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PLANEJAMENTO URBANO E MEIO AMBIENTE Professor Dr. André Cesar Furlaneto Sampaio GRADUAÇÃO Unicesumar C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; SAMPAIO, André Cesar Furlaneto. Planejamento Urbano e Meio Ambiente. André Cesar Furlaneto Sampaio. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. Reimpresso em 2019. 273 p. “Graduação - EaD”. 1. Ambiente. 2. Planejamento. 3. Urbano. 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0593-6 CDD - 22 ed. 711.4 711.4 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria Executiva Chrystiano Minco� James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Débora Leite Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Head de Curadoria e Inovação Jorge Luiz Vargas Prudencio de Barros Pires Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira Gerência de Curadoria Giovana Costa Alfredo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard Coordenador de Conteúdo Paulo Pardo Qualidade Editorial e Textual Daniel F. Hey, Hellyery Agda Design Educacional Giovana Cardoso Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Ilustração Capa Bruno Pardinho Editoração Ellen Jeane da Silva Revisão Textual Pedro Afonso Barth Helen Braga Prado Ilustração Marcelo Goto Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não so- mente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in- tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educa- dores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a quali- dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Pró-Reitor de Ensino de EAD Diretoria de Graduação e Pós-graduação Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu- nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con- tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên- cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis- cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. A U TO R Professor Dr. André Cesar Furlaneto Sampaio Doutor (2013) e mestre (2006) em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Possui especialização em Engenharia e Gestão Ambiental, pelo Instituto de Engenharia do Paraná (IEP/2003). Engenheiro florestal, graduado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR/2002). Durante doze anos tem dedicado a vida profissional a trabalhos na área ambiental. Foram muitas consultorias realizadas e diversos projetos ambientais concretizados, perfazendo experiências em diversos temas como: arborização urbana, paisagismo, recuperação de áreas degradadas, estudos de impacto ambiental, manejo de áreas para conservação (Unidades de Conservação), inventário florestal, ecologia da paisagem, geoprocessamento, levantamentos geoambientais, fitossociologia e florística, dentre outras. Seus trabalhos e atuações em áreas urbanas, principalmente relacionados ao meio ambiente, como o Censo da Árvore, que realizou com apoio do Centro Universitário Cesumar (Unicesumar)(levantamento quali-quantitativo da arborização de vias públicas da cidade de Maringá), assim como, vários planos de manejo de unidades de conservação em áreas urbanas, e estudos geográficos em diversos municípios, dão subsídios técnicos para ministrar e organizar a disciplina de Planejamento Urbano e Meio Ambiente do curso de Negócios Imobiliários. Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e publicações, acesse seu currículo, disponível no endereço a seguir: <http://lattes.cnpq.br/3598587630674234>. SEJA BEM-VINDO(A)! Prezado(a) aluno(a), vivemos atualmente em um mundo urbano. A cada ano que pas- sa mais a humanidade se estabelece nos centros urbanos e essa tendência não possui muitas probabilidades de mudar. Cada vez mais as cidades se tornam o símbolo máximo da humanidade. A história da humanidade, o passado, presente e futuro se encontram nas cidades. A grande diversidade ideológica, cultural, religiosa, social e étnica da huma- nidade em conjunto com a grande diversidade ambiental: tipos de clima, solo, relevo, vegetação e fauna, acabam por moldar as cidades pelo mundo. Homem e natureza se relacionam com maior intensidade nos centros urbanos. Temos nas cidades a demons- tração do enorme poder de transformação do homem sobre a natureza, mas também, um exemploda ineficácia do homem no controle de sua criação. Entender o funciona- mento das cidades é tão complexo como entender o funcionamento de um ecossistema natural, são muitos aspectos a serem correlacionados, e de região para região se distin- guem. Concluímos assim que o que é urbano está intimamente ligado à sociedade, e claro, ao meio ambiente (natureza). Sabemos que a humanidade é extremamente dependente da natureza e seus recursos da forma como existem nos últimos milhares de anos e que precisamos buscar a susten- tabilidade. A ciência tem evidenciado que o caminho do desenvolvimento sustentável é o único realmente viável se quisermos melhor qualidade de vida no futuro. A luta para consolidar um desenvolvimento (progresso) que não traga sofrimento e perdas à hu- manidade por falta ou má distribuição de seus recursos naturais, tem como palco mais importante as cidades, pois são nelas que se concentram as pessoas. A cidade, seu fun- cionamento, infraestrutura, divisões, comércio, ruas e avenidas, demonstram os ideais e percepções das pessoas que a habitam. Cabe aqui ressaltar os dizeres de Meinig (2002, p. 35), estudioso da geografia e das paisagens cujos estudos veremos na Unidade II, que afirma que “qualquer paisagem é composta não apenas por aquilo que está à frente dos nossos olhos, mas também por aquilo que se esconde em nossas mentes”. As cidades são o reflexo de sua sociedade. As cidades não melhoram suas condições se a sociedade não melhora em termos so- ciais, culturais, econômicos, políticos e ambientais. Sabendo disso é óbvio concluir que conseguir melhoras em uma cidade tem grandes dificuldades. Quanto mais existir