seja sanado o vício. §1o Descumprida a determinação, caso o processo esteja na instância originária: I - O processo será extinto, se a providência couber ao autor; II - O réu será considerado revel, se a providência lhe couber; III - O terceiro será considerado revel ou excluído do processo, dependendo do polo em que se encontre. §2o Descumprida a determinação em fase recursal perante TJ, TRF ou Tribunal Superior, o relator: I - Não conhecerá do recurso, se a providência couber ao recorrente;
II - Determinará o desentranhamento das contrarrazões, se a providência couber ao recorrido.
- Como se percebe, só a capacidade processual do autor pode ser vista como requisito processual de todo o procedimento, pois sua falta pode implicar a extinção do processo.
- RESTRIÇÃO DA CAPACIDADE PROCESSUAL DAS PESSOAS CASADAS → o regramento mudou muito pouco em relação ao CPC-73. Os art. 73 deve ser interpretado restritivamente, porque se trata de norma que limita o exercício de direitos. Vejamos:
Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens. §1o Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação: I - Que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens; II - Resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por eles; III - Fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família; IV - Que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre imóvel de um ou de ambos os cônjuges. §2o Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos praticado. §3o Aplica-se o disposto neste artigo à união estável comprovada nos autos.
Art. 74. O consentimento previsto no art. 73 pode ser suprido judicialmente quando for negado por um dos cônjuges sem justo motivo, ou quando lhe seja impossível concedê-lo. Parágrafo único. A falta de consentimento, quando necessário e não suprido pelo juiz, invalida o processo.
POLO ATIVO POLO PASSIVO O cônjuge necessita da CONSENTIMENTO do outro para PROPOR AÇÃO que verse sobre DIREITO REAL IMOBILIÁRIO, salvo em caso de separação absoluta de bens. Atenção: não é caso de litisconsórcio ativo necessário. Um pode ir sozinho, desde que o outro consinta. ‘Direito real imobiliário’ deve ser interpretado de forma ampla para abranger outras ações relacionadas com aqueles direitos (ex.: ações envolvendo hipoteca, a demolitória, a divisória, a nunciação etc). O consentimento pode vir de qualquer forma, por escrito, por outorga da procuração, pela subscrição da inicial. O consentimento pode ser suprido judicialmente quando for negado por um dos cônjuges sem justo motivo, ou quando lhe seja impossível concedê-lo. O pedido de suprimento judicial da outorga será processado de acordo com as regras da jurisdição voluntária.
Ambos os cônjuges serão necessariamente CITADOS (caso de litisconsórcio passivo necessário): I - DIREITO REAL IMOBILIÁRIO, salvo em caso de separação absoluta; II - Fato que diz respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por eles;
II - Dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família; III - Que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre imóvel de um ou de ambos os cônjuges.
AÇÕES POSSESSÓRIAS A participação do cônjuge do autor (consentimento, polo ativo) ou do réu (litisconsórcio necessário, polo passivo) somente é indispensável nos casos de COMPOSSE ou de ATO POR AMBOS PRATICADO.
A falta de consentimento, quando necessário e não suprido pelo juiz, invalida o processo. Assim, o juiz deve intimar pessoalmente o cônjuge supostamente preterido para, querendo, manifestar-se sobre a questão. O cônjuge pode ratificar os atos praticados ou negar expressamente o consentimento (o processo poderá ser extinto sem exame do mérito, em razão da invalidação). Se ficar em silêncio, haverá consentimento tácito.
O cônjuge não ouvido poderá ingressar no processo e pedir a anulação dos atos até então praticados, ajuizar ação rescisória, se já houver trânsito em julgado ou, ainda, ajuizar querela nullitatis, se não tiver sido citado em ação real ou possessória imobiliária proposta contra seu cônjuge.
Tudo isso se aplica à UNIÃO ESTÁVEL COMPROVADA NOS AUTOS. Comprovada = registrada por escritura pública ou reconhecida por decisão judicial. Não se pode aceitar a aplicação do dispositivo à união estável comprovada por qualquer modo. O terceiro ficaria desprotegido, em razão da ausência do registro. Embora o convivente possa estar de boa-fé, deve-se prestigiar o terceiro.
- CURADOR ESPECIAL → é um representante processual ad hoc. Age em nome alheio para a defesa de interesse alheio.
