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Gestodeguasversao2015

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Gestão de Águas: pricípios e práticas
Book · January 2003
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15
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2 authors:
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
Drenagem Urbana View project
Conflito pelo Uso da Água View project
José Nilson B. Campos
Universidade Federal do Ceará
153 PUBLICATIONS   357 CITATIONS   
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Ticiana Marinho de Carvalho Studart
Universidade Federal do Ceará
76 PUBLICATIONS   117 CITATIONS   
SEE PROFILE
All content following this page was uploaded by José Nilson B. Campos on 03 November 2015.
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Gestão de 
Águas 
princípios e práticas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2001 
Fortaleza-Ce 
 
Impresso no Brasil 
Printed in Brazil
 
 
 
 
Gestão de Águas 
princípios e práticas 
 
EDITORES 
Nilson Campos 
Ticiana Marinho de Carvalho Studart 
 
AUTORES 
 
Francisco de Assis Souza Filho 
José Adonis Callou de Araújo Sá 
José Carlos de Araújo 
Larry Simpson 
Luciana Ribeiro Campos 
Marco Aurélio Holanda de Castro 
Marisete Dantas de Aquino 
Nilson Campos 
Raimundo Oliveira de Sousa 
Sandra Tédde Santaella 
Sila Xavier Gouveia 
Suetônio Mota 
Ticiana Marinho de Carvalho Studart 
Vicente de Paulo Pereira Barbosa Vieira 
 
 
 
 
 
 
Fortaleza, 2003 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Copyright @ 2003, de ....... 
 
Reservados todos os direitos autorais. 
 
Nenhuma parte desse livro poderá ser reproduzida sejam quais forem os 
meios empregados sem a permissão, por escrito, da Editora ..... Aos 
infratores se aplicam as sanções previstas nos artigos 122 e130 da Lei 
5.988 de 14 de dezembro de 1973. 
 
 
 
I- Gestão de Águas. 2. Planejamento de Recursos 
Hídricos 
 
CDU 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Vista de longe a Terra é pura água; 
Mas não é água pura. 
Essa é rara e cada vez mais cara.” 
 
Ricardo Arnst 
 
 
Agradecimentos 
Os editores do livro agradecem à Financiadora de Estudos e Projetos – 
FINEP, pelo patrocínio ao projeto de pesquisa Instrumentos de Gestão 
dos Recursos Hídricos(RECOPE/REHIDRO/SUB-REDE 4). Ao 
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – 
CNPq, pelo suporte ao projeto de pesquisa Gerenciamento Integrado dos 
Aspectos Qualitativos e Quantitativos dos Recursos Hídricos em Regiões 
Semi-Áridas.(Processo 521169/97-6). 
Aos Professores Fazal Chaudry e Antônio Eduardo Leão Lanna, 
respectivamente Coordenador Geral do RECOPE/REHIDRO e 
Coordenador da Sub-Rede 4, pela eficiente condução do projeto. 
Ao Professor Ernesto da Silva Pitombeira, Diretor do Centro de 
Tecnologia, ao Professor Joaquim Bento Cavalcante Filho, Chefe do 
Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental e ao Professor Horst 
Frischkorn, Coordenador do Curso de Mestrado e Doutorado em Recursos 
Hídricos da UFC, pelo apoio institucional recebido. 
Ao Professor Alber Uchoa, pela valiosa revisão dos textos. A srta. Marisa 
Lopes Freire, pelo seu trabalho de secretariado nos vários projetos de 
pesquisa. 
 
 
 
 
 
Prefácio 
 
As preocupações relacionadas ao gerenciamento de recursos hídricos têm 
estado presente na sociedade desde muito tempo atrás. Porém, somente 
nas últimas décadas, conceitos como gestão da demanda, gestão da 
qualidade das águas e gestão ambiental de bacias hidrográficas 
incorporaram-se de forma proeminente nos modelos de gerenciamento 
dos recursos hídricos. Esse assunto, tornou-se um capítulo importante no 
novo paradigma do desenvolvimento sustentável. 
A Agenda 21, documento emanado da Conferência das Nações Unidas 
sobre meio ambiente e desenvolvimento, dedicou o Capítulo 18 à 
proteção da qualidade e do abastecimento dos recursos hídricos. O 
documento aborda temas como a integração de medidas de proteção e 
conservação dos mananciais; o desenvolvimento de técnicas de 
participação do público na tomada de decisões; a mobilização dos 
recursos hídricos, particularmente em zonas áridas e semiáridas; o 
desenvolvimento de novas alternativas de abastecimento de água, como 
dessalinização de águas do mar, reuso e reposição de águas subterrâneas. 
Toda essa mudança refletiu também em mudanças na Engenharia. A 
gestão de águas que no passado era área de domínio de engenheiros, 
passou a ser trabalhada também por administradores, economistas, 
biólogos, químicos, sociólogos e outros profissionais. A formação de 
recursos humanos na área de gestão de recursos hídricos, nas 
universidades brasileiras, ainda se dá predominantemente em mestrados 
e doutorados em Engenharia Civil. Porém, o importante é que nesses 
cursos participam também geógrafos, biólogos, matemáticos e de outras 
formações. Nesse processo, a convivência com diferentes visões 
enriquece tanto o engenheiro como os outros profissionais, levando ao 
aprendizado do trabalho em equipe. 
O presente livro procura suprir uma lacuna deficiência na literatura 
técnica e se destina a estudantes, professores, técnicos e, em geral, a 
interessados em gestão de águas. 
O texto foi organizado em treze capítulos. No primeiro capítulo, Gestão 
de Águas: Novas Visões e Paradigmas, Nilson Campos aborda conceitos 
históricos e atuais sobre o tema central do livro. Nos segundo e terceiro 
capítulo, o mesmo autor trata, respectivamente de Política de Águas, 
com base em experiências em curso no Brasil e dos princípios e 
procedimentos para o estabelecimento de um Modelo Institucional. 
No quarto capítulo, Planos de Bacias Hidrográficas, Nilson Campos e 
Raimundo de Sousa apresentam algumas experiências brasileiras e 
mostram como o desenvolvimento dos planos de gerenciamento de 
bacias hidrográficas no Brasil vêm sendo procedidos com filosofias 
distintas para os diferentes estados, embora todos tenham sofrido 
influência do modelo francês. Aspectos inseridos na Lei Brasileira de 
Águas também são apresentados. 
No quinto capítulo, Gestão da Demanda, Ticiana Studart e Nilson 
Campos discutem as diversas medidas chamadas “não-estruturais” para o 
aumento da eficiência de sistemas hídricos. O texto aborda a experiência 
de alguns países na gestão da demanda. 
No sexto capítulo, Sistemas de Suporte às Decisões, Assis Filho e Sila 
Gouveia discorrem sobre as linhas gerais de um sistema de suporte a 
decisão, definindo marcos conceituais para o projeto e para a 
implantação de um sistema deste tipo. 
No sétimo capítulo, A Cobrança pelo Uso da Água, Nilson Campos e 
Ticiana Studart fazem uma retrospectiva histórica do processo de 
cobrança pela água bruta – da Roma Antiga aos tempos atuais. Os 
autores mostram que, embora a cobrança pelo uso da água bruta seja 
uma ferramenta considerada moderna, a mesma vinha sendo praticada 
por muitos séculos, em casos específicos e particulares. 
No oitavo capítulo, Gestão Ambiental, Suetônio Mota e Marisete Aquino 
discutem a gestão de bacias hidrográficas, com ênfase à conservação 
ambiental. São comentados aspectos legais e institucionais da gestão de 
recursos hídricos e é apresentado um roteiro para elaboração de um 
plano de conservação ambiental de uma bacia hidrográfica. 
Vicente Vieira, no nono capítulo, Análise de Risco, conceitua e identifica 
riscos e incertezas e apresenta exemplos de aplicaçãoda análise de risco 
como instrumento de gestão das águas, tanto a nível de engenharia de 
projeto quanto a nível de prática administrativa. 
No décimo capítulo, Gestão da Qualidade, José Carlos de Araújo e 
Sandra Santaella apresentam conceitos ligados ao gerenciamento da 
qualidade da água. São abordadas a poluição, a eutrofização e ainda 
mostrados alguns exemplos de degradação da qualidade de reservatórios 
superficiais devido ao deficiente manejo e proteção das margens desses 
corpos de água. 
No décimo primeiro capítulo, Mercado de Águas, Nilson Campos e 
Larry Simpson apresentam conceitos ligados ao uso do mercado como 
instrumento de gestão. Seis pré-requisitos para o funcionamento do 
mercado de água são discutidos. Algumas situações favoráveis para a 
aplicação dessa ferramenta são apresentadas. 
No décimo segundo capítulo, Águas Subterrâneas, Marco Aurélio de 
Castro apresenta os conceitos ligados à hidrologia de águas subterrâneas, 
essenciais para o entendimento do funcionamento de aquíferos como 
reservatórios hídricos. 
O décimo terceiro capítulo, O Direito e a Gestão das Águas, José Adonis 
Callou de Araújo Sá e Luciana Campos expõem os aspectos legais na 
gestão de águas e apresentam, sob a ótica do Direito, uma interessante 
experiência de direito de águas que tem lugar no Sul do Ceará. 
Finalmente, o décimo quarto Capítulo, Nilson Campos aborda os 
conceitos relacionados ao conflito de águas, tema de muita importância 
nos dias atuais. O Capítulo apresenta alguns exemplos históricos de 
conflitos de água em todo o mundo. 
Ao formularmos o projeto desse livro, nós, editores, buscamos a 
companhia de profissionais competentes e de variadas formações no 
intuito de propiciar ao leitor uma visão mais abrangente sobre tema 
Gestão de Águas. A eles, colegas co-autores, o nosso agradecimento por 
compartilhar conosco essa experiência. 
Nilson Campos e Ticiana Studart 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Autores 
Nilson Campos (EDITOR) 
Engenheiro Civil e Mestre pela Universidade Federal do Ceará, PhD em 
Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos pela Universidade do 
Estado do Colorado (CSU), Professor Titular da Universidade Federal do 
Ceará. 
Ticiana M. de Carvalho Studart (EDITORA) 
Engenheira Civil, Mestre e Doutora em Recursos Hídricos pela 
Universidade Federal do Ceará, Professora Adjunto da mesma 
Universidade. 
Francisco de Assis Souza Filho 
Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Ceará, Mestre em 
Recursos Hídricos pela Universidade de São Paulo, Professor da 
Universidade de Fortaleza. 
José Adonis Callou de Araújo Sá 
Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Ceará, Advogado, 
Procurador da República, Mestrando em Direito pela Universidade 
Federal do Ceará. 
José Carlos de Araújo 
Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Ceará, Doutor em 
Recursos Hídricos pela Universidade de São Paulo, Professor Adjunto da 
Universidade Federal do Ceará. 
 
