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Contratos em Espécie Professor Sardinha Prova: dia 28/01/16 - objetiva e sem consulta - matéria até gestão de negócios Prova2: discursiva, com consulta - dia 16/03/16 Haverá seminários sobre temas polêmicos a respeito de determinados contratos, valendo 4 pontos na segunda prova. O trabalho deverá tratar da evolução legislativa, doutrinária e jurisprudencial do assunto. Aula 1 - dia 25/11/15 • Contratos em espécie - programa: - Contrato de empréstimo - Contrato de depósito - Contrato de mandato - Contrato de comissão * - Vigência e distribuição * - Corretagem - Transporte 2 - Seguro 2 - Constituição de renda 2 - Jogo e aposta 2 - Fiança 2 *não fazem parte do programa • Atos Unilaterais - Promessa de recompensa 2 - Gestão de negócio - Pagamento indevido 2 - Enriquecimento sem causa 2 - Títulos de crédito 2 Prova: serão 2 - uma objetiva e uma subjetiva Empréstimo Meio pelo qual pessoa transfere o domínio da coisa emprestada a outra, que deve devolvê-lo em certo prazo. Orlando Gomes: "é o contrato onde uma das partes recebe, para usar ou utilizar, algo, que deve ser restituído, ou dado outro em mesmo gênero, quantidade e qualidade, após um determinado tempo." Modalidades de empréstimo: Comodato e Mútuo - Comodato é o empréstimo de coisa infungível e mútuo é o empréstimo de coisa fungível. - O conceito de infungibilidade é relativo. - Mútuo pode ser gratuito ou oneroso -> empréstimo de consumo - No comodato, ao ser entregue, a própria coisa deve ser restituída -> empréstimo de uso. - Carro -> tem posse, não é o dono - Dinheiro -> não tem posse, é o dono Partes do Comodato - Comodante -> quem entrega - Comodatário -> quem recebe Restrição para comodante: art. 580 -> Os Tutores/curadores e administradores de bens alheios não podem dar em comodato sem autorização especial do juiz. Art. 580. Os tutores, curadores e em geral todos os administradores de bens alheios não poderão dar em comodato, sem autorização especial, os bens confiados à sua guarda. Característica importante do Comodato: contrato essencialmente gratuito. Se houver remuneração, passa a ser locação. Obs.: Não descaracteriza o comodato o fato de o o comodatário arcar com as despesas da coisa. Enunciado 584 - Em casos excepcionais, a jurisprudência admite que o comodatário cobre as despesas. Comodato tem que estipular uma data para a devolução? -> Art 581 - Se for indeterminado, o comodatário pode exigir a qualquer hora. Contrato com a entrega = contrato real Contrato sem a entrega = consensual Art. 581. Se o comodato não tiver prazo convencional, presumir-se-lhe-á o necessário para o uso concedido; não podendo o comodante, salvo necessidade imprevista e urgente, reconhecida pelo juiz, suspender o uso e gozo da coisa emprestada, antes de findo o prazo convencional, ou o que se determine pelo uso outorgado. A solenidade é uma exceção ao princípio da liberalidade das formas. Obs: o comodatário deve restituir o bem conservado. Se não agir dessa forma, poderá responder por culpa e será obrigado a reparar o dano. Art. 583: Numa situação de perigo, o bem do comodante deve ser salvo primeiramente. Ex.: 2 carros em um incêndio. Art. 583. Se, correndo risco o objeto do comodato juntamente com outros do comodatário, antepuser este a salvação dos seus abandonando o do comodante, responderá pelo dano ocorrido, ainda que se possa atribuir a caso fortuito, ou força maior. A lei estabelece solidariedade no caso de múltiplos comodatários. Entretanto, a solidariedade não se presume, devendo advir da lei ou vontade das partes. Aula 2 - dia 26/11/15 A jurisprudência entende que somente as obras necessárias e urgentes poderão ser pleiteadas pelo comodatário (a quem foi emprestado algo gratuitamente) ao comodante (quem empresta). A interpretação segue no sentido de que aquele que pratica um ato gratuito deve ser prestigiado. São poucos os precedentes que existem especificamente sobre comodato, pois ele normalmente é feito entre pessoas muito próximas. Os litígios mais comuns estão nos contratos mais complexos que envolvem também o comodato. Art. 582. O comodatário é obrigado a conservar, como se sua própria fora, a coisa emprestada, não podendo usá-la senão de acordo com o contrato ou a natureza dela, sob pena de responder por perdas e danos. O comodatário constituído em mora, além de por ela responder, pagará, até restituí-la, o aluguel da coisa que for arbitrado pelo comodante. Na verdade, não é um aluguel, é uma indenização. Obs.: mora é o inadimplemento relativo da obrigação. Inadimplemento absoluto é aquele que o adimplemento já não importa à outra parte. O relativo é aquele que ainda importa. Tanto a locação como o comodato não exigem forma escrita, mas os atos gratuitos não devem ser presumidos. Mútuo Modalidade de empréstimo para bens fungíveis, enquanto o comodato é o empréstimo para coisas infungíveis. Art. 586. O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade. O exemplo mais comum é o mútuo de dinheiro. O mútuo, assim como o comodato, é um contrato real, pois se perfaz com a entrega da coisa. Pode ser também gratuito ou oneroso. Será gratuito quando não houver a estipulação de juros. Oneroso, quando houver. Correção monetária não é considerada juros para essa classificação. Qualquer um pode praticar contrato de mútuo gratuito ou oneroso. Não é atividade exclusiva de instituições financeiras. A diferença é que os bancos podem cobrar juros sem limitação de taxa, desde que esteja dentro dos limites e média de mercado. O valor máximo, para outras pessoas, é de 1% ao mês, ou 12% ao ano. Na lei de usura (Decreto 22.626/33) há limitação de não poder utilizar-se juros sobre juros (capitalização de juros, salvo a capitalização anual) e o máximo de 12% ao ano. Outra coisa que distingue o mútuo do comodato é que, no mútuo, a coisa mutuada cai no domínio do mutuário, ou seja, passa a pertencer ao mutuário. No comodato, somente a posse é transferida, e não o domínio (propriedade) da coisa. Art. 587. Este empréstimo transfere o domínio da coisa emprestada ao mutuário, por cuja conta correm todos os riscos dela desde a tradição. Prazo do mútuo: Art. 592. Não se tendo convencionado expressamente, o prazo do mútuo será: I - até a próxima colheita, se o mútuo for de produtos agrícolas, assim para o consumo, como para semeadura; II - de trinta dias, pelo menos, se for de dinheiro; III - do espaço de tempo que declarar o mutuante, se for de qualquer outra coisa fungível. Em relação ao mútuo em dinheiro, prevalece o princípio do nominalismo, no qual a moeda utilizada deve ser a corrente no país (Real), salvo contratos internacionais. Quanto à taxa, há uma confusão se o que deve ser usado é correção monetária + 12% ao ano ou taxa Selic. O art 591 fala que deve ser aplicado o devido à mora de impostos, que é a taxa Selic. Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalização anual. Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional. A restituição do mútuo deve conter a quantia mais correção monetária mais juros. Tudo o que exorbite a isso é ilegal. Os bancos cobravam algo além disso, que era a taxa de permanência. Isso foi vetado pela jurisprudência, fruto de várias ações coletivas para a defesa de consumidores. Obs.: Enunciado 20, da Jornada de Direito Civil. Enunciado 20 - Art. 406: a taxa de juros moratórios a que se refere o art. 406 é a do art. 161, §1º, do Código Tributário Nacional, ou seja, um por cento ao mês. A utilização da taxa SELIC como índice de apuração dos juros legais não é juridicamente segura, porque impede o prévio conhecimento dos juros; não é operacional, porque seu uso será inviável sempre que se calcularem somente juros ou somente correção monetária; é incompatível com a regra do art. 591 do novo Código Civil, que permite apenas a capitalização anual dos juros, e pode ser incompatível com o art. 192, § 3º, da Constituição Federal, se resultarem juros reais superiores a doze por cento ao ano. Para o cálculo da taxa Selic, o governo já inclui a correção monetária. AgRg no REsp 895075/RS - Admitiu a utilização da taxa Selic, desacompanhada de encargos remuneratórios e correção monetária. Observar também a Súmula 382, do STJ: SÚMULA Nº 382 A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade. Aula 3 - dia 02/12/15 Contrato de Depósito - Art. 627 e ss. É o contrato em que uma pessoa entrega coisa a outra para que esta guarde, devolvendo ao final do contrato. Art. 627. Pelo contrato de depósito recebe o depositário um objeto móvel, para guardar, até que o depositante o reclame. Partes: depositante (quem entrega) e depositário (quem recebe para guardar). O depositante tem a necessidade que objeto seu seja guardado. Quando se fala em depósito, tanto se fala em contrato de depósito quanto ao objeto de depósito. É um contrato real, pois se perfaz com a entrega da coisa. O depósito, nesse aspecto, se aproxima de um contrato de prestação de serviço, embora o contrato de prestação de serviços não seja um contrato real. Algumas legislações até admitem o contrato de depósito de imóveis, como a portuguesa, mas no Brasil isso não é admitido. Pode ocorrer de o depósito necessitar conservação, mas alguns desses casos estão em uma zona cinzenta entre depósito, locação de espaço ou prestação de serviços. O que se deve levar em consideração é o interesse do depositante e a ausência deste. O contrato de depósito exige este requisito. Ex.: guarda de dinheiro e objetos de valor em cofre no banco. A doutrina majoritária entende esse caso