Art. 72. O juiz nomeará curador especial ao: I - Incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses deste colidirem com os daquele, enquanto durar a incapacidade; II - Réu preso revel, bem como ao réu revel citado por edital ou com hora certa, enquanto não for constituído advogado. Parágrafo único. A curatela especial será exercida pela Defensoria Pública, nos termos da lei.
CURADOR ESPECIAL INCAPAZ, SE NÃO TIVER REPRESENTANTE LEGAL, OU SE OS INTERESSES DESTE COLIDIREM COM OS DAQUELE
RÉU PRESO REVEL E RÉU REVEL CITADO POR EDITAL OU COM HORA CERTA, ENQUANTO NÃO FOR CONSTITUÍDO ADVOGADO A nomeação de curador especial não dispensa a intervenção do MP (art. 178, II, NCPC). Incapazes em ambos os polos: um curador especial para cada. A curatela aplica-se às pessoas jurídicas e aos entes formais, quando o órgão que a presente ou pessoa que a represente não puder praticar os atos processuais necessários à sua defesa.
A curatela é justificada pela ausência física do réu revel, seja porque foi citado fictamente, seja porque está preso (equilíbrio docontraditório). Se o réu revel comparecer, cessa a atuação do curador. Se a revelia decorreu de citação inválida, a atuação do curador especial não tem aptidão de corrigir o defeito, que poderá ser arguido por querela nullitatis. Quanto ao réu revel preso, atenção à mudança: não basta estar preso, tem que estar revel. O CPC-73 não exigia a revelia do réu preso para a nomeação de curador especial. Nos dois casos, se o revel tiver constituído advogado, cessam as funções do curador especial.
- O curador é especial porque a representação se dá apenas naquele processo e enquanto durar a incapacidade. Também é chamado de curador à lide. Seu objetivo é suprir a incapacidade processual, por imposição legal. A falta de designação do curador implica nulidade do procedimento desde então. - A curatela especial é sempre temporária: no máximo, dura até o trânsito em julgado da decisão. Todavia, pode ocorrer um fato que encerre antes disso: cessação da incapacidade, nomeação do representante legal, aparecimento do réu revel, constituição de advogado, etc.
- A curatela especial deve ser exercida prioritariamente pela Defensoria Pública. Se não houver, pode ser exercida por qualquer pessoa capaz, inclusive o advogado ou o MP. O exercício da curatela é um múnus, do qual deve desincumbir-se o curador, sob pena de responsabilidade funcional. O juiz poderá, inclusive, designar outro curador especial, para substituir o primeiro que se comportar de maneira negligente. - Em regra, a curatela especial não supre a capacidade postulatória. Se o curador for defensor público (regra), MP ou advogado, a capacidade postulatória estará suprida. Se for outra pessoa capaz, deverá constituir advogado. - Nomeado um advogado, nada impede que ele substabeleça as tarefas de advogado a outro patrono. Não poderá delegar a função de curador especial (indelegável, função pública). - Na remota hipótese de a curatela especial ser exercida pelo MP, dois promotores devem atuar no feito, um para ser curador especial e outro para ser fiscal da lei (função imparcial). - O curador especial tem FUNÇÃO DEFENSIVA.
O CURADOR ESPECIAL PODE... O CURADOR ESPECIAL NÃO PODE...
Contestar e recorrer; Impetrar mandado de segurança contra ato judicial; Embargar a execução; Promover chamamento ao processo.
Propor reconvenção; Formular pedido contraposto; Promover denunciação da lide nos casos de evicção; Transigir, renunciar ou reconhecer a procedência do pedido (dispor do direito material).
- Assim como ocorria no CPC-73, o curador especial não tem o ônus da impugnação especificada dos fatos afirmados na petição inicial, podendo formular defesa genérica:
Art. 314, parágrafo único. O ônus da impugnação especificada dos fatos não se aplica ao defensor público, ao advogado dativo e ao curador especial.
- Oferecida a contestação, o autor não poderá, sem o consentimento do réu, desistir da ação (art. 485, §4o, NCPC). Assim, é imprescindível o consentimento do réu, representado pelo curador especial, à proposta de revogação da demanda feita pelo autor.