um mundo melhor, mais teremos planejamento urbano eficaz e o contrário também é ver- dade. Ou seja, buscando uma cidade mais justa, organizada e eficiente existirá grande contribuição para um mundo melhor. Entra em cena o pensamento de cunho ambienta- lista e voltado à sustentabilidade, que atualmente é usual no planejamento urbano: agir localmente para mudar globalmente. Com tudo que foi dito fica evidente que quando falamos em planejamento urbano en- tramos em um universo de informações multidisciplinares, envolvendo geografia, bio- logia, ecologia, economia, engenharia, sociologia, psicologia, antropologia entre outros. O que obviamente é de grande complexidade e impossível de ser totalmente destrin- chado e detalhado apenas nesta disciplina. Trataremos dos conceitos e ideais mais bá- sicos e voltados ao entendimento do planejamento urbano para uma boa formação do APRESENTAÇÃO PLANEJAMENTO URBANO E MEIO AMBIENTE profissional voltado aos negócios imobiliários. O entendimento pleno sobre plane- jamento urbano necessita de um grande arcabouço técnico, dificilmente encontra- do em apenas um tipo de profissional. Portanto, vamos iniciar um processo de aprendizagem no universo do planeja- mento urbano e por consequência em meio ambiente, para fornecer aos leitores e alunos uma ferramenta para a realização de uma análise crítica e construtiva desse tema tão vasto e necessário na atualidade. O livro se divide em cinco unidades. Na Unidade I, trataremos dos principais aspec- tos históricos do surgimento das cidades e da evolução do planejamento urbano no Brasil e no mundo, chegando ao final nas consequências e problemas mais graves que ocorrem nos centros urbanos. Na Unidade II, trataremos de fundamentos de cunho ambiental importantes para um melhor entendimento do planejamento urbano atual, onde entram conceitos como meio ambiente, biodiversidade, sustentabilidade e o estudo das paisagens naturais, culminando no entendimento da importância das áreas verdes urbanas e no funcionamento da legislação e licenciamento ambiental para o planejamento urbano. Na Unidade III, começaremos a tratar do planejamento urbano em um viés mais técnico, mostrando os principais conceitos, etapas e dimensões de atuação. Na Unidade IV, trataremos da legislação específica voltada ao planejamento das cidades, com foco no Estatuto da Cidade; detalhando o funcionamento de instru- mentos como o Plano Diretor e o Zoneamento Urbano, além de evidenciar o funcio- namento do parcelamento do solo nas cidades. A unidade finaliza-se tratando das incorporações imobiliárias e suas etapas legislativas. Por fim, na Unidade V, falaremos sobre os principais setores para a gestão urbana, diretamente vinculados à infraestrutura das cidades: saneamento básico, com foco no tratamento de resíduos sólidos; energia elétrica e sua relação com as cidades; mobilidade urbana, entrando em seus conceitos principais e a situação no Brasil. Por fim, serão demonstradas algumas novas tecnologias, de cunho sustentável, que trarão benefícios ao planejamento urbano. Desejo a você uma ótima leitura e estudo. APRESENTAÇÃO SUMÁRIO 09 UNIDADE I HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DO PLANEJAMENTO URBANO 15 Introdução 16 A Humanidade e o Surgimento das Cidades 18 Evolução Histórica das Cidades 29 A Evolução do Urbanismo e Planejamento Urbano no Mundo e no Brasil 34 Principais Problemáticas e Impactos Ambientais Urbanos 55 Considerações Finais 61 Referências 64 Gabarito UNIDADE II FUNDAMENTOS AMBIENTAIS PARA PLANEJAMENTO URBANO 67 Introdução 68 Cenário Ambiental Mundial e Brasileiro 72 Conceitos Básicos de Fundamentos Ambientais 92 Análise da Paisagem para Planejamento Urbano 103 Legislação e Licenciamento Ambiental 123 Considerações Finais 130 Referências 135 Gabarito SUMÁRIO 10 UNIDADE III PLANEJAMENTO URBANO: ETAPAS E DIMENSÕES 139 Introdução 140 Conceitos Técnicos Importantes do Planejamento Urbano 146 Etapas do Planejamento Urbano 151 Dimensões do Planejamento Urbano 157 Áreas Verdes Urbanas 175 Considerações Finais 180 Referências 183 Gabarito UNIDADE IV PLANEJAMENTO URBANO: INSTRUMENTOS LEGISLATIVOS DE PLANEJAMENTO URBANO 187 Introdução 188 Análise das Principais Ferramentas do Estatuto da Cidade 204 Zoneamento Urbano e Parcelamento do Solo 213 Incorporações Imobiliárias 219 Considerações Finais 225 Referências 227 Gabarito SUMÁRIO 11 UNIDADE V PRINCIPAIS SETORES DA GESTÃO URBANA 231 Introdução 232 Saneamento Básico 245 Rede Elétrica 251 Mobilidade Urbana 258 Novas Tecnologias para uso no Planejamento Urbano 264 Considerações Finais 270 Referências 272 Gabarito 273 CONCLUSÃO U N ID A D E I Professor Dr. André Cesar Furlaneto Sampaio HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DO PLANEJAMENTO URBANO Objetivos de Aprendizagem ■ Conhecer o histórico do surgimento das cidades. ■ Compreender a evolução e transformações das cidades ao longo do tempo. ■ Conhecer o histórico do planejamento urbano no Brasil. ■ Conhecer os principais problemas urbanos e seus impactos sobre o meio ambiente e a sociedade. