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4 1 INTRODUÇÃO A Síndrome de Cri-du-chat , ou do “miado do gato”, é causada pela deleção (quebra) de um dos braços do cromossomo 5, no qual, por um motivo ou outro, este cromossomo vem a ter um braço mais curto, pode ser causada por fatores contemporâneos onde a combinação genética entre os pais não se combinam, ou mesmo por fatores hereditários, causando assim nas crianças esta síndrome. O principal diagnóstico (mas não o único) para se detectar tal fato, é ao nascimento da criança ela apresentar um choro fino e agudo igual ao miado de um gato, por este motivo o nome “miado de gato”. 5 2 NOME E HISTÓRICO Deficiências cromossômicas são em geral letais, mesmo em heterozigoze, levando a perda zigótica, natimortalidade e mortes infantis. Contudo, algumas crianças com pequenas deficiências cromossômicas sobrevivem o tempo suficiente para permitir a observação de alguns dos fenótipos anormais que elas expressam. (GARDNER, 1987) A síndrome de cri-du-chat, ou síndrome do miado do gato, é uma anomalia determinada por uma deficiência parcial do braço superior do cromossomo 5, isto é, a monossomia 5p. Essa anomalia que ocorre obrigatoriamente em casos com cariótipo 46, XX, 5p- e 46, XY, 5p-, foi caracterizada pela primeira vez por pelo geneticista Dr. Jerone Lejeune, e colaboradores, na França, em 1963, e recebeu esse nome em virtude do choro típico dos pacientes afetados, o qual lembra o miado dos gatos durante o cio ([maladie du cri-du-chat], BEIGUELMAN, 1982), A síndrome na época foi baseada em três casos, e ficou conhecida como síndrome 5p- (menos), síndrome de Lejeune ou Síndrome do Miado do Gato (BURNS e BOTTINE, 1991, MUNIZ et al 2002). Esses pacientes morrem ainda bebês ou no início da infância e não transferem a deleção cromossômica para a prole (GARDNER, 1987). As deleções ocasionadas nos cromossomos geralmente são mais graves em relação às duplicações, chegando à conclusão que o organismo humano aceita melhor o excesso de material genético do que a falta dele, como é o caso da síndrome Cri du Chat (BURNS, BOTINO, 1991, CARAKUSHASKY, 2001). Entretanto Lejeune e outros demonstraram que esta deficiência está envolvida algumas vezes com uma translocação recíproca, consequentemente será transmitida. Quando o braço curto do cromossomo 5 tornou-se translocado no cromossomo 15, a translocação heterozigótica foi carreada por um pai saudável e normal. Contudo, alguns gametas traziam consigo apenas o membro deficiente do par translocado. Crianças que herdaram o cromossomo 5p expressara a síndrome do miado do gato. (GARDNER, 1987) 6 Deve-se assinalar, contudo, que este sinal, decorrente da laringe hipoplástica dos pacientes, apesar de altamente associado à monossomia 5p, também é manifestado por muitos recém-nascidos com trissomia do cromossomo 18, e está associado a outras síndromes em que existe laringomalácia. (BEIGUELMAN, 1982), 3 PREVALÊNCIA A monossomia 5p acomete cerca de 1 a cada 50.000 nativivos, com maior predominância no sexo feminino (2F:1M) (BORGES-OSÓRIO & ROBINSON, 2001; JORDE et al., 2000), e 1% dos indivíduos com retardo mental (ANTONELI et al., 2007). A maioria dos casos são esporádicos (THOMPSON & THOMPSON, 2002) sendo apenas 10 - 20% dos casos de origem hereditária, devido a uma translocação equilibrada de um dos pais (ANTONELI et al., 2007; THOMPSON & THOMPSON, 2002), porém cerca de 1/6 dos pacientes têm um dos genitores portador