2) CAPACIDADE POSTULATÓRIA → é o jus postulandi, capacidade técnica exigida para a prática dos atos processuais. Costuma ser privativa dos ADVOGADOS, DEFENSORES PÚBLICOS e MEMBROS DO MP. - Há atos processuais que não exigem a capacidade postulatória. Ex.: ato de testemunhar, ato de indicar bens à penhora. A capacidade postulatória somente é exigida para a prática de alguns atos processuais, os atos postulatórios (pelos quais se solicita do Estado-juiz alguma providência). - A falta de capacidade postulatória é caso de nulidade do ato. Se for relativa ao autor, implica extinção do processo; se for relativa ao réu, o prosseguimento do processo à sua revelia; se for relativa a terceiro, a sua revelia ou exclusão da causa. - No caso de ato praticado por advogado sem procuração, não há incapacidade postulatória (o ato foi praticado por um advogado). O que não há é a prova da representação voluntária. Nesse caso, o ato não é nulo. Trata-se de ato cuja eficácia em relação ao suposto representado submete-se a uma condição legal suspensiva, a ratificação.
- Os advogados públicos estão dispensados de apresentação da procuração, pois a representação judicial lhes é conferida pela lei que fixou as funções do seu cargo. No mesmo sentido, o defensor público está autorizado a postular sem procuração, ressalvada a prática de atos que exijam poderes especiais (art. 44, XI, LC 80/1994).
Art. 103. A parte será representada em juízo por advogado regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil. Parágrafo único. É lícito à parte postular em causa própria quando tiver habilitação legal.
Art. 104. O advogado não será admitido a postular em juízo sem procuração, salvo para evitar preclusão, decadência ou prescrição, ou para praticar ato considerado urgente. §1o Nas hipóteses previstas no caput, o advogado deverá, independentemente de caução, exibir a procuração no prazo de 15 dias, prorrogável por igual período por despacho do juiz. §2o O ato não ratificado será considerado ineficaz relativamente àquele em cujo nome foi praticado, respondendo o advogado pelas despesas e por perdas e danos.
Art. 105. A procuração geral para o foro, outorgada por instrumento público ou particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, exceto receber citação, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar quitação, firmar compromisso e assinar declaração de hipossuficiência econômica, que devem constar de cláusula específica. §1o A procuração pode ser assinada digitalmente, na forma da lei. §2o A procuração deverá conter o nome do advogado, seu número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e endereço completo. §3o Se o outorgado integrar sociedade de advogados, a procuração também deverá conter o nome dessa, seu número de registro na Ordem dos Advogados do Brasil e endereço completo. §4o Salvo disposição expressa em sentido contrário constante do próprio instrumento, a procuração outorgada na fase de conhecimento é eficaz para todas as fases do processo, inclusive para o cumprimento de sentença.
Art. 106. Quando postular em causa própria, incumbe ao advogado: I - Declarar, na petição inicial ou na contestação, o endereço, seu número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e o nome da sociedade de advogados da qual participa, para o recebimento de intimações; II - Comunicar ao juízo qualquer mudança de endereço. §1o Se o advogado descumprir o disposto no inciso I, o juiz ordenará que se supra a omissão, no prazo de 5 dias, antes de determinar a citação do réu, sob pena de indeferimento da petição. §2o Se o advogado infringir o previsto no inciso II, serão consideradas válidas as intimações enviadas por carta registrada ou meio eletrônico ao endereço constante dos autos.
Art. 107. O advogado tem direito a:
I - Examinar, em cartório de fórum e secretaria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independentemente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anotações, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado constituído terá acesso aos autos; II - Requerer, como procurador, vista dos autos de qualquer processo, pelo prazo de 5 dias; III - Retirar os autos do cartório ou da secretaria, pelo prazo legal, sempre que neles lhe couber falar por determinação do juiz, nos casos previstos em lei. §1o Ao receber os autos, o advogado assinará carga em livro ou documento próprio. §2o Sendo o prazo comum às partes, os procuradores poderão retirar os autos somente em conjunto ou mediante prévio ajuste, por petição nos autos. §3o Na hipótese do §2o, é lícito ao procurador retirar os autos para obtenção de cópias, pelo prazo de 2 a 6 horas, independentemente de ajuste e sem prejuízo da continuidade do prazo. §4o O procurador perderá no mesmo processo o direito a que se refere o §3o se não devolver os autos tempestivamente, salvo se o prazo forprorrogado pelo juiz.