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ A humanidade e o surgimento das cidades ■ Evolução histórica das cidades ■ Evolução do urbanismo e planejamento urbano no mundo e no Brasil ■ Principais problemáticas e impactos ambientais urbanos INTRODUÇÃO Caro (a) aluno (a), atualmente estamos vivendo tempos históricos, pois acontece diante de nossos olhos, a maior onda de urbanização da história da humanidade. Pode-se dizer que esse processo iniciou-se em 2005 e a previsão é que se fina- lize em 2050. Passaremos de 3,2 bilhões de pessoas nas cidades para 6,3 bilhões. Para 2050, a previsão é que cerca de 64% a 70% da humanidade esteja concen- trada nas zonas urbanas. A população mundial de 7,2 bilhões de pessoas poderá chegar a 9,6 bilhões em 2050. (LEITÃO, 2013; ONU, 2012). Em termos gerais, o grande crescimento populacional será especialmente na regiãodo continente africano, pois no restante do mundo já existe uma diminui- ção do crescimento populacional. De toda forma em todos os países a população cada vez mais se intensificará nas cidades (ONU, 2012). No Brasil e em outros países, onde a população não será tão grande quando comparada ao território e a quantidade de recursos naturais, teremos inúme- ros desafios, pois existe a tendência de imigrações dos povos subdesenvolvidos. Teremos de estar aptos a receber uma população carente e ter recursos para capa- citá-los profissionalmente e evoluir em termos de qualidade de vida para todos. Estão previstos desafios mundiais extraordinários como: adequar às regi- ões costeiras para as mudanças climáticas; modernizar a mobilidade urbana; melhorar a qualidade de vida; conseguir controlar e trabalhar melhor nossos resíduos sólidos; construir sistemas eficientes de alerta de eventos catastróficos; conservar os recursos naturais de forma eficiente como a água, o solo e a biodi- versidade. Teremos uma agenda de grandes tarefas que precisará da cooperação entre povos em detrimento da competição (LEITÃO, 2013). Diante de tantos desafios é muito importante entender o histórico que nos levou até o momento atual e traçar prognósticos sobre o futuro. Como disse Gandhi: “se quisermos progredir, não devemos repetir a história, mas sim, fazer uma história nova”. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 ©shutterstock HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DO PLANEJAMENTO URBANO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 A HUMANIDADE E O SURGIMENTO DAS CIDADES A história do surgimento das cidades fica entrelaçada pela história da humanidade, pois as cidades só surgiram por causa da existência de uma espécie específica o Homo sapiens (ser humano). Mas antes de focar nessa história, acho importante demonstrar que na escala de tempo do universo e da existência de nosso pla- neta a humanidade e as cidades existem por um tempo ínfimo, o que demostra nossa insignificância diante da natureza em todo seu processo de transformações. O universo tem cerca de 15 bilhões de anos, o planeta terra 4,6 bilhões de anos, a vida surgiu na terra entre 4,1 a 3,5 bilhões de anos. Já o homem, devida- mente como Homo sapiens, tem sua existência fora da casa dos bilhões, muito menos da dos milhões, existe há apenas aproximados 400 mil anos. De todo esse minúsculo tempo que a humanidade existe, faz ridículos 10 mil anos que se vive em grandes comunidades, o restante do tempo se viveu coletando e caçando ali- mento, como nômades, vivendo em pequenos grupos. Foi só após a descoberta da agricultura e da criação de animais que surgiram as cidades, a economia e as civilizações, pois só assim a humanidade conseguiu se aglomerar em gran- des grupos. No final das contas foi a agropecuária que criou nossas sociedades (DIAMOND, 2010). Nosso tempo de existência é muito pequeno, o que demonstra que temos de ser cautelosos, respeitar a maquinaria que é a natureza, suas engrenagens e peças. Só assim seremos aptos para sobreviver por longos períodos dentro da escala do universo. A Humanidade e o Surgimento das Cidades Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 Como vimos, a humanidade passou seu maior tempo de existência como nômade. Adaptavam-se a natureza não produzindo grandes alterações nas pai- sagens. A caça e a coleta de alimentos sustentavam apenas quatro pessoas por KM2, ou seja, não éramos numerosos ainda (MUMFORD, 1982). As cidades nasceram após a formação de aldeias, mas não se trata apenas do aumento de casas e do crescimento da população. Ela inicia sua existência quando serviços diferentes, não ligados à agropecuária, começam a existir, como: a fabricação de artefatos, serviços religiosos, medicinais e militares. Formou-se assim uma nova classe de trabalhadores, de início subalternos dos agricultores, mantidas pelo excedente do produto total. A sociedade assim caminhou para se tornar capaz de evoluir e de projetar a sua evolução. A cidade caracteriza-se como sendo o centro maior desta evolução (BENEVOLO, 1993). Por meio do contínuo aumento populacional, somado com a consolida- ção da prática da agricultura intensiva, surgiu um novo estilo de vida na qual a formação das cidades se tornou essencial. Essas alterações induziram mudan- ças fundamentais, na economia e nas ordens sociais, tecnológica e ideológica (ABIKO et al., 1995). O domínio da locomoção em cavalos, a invenção da roda, de utensílios como carroças e a metalurgia trouxeram grandes modificações na sociedade e a formação de cidades, cada vez mais complexas e grandes (CASILHA; CASILHA, 2009). Com o crescimento das cidades e de suas populações foram se formando regras para organização da sociedade, houve uma organização política e hierar- quização das classes de trabalhadores. Entra em cena a religião, uma característica importante nas cidades primitivas, em que as pessoas deviam servir a um deus poderoso, geralmente representado por um rei de carne e osso. Com o temor aos superiores políticos, a organização das cidades e seu avanço se deram de forma rápida e organizada (CASILHA; CASILHA, 2009). O desenvolvimento dentro desses moldes acabou por trazer bastante desigualdade social e temos reflexos disso até hoje na sociedade. A evolução das cidades acompanha a evolução da humanidade e seus perí- odos históricos, dessa forma, é importante marcamos a divisão desses períodos. Observe o Quadro 1, a seguir. HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DO PLANEJAMENTO URBANO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 Quadro 1 – Divisão dos períodos históricos da existência da humanidade Períodos Pré-história Antiguidade Idade Média Idade Moderna Idade Contemporânea (Das origens do homem até 4000 a.C) (De 4000 a.C. a 476) (De 476 a 1453) (De 1453 a 1789) (De 1789 aos dias atuais) Evento que marca o início de cada era Origem da espécie humana. Invenção