Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
REGISTRO DE IMÓVEIS AULA 5 Prof. Lucas Fernando de Castro 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula iremos analisar com a devida atenção a principal tarefa do registrador: a qualificação registral. Trata-se de procedimento jurídico-analítico para decidir se um título poderá ou não ser inscrito nos cadastros imobiliários, ou seja, afirmar ou negar a existência do direito real que se busca tutelar. TEMA 1 – CONCEITO A tarefa do registrador é recepcionar o título e, com base na Constituição Federal, nos princípios do direito registral, nas leis e nas determinações da corregedoria à qual está subordinado, analisá-lo e decidir, positiva ou negativamente, se ele deve ser inscrito. Assim, faz um julgamento sobre a própria criação do direito real, conforme previsto no art. 1.227 do Código Civil. A Lei de Registros Públicos prevê esse exame no art. 198. A nota de exigência é a motivação do juízo negativo do ingresso do título pela ausência de um dos requisitos necessários à constituição, formação ou extinção do direito real. Não se trata de simples exame ou verificação. Isso porque a multiplicidade de combinações das regras e negócios jurídicos notadamente pela criatividade da economia e das negociações jurídicas, o processo de qualificação registral não tem fórmula pronta, razão pela qual depende da prudência e da independência do registrador. TEMA 2 – NATUREZA JURÍDICA Não existe uma posição definida na doutrina nacional. São quatro correntes teóricas sobre a qualificação: a) seria atividade jurisdicional; b) seria atividade administrativa; c) seria jurisdição voluntária; ou d) seria singular ou especial. Na primeira, sustenta-se que a qualificação e a jurisdição têm a mesma gênese, têm eficácia perante terceiros e utilizam similar processo de subsunção da realidade à norma jurídica. Já na segunda hipótese, trata-se de procedimento administrativo, ligado ao art. 236 da Constituição Federal, qual seja, de que é serviço público exercido privadamente. Logo, a qualificação seria uma espécie de ato administrativo. 3 Sugere o terceiro grupo que a qualificação, assim como o exercício da jurisdição voluntária, tem função estatal de natureza administrativa, preventiva e constitutiva, tendo tanto o julgador como o registrador independência e imparcialidade. Apontam como exemplos disso o processo de retificação, de regularização fundiária urbana e de usucapião. Por fim, a última corrente classifica a qualificação registral entre a atividade administrativa e a jurisdicional, ou seja, seria uma atividade específica que não se encaixa nas categorias já existentes. TEMA 3 – PROCESSO DE QUALIFICAÇÃO Inicialmente, há necessidade de apontar que o registrador possui autonomia e imparcialidade quando da realização do ato da qualificação, conforme previsão do art. 28 da Lei n. 8.935/1991. As atividades do registrador na realização da qualificação registral podem ser classificadas em quatro grupos: ingresso do título, escrituração, mérito e fomento do registro. Quando da entrada dos títulos, pode ser realizada uma pré-análise sumária da documentação apresentada, mas é importante destacar que não existe a possibilidade de negativa do recebimento do título. Recebido o título, são feitas as anotações no livro 1, obtendo assim um número de ordem. Na fase preparatória para escrituração, deverão ser colhidas todas as informações e organizados todos os documentos, com consulta na base de dados dos livros 3, 4 e 5, verificação das indisponibilidades e consulta ao livro 2. Colhidas as informações, passa-se às verificações: se o imóvel pertence à circunscrição do ofício; consulta às informações no livro indicador pessoal e se existem indisponibilidades em nome dos integrantes do título; se há obediência ao princípio da continuidade; se a descrição do imóvel está correta no título (princípio da especialidade); se existem ônus sobre o imóvel ou prenotações anteriores; se todos os requisitos do título estão presentes e se houve o recolhimento dos impostos incidentes. De posse de todas as informações e documentos, passa-se à fase de mérito da qualificação, analisando-se o título, os registros e averbações existentes e eventuais títulos que devem persistir, assim como a relação entre o direito que se busca inscrever e aqueles já inscritos. 