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CONTROLADORIA JURÍDICA E INOVAÇÃO AULA 4 Profª Tatiana Rodrigues 2 CONVERSA INICIAL Neste ponto da disciplina já temos certeza que a advocacia e o mundo jurídico como um todo está passando por mudanças significativas. Cabe, nesta aula, conhecermos outros pontos dessas mudanças, a Jurimetria, que não chega a ser algo novo, contudo, está sendo conhecida e utilizada muito recentemente pelos Tribunais e órgãos jurisdicionados. Ainda, vamos conhecer outro ponto que liga os escritórios e departamentos jurídicos com os Tribunais e órgãos jurisdicionados, a logística jurídica. TEMA 1 – CONCEITO E SURGIMENTO DA JURIMETRIA Estudos indicam que a relação entre a Estatística e o Direito é bem antiga. Apontam de 1655, com Gottfried Wilhelm Leinbiz os primeiros estudos e a necessidade de trazer para o mundo jurídico a previsibilidade, prestigiando os princípios da segurança jurídica e isonomia. 1.1 Conceito Os estudos entrelaçando o Direito e a Estatística existem há muito tempo. Contudo, a expressão Jurimetria surgiu pela primeira vem em um artigo publicado em 1949, por Lee Loevinger. O artigo tinha como título “Jurimetrics: the next step forward”. Nesta ocasião, o próprio criador da expressão busca deixar o conceito em aberto, afirmando: “nenhuma definição de Jurimetria seria compatível com o pragmatismo desse campo. Caberia aos futuros juristas definirem os limites dessa nova área do conhecimento de forma ostensiva e ilustrar através das atividades práticas o seu conteúdo”. (Loevinger, 1971, tradução nossa) O próprio criador escreve claramente que se trata de uma nova área, não somente do direito, como da gestão legal. Uma área ainda muito pouco explorada. Marcelo Nunes (2016), em sua obra Jurimetria, explica: A Jurimetria não é, portanto, uma ciência normativa no sentido kelsiano, porque seu objeto de interesse não é a norma jurídica em si (o dever-ser jurídico), mas o comportamento adotado pelos homens em função de uma ordem jurídica (o ser jurídico). [...] Jurimetria positiva, cujo objetivo principal é descrever de maneira neutra, realista e imparcial quais normas estão sendo 3 realmente aplicadas e quais efeitos elas estão produzindo; e uma Jurimetria normativa se baseia na positiva, e que estabelece propósitos finalísticos para as reformas de aperfeiçoamento do Direito, de forma a torna-lo mais célere, efetivo e, porque não, justo. TEMA 2 – JURIMETRIA NO BRASIL A Jurimetria aparece pela primeira vez no Brasil em 1973, quando o advogado Miguel Reale, então Reitor da Universidade de São Paulo, convidou o professor de filosofia italiano Mario Losano para palestrar. Mario Losano, estudioso e doutrinador italiano cai no mesmo equívoco de Loevinger e Baade ao definir a Jurimetria à aplicação da informática ao direito. Na verdade, a informática é uma das ferramentas da Jurimetria, mas não ela como um todo. A metodologia da Jurimetria é a estatística, e a Jurimetria de uma forma ampla é muito mais que isso, é a análise desses dados (judicializados) para a tomada de decisões de forma estratégica. 2.1 Jurimetria e o novo Código de Processo Civil Mesmo o tema existindo em outros países há muito tempo, vemos que, no Brasil, mesmo já sendo suscitado em 1973, na prática poucos ainda utilizam a Jurimetria. Neste ponto, cabe analisarmos o Art. 926 do CPC, que traz: “Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente”. Mesmo a lei trazendo à baila a uniformização, ainda estamos nos desenvolvendo neste sentido. Hoje, conta-se com a sorte. Quando distribuímos uma ação, ficamos na torcida para ser sorteado nesta ou naquela vara. Contudo, certamente iremos nos desenvolver de forma muito rápida neste sentido. Sempre buscando prestigiar os princípios da economia, celeridade e segurança jurídica. TEMA 3 – FUTURO DA JURIMETRIA Sobre a aplicação da Jurimetria na prática, mesmo a própria lei trazendo o tema da uniformização, ainda estamos nos desenvolvendo neste sentido. Como dissemos anteriormente, hoje, conta-se muito com a sorte. Quando 4 distribuímos uma ação, esperamos ser sorteado em determinada vara específica. Contudo, certamente não somente os Tribunais, mas os escritórios, seja contencioso, consultivo, de volume ou não, os departamentos jurídicos, ou seja, todos os que se relacionam com a justiça, irão se utilizar de uma forma muito rápida da Jurimetria. 