da escrita. Queda do Império Romano. Queda de Constantinopla. Revolução Fran- cesa. Fonte: o autor EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS CIDADES Caro (a) aluno (a), trataremos de aspectos históricos sobre o surgimento e evolução das cidades e como consequência vislum- braremos os problemas mais comuns da urbanização. CIDADES DA PRÉ-HISTÓRIA E ANTIGUIDADE No fim do que se chama de período pré- -histórico nascem as primeiras cidades. Seu surgimento fica estimado entre 5.000 a 3.000 a.C. na Mesopotâmia (planalto vulcânico entre dois rios - Tigre e Eufrates), região hoje dentro dos limites do Iraque (CASILHA; CASILHA, 2009). Evolução Histórica das Cidades Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 Figura 1- Mapa da região da Mesopotâmia A Mesopotâmia faz parte da região conhecida como Crescente Fértil, onde as pri- meiras civilizações como um todo se consolidaram. Local em que existia maior facilidade para o cultivo da terra, devido à fertilidade do solo proporcionada pelas cheias dos rios. Além é claro, de água abundante para irrigação, consumo e transporte. Trata-se de uma região com cerca de 400.000 a 500.000 km² que hoje é povoada por 40 a 50 milhões de pessoas, englobando a Palestina, Israel, Jordânia, Kuwait, Líbanoe Chipre, além de partes da Síria, do Iraque, do Egito, do sudeste da Turquia e sudoeste do Irã. Os rios que irrigam essa região são: Jordão, Eufrates, Tigre e o Nilo (ABIKO et al., 1995). Podemos dizer que as primeiras cidades foram as constituídas na civilização dos Sumérios. Incrivelmente esse povo possuía grandes edificações, bairros espe- cializados, ruas, sistemas de irrigação, grandes templos e grandes fortificações no entorno. Tinham conhecimento amplo principalmente sobre arquitetura, mate- mática e astronomia. Dentre suas construções destacam-se complexos sistemas de controle da água dos rios, canais de irrigação, barragens e diques. São conside- rados os inventores da escrita, que era chamada de cuneiforme, pois os símbolos HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DO PLANEJAMENTO URBANO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 escritos em placas de argila eram feitos com instrumentos em formato de cunha. As construções de maior imponência das cidades dos sumérios eram os zigura- tes, se assemelhavam as pirâmides do Egito em grandiosidade, serviam para o armazenamento de produtos agrícolas e como templos religiosos. Os sumérios construíram muitas cidades importantes como: Ur (a maior que chegou a ter 25.000 habitantes), Nipur, Lagash e Eridu (KRAMER, 1977; BOUZON, 1998). Figura 2 - Zigurate da cidade de UR. A origem dos sumérios ainda é misteriosa, são muitos os estudos e dúvidas sobre a formação desse povo. Existem indícios que tenham sido um povo oriundo dos planaltos iranianos, mas também podem ter procedido das próprias planícies mesopotâmicas. De forma geral pode ter sido uma mistura de povos em que a língua predominante era a suméria (CARDOSO, 1998). As cidades da antiguidade eram chamadas de cidade-estado, devido a sua grande importância e independência. Existiram muitas disputas entre povos e a formação de impérios durante a antiguidade, e a conquista das cidades foi cru- cial. Um longo período histórico se consolidou, nele estão presentes os egípcios, acádios, babilônicos entre outros. Em todos os impérios e povos antigos as cida- des se organizaram em torno da agricultura e da religião (ABIKO et al. 1995). Evolução Histórica das Cidades Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 A maior cidade da antiguidade, que chegou a possuir mais de quinhentos mil habitantes e foi um grande centro religioso chamava-se Babilônia. Possuía for- tificações, muralhas, fossos e baluartes ao seu redor, o que junto com o grande poder militar consolidava a segurança para os cidadãos. Havia praças agitadas além de edifícios públicos como teatros, estádios, ginásios, centros educacionais e culturais (CASILHA; CASILHA, 2009). Por volta de 2000 a.C Babilônia foi pla- nificada. A cidade tinha um formato retangular de 2500 por 1500 metros e era dividida pelo rio Eufrates. Foi traçada com regularidade geométrica tendo ruas largas e retas (largura constante), muros recortados em ângulos retos e com a presença de prédios de 3 e 4 pavimentos (ABIKO et al., 1995). Outra civilização importante para o histórico das cidades foi a grega, que se iniciou aproximadamente em 2.500 a. C. Suas cidades beiravam o mar e iam até as encostas de montanhas. Existia uma preocupação com o desenho urbano, e a configuração usual era a ortogonal, tipo um tabuleiro de xadrez. As ruas tinham hierarquia e as casas seguiam alguns parâmetros urbanísticos como a necessi- dade de terraços. Os gregos já se preocupavam com o tamanho das cidades, pois sabiam que as cidades dependiam dos recursos mais próximos e de sua produção agropecuária, ou seja, uma população fora de limites traria grandes problemas sociais. O solo árido da Grécia não colaborava para a formação de grandes cida- des, por isso quando a população chegava a cerca de 30 mil habitantes era habitual iniciar a construção de uma nova cidade. Não somente o problema de recursos naturais fazia a necessidade de controle de população nas cidades, mas também a democracia que se iniciava, em que os conflitos de ideias em grandes popula- ções trariam distúrbios mal vistos (BENEVOLO, 1993). As principais cidades gregas foram: Atenas, Esparta e Tebas. Possuíam as características das cidades-estados: eram independentes, com governo e padrões militares próprios. O que as unificava eram os aspectos culturais, como a língua, cujo alfabeto foi desenvolvido no Período Arcaico e um planejamento urbano, semelhante entre cidades, devido à troca de informações e comunicação que existiam. Os povos que formaram essas cidades gregas vieram de migrações do Norte da Europa e eram chamados de povos indo-europeus. Algumas caracterís- ticas