de uma translocação recíproca equilibrada, da qual faz parte o braço curto do cromossomo 5. Esta obrigação torna obrigatório o exame citogenético dos genitores de afetados, pois caso fique demostrado que um deles é portador equilibrado, o risco de recorrência desprezível para casos esporádicos, se eleva para 25% (PESSOA, 1978). Essa alteração só é detectada com exames citogenéticos e muitos pais só descobrem quando geram uma criança com SCDC. Tal fenômeno geralmente é herdado das mães e de famílias com distúrbios de monossomia 5p, trissomias 5p ou também uma inversão pericêntrica paterna (RONDON et al, 1986; MUNIZ et al, 2002). 7 4 CARIÓTIPO 4.1 Cariótipo normal http://www.ghente.org/ciencia/genetica/cri-du-chat.htm 4.2 Cariótipo cri-du-chat 5 FENÓTIPO, ANOMALIAS CONGÊNITAS E COMPLICAÇÕES MÉDICAS. O diagnóstico desta síndrome é definido pelas características clínicas e exame citogenético da criança afetada e feita uma orientação para os genitores desta criança (HANS et al 1992) 8 Pinto Jr. mostrou que os afetados podem ser diagnosticados com segurança se apresentarem: retardo neuromotor e mental graves, choro em miado, fendas palpebrais com obliquidade antimongolóide, microcefalia (perímetro cefálico igual ou menor que 32cm), pregas epicântricas internas, trirrádio axial t distalizado, prega simiesca completa ou transicional, orelhas mal formadas ou de implantação baixa (PESSOA, 1978). São descritos fenótipos como crescimento lento, deficiência neuromotora, hipertonia no adulto, epicanto, estrabismo, ponte nasal baixa, retro e micrognatia (VASCONCELOS, 2007). Os afetados apresentam ainda cardiopatias congênitas em 30% dos casos, membros mal-formados, com zinodactilia, zigodactilia e sindactilia (BORGES-OSÓRIO & ROBINSON, 2001). Além destes sinais, é comum ocorrer peso baixo ao nascer, hipotrofia e hipotonia musculares, estrabismo, micrognatia ou retrognatia, palato ogival e defeitos cardíacos (PESSOA, 1978). É fundamental deixar claro que nem todas as pessoas com cri-du-chat terão todas estas características. Cerruti descreveu em 2006 que a idade de confirmação de diagnóstico mais precisa é por volta do primeiro ano de vida, sendo o primeiro mês fácil sua confirmação, enfatizando também que após os seis anos de vida essa confirmação é mais difícil, devido às modificações das principais características mais freqüentes (MAINARDI, 2006). 6 TRATAMENTO A anormalidade cromossômica não tem cura até o momento, assim, o tratamento só pode ajudar as crianças a se desenvolverem o melhor possível. A intervenção dos fonoaudiólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, quando contínuas e não tardias, é de grande necessidade e ajuda. Dependendo onde a pessoa com síndrome mora e os recursos que possui, há berçários especiais ou programas de intervenção em casa na maioria das regiões (tratando-se do mundo como um todo). 9 Crianças com cri-du-chat, provavelmente precisarão de muitos equipamentos, dependendo da idade. Eles talvez precisem de cadeiras especiais, talheres e tigelas para comerem; cadeira de potty ou adaptações no banheiro; uma armação para auxiliar a andar e ficar em pé; adaptações na cama e/ou no quarto para mante-los seguros à noite. Para algumas crianças, as drogas tem sido de grande auxílio, para problemas relacionados com o sono e para controlar seus comportamentos. Uma vasta gama de crianças frequentam escolas especiais, por outro lado, outras tem um suporte especial domiciliar. Pode-se