4 A investigação não se limita apenas às formalidades do título apresentado, mas também à causa da aquisição e à validade geral das cláusulas. Na segunda etapa há análise não somente das inscrições anteriores, mas daquelas remotas, para avaliar possíveis obstáculos que possam vir a colidir com o título apresentado. Também há necessidade de verificação das questões de parcelamento do solo, da legislação ambiental e daquelas acerca da ocupação e zoneamento rural e urbano. Por fim, devem-se confrontar as informações dos livros 1, 3, 4 e 5 que estejam relacionadas com o objeto e com os interessados constantes do título, visando dar cumprimento aos princípios da prioridade e da especialidade. Ultrapassada essa fase, o julgamento pode ser positivo ou negativo. Se a decisão for pela desqualificação do título, deve-se apresentar nota de exigência ou nota de devolução, sendo imprescindível constar, em linguagem acessível, os motivos que levaram à conclusão. Deve-se inclusive apontar quais devem ser as providências para solver as inconsistências. Em caso de discordância, a parte poderá requisitar que seja instaurado procedimento de dúvida, o qual será analisado na próxima aula. Caso o julgamento seja positivo, o registrador procede à escrituração dos livros: inscrição no livro 2, anotações nos livros 3, 4 e 5, bem como indicação dos atos praticados no livro 1. TEMA 4 – QUALIFICAÇÃO DE TÍTULOS JUDICIAIS Considerando que não somente títulos derivados da vontade das partes são inscritos na matrícula, há necessidade de cuidarmos dos títulos judiciais. O registrador precisa fazer a qualificação dos títulos judiciais, principalmente para verificar se estão em conformidade com os Códigos de Normas. Contudo, existem limites. Não é possível adentrar no mérito da decisão judicial. 5 NA PRÁTICA Na qualificação registral, o registrador age com o objetivo de prevenir litígios, analisando o título submetido pelo interessado, confrontando com as informações existentes em seus cadastros, fazendo uma análise dos documentos, tendo como balizadoras a prudência e a experiência, aliadas às normas aplicáveis. Isso significa colocar em prática as normas constitucionais e legais juntamente com os princípios registrais imobiliários, de forma a conceder ou não o direito real ao objeto do título. FINALIZANDO A prudência e a análise cuidadosa dos documentos viabilizam a segurança jurídica que se busca dar aos direitos reais. Portanto, reunir os documentos, investigar os dados já existentes nos livros de registro e seguir com cuidado todas as etapas do procedimento permitem que o registrador proceda à qualificação ou à desqualificação do título de forma a promover segurança nas transações imobiliárias. 6 REFERÊNCIAS AUGUSTO, E. A. A. A qualificação registral na retificação de registro e no georreferenciamento. Revista de Direito Imobiliário, São Paulo, jan./jun. 2008. In: DIP, R.; JACOMINO, S. J. (Org.). Coleção doutrinas essenciais: direito registral. v. VII. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. CARVALHO, A. Registro de Imóveis: comentários ao sistema de registro em face da Lei nº. 6.015 de 1973 com asalterações da Lei nº. 6.216 de 1975, Lei nº. 8.009 de 1990 e Lei nº. 8.935 de 18.11.1994. Rio de Janeiro: Forense, 1998. DIP, R. Sobre a qualificação no registro de imóveis. Revista de Direito Imobiliário, São Paulo, jan./jul. 1992. In: DIP, R.; JACOMINO, S. (Org.). Coleção doutrinas essenciais: direito registral. v. VI. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. MELO, M. A. S. A. qualificação registral como tutela preventiva de conflitos. Revista de Direito Imobiliário, São Paulo, jan./jun. 2010. In: DIP, R.; JACOMINO, S. (Org.). Coleção doutrinas essenciais: direito registral. v. VI. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.
Compartilhar