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[8125 - 25783]cap2_filosofia_direito_8125

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2UNIDADE 2Conhecendo alguns clássicos da Filosofia do Direito
Objetivos de aprendizagem
 „ Identificar algumas teses tradicionais de filósofos do 
Direito as quais marcaram a Filosofia do Direito.
 „ Conhecer a classificação idealista, materialista e crítica 
da Filosofia do Direito.
Seções de estudo
Seção 1 As perspectivas idealista, materialista e crítica 
da Filosofia do Direito
Seção 2 Alguns filósofos do Direito 
Leandro Kingeski Pacheco 
Sérgio Sell 
José Dimas d’ d’Avila Maciel Monteiro
filosofia_do_direito.indb 53 12/07/12 13:31
____________________ 
____________________ 
Pacheco, Leandro Kingeski. Conhecendo alguns clássicos da Filosofia do Direito. In: Filosofia do Direito: 
livro didático – 1. ed. rev. – Palhoça: UnisulVirtual, 2011.
54
Universidade do Sul de Santa Catarina
Para início de estudo
Nesta unidade, você estuda, brevemente, algumas teses singulares 
que marcaram a Filosofia do Direito. Ao fazê-lo, contata o 
pensamento de diferentes filósofos do Direito. Compreenderá, 
também, que alguns filósofos, ao pensarem o Direito, o fizeram 
de modo único, imprimindo-lhe um acento que pode ser 
generalizado como idealista, materialista ou crítico. 
Muitos são os filósofos que lidaram com o Direito e que não o 
fizeram de modo superficial. Logo, duas limitações se impõem 
desde o começo deste estudo, considerando esta pequena unidade 
de livro didático: a) é preciso reconhecer que não será viável 
lidar com todos os filósofos do Direito; b) é preciso reconhecer 
que não será viável aprofundar o entendimento de um filósofo 
sobre o Direito, seja pela impossibilidade de lidar com todas suas 
teses sobre este tema, seja pela impossibilidade de considerar a 
totalidade de sua respectiva filosofia. 
Deste modo, para este estudo, arbitrariamente, foram escolhidos 
alguns poucos filósofos, assim como poucas teses pertinentes às 
reflexões sobre o Direito. Os filósofos escolhidos foram Platão e 
Aristóteles (abordados pelo professor Leandro), Thomas Hobbes 
(abordado pelo professor José Dimas), Immanuel Kant e John 
Rawls (abordados pelo professor Sérgio).
Esperamos que estes conteúdos contribuam para a sua formação. 
Bons estudos.
Seção 1 – As perspectivas idealista, materialista e 
crítica da Filosofia do Direito
Antes de estudar uma singela exposição acerca da classificação 
de Filosofias do Direito, é pertinente considerar que toda 
classificação é arbitrária e reducionista, pois nenhuma 
classificação é capaz de contemplar a especificidade do 
classificado. Por outro lado, todo exercício de classificar contribui, 
didaticamente, para reconhecer um conjunto de semelhanças e ou 
de diferenças daquilo que é classificado.
filosofia_do_direito.indb 54 12/07/12 13:31
55
Filosofia do Direito
Unidade 2
Para classificar, critérios são necessários. 
Tradicionalmente, as Filosofias do Direito são 
classificadas por seus fundamentos ou princípios 
filosóficos, reconhecendo um ‘tipo’ de escopo 
privilegiado para se pensar a justiça, a lei, etc. Tais 
fundamentos filosóficos, no ensino de Filosofia do 
Direito, são geralmente elencados como idealistas, 
materialistas ou críticos. 
Grosso modo, Filosofias do Direito classificadas como idealistas 
reconhecem a “ideia” como fundamento filosófico. Filosofias 
do Direito classificadas como materialistas reconhecem a 
“matéria” como seu fundamento filosófico. E Filosofias do 
Direito classificadas como críticas reconhecem a “crítica”, o 
exame reflexivo e racional, o tribunal da razão, como fundamento 
filosófico, como escopo privilegiado para pensar as possibilidades 
e os limites da justiça, da lei, do magistrado, etc.
Obviamente, o sentido destes termos (ideia, matéria 
e crítica) não é consenso entre os filósofos, mesmo 
para os que adotam este fundamento comum. Logo, 
correto seria falar de tipos de Filosofias do Direito 
idealistas, tipos de Filosofias do Direito materialistas e 
tipos de Filosofias do Direito críticas. Ou seja, é no bojo 
de uma filosofia específica que o sentido de ‘idealista’, 
‘materialista’ ou ‘crítico’ se particulariza. Ainda, muitas 
outras categorias poderiam ser exploradas, como 
‘realista’, ‘empirista’, ‘estruturalista’, fenomenologista, 
etc. – ampliando esta classificação ‘tradicional’.
Geralmente, os fundamentos pertinentes às Filosofias do Direito 
confundem-se, fundem-se, diluem-se na respectiva Filosofia 
dos filósofos. Assim, é possível, de antemão, falar de Filosofia 
do Direito idealista de Platão, Filosofia do Direito crítica de 
Kant, Filosofia do Direito materialista de Karl Marx, e assim por 
diante.
filosofia_do_direito.indb 55 12/07/12 13:31
56
Universidade do Sul de Santa Catarina
Durante o estudo da seção seguinte, após você 
identificar teses e conceitos respectivos a alguns 
filósofos do Direito, as distintas Filosofias do Direito 
serão marcadas com este acento: idealista, materialista 
ou crítico.
Seção 2 – Alguns filósofos do Direito 
Nesta seção, você acompanha algumas considerações sobre 
alguns filósofos do Direito, especificamente, Platão, Aristóteles, 
Thomas Hobbes, Immanuel Kant e John Rawls.
Algumas teses acerca da Filosofia do Direito de Platão 
[...] à lei não importa que uma classe qualquer da cidade 
passe excepcionalmente bem, mas procura que isso 
aconteça à totalidade dos cidadãos, harmonizando-os pela 
persuasão ou pela coação, e fazendo com que partilhem 
uns com os outros do auxílio que cada um deles possa 
prestar à comunidade; ao criar homens destes na cidade, 
a lei não o faz para deixar que cada um se volte para a 
atividade que lhe aprouver, mas tirar partido dele para a 
união da cidade. (A República, 2002, VII, 519, p. 215).
Vários textos de Platão (428/27-347 a. C.) permitem 
compreender a Filosofia do Direito deste pensador. Nader (2006) 
destaca três obras capitais de Platão que abrangem a Filosofia do 
Direito: O Político, As Leis e A República. Nader sintetiza que, na 
obra A República, o Estado é compreendido como “instrumento 
de realização da mais completa justiça [...] criado pelo homem 
para suprir suas deficiências [...] prover as suas mais variadas 
necessidades.” (2006, p. 108); e que, nas Leis, ele reverá alguns 
dos princípios adotados na República.
Feitas estas considerações preliminares, atente que não nos 
aprofundaremos na filosofia de Platão, mas apenas em algumas 
teses pertinentes à justiça – tomando como referência a obra A 
República. Acompanhe.
Figura 2.1 - Platão.
Fonte: Franco (2002).
filosofia_do_direito.indb 56 12/07/12 13:31
57
Filosofia do Direito
Unidade 2
A justiça identifica-se com a perfeição dos homens. O que isto 
quer dizer? O homem tratado com justiça tende a tornar-se justo, 
melhor, perfeito; e o homem tratado com injustiça tende a tornar-
se injusto, pior, imperfeito. Assim, tratar a todos com justiça 
implica procurar difundir e cultivar a perfeição humana.
A justiça e a injustiça opõem-se. A oposição entre a justiça e 
injustiça é evidenciada de muitos modos. A justiça identifica-se 
com a virtude e com a sabedoria; é uma virtude da alma; gera a 
concórdia e a amizade. Já a injustiça identifica-se com a maldade 
e a ignorância; ela é um vício da alma; gera a revolta e o ódio. 
Logo, a justiça é sempre mais vantajosa que a injustiça, pois o 
homem justo é bom, sábio e feliz – atua com facilidade. Por outro 
lado, o homem injusto é mau, ignorante e desgraçado – atua com 
dificuldade, principalmente em conjunto.
Aliada a esta concepção de justiça, a obra de todos os poetas e 
artistas deve ser abominada, pois estes retratam:
 „ pessoas injustas como felizes ou pessoas justas como 
infelizes; 
 „ vantagens ao se cometer atos injustos ou prejuízo ao se 
cometer atos justos. 
Os bons governantes visam cuidar dos governados. O bom 
governante, o magistrado, não visa àprópria conveniência, mas 
a dos governados. O bom governante ocupa a magistratura por 
necessidade, por sentir-se castigado ao ser governado por quem é 
pior do que ele mesmo. Para tanto, os governantes, magistrados, 
formulam leis. Algumas destas são bem formuladas, enquanto 
outras, infelizmente, não. 
O filósofo deve governar a cidade na qualidade de magistrado. 
O filósofo, amigo do aprender, ao considerar a ideia de bem como 
princípio fundamental, deve legislar, criar as leis pertinentes à 
cidade e obedecer a elas. Para tanto, deve usar o raciocínio como 
‘instrumento necessário’. Tanto mais usa a razão, mais próximo o 
filósofo, governante e magistrado estará da lei e da ordem. 
filosofia_do_direito.indb 57 12/07/12 13:31
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Há duas opções para o fim das desgraças e males para o Estado, 
para os cidadãos, enfim, para o gênero humano:
 „ que os filósofos tornem-se reis, legisladores, chefes, 
governantes da cidade;
 „ que os atuais governantes da cidade (reis, soberanos, etc.) 
tornem-se filósofos (de fato). 
Saiba mais sobre a natureza do filósofo, governante e 
magistrado!
