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Criação de Camarão – Carcinicultura Bianca de Oliveira Bezerra¹, Giovanna Fátima de Oliveira Bezerra² ¹ Ensino de Graduação em Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso ² Ensino de Graduação em Zootecnia – Universidade Federal de Mato Grosso RESUMO – O objetivo desse trabalho foi avaliar e levantar dados a respeito do cultivo de camarão (carcinicultura) e as vantagens da produção do mesmo. A pesca de camarões é uma atividade de grande valor em quase todo o mundo, porém a criação de camarões (carcinicultura) é uma atividade relativamente nova e no Brasil ainda de pouca expressão econômica. O principal mercado para a produção de camarões é a exportação. O litoral do estado do Rio Grande do Norte é uma das principais regiões dessa cultura no Brasil. A carcinicultura marinha é uma alternativa compatível com a crescente demanda de camarões. É uma atividade sócio-econômica com grande potencial lucrativo no país e no mundo. Palavras-Chave: Camarão, Carcinicultura INTRODUÇÃO A carcinocultura mundial vem apresentando um crescimento expressivo nos últimos anos, O marco para a criação de camarões foi o processo de larvicultura em laboratórios. A evolução das tecnologias de reprodução foi essencial para a evolução dos cultivos em grandes escalas nos mais variados países. Atualmente pode se dizer que quase 30% de todo camarão comercializado no mundo é oriundo de cultivo. Dentre os crustáceos, os camarões destacam- se não só pelo valor nutritivo que possuem, mas por constituírem iguarias finas tendo consumo em larga escala, principalmente entre as nações mais desenvolvidas. Aliado ao seu excelente sabor, demonstra grande resistência na criação em cativeiro, permitindo a criação em altas densidades e, além disso, trata-se de um produto que tem um mercado crescente, uma vez que a cada dia aumenta no mundo a preferência dos consumidores por esse alimento. As principais vantagens para o produtor de camarão são: curta duração dos cultivos, altos preços do produto no mercado e condições climáticas favoráveis para o cultivo. A carcinicultura tem apresentado crescimento anual superior a 10% (Waldige & Caseiro, 2003). De acordo com a Food and Agriculture Organization of the United Nations (2006), mais de 50 países estão envolvidos nessa atividade, que se estende por todos os continentes, principalmente o asiático, que detém cerca de 88,91% dos camarões comercializados no mundo. Segundo essa Criação de Camarão – Carcinicultura 02 instituição, a produção mundial do camarão marinho cultivado chegou a mais de três milhões de toneladas em 2006 e, entre os cinco principais produtores, encontram-se a China (1.242.385 Mg), Tailândia (500.800 Mg), Vietnã (349.000 Mg), Indonésia (339.803 Mg) e Índia (144.347 Mg). O Brasil ocupou a sétima posição, com a produção de 65 mil toneladas. Atualmente, a maior parte dos cultivos de camarão encontra-se em áreas costeiras, o que aumenta significativamente os custos de implantação de uma fazenda, em razão do elevado valor das terras. Uma alternativa para diminuir custos é o cultivo de espécies marinhas em regiões mais ao interior do país, com água de baixa salinidade em relação à do mar. HISTÓRIA DA CARCINICULTURA NO BRASIL E NO MUNDO A atividade de cultivo de camarão marinho, embora tenha uma história recente em relação aos demais segmentos da aquicultura, já se constitui o principal vetor de desenvolvimento de tecnologias e serviços para o setor aquícola mundial. No Brasil, a carcinicultura comercial deu seus primeiros passos na década de 1970, baseando-se inicialmente em modelos importados do Equador, do Panamá e dos Estados Unidos, cujas validações e intenso aprimoramento interno, resultaram na definição de uma tecnologia apropriada e adequada à realidade nacional, o que contribuiu para colocar o país na condição de líder mundial no quesito produtividade, no ano de 2003. No contexto mundial, a produção de camarão marinho apresentou um expressivo aumento e uma mudança significativa