como locação. A guarda da coisa, no contrato de depósito, está relacionada ao interesse daquele que entrega a coisa, diferentemente do comodato, onde o interesse é daquele que recebe a coisa. Não descaracteriza o depósito a existência de serviços agregados à conservação da coisa. Art. 640. Sob pena de responder por perdas e danos, não poderá o depositário, sem licença expressa do depositante, servir-se da coisa depositada, nem a dar em depósito a outrem. Pode haver licença do depositante para que o depositário use a coisa, sem que isso descaracterize o contrato de depósito. A guarda não se confunde com posse nem domínio, pois ela é uma relação física com a coisa. A posse é mais do que a guarda, pois ela exige mais do que um poder físico, um "animus" específico. O domínio é a completa disposição do bem e de seus frutos. Obs.: o contrato de conta corrente não é depósito. É um contrato sui generis inominado. Quando se diz que o depositário tem o uso da coisa, esse uso tem um caráter acidental (secundário, periférico ou subsidiário), pois o aspecto principal não é esse. Se o aspecto principal do contrato é o uso, ele deixa de ser depósito e passa a ser locação, por exemplo. A obrigação principal do depositário é de restituir a coisa. O contrato de depósito voluntário presume-se gratuito (salvo se atividade empresarial do depositário), mas pode também ser oneroso. Será gratuito quando não houver remuneração a ser paga ao depositário. Oneroso, por outro lado, quando houver remuneração combinada. Classificação: O depósito pode ser voluntário (decorre da vontade das partes) ou necessário (surge de obrigação legal ou circunstância calamitosa). O depósito necessário se presume oneroso. Art. 646. O depósito voluntário provar-se-á por escrito. Art. 647. É depósito necessário: I - o que se faz em desempenho de obrigação legal; II - o que se efetua por ocasião de alguma calamidade, como o incêndio, a inundação, o naufrágio ou o saque. Art. 648. O depósito a que se refere o inciso I do artigo antecedente, reger-se-á pela disposição da respectiva lei, e, no silêncio ou deficiência dela, pelas concernentes ao depósito voluntário. Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se aos depósitos previstos no inciso II do artigo antecedente, podendo estes certificarem-se por qualquer meio de prova. O depósito voluntário prova-se por escrito, enquanto o necessário, por qualquer meio. O depósito também pode ser regular ou irregular. O regular ou ordinário é aquele em que a coisa depositada tem a característica de ser infungível. Ao passo em que o depósito irregular é aquele em que a coisa depositada tem um caráter fungível. Sendo a coisa fungível, surge para o depositário a obrigação de restituir coisa do mesmo gênero. Nesse sentido, a doutrina explica que o depósito irregular se equipara ao mútuo. Art. 645. O depósito de coisas fungíveis, em que o depositário se obrigue a restituir objetos do mesmo gênero, qualidade e quantidade, regular-se-á pelo disposto acerca do mútuo. Obrigações do depositário - Principal: restituir a coisa dada em depósito. Essa responsabilidade é tamanha, que a lei definiu a pena de prisão para o depositário infiel. Entretanto, o STF pacificou o entendimento de que não cabe a prisão do depositário infiel, por força do Pacto de São José da Costa Rica. CF, Art. 5º, LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel; A ação de depósito é aquela que tem por objetivo reaver a coisa depositada. Está prevista no art. 901, CPC e ocorre com o estabelecimento de uma multa, pelo juiz, para o cumprimento da obrigação de restituir. DA AÇÃO DE DEPÓSITO Art. 901. Esta ação tem por fim exigir a restituição da coisa depositada. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973) Obs.: No novo CPC, não há mais o instituto da ação de depósito. Aula 4 - dia 03/12/15 Outra obrigação importante do depósitário é a de guardar a coisa e conservá-la com toda a diligência. Art. 629. O depositário é obrigado a ter na guarda e conservação da coisa depositada o cuidado e diligência que costuma com o que lhe pertence, bem como a restituí-la, com todos os frutos e acrescidos, quando o exija o depositante. Caso fortuito ou força maior: caso o depositário os comprove, não será responsabilizado pelo dano. Art. 631. Salvo disposição em contrário, a restituição da coisa deve dar-se no lugar em que tiver de ser guardada. As despesas de restituição correm por conta do depositante. Se o depositante se furtar em receber a coisa, o depositário poderá depositá-la judicialmente. Art. 644. O depositário poderá reter o depósito até que se lhe pague a retribuição devida, o líquido valor das despesas, ou dos prejuízos a que se refere o artigo anterior, provando imediatamente esses prejuízos ou essas despesas. Parágrafo único. Se essas dívidas, despesas ou prejuízos não forem provados suficientemente, ou forem ilíquidos, o depositário poderá exigir caução idônea do depositante ou, na falta desta, a remoção da coisa para o Depósito Público, até que se liquidem. O direito de retenção, do art 644, é um meio de defesa indireto do depositário, no qual ele se recusa a devolver a coisa, até que o depositante arque com as despesas do depósito. Nesse caso, se o depositante ingressar com uma ação (de depósito), o depositário poderá alegar que exerce o seu direito de retenção. Estabelecimentos hoteleiros têm depósitos necessários sobre as bagagens dos viajantes. Contrato de Mandato - Art. 653 e ss. Vem do direito romano - mano dato: dar a mão. Contratoem que uma pessoa confere a outra o poder de representação, de praticar atos em nome alheio. Enquanto a representação legal decorre da Lei, a convencional é aquela que advém da vontade das partes, por um contrato de mandato. O representante pratica o ato em nome próprio, mas não se obriga pessoalmente. A procuração é o sinal exterior, o instrumento do mandato. Art. 653. Opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses. A procuração é o instrumento do mandato. O mandato é o contrato pelo qual alguém se obriga a praticar atos jurídicos ou a praticar interesses por conta de outrem. (Orlando Gomes) As partes do contrato são o mandante (pessoa que confere os poderes) e o mandatário (pessoa em favor de quem os poderes são conferidos). O mandatário é também chamado de procurador. Nesse contrato, a confiança é um fator relevante. Assim, ele pode ser extinto a qualquer tempo, caso seja rompida essa relação de confiança, mesmo que o contrato seja por prazo determinado. Outro cuidado que se deve ter no contrato de mandato é a delimitação dos poderes do mandatário. Não há forma especial para o mandato. Pode ser expresso ou tácito, verbal ou escrito. Art. 656. O mandato pode ser expresso ou tácito, verbal ou escrito. Art. 659. A aceitação do mandato pode ser tácita, e resulta do começo de execução. A doutrina divergia quanto à necessidade de forma específica para o mandato em que o ato para o qual o mandato seria conferido a exigia. Hoje não existe mais essa discussão, pois o art. 657 trata do assunto: Art. 657. A outorga do mandato está sujeita à forma exigida por lei para o ato a ser praticado. Não se admite mandato verbal quando o ato deva ser celebrado por escrito. Entretanto, hoje é pacífico o entendimento de que a procuração seguirá as mesmas formalidades que o ato para o qual ela será utilizada. O contrato de mandato não é um contrato acessório (sua existência não depende da existência de outro negócio principal), mas se diz que ele é um contrato preparatório, pois estará normalmente ligado a outro negócio a que se diz respeito, embora deste não dependa a sua existência. Art. 658. O mandato presume-se gratuito quando não houver sido estipulada retribuição, exceto se o seu objeto corresponder ao daqueles que o mandatário trata por ofício ou profissão lucrativa. Parágrafo único. Se o mandato for oneroso, caberá ao mandatário a retribuição prevista em lei ou no contrato. Sendo estes omissos, será ela determinada pelos usos do lugar, ou, na falta destes, por arbitramento. Quem pode ser mandante/mandatário? Art. 654. Todas as pessoas capazes são aptas para dar procuração mediante instrumento particular, que valerá desde que tenha a assinatura do outorgante. § 1º O instrumento particular deve conter a indicação do lugar onde foi passado, a qualificação do outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com a designação e a extensão dos poderes conferidos. § 2º O terceiro com quem o mandatário tratar poderá exigir que a procuração traga a firma reconhecida. Alguns autores defendem que os incapazes só podem dar procuração por instrumento público, não particular. Esse é um entendimento minoritário da doutrina. O entendimento predominante é que o incapaz pode ser dar procuração particular, desde que sejam representados ou assistidos. A jurisprudência majoritária entende que a procuração conferida por menor a advogado não precisa ser conferida por instrumento público, podendo ser realizada por instrumento particular, desde que devidamente representado ou assistido. Aula 5 - dia 9/12/15 Mandato (Cont.) A relação de confiança é um traço característico do contrato de mandato, o que o torna, segundo a doutrina, um contrato intuitu personae. O poder de administração de um mandato legal (pais em relação a filhos) se restringe aos atos de administração. O mandato será útil sempre que o indivíduo não quiser, não puder praticar o ato sozinho, ou for legalmente obrigado a nomear um procurador, como no caso da necessidade de advogado. Com relação ao mandante, exige-se, de modo geral, a capacidade plena. A lei não exigiu, para a prática do ato, o reconhecimento de firma. A redação anterior do art. 38, do CPC, continha a exigência de reconhecimento de firma. Art. 38, CPC. A procuração geral para o foro, conferida por instrumento público, ou particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, salvo para receber citação inicial, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre que se funda a ação, receber, dar quitação e firmar compromisso. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 1994) Parágrafo único. A procuração pode ser assinada digitalmente com base em certificado emitido por Autoridade Certificadora credenciada, na forma da lei específica. (Incluído pela Lei nº 11.419, de 2006). Alguns doutrinadores entendem que não se exige o reconhecimento de firma para a procuração geral, necessitando, por outro lado, para a procuração com poderes específicos. A procuração para o foro em geral também é chamada de procuração AD JUDICIA. O terceiro pode exigir o reconhecimento de firma na procuração, mas isso não é requisito de validade para o negócio jurídico. O contrato de mandato vai se corporificar em uma procuração, que não se exige forma especial. Ele poderá ser verbal ou escrito, conforme o art 656, mas o terceiro interessado raramente aceitará a procuração verbal. Art. 654. Todas as pessoas capazes são aptas para dar procuração mediante instrumento particular, que valerá desde que tenha a assinatura do outorgante. § 1º O instrumento particular deve conter a indicação do lugar onde foi passado, a qualificação do outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com a designação e a extensão dos poderes conferidos. § 2º O terceiro com quem o mandatário tratar poderá exigir que a procuração traga a firma reconhecida. Não é comum que o mandatário assine a procuração, pois o que caracteriza a aceitação tácita é o início da execução dos atos, conforme o art. 659, do CC. O substabelecimento é o ato que transfere os poderes conferidos pelo mandatário a terceiro. O substabelecimento com reserva é aquele em que o substabecente passa os poderes ao substabelecido, mas reserva também para si os mesmos poderes. Art. 667. O mandatário é obrigado a aplicar toda sua diligência habitual na execução do mandato, e a indenizar qualquer prejuízo causado por culpa sua ou daquele a quem substabelecer, sem autorização, poderes que devia exercer pessoalmente. § 1º Se, não obstante proibição do mandante, o mandatário se fizer substituir na execução do mandato, responderá ao seu constituinte pelos prejuízos ocorridos sob a gerência do substituto, embora provenientes de caso fortuito, salvo provando que o caso teria sobrevindo, ainda que não tivesse havido substabelecimento. § 2º Havendo poderes de substabelecer, só serão imputáveis ao mandatário os danos causados pelo substabelecido, se tiver agido com culpa na escolha deste ou nas instruções dadas a ele. § 3º Se a proibição de substabelecer constar da procuração, os atos praticados pelo substabelecido não obrigam o mandante, salvo ratificação expressa, que retroagirá à data do ato. § 4º Sendo omissa a procuração quanto ao substabelecimento, o procurador será responsável se o substabelecido proceder culposamente. Se o mandante desejar, pode fazer uma notificação extrajudicial (no cartório de títulos e documentos) destituindo o mandatário (por exemplo, advogado). Art. 660. O mandato pode ser especial a um ou mais negócios determinadamente, ou geral a todos os do mandante. Art. 661. O mandato em termos gerais só confere poderes de administração. § 1º Para alienar, hipotecar, transigir, ou praticar outrosquaisquer atos que exorbitem da administração ordinária, depende a procuração de poderes especiais e expressos. § 2º O poder de transigir não importa o de firmar compromisso. A procuração que não delimita poderes ao mandatário é inexistente. Art. 662. Os atos praticados por quem não tenha mandato, ou o tenha sem poderes suficientes, são ineficazes em relação àquele em cujo nome foram praticados, salvo se este os ratificar. Parágrafo único. A ratificação há de ser expressa, ou resultar de ato inequívoco, e retroagirá à data do ato. O ato praticado por quem não tenha poderes para tal padece no plano de eficácia, salvo se houver a ratificação. O art. 664 também confere ao mandatário o direito de retenção. Art. 664. O mandatário tem o direito de reter, do objeto da operação que lhe foi cometida, quanto baste para pagamento de tudo que lhe for devido em conseqüência do mandato. Art. 665. O mandatário que exceder os poderes do mandato, ou proceder contra eles, será considerado mero gestor de negócios, enquanto o mandante lhe não ratificar os atos. Art. 666. O maior de dezesseis e menor de dezoito anos não emancipado pode ser mandatário, mas o mandante não tem ação contra ele senão de conformidade com as regras gerais, aplicáveis às obrigações contraídas por menores. O art. 666 é uma exceção às regras de capacidade, pois o menor relativamente incapaz poderá ser mandatário, uma vez que isso não afeta o patrimônio do menor, mas sim do mandante, que deverá ser maior e capaz. As obrigações do mandatário são de cumprir fielmente os termos do mandato, prestar contas e demais regras previstas nos artigos 667 e seguintes, do CC. Dia 10/12/15 - NÃO HOUVE AULA Aula 6 - dia 16/12/15 Ainda que o mandatário tenha poderes para a prática de todos os atos permitidos em lei, deve seguir às ordens do mandante, sob pena de violar os termos contratuais. A prática de ato para o qual o mandatário não tem poderes leva à não responsabilidade do mandante sobre aqueles atos. O ato não é eficaz perante o mandante. Art. 673. O terceiro que, depois de conhecer os poderes do mandatário, com ele celebrar negócio jurídico exorbitante do mandato, não tem ação contra o mandatário, salvo se este lhe prometeu ratificação do mandante ou se responsabilizou pessoalmente. Pela teoria da aparência, o ato realizado pelo mandatário sem poderes é considerado válido perante o terceiro de boa fé. O mandatário não pode ter interesse conflitante com o do mandante. - Obrigações do Mandante Principal: responder pelos atos praticados pelo mandatário. Este somente pratica atos representando o mandante. Secundária: Pagar a remuneração do mandatário (caso o mandato não seja gratuito). Se o mandante resolve destituir o mandatário (no caso, advogado) antes do término do mandato, quanto deve ser pago de remuneração? Se houver cláusula penal no contrato, ela deve ser seguida. Se não houver, as partes devem entrar em consenso ao fazer o distrato. Se não houver o consenso, deverá haver uma ação de arbitramento. Existe também o direito de retenção em favor do mandatário: Art. 681. O mandatário tem sobre a coisa de que tenha a posse em virtude do mandato, direito de retenção, até se reembolsar do que no desempenho do encargo despendeu. Se o mandato foi a mais de um mandatário, a cada um deles incumbe atuar separadamente, a menos que o mandato exija o mandato em conjunto. O mandato ainda responsabilizará os mandatários solidariamente. Art. 672. Sendo dois ou mais os mandatários nomeados no mesmo instrumento, qualquer deles poderá exercer os poderes outorgados, se não forem expressamente declarados conjuntos, nem especificamente designados para atos diferentes, ou subordinados a atos sucessivos. Se os mandatários forem declarados conjuntos, não terá eficácia o ato praticado sem interferência de todos, salvo havendo ratificação, que retroagirá à data do ato. Art. 680. Se o mandato for outorgado por duas ou mais pessoas, e para negócio comum, cada uma ficará solidariamente responsável ao mandatário por todos os compromissos e efeitos do mandato, salvo direito regressivo, pelas quantias que pagar, contra os outros mandantes. - Extinção do mandato Normalmente, os contratos, em geral, terminam por decurso do prazo contratual, conclusão do negócio ou pelo distrato. Art. 682. Cessa o mandato: I - pela revogação ou pela renúncia; II - pela morte ou interdição de uma das partes; III - pela mudança de estado que inabilite o mandante a conferir os poderes, ou o mandatário para os exercer; IV - pelo término do prazo ou pela conclusão do negócio. A morte da parte, no processo judicial, gera duas consequências: a suspensão imediata do processo e destituição do advogado. A incapacidade superveniente do mandante extingue o mandato. Terceiro de boa fé: Art. 689. São válidos, a respeito dos contratantes de boa-fé, os atos com estes ajustados em nome do mandante pelo mandatário, enquanto este ignorar a morte daquele ou a extinção do mandato, por qualquer outra causa. - Renúncia do mandato É o ato unilateral pelo qual o mandatário extingue o contrato. Pode ser por escrito ou verbalmente, embora seja ideal fazê-la por escrito. Como o elemento confiança é extremamente relevante no mandato, a lei autoriza o desfazimento do contrato a qualquer tempo. Isso poderá ter implicações financeiras, mas, independentemente disso, qualquer uma das partes, seja mandante ou mandatário, a qualquer tempo, pode resolver o contrato. A renúncia inoportuna é um ato ilícito. É aquela renúncia que prejudica a prática de ato relevante. O mandatário não pode renunciar às vésperas de um ato relevante, sem o qual serão gerados prejuízos para o mandante. Em caso de renúncia inoportuna, o mandante fará jus a ação indenizatória contra o mandatário. Art. 688. A renúncia do mandato será comunicada ao mandante, que, se for prejudicado pela sua