O filósofo, enquanto juiz, não pode ser novo, mas mais idoso 
e testado aos limites. Ele precisa atingir pelo menos cinquenta 
anos; destacar-se no trabalho e na ciência (saber); destacar-se 
na procura pela ideia (forma ou essência) de bem, em si, 
considerando esta ideia como paradigma orientador à cidade; 
dedicar-se à filosofia – para, então, chefiar a cidade por amor, por 
necessidade. 
Convém que tal juiz não conviva, desde pequeno, com injustiças 
e almas perversas. É preciso que, na condição de aprendiz, ele 
seja primeiramente inexperiente e intacto aos maus costumes. 
Depois de educado nos bons costumes, pode conhecer 
injustiças, não com o intuito de cultuá-las, mas de abominá-las 
– seja na infância, na juventude e na maturidade – primando, 
sempre, pelo julgamento justo. Ao julgar, o filósofo, governante 
precisa evitar que bens alheios sejam detidos ou que bens 
próprios sejam privados. Para tanto, a justiça visa garantir ou 
restituir a posse do que é de cada um.
Entenda aqui filósofo tanto o homem quanto a mulher, pois 
Platão, explicitamente, reconhece que a mulher e o homem são 
capazes de bem administrar a cidade e, mesmo, desenvolver 
qualquer ocupação – sem preconceitos de gênero. Por outro 
lado, Platão expõe que nem todos têm capacidade de ser 
filósofo, de governar, e que, portanto, deverão ser governados. 
Dito de outro modo: o filósofo deve governar; e os demais, ser 
governados. Ainda, ao filósofo compete mentir para benefício 
da cidade, embora a mentira seja sempre um erro para os 
governados e algo inútil para os deuses.
A ideia do bem é a 
mais elevada de todas, 
enquanto causa do que é 
justo. A partir da ideia de 
bem, a justiça torna-se 
útil e valiosa. 
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59
Filosofia do Direito
Unidade 2
As leis visam à harmonia da cidade. Pela lei, é possível 
garantir a paz entre os cidadãos da cidade. A lei não deve visar 
aos interesses de uma classe, mas à totalidade dos cidadãos. 
A lei visa, também, harmonizar as atividades desenvolvidas 
por diversos profissionais com o intuito de unir e fortalecer a 
cidade. Para tanto, a lei pode fazer-se valer pela persuasão e 
pela coação. Ainda, a cidade bem fundada é justa, enquanto a 
injustiça representa para ela o maior dos danos. 
Para apoiar a tese do filósofo como magistrado e 
governante, Platão pressupõe três teses, uma relativa 
à origem da cidade (a) e outras duas relativas ao 
aperfeiçoamento do ofício dos indivíduos da cidade 
(b1 e b2). 
Veja a seguir uma breve explicação das três teses sobre a 
origem da cidade:
a) A origem da cidade reside na necessidade das pessoas 
superarem sua incapacidade de serem autossuficientes. 
As pessoas têm inúmeros tipos de necessidades (na 
esfera da alimentação, do vestuário, da segurança, etc.) 
e beneficiam-se, obviamente, da vida comunitária, 
nas cidades, à medida que procuram superar sua 
incapacidade de serem autossuficientes. 
b.1) Se cada pessoa fizer um só tipo de coisa, então ela 
poderá aperfeiçoar tal ofício. A cidade tende a tornar-se 
perfeita, modelo, feliz com a exclusividade dos afazeres 
de cada cidadão. Logo, tanto quanto possível, as pessoas 
precisam descobrir suas ocupações, relativas a uma 
determinada classe social, e aperfeiçoarem-se nelas, a 
fim de obter o melhor resultado, para si e para a cidade. 
Não é dito que a pessoa deve deixar de realizar outras 
ocupações, mas que é pertinente exercitar um ofício 
coerente com o seu perfil. 
filosofia_do_direito.indb 59 12/07/12 13:31
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Universidade do Sul de Santa Catarina
b.2) A ocupação de um ofício implica o exercício de uma 
função justa na cidade. Executar a função que lhe é 
própria, conforme a sua natureza mais adequada, tem 
a justiça como princípio. A cidade é bem governada, 
justa, quando a cada um cabe uma tarefa.
 Recorrer à justiça evidencia uma falta. É vergonha e 
sinal de falta de educação ter que recorrer à justiça de 
outro, uma vez evidenciado que a justiça de si próprio é 
insuficiente. Maior vergonha e maior falta de educação 
são demonstradas por aquele que vive nos tribunais – na 
qualidade de réu ou de acusador – por cometer injustiças 
e gabar-se por elas.
Pensar como deve ser a educação dos homens implica 
examinar como a justiça e a injustiça ocorrem na 
cidade. Nesta linha de raciocínio, educação honesta 
contribui para a cidade justa. Aqueles que não recebem 
educação jamais serão capazes de se tornarem filósofos, 
governantes, magistrados. 
Saiba mais sobre a concepção de educação de Platão!
A educação deve ser adequada à natureza do cidadão. Para 
entender esta tese, saiba que Platão recorre ao mito para explicar 
diferenças entre as classes, reconhecendo diferenças na origem 
de cada cidadão. Platão distingue, basicamente, três classes na 
República: a dos governantes, a dos guardiães e a dos lavradores 
e demais cidadãos. Para Platão, Deus modelou a todos com 
ligas diferentes de metal. Em especial, forjou com ouro os aptos 
a governar, com prata os guardiães e com ferro e bronze os 
lavradores e demais cidadãos. Nada impede, porém, que de uma 
classe áurea nasça uma criança de natureza ligada à prata, ao 
ferro ou ao bronze. Do mesmo modo, nada impede que, de uma 
classe ligada ao bronze, nasça uma criança de natureza ligada ao 
ferro, à prata ou ao ouro. Contudo, ao ser identificada a origem 
(liga ou natureza) da criança, esta deve ser educada conforme 
sua natureza.
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Filosofia do Direito
Unidade 2
A (in)justiça existe no indivíduo assim como existe na 
cidade. Tanto o indivíduo quanto a cidade são justos quando 
há temperança, coragem e sabedoria – executando as tarefas 
que lhes são próprias. Por outro lado, a injustiça aflora (tanto no 
indivíduo quanto na cidade) por meio da intemperança, covardia 
e ignorância. É preciso observar, também, que a pior injustiça é 
aquela que parece justa, mas não é.
A Filosofia do Direito de Platão adota um acento na noção 
de ideia, no bem em si, entendido como paradigma, 
modelo, algo que existe por si. Tal acepção de Platão 
sobre ideia não deve ser confundida com pensamento, 
reflexão, etc. A noção de ideia não é simples nem de 
origem mundana, mas metafísica, pois o filósofo, o 
magistrado, precisa procurar, no plano inteligível (e não 
no mundo fático) a ideia de justiça capaz de subsidiar leis 
coerentes com a cidade ‘ideal’. Neste sentido, a Filosofia 
de Direito de Platão pode ser classificada como idealista.
Algumas teses acerca da Filosofia do Direito de Aristóteles
A justiça é uma espécie de meio-termo, mas não no 
mesmo sentido que as outras virtudes, e sim porque ela serelaciona com uma quantia ou quantidade intermediária, 
ao passo que a injustiça se relaciona com os extremos [...] 
Por esta razão a injustiça é excesso e falta [...]. (Ética a 
Nicômaco, 2001, V, 5, p. 115).
Saiba mais sobre a concepção idealista
Conforme Reale (2002, p. 118-119) “O idealismo de Platão 
(247-347 a. C.) poder-se-ia chamar idealismo transcendente, 
ou da transcendência, pois para o autor do Fedro as idéias ou 
arquétipos ideais representam a realidade verdadeira, da qual 
seriam meras cópias imperfeitas as realidades sensíveis, válidas 
não em si mesmas, mas enquanto participam do ser essencial 
[...] Os idealistas modernos partem da afirmação de que as coisas 
não ‘existem’ por si mesmas, mas na medida e enquanto são 
representadas ou pensadas, visto como só podemos falar aquilo 
que se insere no domínio de nosso espírito e não das coisas como 
tais, distintas de como as percebemos. Nada, em suma, pode ser, 
sem ser necessariamente percebido ou pensado.”
filosofia_do_direito.indb 61 12/07/12 13:31
62
Universidade do Sul de Santa Catarina
Vários textos de Aristóteles (384-322 a.C.) apresentam 
contribuições para compreender a Filosofia do Direito deste 
pensador. Nader (2006) destaca duas obras capitais de Aristóteles 
que abrangem a Filosofia do Direito: Ética a Nicômaco e Política. 
Nader também sintetiza que na obra Ética a Nicômaco, “o estagirita 
formulou a teorização da justiça e equidade, considerando-as sob o 
prisma da lei e do Direito.” (2006, p. 110). 
Acerca das duas obras de Aristóteles já mencionadas, Ética a 
Nicômaco e Política, Morris (2002, p. 6) destaca que “A primeira, 
considerada a mais madura, desenvolve uma teoria da justiça que 
não é tratada pela última.” Destas obras, as principais reflexões 
sobre o direito têm abrigo no Livro V da Ética a Nicômaco e nos 
Livros I e II da obra Política (Morris, 2006).
Feitas estas considerações introdutórias, atente que não nos 
estenderemos na filosofia de Aristóteles, mas apenas em algumas 
teses pertinentes à justiça – tomando como referência a obra Ética 
a Nicômaco. Acompanhe.
O homem se torna (in)justo por meio da prática de atos (in)
justos. O homem é injusto ao infringir a lei, ao ser ganancioso e 
ímprobo, ao ser sem lei. O homem é justo ao ser honesto, probo, 
ao cumprir e respeitar a lei. 