de planejamento urbano e pensamentos dos gregos acabaram se difundindo em outros impérios (BENEVOLO, 1993). HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DO PLANEJAMENTO URBANO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 Os romanos foram outra grande civilização do período da antiguidade que se utilizou de padrões helênicos (gregos) para o planejamento de suas cidades. Devido à vastidão do império Romano por um período existiu paz entre os povos antigos e as cidades passaram a não possuir muros e apresentavam grande urba- nização. As preocupações com a expansão urbana foram diminuindo ao ponto da cidade de Roma em cem anos saltar de 400 mil para 1,2 milhão de habitan- tes. Essa expansão se realizou devido a uma ênfase dada à infraestrutura de transportes, a formação de aquedutos que traziam água de grandes distâncias, pelo início de uma preocupação com o esgotamento sanitário, que na época, em Roma, era feito por galerias subterrâneas (enormes e em perfeito estado até hoje); pela divisão do território em quadras (bairros) com distribuição de serviços e a exploração de territórios que abasteciam a cidade (CASILHA; CASILHA, 2009). Mesmo com todos os esforços e novas tecnologias, o crescimento da cidade de Roma e de sua população não foi harmonioso. Cerca de 25% da popula- ção de Roma não tinha o que fazer, faltavam serviços. A comida tinha que ser distribuída para que não houvesse enorme mortalidade por fome. A lista de pessoas que precisavam de doa- ção de alimentos chegou a ter 320 mil nomes no auge da expansão de Roma. Devido à vastidão do império havia muitos produtos importados (grande parte dos cerais), com isso, a agricultura no entorno de Roma se concen- trou em vinhas, formou-se um tipo de monocultura, causando o declínio de muitos serviços (BENEVOLO, 1993). Figura 3 - Ruínas na cidade de Roma Evolução Histórica das Cidades Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 Além dessas civilizações antigas citadas, existiram outras com grandes mani- festações urbanísticas por volta de 2.500 a. C. no vale do rio Indo na Índia e por volta de 1.500 a.C. no vale dos rios Amarelo e Yang-Tsé-Kiang na China. Na América surgiram civilizações como os Incas, Maias e Astecas, também com grandes construções voltadas ao culto religioso e o armazenamento de alimen- tos e sementes. A antiguidade foi consolidando o planejamento das cidades e muito do que são as cidades atualmente tem ideias e conceitos vindos desses povos e épocas. CIDADES DA IDADE MÉDIA A partir da queda do império Romano houve uma grande mudança no modo de viver da humanidade. Ocorreram as invasões bárbaras e serviços e comércio tiveram estagnações nos centros urbanos. Grande parte da população migrou novamente para o campo. O cris- tianismoe a igreja católica se fortaleceram e assim se criou o sistema feudal. Bispos exer- ciam a função de governantes e a agricultura se fortaleceu formando grande senhores feu- dais, que acabaram por formar e comandar novas cidades. Os senhores feudais trocavam o trabalho de habitantes por pro- teção e apoio militar. As cidades então voltaram a ser de tama- nho reduzido, a terem muralhas e grande nível de subsistência. Formaram-se as grandes praças centrais em que se localizavam as igrejas e os mercados e por consequência as ruas radiais (CASILHA; CASILHA, 2009). Figura 4 - Castelo medieval HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DO PLANEJAMENTO URBANO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 No século XI o sistema feudal entrou em crise, começaram a surgir os ele- mentos pré-capitalistas, como o desenvolvimento do comércio das cidades e a criação de uma nova classe social, o que acabou sendo a ruína dos senhores feudais. Novos interesses econômicos e políticos se consolidaram com o comér- cio intenso entre ocidente e oriente. As atividades nas cidades se ampliaram. Verifica-se então que o comércio foi um dos grandes fatores que ocasionaram a intensificação do meio urbano, tendo, dessa forma, as grandes capitais europeias se beneficiado com seu crescimento que surgira após a ascensão de uma econo- mia transatlântica (GRECO, 2012 apud VARGAS et al., 2014). CIDADES DA IDADE MODERNA A partir do século XII houve crescimento econômico e com isso maior desenvol- vimento das chamadas cidade capitais. Os monarcas se consolidaram no poder. Com isso até o século XV grandes centros comerciais se concretizaram em cida- des como Constantinopla e Veneza, Florença e Paris, porém, as cidades de forma geral raramente passavam de 50 mil habitantes. O sistema de coleta de imposto se formou de forma rígida para que existisse dinheiro para a construção e o cres- cimento das cidades. Porém, o planejamento era precário, ruas estreitas, falta de serviços de higiene o que acabava por acarretar disseminações de doenças, como a peste negra que chegou a dizimar um terço da população da Europa. Boa parte do comércio começou a se estabelecer para fora das muralhas e o cresci- mento das cidades foi ficando cada vez mais desordenado (BENEVOLO, 1993). A queda da cidade de Constantinopla (atualmente Turquia) consolidou o início da Idade Moderna (Renascentismo), pois o domínio da cidade para os Otomanos mudou o comércio mundial para o oceano Atlântico. Constantinopla era, até o momento de sua queda, uma das cidades mais importantes no mundo, pois sua localização funcionava como ponte para as rotas comerciais que liga- vam a Europa à Ásia por terra (ABIKO et al. 1995). Evolução Histórica das Cidades Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 No século XVI começaram as invasões e ocupações iniciais na América, com cidades fundadas seguindo traçados pré-determinados, ou seja, embasados no planejamento das cidades europeias, como por exemplo: Cidade do México, Filadélfia, Washington, Lima e Buenos Aires (CASILHA; CASILHA, 2009). O desenho urbano da época elaborava cidades com predominância de traça- dos