3.1 Aplicação Atualmente, já existem escritórios e departamentos jurídicos que utilizam de forma muito efetiva a Jurimetria. Desde a precificação de uma ação para o cliente, até uma estratégia processual, contingenciamento, tutelas cautelares, redução de custos. A Jurimetria pode ser utilizada do início ao fim de uma demanda. Exatamente por isso a Jurimetria não aceita uma definição pobre como a aplicação da informática no Direito, pois esta é muito mais do que isso! Serve para precificar a ação, contingenciar um pedido. Em tudo o que aprendemos até aqui podemos utilizar a Jurimetria. Engana-se também quem pensa que a Jurimetria pode ser utilizada somente em demandas de volume. Atualmente, podemos utilizar a Jurimetria em ações altamente estratégicas. Por exemplo: faz muita diferença, ao fazer uma sustentação oral, um advogado chegar para um desembargador com dados específicos sobre o processo, com números, pois é isto que ele quer ouvir. Certamente vão ouvi-lo. E de onde sairá esta pesquisa? Da Controladoria Jurídica! TEMA 4 – LOGÍSTICA JURÍDICA Muitas vezes, diante do tamanho continental do nosso país, torna-se inviável o deslocamento de um advogado para realizar uma audiência, ou a extração de cópias, protocolos etc. Nestes casos, os escritórios ou departamentos jurídicos contratam os chamados correspondentes jurídicos, que realizam estas tarefas diretamente do local. Atualmente, mesmo com a digitalização dos processos, com a facilidade de acesso aos scanners, smartphones etc., a gestão destes correspondentes ainda é um desafio. Principalmente pelo controle dos prazos e da qualidade. Vale 5 lembrar ainda que mesmo a contratação visando à agilidade e economia, deve- se observar os valores da tabela da OAB. Atualmente, já existem softwares que auxiliam nesses controles, em alguns deles o próprio correspondente (previamente cadastrado), se loga via e- mail e insere ele mesmo os arquivos no GED do sistema, poupando o trabalho da Controladoria Interna, que neste caso iria somente conferir, dando o “ok” para o financeiro efetivar o pagamento ao correspondente. TEMA 5 – INOVAÇÃO NA LOGÍSTICA JURÍDICA Conforme já mencionado, a gestão destes correspondentes é sempre um desafio, principalmente porque os correspondentes não possuem vínculos com os solicitantes. Desta forma, o ideal é que se utilize de toda a tecnologia disponível no mercado para esta gestão, minimizando qualquer tipo de risco. Quando nós temos um cadastro detalhado dos profissionais que atuam como correspondentes, utilizamos os melhores softwares, os melhores controles (tanto do processo e procedimentos propriamente ditos, quanto financeiro), fica muito mais segura esta relação. NA PRÁTICA Tenho certeza que neste ponto o profissional que atuará em uma Controladoria Jurídica já fica pensando como vai fazer tudo isso em sua jornada. Realmente são muitas tarefas, e a tendência é o crescimento galopante. Aprender a unir a parametrização do software de gestão, com alguma ferramenta de Jurimetria, emitir relatórios, sem dúvida, vai colocar esta advocacia eprincipalmente o profissional que contribuiu para este desenvolvimento em um outro patamar. FINALIZANDO Esta aula que acabamos de estudar é uma daquelas aulas que abre um novo mundo uma nova profissão, e, claro, inúmeras premissas e possibilidades. Como em outras aulas, esta serve de preparação para avançarmos no estudo dos fluxos de processos e procedimentos, sendo uma das aulas mais importantes de toda a disciplina, principalmente pela forma visual de apresentação, com foco na produtividade, sempre de uma forma inovadora. 6 REFERÊNCIAS NUNES, M. G. Jurimetria: como a estatística pode reinventar o Direito. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016. PIMENTEL, A. F. O Direito cibernético, um enfoque teórico e lógico aplicado. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. LOSANO, M. G. Informática jurídica. São Paulo: Saraiva, 1976. LOEVINGER, L. Jurimetrics The Next Step Forward. Jurimetrics Journal. vol. 12, n. 1. (September 1971), pp. 3-41. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/29761220>. Acesso em: 06 abr. 2018. KELSEN, H. Teoria pura do Direito. 6. ed. Coimbra: Armênio Amado, 1984. GARCIA, D. de S. Introdução à informática jurídica. São Paulo. José Bushatsky, 1976.
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