A lei, sobre todos os assuntos, visa à vantagem comum, o bem 
comum, de todos. A lei bem elaborada contribui para produzir 
e preservar a felicidade dos cidadãos; contribui para a prática de 
atos virtuosos. A lei visa à prática das virtudes e à proibição de 
qualquer vício.
O propósito do legislador é, por meio da lei, incutir hábitos 
pertinentes ao bom cidadão. Neste sentido, a lei é considerada 
boa, ou ruim, à medida que, respectivamente, alcança sua meta, 
ou falha.
O juiz, magistrado, intermediador, mediador, é guardião da 
justiça, da lei. Por outro lado, o juiz pode decidir injustamente, 
por ignorância (no sentido legal), ou por conhecimento de causa 
(que evidencia um excesso inadmissível). 
Figura 2.2 - Aristóteles.
Fonte: O Globo (2006).
filosofia_do_direito.indb 62 12/07/12 13:31
63
Filosofia do Direito
Unidade 2
A justiça, algo essencialmente humano, pode ser considerada 
a maior das virtudes. Tal caráter é evidenciado por a justiça 
requerer o exercício de outras virtudes e por ela ser aplicável ao 
próprio agente e aos demais cidadãos (seja um governante ou um 
membro humilde). Nesta perspectiva, a justiça é perfeita, porque 
é aplicável a si próprio e aos outros. Por outro lado, a injustiça 
identifica-se com o que é contrário à virtude, como um vício.
A justiça é compreendida como meio-termo e a injustiça como 
extremos que devem ser evitados. Aristóteles defende a aplicação 
da regra do meio-termo para encontrar o ato justo. Dadas duas ações 
contrárias, radicais e extremas, marcadas pelo excesso ou pela falta, a 
justiça é a escolha deliberada de equilibrá-las. Ou seja, a justiça é um 
meio-termo entre estas duas injustiças, entre estes dois vícios. 
Por exemplo, após a realização de certo trabalho 
é pertinente que o empregado receba uma 
compensação justa do empregador. Esta compensação, 
por sua vez, não deve ser ínfima (marcada pela falta) e 
nem exagerada (marcada pelo excesso).
A distinção entre ação voluntária e ação involuntária é útil 
ao legislador para, considerando a justiça, reconhecer a 
pertinência de honras ou de castigo. O caráter voluntário ou 
involuntário é evidenciado no momento da ação do agente. A 
ação voluntária tem o próprio homem como motor, princípio. 
Tal ação é contextualizada pela possibilidade de praticar, ou não, 
tal ação, com o conhecimento de causa (pessoas afetadas pelo ato; 
instrumento usado; o fim a ser alcançado). Já a ação involuntária 
ocorre por compulsão ou coação do agente (situação em que o 
próprio homem não é seu motor, seu princípio) ou por ignorância 
(por desconhecimento do próprio agente). 
Um ato de (in)justiça pode ocorrer de modo acidental. 
Acidentalmente, é viável participar de um ato (in)justo. Tal 
caráter acidental pode estar associado a uma ação ou a uma 
inação. Tal caráter acidental é, geralmente, involuntário. 
filosofia_do_direito.indb 63 12/07/12 13:31
64
Universidade do Sul de Santa Catarina
Existem duas espécies de justiça particular: a justiça distributiva e 
a justiça corretiva. Acompanhe.
Justiça Particular Características
Distributiva
A justiça distributiva baseia-se na ideia de proporcionalidade 
geométrica, na igualdade de razões, na consideração de, pelo menos, 
quatro termos, em que se estabelece uma relação equivalente 
entre as pessoas e as coisas. Assim, o justo decorre como meio-
termo. Refere-se, por exemplo, à distribuição de bens ou de coisas, 
considerando a contribuição de cada um na produção destes.
Corretiva
A justiça corretiva baseia-se na proporcionalidade aritmética. 
Considerando um delito praticado, ou seja, uma relação desigual (nas 
relações entre indivíduos), a lei visa restabelecer a ‘igualdade’. Para 
tanto, o juiz procura igualar o dano em litígio por meio de pena (para 
o ofensor) ou de ganho (para o ofendido). Neste tipo de justiça, a 
igualdade ocorre pelo estabelecimento do meio-termo entre perda e 
ganho. A justiça corretiva visa equiparar vantagens e desvantagens, 
decorrentes de relações voluntárias e involuntárias.
Quadro 2.1 – Duas espécies de Justiça Particular
Fonte: Pacheco (2010).
A justiça particular corretiva ainda pode ser especificada como 
voluntária ou involuntária.
A justiça particular corretiva voluntária abrange atos 
de compras e vendas, empréstimos, penhor, depósito, 
locação. A justiça particular corretiva involuntária 
abrange atos de furto, adultério, envenenamento, 
lenocínio, engodo, falso testemunho; agressão, 
sequestro, assassinato, roubo, mutilação, injúria e 
ultraje.
A justiça política existe para os homens livres e iguais que 
são regidos, mutuamente, pela lei. Ela também existe ante a 
possibilidade de que ocorra uma injustiça. A justiça política pode 
ser distinta como natural e legal.
filosofia_do_direito.indb 64 12/07/12 13:31
65
Filosofia do Direito
Unidade 2
Justiça Particular Características
Natural (por natureza) A justiça política natural é aquela que apresenta a mesma força em todos os lugares, independentemente de posições pessoais.
Legal (por convenção)
A justiça política legal é determinada, indiferentemente, em alguns 
lugares, enquanto que em outros não, e é evidenciada nas leis 
promulgadas para casos particulares.
Quadro 2.2 – Duas espécies de Justiça Política
Fonte: Pacheco, (2010).
A equidade é uma espécie de justiça. A equidade 
é aplicável quando a lei, por sua generalidade, 
universalidade, caráter absoluto, não contempla um caso 
particular. Neste sentido, a aplicação da equidade visaà 
correção da justiça legal, visa à decisão ‘correta’ para um 
caso particular. Ou seja, a equidade apela para a justiça, 
com o intuito de corrigir a lei. Aristóteles relaciona a 
noção de equidade a uma régua adaptável, de chumbo, 
usada por construtores de Lesbos para ajustar as molduras. 
A Filosofia do Direito de Aristóteles reconhece na 
realidade, nos atos, nos fatos, na esfera do humano, 
nas relações estabelecidas entre homens, um escopo 
privilegiado para pensar o direito, a lei, etc. Assim, 
embora Aristóteles não faça referência conceitual à 
‘matéria’, sua Filosofia do Direito pode ser classificada 
como materialista. Conforme esta interpretação, 
matéria tem o sentido de algo que existe e que está na 
base das reflexões sobre o Direito.
Figura 2.3 - A equidade é tal e qual 
a régua de chumbo de Lesbos.
Fonte: Pacheco (2010).
filosofia_do_direito.indb 65 12/07/12 13:31
66
Universidade do Sul de Santa Catarina
Saiba mais sobre a concepção de realidade
Conforme Reale (2002, p. 116-117) o realismo “É a orientação ou 
atitude espiritual que implica a preeminência do objeto, dada a 
sua afirmação fundamental, de que nós conhecemos coisas. Daí 
o emprego da palavra ‘realismo’, que diz respeito à ‘coisa’ (res) 
reconhecida como independente da consciência. Os idealistas, ao 
contrário, não obstante todas as suas variações, apegam-se à tese 
fundamental de que não conhecemos coisas, mas sim representações 
de coisas ou as coisas enquanto representadas [...] O realismo é a 
atitude natural do espírito humano [...] Quando o realismo indaga 
de seus fundamentos e procura demonstrar que suas teses são 
verdadeiras, é que surge propriamente a atitude filosófica, que não 
deixa, porém, de ser ‘atitude natural’, como tendência comum do 
espírito humano. Poderíamos denominá-lo realismo tradicional, visto 
como a corrente que sustenta tal maneira de ver é aquela que invoca 
a tradição clássica, de Aristóteles aos nossos dias.”
 
Algumas teses acerca da Filosofia do Direito de Hobbes
“[...] os homens não tiram prazer algum da companhia 
uns dos outros (e sim, pelo contrário, um enorme 
desprazer), quando não existe um poder capaz de manter 
a todos em respeito.”. (HOBBES, 2000, p. 108).
Uma das teses centrais do pensamento filosófico de Hobbes 
(1588 – 1679), e que possui decisiva influência na construção das 
discussões em Filosofia do Direito, versa a respeito da origem do 
Estado e/ou da Sociedade Civil. 
Hobbes não admitia que a sociedade possuísse uma 
origem natural, que houvesse no ser humano uma 
disposição natural para viver com os outros, como 
compreendia a consolidada tradição aristotélica: o ser 
humano como zoon politikon (animal social). 
Figura 2.4 – Leviatã.
Fonte: E-book-Hobbes (2009).
Como um dos mais importantes 
representantes da concepção 
contratualista, Hobbes concebia 
esta tese a partir da célebre obra 
Leviatã . Segundo Abbagnano 
(1998), “com esse nome, de um 
monstro bíblico (Jó, 40, 20), 
Hobbes denominou ‘o Estado’, 
a origem da Sociedade Civil 
diferentemente da Clássica 
(aristotélica)
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Filosofia do Direito
Unidade 2
O autor considerava, por outro caminho, a origem da Sociedade 
Civil fundada num Contrato, num Pacto, entre os seres 
humanos. Porém, para nossos estudos, tal origem somente 
pode ser compreendida, ao menos, por meio de dois conceitos: 
condição humana e estado de natureza. Desse modo, vamos 
investigar alguns aspectos que constituem esses dois conceitos. 
Acompanhe.