inoportunidade, ou pela falta de tempo, a fim de prover à substituição do procurador, será indenizado pelo mandatário, salvo se este provar que não podia continuar no mandato sem prejuízo considerável, e que não lhe era dado substabelecer. - Revogação do mandato É o ato unilateral pelo qual o mandante extingue o mandato. Deverá ser feita através de comunicação ao mandatário. Em algumas situações, pode ser estabelecida uma cláusula de irrevogabilidade no contrato. Essa cláusula não significa que o mandato será irrevogável, mas que o mandante que revogar pagará perdas e danos ao mandatário. Art. 683. Quando o mandato contiver a cláusula de irrevogabilidade e o mandante o revogar, pagará perdas e danos. Art. 684. Quando a cláusula de irrevogabilidade for condição de um negócio bilateral, ou tiver sido estipulada no exclusivo interesse do mandatário, a revogação do mandato será ineficaz. Art. 685. Conferido o mandato com a cláusula "em causa própria", a sua revogação não terá eficácia, nem se extinguirá pela morte de qualquer das partes, ficando o mandatário dispensado de prestar contas, e podendo transferir para si os bens móveis ou imóveis objeto do mandato, obedecidas as formalidades legais. Art. 686. A revogação do mandato, notificada somente ao mandatário, não se pode opor aos terceiros que, ignorando-a, de boa-fé com ele trataram; mas ficam salvas ao constituinte as ações que no caso lhe possam caber contra o procurador. Quando as partes querem realizar um negócio em que não poderá ser finalizado logo, uma boa alternativa é a procuração "em causa própria", pois autoriza o mandatário que atue em interesse próprio, além de ser irrevogável e não ser extinta com a morte do mandante. Essa cláusula vem do latim: "IN REM SUAM". Aula 6 - dia 16/12/15 Art. 692. O mandato judicial fica subordinado às normas que lhe dizem respeito, constantes da legislação processual, e, supletivamente, às estabelecidas neste Código. Entende-seque o mandato judicial é o mandato específico para que os advogados representem seus clientes em juízo. O art. 692 remete-se à legislação processual. Se a parte não tem a assistência do advogado, falta-lhe a capacidade postulatória, que é um pressuposto de validade do processo. Assim, será julgada a extinção do processo sem julgamento de mérito. ***O recurso interposto pelo advogado que não tem poderes é inexistente, segundo a jurisprudência. Se o advogado necessita praticar atos urgentes, pode realizar a ressalva de que ainda não possui a procuração. Será dado um prazo para a juntada da procuração. Ao advogado será dada a procuração AD JUDICIA. CPC/76: Art. 37. Sem instrumento de mandato, o advogado não será admitido a procurar em juízo. Poderá, todavia, em nome da parte, intentar ação, a fim de evitar decadência ou prescrição, bem como intervir, no processo, para praticar atos reputados urgentes. Nestes casos, o advogado se obrigará, independentemente de caução, a exibir o instrumento de mandato no prazo de 15 (quinze) dias, prorrogável até outros 15 (quinze), por despacho do juiz. Parágrafo único. Os atos, não ratificados no prazo, serão havidos por inexistentes, respondendo o advogado por despesas e perdas e danos. Art. 38. A procuração geral para o foro, conferida por instrumento público, ou particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, salvo para receber citação inicial, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre que se funda a ação, receber, dar quitação e firmar compromisso. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 1994) Parágrafo único. A procuração pode ser assinada digitalmente com base em certificado emitido por Autoridade Certificadora credenciada, na forma da lei específica. (Incluído pela Lei nº 11.419, de 2006). Art. 13. Verificando a incapacidade processual ou a irregularidade da representação das partes, o juiz, suspendendo o processo, marcará prazo razoável para ser sanado o defeito. Não sendo cumprido o despacho dentro do prazo, se a providência couber: I - ao autor, o juiz decretará a nulidade do processo; II - ao réu, reputar-se-á revel; III - ao terceiro, será excluído do processo. NOVO CPC: Art. 105. A procuração geral para o foro, outorgada por instrumento público ou particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, exceto receber citação, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar quitação, firmar compromisso e assinar declaração de hipossuficiência econômica, que devem constar de cláusula específica. § 1º A procuração pode ser assinada digitalmente, na forma da lei. § 2º A procuração deverá conter o nome do advogado, seu número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e endereço completo. § 3º Se o outorgado integrar sociedade de advogados, a procuração também deverá conter o nome dessa, seu número de registro na Ordem dos Advogados do Brasil e endereço completo. § 4º Salvo disposição expressa em sentido contrário constante do próprio instrumento, a procuração outorgada na fase de conhecimento é eficaz para todas as fases do processo, inclusive para o cumprimento de sentença. Art. 104. O advogado não será admitido a postular em juízo sem procuração, salvo para evitar preclusão, decadência ou prescrição, ou para praticar ato considerado urgente. § 1º Nas hipóteses previstas no caput, o advogado deverá, independentemente de caução, exibir a procuração no prazo de 15 (quinze) dias, prorrogável por igual período por despacho do juiz. § 2º O ato não ratificado será considerado ineficaz relativamente àquele em cujo nome foi praticado, respondendo o advogado pelas despesas e por perdas e danos. Art. 76. Verificada a incapacidade processual ou a irregularidade da representação da parte, o juiz suspenderá o processo e designará prazo razoável para que seja sanado o vício. § 1º Descumprida a determinação, caso o processo esteja na instância originária: I - o processo será extinto, se a providência couber ao autor; II - o réu será considerado revel, se a providência lhe couber; III - o terceiro será considerado revel ou excluído do processo, dependendo do polo em que se encontre. § 2º Descumprida a determinação em fase recursal perante tribunal de justiça, tribunal regional federal ou tribunal superior, o relator: I - não conhecerá do recurso, se a providência couber ao recorrente; II - determinará o desentranhamento das contrarrazões, se a providência couber ao recorrido. Em algumas situações, não se exige a procuração, como é o caso de procuradores de entes públicos, defensores e atos praticados em causa própria. Quando a procuração em causa própria contém todos os elementos da compra e venda, é considerada um negócio apto a transferir a propriedade. Passa, então, a equivaler a um instrumento de transmissão (Escritura definitiva de compra e venda). Em algumas legislações, isso se configura fato gerador do ITBI. - Gestão de Negócios (Art. 861 e ss.) A gestão de negócios não é um contrato. Alguns autores a classificam como "quase contrato". Ela é encarnada pelo código como um ato unilateral. Assim como no mandato, o que ocorre na gestão é a administração de interesse alheio. A diferença é que, no mandato, existe uma vontade prévia, expressa ou tácita. Na gestão, também existe vontade, mas presumível. Ela, de fato, não existe. A pessoa que tem seus interesses representados por outra se presume com vontade para tal. Ex.: vizinho viaja para o exterior. Ocorre forte tempestade que destrói o seu telhado. Como os prejuízos serão muito maiores se o telhado não for consertado, presume-se que o viajante realmente estaria interessado que seu confrontante atuasse para consertar o telhado, sanando o problema. Se esse vizinho conserta o telhado, age de acordo com uma vontade presumível do dono da casa que foi destruída. Esse vizinho que conserta o telhado age em nome alheio (do viajante) para administrar interesse alheio. Temos, nesse caso, o dono do negócio e o gestor. "Gestor é a pessoa que, espontaneamente e sem mandato, interfere em negócio alheio" - Washington de Barros "A gestão é uma administração oficiosa de interesse alheio" - Caio Mário Características da gestão: 1 - Principal - espontaneidade do gestor. 