regulares, com simetria de proporções rígidas na execução das vias e praças. Eram cidades que seguiam um modelo uniforme, como um tabuleiro de xadrez, definindo quarteirões iguais, na maioria das vezes quadrados. Nas áreas centrais continuavam as praças com igrejas e edifícios de organização social (paço muni- cipal, comércio e casa dos mais ricos) (BENEVOLO, 1993). No século XVIII as cidades americanas já cresciam vertigi- nosamente, tendo um tráfego de veículos (carroças) extremos com engarrafamentos frequentes. Boa parte das cidades americanas sur- giram com o comércio forte da idade moderna, porém, com a revolução industrial novos planejamentos e formações vieram (CONSCIENCE PRODUCTIONS, 2012, on-line)1. CIDADES DA IDADE CONTEMPORÂNEA Surgiu a revolução industrial e com ela grande modificações econômicas, sociais e ambientais no mundo. As cidades sofreram alterações em seu planejamento devido a isso. Houve um explosivo crescimento demográfico nas cidades, iniciando na Inglaterra depois França e Alemanha. Após 1850 ocorreu a quadruplicação da população mundial e com isso a população urbana se multiplicou por dez (HAROUEL, 1990). Figura 5 - Queda de Constantinopla em 1453 HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DO PLANEJAMENTO URBANO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 Na Europa como nos Estados Unidos o uso dos trens colaborou muito para cres- cimento e desenvolvimento das cidades, pois facilitou o comércio de importação e exportação de produtos para longas distâncias. As fábricas começaram a ser cons- truídas em proximidade das ferrovias e as habitações dos trabalhadores também, pois o transporte público ainda não existia. Viver nas cidades voltou a ser inte- ressante para as pessoas e iniciou-se o êxodo rural. As condições sanitárias das cidades não haviam evoluído muito desde a idade média, porém, mesmo assim a oferta de trabalho nas indústrias atraiu as pessoas para as cidades. Londres, o berço da revolução industrial, em 1810 passou de um milhão de habitantes, na época somente Roma havia chegado nesse nível de população (CORRÊA, 1995). Com o crescimento vertiginoso das cidades surgiram os urbanistas, pessoas que planejavam o desenho urbano para melhor adaptação da sociedade às cidades, tentando evitar os problemas urbanos. O termo foi cunhado em 1910, porém, em 1830 já havia um pensamento urbanista moderno, diferenciado do da antiguidade e idade média (BENEVOLO, 1971). As condições sanitárias e mesmo a qualidade de vida dos trabalhadores das indústrias nas cidades por volta de 1816 começa- ram a indignar uma considerável parte da sociedade e com isso foram surgindo pensamentos de reorganização das cidades. Em 1830 epidemias começaram a surgir nas principais cidades do mundo, como a cólera e o tifo, com isso, a partir de 1850 começaram adaptações amplas para melhorar as condições das princi- pais cidades do mundo, principalmente em termos sanitários. O urbanismo pre- dominante na época foi chamado de sanitarista. Muralhas foram derrubadas, as ampliações das cidades tiveram ruas mais largas entre outras ações. Paris foi uma das cidades em que houve grandes modificações, bairros com epidemias foram demolidos, áreas foram limpas, bulevares foram construídos trazendo Figura 6 - Indústria têxtil em Boston, Estados Unidos, 1910 Evolução Histórica das Cidades Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 mais verde para a cidade. Outras cidades se estimularam para fazer modifica- ções admirando o sucesso de Paris (MACEDO, 2012, on-line)2. Nesse período, Londres despejava a maior parte de seu esgoto e captava a sua água de uso comum no mesmo rio, chamado Tâmisa. Esse era um dos fatores que faziam aumentar a incidência de epidemias na cidade. Foi então, em 1848, aprovada a primeira lei sanitária, denominada Public Health Act, para sanar esse problema. Essa lei foi precursora dos Códigos Sanitários brasileiros. Aliás, foi base de todas as demais que procuram atuar no espaço urbano garantindo condições de salubridade (abaste- cimento de água e controle de sua potabilidade, canalização de esgo- tos, drenagem de áreas inundáveis, abertura de vias e vielas sanitá- rias). Seguindo essas premissas sanitárias outras cidades inglesasforam reurbanizadas: Manchester, Liverpool, Birmingham e Leeds (ABIKO et al., 1995). O sistema capitalista se soli- dificou nos principais países do mundo e com isso o espaço urbano se modificou. A cidade tornou-se um lugar privilegiado para a ocor- rência de uma série de processos sociais. De acordo com Corrêa (1995), esses processos têm sua distribuição espacial na própria organização espacial urbana, sendo eles: ■ Centralização e área central. ■ Descentralização e os núcleos secundários. ■ Coesão e as áreas especializadas. ■ Segregação e as áreas sociais. ■ Dinâmica social da segregação. ■ Inércia e as áreas cristalizadas. Figura 7 - Cidade de Londres HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DO PLANEJAMENTO URBANO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 As indústrias centralizaram as cidades, mas com o passar do tempo começou a não haver espaços centrais para as indústrias. Iniciou-se assim um processo de descentralização no começo do século XX. Indústrias mais poluentes e novas começaram a se instalar na periferia formando núcleos secundários na cidade, causando descentralização (CORRÊA, 1995). Aos poucos as indústrias se deslocaram, apenas as pequenas que consumiam pouco espaço e tinham ótimos lucros continuaram centrais, pois só assim era possível suportar os elevados preços dos imóveis do centro. A descentralização das cidades variava em função dos tipos de atividades realizadas na mesma e de suas tendências à descentralização e do tempo em sequência que essa leva para descentralizar, pela divisão territorial do trabalho e pela procura por outros seto- res da cidade (CORRÊA, 1997). O fenômeno da segregação social nas cidades, que