Você, certamente, reconhece a expressão “o homem é lobo do 
homem”. Isso mesmo!! Hobbes usa essa expressão no Leviatã, 
não apenas para expressar a miséria da condição humana, mas, 
principalmente, para denominar tal condição no estado de 
natureza. 
Como podemos entender, portanto, a relação entre a 
expressão “o homem é lobo do homem” e o estado de 
natureza? 
Para Hobbes, os seres humanos eram naturalmente iguais nas 
capacidades do corpo (física) e do espírito e, por isso, todos 
igualmente tinham a esperança de alcançar seus objetivos, seus 
desejos. Entretanto, como bem aponta Renato Janine Ribeiro, 
Hobbes “não afirma que os homens são absolutamente iguais, 
mas que são ‘tão iguais que[...]’: iguais o bastante para que nenhum 
possa triunfar de maneira total sobre o outro” (RIBEIRO, 1989, 
p.55). Neste sentido, é importante você compreender que dessa 
condição derivará um conflito natural. Portanto:
Se havia igual esperança entre os seres humanos 
na realização de seus desejos, havia também 
limites para tal realização. Hobbes afirmava: “se 
dois homens desejam a mesma coisa, da qual não 
obstante, ambos não podem desfrutar, eles se tornam 
inimigos.”(HOBBES, 1988, p.108).
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Ora, esse é um dos emblemas mais nítidos da relação entre 
condição humana e estado de natureza, em Hobbes. Se, para 
alcançar seus desejos, o outro era sempre uma ameaça, gerava-se 
disso uma desconfiança mútua. A saída mais razoável era, então, 
atacar antes de ser atacado. A isso Hobbes chamava antecipação 
e serve-nos como indicativo da brutalidade do estado de 
natureza: “a guerra de todos contra todos”. 
Com medo da morte violenta, preocupado em conservar a própria 
vida, o ser humano vivia da imaginação e se lançava a subjugar o 
outro, antecipando o ataque: melhor atacar antes, para que outro 
não o faça, não é mesmo!!? Nesta situação, pouco sobrava ao ser 
humano, como ressaltava Hobbes: “E a vida do homem é solitária, 
sórdida, embrutecida e curta.”(HOBBES, 1988, p.109).
É preciso ter cuidado ao interpretar esta situação. 
Parece equivocado atribuir ao ser humano uma 
natureza má. Cuidado!!! 
A miserabilidade da condição humana, em Hobbes, não nos 
leva, necessariamente, à consideração de que o ser humano seja 
mau por natureza. A afirmação “o homem é o lobo do homem” 
não quer dizer que este seja mau. Significa, numa medida, que o 
ser humano usará de todos os meios para alcançar o que deseja, 
e isso lhe é garantido pelo direito de natureza, conforme afirma 
Hobbes: “o direito de natureza é a liberdade que cada homem 
tem de usar seu próprio poder, como quiser, para a preservação 
de sua própria natureza, o que vale dizer, de sua própria vida.” 
(HOBBES, 1988, p.113).
Contudo repare que se levarmos esta afirmação às últimas 
consequências, a vida em sociedade não teria sentido, pois o 
que imperaria seria o medo e a lei do mais forte. Mas seria uma 
vida assim possível? Suportaria o ser humano viver no estado 
de natureza? Certamente não, mas, para compreendermos isso, 
é importante considerarmos outras características do estado de 
natureza hobbesiano.
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Filosofia do Direito
Unidade 2
O estado de natureza era, para Hobbes, um estado 
hipotético, isto é, não havia comprovação de sua 
existência, nem era um estado primitivo, se você 
achar que isso se refere à “vida das cavernas” ou coisa 
parecida. Não é isso!! 
Como você pôde ver anteriormente, o estado de natureza era a 
guerra de todos contra todos, e duas consequências, ao menos, 
decorriam disso, como precisamente definiu Hobbes:
Note que, no estado de natureza, não há lugar para a 
legitimidade, nem para a lei, nem para o Direito. Assim, seu 
caráter hipotético é secundário para respondermos às questões 
anteriormente postas, já que podemos admitir que o ser humano 
que vive em sociedade é o mesmo do estado de natureza, como 
bem nota Renato Janine Ribeiro (RIBEIRO, 1989). Eis o ser 
humano do estado de natureza, segundo Hobbes. 
Então poderíamos admitir que as causas dos conflitos 
humanos não estariam na sociedade, mas decorreriam 
de sua própria condição, como a competição, a 
segurança e a glória? 
1. “Nadapode ser injusto. As noções de certo e errado 
e, de justiça e injustiça não têm lugar aí. Onde não 
há poder comum, não há lei; onde não há lei, não há 
injustiça.” (HOBBES, 1988, p.110).
2. “Não há propriedade, nem domínio, nem distinção entre 
o meu e o teu; mas será de cada homem apenas o que ele 
puder pegar e durante o tempo que puder conservá-lo.” 
(HOBBES, 1988, p.110).
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Hobbes concebia que os conflitos em sociedade eram consequência 
da condição humana. Continuando este raciocínio, fica a pergunta: 
Isto justificaria, num sentido, a necessidade de um 
Contrato que determinasse um poder comum para 
regular a vida dos seres humanos em sociedade? 
Somente um pacto que administrasse os interesses 
individuais resultaria numa vida adequada? 
A organização da sociedade se constituía, em Hobbes, em função 
da necessidade, como é o caso do medo da morte violenta. Daí a 
constituição do Poder Soberano, o Estado, o qual impusesse respeito 
pela força legitimada que administrasse as paixões humanas. Segundo 
Renato Janine Ribeiro (RIBEIRO, 1989, p. 62), Hobbes desenvolve 
a ideia de que, no Estado, deve haver um poder soberano capaz de 
resolver todos os conflitos. A sociedade nasce, assim, com o Estado. 
O esquema seguinte contempla algumas peculiaridades da 
concepção de estado de natureza e de estado civil, segundo 
Hobbes:
 
ESTADO DE 
NATUREZA
SOCIEDADE 
CIVIL/ESTADO
Os homens 
são iguais na 
esperança 
seus desejos 
Compe�ção, 
segurança e 
glória
Guerra de 
todos contra 
todos
Não há Lei, 
Jus�ça e 
Propriedade
Vida 
sórdida, 
embrutecida 
e solitária
Os homens são 
iguais na 
esperança de 
alcançar seus 
desejos 
Paz e 
segurança
Contrato 
Social
Estado 
absoluto 
(Leviatã)
Hobbes 
e o
Leviatã
de alcançar 
Leis
Paz e 
segurança
Figura 2.5 – Esquema ilustrativo da passagem do estado de natureza para a Sociedade Civil
Fonte: Dimas (2010). 
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Filosofia do Direito
Unidade 2
Ainda, você já pensou no que legitimaria um poder comum? 
Falar num poder comum centralizado no poder absoluto do Estado 
parece, em princípio, ser paradoxal, pois excluiria a liberdade e a 
igualdade. Para Renato Janine Ribeiro (RIBEIRO, 1989), Hobbes 
desmontará o valor retórico desses termos, tão caros ao Direito. 
Como você viu anteriormente, igualdade entre os seres humanos 
é geradora de conflitos constantes; a liberdade, define Hobbes 
(HOBBES, 1988, p.113, capítulo XIV), é a “ausência de 
impedimentos externos; impedimentos estes que, com freqüência, 
tiram parte do poder do homem de fazer o que faria; mas que 
não podem impedi-lo de usar o poder que lhe restou, de acordo 
com o que seu julgamento e razão lhe ditarem.”
Algumas teses acerca da Filosofia do Direito de Kant
O Direito é o conjunto de condições sob as quais o 
arbítrio de um pode ser conciliado com o do outro 
segundo uma lei universal de liberdade. (KANT, 1785 
apud LOPARIC, 2003, p. 5).
A concepção kantiana de Direito encontra-se formulada nas 
obras Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785), Crítica 
da Razão Prática (1788), Sobre a Paz Perpétua (1795), Princípios 
metafísicos da Doutrina do Direito (1797) e Metafísica dos Costumes 
(1797). No entanto a obra filosófica de Kant é muito mais 
abrangente, incluindo uma reflexão profunda sobre os limites do 
conhecimento (tema da obra Crítica da Razão Pura, de 1781) e 
uma análise dos nossos juízos de valor (tema da obra Crítica do 
Juízo, de 1790).
A proposta fundamental de Kant é a de fazer uma avaliação dos 
limites e possibilidades do uso da razão. Em particular, Kant 
propõe uma averiguação da possibilidade de se usar a razão como 
fundamento do Direito. A partir dessa análise, Kant formulou 
uma das mais influentes concepções teóricas do Direito. Figura 2.6 - Kant.Fonte: Schriftman (2008).
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Ainda que de forma breve e resumida, vamos a seguir discutir 
as principais teses da Filosofia do Direito de Kant, tomando 
como referência a obra Fundamentação da Metafísica dos Costumes.
Acompanhe.
A razão nos possibilita conhecer aos princípios universais. A razão 
é a capacidade humana de conhecer as leis universais que regem os 
fenômenos. Neste sentido, ela é diferente da experiência. Enquanto a 
experiência nos permite conhecer casos particulares e determinações 
arbitrárias, a razão nos permite encontrar os princípios invariáveis os 
quais nos ensejam conhecer a realidade e dar sentido a ela. 
Perceber que uma pedra, ao cair, se desloca de forma 
diferente de uma pena caindo é algo que fazemos 
usando a experiência. Identificar que são exatamente 
os mesmos fatores que determinam a ocorrência 
desses dois fenômenos (força gravitacional, resistência 
do ar, atrito, densidade, etc.) é um trabalho da razão. 