 
Larry Simpson 
Engenheiro Civil e Geotécnico, Mestre em Engenharia de Solos e Minas 
pela Escola de Minas do Colorado, Mestre em Finanças pela 
Universidade da California em Los Angeles (UCLA), Licenciado em 
Engenharia nos estados do Colorado e Califórnia. 
Luciana Ribeiro Campos 
Graduada em Administração de Empresas pela Universidade Estadual do 
Ceará, Bacharela em Direito pela Universidade Federal do Ceará, 
Procuradora do estado de Alagoas. 
Marco Aurélio Holanda de Castro 
Engenheiro Civil pela Universidade de Brasília, Mestre em Recursos 
Hídricos pela Universidade de New Hampshire (UNH), Doutor pela 
Drexel University, Filadélfia, Professor Adjunto da Universidade Federal 
do Ceará. 
Marisete Dantas de Aquino 
Engenheira de Pesca pela Universidade Federal do Ceará, Mestre em 
Recursos Hídricos pela Universidade Federal do Ceará, Doutora pela 
Universidade de Ponts et Chaussés de Paris, Professora Adjunto da 
Universidade Federal do Ceará. 
Raimundo Oliveira de Sousa 
Engenheiro Civil pela Universidade do Amazonas, Mestre pela 
Universidade do Estado do Colorado (CSU), Doutor em Recursos 
Hídricos pela Universidade de São Paulo com pós doutorado na 
Universidade de Cornell, Professor Titular da Universidade Federal do 
Ceará. 
Sandra Tédde Santaella 
Química e Doutora em Saneamento pela Universidade de São Paulo, 
Professora Adjunto da Universidade Federal do Ceará. 
 
Sila Xavier Gouveia 
Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Ceará, Trinta anos de 
experiência em consultoria de recursos hídricos em vários estados 
brasileiros. É consultor da Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará. 
Suetônio Mota 
Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Ceará, Mestre e Doutor 
em Saneamento pela Universidade de São Paulo, Professor Titular da 
Universidade Federal do Ceará. 
Vicente de Paulo Pereira Barbosa Vieira 
Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Ceará, Mestre pelo 
Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio 
Grande do Sul, PhD em Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos 
pela Universidade do Estado do Colorado (CSU), Professor Titular da 
Universidade Federal do Ceará. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
1 - Gestão de Águas: Novas visões e paradigmas 1 
Nilson Campos 
2 - Políticas das Águas 11 
Nilson Campos 
3 - O Modelo Institucional 31 
Nilson Campos 
4 - Planos de Bacias Hidrográficas 48 
Nilson Campos e Raimundo Oliveira de Sousa 
5 - Gestão da Demanda 63 
Ticiana M. de Carvalho Studart e Nilson Campos 
6 - Sistemas de Suporte às Decisões 86 
Francisco de Assis Souza Filho e Sila Xavier Gouveia 
7 - A Cobrança pelo Uso da Água 111 
Nilson Campos e Ticiana M. de Carvalho Studart 
8 - Gestão Ambiental 127 
Suetônio Mota e Marisete Dantas de Aquino 
9 - Análise de Risco 150 
Vicente de Paulo Pereira Barbosa Vieira 
10 - Gestão da Qualidade 165 
José Carlos Araújo e Sandra Tédde Santaella 
11 - Mercado de Águas 189 
Nilson Campos e Larry Simpson 
12 - Águas Subterrâneas 201 
Marco Aurélio Holanda de Castro 
13- O Direito e a Gestão das Águas 216 
José Adonis Callou de Araújo Sá e Luciana Ribeiro Campos
14- Conflitos em Gestão de Águas 238 
Nilson Campos 
1 
 
