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INTRODUÇÃO A palavra “acolher” possui vários sentidos como: dar acolhida, admitir, aceitar, dar ouvidos, dar crédito a, agasalhar, receber, atender, levar em consideração. O acolhimento como ato ou efeito de acolher expressa uma ação de aproximação, um “estar com” e “perto de”, ou seja, uma atitude de inclusão, de estar em relação com algo ou alguém. Uma das diretrizes de maior relevância ética/estética/política da Política Nacional de Humanização do SUS é: ética no que se refere ao compromisso com o reconhecimento do outro, na atitude de acolhê-lo em suas diferenças, suas dores, suas alegrias, seus modos de viver, sentir e estar na vida; estética porque traz para as relações e os encontros do dia a dia, a invenção de estratégias que contribuem para a dignificação da vida e do viver e, assim, para a construção de nossa própria humanidade; política porque implica o compromisso coletivo de envolver-se neste “estar com”, potencializando protagonismos e vida nos diferentes encontros. O acolhimento como diretriz é um regime de aceitabilidade construído a cada encontro e por meio dos encontros, que se produz, portanto, na construção de redes de conversações afirmadoras de relações de potência nos processos de produção de saúde. O acolhimento é também um dispositivo de intervenção que possibilita analisar o processo de trabalho em saúde com foco nas relações e que pressupõe a mudança das relações entre profissionais/usuário/rede social e profissional/profissional por meio de parâmetros técnicos, éticos, humanitários e de solidariedade, reconhecendo o usuário como sujeito e como participante ativo no processo de produção da saúde. Não é um espaço ou um local que caracteriza o acolhimento, mas uma postura ética; não pressupõe hora ou profissional específico para fazê-lo, mas implica necessariamente o compartilhamento de saberes, angústias e invenções; quem acolhe toma para si a responsabilidade de “abrigar e agasalhar” outrem em suas demandas, com a resolutividade necessária para o caso em questão. Algumas literaturas dizem que precisamos ter uma visão de acolhimento como ação de compreender a outra pessoa, em todo seu valor, ou seja, sua história, seu modo de ver e ser, e construir um cuidar adequado baseado nessas informações. ACOLHIMENTO PRIMÁRIO Em todos os ambientes hospitalares seja ele público ou particular, temos uma triagem que é usada para a seleção de pacientes visando o atendimento imediato ou mediato, segundo a gravidade da situação de cada um, e hoje em dia esse termo está sendo substituído pelo termo acolhimento. Desse modo é que diferenciamos triagem de acolhimento, pois este último se constitui numa ação de inclusão que não se esgota na etapa da recepção, mas que deve ocorrer em todos os locais e momentos do serviço de saúde e inclui mudanças estruturais na forma de gestão do serviço de saúde, ampliando os espaços democráticos de discussão, de escuta, de trocas e de decisões coletivas. O acolhimento é um modo de operar os processos de trabalho em saúde assumindo uma postura capaz de acolher, escutar e dar respostas adequadas aos usuários. Ou seja, requer prestar um atendimento com responsabilização e resolutividade e, quando for o caso de orientar o usuário e a família para a continuidade da assistência em outros serviços, requer o estabelecimento de articulações com esses serviços para garantir a eficácia desses encaminhamentos. O ato da escuta é a produção de vínculo como ação terapêutica, onde o enfermeiro em sua capacidade consegue definir a classificação de risco daquele paciente. A equipe, neste processo, pode também garantir acolhimento para seus profissionais e para as dificuldades que estes enfrentam na acolhida à demanda da população. A classificação de risco vem sendo utilizada em diversos países, inclusive no Brasil. Para essa classificação foram desenvolvidos diversos protocolos, que objetivam, em primeiro lugar, não demorar em prestar atendimento àqueles que necessitam de uma conduta imediata. Por isso, todos eles são baseados na avaliação primária do paciente, já bem desenvolvida para o atendimento às situações de catástrofes e adaptada para os serviços de urgência. Uma vez que não se trata de fazer um diagnóstico prévio nem de excluir pessoas sem que tenham sido atendidas pelo médico, a classificação de risco é realizada por profissional de enfermagem de nível superior, que se baseia em consensos estabelecidos conjuntamente com a equipe médica para avaliar a gravidade ou o potencial de agravamento do caso, assim como o grau de sofrimento do paciente. Os protocolos de classificação são instrumentos que sistematizam a avaliação e é uma ferramenta útil e necessária, porém não suficiente, uma vez que não pretende capturar os aspectos subjetivos, afetivos, sociais, culturais, cuja compreensão é fundamental para uma efetiva avaliação do risco e da vulnerabilidade