Portanto: 
 „ a experiência nos permite perceber tudo aquilo que 
pode variar, que é relativo, que depende do contexto, 
que envolve a subjetividade ou que depende de fatores 
pessoais, históricos ou culturais;
 „ a razão, ao contrário, nos permite transcender as 
variáveis e formular aquilo que é objetivo e necessário em 
cada situação.
Distinção entre razão pura, razão teorética e razão prática. A 
razão, enquanto faculdade humana, é uma só. No entanto, ela 
pode ser aplicada a situações diferentes. Quando nos referimos 
à razão independente de qualquer aplicação, podemos chamá-la 
de razão pura. Mas há, basicamente, duas aplicações gerais para 
a razão: o conhecimento do mundo físico através da ciência (que 
Kant chama de uso teorético da razão) e o conhecimento daquilo 
que envolve a liberdade humana (uso prático da razão). O uso 
prático da razão se realiza na descoberta dos fatores universais 
que interferem nas escolhas humanas, tanto por motivos e 
condicionamentos internos (subjetivos) quanto por motivos e 
condicionamentos externos (em sua relação com outras pessoas). 
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Filosofia do Direito
Unidade 2
A razão prática lida com valores. Sendo a razão a capacidade 
humana de determinar aquilo que é universal, compete à razão 
prática identificar o que há de universal nas ações humanas 
livres. A liberdade manifesta-se através das escolhas, as quais 
são realizadas a partir de critérios e valores – ou seja, a partir 
daquilo que, por algum motivo e num determinado contexto, 
consideramos ser a melhor opção. 
Haveria, no entanto, algo que pudesse ser considerado 
incondicionalmente bom?
A “boa vontade” é o princípio fundamental da razão prática. 
Quando consideramos aquilo que nos dá prazer, ou que, de 
alguma forma, nos satisfaz, percebemos que não é possível chegar 
a nenhum consenso. A experiência parece nos mostrar que tudo 
aquilo que numa determinada situação representaria um bem, 
num outro contexto poderia ser indesejável ou mesmo danoso. 
Assim, tem-se a impressão de que todos os bens são relativos. No 
entanto Kant identifica na própria vontade do sujeito um valor 
capaz de superar esse relativismo: a boa vontade. 
A boa vontade é a vontade de fazer a melhor escolha, 
é a vontade de agir da melhor forma possível, é a 
vontade de fazer o que é certo. Segundo Kant, essa 
vontade de agir corretamente é a única coisa que pode 
ser considerada incondicionalmente boa. Diz ele na 
Fundamentação da Metafísica dos Costumes: “Neste 
Mundo, e até mesmo fora dele, nada é possível pensar 
que possa ser considerado bom sem limitação a não ser 
uma só coisa: uma boa vontade.” (KANT, 1988, p. 21).
 
A razão prática lida com imperativos. Toda ação livre requer 
motivos para se concretizar. Os motivos da ação costumamser 
ou a busca de um prazer ou a tentativa de evitar uma situação 
desagradável. No entanto, por decorrerem da experiência, tais 
motivos não caracterizam uma escolha racional. A racionalidade 
só é alcançada quando o indivíduo percebe a ocorrência de certas 
regularidades na forma de agir que é capaz seja de propiciar o 
prazer buscado seja de evitar o mal do qual se quer fugir. A partir 
do momento em que percebemos que “toda vez que alguém faz 
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‘x’, consegue ‘y’”, é possível formular uma regra do tipo: “se eu 
quero ‘x’, então devo fazer ‘y’”. Esse tipo de proposição usando o 
verbo “dever” recebe o nome técnico de ‘imperativo’. 
Os imperativos não são, propriamente falando, leis 
universais – mas funcionam como se fossem. E é 
exatamente essa possibilidade de tratar os imperativos 
como se fossem leis universais que assegura o uso 
prático da razão. 
No nosso dia a dia, a maior parte dos imperativos tem a forma 
de um condicional – ou seja, estes sempre partem de um “se”: 
“se quero isso, então devo fazer aquilo”. Os imperativos que 
começam com “se” são denominados imperativos hipotéticos. 
No entanto a razão é capaz também de formular imperativos 
incondicionados, os quais se tornam obrigatórios a todo ser 
movido pela boa vontade: trata-se dos imperativos categóricos.
Haveria algum imperativo que pudesse ser considerado 
incondicionado?
O “imperativo categórico” é o principal resultado da aplicação 
da boa vontade. Um imperativo só poderia ser considerado 
incondicionado se ele pudesse ter uma validade universal, ou seja, 
se pudesse ser válido em toda e qualquer situação. Segundo Kant, 
esse requisito pode ser alcançado quando formulamos o seguinte 
imperativo: devo agir de tal modo que minha ação possa ser 
reconhecida como modelo de correção para toda e qualquer 
pessoa movida pela boa vontade. 
O imperativo categórico é único. No entanto ele pode 
ser formulado de diversas formas, sem alterar o seu 
conteúdo. 
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Filosofia do Direito
Unidade 2
 
Veja como Kant o formula em diferentes formas na 
Fundamentação da Metafísica dos Costumes (KANT, 1988, p.59): 
 „ “Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao 
mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.”
 „ “Age como se a máxima da tua ação se devesse tornar, 
pela tua vontade, em lei universal da natureza.”
As formulações do imperativo categórico partem sempre da 
boa vontade e a ela retornam. Ou seja, o imperativo categórico 
é fruto da aplicação da boa vontade e propõe, justamente, que a 
boa vontade seja o critério de avaliação de todos os nossos atos 
livres. Sendo assim, ele pode ser entendido como uma proposta 
de universalização da boa vontade. Com o imperativo categórico, 
a razão prática, até então meramente formal, passa a ter um 
conteúdo.
O imperativo categórico nos permite agir com autonomia. 
Algumas das nossas ações não são totalmente livres. Ainda que 
sejamos dotados de liberdade, em muitas situações agimos por 
obediência a uma determinação alheia. Quando obedecemos a 
uma ordem, ou quando fazemos alguma coisa para agradar a 
outras pessoas, ou mesmo quando adequamos a nossa vontade 
a determinações culturais, estamos de alguma forma sendo 
influenciados por uma vontade alheia. A isso, Kant dá o nome 
de heteronomia. E, mesmo quando agimos sem uma influência 
externa, muitas vezes guiamos as nossas escolhas por elementos 
subjetivos que fogem à nossa deliberação. É o que ocorre quando 
agimos sob a influência das paixões (amor ou ódio, por exemplo) 
ou das necessidades fisiológicas (fome, sono, etc.). Também 
nesses casos a nossa ação envolve a heteronomia. 
A plena liberdade, realização máxima do ser humano, 
só é alcançada quando agimos com autonomia. A 
autonomia é a ausência de qualquer determinação 
alheia à vontade. É o exercício da escolha puramente 
racional.
O conceito de autonomia 
remonta a Sócrates e 
Platão, que já a definem 
como a ação guiada pela 
razão, em oposição à ação 
motivada por desejos, 
apetites ou sentimentos.
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O conceito de autonomia da vontade permite estabelecer uma 
correspondência plena entre liberdade e lei moral. A ideia de 
autonomia é princípio fundamental da moralidade. Associada 
à noção de imperativo categórico, a ideia de autonomia permite 
formular a noção de vontade legisladora universal, que, por sua vez, 
pode servir de critério para todos os juízos a respeito da ação correta.
Você já pensou na concepção de Direito em Kant?
A razão prática é a base do direito. Como você viu 
anteriormente, a razão prática, ou seja, o uso prático da 
razão, envolve tanto o indivíduo em relação aos seus motivos 
e condicionamentos internos (subjetivos) quanto os motivos e 
condicionamentos externos (em sua relação com outras pessoas). 
O uso prático da razão se manifesta na busca dos fatores 
universais (subjetivos e intersubjetivos) que interferem nas 
escolhas humanas. Tomando o indivíduo isoladamente, a razão 
prática possibilita a identificação da boa vontade, fundamento da 
ética, e a formulação do imperativo categórico como expressão 
máxima da autonomia.
No que diz respeito ao direito propriamente, pode-se 
afirmar que este surge quando saímos do plano 
individual e levamos em consideração a existência 
dos outros seres humanos, igualmente racionais e 
autônomos. No entanto essa consideração do “outro” 
não provoca nenhuma ruptura no tratamento dado 
à identificação do certo e do errado. Ao contrário, o 
direito nada mais é do que a ampliação dos princípios 
da ética. 
Confira a seguir uma breve explanação da concepção kantiana de 
Direito, feita por Almeida (2006):
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Unidade 2
A concepção de Direito de Kant
Na concepção de Kant, o Direito baseia-se em dois princípios 
[...]: o princípio de avaliação (principium diiudicationis) e o princípio 
de execução (principium executionis) das ações conformes ao 
direito (recht). O primeiro está formulado da seguinte maneira: 
“Toda ação é direita (ou conforme ao direito, recht) se ela, ou a 
liberdade do arbítrio segundo a sua máxima, pode coexistir com 
a liberdade de todos segundo uma lei universal.” 
Kant dá a esse princípio o nome de “princípio universal do Direito”, 
presumivelmente porque: 1) estipula um critério para a aplicação 
do predicado “direito”, servindo assim de fundamento para 
todos os juízos particulares com que avaliamos a conformidade 
de nossas ações ao Direito; e também porque: 2) é um princípio 
fundamental tanto para o Direito privado quanto para o Direito 
público, que são as duas partes em que se divide o Direito.
O segundo princípio, Kant enuncia-o da seguinte maneira: “Age 
externamente de tal maneira que o uso livre do teu arbítrio possa 
coexistir com a liberdade de todos segundo uma lei universal”. 