2 - que o negócio seja alheio 3 - que haja uma vontade presumível do dono do negócio 4 - que haja necessidade e utilidade da gestão Corre-se o risco de o dono do negócio não aprovar a gestão. Assim, o juiz decidirá se a gestão foi necessária e útil ou não. Art. 861. Aquele que, sem autorização do interessado, intervém na gestão de negócio alheio, dirigi-lo-á segundo o interesse e a vontade presumível de seu dono, ficando responsável a este e às pessoas com que tratar. Art. 862. Se a gestão foi iniciada contra a vontade manifesta ou presumível do interessado, responderá o gestor até pelos casos fortuitos, não provando que teriam sobrevindo, ainda quando se houvesse abatido. Art. 863. No caso do artigo antecedente, se os prejuízos da gestão excederem o seu proveito, poderá o dono do negócio exigir que o gestor restitua as coisas ao estado anterior, ou o indenize da diferença. Art. 869. Se o negócio for utilmente administrado, cumprirá ao dono as obrigações contraídas em seu nome, reembolsando ao gestor as despesas necessárias ou úteis que houver feito, com os juros legais, desde o desembolso, respondendo ainda pelos prejuízos que este houver sofrido por causa da gestão. § 1º A utilidade, ou necessidade, da despesa, apreciar-se-á não pelo resultado obtido, mas segundo as circunstâncias da ocasião em que se fizerem. § 2º Vigora o disposto neste artigo, ainda quando o gestor, em erro quanto ao dono do negócio, der a outra pessoa as contasda gestão. Art. 874. Se o dono do negócio, ou da coisa, desaprovar a gestão, considerando-a contrária aos seus interesses, vigorará o disposto nos arts. 862 e 863, salvo o estabelecido nos arts. 869 e 870. Art. 871. Quando alguém, na ausência do indivíduo obrigado a alimentos, por ele os prestar a quem se devem, poder-lhes-á reaver do devedor a importância, ainda que este não ratifique o ato. Art. 872. Nas despesas do enterro, proporcionadas aos usos locais e à condição do falecido, feitas por terceiro, podem ser cobradas da pessoa que teria a obrigação de alimentar a que veio a falecer, ainda mesmo que esta não tenha deixado bens. Parágrafo único. Cessa o disposto neste artigo e no antecedente, em se provando que o gestor fez essas despesas com o simples intento de bem-fazer. O artigo 874 passa a impressão de que o dono do negócio pode aprovar ou desaprovar a gestão como quiser, mas isso não é verdade. Essa desaprovação não pode ser feita por puro capricho. Uma vez confirmados os atos, essa ratificação retroage ao início da gestão e produz efeitos de mandato. Art. 873. A ratificação pura e simples do dono do negócio retroage ao dia do começo da gestão, e produz todos os efeitos do mandato. Art. 864. Tanto que se possa, comunicará o gestor ao dono do negócio a gestão que assumiu, aguardando-lhe a resposta, se da espera não resultar perigo. O gestor deve tentar sempre se comunicar com o dono do negócio. Aula 07 - dia 13/01/16 O que caracteriza a gestão é a falta do acordo de vontade. Há uma vontade presumida do dono do negócio. Muito embora a vontade seja presumível, o dono do negócio pode desaprovar a gestão, por entender que a gestão não era necessária ou que não foi útil. Se o dono do negócio autoriza o potencial gestor a intervir, será o caso de um mandato, e não de gestão de negócios. (SEGUNDA PROVA - A PARTIR DAQUI) - Contrato de Transporte (Art. 730 e ss, do CC) Art. 730. Pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um lugar para outro, pessoas ou coisas. O art. 730 já deixa claras duas modalidades de transportes: de coisas e de pessoas. O CC, em caráter inédito (contrato de transporte era regulado no código comercial, e não no CC anterior), regulou o contrato de transportes, estabelecendo as disposições gerais, as regras do transporte de pessoas e as regras do transporte de coisas. No transporte de pessoas, normalmente o contratante é o passageiro, enquanto no transporte de coisas, é o remetente da mercadoria. O preço cobrado no transporte de coisas normalmente é o frete, enquanto no transporte de pessoas, é a passagem. No caso de transportes regidos por regime público de concessão, permissão ou autorização, ele é extensamente regulado em normas específicas. Por isso, o transporte de pessoas sofre grande influência das normas de direito administrativo. Pela sua relevância para a sociedade, o transporte de pessoas é considerado um serviço público. Dia 14/01/16 - Sem aula Aula 8 - dia 20/01/16 Contrato de transporte O transporte de pessoas, no Brasil, é entendido pela jurisprudência como relação de consumo, incidindo o CDC. O transporte de bagagens é um contrato acessório ao contrato de transporte. Conceito: "É o contrato pelo qual alguém se vincula, mediante retribuição, a transferir, de um lugar para o outro, pessoa ou bens." - Pontes de Miranda Elementos essenciais: 1. Partes envolvidas: - transportador/remetente - passageiro/destinatário 2. Trasladação Remoção ou deslocamento, de um local a outro, da coisa ou pessoa. É um tipo especial de contrato de prestação de serviço, que ganhou tratamento especial, cuja atividade preponderante é justamente o deslocamento físico de pessoas ou coisas. No contrato de transporte, se costuma dizer que a obrigação do transportador é DE RESULTADO. No contrato de transporte, está implícita a incolumidade: se a pessoa ou coisa transportada sofrer danos ou avaria, ocorre a responsabilidade do transportador. Nesse caso, a responsabilidade é objetiva. A jurisprudência afasta algumas hipóteses nessa objetividade: 1) culpa exclusiva da vítima e 2) caso fortuito, força maior ou fortuito externo. São causas em que e responsabilidade é afastada. Antes do transporte em si, a responsabilidade é extracontratual (aquiliana), devendo haver a comprovação de culpa (responsabilidade objetiva), por isso é necessário demarcar o início e fim do contrato de transporte. Art. 736 - transporte por cortesia Não se aplicam as regras do CC (exceto se houver vantagem indireta para o transportador), sendo a responsabilidade extracontratual (aquiliana), logo, subjetiva. A jurisprudência vai além, dizendo que só haverá responsabilidade se houver dolo ou culpa grave, conforme a SUM 145, STJ. Aula 9 - dia 21/01/16 Na questão do transporte gratuito (carona), não havendo vantagem indireta, a responsabilidade é extracontratual. Havendo vantagem indireta, a responsabilidade é contratual. O entendimento da jurisprudência aplicável ao caso, segundo a súmula 145, do STJ, é que o transportador (por cortesia ou amizade) só responde civilmente se age com dolo ou culpa grave. Se o transportador se envolve em acidente por culpa leve, não é obrigado a indenizar os danos causados ao carona. SÚMULA Nº 145 No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave. Se a responsabilidade é extracontratual (aquiliana), a regra aplicada é a da culpa. No caso de carona, estando o motorista embriagado, alguns delegados e juízes enquadram o caso como homicídio doloso (dolo eventual), outros, como homicídio culposo. A Cia transportadora, segundo Art. 737, é obrigada a seguir os horários e itinerários previstos. A pessoa transportada, por outro lado, deve seguir as normas regulamentares, segundo o art. 738. Art. 737. O transportador está sujeito aos horários e itinerários previstos, sob pena de responder por perdas e danos, salvo motivo de força maior. Art. 738. A pessoa transportada deve sujeitar-se às normas estabelecidas pelo transportador, constantes no bilhete ou afixadas à vista dos usuários, abstendo-se de quaisquer atos que causem incômodo ou prejuízo aos passageiros, danifiquem o veículo, ou dificultem ou impeçam a execução normal do serviço. Parágrafo único. Se o prejuízo sofrido pela pessoa transportada for atribuível à transgressão de normas e instruções regulamentares, o juiz reduzirá eqüitativamente a indenização, na medida em que a vítima houver concorrido para a ocorrência do dano. Art. 739. O transportador não pode recusar passageiros, salvo os casos previstos nos regulamentos, ou se as condições de higiene ou de saúde do interessado o justificarem. O Art. 740 trata da possibilidade de desfazimento do contrato por iniciativa do passageiro. Art. 740. O passageiro tem direito a rescindir o contrato de transporte antes de iniciada a viagem, sendo-lhe devida a restituição do valor da passagem, desde que feita a comunicação ao transportador em tempo de ser renegociada. § 1º Ao passageiro é facultado desistir do transporte, mesmo depois de iniciada a viagem, sendo-lhe devida a restituição do valor correspondente ao trecho não utilizado, desde que provado que outra pessoa haja sido transportada em seu lugar. § 2º Não terá direito ao reembolso do valor da passagem o usuário que deixar de embarcar, salvo se provado que outra pessoa foi transportada em seu lugar, caso em que lhe será restituído o valor do bilhete não utilizado. § 3º Nas hipóteses previstas neste artigo, o transportador terá direito de reter até cinco por cento da importância a ser restituída ao passageiro, a título de multa compensatória. Havendo interrupção da viagem por responsabilidade do transportador, este deveráencontrar outro modo de realizar a viagem, arcando com todas as despesas necessárias, conforme o Art. 741. O Art. 742 estabelece o direito de retenção da bagagem do passageiro. Transporte de Coisas O bem a ser transportado deve ser caracterizado, descrito e individualizado. Ao receber a mercadoria, o transportador emite um título chamado Conhecimento de Transporte. O portador desse título é autorizado a retirar a mercadoria. Desse título pode surgir também o Warranty, que é um tipo de garantia. O Art. 745 prevê o prazo decadencial de 120 dias para que o transportador reclame sobre prejuízos gerados por informações falsamente prestadas por quem enviou a mercadoria. Art. 745. Em caso de informação inexata ou falsa descrição no documento a que se refere o artigo antecedente, será o transportador indenizado pelo prejuízo que sofrer, devendo a ação respectiva ser ajuizada no prazo de cento e vinte dias, a contar daquele ato, sob pena de decadência. O transportador tem a obrigação de zelar pela coisa. Ao receber a coisa, o destinatário deve conferi-la. Se houver avaria perceptível a olho nu, ele deve reclamar de imediato. Se a avaria não puder ser percebida de imediato, ele terá o prazo de 10 dias para reclamar. REsp 1280372/SP - atraso de voo superior a 4 horas - falha no serviço. AgRg no AREsp 624.246/SP - roubo de carga - transportador não responde, em regra. Fortuito externo. AgRg no REsp 1453920/CE - transporte aéreo - agência de turismo - responsabilidade solidária pela venda do pacote de viagem, mas não pela simples venda da passagem REsp 748.322/RS - Roubo de carga - Fortuito externo ***RESp 1136885/SP - Cláusula de incolumidade - transporte de pessoas - irresponsabilidade do transportador em fortuito externo RECURSO ESPECIAL Nº 1.136.885 - SP (2009/0078922-7) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI EMENTA CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. TRANSPORTE DE PESSOAS. CASO FORTUITO. CULPA DE TERCEIRO. LIMITES. APLICAÇAO DO DIREITO À ESPÉCIE. NECESSIDADE DE REEXAME DE PROVA. IMPOSSIBILIDADE. 