 
Gestão de Águas: 
novas visões e 
 paradigmas 
 
Nilson Campos 
1.1. AS NOVAS VISÕES DE GESTÃO DE ÁGUAS 
As preocupações da sociedade com problemas ligados ao uso e ao 
manejo das águas levaram a debates e inovações nas últimas décadas. 
Expressões como gerenciamento de recursos hídricos, gestão de águas e 
uso racional das águas passaram a fazer parte do dia-a-dia das pessoas e 
dos meios de comunicação. Todavia, a maneira de abordá-las, de 
entendê-las e, principalmente, de praticá-las varia de pessoa para pessoa 
e, mesmo, de técnico para técnico. Apesar dasdiferenças de 
entendimento, há algo novo nascendo na sociedade: a aceitação de que 
devemos mudar o modo de tratar os recursos hídricos do planeta, 
conservando-os para nosso futuro e para as futuras gerações. 
Essa mudança de atitude foi ocasionada por desastres ecológicos que 
resultaram em poluição de corpos de água e também da ocorrência de 
secas com graves conseqüências para alguns segmentos da sociedade. 
Muitos estudiosos passaram a alertar que o modelo de administrar o 
recurso água então em prática era insustentável. O aumento da demanda, 
acompanhado pelo declínio na qualidade das águas, pode levar, segundo 
os mais enfáticos, a uma nova guerra mundial. 
O consenso atual é que há uma premente necessidade de novos 
paradigmas para racionalizar o uso das águas. Por outro lado, uma 
 2 
retrospectiva histórica há de mostrar que a busca por uma prática 
sustentável de uso da água já era objeto da preocupação de muitos 
filósofos. São esses os pontos abordados no presente capítulo: os velhos 
e os novos paradigmas de gestão de águas. 
1.2. O QUE É GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS 
Grigg (1996) nos oferece a definição de gerenciamento de recursos 
hídricos como sendo a aplicação de medidas estruturais e não estruturais 
para controlar os sistemas hídricos, naturais e artificiais, em benefício 
humano e atendendo a objetivos ambientais. As ações estruturais são 
aquelas que requerem a construção de estruturas, para que se obtenham 
controles no escoamento e na qualidade das águas, como a construção de 
barragens e adutoras, a construção de estações de tratamento de água etc. 
As ações não-estruturais são programas ou atividades que não requerem 
a construção de estruturas, como zoneamento de ocupação de solos, 
regulamentos contra desperdício de água etc. 
A análise da definição de Grigg permite que se identifiquem no processo 
de gerenciamento “o sujeito, o objeto e a ação. ” Os objetos da gestão 
são os sistemas hídricos, naturais e artificiais. O sujeito é a sociedade 
que atua sobre os sistemas hídricos com vistas a atingir seus objetivos. 
As ações são as estruturais e não estruturais aplicadas pela sociedade no 
meio ambiente, nos corpos de águas e na administração dessas águas. 
Por sua vez os sistemas hídricos são formados por estruturas artificiais 
de controle e transmissão de águas e por elementos naturais geográficos 
que executam as funções de armazenamento e transporte de águas. 
 3 
1.3. RETROSPECTIVA HISTÓRICA NO MANEJO DAS ÁGUAS 
“Ciência sem história é como um homem sem memória. Os resultados de 
tal amnésia coletiva são medonhos. ” Assim escreveu Collin Russel em 
Nature, em 1984. Dentro dessa idéia, apresentamos no primeiro capítulo 
deste livro uma breve retrospectiva histórica, com a finalidade de alertar 
os leitores para a necessidade de ver, com espírito crítico, o uso das 
águas no passado, para planejar bem o futuro. 
Quando o tema em análise é gestão de águas, essa abordagem crítica 
desempenha papel de grande relevância. Não se pode perder de vista que 
a gestão de águas reflete os processos econômicos, políticos e sociais 
que ocorrem no âmbito de uma sociedade (Perry e Vanderklein, 1996). 
A abordagem apresentada a seguir procura caracterizar o problema da 
gestão de recursos hídricos como uma área de conhecimento em 
evolução cujos valores variam ao longo do tempo. 
1.3.1. A água na Roma antiga 
Durante 441 anos, após a fundação da cidade, os romanos se 
abasteceram de água através de retiradas diretas no rio Tibre ou de fontes 
ou poços. No ano 312 a.C., os romanos iniciaram a construção do 
aqueduto Aqua Appia. Quarenta anos depois, foi construído o Anio Vetus 
e, em seguida, construíram-se sucessivos aquedutos que formaram uma 
complexa rede hidráulica para abastecimento da cidade. Quando o 
atendimento da demanda entrava em crise, buscavam-se novas fontes 
que tivessem quantidade e qualidade. As pessoas que procuravam essas 
novas fontes eram chamadas de caçadores de água e a elas eram rendidas 
homenagens. Assim, vieram a existir muitos aquedutos que hoje são 
monumentos da Roma moderna. 
 4 
Para gerenciar o sistema assim formado, os romanos foram 
gradativamente formulando modelos de organização e estruturas 
administrativas. No ano 97 d.C., Julius Frontinus VI foi nomeado 
Comissário de Águas de Roma (Curator Aquarum) pelo Imperador 
Augustus Nerva. Frontinus tinha sob sua responsabilidade um complexo 
sistema de aquedutos que captava água em fontes afastadas e as conduzia 
até reservatórios distribuídos ao longo da cidade. 
Sob o comando de Frontinus, mais de 700 homens exerciam funções 
variadas como as de inspetor geral, engenheiros, registradores de uso de 
água, mensuradores, bombeiros, zeladores de reservatórios e outras. 
“Os usos das águas eram divididos nas classes: nomine Caesari, privatis 
e usus publici. A classe usus publici era subdividida em castra, opera 
publica, munera e lacus. As águas nomine Caesari destinavam-se ao 
palácio imperial e aos prédios diretamente sob o controle do Imperador. 
As águas privati, eram concedidas aos particulares por ato do Imperador 
(beneficio principis) e estavam sujeitas ao pagamento de uma taxa. As 
águas usus publici, destinavam-se a prédios públicos, a balneários, 
instalações militares e para-militares, fontes ornamentais e reservas de 
emergência”. 
O nosso conhecimento da história da gestão das águas de Roma deve-se 
ao legado escrito de Frontinus VI, De aquedutu, o qual tem sido objeto 
de muitos estudos e análises. Nota-se nessas análises que muitas 
estruturas modernamente utilizadas têm algum tipo de similar no sistema 
de gestão de águas da Roma antiga. 
1.3.2. A atitude perante a água pós Idade Média 
Houve um período na História, que se seguiu à Idade Média, no qual as 
pessoas tinham pavor da água. Os hábitos de higiene, como o banho, não 
eram praticados com a freqüência hoje recomendada. Para combater o 
 5 
odor, as pessoas recorriam aos perfumes. Essa prática e a sua 
racionalização pelo ser humano fizeram que odores fortes gerados por 
perfumes fossem tomados como um sinal de prosperidade. 
Nesse contexto não houve evolução mais significativa na maneira de 
administrar as águas. Somente no final do século XVIII é que os hábitos 
de higiene ganharam vulto. 
1.3.3. A atitude perante a água pós revolução industrial 
Depois da revolução industrial, a rápida concentração de populações em 
cidades fez que sérios problemas ligados à qualidade da água passassem 
a aparecer. As cidades já não podiam ser abastecidas por fontes em suas 
vizinhanças. Por falta de um adequado sistema de esgotamento sanitário, 
as águas próximas tornavam-se imprestáveis. 
Certamente, essa maneira pouco racional de uso da água é insustentável. 
O resultado é o aumento gradativo da poluição e dos custos de obtenção 
da água. Como exemplo, o rio Tietê, ao passar pela cidade mais 
industrializada do Brasil, São Paulo, torna-se a maior vítima dessa 
maneira de “tratar” a água. 
1.3.4. O moderno ciclo de uso da água 
Modernamente, com o agravamento dos problemas de poluição dos 
corpos de água, foram estabelecidos conceitos e técnicas necessários a 
um sistema correto de abastecimento das cidades. São eles: 
 Captação das águas brutas em rios, poços, lagos, reservatórios 
etc. 
 Adução das águas brutas da fonte de captação aos pontos de 
consumo, através de canais, adutoras, túneis etc. 
 6 
 Tratamento da água bruta para melhorar as características das 
águas nos aspectos físico, químico, bacteriológico e 
organoléptico, para torná-las próprias para o consumo. 
 Distribuição das águas tratadas nos locais de consumo,através 
de um sistema de tubulações de distribuição. 
 Coleta das águas usadas, esgotos, através de uma rede de 
tubulações, para afastá-las para um local seguro. 
 Tratamento das águas usadas para atingir o padrão assimilável 
pelo corpo receptor final. 
Infelizmente, muitas grandes cidades modernas, que cresceram 
desordenadamente, continuam com o processo de pós-revolução 
industrial. No Brasil, de fato, nenhuma grande cidade é atendida por um 
moderno sistema de água, no rigor de sua definição. 
1.4. PARADIGMAS DE HOJE, FILÓSOFOS DE ONTEM 
Segundo Jean Piaget, o cientista que não passa pela filosofia permanece 
portador de uma doença incurável. Considera Piaget a filosofia 
indispensável a todo homem completo, “por mais cientista que ele seja.” 
Nesse espírito, procurou-se desenvolver na presente seção uma rápida 
abordagem histórico-filosófica da gestão da água e dos recursos naturais, 
confrontando-se os paradigmas de hoje com o pensamento de filósofos 
do passado. Assim, são abordados conceitos “modernos” como 
desenvolvimento sustentável, visão holística e a cobrança de água bruta. 
 7 
1.4.1. O desenvolvimento sustentável 
A Terra provê o suficiente para a necessidade de todos, mas não para a 
voracidade de todos. De alguma maneira, Mahatma Ghandi, famoso 
pacifista indiano, ao expressar essas idéias, antecipava o que os 
dirigentes dos países desenvolvidos aceitaram, na teoria, ao definirem o 
conceito de desenvolvimento sustentável. No livro Nosso Futuro 
Comum, o desenvolvimento sustentável é definido como aquele que 
atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das 
gerações futuras (CMMAD, 1987). Em outras palavras, é o 
desenvolvimento no qual o homem procura atender a suas necessidades, 
sem a voracidade de consumir o capital ambiental das futuras 
sociedades. Como transformar esse discurso em prática é o grande 
desafio. 
1.4.2. A visão holística 
“Primeiramente, queremos ter a visão total de um bosque para depois 
conhecer demoradamente cada uma das árvores. Quem considera as 
árvores primeiro e somente está dependente delas, não se dá conta de 
todo o bosque, se perde e se desnorteia dentro dele.” Este primor de 
pensamento filosófico de Hegel, adequa-se muito bem aos conceitos 
modernos de visão holística. Embora isto hoje pareça o óbvio, em 
passado recente muitos estudos, planos, programas e ações foram 
executados de forma totalmente setorial, sem se enquadrarem no 
contexto geral. Assim, planos de irrigação não se compatibilizavam com 
planos hídricos; planos de grandes obras não se enquadravam nos 
projetos econômicos. O resultado desse procedimento fragmentário, 
normalmente, são obras inacabadas ou, no pior caso, desastres 
ambientais. 
 8 
Dentro dos novos paradigmas, a Agenda 21 recomendou para a década 
de 90 e anos futuros, o manejo holístico da água doce, tratada como um 
recurso finito e vulnerável, e a integração de planos e programas hídricos 
setoriais aos planos econômicos e sociais nacionais. 
1.4.3. A cobrança da água bruta 
Na China antiga, o Li-Chi estabelecia: 
"Na primavera toda a vida começa e as chuvas do 
Paraíso caem na Terra, e, portanto, deixem as águas 
correrem e irrigarem os campos, nos meses de verão 
construam-se barragens e diques e estoque-se água 
para uso posterior; (...) nos meses de inverno a vida 
cessa e a dureza chega, faça-se a inspeção dos 
trabalhos, a coleta de taxas de água e a punição dos 
ofensores” (Caponera, 1992). 
A determinação mostra que a cobrança pelo uso da água já era praticada 
há milênios. Porém é importante contextualizá-la. O texto do Li-Chi, por 
exemplo, por certo não colocava a cobrança como um instrumento para 
racionalizar o uso da água. Provavelmente, a cobrança a que se referia o 
Li-Chi funcionava mais como um instrumento de coleta de impostos 
para o Imperador. Modernamente, esse objetivo seria classificado como 
instrumento financeiro. 
Nesse aspecto, há ainda alguma confusão conceitual. Algumas vezes, à 
cobrança tem sido dado tanta ênfase, que há aqueles que defendem que a 
mesma seja efetuada em qualquer circunstância e a qualquer usuário. 
Afirma-se, porém, no próprio texto da Agenda 21, capítulo 18, item 18.8, 
que ao se desenvolverem e usarem os recursos hídricos deve-se dar 
prioridade à satisfação das necessidades básicas e à proteção dos 
 9 
ecossistemas e que, satisfeitas essas necessidades, o uso das águas 
devem ser pagos com tarifas adequadas. 
1.5. RESUMO 
Embora muitos segmentos da sociedade ainda sonhem com os caçadores 
de água, tão eficientes e produtivos no tempo da Roma antiga, já se sabe 
que novas práticas de gestão de águas são extremamente necessárias. 
Essas práticas baseiam-se em estabelecimento de medidas de médio e 
longos prazos para a proteção e conservação das águas. 
Conforme o consenso em encontros internacionais sobre o assunto, essas 
medidas devem incluir: 1) uma visão abrangente de planejamento e 
gerenciamento que leve em conta os fatores físicos, econômicos, sociais 
e ambientais; 2) participação da sociedade nos processos de decisão e 
operação; 3) descentralização das decisões para os níveis mais baixos 
possíveis; 4) aumento de confiança nas técnicas de gestão da demanda e 
5) proteção da qualidade das águas e dos ecossistemas aquáticos 
(Moigne et alii, 1994). 
É nessa linha que a gestão dos recursos hídricos tem caminhado. Os 
profissionais de várias formações trabalham em equipe. A esses 
profissionais de visão abrangente destina-se este livro. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
CAPONERA, Dante A. Principles of water law and administration. 
Rotterdam, Netherlands: A.A. Balkema Publishers, 1992, 260 p. 
COMISSÃO MUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTE. Our Common 
Future. New York: Oxford University Press, 1987, 383p. 
FRONTINUS VI, J. De aquaeductu urbis Romae. Reprint. Harvard, 
Massachusetts: Havard University Press, 1997, 495 p. 
 10 
GRIGG, NEIL. Water resources management: principles, regulations 
and cases. New York: McGraw-Hill,, 1996, 540 p. 
MOIGNE, G., SUBRAMANIAN, A., XIE, M., e GILNER, S. A guide 
to the formulation of water resources strategy. Washington DC: 
World Bank Technical Paper Number 263, 1994, 102 p. 
JAPIASSU, Hilton. A revolução científica moderna. De Galileu a 
Newton. São Paulo: Letras & Letras, 1997, 284 p. 
. 
 