na composição dos seus produtos nos últimos 30 anos. A realização do primeiro esforço organizado e orientado para a produção comercial do camarão confinado ocorreu no período de 1978/1984 por iniciativa do Governo do Rio Grande do Norte (RN), que importou a espécie Penaeus japonicus, reforçou o Projeto Camarão e envolveu a EMPARN (Empresa de Pesquisas Agropecuárias do RN) para sistematizar e desenvolver os trabalhos de adaptação da espécie exótica às condições locais. Este período caracteriza a primeira fase do camarão cultivado no Brasil, na qual predominaram cultivos extensivos de baixa densidade de estocagem, reduzida renovação da água e uso da alimentação natural produzida no próprio viveiro. Os resultados favoráveis obtidos com o P. japonicus nos três primeiros anos dos trabalhos da EMPARN (Empresa de Pesquisas Agropecuárias do RN) no que concerne à reprodução e larvicultura, e o crescimento e engorda, serviram de base para a mobilização dos mecanismos federais de assistências técnica e financiamento da época em apoio à iniciativa privada. Com a realização em Natal, em setembro de 1981, do Primeiro Simpósio Brasileiro sobre Cultivo do Camarão, houve uma ampla divulgação do desempenho da espécie importada do Japão e foram instaladas as primeiras fazendas de camarão no Nordeste. A decisão da Companhia Industrial do Rio Grande do Norte (CIRNE) de transformar parte de suas salinas em viveiros de camarão constituiu um estímulo importante para outras iniciativas do setor privado. Além da falta de um plano muito mais abrangente de pesquisa e validações tecnológicas, causa que levou ao fracasso a domesticação do P. japonicus depois de resultados iniciais promissores, esteve vinculado ao período de sua adaptação (1978/1983), que coincidiu com uma das estiagens mais prolongadas do Nordeste criando condições excepcionalmente favoráveis para o seu bom desempenho. História da Carcinicultura no Brasil e no mundo 03 A partir de 1984 com o encerramento do prolongado período seco e a ocorrência de chuvas intensas e das apreciáveis variações de salinidade nas águas estuarinas, ficaram evidenciadas as intransponíveis dificuldades para assegurar a maturação, a reprodução e a própria sobrevivência do camarão P. japonicus no nosso ambiente tropical. Em 1985/1986, já estava descartada a viabilidade de se desenvolver uma carcinicultura regional com a referida espécie. Apesar do insucesso, esta primeira fase deixou alguns pontos de apoio que serviram de estímulo para continuar os esforços de viabilização da carcinicultura comercial no Brasil. Contando com fazendas e laboratórios de camarão instalados e com experiência acumulada em procedimentos e práticas de produção, os técnicos e produtores envolvidos no setor partiram para a domesticação das espécies nativas (L. subtilis, L. paulensis e L. schimitti), período este que passa a constituir a segunda fase da evolução da carcinicultura nacional. Neste caso, alguns cultivos passaram a adotar uma maior densidade de povoamento (de 4 a 6 camarões por m² de espelho d’água), taxas de renovação de água de 3% a 7% e alimento concentrado. Ficou caracterizado nesta fase o primeiro intento de estabelecer um sistema semiextensivo para produzir o camarão confinado no Nordeste. As observações resultantes dos trabalhos de validação tecnológica, desta segunda fase, indicam que a principal restrição que limitou a produtividade das espécies nativas esteverelacionada com os seus requerimentos proteicos e a não existência de alimentos concentrados que atendessem às suas exigências. Nesta fase, ficou demonstrado o bom potencial das três espécies brasileiras e a necessidade de um programa de pesquisa básica e aplicada para melhor caracterizá-las e preservá-las bem como para investigar a fundo sua biologia e reprodução, e seus requerimentos nutricionais. A decisão de descontinuar a domesticação das espécies silvestres nacionais como opção para viabilizar a carcinicultura no Brasil, levou o grupo pioneiro de técnicos e produtores a buscar solução