1. A cláusula de incolumidade é ínsita ao contrato de transporte, implicando obrigação de resultado do transportador, consistente em levar o passageiro com conforto e segurança ao seu destino, excepcionando-se esse dever apenas nos casos em que ficar configurada alguma causa excludente da responsabilidade civil, notadamente o caso fortuito, a força maior ou a culpa exclusiva da vítima ou de terceiro. 2. O fato de um terceiro ser o causador do dano, por si só, não configura motivo suficiente para elidir a responsabilidade do transportador, sendo imprescindível aferir se a conduta danosa pode ser considerada independente (equiparando-se a caso fortuito externo) ou se é conexa à própria atividade econômica e aos riscos inerentes à sua exploração. 3. A culpa de terceiro somente romperá o nexo causal entre o dano e a conduta do transportador quando o modo de agir daquele puder ser equiparado a caso fortuito, isto é, quando for imprevisível e autônomo, sem origem ou relação com o comportamento da própria empresa. 4. Na hipótese em que o comportamento do preposto da transportadora é determinante para o acidente, havendo clara participação sua na cadeia de acontecimentos que leva à morte da vítima - disparos de arma de fogo efetuados logo após os passageiros apartarem briga entre o cobrador e o atirador -, o evento não pode ser equiparado a caso fortuito. 5. Quando a aplicação do direito à espécie reclamar o exame do acervo probatório dos autos, convirá o retorno dos autos à Corte de origem para a ultimação do procedimento de subsunção do fato à norma. Precedentes. 6. Recurso especial provido. AgRg no REsp 1060288/SP - pedra atirada contra a composição férrea - lesão corporal de passageiro - ato de terceiro - Cia de transporte não responde. REsp 37765/RJ - início da responsabilidade do transportador - momento da execução do contrato - chegada no recinto de embarque. REsp 38668/RJ - Transporte simples cortesia - responsabilidade somente por dolo ou culpa grave Aula 10 - dia 27/01/16 Contrato de Constituição de renda Por esse contrato, alguém se obriga a prestar uma renda em favor de outro. Art. 803. Pode uma pessoa, pelo contrato de constituição de renda, obrigar-se para com outra a uma prestação periódica, a título gratuito. Não é um contrato normalmente utilizado no dia a dia, pois não é comum que pessoas queiram assumir obrigações. Geralmente, quando alguém quer praticar um ato de liberalidade, faz doação. Pode ser também que seja deixado um montante ou imóvel para alguém com a obrigação de que este preste renda em favor de quem entrega ou de outro. Isso pode acontecer em testamentos. Nesse caso, o contrato será oneroso. Art. 804. O contrato pode ser também a título oneroso, entregando-se bens móveis ou imóveis à pessoa que se obriga a satisfazer as prestações a favor do credor ou de terceiros. Isso se assemelha à entrega de patrimônio para a formação de um montante de previdência privada, onde é feito o cálculo financeiro que definirá a renda a ser recebida pelo beneficiário. A renda é a prestação em dinheiro ou em outros bens. Partes: - Instituidor da renda - aquele que constitui os bens. - Rendeiro - aquele que presta a renda. É o devedor dos pagamentos da renda. Também chamado de Censuário. - Beneficiário - a pessoa designada para receber a renda, podendo sério próprio instituidor ou terceiro. Normalmente, o beneficiário não é parte do contrato, caso não seja o instituidor. É só quem se beneficiará das prestações. Art. 806. O contrato de constituição de renda será feito a prazo certo, ou por vida, podendo ultrapassar a vida do devedor mas não a do credor, seja ele o contratante, seja terceiro. Tem também um caráter aleatório, na medida em que seu prazo de duração esteja vinculado à vida do beneficiário. Nesses casos, não se poderá aferir o equilíbrio financeiro do contrato. Há formalidade especial para a sua constituição, que é a escritura pública, conforme o art. 807. A escritura pública deverá ser feita no Ofício de Notas. Art. 809. Os bens dados em compensação da renda caem, desde a tradição, no domínio da pessoa que por aquela se obrigou. Os bens passam a pertencer ao rendeiro, segundo o art. 809. Art. 808. É nula a constituição de renda em favor de pessoa já falecida, ou que, nos trinta dias seguintes, vier a falecer de moléstia que já sofria, quando foi celebrado o contrato. No caso do art. 808, o contrato será nulo e os bens voltam para a propriedade do instituidor. Se o rendeiro deixa de cumprir a sua obrigação, o credor poderá exigir judicialmente os pagamentos, segundo o art. 810. O art. 812 estabelece a pluralidade de beneficiários. Art. 812. Quando a renda for constituída em benefício de duas ou mais pessoas, sem determinação da parte de cada uma, entende-se que os seus direitos são iguais; e, salvo estipulação diversa, não adquirirão os sobrevivos direito à parte dos que morrerem. Se o rendeiro não especificar, será dividida a renda entre os beneficiários. Falecendo um destes, não há o direito de acrescer para o que sobreviver. O art. 813 estabelece a possibilidade de se instituir cláusula de impenhorabilidade da renda. Jogo e Aposta "No jogo, duas ou mais pessoas se obrigam a pagar certa soma àquela, dentre os contratantes, que resulte vencedora na prática de determinado ato, que todos integram, enquanto aposta é a convenção em que duas ou mais pessoas de opiniões discordantes sobre qualquer assunto prometem, entre si, pagar certa quantia ou entregar determinado bem àquela cuja opinião prevalecer em virtude de um evento incerto." - Washington de Barros Existem jogos e apostas permitidos, proibidos e tolerados. Os permitidos, são os jogos da caixa econômica e outros regulamentados e autorizados pelo poder público. Os proibidos,seria o caso do jogo do bicho. O carteado em casa, por exemplo, é um jogo tolerado. Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito. § 1º Estende-se esta disposição a qualquer contrato que encubra ou envolva reconhecimento, novação ou fiança de dívida de jogo; mas a nulidade resultante não pode ser oposta ao terceiro de boa-fé. § 2º O preceito contido neste artigo tem aplicação, ainda que se trate de jogo não proibido, só se excetuando os jogos e apostas legalmente permitidos. § 3º Excetuam-se, igualmente, os prêmios oferecidos ou prometidos para o vencedor em competição de natureza esportiva, intelectual ou artística, desde que os interessados se submetam às prescrições legais e regulamentares. Não é possível cobrar dívidas de jogo e nem empréstimos feitos para esse fim. A dívida de jogo, nesse aspecto, se equipara à dívida natural, que é aquela que carece de exigibilidade, como a dívida prescrita. Isso só se aplica, no entanto, aos jogos proibidos e tolerados. Para os permitidos, há exigibilidade. Aula 11 - dia 03/02/16 Contrato de Seguro - Art. 757 a 802, CC. Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados. Parágrafo único. Somente pode ser parte, no contrato de seguro, como segurador, entidade para tal fim legalmente autorizada. Temos, nesse contrato, o segurador, que paga a quantia, o segurador, que se obriga a ressarcir o segurado caso os riscos venham a ocorrer e, muitas vezes, o beneficiário, que pode não ser o segurado. É um contrato aleatório por natureza, mas não se trata de jogo ou aposta. Apesar de ser aleatório em seu caráter individual, todavia, coletivamente, ele não é aleatório, pois o risco é diluído entre a coletividade de segurados. O seguro se desenvolveu com muita ênfase no Direito Marítimo, por conta do transporte de mercadorias. O Contrato de seguro é uma pulverização do risco. A seguradora faz o cálculo atuarial para chegar ao preço a ser cobrado do segurado. Apesar de ser instituto de direito privado, sofre acentuada interferência do poder público. Além do Código Civil, pode também sofrer regulamentação do CDC, respeita os ditames do Dec-Lei 73/66 e das normas da ANS, por exemplo. A autorização pode ser dada pelo poder público, ao segurador, de forma ampla e ilimitada ou restrita a certos ramos de atividade. O valor pago pelo segurado se chama prêmio. O valor pago pelo segurador, se ocorrido o sinistro, se chama indenização. Sinistro é o evento que dá ensejo à indenização. O contrato do seguro se chama apólice. Por força de lei, existe a necessidade e obrigatoriedade do corretor de seguro. Não se pode realizar o contrato diretamente com a seguradora. O corretor de seguro se presume representante da seguradora. Art. 775. Os agentes autorizados do segurador presumem-se seus representantes para todos os atos relativos aos contratos que agenciarem. Os riscos do contrato devem ser estritamente estabelecidos na apólice. Não se pode empreender uma interpretação analógica ou extensiva do risco previsto no contrato, pois o prêmio é calculado sobre esses elementos. O risco pode estar ligado ao patrimônio (à perda de um bem, por exemplo) ou à vida do segurado. Co-seguro ocorre quando mais de um segurador se obriga ao mesmo risco do mesmo segurado. Resseguro é o seguro do seguro, ou seguro em cascata, regulamentado pelo IRB (Instituto de Resseguros do Brasil). Toda vez que se faz financiamento de imóveis pelo SFH, é obrigatório a se realizar um seguro de vida atrelado a esse financiamento, uma vez que o segurado venha a falecer, o financiamento fica quitado. É um contrato bilateral, pois há obrigações de ambas as partes. Para o segurado, de pagar o prêmio, para o segurador, de pagar a indenização na hipótese de sinistro. É contrato também oneroso, pois ambas as partes visam objetivos econômicos. A boa-fé é questão essencial no contrato de seguro. Costuma-se dizer que, nesse contrato, exige- se uma boa-fé qualificada. Art. 765. O segurado e o segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele concernentes. Art. 766. Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou omitir circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa do prêmio, perderá o direito à garantia, além de ficar obrigado ao prêmio vencido. Parágrafo único. Se a inexatidão ou omissão nas declarações não resultar de má-fé do segurado, o segurador terá direito a resolver o contrato, ou a cobrar, mesmo após o sinistro, a diferença do prêmio. Art. 768. O segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato. Art. 769. O segurado é obrigado a comunicar ao segurador, logo que saiba, todo incidente suscetível de agravar consideravelmente o risco coberto, sob pena de perder o direito à garantia, se provar que silenciou de má-fé. Art. 771. Sob pena de perder o direito à indenização, o segurado participará o sinistro ao segurador, logo que o saiba, e tomará as providências imediatas para minorar-lhe as conseqüências. Aula 12 - 17/02/16 Art. 206. Prescreve: § 1º Em um ano: [...] II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo: a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador; b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão; Violado o direito, nasce a pretensão. A Accio Nata é o nascimento da ação, ou seja, o termo a quo da prescrição. Há divergência doutrinária sobre o início da pretensão, que começa a contar a prescrição. A dúvida é "qual seria o fato gerador da pretensão?", se seria a ocorrência do sinistro ou a negativa de pagamento por parte do segurador. A jurisprudência é mais ou menos uniforme no sentido de que é a partir da negativa do segurador que nasce a pretensão. Ou seja, de que é a partir do inadimplemento por parte da seguradora. Art. 758. O contrato de seguro prova-se com a exibição da apólice ou do bilhete do seguro, e, na falta deles, por documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio. Art. 759. A emissão da apólice deverá ser precedida de proposta escrita com a declaração dos elementos essenciais do interesse a ser garantido e do risco. Há jurisprudência no sentido de que, se a proposta for remetida à seguradora e esta não responder em 15 dias, será considerado formado o contrato de seguro, por aceitação tácita do segurador. Normalmente, o contrato de seguro é um contrato de adesão e, por isso, deve-se ter sempre uma interpretação favorável ao aderente, as cláusulas restritivas devem ser destacadas etc. Deve haver a delimitação dos riscos a serem garantidos, pois é a partir disso que ocorre o cálculo do prêmio a ser pago pelo segurado. O segurado não deve agravar intencionalmente os riscos relativos ao contrato, conforme o art. 768. Dúvida ainda reside no fato do segurado dirigir embriagado, se isso seria agravamento dos riscos. A tendência é no sentido de ser isso um agravamento intencional sim. Outro ponto polêmico do contrato de seguro é sobre a mora do segurado. Art. 763. Não terá direito a indenização o segurado que estiver em mora no pagamento do prêmio, se ocorrer o sinistro antes de sua purgação. A jurisprudência aponta que, para que o segurado perca o direito, deve o segurador constituí-loem mora, interpelando-o, e não o simples inadimplemento. Se ocorrer redução considerável do risco, o segurado pode solicitar ao segurador a revisão do prêmio ou a resolução do contrato, conforme o art. 770. Seguro de dano O segurado tem interesse em se precaver de riscos que possam atingir o bem ou interesse que lhe pertence. Este seguro tem um caráter reparador, no sentido de repor ao segurado o bem que ele perdeu. Não pode haver seguro de dano por valor superior à coisa e nem mais de um seguro sobre a mesma coisa. Art. 778. Nos seguros de dano, a garantia prometida não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento da conclusão do contrato, sob pena do disposto no art. 766, e sem prejuízo da ação penal que no caso couber. Art. 782. O segurado que, na vigência do contrato, pretender obter novo seguro sobre o mesmo interesse, e contra o mesmo risco junto a outro segurador, deve previamente comunicar sua intenção por escrito ao primeiro, indicando a soma por que pretende segurar-se, a fim de se comprovar a obediência ao disposto no art. 778. Se o segurado contrata um seguro de até 100 mil reais em seu estoque e este pega fogo, o segurador vai analisar quanto tinha no estoque no momento da destruição. Se só tinha 10 mil, a indenização será somente de 10 mil, embora o prêmio tenha sido pago sobre os 100 mil. Apesar disso, a jurisprudência, algumas vezes, aceita o pagamento da indenização integral, uma vez que o prêmio pago foi sobre esse valor. Outro efeito importante é a sub-rogação. Uma vez paga a indenização, a seguradora se sub-roga nos direitos do segurado. A seguradora, então, passa a ser a titular em possíveis pretenções contra terceiros. Art. 786. Paga a indenização, o segurador sub-roga-se, nos limites do valor respectivo, nos direitos e ações que competirem ao segurado contra o autor do dano. § 1º Salvo dolo, a sub-rogação não tem lugar se o dano foi causado pelo cônjuge do segurado, seus descendentes ou ascendentes, consangüíneos ou afins. § 2º É ineficaz qualquer ato do segurado que diminua ou extinga, em prejuízo do segurador, os direitos a que se refere este artigo. Outra modalidade é o seguro de responsabilidade civil, que não é muito comum mas tem sido usado por médicos, empresas de ônibus, dentre outros. É utilizado para cobrir possíveis reparações cíveis a que o segurado seja obrigado. Também é comum, no seguro de veículos, já ser incluído o seguro de responsabilidade civil para terceiros e também passageiros do próprio carro. Art. 787. No seguro de responsabilidade civil, o segurador garante o pagamento de perdas e danos devidos pelo segurado a terceiro. § 1º Tão logo saiba o segurado das conseqüências de ato seu, suscetível de lhe acarretar a responsabilidade incluída na garantia, comunicará o fato ao segurador. § 2º É defeso ao segurado reconhecer sua responsabilidade ou confessar a ação, bem como transigir com o terceiro prejudicado, ou indenizá-lo diretamente, sem anuência expressa do segurador. § 3º Intentada a ação contra o segurado, dará este ciência da lide ao segurador. § 4º Subsistirá a responsabilidade do segurado perante o terceiro, se o segurador for insolvente. Aula 13 - dia 18/02/16 No seguro de dano, há dois limites a serem observados pela seguradora, para a indenização, que são o valor da apólice e o valor do dano. Será utilizado, destes, o menor valor. A seguradora se sub-roga nos direitos ressarcidos ao segurado, mas somente até o limite dos valores pagos. O segurado poderá cobrar o restante do dano normalmente, do terceiro que causou o dano. Assim, esse terceiro pode sofrer duas ações de ressarcimento: uma da seguradora (até o limite da indenização paga) e outra do segurado (referente ao que não foi indenizado pela seguradora). No seguro de responsabilidade civil, há uma polêmica, com relação à possibilidade do terceiro que sofreu o dano agir diretamente contra a seguradora. Súmula 529-STJ: No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano. Súmula 537-STJ: Em ação de reparação de danos, a seguradora denunciada, se aceitar a denunciação ou contestar o pedido do autor, pode ser condenada, direta e solidariamente junto com o segurado, ao pagamento da indenização devida à vítima, nos limites contratados na apólice. Art. 788. Nos seguros de responsabilidade legalmente obrigatórios, a indenização por sinistro será paga pelo segurador diretamente ao terceiro prejudicado. Parágrafo único. Demandado em ação direta pela vítima do dano, o segurador não poderá opor a exceção de contrato não cumprido pelo segurado, sem promover a citação deste para integrar o contraditório. No caso de seguro obrigatório, é aceita essa possibilidade. No caso de seguro facultativo, não, exceto se o segurador aceitou a denunciação ou contestou o pedido do autor. Seguro de pessoa Neste tipo, não há tanto o caráter reparador, como no seguro de dano. Por isso, pode-se realizar o seguro no valor que as partes quiserem e mais de um seguro para a mesma pessoa. Além disso, não há sub-rogação da seguradora nos direitos pagos ao segurado. Art. 789. Nos seguros de pessoas, o capital segurado é livremente estipulado pelo proponente, que pode contratar mais de um seguro sobre o mesmo interesse, com o mesmo ou diversos seguradores. Art. 790. No seguro sobre a vida de outros, o proponente é obrigado a declarar, sob pena de falsidade, o seu interesse pela preservação da vida do segurado. Parágrafo único. Até prova em contrário, presume-se o interesse, quando o segurado é cônjuge, ascendente ou descendente do proponente. No seguro de vida, deve-se indicar quem é o beneficiário. O art. 792 trata da falta dessa indicação. Art. 792. Na falta de indicação da pessoa ou beneficiário, ou se por qualquer motivo não prevalecer a que for feita, o capital segurado será pago por metade ao cônjuge não separado judicialmente, e o restante aos herdeiros do segurado, obedecida a ordem da vocação hereditária. Parágrafo