2 
 
 
Política de Águas 
 
 
 
Nilson Campos 
2.1. VISÃO GERAL DO TEMA 
Uma política é definida como um conjunto de princípios e medidas 
postos em prática por instituições governamentais ou outras, para a 
solução de certos problemas da sociedade. No caso específico da política 
de recursos hídricos, os princípios e objetivos referem-se ao uso das 
águas, respeitando os objetivos das políticas sociais do País. 
Dessa forma, o estabelecimento de uma política de recursos hídricos visa 
proporcionar meios para que a água, recurso essencial ao 
desenvolvimento social e econômico, seja usada de forma racional e 
justa pelo conjunto da sociedade. Entende-se como justa uma política na 
qual as necessidades vitais tenham suprimento prioritário sobre os 
demais usos. Como racional, entende-se uma política na qual o uso se dá 
com parcimônia, sem desperdícios e atendendo aos modernos conceitos 
da gestão dos recursos hídricos. 
A política de recursos hídricos, como a de qualquer outro recurso, é 
formada por: 1) objetivos a serem alcançados, 2) fundamentos ou 
princípios sob os quais deve ser erguida, 3) instrumentos e mecanismos 
para executá-la, 4) uma lei, ou arcabouço legal para lhe dar a sustentação 
e 5) instituições para executá-la e fazer seu acompanhamento 
 12 
As políticasdevem ser moldadas para determinados espaços geográficos 
e respeitar as peculiaridades locais. No que se refere ao Brasil, como 
uma federação, há estabelecidas várias políticas de recursos hídricos 
estaduais e uma Política Nacional. A Política Nacional deve ser 
suficientemente geral para abrigar os aspectos que podem ser aplicados a 
todos os estados. As políticas estaduais devem respeitar a Política 
Nacional e inserir suas peculiaridades. Essas políticas devem também, 
por consistência com o princípio da descentralização, deixar para os 
comitês de bacias as questões particulares de interesse das diferentes 
bacias hidrográficas. Não se pode esquecer que o Brasil é um país 
imenso e que nele existem realidades bem distintas nos aspectos 
hidrológicos, culturais e econômicos. 
O presente capítulo apresenta e comenta os fundamentos, as diretrizes, e 
os instrumentos para o estabelecimento de uma política de águas com 
base nos textos da Política Brasileira estabelecidos na Lei 9.433/97. 
Adicionalmente são feitas análises sobre a aplicabilidade ou não-
aplicabilidade da Lei a esse País de dimensões continentais, que engloba 
culturas e ambientes tão diversos. 
2.2. PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS DA LEI 
A Lei 9.433/97, que dispõe sobre a Política de Nacional de Recursos 
Hídricos, estabelece meios legais e direciona a Sociedade Brasileira para 
um novo modelo de gestão de águas. A Lei, seguindo os rigores técnicos 
para o estabelecimento de uma Política, foi construída sobre os seis 
fundamentos a seguir 
1. O domínio das águas; 
2. O valor econômico; 
3. Os usos prioritários; 
4. Os usos múltiplos; 
 13 
5. A unidade de gestão; 
6. A gestão descentralizada. 
Esses fundamentos ou princípios são apresentados e comentados nos 
itens subsequentes. 
2.2.1. Fundamento I - Do domínio das águas 
A Política de Águas Brasileira tem como primeiro fundamento a 
assertiva de que a água é um bem de domínio público. De fato, esse 
fundamento é uma repetição de um Artigo Constitucional que a Lei não 
poderia mudar. 
No ponto de vista do Direito, há autores que consideram a repetição de 
uma norma constitucional em uma lei totalmente desnecessária. Outros 
encaram essa repetição como uma ênfase que se dá ao assunto e que 
resulta em uma melhor estrutura do texto. 
No estabelecimento de políticas estaduais, muitas leis incorporam o texto 
constitucional relativo ao domínio. Se uma nova lei está para ser 
formulada e aprovada, a repetição, ou não, do domínio das águas é uma 
questão local que deve refletir também a cultura e a política local. 
2.2.2. Fundamento II – Do valor econômico da água 
A Lei 9.433 estabelece como fundamento que a água é um recurso 
limitado, dotado de valor econômico e estabelece a cobrança da água 
bruta com os seguintes objetivos: a) reconhecer a água como bem 
econômico; b) dar ao usuário uma indicação do seu real valor; c) 
incentivar a racionalização do uso da água e d) gerar recursos financeiros 
para o financiamento de programas formulados nos planos de recursos 
hídricos (Kettelhut et. al., 1999). 
 14 
Até a julho de 2000, todas as leis estaduais consideraram a água como 
um bem econômico e estabeleceram mecanismos para viabilizar a sua 
cobrança. 
Deve ser lembrado que o fato de se adotar esse fundamento na Política 
não implica necessariamente que a retirada de águas brutas deva ser 
cobrada em qualquer quantidade, em qualquer tempo e em qualquer 
lugar. Em vários estados da Federação, como a Amazonas e o Pará, a 
água ainda não é um bem escasso. Muitos outros estados têm colocado 
limites mínimos de retirada, abaixo dos quais não incide qualquer taxa. 
A Lei de Águas do Ceará estabelece esse limite em 2.000 litros por hora. 
A Lei Federal isenta de outorga e de pagamento o uso de águas para a 
satisfação das necessidades de pequenos núcleos populacionais e as 
derivações e captações considerados insignificantes (artigos 12 e 13). 
2.2.3. Fundamento III - Do uso prioritário 
O terceiro fundamento na Lei de Águas Brasileira estabelece que, em 
situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o 
consumo humano e a dessedentação de animais. 
Esse princípio consta no Código de Águas (art. 36), o qual estabelece 
que, quando o "uso da água depende de derivação, em qualquer hipótese, 
terá preferência aquela para o abastecimento das populações". 
Pode-se dizer que, quanto a este aspecto, a Lei 9.433 é menos rigorosa 
que o Código de Águas, pois este é enfático ao estabelecer a prioridade 
em qualquer hipótese enquanto que a Lei 9.433 estabelece a condição 
em situação de escassez, deixando margem para que se defina em que 
situação fica caracterizada a escassez. 
Nas leis estaduais, fica definido o uso prioritário pela Lei Federal. 
Porém, a hierarquia para os outros usos pode ser definida nos próprios 
 15 
estados ou, quiçá, nas próprias bacias hidrográficas, pelos Comitês de 
Bacias. O estado do Ceará adotou em sua lei a seguinte ordem de 
prioridade: 1) abastecimento doméstico; 2) abastecimentos coletivos 
especiais, como em hospitais, colégios, etc. 3) abastecimentos coletivos 
de cidades, inclusive em indústrias, 4) indústrias e comércios por 
captação direta; 5) irrigação e 6) outros usos (Decreto 123.067, art. 15). 
Uma maneira a ser pensada, seria deixar a decisão da hierarquia inferior 
ao consumo humano para os Comitês de Bacias. Há vários motivos para 
isto. As prioridades de uso podem variar de região para região e de 
tempos em tempos. Uma região agrícola teria certamente, no uso com 
irrigação, uma prioridade mais elevada do que no uso industrial. Uma 
região mais industrializada, principalmente em épocas de crise de 
desemprego, certamente estabeleceria uma escala inversa de prioridades. 
Ficaria para as políticas e leis estaduais a decisão de colocar, ou não toda 
a hierarquia de prioridades de uso. 
2.2.4. Fundamento IV- Dos usos múltiplos das águas 
A Política Nacional de Águas estabelece que a gestão dos recursos 
hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas. Trata-se de 
um princípio de caráter técnico, que tem por objetivo otimizar o 
aproveitamento das disponibilidades em água. Na maior parte dos rios e 
lagos esse princípio é atendido naturalmente pelas populações 
ribeirinhas. 
Talvez a palavra sempre esteja forte demais. Pode haver situações de 
escassez em que seja necessário adotar um uso prioritário, em detrimento 
de todos os demais usos conflitantes. Nessas situações, os usos múltiplos 