sempre ocorreu, começa a ser acentuado com a revolução industrial. As determinações econômicas, políticas e ideológicas e a transformação das áreas centrais em áreas importantes de negó- cios, acabaram por dividir setores da cidade para cada classe social. A capacidade de renda e/ou nível cultural, involuntariamente imposta, acabava por definir a região da cidade que a pessoa iria habitar (CASTELL, 1976; LEFÉBVRE, 1991). Acabou por se formar um padrão nas cidades de “Inércia e as áreas cris- talizadas”, ou seja, regiões e edificações que se mantinham com o mesmo uso inicial, como: áreas centrais quase exclusivas ao comércio devido à alta valori- zação (CORRÊA, 1995). O automóvel foi inventado e muitas adaptações nas cidades vieram. Os tra- balhadores não precisavam mais morar tão próximos das indústrias e comércio, novos arranjos urbanos ocorreram (CONSCIENCE PRODUCTION, 2012, on-line)1. ©shutterstock A Evolução do Urbanismo e Planejamento Urbano no Mundo e no Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 A EVOLUÇÃO DO URBANISMO E PLANEJAMENTO URBANO NO MUNDO E NO BRASIL Durante os séculos XVIII e XX (idade contemporânea) acabaram por se formar dois grupos de destaque no urbanismo, os de origem antiurbana (utópicos) e os técnicos-setoriais. Os antiurbanos tinham pensamentos voltados ao socialismo, contrários a industrialização, pois seus idealizadores não queriam o desenvolvimento das indústrias, preconizavam uma organização mais comunitária, próxima da natu- reza. Planejavam cidades do início, gostavam de demolições e reconstruções grandiosas, por isso se encaixaram e foram chamados de utópicos (CAMPOS FILHO, 2001). A chamada cidade-jardim, proposta por Ebenezer Howard, pode ser descrita como uma adaptação da ideologia antiurbana, pois tenta unir uma produção agrícola com a industrial de pequena escala. O desejo de Howard era compor cidades de 30 mil habitantes, planejadas como antídoto para os males da indus- trialização selvagem (CAMPOS FILHO, 2001). Três princípios fundamentam o trabalho de Howard: eliminação da especulação dos terrenos (deveriam pertencer à comunidade, que os alugaria); controle do crescimento e limitação da popu- lação (a cidade deveria estar cercada por um cinturão agrícola que forneceria HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DO PLANEJAMENTO URBANO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 toda a subsistência da população) e deveria existir um equilíbrio funcional entre cidade e campo, residência, comércio e indústrias (ABIKO et al. 1995). A ideia de urbanismo de Howard tem até hoje boa aceitação, principalmente na Inglaterra e acabou por influenciar o desenho urbano de muitas cidades e bairros no Brasil como: Maringá, Goiânia, Jardim América e Barra da Tijuca. Os técnicos-setoriais se diferenciavam dos antiurbanos, pois procuravam resolver os problemas de forma pontual, faziam remediações isoladas, não pos- suíam visão global. Não tinham grandes planos utópicos (ABIKO et al. 1995). Após a segunda guerra mundial houve uma tentativa de reduzir o crescimento de Londres. Foi implantado um cinturão verde de produção agrícola e uma rede de pequenas e médias cidades-satélites no seu entorno. Buscava-se subdividir o espaço urbano em unidades autossuficientes quanto possível. Essa solução apro- ximou urbanistas antiurbanos dos técnicos-setoriais (CAMPOS FILHO, 2001). Muitos trabalhos de cunho científico, voltados à economia e sociologia, acabaram por ajudar na evolução do urbanismo. Podem-se destacar os traba- lhos dos alemães Engels e Marx, que viveram nos anos de 1800 e solidificaram o pensamento socialista. Foram eles que trouxeram um pensamento sobre a terra urbana (imóvel) como mercadoria, como fornecedora de renda, que atualmente são assuntos diretamente vinculados ao planejamento urbano e aos planos dire- tores. O problema da habitação de qualidade, com o mínimo de infraestrutura foi assunto muito discutido na obra de Engels. O pensamento marxista acabou por colaborar para a construção de um urbanismo mais sistemático e científico (CAMPOS FILHO, 2001). No início do século XIX surgiram vários urbanistas que seguiam ideias base- adas em unir os ideais antiurbanos e técnico-setoriais, que foram chamados de globalizantes utópicos pró-industriais e pró-urbanos. Destaca-se, nessa época, Le Corbusier, que visou combinar áreas verdes, edificações verticais e alta den- sidade urbana, a fim de reduzir custos da urbanização, um pensamento ainda atual e bastante interligado com o pensamento do desenvolvimento sustentável (CAMPOS FILHO, 2001). A Evolução do Urbanismo e Planejamento Urbano no Mundo e no Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 Em 1933, ocorreu o IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (C.I.A.M), cujo tema foi a ‘Cidade Funcional’. Foi um evento histórico com a participação de profissionais de renome do urbanismo e que solidificou o pensa- mento urbanista denominado racionalista ou funcionalista. As conclusões desse encontro foram reunidas em um documento denominado a Carta de Atenas, em que foram determinadas ações para o desenvolvimento de um urbanismo menos estético e mais funcional. Foram definidas quatro funções fundamen- tais para uma cidade: habitar; trabalhar; circular e cultivar o corpo e o espírito, sendo seus objetivos: a ocupação do solo, a organização da circulação e a legis- lação (ABIKO et al. 1995). Muito do que temos hoje no Brasil e no mundo em termos de planejamento urbano, principalmente em termos legislativos, vem das conclusões da Carta de Atenas, em que se propunha a obrigatoriedade do planejamento regional e intra-urbano, a submissão da propriedade privada aos interesses coletivos,a industrialização dos componentes, a padronização das construções e a edifica- ção como predominante no espaço urbano, mas relacionada com amplas áreas de vegetação. Ficou estabelecido o zoneamento funcional, ou seja, a