com a espécie exótica denominada camarão-de-patas- brancas, ainda na década de 1980. As importações pós-larvas e reprodutores, e os trabalhos de validação se acentuaram nos primeiros anos da década de 1990. Esta nova situação caracterizou a terceira etapa da carcinicultura brasileira. O critério básico para a adoção da nova espécie foi o fato de ser a mesma já cultivada com êxito no Equador e Panamá e haver demonstrado capacidade de adaptação aos ecossistemas de diferentes partes do hemisfério ocidental. A partir do momento em que laboratórios brasileiros dominaram a reprodução e larvicultura do camarão-de-patas-brancas e iniciaram a distribuição comercial de pós-larvas, o que vem a ocorrer na primeira metade dos anos 1990, as fazendas em operação ou semiparalisadas adotaram o cultivo do novo camarão obtendo índices de produtividade e rentabilidade superiores aos das espécies nativas. As validações tecnológicas foram intensificadas no processo de adaptação do camarão-de-patas-brancas, sendo válido afirmar que a partir de 1995/1996 ficou demostrada a viabilidade comercial de sua produção no país. O camarão-de-patas-brancas é, portanto, a única espécie que atualmente se cultiva no Brasil. Nos últimos cinco anos, os resultados dos trabalhos realizados no processo de sua domesticação convergiram e continuam convergindo cada vez mais para a estruturação de um sistema semi-intensivo de produção que é próprio para as condições dos estuários brasileiros. Este sistema caracterizado pelo uso de alimentos concentrados, aeradores mecânicos e densidade de povoamento variando entre 20 a 50 pós-larvas. Essa atividade traz consequências socioeconômicas, políticas, tecnológicas e ambientais que precisam ser adequadamente acompanhadas pela pesquisa agropecuária para que possa ser sustentável a médio e longo prazo. METODOS DE PRODUÇÃO: ETAPAS 04 Etapa: Construção dos viveiros Nessa etapa comumente ocorre o desmatamento e limpeza do terreno, seguido das escavações para construção dos viveiros de engorda e canais de abastecimento e de drenagem. As características do solo influenciam diretamente o consumo de água pelas fazendas. Etapa: Aclimatação Antes de serem enviadas aos viveiros de engorda, as pós-larvas (PLs) devem ser aclimatadas aos novos níveis de salinidade. No Baixo Jaguaribe, a aclimatação é realizada utilizando-se diferentes métodos, diferindo quanto ao tempo de aclimatação e à oferta de ração. Etapa: Engorda Após a aclimatação, os camarões são transferidos para os viveiros de engorda. Durante a engorda, os camarões são alimentados com ração farelada. A quantidade de bandejas utilizadas está entre 28 e 125 bandejas/ha. Algumas fazendas utilizam fertilizantes fosfatados e nitrogenados para aumentar a oferta de plâncton, alimento natural dos camarões. Etapa: Despesca Ao final do período de engorda é realizada a despesca do camarão, onde todo o volume do tanque é esvaziado, com tempo médio de 17 h, iniciando à noite. O volume de efluente de um viveiro de 3 ha é de aproximadamente 27.000 m3 . Para captura do camarão, utilizam-se redes. Periodicamente, os camarões são retirados das redes e submersos em uma solução de metabissulfito de sódio e gelo, que conserva o produto e provoca a morte do camarão por choque térmico, inibindo a proliferação de bactérias e prevenindo a melanose. Nas fazendas analisadas, os camarões permanecem nessa solução por cerca de 10 a 30 minutos, sendo então pesados e armazenados em caixas de isopor com gelo para posterior transporte aos frigoríficos, via caminhão baú. Etapa: Preparo dos solos Após o esvaziamento, os viveiros ainda conservam uma lâmina de água com resíduos orgânicos decorrentes de caramujos, de peixes que conseguiram penetrar as malhas das grades, das fezes do camarão, dos camarões mortos, da deposição do fitoplâncton, dos restos de ração, adubos e fertilizantes utilizados ao longo do cultivo. Para que ocorra a oxidação da matéria orgânica no fundo do viveiro, o solo é exposto ao sol em média 15 a 30 dias. Segundo Boyd (2003), o