seriam restritos àqueles que não conflitassem com o uso para consumo 
humano (como explicitado no Fundamento III) 
 16 
2.2.5. Fundamento V – Da unidade de gestão das águas 
A Lei 9.433 estabelece a bacia hidrográfica como unidade territorial para 
a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e a atuação 
do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. 
Em princípio, pode-se observar que a Lei não utilizou explicitamente a 
terminologia bacia hidrográfica como unidade de gestão, sempre 
presente nos meios técnicos. No modelo francês, no qual se inspirou o 
modelo brasileiro, a bacia hidrográfica foi adotada como unidade de 
gestão onde se tomam decisões políticas importantes sobre a aplicação 
de vultosas quantias de recursos financeiros. O processo de definição dos 
comandos político desses comitês passou por uma ampla disputa 
política. Resolveu-se que a presidência dos comitês deve ser exercida por 
uma autoridade política, como o prefeito de uma das províncias das 
bacias. No Brasil, a presidências de alguns comitês de bacia ainda se 
encontram nas mãos de técnicos. Isso reflete duas coisas: o processo éincipiente e ainda não se decide sobre grandes orçamentos. 
Não se pode também afirmar que haja uma unanimidade na aceitação do 
conceito de bacia hidrográfica como unidade de gestão para qualquer 
local. Kemper (1997), reportando-se ao modelo de gestão de águas em 
prática no Ceará, concluiu que a experiência local sugere que a bacia 
hidrográfica, enquanto unidade de gestão ou de análise pode ser uma 
escolha equivocada. 
2.2.6. Fundamento VI – Da gestão descentralizada das Águas 
O sexto Fundamento da Lei 9.433 estabelece que a gestão dos recursos 
hídricos deva ser descentralizada e contar com a participação do Poder 
Público, dos usuários e das comunidades. Esse princípio de 
administração vem sendo, se não empregado, pelo menos propagado em 
 17 
quase todos os segmentos da administração pública. O fundamento tem 
por base a premissa de que não se deve levar a uma decisão superior o 
que pode ser solucionado em uma hierarquia inferior. 
Como esse princípio sairá da teoria para a prática? Certamente isso só 
será possível quando os comitês de bacias tiverem condições plenas de 
exercer as funções que lhes são atribuídas pela Lei 9.433. Contudo, 
mesmo limitadamente esse princípio vem sendo praticado em alguns 
comitês. 
A Agência Nacional de Águas (ANA) criou vários programas e 
incentivos para que os Comitês de Bacia exercitassem a prática de tomar 
decisões no âmbito da bacia hidrográfica. A priorização dos projetos de 
saneamento das bacias PCJ (Piracicaba, Capivari e Jundiaí) tem como 
base as definições da Deliberação Conjunta dos Comitês PCJ nº 077/07. 
Essa deliberação define as regras de hierarquização dos 
empreendimentos submetidos para o financiamento com recursos 
oriundos das cobranças pelo uso dos recursos hídricos em rios de 
domínio da União e dos Estados de São Paulo e Minas Gerais, 
localizados nas bacias PCJ (CAMPOS,V. 2012). 
2.3. INSTRUMENTOS DE GESTÃO 
A Lei 9.433, em seu Capítulo V, define seis instrumentos da Política 
Nacional de Recursos Hídricos. 
 Os planos de recursos hídricos; 
 O enquadramento dos corpos de água em classes; 
 A outorga dos direitos de uso dos recursos hídricos; 
 A cobrança pelo uso dos recursos hídricos; 
 18 
 A compensação a municípios; 
 Os sistemas de informação de recursos hídricos. 
2.3.1. Os planos de recursos hídricos 
O que vem primeiro, o Plano ou a Política? Esta é uma questão por 
vezes argüida por especialistas da área. Esta questão tem origem na 
diversidade dos processos de implantação de novas políticas de águas 
nos diferentes estados. 
Prosseguindo-se, poder-se-ia questionar: como pode ser o Plano, se o 
mesmo é um instrumento da Política? Para responder a essa questão, 
deve-se recorrer à história do estabelecimento de políticas nacionais e 
estaduais. 
Examinando a cronologia da formulação das novas políticas de recursos 
hídricos, vamos encontrar situações distintas que levam ao 
questionamento expresso no início desta seção. Para os estados do Ceará 
e São Paulo, precursores nacionais da nova política de águas, o processo 
se deu na seguinte ordem: 
 Tomou-se a decisão de formular uma nova política de águas; 
 Formaram-se grupos para formular um plano estadual de 
recursos hídricos; 
 Desenvolveram-se os planos estaduais englobando e 
documentando a política; 
 Formularam-se as leis e ajustaram-se as instituições para a 
execução da política. 
Muitos outros estados seguiram caminhos semelhantes, porém 
considerando suas próprias peculiaridades. Por sua vez, a Política 
 19 
Nacional de Recursos Hídricos teve uma trajetória bem distinta. Talvez, 
até, como conseqüência de as unidades federação estarem mais 
adiantadas do que a União. 
As tratativas políticas resultaram na criação da Secretaria Nacional dos 
Recursos Hídricos, como unidade do Ministério do Meio Ambiente. A 
Secretaria, usando de suas prerrogativas e com a participação da 
sociedade, através da Associação Brasileira de Recursos Hídricos 
(ABRH), escreveu uma proposta de Lei, apresentada pelo Poder 
Executivo ao Poder Legislativo. A proposta foi relatada na Câmara de 
Deputados pelos deputados Fábio Feldman e Aroldo Cedraz e no 
Senado, pelo Senador Bernardo Cabral. O resultado foi a promulgação 
pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso da Lei 9.433, em 08 de 
janeiro de 1997. A Lei instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos 
e criou o Sistema Nacional de Recursos Hídricos. 
Em um segundo momento, foi iniciado o processo de formulação do 
Plano Nacional de Recursos Hídricos, que terminou por não alcançar 
seus objetivos, por vários motivos. O Capítulo 4 desse livro discute, com 
maior abrangência e profundidade, as formulações dos planos de 
recursos hídricos. 
Para executar a Política Nacional de Águas a Lei 9.984 de 17 de julho de 
2000 criou a Agência Nacional de Águas (ANA). A ANA tem como 
missão implementar e coordenar a gestão compartilhada e integrada dos 
recursos hídricos e regular o acesso a água, de modo a promover o uso 
sustentável em benefício da atual e das futuras gerações. 
 20 
 Instituição integrante do Sistema Nacional de Gerenciamento dos 
Recursos Hídricos, com o objetivo de implementar a Política Nacional 
de Recursos Hídricos.1 
2.3.2. O enquadramento dos corpos de água em classes 
Não há, nos meios técnicos, consenso quanto a considerar o 
enquadramento dos corpos de água em classes como instrumento de 
gestão propriamente dito. Considerando-se que o enquadramento dispõe 
sobre os padrões de qualidade dos corpos de água, ele poderia ser 
classificado como um instrumento. Por outro lado, considerando-se o 
enquadramento como um padrão de qualidade que se deseja para o corpo 
de água, o mesmo poderia também ser classificado como uma meta 
ambiental (Ribeiro, 2000). 
Dois são os motivos para enquadrar dos corpos de água em classes: 1) 
assegurar que os corpos de água tenham qualidade compatível com os 
usos que lhes forem atribuídos; 2) agir preventivamente para reduzir 
custos com tratamento de água e combate à poluição (Ribeiro, 2000). 
Deve ser observado que, embora a Lei 9.433 utilize o enquadramento 
como instrumento de gestão, a competência para enquadramento nas 
classes definidas pela Resolução 020/86 CONAMA é dos órgãos 
ambientais. 
2.3.3. A outorga dos direitos de usos dos recursos hídricos 
A outorga é classificada na literatura como um instrumento de Comando 
e Controle em que uma cota (porção) das disponibilidades hídricas é 
concedida para um dado uso, por um tempo limitado, a determinado 
usuário. Os principais objetivos da outorga são assegurar o controle 
 