Kant denomina-o “lei universal do Direito”, certamente porque, 
na sua terminologia, as leis (práticas) são proposições que 
apresentam uma ação como objetivamente necessária para 
todo agente dotado de razão. Além disso, visto que essa ação 
é subjetivamente contingente para agentes imperfeitamente 
racionais, que nem sempre fazem o que a razão lhes apresenta 
como objetivamente necessário, Kant formula essa “lei universal 
do Direito” como um imperativo, que é a forma pela qual as leis 
práticas se apresentam a um arbítrio imperfeitamente racional.
Fonte: Almeida (2006, p. 210-211).
 Vê-se, dessa forma, que o Direito se aplica às ações de cada 
indivíduo, na medida em que elas interferem nas ações de outros 
indivíduos. Mas é preciso deixar claro aqui que se trata ainda 
de uma concepçãoformal de direito: tal como está formulado, o 
direito considera unicamente a forma da relação entre indivíduos 
racionais e autônomos e a sua compatibilidade com leis 
universais. Estamos ainda no nível do Direito racional.
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E sobre o Direito Positivo? O que você sabe a respeito?
A existência do Estado civil é uma necessidade da razão 
prática. A única forma de associação humana compatível com 
a ideia formal de direito apresentada por Kant é a reunião de 
indivíduos submetidos às mesmas leis jurídicas a partir de um 
consenso geral. Dessa forma, a Filosofia do Direito de Kant 
desemboca numa perspectiva política contratualista. O que dá 
legitimidade ao Estado civil é o contrato social. Nesse sentido, a 
finalidade do Estado e da legislação positiva é a tutela do direito 
(em sua concepção formal) e terá cumprido a sua função quando 
assegurar a todos o exercício da autonomia.
As leis positivas devem ser obedecidas, na medida em que 
são decorrentes do contrato social. No entanto essa obrigação 
de obediência à lei civil é limitada pela ética. Para que se 
garanta a autonomia, é preciso assumir que as leis positivas são 
subordinadas aos princípios formais do direito.
A formação de um Estado único é uma meta a ser perseguida. 
Segundo Kant, a plena realização do direito, em seu sentido 
formal, exige a superação dos limites políticos. A construção de 
um Estado único é uma vocação da humanidade, uma meta a 
ser buscada. Nesse sentido, as relações internacionais também 
devem ser regidas pela boa vontade e pelos mesmos princípios do 
direito formal.
Na medida em que o Estado não é uma propriedade, não pode 
ser adquirido, vendido, permutado e nem mesmo herdado. E, 
mais que isso, não é legítima qualquer intromissão violenta nas 
questões internas de outro Estado. E, mesmo no caso de disputas 
e conflitos entre Estados, a boa vontade e a ação conforme o 
dever não podem ser desconsideradas. Assim, até mesmo na 
guerra devem ser respeitados certos limites, tais como a não 
violação dos direitos humanos e o respeito aos tratados (como por 
exemplo, às tréguas mutuamente acertadas).
Lembre-se do que 
você estudou sobre 
o contrato social 
anteriormente, nesta 
mesma seção. 
A teoria kantiana 
sobre as relações 
internacionais é 
tratada por Kant, 
fundamentalmente, na 
obra A Paz Perpétua.
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Filosofia do Direito
Unidade 2
Herdeiro da tradição moderna (que inclui as 
contribuições dos contratualistas e, em especial, de 
Rousseau), Kant realizou uma renovação na Filosofia
do Direito que influenciou profundamente as 
discussões posteriores. Com Kant, a luta pelos direitos 
humanos e pelos ideais republicanos, o combate ao 
absolutismo e a defesa do Estado de direito ganham 
uma fundamentação mais rigorosa. Com ele, a Escola 
do Direito Natural alcança a maturidade e se torna 
Escola do Direito Racional. 
Portanto a Filosofia do Direito de Kant não parte nem de uma 
ideia abstrata de justiça nem do Direito enquanto fato concreto. 
O ponto de partida de Kant é a crítica da razão e a análise da 
própria noção de direito. Neste sentido, a Filosofia de Direito de 
Kant pode ser classificada como crítica.
Algumas teses acerca da Filosofia do Direito de Rawls
A justiça é a virtude primeira das instituições sociais, tal 
como a verdade o é para os sistemas de pensamento. Uma 
teoria, por mais elegante ou parcimoniosa que seja, deve 
ser rejeitada ou alterada se não for verdadeira; da mesma 
forma, as leis e as instituições, não obstante o serem 
eficazes e bem concebidas, devem ser reformadas ou 
abolidas se forem injustas. (RAWLS, 1993, p. 27).
Embora ainda não possa ser considerado um clássico, John 
Rawls é uma das principais referências da Filosofia do Direito 
contemporânea, e sua obra é fruto de uma análise madura e 
profunda dos ideais e das realizações políticas do século XX. 
Ao longo de sua formação intelectual, nas décadas de 40, 50 e 
60, Rawls acompanhou os debates acerca de qual seria o modelo 
econômico mais justo (o socialismo, o liberalismo econômico 
americano, o wellfare-state britânico, etc.); acompanhou as 
discussões sobre os limites e possibilidades da democracia, bem 
como as críticas aos modelos políticos totalitários, e aprofundou 
seus estudos sobre os fundamentos teóricos da política e do direito. 
Figura 2.7 - John Rawls
Fonte: Negron (2009).
John Rawls (EUA, 1921 
- 2002) foi professor na 
Universidade de Harvard 
e escreveu, entre outras 
obras, Uma Teoria da 
Justiça (A Theory of Justice, 
1971), Liberalismo Político 
(Political Liberalism, 1993) 
e O Direito dos Povos (The 
Law of Peoples, 1999).
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Universidade do Sul de Santa Catarina
A importância da sua obra decorre da sua habilidade em formular, 
de forma equilibrada e bem fundamentada, uma proposta capaz de 
conciliar a tradição iluminista da modernidade europeia e os ideais 
democrático-republicanos dos americanos com os clamores por 
justiça social que eclodiram ao longo do século XX. 
As ideias fundamentais da concepção de justiça de Rawls 
encontram-se formuladas na obra Uma Teoria da Justiça (1971). 
É fundamentalmente essa obra que servirá de base para a breve 
análise que faremos a seguir das principais teses desse autor, 
relativas à Filosofia do Direito. Acompanhe.
Três pressupostos fundamentais. A teoria da justiça rawlsiana 
parte de três pressupostos fundamentais: 
a) escassez moderada dos recursos, que faz com que ocorra 
um conflito permanente entre indivíduos. Essa escassez 
decorre de uma limitação dos recursos naturais associada 
ao desejo ilimitado de posse pelos indivíduos. Uma 
teoria da justiça não teria sentido em uma situação de 
abundância plena nem em uma situação de escassez 
absoluta;
b) reconhecimento do fato do pluralismo, ou seja, a 
aceitação de que existe um desacordo irredutível a 
respeito da ideia de bem e uma decorrente variedade nos 
projetos racionais de vida;
c) racionalidade e razoabilidade de todos os indivíduos. Uma 
teoria da justiça só se torna aplicável quando os indivíduos 
estão predispostos a cooperar e a fazer concessões 
negociadas. Nesse sentido, é necessária a racionalidade 
(enquanto capacidade de formular projetos de vida que 
levem em consideração adequação de meios a fins) e a 
razoabilidade (capacidade de perceber que os meus fins 
não são os únicos nem podem ser impostos aos demais).
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Filosofia do Direito
Unidade 2
É possível conciliar liberdade e igualdade. A proposta de 
Rawls para conciliar a justiça social com os princípios da tradição 
política ocidental é a concepção de justiça como equidade. Nessa 
proposta, a justiça social decorre de uma conjugação entre dois 
valores fundamentais: a liberdade e a igualdade. Apesar da 
inegável importância de tais valores para a cultura ocidental, a 
maioria das ideologias modernas trataram-nos como se fossem 
inconciliáveis na prática, sempre fazendo opção por um em 
detrimento do outro. 
Igual acesso aos bens primários sociais. Rawls considera a 
sociedade como um “esquema de colaboração” mútua entre os 
indivíduos. Essa colaboração só é possível a partir de bens sociais 
primários, a partir dos quais é possível produzir ou alcançar 
novos bens sociais. Segundo Rawls, os bens primários são aquelas 
coisas que se supõe todo homem racional desejar, independente 
de qualquer outra coisa que ele possa desejar de modo particular. 
“Os bens primários [...] são direitos, liberdades e oportunidades, 
assim como renda e riqueza”(RAWLS, 1997, p. 98).
O objeto da teoria da justiça é a Estrutura Básica da Sociedade. 
Embora o objetivo da teoria da justiçaseja a realização de 
uma distribuição equitativa dos bens sociais primários, o foco 
da análise teórica deve ser direcionado à estrutura básica da 
sociedade, ou seja, às instituições que, em última análise, 
determinam direitos e deveres e repartem os bens e obrigações 
entre todos os cidadãos. Entre essas instituições fundamentais, 
Rawls enumera a constituição política, os principais acordos 
econômicos e sociais. 
Por exemplo, nas sociedades ocidentais, a proteção 
legal da liberdade de pensamento e de consciência, 
os mercados competitivos, a propriedade particular 
no âmbito dos meios de produção e a família 
monogâmica. 
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Quando as desigualdades sociais atingem a estrutura básica 
da sociedade, os seus efeitos são profundos e influenciam os 
projetos de vida dos indivíduos. Por isso, uma sociedade justa e 
bem ordenada é aquela em que a estrutura básica da sociedade 
promove o acesso equitativo aos bens sociais primários.
A justiça como equidade. A proposta de Rawls, com a sua 
teoria da justiça, é determinar como os benefícios e encargos da 
sociedade podem (e devem) ser distribuídos entre os indivíduos 
de uma maneira razoável ou equitativa. 
A equidade é alcançada quando se consegue achar um ponto 
de equilíbrio razoável entre a igualdade e as diferenças. 