descobrir a síndrome através de dois exames clínicos distintos, feitos no pré-natal. Durante os 3 primeiros meses de gestação pode-se fazer a amniocentese (retirada do fluido amniótico para analise do cromossomo), e semanas antes pode-se fazer o Chorionic Villius Sampling, que é retirado um pedaço minúsculo da placenta para testes e diagnósticos clínicos. Apesar de toda limitação devido à deficiência mental e ao comportamento mal adaptados decorrentes da síndrome, a educação especializada e a estimulaçãoprecoce, possibilitará ao portador melhor adaptação e aceitação da sociedade.O desenvolvimento da criança não está apenas relacionado à quantidade de material genético perdido, mas principalmente a estímulos cognitivos, motores e pedagógicos ofertados a cada paciente (MUNIZ, 2002, SARIMSKII,2003). 7 ACOMPANHAMENTO GENÉTICO Os pacientes devem ter um atendimento médico especializado na área de Genética Médica, através de análises clínicas e aconselhamento genético (PEREIRA et al., 2004). O estudo citogenético é uma importante ferramenta que complementa a análise clínica, através dos exames de cariótipos, dos casos que necessitam de confirmação diagnóstica. 10 Além do interesse intrínseco, a análise cromossômica é importante em vários casos como: diagnóstico clínico (especialmente em pacientes com malformações congênitas que comprometem o sistema orgânico, retardo mental, crescimento deficiente ou alterações no desenvolvimento sexual), mapeamento gênico (atribuição de genes específicos humanos à seus grupos de ligação e posição no cromossomo), estudo dos polimorfismos (através da ocorrência de dois ou mais fenótipos alternativos e determinados em uma população, cada um com uma freqüência específica), estudo das neoplasias (através de determinadas aberrações cromossômicos presentes na maioria das neoplasias) (THOMPSON & THOMPSON, 2002). As análises cromossômicas de pacientes têm permitido detectar as causas de muitos defeitos ao nascimento, abortos espontâneos (THERMAN & SUSMAN, 1996) e de infertilidade. Aproximadamente 1% da população possui anomalias cromossômicas equilibradas que não tem efeito sobre sua saúde, mas as coloca em alto risco de abortos ou prole com anomalias cromossômicas (READ & DONNAI, 2008). Apesar da indiscutível importância dos estudos referentes às anomalias cromossômicas para a saúde pública, apenas catorze serviços de saúde brasileiros dispõem desta avaliação, dentre os vinte e cinco Estados do país e do Distrito Federal (HOROVITZ et al., 2006). Estes centros, na maioria das vezes estão associados às Universidades, onde verifica-se a importância da genética clínica aliada ao estudo citogenético na integração do ensino e da pesquisa à favor da profissionalização dos acadêmicos e da saúde da população. 11 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluiu-se com esse trabalho que a Síndrome de Cri-du-chat foi esclarecida e que houve um entendimento mais amplo sobre as principais características clínicas da mesma. Também se pode concluir que quanto mais precoce o diagnóstico, melhor será o desempenho neuropsicomotor da criança, portanto, faz-se necessário o conhecimento dessas características principais pelos profissionais da saúde para que possam ser encaminhadas para tratamentos específicos o mais precocemente possível. Sugere-se mais pesquisas sobre a síndrome quanto ao processo de reabilitação, uma vez que agora as características mais comuns foram apresentadas, a identificação das complicações e dificuldades podem ser associadas à um tratamento específico quanto as habilidades e inabilidades do portador de Síndrome Cri-du-Chat e também quanto as orientações aos pais e profissionais, visando melhor qualidade de vida aos pacientes e seus familiares. 