1 Projeto de Lei Complementar n0 3 de 2.000, submetido à sanção Presidencial 
em 28/06/2000. 
 21 
quantitativo e qualitativo dos usos das águas e proporcionar o direito ao 
acesso às águas (Ribeiro, 2000). 
Duas questões são relevantes no estabelecimento de uma Lei de 
Recursos Hídricos: o máximo valor outorgável (volume ou vazão, ou 
ambos) e como dividir o racionamento nas épocas de escassez. Essas 
decisões são bastantes regionais, pois dependem fortemente do regime 
dos rios e de seus controles. Dessa maneira, o estabelecimento de normas 
de amplitude nacional para regulamentar a outorga deve ser visto com 
muita cautela. 
2.3.3.1. A vazão máxima outorgável 
Uma das questões centrais na concessão das outorgas diz respeito ao 
estabelecimento, ou não, de limites nos totais de outorgas, que podem ser 
concedidos em uma determinada fonte hídrica ou em um sistema de 
fontes (reservatórios, aqüíferos etc.). Dois tipos de critérios para essa 
definição podem ser encontradosna literatura: o da vazão de referência e 
o da vazão excedente. 
O critério da vazão de referência tem sido o preferido pelos estados do 
Nordeste. Normalmente, tem sido adotada como vazão de referência uma 
fração, próxima da unidade, da vazão regularizada com 90% de garantia 
por reservatórios superficiais. 
Nos rios perenes, há preferência por se tomar como vazão de referência a 
vazão média mínima de sete dias consecutivos com período de retorno 
de dez anos, denotada por Q(7,10).O critério da vazão excedente foi 
proposto por Pereira e Lanna (1996) e testado para a bacia dos Sinos, no 
Rio Grande do Sul. 
 22 
Outro modo de definir a vazão máxima outorgável é deixar que a área 
técnica decida, após análises hidrológicas, decida se um determinado 
pedido de outorga deve ser aceito ou não. Esse é o procedimento adotado 
pela Secretaria dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará. 
Em resumo, na formulação de uma Política de Águas, a questão da vazão 
máxima a outorgar pode receber vários tratamentos. Sua incorporação à 
Lei e à Política deve ser objeto de decisão política local, após análise e 
simulações das conseqüências da adoção de qualquer um dos critérios 
disponíveis na literatura. 
2.3.3.2. Como proceder em épocas de racionamento 
A menos que as demandas por água na região em análise sejam bem 
inferiores às disponibilidades naturais (por exemplo, às margens do 
Tocantins), o estabelecimento de um limite superior para a concessão de 
outorgas torna-se recomendável. Todavia, o estabelecimento desse limite 
não tem o poder de evitar que haja períodos de escassez no fornecimento 
de água quando algum racionamento se torna inevitável. 
Nesse ponto, o do início do racionamento, entram em jogo as prioridades 
dos diversos usos. Resguardadas as prioridades estabelecidas na Lei 
Federal (consumo humano e dessedentação), os estados podem 
estabelecer critérios para os demais usos. 
Há duas principais linhas que podem ser estabelecidas em leis estaduais: 
1) fixação de prioridades na própria Lei e 2) na permissão de que as 
negociações, respeitadas as prioridades da Lei Federal, sejam procedidas 
no âmbito dos comitês. Não se deve, contudo, perder de vista que a 
convivência com um racionamento de águas está sujeita a tantas 
variáveis e envolve tantos conflitos, que seria quase impossível 
estabelecer em lei um procedimento a ser adotado em todos os casos e 
 23 
em todos os locais. Alguma reflexão e visão local será sempre necessária 
para se decidir o que colocar em Lei. 
2.3.4. A cobrança pelo uso dos recursos hídricos 
A cobrança pelo uso da água como instrumento de gestão pode ser 
entendida como dispositivo de aplicação do Fundamento II da Política 
Nacional, que vê a água como um bem escasso dotado de valor 
econômico. 
No Brasil, o processo de cobrança de água bruta, na atual lógica da 
Política, está em seus momentos iniciais e ainda há muito a aprender. 
Todavia, tem sido dada tanta ênfase à cobrança de águas, que se pode ter 
a falsa impressão de que esta é panacéia para os problemas no uso das 
águas. A racionalização do uso das águas seria conseqüência da cobrança 
como mecanismo econômico (as pessoas consumiriam menos, para 
pagar menos). Muitos estudos mostraram que, no atual nível de valor da 
água, essa racionalização não tem sido aumentada por conta da cobrança. 
Ribeiro (2000) considera que, no Brasil e em outros países, a cobrança 
tem sido mais utilizada como mecanismo financeiro. 
Há também a questão de que limites e condições devem ser estabelecidos 
para que os usuários estejam isentos de cobrança. Muitas das leis em 
vigor, no Brasil e no mundo, já estabelecem esses limites. 
2.3.5. A compensação a municípios 
A compensação a municípios não é um instrumento de gestão de águas 
propriamente dito, apesar de assim ter sido considerado na Lei 9. 433/97. 
Trata-se de um assunto controverso, com conflitos de interpretação e 
duplicidades com o setor elétrico. Como consequência dessas 
indefinições, na Sessão V da Lei 9.433, que trata da compensação a 
 24 
municípios, não consta sequer um artigo a respeito. O resultado é um 
instrumento de gestão que somente tem o título. 
No caso de formulação de novas leis e decretos, a questão de 
transferência de água entre bacias hidrográficas distintas merece alguma 
análise e deveria ser objeto de algum artigo, não necessariamente rígido, 
que não dificultasse as negociações entre usuários. Nesse caso, a 
compensação a municípios poderia ser vista mais como um instrumento 
de negociação política. 
2.3.6. Os sistemas de informação de recursos hídricos 
Os sistemas de informação de recursos hídricos são condições 
indispensáveis para o gerenciamento das águas. Independente de constar 
na Lei, Os avanços na informática e nas comunicações pela Internet 
fizeram com que a maioria dos estados brasileiros desenvolvesse Portais 
na WEB com disponibilidade de muitas informações em recursos 
hídricos. Cuidados especiais devem ser tomados para que não se relegue 
a segundo plano a obtenção, em campo, de dados fluviométricos e 
climatológicos. 
Uma das maiores vantagens desses sistemas está na democratização das 
informações. À medida que algumas instituições federais e estaduais 
forem avançando na divulgação de informações na Internet, as demais 
instituições serão forçadas a adotar a mesma política de informações. 
2.4. AS DIRETRIZES 
O estabelecimento de diretrizes consta em todas as leis estaduais de 
recursos hídricos. A Lei 9.433 traçou as seguintes diretrizes para a 
implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos: 
1. Gestão integrada qualidade – quantidade; 
 25 
2. Adequação ao ambiente e às culturas; 
3. Integração com a gestão ambiental; 
4. Articulação com os usuários e diversos níveis de planejamento; 
5. Articulação com o uso do solo; 
6. Integração de bacias hidrográficas, sistemas estuarinos e zonas 
costeiras. 
2.4.1. Gestão integrada qualidade – quantidade 
A demanda por água se dá por uma dada quantidade, em um 
determinado local, em certo tempo e com um grau desejável de 
qualidade. A gestão integrada tinha o status de princípio na Carta de 
Gramado da Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH) e 
talvez ainda mereça esse status, tal a sua importância. 
Em essência, essa diretriz (ou princípio) é inserida nas políticas de água 
e de meio ambiente, visto que a qualidade das águas e o uso e a 
ocupação dos solos são fortemente relacionadas. No campo institucional, 
qualidade e quantidade muitas vezes estão em diferentes instituições da 
administração pública. A gestão da quantidade cabe às Secretarias de 
Recursos Hídricos e a da qualidade cabe às secretarias que tratam da 
questão ambiental. A ênfase à integração quantidade–qualidade é 
importante para a articulação Política Ambiental–Política de Águas. 
2.4.2. Adequação aos ambientes e às culturas 
A diretriz de adequação aos ambientes e às culturas combina totalmente 
com as necessidades de um país imenso como o Brasil. A Lei Nacional 
 26 
deve ser o mais geral possível, contemplando as características comuns a 
todo o País. Pode-se dizer também que essa diretriz está relacionada com 
o Fundamento VI da gestão descentralizada. 
2.4.3. Integração com a gestão ambiental 
De alguma maneira essa diretriz engloba a diretriz da gestão integrada 
quantidade–qualidade. Mesmo que não houvesse sido inserida na Lei, 
representaria uma necessidade para a formulação das políticas de usos de 
qualquer que seja o recurso natural. De fato, a mesma representa um 
grande desafio para a sociedade e especialmente para os governantes, 
legisladores e magistrados. Em geral,os governantes buscam 
popularidade através de melhoria nos indicadores de desenvolvimento. 
Muitas vezes, o desenvolvimento acelerado resulta do uso intensivo e 
não sustentável dos recursos ambientais. Então, a diretriz deve nortear a 
busca de um ponto de equilíbrio: usar as águas sem causar grandes danos 
ao meio ambiente. 
2.4.4. Articulação com os usuários e diversos níveis de planejamento 
Talvez uma melhor interpretação dessa diretriz, fosse a de recomendação 
de que a participação da população seja aceita e incorporada na tomada 
de decisões importantes para a política das águas. Essa diretriz está 
ligada ao Fundamento VI que trata da gestão descentralizada. O 
instrumento adequado para a prática dessa diretriz está no fortalecimento 
dos comitês de bacias. 
2.4.5. Articulação com o uso do solo 
A ênfase dada ao uso do solo decorre de sua grande influência nos 
processos de formação de cheias e de recarga dos aqüíferos. O caos 
decorrente das cheias em muitas cidades brasileiras, de dificílima e 
 27 
onerosa solução, deve-se em grande parte ao uso inadequado do espaço 
urbano. A grande dificuldade em estabelecer uma política apropriada 
para o uso do solo decorre, fundamentalmente, dos interesses 
econômicos envolvidos. Quanto mais intensivamente for usado o espaço 
urbano, mais valor econômico lhe é agregado. Essa diretriz deve ser 
também entendida como um desafio para a sociedade, visto que, embora 
seja importante colocá-la no texto da Lei, mais importante e desafiante é 
colocá-la em prática. 
2.4.6. Integração de bacias hidrográficas, sistemas estuarinos e zonas 
costeiras 
Essa diretriz ambiental dá ênfase aos sistemas estuarinos e às zonas 
costeiras. São sistemas integrados pela natureza que devem ser 
considerados na formulação das políticas de uso da água. Nas áreas 
urbanas, em especial, muitos manguezais vêem sendo destruídos, ou 
intensamente poluídos por uma ocupação irresponsável e predatória. A 
colocação de uma diretriz específica para esses sistemas vai ao encontro 
de novos paradigmas. Os modernos tratados de recursos hídricos, como 
Grigg (1996), Perry e Vanderklein (1996), Harper e Ferguson (1997) e 
outros, costumam dedicar um capítulo a esses sistemas. 
2.5. RESUMO DO CAPÍTULO 
Neste capítulo foi analisado o estabelecimento de uma política de águas 
com base em experiências em curso no Brasil. A formulação da Política 
Nacional foi tomada como linha central de análise. 
Os elementos apresentados podem ser úteis para a análise crítica das leis 
existentes, bem como, do ponto de vista técnico, para o estabelecimento 
de novas leis, normas e regulamentos para a gestão de recursos hídricos. 
 28 
PARA REFLETIR 
 Consulte seu dicionário e veja as definições de princípios, 
fundamentos, diretrizes. Leia a Lei de seu estado e a Lei Nacional. 
Comente: Você acha que os princípios e diretrizes dessas leis estão 
de acordo com as definições que você encontrou? 
 Que você entende por adotar a bacia hidrográfica como unidade de 
gestão? Firme um conceito e escreva. Depois consulte a Lei 
Nacional, a Lei de seu Estado e a atual prática de gestão de águas 
adotada. Procure detectar os pontos nos quais seu conceito foi 
atendido e aqueles nos quais deixou de ser atendido. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
BRASIL. Lei Federal nº 9.433, de oito de janeiro de 1997. Institui a 
Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional 
de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso 
XIX do art. 21 da Constituição Federal e altera o art. 10da Lei 
8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei 7.990, de 28 
de dezembro de 1989. 
CEARÁ. Lei Decreto nº 23.067 de 11 de fevereiro de 1994. 
Regulamenta o art. 40 da Lei 11.996 de 24 de julho de 1992 na 
parte referente à outorga do direito de uso dos recursos hídricos, 
cria o Sistema de Outorga para Uso da Água e dá outras 
providências. 
GRIG, N. S. Water resources management: principles, regulations and 
cases. New York: McGraw-Hill, 1996,540 p. 
HARPER, D. M. e FERGUSON, A. J.D. The ecological bais for river 
management. Chichester, England: John Wiley & Sons, 1997, 614 
KEMPER, K.E. O Custo da água gratuita: alocação e uso dos recursos 
hídricos no vale do Curu, Ceará, Nordeste Brasileiro. Linköping 
Studies in Art and Science. – 152. Linköping, 1997, 236 p. 
KETTELHUT, J.T.S , RODRIGUEZ, F.A, GARRIDO, R.J., PAIVA, F. 
CORDEIRO NETO, O. RIZO, H. Aspectos legais e gerenciais. 
 29 
In: O Estado das águas no Brasil- 1999. Agência Nacional de 
Energia Elétrica ANEEL. Brasília,, D.F. 
PEREIRA, J.S. e LANNA, A.E.L. Análise de critério de outorga nos 
direitos de uso da água. In: III Simpósio de Recursos Hídricos do 
Nordeste (Anais). Associação Brasileira de Recursos Hídricos 
Salvador, 1996, p. 335-342. 
PERRY, J. e VANDERKLEIN, E. Water quality: management of a 
natural resource. Massachusetts: Blackwell Sciences, 1996, 639. 
RIBEIRO, M.M.R. Alternativa para a outorga e a cobrança pelo uso da 
água: simulação de um caso. Porto Alegre. Tese de 
Doutoramento, 2000, 196 p. 
 