único. Na falta das pessoas indicadas neste artigo, serão beneficiários os que provarem que a morte do segurado os privou dos meios necessários à subsistência. É importante observar-se que o seguro de vida não é uma herança. Logo, não é tributado e não há a limitação de parte legítima. Art. 794. No seguro de vida ou de acidentes pessoais para o caso de morte, o capital estipulado não está sujeito às dívidas do segurado, nem se considera herança para todos os efeitos de direito. Observação do professor quanto ao VGBL: por serem um misto de plano de previdência com seguro de vida, a jurisprudência tem entendido que, quando utilizados como investimento, esses planos podem ser atingidos por credores, há tendência de tributação e podem ser considerados herança, caso prejudiquem aos herdeiros necessários. O beneficiário pode ser substituído a qualquer tempo, no seguro de vida, conforme regra do 791. Art. 791. Se o segurado não renunciar à faculdade, ou se o seguro não tiver como causa declarada a garantia de alguma obrigação, é lícita a substituição do beneficiário, por ato entre vivos ou de última vontade. Parágrafo único. O segurador, que não for cientificado oportunamente da substituição, desobrigar-se-á pagando o capital segurado ao antigo beneficiário. O prêmio pode ser calculado por tempo certo ou por toda a vida do segurado, conforme art. 796. Art. 796. O prêmio, no seguro de vida, será conveniado por prazo limitado, ou por toda a vida do segurado. Também não é permitido acordo que diminua o valor contratado a título de indenização. Art. 795. É nula, no seguro de pessoa, qualquer transação para pagamento reduzido do capital segurado. Sempre se discutiu muito a hipótese de suicídio, se deve ser pago pela seguradoraou não. O CC/ 02 procurou, então, criar um critério objetivo para essa questão: Art. 798. O beneficiário não tem direito ao capital estipulado quando o segurado se suicida nos primeiros dois anos de vigência inicial do contrato, ou da sua recondução depois de suspenso, observado o disposto no parágrafo único do artigo antecedente. Parágrafo único. Ressalvada a hipótese prevista neste artigo, é nula a cláusula contratual que exclui o pagamento do capital por suicídio do segurado. Processo: REsp 1334005 GO 2012/0144622-7 Relator(a): Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO Julgamento: 08/04/2015 Órgão Julgador: S2 - SEGUNDA SEÇÃO Publicação: DJe 23/06/2015 Ementa RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DE VIDA. SUICÍDIO DENTRO DO PRAZO DE DOIS ANOS DO INÍCIO DA VIGÊNCIA DO SEGURO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Durante os dois primeiros anos de vigência do contrato de seguro de vida, o suicídio é risco não coberto. Deve ser observado, porém, o direito do beneficiário ao ressarcimento do montante da reserva técnica já formada (Código Civil de 2002, art. 798 c/c art. 797, parágrafo único). 2. O art. 798 adotou critério objetivo temporal para determinar a cobertura relativa ao suicídio do segurado, afastando o critério subjetivo da premeditação. Após o período de carência de dois anos, portanto, a seguradora será obrigada a indenizar, mesmo diante da prova mais cabal de premeditação. Aula 14 - dia 24/02/16 Análise de jurisprudência relativa ao contrato de seguro Processo: REsp 1273204 SP 2011/0133691-4 Relator(a): Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA Julgamento: 07/10/2014 Órgão Julgador: T3 - TERCEIRA TURMA Publicação: DJe 28/10/2014 Ementa RECURSO ESPECIAL. CIVIL. SEGURO DE AUTOMÓVEL. FORMAÇÃO DO CONTRATO. NÃO OCORRÊNCIA. ENVIO DA PROPOSTA APÓS O SINISTRO (FURTO DO VEÍCULO). VONTADE DO CONSUMIDOR MANIFESTADA A DESTEMPO. AUSÊNCIA DE ACEITAÇÃO EXPRESSA OU TÁCITA DA SEGURADORA. PERDA DO OBJETO DO CONTRATO. INEXISTÊNCIA DE RISCO SEGURÁVEL. 1. Ação de cobrança visando ao pagamento de indenização securitária, cingindo-se a controvérsia a perquirir se o contrato de seguro de automóvel, após prévias negociações, perfectibiliza-se quando a proposta for encaminhada pelo consumidor à seguradora depois de ocorrido o sinistro. 2. O contrato de seguro, para ser concluído, necessita passar, comumente, por duas fases: i) a da proposta, em que o segurado fornece as informações necessárias para o exame e a mensuração do risco, indispensável para a garantia do interesse segurável, e ii) a da recusa ou aceitação do negócio pela seguradora, ocasião em que emitirá, nessa última hipótese, a apólice. 3. A proposta é a manifestação da vontade de apenas uma das partes e, no caso do seguro, deverá ser escrita e conter a declaração dos elementos essenciais do interesse a ser garantido e do risco. Todavia, apesar de obrigar o proponente, não gera por si só o contrato, que depende de consentimento recíproco de ambos os contratantes. 4. A seguradora, recebendo a proposta, terá o prazo de até 15 (quinze) dias para recusá-la, caso contrário, o silêncio importará em aceitação tácita (cf. Circular Susep nº 251/2004). 5. No contrato de seguro de automóvel, o início da vigência será a partir da realização da vistoria, exceto para os veículos zero quilômetro ou quando se tratar de renovação do seguro na mesma sociedade seguradora, pois, nessas situações, a vigência será a partir da data da recepção da proposta pelo ente segurador (art. 8º, caput e § 1º, da Circular Susep nº 251/2004). 6. Para que o contrato de seguro se aperfeiçoe, são imprescindíveis o envio da proposta pelo interessado ou pelo corretor e o consentimento, expresso ou tácito, da seguradora, mesmo sendo dispensáveis a apólice ou o pagamento de prêmio. 7. Não há contrato de seguro se o particular envia a proposta após ocorrido o sinistro (a exemplo de furto de veículo), visto que não há a manifestação da vontade em firmar a avença em tempo hábil, tampouco existe a concordância, ainda que tácita, da seguradora. Além disso, nessa hipótese, quando o proponente decidiu ultimar a avença, já não havia mais o objeto do contrato (interesse segurável ou risco futuro). 8. Recurso especial não provido. REsp 1306367/SP DIREITO CIVIL. DIREITO DOS CONTRATOS. SEGURO. CONTRATO CONSENSUAL. MOMENTO EM QUE É CONSIDERADO PERFEITO E ACABADO. MANIFESTAÇÃO DE VONTADE, AINDA QUE TÁCITA. CONTRATAÇÃO JUNTO À CORRETORA. PREENCHIMENTO DA PROPOSTA COM AUTORIZAÇÃO DE PAGAMENTO DO PRÊMIO POR DÉBITO EM CONTA. SINISTRO. OCORRÊNCIA ANTES DA EMISSÃO DA APÓLICE. NEGATIVA DE COBERTURA. DESCABIMENTO. 1. O seguro é contrato consensual e aperfeiçoa-se tão logo haja manifestação de vontade, independentemente de emissão da apólice - ato unilateral da seguradora -, de sorte que a existência da avença não pode ficar a mercê exclusivamente da vontade de um dos contratantes, sob pena de ter-se uma conduta puramente potestativa, o que é, às expressas, vedado pelo art. 122 do Código Civil. 2. O art. 758 do Código Civil não confere à emissão da apólice a condição de requisito de existência do contrato de seguro, tampouco eleva tal documento ao degrau de prova tarifada ou única capaz de atestar a celebração da avença. 3. É fato notório que o contrato de seguro é celebrado, na prática, entre a corretora e o segurado, de modo que a seguradora não manifesta expressamente sua aceitação quanto à proposta, apenas a recusa ou emite, diretamente, a apólice do seguro, enviando-a ao contratante, juntamente com as chamadas condições gerais do seguro. Bem a propósito dessa praxe, a própria Susep disciplinou que a ausência de manifestação por parte da seguradora, no prazo de 15 (quinze) dias, configura aceitação tácita da cobertura do risco, conforme dispõe o art. 2º, § 6º, da Circular Susep n. 251/2004. 4. Com efeito, havendo essa prática no mercado de seguro, a qual, inclusive, recebeu disciplina normativa pelo órgão regulador do setor, há de ser aplicado o art. 432 do Código Civil, segundo o qual "[s]e o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa". Na mesma linha, o art. 111 do Estatuto Civil preceitua que "[o] silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa". Doutrina e precedente. 5. No caso, não havendo nenhuma indicação de fraude e tendo o sinistro ocorrido efetivamente após a contratação junto à corretora de seguros, ocasião em que o consumidor firmou autorização de pagamento do prêmio mediante débito em conta, se em um prazo razoável não houve recusa da seguradora, só tendo havido muito tempo depois e exclusivamente em razão do sinistro noticiado, há de considerar-se aceita a proposta e plenamente aperfeiçoado o contrato. Deveras, vulnera os deveres de boa-fé contratual a inércia da seguradora em aceitar expressamente a contratação, vindo a recusá-la somente depois da notícia de ocorrência do sinistro e exclusivamente em razão disso. 6. Recurso especial não provido. (REsp 1306367/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 20/03/2014, DJe 05/05/2014 AgRg no AREsp 292544/SP PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. SEGURO. CANCELAMENTO DE APÓLICE POR INADIMPLEMENTO. AUSÊNCIA DE PRÉVIA NOTIFICAÇAO DO SEGURADO. CLÁUSULA ABUSIVA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 284 DO STF, BEM COMO DA SÚMULA 83 DO STJ. DISSÍDIO NAO DEMONSTRADO. 1. Nos termos dos precedentes desta Corte, considera-se abusiva a cláusula contratual que prevê o cancelamento ou a extinção do contrato de seguro em razão do inadimplemento do prêmio, sem a prévia constituição em mora do segurado, mediante prévia notificação. 2. Para a configuração do dissídio jurisprudencial, faz-se necessária a indicação das circunstâncias
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