Assim, de maneira geral, a teoria de Rawls pode ser resumida 
da seguinte forma:
Todos os valores sociais – liberdade e oportunidade, 
renda e riqueza, e as bases sociais da auto-estima – 
devem ser distribuídos igualmente a não ser que uma 
distribuição desigual de um ou de todos esses valores 
traga vantagens para todos. A injustiça, portanto, 
se constitui simplesmente de desigualdades que não 
beneficiam a todos. (RAWLS, 1997, p. 66).
A partir da concepção de justiça como equidade ( justice as fairness), 
Rawls formula dois princípios fundamentais de justiça (RAWLS, 
1997, p. 64):
1. cada pessoa deve ter um direito igual ao mais abrangente 
sistema de liberdades básicas iguais, que seja compatível 
com um sistema semelhante de liberdades para as outras;
2. as desigualdades sociais e econômicas devem ser 
ordenadas de tal modo que sejam ao mesmo tempo: (a) 
consideradas como vantajosas para todos dentro dos 
limites do razoável, e (b) vinculadas a posições e cargos 
acessíveis a todos. 
Veja no texto a seguir a origem dessas duas concepções de Rawls: 
Rawls utiliza os termos 
fair e fairness, que são 
de difícil tradução para o 
Português.
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Filosofia do Direito
Unidade 2
A posição original e o véu da ignorância: situação hipotética e 
princípio metodológico 
Rawls reivindica para os seus dois princípios de justiça um caráter 
de universalidade e generalidade. Segundo ele, tais princípios 
seriam aqueles que qualquer indivíduo racional escolheria, se 
pudesse fazer uma opção puramente racional. 
Se fizéssemos uma avaliação isenta, veríamos que os princípios 
de justiça ideais para alcançar a equidade seriam aqueles que 
pudessem ser acordados entre indivíduos concebidos como 
agentes morais desinteressados e sem conhecimento de suas 
respectivas situações reais de vida (incluindo raça, sexo ou 
condição econômica). 
Sendo assim, note que Rawls propõe uma situação 
hipotética, denominada “posição original”, na qual cada 
indivíduo desconhecesse totalmente a sua situação 
social (véu da ignorância). É essa situação hipotética 
– irrealizável, porém imaginável – que possibilita 
compreender a racionalidade e a universalidade dos 
princípios de justiça.
Rawls procura formular uma teoria política da justiça que seja 
aplicável nos dias atuais. Tal como Kant, Rawls parte de um 
exame reflexivo e racional da justiça. Neste sentido, a Filosofia 
de Direito de Rawls pode ser classificada como crítica.
 
Síntese
Nesta unidade, você estudou algumas teses acerca da Filosofia 
do Direito de Platão. Entre elas, que a justiça identifica-se com 
a perfeição dos homens, que a justiça e a injustiça opõem-se, 
que os bons governantes visam cuidar dos governados e que o 
filósofo deve governar a cidade na qualidade de magistrado. 
Para tanto, os filósofos, governantes, magistrados formulam leis, 
considerando a ideia de bem como paradigma, como princípio 
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Universidade do Sul de Santa Catarina
fundamental. O filósofo, enquanto juiz, não pode ser novo, mas 
mais idoso e testado aos limites e, ao julgar, precisa evitar que 
bens alheios sejam detidos ou que bens próprios sejam privados. 
Você também identificou algumas teses acerca da Filosofia 
de Direito de Aristóteles. Conheceu, nesta perspectiva, que o 
homem se torna (in)justo por meio da prática de atos (in)justos, 
e que a lei, sobre todos os assuntos, visa à vantagem comum, 
o bem comum. Identificou que o propósito do legislador é, 
por meio da lei, incutir hábitos pertinentes ao bom cidadão. 
A justiça, por sua vez, algo essencialmente humano, pode ser 
compreendida como meio-termo, e a injustiça é um extremo, um 
vício, a ser evitado. A justiça pode ser distinta como distributiva 
e corretiva, e a equidade procura invocar a justiça para atender as 
particularidades não contempladas na generalidade da lei.
Você estudou também que Hobbes contribui para pensar o 
Direito, na medida em que aborda a origem do Estado e/ou da 
Sociedade Civil a partir de uma concepção contratualista. 
Aprendeu que o Direito para Kant pode ser entendido tanto em 
seu aspecto puramente formal quanto em sua realização positiva. 
O direito formal é uma decorrência do uso da razão prática e 
surge como uma extensão da boa vontade e do raciocínio que 
levou à formulação do imperativo categórico. Já o Direito positivo 
surge a partir da necessidade racional da constituição do Estado 
civil e torna-se legítimo, na medida em que possibilita o exercício 
da autonomia.
Finalizando esta unidade, você estudou que a teoria da justiça de 
Rawls surge de uma tentativa de conciliar igualdade e liberdade 
e de construir uma teoria que, mesmo sendo formal e universal, 
possa ser aplicada no mundo contemporâneo – marcado pela 
diversidade cultural e pelo pluralismo das concepções de bem. 
Rawls estabelece em sua teoria aqueles elementos indispensáveis 
a uma concepção política de justiça, aplicável a uma sociedade 
bem ordenada: dois princípios de justiça (o da igualdade e 
o da diferença) que têm por objetivo garantir a equidade na 
distribuição dos bem sociais primários. 
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Filosofia do Direito
Unidade 2
Atividades de autoavaliação
Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O 
gabarito está disponível no final do livro-didático. Mas se esforce para 
resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará 
promovendo (estimulando) a sua aprendizagem.
1) Leia atentamente o texto a seguir.
Demos ao homem de bem e ao mau o poder de 
fazerem o que quiserem. Sigamo-los e vejamos aonde 
a paixão os vai conduzir. Vamos surpreender o homem 
de bem avançando na mesma estrada que o outro, 
conduzido pelo desejo de ter cada vez mais, desejo 
que qualquer natureza segue como um bem, mas que 
a lei constrange pela força ao respeito pela igualdade. 
(Platão. A República).
Tendo como referência o texto acima, analise as asserções abaixo.
O homem de bem não faz o mesmo que o mau
porque
a lei constrange pela força o homem de bem a seguir a 
igualdade.
Acerca desse enunciado, assinale a opção correta.
a) ( ) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a 
segunda é uma justificativa correta da primeira.
b) ( ) As duas asserções são proposições verdadeiras, mas a 
segunda não é uma justificativa correta da primeira.c) ( ) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a 
segunda é uma proposição falsa.
d) ( ) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda é 
verdadeira.
e) ( ) As duas asserções são proposições falsas.
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (2005, p. 8).
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Universidade do Sul de Santa Catarina
2) Leia atentamente o texto a seguir.
O princípio que de entrada estabelecemos que devia 
observar-se em todas as circunstâncias, quando 
fundamos a cidade, esse princípio é, segundo me 
parece, ou ele ou uma das suas formas, a justiça. Ora 
nós estabelecemos, segundo suponho, e repetimo-lo 
muitas vezes, se bem te lembras, que cada um deve 
ocupar-se de uma função na cidade, aquela para a qual 
a sua natureza é mais adequada. (Platão. A República. 
Fundação Calouste Gulbenkian).
No trecho apresentado acima, faz-se referência à justiça, na concepção 
platônica. Assinale a opção que contém a proposição verdadeira que 
sustenta o argumento usado por Platão para definir e justificar tal concepção:
a) ( ) A igualdade natural predispõe o ser humano para a justiça 
e para o bem comum.
b) ( ) Compartilhar tarefas e habilidades com nossos 
semelhantes é a base natural de uma cidade justa.
c) ( ) A execução da função própria é uma exigência das 
convenções políticas como instrumentos jurídicos para a 
fundação das cidades.
d) ( ) O ato de cada um fazer o que lhe é mais adequado por 
natureza é necessário para a formação de uma cidade 
justa.
e) ( ) O interesse pessoal de cada um conduz naturalmente à 
implementação da justiça na cidade.
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (2008, p. 7).
 
3) Leia atentamente o texto a seguir.
A justiça é uma espécie de meio-termo, porém não no 
mesmo sentido que as outras virtudes, e sim porque se 
relaciona com uma quantia ou quantidade intermediária, 
enquanto a injustiça se relaciona com os extremos. E 
justiça é aquilo em virtude do qual se diz que o homem 
justo pratica, por escolha própria, o que é justo [...].
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Filosofia do Direito
Unidade 2
Este trecho, extraído de uma obra clássica da filosofia ocidental, trata de 
uma discussão da justiça considerada como:
a) ( ) simetria, dentro da filosofia estética de Platão.
b) ( ) valor, no tridimensionalismo de Miguel Reale.
c) ( ) medida, dentro da concepção rigorista e positivista de 
Hans Kelsen.
d) ( ) virtude, dentro do pensamento ético de Aristóteles.
e) ( ) contradição, na posição dialética entre justo e injusto, no 
pensamento de Karl Marx.
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (2006, p. 9).
4) Identifique as passagens seguintes com ‘P’, os trechos que se referem 
à Filosofia de Direito de Platão; ou com ‘A’, os trechos que se referem 
à Filosofia de Direito de Aristóteles. Esta atividade visa ampliar sua 
compreensão acerca de cada uma destas Filosofias do Direito, a partir 
do expresso pelos próprios filósofos.
a) ( ) “Ora o maior dos castigos é ser governado por quem é pior 
do que nós, se não quisermos governar nós mesmos. É com 
receio disso [...] que os bons ocupam as magistraturas, quando 
governam; e vão para o poder, não como quem vai tomar 
conta de qualquer benefício, nem para com ele gozar, mas 
como quem vai para uma necessidade [...] se houvesse um 
Estado de homens de bem, a que houvesse competições para 
não governar [...] tornar-se-ia então evidente que o verdadeiro 
chefe não nasceu para velar pela sua conveniência, mas pela 
dos seus subordinados.” (______, 2002, p. 34).
b) ( ) “[...] os legisladores tornam bons os cidadãos por meio de 
hábitos que lhes incutem. Esse é o propósito de todos os 
legisladores, e quem não consegue alcançar tal meta, falha 
no desempenho de sua missão, e é exatamente neste ponto 
que reside a diferença entre a boa e a má constituição.” 