12 9 REFERÊNCIAS BEIGUELMAN., Bernardo, CITOGENÉTICA Humana, Guanabara Koogan S.A., Rio de Janeiro, 1982, p. 203 a 205 BEIGUELMAN., Bernardo, GENÉTICA Medica, Volume 1, Citogenética Humana, 2ª edição, editora EDART, Rio de Janeiro, 1977, p. 163 a 164 BURNS, G. W.; BOTTINO, P. J. GENÉTICA . 6 ed. Rio de Janeiro: Afiliada,1991, p. 381 BORGES-OSÓRIO, M R; ROBINSON, W M. Genética Humana. 2ª. Edição. Editora Artmed S.A. Porto Alegre – RS. 2001. 459p. GARDNER., J.Eldon, SNUSTAD., D. Peter, GENÉTICA 7ª edição, Editora Guanabara, Rio de Janeiro, 1987, p. 344 a 347 GEORGE W. BURNS; PAUL J. BOTTINO, Genética, 6 edição, editora Guanabara Koogan, 1991. - GERSON CARAKUSHANKY, Doenças Genéticas em pediatria, editora Guanabara Koogan, 2001. HOROVITZ, D D G; CARDOSO, M H C A; LLERENA JR., J C; MATTOS, R A. Atenção aos defeitos congênitos no Brasil: características do atendimento e propostas para formulação de políticas públicas em genética clínica. Vol.22. no 12. Cad. Saúde Pública [online]. Rio de Janeiro – RJ. 2006. (11) 2599-2609p. JONES KL (1998). Padrões Reconhecíveis de Malformações Congênitas. 1ª edição Brasileira Editora Manole Ltda. São Paulo, SP, Brasil. p 44. HANS R., W; DIBBERN H. Atlas de Síndromes Clínicas Dismórficas, Terceira edição, editora Manole, 1992. MAINARD, P., C.; PASTORE, G.; CASTRONOVO, C.; GODI, M.; GUALA, A.; TAMIAZZO, S.; PROVERA, S.; PIERLUIGI, M.; BRICARELLI, F., D. The natural history of Cri du Chat Syndrome. A report from the Italian Register. 2006. 13 NEVES, W., S.; PRANDI, J., C.; PEREIRA, F., A.; FETTI-CONTE A., C. Aspectos Clínicos das Cromossopatias mais freqüentes na espécie humana. HB Científica, Vol. 8 n° 2. Maio-Agosto, 2001. PESSOA., Osvaldo Frota-, OTTO., Paulo Alberto, OTTO., Priscila Guimarães, GENÉTICA Clínica 3ª edição, Livraria Francisco Alves Editora S.A., Rio de Janeiro, 1978, p. 160 a 163 THOMPSON, J S.; THOMPSON, M W. Genética médica – Thompson & Thompson. 6ª edição. Ed. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro – RJ. 2002. 388p. VASCONCELOS, B. Estudo da freqüência de aberrações cromossômicas nos pacientes atendidos na unidade de genética do instituto da criança entre 1992 a 2002. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 2007. 72p. http://apps.unibrasil.com.br/revista/index.php/saude/article/viewFile/341/270 acessado em 05 de junho de 2012 14 10 ANEXOS PESSOA., Osvaldo Frota-, OTTO., Paulo Alberto, OTTO., Priscila Guimarães, GENÉTICA Clínica 3ª edição, Livraria Francisco Alves Editora S.A., Rio de Janeiro, 1978, p. 161 GARDNER., J.Eldon, SNUSTAD., D. Peter, GENÉTICA 7ª edição, Editora Guanabara, Rio de Janeiro, 1987, p. 347 15 BEIGUELMAN.,Bernardo, GENÉTICA Humana, Guanabara Koogan S.A., Rio de Janeiro, 1982, p. 495 PESSOA., Osvaldo Frota-, OTTO., Paulo Alberto, OTTO., Priscila Guimarães, GENÉTICA Clínica 3ª edição, Livraria Francisco Alves Editora S.A., Rio de Janeiro, 1978, p. 162 16 BEIGUELMAN.,Bernardo, CITOGENÉTICA Humana, Guanabara Koogan S.A., Rio de Janeiro, 1982, p. 205 GARDNER., J.Eldon, SNUSTAD., D. Peter, GENÉTICA 7ª edição, Editora Guanabara, Rio de Janeiro, 1987, p. 347
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