3 
 
O Modelo 
Institucional 
 
 
Nilson Campos 
 
3.1. VISÃO GERAL DO TEMA 
A implementação dos novos paradigmas de gestão de águas no Brasil, 
em diversos estados da Federação, tem-se dado acompanhada por 
mudanças no aparato institucional vigente. Essas mudanças variam desde 
as de pequena monta, limitando-se a modificações nas atribuições das 
instituições existentes, até as de grande monta, com a criação de 
instituições ou mesmo de um sistema específico. 
O capítulo apresenta uma sistemática para a formulação de um modelo 
institucional de gestão de águas. As etapas da formulação abrangem a 
definição das funções hídricas em benefício da sociedade, a organização 
dos sistemas institucionais para desempenhar essas funções, o 
desenvolvimento de um diagnóstico do quadro institucional vigente e a 
formulação e verificação do novo modelo institucional. 
3.2. ATRIBUTOS DESEJÁVEIS AO MODELO 
No desenvolvimento de um modelo institucional, é essencial o 
conhecimento das funções que são desempenhadas e a serem 
desempenhadas no segmento de águas, bem como em outros segmentos 
da administração pública. Além dos aspectos técnicos, a análise dos 
condicionantes políticos também é de fundamental importância. Pouco 
 32 
adianta conceber um modelo tecnicamente perfeito, porém de pouca 
aceitação política. 
O sistema institucional deve ser concebido de modo a proporcionar 
eficiência na execução das tarefas que lhe são atribuídas. Assim, o 
modelo proposto deve ser dotado de alguns atributos que o caracterizem 
como um bom modelo. Os três principais atributos de um bom modelo 
são apresentados a seguir: 
 Consistência com a realidade local, política e financeira; 
 Harmonia com as demais funções desempenhadas em outros 
segmentos da administração pública; 
 Inserção no Modelo Nacional. 
Formular um modelo com esses atributos não é algo que possa ser 
executado isoladamente por um único profissional. Trata-se, em 
essência, de um trabalho de equipe no qual a humildade e a sensibilidade 
dos membros que a compõem são fundamentais para o sucesso da tarefa. 
3.3. FORMULAÇÃO DO MODELO 
Para sistematizar a formulação de um modelo institucional, deve-se 
partir de premissas sobre o sistema a ser estruturado e de sua interação 
com os demais sistemas da administração pública e com a sociedade. No 
presente texto, admite-se que se busca uma nova estruturação do 
segmento de águas e que os demais segmentos da administração devem 
permanecer sem modificações importantes. Dentro dessa premissa, 
concebeu-se uma sistemática deformulação do modelo nas quatro etapas 
a seguir discriminadas. 
 33 
 ETAPA 1 – Caracterização das funções no setor hídrico e 
identificação das funções dos outros setores da administração 
pública. O que é feito? O que deve ser feito? 
 ETAPA 2 – Diagnóstico do modelo institucional vigente: Quem faz 
o quê? Há duplicidade de funções? Algumas funções importantes 
estão sem instituição responsável? Há funções desempenhadas 
informalmente? 
 ETAPA 3 – Formulação do novo modelo. Quem vai fazer o quê? 
 ETAPA 4 – Verificação de homogeneidade entre modelo, princípios 
e leis. O modelo proposto atende aos princípios de gerenciamento? 
O modelo está inserido no sistema Nacional? O modelo é 
politicamente viável? 
Esta seqüência foi seguida no Ceará quando da formulação do modelo 
institucional em vigência no Estado. O modelo concebido foi 
implementado, com pequenas modificações, e vem obtendo sucesso ao 
longo de sua aplicação. 
3.4. FUNÇÕES E SISTEMAS NO MODELO 
A fase inicial de desenvolvimento do modelo é essencialmente 
conceitual. Deve-se entender inicialmente que funções devem ser 
desempenhadas para o uso racional e sustentável da água. Definidas as 
funções, deve-se partir para uma arquitetura abstrata dos sistemas, para o 
desempenho competente das funções. Esses são os pontos-chave 
abordados nesta seção. 
 34 
3.4.1. Caracterização das funções hídricas 
A caracterização das funções desempenhadas, direta ou indiretamente, 
para o aproveitamento e controle dos recursos hídricos pode ser feita 
segundo várias classificações. Apresenta-se, neste texto, a classificação 
adotada no Plano de Recursos Hídricos do Ceará (SRH, 1992), o qual se 
baseou em modelos propostos e pela no Plano Integrado de Recursos 
Hídricos do Nordeste (SUDENE, 1980) e por Barth e Pompeu (1987). 
Foram definidas e caracterizadas cinco funções principais, com as 
respectivas subfunções, a seguir descritas e esquematizadas, na Tabela 
3.1. Essas grandes funções são: gestão, oferta, uso e preservação. 
3.4.1.1. A gestão 
Em sentido amplo, a gestão das águas é definida como o conjunto de 
procedimentos organizados no sentido de solucionar os problemas 
referentes ao uso e ao controle dos recursos hídricos. O objetivo da 
gestão é atender, dentro das limitações econômicas e ambientais e 
respeitando os princípios de justiça social, à demanda de água pela 
sociedade a partir de uma disponibilidade limitada. A gestão é formada 
por três subfunções: o planejamento, a administração e a 
regulamentação. 
O planejamento é constituído pelo conjunto das atividades necessárias à 
previsão das disponibilidades e das demandas de águas, com vistas a 
maximizar os benefícios econômicos e sociais. O planejamento consta 
das atividades: inventário dos recursos hídricos, estudo da qualidade das 
águas, estimativa das demandas, estudos prospectivos do balanço oferta 
x demanda, e da avaliação e controle do próprio planejamento. 
 
 35 
Tabela 3.1 – Funções do sistema de gestão de água e demais sistemas, 
consideradas no Plano de Recursos Hídricos do Ceará. 
FUNÇÕES 
 
GESTÃO 
Planejamento 
Administração 
Regulamentação 
 
 
OFERTA 
Nucleação artificial 
Represamento 
Poços 
Cisternas 
 
 
 
U 
 
S 
 
O 
 
 
CONSUNTIVO 
Abastecimento 
Irrigação 
Abastecimento industrial 
Aqüicultura 
Abastecimento urbano 
 
 
NÃO CONSUNTIVO 
Geração hidrelétrica 
Navegação fluvial 
Lazer 
Pesca e piscicultura 
extensiva 
Assimilação de esgotos 
PRESERVAÇÃO 
 