(______, 2001, p. 41).
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Universidade do Sul de Santa Catarina
c) ( ) “E acaso se arranjará prova maior do vício e da educação 
vergonhosa numa cidade do que serem necessários médicos 
e juízes eminentes, não só para as pessoas de pouca monta e 
os artífices, mas também para os que dão ares de terem sido 
criados em grande estadão? Ou, não julgas uma vergonha 
e um grande sinal de falta de educação ser-se forçado a 
recorrer a uma justiça importada de outrem, como se eles 
fossem amos e juízes, por fala de justiça própria? [...] vergonha 
ainda será maior do que esta, se uma pessoa não só passar 
a maior parte da vida nos tribunais, como réu ou como 
acusador, mas ainda, pela sua grosseria, for levada a gabar-se 
precisamente da sua habilidade de cometer injustiças, e 
capaz de arquitetar todas as partidas, de se escapar por 
todas as saídas e de se dobrar como uma cana para não 
apanhar o castigo, e isso por amor de coisas mesquinhas 
e insignificantes, ignorando até que ponto é mais belo e 
melhor modelar a sua vida [...].” (______, 2002, p. 98).
d) ( ) “É evidente a maneira como devem ser distinguidos os 
significados de ‘justo’ e de ‘injusto’ que lhe correspondem, 
pois praticamente a maioria dos atos ordenados pela lei é 
constituída por aqueles que são prescritos tendo em vista a 
virtude considerada como um todo. De fato, a lei nos manda 
praticar todas as virtudes e nos proíbe de praticar qualquer 
vício, e o que tende a virtude como um todo são aqueles 
atos prescritos pela lei visando à educação para o bem 
comum.” (______, 2001, p. 107).
e) ( ) “[...] o juiz [...] governa a alma por meio da alma, à qual não 
convém desde nova ser criada no convívio com as almas 
perversas nem ter percorrido todas as injustiças, cometendo-as 
ela mesma, de modo a poder conjecturar com precisão, pelo 
seu próprio exemplo, os crimes dos outros, tal como avaliava 
das doenças pelo seu corpo. Deve antes ser inexperiente e estar 
intacta dos maus costumes na juventude, se quer tornar-se 
perfeita, para julgar corretamente o que é justo. Por esse 
motivo é que as pessoas de bem, quando jovens, se mostram 
simples e fáceis de ludibriar pelos injustos, por não terem 
em si modelos com sentimentos iguais aos dos perversos [...] 
Por isso [...] o bom juiz não deve ser novo, mas idoso, tendo 
aprendido tarde o que é a injustiça, tendo-se apercebido dela 
sem a ter alojado na sua própria alma, mas tendo-a observado 
como coisa alheia nos outros, durante muito tempo, para 
que, servindo-se do saber, e não da experiência própria, 
compreenda o mal que ela é.” (______, 2002, p. 103).
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Filosofia do Direito
Unidade 2
f) ( ) “O justo é, por conseguinte, uma espécie de termo 
proporcional [...] Efetivamente, a proporção é uma igualdade 
de razões, e envolve no mínimo quatro termos [...] O justo 
envolve também no mínimo quatro termos, e a razão entre 
dois desses termos é a mesma que existe entre o outro 
par, pois há uma distinção equivalente entre as pessoas 
e as coisas. Desse modo, assim como o termo A está para 
B, o termo C está para D; ou alternando, assim como A 
está para C, B está para D. Por conseguinte, também o 
todo mantém a mesma relação para com o todo; essa 
combinação é efetuada pela distribuição, e se os termos 
forem combinados da maneira que indicamos, terá sido 
efetuado justamente. Temos então que a justiça distributiva 
é a conjunção do primeiro termo de uma proporção com o 
terceiro, e do segundo com o quarto, e o justo neste sentido 
é o meio-termo, e o injusto é o que viola a proporção, pois 
o proporcional é o intermediário, e o justo é o proporcional. 
Os matemáticos chamam esta espécie de proporção de 
geométrica,pois [...] o todo está para o todo assim como 
cada parte está para a parte correspondente. 
A justiça distributiva não é uma proporção contínua, visto 
que o segundo e o terceiro termo correspondem a alguém 
que recebe parte de algo e à participação na coisa, e não 
podemos obter um termo único que represente uma pessoa 
e uma coisa.”. (______, 2001, p. 109).
g) ( ) “Enquanto não forem, ou os filósofos reis nas cidades, ou os 
que agora se chamam reis e soberanos filósofos genuínos e 
capazes, e se dê esta coalescência do poder político com a 
filosofia, enquanto as numerosas naturezas que atualmente 
seguem um destes caminhos com a exclusão do outro 
não forem impedidas forçosamente de o fazer, não haverá 
tréguas dos males [...] para as cidades, nem sequer [...] para 
o gênero humano.” (______, 2002, p. 170).
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Universidade do Sul de Santa Catarina
h) ( ) “Outra espécie de justiça é a corretiva, que tanto surge 
nas transações voluntárias como nas involuntárias [...] 
não de acordo com a espécie de proporção que citamos, 
e sim de acordo com uma proporção aritmética. Com 
efeito, é indiferente que um homem bom tenha lesado 
um homem mau, ou o contrário, e nem se é um homem 
bom ou mau que comete adultério; a lei considera apenas 
o caráter distintivo do delito e trata as partes como iguais, 
perguntando apenas se uma comete e a outra sofre a 
injustiça, se uma é autora e a outra é vítima do delito. 
Sendo, então, esta espécie de injustiça uma desigualdade, 
o juiz tenta restabelecer a igualdade, pois também no 
caso em que uma pessoa é ferida e a outra infligiu um 
ferimento, ou a matou e a outra foi morta, o sofrimento 
e a ação foram desigualmente distribuídos, e o juiz tenta 
igualar as coisas por meio da pena, subtraindo uma parte 
do ganho do ofensor. O temo ‘ganho’ aplica-se geralmente 
a tais casos, embora não seja apropriado a alguns deles 
(por exemplo, à pessoa que inflige um ferimento), e ‘perda’ 
se aplica à vítima. De qualquer forma, uma vez estimado o 
dano, um é chamado perda e o outro, ganho. Assim, o igual 
é intermediário entre o maior e o menor, mas o ganho e a 
perda são respectivamente menores e maiores de modos 
contrários: maior quantidade de bem e menor quantidade 
do mau são ganho, e o contrário é perda; o meio-termo 
entre os dois é, como já vimos, o igual, que chamamos 
justo; portanto, a justiça corretiva será o meio-termo entre 
perda e ganho. Eis por que, quando ocorrem disputas, as 
pessoas recorrem ao juiz. 
Recorrer ao juiz é recorrer à justiça, pois a natureza do juiz é 
ser uma espécie de justiça animada, e as pessoas procuram 
o juiz como um intermediário, e em algumas cidades-
Estado os juízes são chamados mediadores, na convicção 
de que, se os litigantes conseguirem o meio-termo, 
obterão o que é justo. Portanto, justo é um meio-termo já 
que o juiz o é. O juiz, então, restabelece a igualdade. Tudo 
ocorre como se houvesse uma linha dividida em partes 
desiguais e ele subtraísse a diferença que faz com que 
o segmento maior exceda a metade para acrescentá-la 
ao menor. E quando o todo foi igualmente dividido, os 
litigantes dizem que recebem ‘o que lhes pertence’ – isto é, 
obtiveram o que é igual.” (______, 2001, p. 110-111).
 
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Filosofia do Direito
Unidade 2
i) ( ) “[...] toda lei é universal, mas não é possível fazer uma 
afirmação universal que seja correta em relação a 
certos casos particulares [...] o erro não está na lei nem 
no legislador, e sim na natureza do caso particular, 
já que os assuntos práticos são, por natureza, dessa 
espécie [...] Desse modo, a natureza do equitativo é uma 
correção da lei quando esta é deficiente em razão da sua 
universalidade.”. (______, 2001, p. 125).
Saiba mais
Existem várias obras que podem ajudar a ampliar sua compreensão 
sobre a Filosofia do Direito de Platão ou a Filosofia do Direito de 
Aristóteles. Por meio das seguintes referências, você pode saber 
mais sobre pelo menos um destes dois temas:
ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. 4. ed. São Paulo: 
Martins Fontes, 2000.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Martin 
Claret, 2001.
HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo: Nova Cultural, 1988. 
KANT, Immanuel. A paz perpétua e outros opúsculos. Lisboa: 
Edições 70, 1995. 
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos 
costumes. Lisboa: Edições 70, 1988.
MORA, J. F. Dicionário de filosofia. 4. ed. São Paulo: Martins 
Fontes: 2001.
MORRIS, Clarence (Org). Os grandes filósofos do direito: 
leituras escolhidas em direito. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
OLIVEIRA, Nythamar. Rawls. [Passo-a-passo]. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar, 2003.
PLATÃO. A república. São Paulo: Martin Claret, 2002.
RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Lisboa: Editorial 
Presença, 1993.
RAWLS, John. Uma teoria da justiça. São Paulo: Martins 
Fontes, 1997.
RIBEIRO, Renato Janine. Hobbes: o medo e a esperança. In: 
Clássicos da Política. v.1. São Paulo: Ática, 1989.
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