tempo recomendado é por no máximo 10 a 15 dias. Uma exposição prolongada compromete a comunidade microbiológica e os processos naturais de degradação da matéria orgânica. A aplicação de calcário calcítico ou dolomítico é feita objetivando corrigir o pH do solo. Essa prática é indicada para os viveiros no litoral (Junior & Neto, 2002), a partir da análise do pH. Entretanto, na maioria das fazendas estudadas, a aplicação é feita sem a realização prévia de análise do solo. Perspectivas Futuras 05 Os cultivos de camarões podem ser uma alternativa viável para o desenvolvimento econômico e social da região estuarina da Lagoa dos Patos. A atividade hoje apresenta uma boa rentabilidade, com retorno do investimento estimado em aproximadamente três anos, considerando apenas uma safra por ano. Estudos estão sendo realizados com a introdução de berçários no sistema de cultivo e os resultados preliminares apontam para a possibilidade de uma segunda safra na região, o que tornaria o investimento ainda mais atrativo. Entretanto do ponto de vista ambiental, a implantação de cultivos de maneira descontrolada pode gerar sérios problemas ao ambiente e aos próprios cultivos. Cabe ao governo, em conjunto com as instituições de pesquisa e com as organizações não-governamentais, estabelecer normas que permitam o estabelecimento da atividade, mantendo o equilíbrio sócio-econômico, sem que haja prejuízo do ponto de vista ambiental. Da mesma forma, seria interessante, para toda a cadeia produtiva, que as políticas de desenvolvimento gerenciadas pelo governo estimulassem a adoção de normas de conduta ou de manejo por parte dos produtores. Com a adoção de normas de conduta coerentes e responsáveis, estaríamos preservando o futuro da atividade, melhorando o quadro sócioeconômico da região e, ao mesmo tempo, mantendo o ambiente com um menor grau de comprometimento. CONCLUSÃO Pode-se concluir que a criação de camarão é uma atividade de alto retorno econômico, porém é essencial (como em qualquer outra criação) os rígidos controle de custos e decisões técnicas de qual melhor sistema de produção de acordo com cada propriedade. Este trabalho abre espaço para novas pesquisas e discussões, pois o ramo carcinicultura é muito novo, assim faz- se necessário mais pesquisa na área para evidenciar ao produtor que é viável à produção de camarão. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE CAMARÃO (ABCC). Notícia especial: emprego gerado pelo camarão e por outras atividades agrícolas. Revista da ABCC, v. 5, n. 2, p. 30, junho de 2003. Consultado ás 18:45 em 01 de março de 2018 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE CAMARÃO (ABCC). Camarão à Brasileira: o censo 2003. Revista Panorama da Aquicultura. V, 14, n. 82, p. 21- 25. 2004. Consultado ás 19:22 em 01 de março de 2018 FIGUEIRÊDO, M. C. B. etal. Avaliação da demanda hídrica da carcinicultura em águas interiores. In: Anais do SIMBRAQ, pg 64. 2004. Consultado ás 19:49 em 01 de março de 2018 MARIA CLÉA BRITO DE FIGUEIRÊDO IMPACTOS AMBIENTAIS DA CARCINICULTURA DE ÁGUAS INTERIORES Consultado ás 20:37 em 01 de março de 2018 http://abccam.com.br/site/ ABCCAM Associação Brasileira de Criadores de Camarão Acessado e Consultado ás 20:53 em 01 de março de 2018 https://www.infoescola.com/zootecnia/carcinicultura-criacao-de-camaroes/ SITE INFOESCOLA DUARTE MARCOS Carcinicultura - Criação de camarões Acessado e Consultado ás 21:16 em 01 de março de 2018 PERSPECTIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO DOS CULTIVOS DE CAMARÔES MARINHOS estuário da Lagoa dos Patos, RS Luís Poersch, Ronaldo Oliveira Cavalli, Wilson Wasielesky Júnior, Jorge Pablo Castello, Silvio R. M. Peixoto. Consultado ás 20:45 em 01 de março de 2018 ABRUNHOSA, Fernando. Carcinicultura curso técnico [recurso eletrônico] 2011. E- Tec, Mec. Disponível em: http://abccam.com.br/site/wp-content/uploads/2015/07/ETEC- BRASIL-CURSO-TECNICO-EM-PESCA-E-AQUICULTURA.pdf acessado em: 01 de março de 2018 ás 21:12
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