 
COMPLEMENTARES 
Ciência e tecnologia 
Meio ambiente 
Planejamento global 
Incentivos econômicos 
Defesa civil 
A administração constitui-se das ações que dão suporte técnico ao 
planejamento e dos mecanismos de avaliação da efetividade dos planos 
anteriores, tendo em mente uma realimentação dos futuros planos. A 
administração engloba a coleta e a divulgação de dados hidro-
meteorológicos, as estatísticas do uso da água, o poder de política 
administrativa e a programação executiva e econômico-financeira das 
obras previstas nos planos. 
 36 
A regulamentação é formada pelas ações desenvolvidas na formação de 
um suporte legal para o desempenho da gestão das águas, a partir do 
disciplinamento e normatização do funcionamento do Sistema Estadual 
de Recursos Hídricos. A regulamentação se consolida através de 
sugestões de leis, decretos, portarias, instruções e regulamentos. 
3.4.1.2. A oferta 
A gestão das águas, pelo lado da oferta, dá-se no sentido de aumentar as 
disponibilidades hídricas através da ativação das potencialidades. Assim, 
classificam-se como funções da oferta as diversas ações, em obras ou 
serviços, através das quais a água se torna disponível para utilização no 
tempo e no local onde ocorre a demanda. A função oferta compreende a 
construção de barragens para a formação de reservatórios, a perfuração e 
recuperação de poços, a captação de águas em lagos naturais, a captação 
de águas da chuva através de cisternas, etc. 
3.4.1.3. O uso 
A gestão dos usos das águas, também denominada gestão da demanda, 
dá-se no sentido de utilizar, da melhor maneira possível, as 
disponibilidades hídricas viabilizadas pela oferta. Classificam-se como 
funções do uso, o conjunto de ações necessárias para que a água se torne 
efetivamente útil aos homens, às plantas, aos animais e às paisagens. O 
uso acontece sob duas formas: o consuntivo, que ocorre quando há 
perdas, derivação ou consumo, havendo diferença entre o que é derivado 
e o que retorna ao corpo d’água; o não-consuntivo, quando não há 
consumo, derivação ou desperdício da água. São basicamente usos nos 
corpos de água. 
 37 
Os usos consuntivos envolvem: o abastecimento rural, a irrigação, a 
aquicultura, o abastecimento industrial e o abastecimento humano. 
Dentre os usos não-consuntivos, estão: a geração hidrelétrica, a 
navegação fluvial, o lazer, a pesca e piscicultura extensiva, e a 
assimilação de esgotos. Vale ressaltar que a assimilação de esgoto, 
embora não implique em consumo real de água, pode tornar as águas 
imprestáveis para os usos mais nobres. 
3.4.1.4. A preservação 
Engloba as ações preventivas e corretivas voltadas para garantir o correto 
escoamento das águas, evitar a erosão do solo, promover a manutenção 
da vegetação e a implantação de novas áreas verdes. As ações de 
preservação também criam barreiras que impedem ou reduzem a 
poluição de fontes de água. 
3.4.1.5. As funções complementares 
São formadas essencialmente pelas ações de suporte ao funcionamento 
do setor hídrico. Constituem atividades de apoio como o treinamento 
para capacitação de pessoal técnico, o desenvolvimento de pesquisas, a 
orientação técnica dos produtores usuários de água; o aparelhamento, 
com máquinas, laboratórios e aeronaves, para a realização de serviços e 
obras das diversas funções e o financiamento, antecipando receita para as 
instituições públicas e privadas no desempenho das funções hídricas. 
3.4.2. Os sistemas 
Para executar ou fazer executar as funções hídricas, são organizadas 
instituições, que podem ser agrupadas em forma de sistemas. 
Tradicionalmente, os sistemas são agrupados em secretarias (ministérios, 
 38 
na esfera federal). Geralmente, as secretarias são instáveis, visto que 
sempre estão sujeitas a pressões políticas. Não é fato raro, a criação e 
extinção de várias secretarias em um único mandato de governo. Além 
do mais, como já foi comentado, o modelo proposto procura ver os 
sistemas de dentro para fora, sendo a formulação do modelo abstrato de 
sistemas importante para o processode interação do sistema de gestão 
com os demais sistemas. 
No presente documento, de natureza técnica e didática, os sistemas são 
agrupados por afinidades de funções. A classificação empregada seguiu 
o modelo da ABRH, que consiste no agrupamento das instituições em 
três sistemas: 
 Sistema de gestão; 
 Sistemas afins; 
 Sistemas correlatos. 
A prática mostra que dificilmente esses sistemas podem ser puros. Isto é, 
muitas vezes uma instituição do sistema de gestão desempenha funções 
de outros sistemas, da mesma forma que instituições de outros sistemas 
por vezes desempenham funções do sistema de gestão. Na formulação 
conceitual, os sistemas devem ser agrupados por suas funções mais 
importantes. 
3.4.2.1. O sistema de gestão 
É formado pelas instituições que desempenham a função gestão, através 
das funções de segundo nível – planejamento, administração e 
regulamentação. Admite-se que o comando do sistema de gestão seja de 
uma única instituição, denominada Órgão Gestor. As demais instituições 
componentes do sistema desempenham a função de gestão delegada pelo 
 39 
Órgão Gestor. Entende-se que o sistema de gestão deve ter as seguintes 
atribuições: 
 Promover a articulação institucional e comunitária no âmbito 
estadual; 
 Formular políticas de água, preservação e saneamento; 
 Promover a articulação com órgãos municipais; 
 Elaborar planos plurianuais de investimento (serviços, 
equipamentos e obras hídricas); 
 Estabelecer critérios para a outorga de águas públicas estaduais; 
 Estabelecer normas e critérios para a construção de açudes em 
rios de domínio estadual; 
 Executar as funções de planejamento, administração e 
regulamentação; 
 Gerenciar as reservas hídricas, superficiais e subterrâneas. 
3.4.2.2. Os sistemas afins 
Esse conjunto se compõe dos sistemas que desempenham as funções 
oferta, utilização e preservação dos recursos hídricos. Englobam sistema 
de oferta, o sistema de utilização e o sistema de preservação. 
O sistema de oferta é formado pelas instituições com competência para 
desempenhar a função oferta. As atividades de Planejamento da própria 
função, como projeto executivo de barragens, devem ser executadas no 
âmbito desse sistema. São suas atribuições: 
 Projetar e executar obras de represamento e de captação de 
águas subterrâneas; 
 40 
 Projetar e executar obras de transferência de água entre bacias 
hidrográficas; 
 Desempenhar suas atribuições, no que couber, dentro dos 
princípios e normas oriundos do Sistema de Gestão. 
O sistema de utilização contempla as instituições que desempenham 
formalmente as funções de usos de água e tem na água um fator 
importante de produção. A esse sistema compete: 
 Projetar e construir obras de irrigação, abastecimento urbano, 
rural e industrial, aquicultura, etc.; 
 Administrar, na condição de usuário, as águas concedidas pelo 
sistema de gestão; 
 Desempenhar funções, dentro do que couber, conforme os 
princípios e normas oriundos do Sistema de Gestão. 
O Sistema de preservação é formado pelo conjunto de instituições que 
desempenham a função preservação. São atribuições desse sistema 
 Elaborar o zoneamento de uso dos solos; 
 Proteger os mananciais usados como fonte de abastecimento de 
água; 
 Desenvolver programas educativos da população; 
 Executar suas atribuições, no que couber, em consonância com a 
política delineada pelo Sistema de Gestão. 
3.4.2.3. Os sistemas correlatos 
Essa designação abrange o conjunto de sistemas que, embora não-
associados a recursos hídricos diretamente como área de atuação, 
 41 
desenvolvem atividades que interagem com os sistemas afins e de 
gestão. São definidos como correlatos os seguintes sistemas: 
Planejamento e Coordenação Geral; Incentivos Econômicos e Fiscais; 
Ciência e Tecnologia; Defesa Civil e Meio Ambiente. 
O sistema de Planejamento e Coordenação Geral é formado por 
instituições que cuidam do planejamento e coordenação geral da ação do 
Estado (basicamente a Secretaria de Planejamento – SEPLAN). Executa 
as atividades de: 
 Planejamento do desenvolvimento estadual; 
 Orçamento público; 
 Acompanhamento, controle e avaliação dos planos, programas e 
projetos governamentais. 
O Sistema de Incentivos Econômicos e Fiscais é composto por 
instituições que, através de incentivos econômicos e fiscais, procuram 
induzir o desenvolvimento do Estado. Esse sistema desenvolve 
atividades ligadas a recursos hídricos, através do incentivo a projetos de 
desenvolvimento hidroagrícola, projetos agro-industriais, etc. As 
atividades executadas são: 
 Planos de investimento em empreendimentos de 
aproveitamentos múltiplos dos recursos hídricos; 
 Planos de desenvolvimento industrial com base em 
disponibilidade de água e potencial de poluição das indústrias. 
O Sistema de Ciência e Tecnologia é formado por instituições que lidam 
com a capacitação de recursos humanos e o desenvolvimento de 
conhecimentos e tecnologias para o Estado. Atribuem-se a esse sistema 
as seguintes atividades: 
 Formação e especialização de recursos humanos; 
 42 
 Desenvolvimento de pesquisas na área de recursos hídricos; 
 Desenvolvimento de tecnologia para prospecção, captação, uso, 
conservação e controle de recursos hídricos. 
O Sistema de Defesa Civil lida com o socorro e assistência à população 
em situações de calamidade. Parte destas situações advém de excesso ou 
falta de água, isto é, da ocorrência de enchentes e secas, por isso há forte 
interligação entre o Sistema de Gestão e o Sistema de Defesa Civil. A ele 
competem as atividades de: 
 Instalação de uma rede de alerta contra as cheias; 
 Programas de assistência às populações atingidas por cheias ou 
secas. 
O Sistema do Meio Ambiente atua na preservação do meio ambiente 
com vistas, em última análise, à preservação dos seres vivos. A água é 
assumida como elemento vital, devendo ter, portanto, sua qualidade 
preservada de acordo com os padrões requeridos para os usos a que se 
destina. Por outro lado, o Sistema de Gestão considera a água um bem a 
ser utilizado para múltiplas finalidades, inclusive para o 
desenvolvimento econômico. Em uma visão mais abrangente, não 
deveriam existir interesses conflitantes entre os dois sistemas, porquanto 
a boa qualidade da água, objetivo do Sistema de Gestão, depende 
fortemente do uso correto do meio ambiente. Além do mais, é muito 
difícil estabelecer uma fronteira bem definida entre os dois, no sentido 
de que qualidade e quantidade de água são indissociáveis. Do ponto de 
vista institucional, cabem ao Sistema do Meio Ambiente as seguintes 
atividades: 
 Estabelecimento dos padrões de qualidade das águas de acordo 
com o usos a que se destina; 
 43 
 Fiscalização da qualidade das águas em rios, reservatórios e no 
subsolo. 
3.4.2.4. A interação entre os sistemas 
Para que a água possa ser utilizada e controlada em níveis satisfatórios 
de quantidade e qualidade, seja pela geração atual, seja pela geração 
futura, são necessários mecanismo de planejamento e gerenciamento 
integrado, descentralizado e, sobretudo, participativo. Essa filosofia 
norteou a instituição de um Sistema Integrado de Gestão dos Recursos 
Hídricos para o Ceará, o SIGERH. 
Esse Sistema Integrado constitui um dos instrumentos da Política 
Estadual de Recursos Hídricos e, na medida em que impõe mudanças 
significativas de postura daqueles envolvidos com a utilização, proteção, 
conservação e recuperação de água, sua consolidação associa-se a um 
processo político e social. 
3.5. DIAGNÓSTICO DO MODELO VIGENTE 
Definidas as funções e os sistemas institucionais

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