3) COMPETÊNCIA → requisito de validade subjetivo relativo ao juiz. Será analisada em outro capítulo.
4) IMPARCIALIDADE → requisito de validade subjetivo relativo ao juiz. Garantia fundamental do direito ao juiz natural. O ato do juiz parcial é ato que pode ser invalidado. Há dois graus de imparcialidade: impedimento e suspeição. Serão analisados em capítulo próprio.
• REQUISITOS DE VALIDADE DO PROCESSO - OBJETIVOS
REQUISITOS DE VALIDADE DO PROCESSO OBJETIVOS INTRÍNSECO EXTRÍNSECOS 1) Respeito ao formalismo processual 2) Inexistência de perempção, litispendência, coisa julgada ou
convenção de arbitragem (NEGATIVOS); 3) Interesse de agir ( (POSITIVO).
1) RESPEITO AO FORMALISMO PROCESSUAL → requisito de validade objetivo intrínseco. O formalismo processual compreende não só a forma, mas especialmente a delimitação dos poderes, faculdades e deveres dos sujeitos processuais, coordenação da sua atividade, ordenação do procedimento e organização do processo, com vistas a que sejam atingidas as suas finalidades primordiais. Exemplos: petição inicial apta, comunicação dos atos processuais, respeito ao princípio do contraditório, escolha correta do procedimento etc. - O desrespeito ao formalismo processual implica invalidade do ato jurídico processual ou do procedimento. Contudo, é difícil imaginar uma hipótese em que o desrespeito a esses requisitos importe imediatamente a extinção do processo. Submetidos que estão ao sistema de invalidades, sempre deverá buscar-se o aproveitamento dos atos processuais ou a sanação do vício. Somente se impossível a correção ou o aproveitamento é que o ato não deve ser aceito e, se for o caso, o processo ser extinto.
2) REQUISITOS DE VALIDADE EXTRÍNSECOS NEGATIVOS → são os fatos que não podem ocorrer para que o procedimento se instaure validamente. São fatos estranhos ao processo e que, uma vez existentes, impedem sua formação válida. Ex.: inexistência de perempção, litispendência, coisa julgada ou convenção de arbitragem. - A princípio, são vícios insanáveis. O reconhecimento de um deles levará à extinção do processo sem exame do mérito, salvo se disser respeito a apenas parte da demanda (ex.: litispendência parcial).
3) LEGITIMAÇÃO PARA AGIR E O INTERESSE PROCESSUAL → são requisitos de validade objetivo extrínseco e positivo, ou seja, devem existir para que a instauração do processo seja válida. - Vimos que o NCPC aboliu o instituto de ‘condição da ação’, de que eram espécies o interesse de agir e a legitimidade ad causam. Agora, o estudo desses requisitos processuais é feito aqui, com os pressupostos processuais.
Art. 17. Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade.
- LEGITIMAÇÃO PARA AGIR → nada mais é que a legitimidade ad causam ou pertinência subjetiva da ação: capacidade para conduzir um processo em que se discuta uma determinada relação jurídica, tanto no referente ao POLO ATIVO como ao POLO PASSIVO (bilateral). Parte processual é aquela que se encontra em posição processual coincidente com a situação legitimadora (vínculo entre os sujeitos do processo e a situação jurídica afirmada). É AFERIDA DIANTE DO OBJETO LITIGIOSO (DEPENDE DO QUE ESTÁ SENDO DISCUTIDO EM JUÍZO). Ex.: se alguém pretende obter uma indenização de outrem, é necessário que o autor seja aquele que está em posição jurídica de vantagem e o réu seja o titular, ao menos em tese, do dever de indenizar.
LEGITIMAÇÃO ISOLADA OU SIMPLES LEGITIMAÇÃO CONJUNTA OU COMPLEXA O legitimado pode estar no processo sozinho. Há necessidade de formação de litisconsórcio.
Opera-se no polo passivo, pois não existe, como regra, o litisconsórcio necessário ativo.
- É importante, no estudo da legitimação para agir, diferenciar a legitimação ordinária da extraordinária:
Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico. Parágrafo único. Havendo substituição processual, o substituído poderá intervir como assistente litisconsorcial.