de cada pessoa que procura o serviço de urgência. O protocolo não substitui a interação, o diálogo, a escuta, o respeito, enfim, o acolhimento do cidadão e de sua queixa para a avaliação do seu potencial de agravamento. A construção de um protocolo de classificação de risco a partir daqueles existentes e disponíveis nos textos bibliográficos, porém adaptado ao perfil de cada serviço e ao contexto de sua inserção na rede de saúde, é uma oportunidade de facilitação da interação entre a equipe multiprofissional e de valorização dos trabalhadores da urgência. É também importante que serviços de uma mesma região desenvolvam critérios de classificação semelhantes, buscando facilitar o mapeamento e a construção das redes locais de atendimento. Protocolo de classificação de risco é divido em: Vermelha – área devidamente equipada e destinada ao recebimento, avaliação e estabilização das urgências e emergências clínicas e traumáticas. Após a estabilização estes pacientes serão encaminhados para as seguintes áreas: Amarela – área destinada à assistência de pacientes críticos e semicríticos já com terapêutica de estabilização iniciada. Verde – área destinada a pacientes não críticos, em observação ou internados aguardando vagas nas unidades de internação ou remoções para outros hospitais de retaguarda. ACOLHIMENTO SECUNDÁRIO O acolhimento expressa uma ação de aproximação, de relação com o usuário que procura os serviços de saúde, a qual não se restringe apenas ao ato de receber, mas se constitui em uma sequência de atos e modos que compõem as metodologias dos processos de trabalho em saúde em qualquer nível de atenção. Para isso, preconiza-se que a humanização permeie o encontro entre os trabalhadores e usuários, a partir de uma relação de escuta e responsabilização, na qual o paciente é portador e criador de direitos. Acredita- se que no hospital o acolhimento adquire um caráter especial, pois a hospitalização ocorre quando o usuário do sistema de saúde necessita de terapia e cuidados mais complexos, o que o torna vulnerável tanto ao nível físico quanto emocional. Somam-se a isso, as implicações decorrentes da internação hospitalar, entre as quais se destacam o afastamento do doente do convívio do lar, dos filhos, dos amigos, das suas atividades cotidianas de lazer e trabalho e a introdução de novos hábitos e esquemas de vida. Importante salientar que essas dificuldades surgem tanto aos indivíduos internados quanto aos que atuam como acompanhantes durante esse processo, geralmente seus familiares. O acompanhante é todo e qualquer indivíduo que de forma voluntária ou remunerada permanece junto do paciente por um períodode tempo consecutivo e sistemático, proporcionando companhia, suporte emocional e que, eventualmente, realiza cuidados em prol do paciente mediante orientação ou supervisão da equipe de saúde. É extremamente eficaz a permanência do acompanhante no período de internação no que diz respeito ao apoio emocional e segurança que pode proporcionar ao paciente, pois a presença de um membro da família representa o contato com o mundo exterior confirmando ao paciente sua própria existência, garantindo o elo com sua rede social. Além disso, o acompanhante desempenha importante papel no sentido de potencializar a adesão do paciente ao tratamento e também configura-se, cada vez mais, como uma necessidade quando se busca a continuidade da prestação de cuidados no domicílio e redução do período de internação hospitalar. No entanto, apesar da sua importância no processo de hospitalização, o tema acompanhante do paciente adulto hospitalizado pouco aparece nas investigações de enfermagem, permanecendo relegado quando se fala em assistência integral, sendo que a maior parte dos estudos está relacionada à participação do acompanhante na hospitalização de crianças e adolescentes. Na visão dos acompanhantes muitas vezes o sentir-se acolhido está relacionado ao esclarecimento das rotinas e normas hospitalares, pois se veem obrigados a se adaptarem aquela rotina, já a enfermagem muitas vezes não é vista pelos mesmos como alguém que possui conhecimento técnico-científico ou por seu processo de trabalho, mas sim por características da personalidade dos trabalhadores que exercem a profissão. Ainda hoje existem dificuldades relacionadas ao ambiente físico como os barulhos, o auxílio da enfermagem para os cuidados com os pacientes e a falta de local específico para o descanso e higiene dos acompanhantes. Sabe-se que o ritmo de trabalho da enfermagem no âmbito hospitalar é intenso e, muitas vezes, o quantitativo de pessoal nem sempre é adequado à quantidade e especificidade dos cuidados que os pacientes demandam. No entanto, isso não justifica a falta do cuidado. A enfermagem é uma profissão comprometida com o cuidado, a ética e o bem-estar do paciente, e não podemos permitir que situações de descuidado se tornem frequentes nos nossos cenários de práticas. A