LEGITIMIDADE ORDINÁRIA LEGITIMIDADE EXTRAORDINÁRIA O legitimado está em juízo em nome próprio defendendo interesse próprio.
O legitimado está em juízo em nome próprio defendendo interesse alheio. Sinônimo de SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL.
- Note que o CPC-73 dizia “salvo quando autorizado por lei”. Agora, podemos extrair a exceção do ordenamento jurídico, visto como sistema. São exemplos de casos de legitimação extraordinária que decorre de lei:
a) Legitimação para as ações coletivas (art. 5o da Lei 7.347/85); b) Legitimação para a propositura de ADI (art. 103, CF/88); c) Legitimação do denunciado à lide para defender os interesses do denunciante em relação ao adversário comum (arts. 127-128 do CPC); d) Legitimação para impetração de habeas corpus (art. 654 do CPP) etc. - O legitimado extraordinário atua no processo na qualidade de PARTE, e não de representante. É em relação a ele (legitimado extraordinário ou substituto processual) que se examina o preenchimento dos requisitos processuais subjetivos. Contudo, a imparcialidade do juiz pode ser averiguada em relação a ambos (substituído e substituto). - A substituição processual pode ocorrer no POLO PASSIVO OU ATIVO. - Salvo disposição em contrário, a coisa julgada surgida em processo conduzido por substituto processual estenderá seus efeitos ao substituído. Ex.: ficará responsável por custas e honorários advocatícios. - O substituto também pode ser sujeito passivo de sanções processuais, como a punição pela litigância de má-fé, e de medidas coercitivas, como a multa judicial. - O substituto tem poderes relacionados à GESTÃO DO PROCESSO, não podendo dispor do direito material discutido. - Diante da falta de legitimação extraordinária, o juiz deve tentar proceder à sucessão processual, com a troca do sujeito por alguém que seja legitimado (ordinário ou extraordinário), em vez da imediata extinção do processo. - Pode haver legitimação ordinária e extraordinária no mesmo caso. Ex.: os condôminos defendem direitos próprios e direitos de outros também.
LEGITIMAÇÃO EXTRAORDINÁRIA AUTÔNOMA LEGITIMAÇÃO EXTRAORDINÁRIA SUBORDINADA
O legitimado extraordinário está autorizado a conduzir o processo independentemente da participação do titular do direito litigioso. Ex.: a administradora de consórcio é substituta processual do grupo de consórcio.
A presença do titular da relação jurídica controvertida no processo é essencial para a regularidade do contraditório. O legitimado extraordinário pode coadjuvar o legitimado ordinário. Ex.: assistente simples.
LEGITIMAÇÃO EXTRAORDINÁRIA EXCLUSIVA LEGITIMAÇÃO EXTRAORDINÁRIA CONCORRENTE O contraditório só se pode ser considerado regular e eficazmente formado com a presença de um determinado sujeito de direito.
Mais de um sujeito de direito está autorizado a discutir em juízo determinada situação jurídica (COLEGITIMAÇÃO). Relação com o litisconsórcio unitário.
- Como o CPC-73 reputava à lei a fonte normativa de legitimação extraordinário, não se admitia a LEGITIMAÇÃO EXTRAORDINÁRIA DE ORIGEM NEGOCIAL. Agora, o NCPC faz menção ao “ordenamento jurídico” e permite essa legitimação extraordinária atípica.
LEGITIMAÇÃO EXTRAORDINÁRIA ATIVA LEGITIMAÇÃO EXTRAORDINÁRIA PASSIVA No polo ativo, a negociação pode ser para transferir ao terceiro a legitimidade ou apenas para estender a ele essa legitimidade. Se estender, haverá uma legitimação extraordinária concorrente (o terceiro também poderá defender direito alheio em juízo). Se transferir, haverá legitimação extraordinária exclusiva decorrente de um negócio jurídico (apenas o terceiro poderá ir a juízo defender direito alheio, só ele poderá propor a demanda). Atenção: a transferência é da legitimação ad causam, não do próprio direito. Não confundir com cessão de crédito.
Em tese, não pode o futuro réu transferir sua legitimação passiva a um terceiro. Seria uma fuga do processo, ilícita por prejudicar o futuro autor da ação. Contudo, se o futuro autor participar desse negócio processual e concordar com a atribuição de legitimação extraordinária passiva a um

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