essência do trabalho do enfermeiro é o cuidar, processo que envolve contato próximo com o usuário e suas necessidades de saúde, denotando assistir o ser humano em suas necessidades, envolvendo atos, comportamentos e atitudes, que dependem do contexto e das relações estabelecidas entre usuário e profissional. Ademais, é uma ação que compreende atitudes de atenção em relação ao corpo, atitude de olhar nos olhos do usuário, perceber sentimentos. Neste contexto, uma atitude do profissional enfermeiro pode significar muito para quem necessita de cuidados. Desta forma, se o relacionamento entre este profissional e o usuário for realizado mecanicamente, este se sentirá como um objeto, alienado a seu contexto histórico e social, e suas necessidades não serão atendidas de forma integral. Na medida em que esse profissional considera o usuário como ser humano, sujeito e ator social, é capaz de construir junto a ele um novo percurso para o processo saúde-doença, fazendo com que o cuidado de enfermagem seja reconhecido como prática social, atividade que visa atender às necessidades das pessoas. Acontece no bojo das relações interpessoais, inserindo-se no processo cultural e histórico da interação entre os seres humanos. Compreender a enfermagem como uma prática social, significa ultrapassar a perspectiva técnico/operativa e reconhecê-la como uma das muitas práticas da sociedade, que tem como produto final o cuidado de enfermagem em relação à pessoa. Além de o enfermeiro ser capaz de compreender o indivíduo como um ser singular, é reconhecido pela capacidade de acolher as necessidades e expectativas dos usuários. Acolher é uma ação técnico/assistencial, ou seja, processo de escuta qualificada direcionado à assistência, que implica mudanças na relação entre profissional e usuário, facilitando a reorganização dos serviços e melhorando a qualidade da assistência, tendo o paciente como eixo principal e participante ativo. Ao ouvir o usuário, os profissionais terão melhora na relação e desenvolvimento de uma parceria mais colaborativa. Quando existe um bom acolhimento do paciente, algumas situações de ordem psicológica são amenizadas tais como o medo, ou inseguranças. E ao contrário disso, pela falta de um bom acolhimento surgem variedades de transtornos ao paciente e a família. É de fundamental importância estabelecer um vínculo de confiança entre a equipe e o paciente e sua família. O acolhimento se divide nas seguintes etapas: Acesso: Receber o paciente. Prestar os cuidados necessários, proporcionando segurança ao paciente. Aproximar-se da família, confortando-a e esclarecendo as normas e rotinas da instituição. Adequar o ambiente de forma que os familiares tenham conforto enquanto aguardam informações. Escuta: Incentivar paciente e familiar a questionarem sobre suas dúvidas, iniciando a educação em saúde desde a internação. Estabelecer uma relação de confiança na qual o paciente e família sintam-se seguros e que possam expressar suas dúvidas, medos e angústias. Diálogo: Orientar a família sobre o que está acontecendo com o paciente, enfatizando que tudo está sendo feito para manter a sua saúde usando palavras de fácil compreensão. Apoio: Oferecer apoio e conforto ao paciente e família. Orientar a família sobre as condições do paciente antes da visita. Identificar as necessidades de informação e amparo do paciente e família, buscando ajudá-los a satisfazer tais necessidades. Vínculo: Orientar sobre os benefícios do tratamento e as complicações que podem ocorrer. Flexibilizar o horário da visita quando houver necessidade. Estar aberto ao outro. Sendo assim devemos ser humanizados, acolhendo o paciente em toda sua essência, respeitando sua subjetividade e colocar sempre em foco a escuta, sem ela o profissional ficará no oculto e não terá a percepção ou compreensão o que realmente o paciente está sentindo ou necessita. Precisamos ter o comprometimento de toda equipe em recepcionar, focar na escuta ao paciente e realizar o tratamento humanizado procurando atender suas necessidades para amenizar o sofrimento seja de ordem física, psíquica ou até mesmo espiritual, sendo possível observar o paciente, e captar nas entre linhas, o que o paciente está sinalizando, seja ela de forma verbal ou não e a interpretação da fala não deve ser ignorada. Cada profissional de saúde deve prezar o bem-estar do paciente, sendo que este deposita toda confiança no profissional que o acolhe e ele depende deste acolhimento com qualidade para superar o momento de sofrimento, e ao praticar o acolhimento do paciente e seus familiares abrangerá toda necessidade como um todo. A comunicação na relação paciente e profissional de enfermagem mostra-se como um instrumento básico na construção de estratégias que almejem um cuidado humanizado como, por exemplo, utilizar uma linguagem acessível, valorização da escuta atentiva, de um sorriso que expresse confiança, de um olhar que demonstre tranquilidade, de um toque carinhoso que proporcione apoio e conforto, e uma palavra de ‚animo que eleve a autoestima do paciente. No tocante a comunicação como instrumento para humanização do cuidar em enfermagem é essencial que a equipe desenvolva sua percepçãoe sensibilidade, para aproximar-se do outro e possibilitar o entendimento pleno do que comunica e do que é comunicado, refletindo-se em um cuidado diferenciado. No processo comunicativo, é importante salientar ainda que a comunicação verbal e não verbal fortalecem o vínculo afetivo entre o profissional de enfermagem e o paciente, proporcionando uma relação intersubjetiva com ênfase nas necessidades individuais de cada ser doente. Por outro lado, a comunicação não-verbal permite aos profissionais de enfermagem reconhecer os reais sentimentos dos pacientes diante da hospitalização, além de ser um recurso importante no que tange apreensão de dúvidas emanadas no decorrer do processo de comunicação que deve ser efetivado a partir de uma relação de confiança entre pessoas. Por meio da comunicação não verbal, é possível perceber dificuldades de verbalização, insatisfações do paciente quanto ao cuidado que vem recebendo, uma vez que nessa comunicação observa-se um processo de exteriorização do ser psicológico. A comunicação em enfermagem, ao permitir a construção de identidades subjetivas, colabora para uma assistência de qualidade e humana que perpassa pela valorização do paciente em sua dignidade, considerando como um ser único com características e necessidades que lhes são inerentes. CONCLUSÃO Sabemos que muitas vezes, em sua maioria, a visita e a permanência em um ambiente hospitalar não é das mais agradáveis, sendo de extrema importância o amparo e a proteção dos profissionais de saúde diante do paciente e família. Nós como enfermeiros precisamos criar esse vínculo e passar segurança, para que o enfrentamento de quaisquer situações que as pessoas estejam passando sejam, no mínimo, menos dolorosas. Então podemos afirmar que é de suma importância que nós devemos nos mostrar interessados, afetuosos, principalmente respeitosos com a situação e não podemos nunca nos esquecer de sermos compreensivos. Devemos entender de forma humanizada a necessidade de cada paciente e familiar, e isso ultrapassa nossos conhecimentos técnicos neste momento. E uma forma de fazermos isso é nos mostrarmos dispostos a ouvir, é termos a capacidade de informar família e paciente sobre todas as suas dúvidas de forma pertinente e verdadeira, precisamos dessa relação de confiança. A comunicação nesse processo é muito importante, diríamos que é essencial, o desinteresse de uma equipe de enfermagem para com as pessoas a quem se dirigem podem causar diversos malefícios. O acolhimento não é algo momentâneo, algo que ocorre apenas na recepção do paciente e família, é toda uma prática integral, um conjunto de ações que inclui a técnica do profissional mais o reconhecimento que ele possui dos direitos que o paciente tem, respeitando todos os aspectos daquele indivíduo. Podemos afirmar que o acolhimento é um ato que expressa uma ação de aproximação, é aí que criamos o tão falado vínculo entre paciente, família e profissionais de saúde, nós precisamos sim considerar a família nesse processo, eles também se sentem vulneráveis diante da situação, muitas vezes eles são apenas vistos como acompanhantes e não como seres humanos que também necessitam de atenção em um momento tão difícil. Na área do cuidar, nós passamos a nos simpatizar com o outro quando há uma preocupação em fazer a escuta, quando nos familiarizamos com a dor, assim nós conseguimos compreender de fato suas ânsias e angústias e fazemos assim que seja mais eficaz nosso cuidado integral. Para concluir, fica claro que o acolhimento é um ato transformador no atendimento a pacientes e familiares, tendo amparo e disposição para ouvir. Criando uma ideia ainda mais presente da empatia, o acolher de forma humanizada, dando todo o apoio e confiança para que não se perca as forças e haja sempre persistência em qualquer tratamento em que o paciente venha fazer, nem que seja em uma simples consulta de rotina. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. A Equipe da Enfermagem e o Acolhimento ao Paciente: Humanização Hospitalar. <https://psicologado.com.br/atuacao/psicologia-hospitalar/aequipe-da- enfermagem-e-o-acolhimento-ao-paciente-humanizacao-hospitalar> 2. Acolhimento no âmbito hospitalar: perspectivas dos acompanhantes de pacientes hospitalizados. <https://seer.ufrgs.br/RevistaGauchadeEnfermagem/article/viewFile/ 5347/6555 > 3. Acolhimento e cuidados de enfermagem: um estudo fenomenológico. <http://www.scielo.br/pdf/tce/v25n1/pt_0104-0707-tce- 25-014550015.pdf> 4. Comunicação como instrumento básico no cuidar humanizado em enfermagem ao paciente hospitalizado. <http://www.scielo.br/pdf/ape/ v22n3/a14v22n3>
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