separação da circulação de veículos e pedestres, a eliminação da rua corredor e uma esté- tica geometrizante. São exemplos de planejamentos baseados nessas premissas da Carta de Atenas: Rio de Janeiro e Brasília, além de várias cidades da França e Estados Unidos (ABIKO et al. 1995). As grandes críticas ao urbanismo racionalista são devido a sua visão estreita em relação às diferentes classes sociais e suas expectativas dentro das cidades, assim como, o entendimento simplificado dos motivos que levam a expansão urbana. Acreditava-se que o crescimento desmesurado de uma cidade seria fruto, quase que exclusivo, de ações de interesses privados e à displicência do poder público. Mecanismos econômicos e sociais acabaram por ficar subjuga- dos (ABIKO et al. 1995; CAMPOS FILHO, 2001). HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DO PLANEJAMENTO URBANO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 As ideias sobre urbanismo vêm evoluindo e durante o século XX foram muito discutidas. Em 1952, em La Tourrete - França, em reunião do “Grupo Economia e Humanismo”, foram fixadas novas dimensões do Planejamento Territorial, por meio da “Carta do Planejamento Territorial”, em que este ficou com seu objetivo definido da seguinte forma: criar pela organização racional do espaço e implan- tação de equipamentos apropriados, as condições ótimas de valorização da terra e as situações mais convenientes ao desenvolvimento humano de seus habi- tantes. No documento ficaram estabelecidas as vinculações entre quatro ideias básicas do Planejamento Territorial: a organização do espaço, o apetrechamento do território, o seu aproveitamento econômico e o desenvolvimento do homem (BIRKHOLZ, 1967 apud ABIKO et al., 1995). Posteriormente, em 1958, realizou-se em Bogotá - Colômbia, o “Seminário de Técnicos e Funcionários em Planejamento Urbano”, sob os auspícios do Centro Interamericano de Vivenda e Planejamento (CINVA), ocasião em que foi elabo- rada a Carta dos Andes, que constituiu um documento sobre o Planejamento Territorial Contemporâneo. Segundo a definição da Carta dos Andes: plane- jamento é um processo de ordenamento e previsão para conseguir, mediante a fixação de objetivos e por meio de uma ação racional, a utilização ótima dos recursos de uma sociedade em uma época determinada. O Planejamento é, por- tanto, processo do pensamento, método de trabalho e um meio para propiciar o melhor uso da inteligência e das capacidades potenciais do homem para benefício próprio e comum (BIRKHOLZ, 1967 apud ABIKO et al. 1995). Como veremos em capítulos subsequentes, essa definição assemelha-se ao conceito de susten- tabilidade, que hoje rege boa parte do planejamento urbano. Para Goitia (1992), em um pensamento ainda atual, existe lentidão de orga- nismos oficiais, planificadores e urbanistas em seus diagnósticos, prognósticos, ações e gestão urbana, que não alcançam a velocidade dos problemas existentes, que se ampliam de forma vertiginosa e freiam o planejamento urbano eficiente. A cidade vai-se transformando com um crescimento que acaba por não ser tec- nicamente ordenado e que naturalmente é desorganizado. Forma-se assim um A Evolução do Urbanismo e Planejamento Urbano no Mundo e no Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 crescimento urbano que produz tanto problemas nos núcleos centrais, quanto nas periferias das cidades que sofrem com a falta de acessos e de transporte cole- tivo. Acaba que muito da ordenação espacial é vinculada a acessibilidade, meios de transporte público eficazes e uma rede viária capaz e inteligentemente plane- jada para atender toda a demanda necessária. Por meio da história o urbanismo foi sendo moldado, chegando hoje ao que chamamos de planejamento urbano. Hoje o urbanismo como conceito fica definido como aquele que trabalha (historicamente) com o desenho urbano e o projeto das cidades, sem especificamente considerar todos os processos sociais que ocorrem nas cidades. Colocou-se um termo mais abrangente para abarcar toda a complexidade de fazer funcionar uma cidade: Planejamento urbano. Temos dentro do planejamento urbano visão mais ampla, muito além do desenho urbano, pois sabe-se que nas cidades temos problemáticas complexas, entreme- adas entre fatores sociais, econômicos, ecológicos, culturais, éticos, políticos, geográficos e tantos outros. Por isso, ainda não existe uma ideia unificadora que possa ser definida como a solução de todos os problemas urbanos, uma “receita de bolo” para se fazer todos os planejamentos urbanos. O que fica entendido é que apenas o planejamento urbano, sem o funcionamento de um ordenamento de cunho nacional e muitas vezes mundial, em termos de regras e legislação que busquem com eficiência bem comum, não é suficiente para controlar e absorver todos os problemas que se formam nas cidades. A busca pelo desenvolvimento sustentável vem sendo um caminho de ligação no mundo todo para a construção de cidades cada vez mais equilibradas em termos sociais, econômicos, culturais e ambientais. Historicamente fica clara a influência das tecnologias sobre as modi- ficações urbanas, a humanidade vem conseguindo se adaptar e alterar o espaço urbano para melhor. Principalmente, devido ao surgimento de novas tecnologias, pois nos dias atuais a importância dessas evoluções científicas é cada vez maior. ©shutterstock HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DO PLANEJAMENTO URBANO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 PRINCIPAIS PROBLEMÁTICAS E IMPACTOS AMBIENTAIS URBANOS Com a maioria das pessoas vivendo nas cidades não é de se admirar que tenha- mos hoje um mundo de problemas a serem resolvidos nesses centros urbanos. Muitos problemas estão presentes desde as cida- des mais antigas, fazem parte do histórico do planejamento urbano e até hoje não se conseguiu sobrepujá-los totalmente. Logicamente a maioria desses problemas não serão resolvidos apenas com novas O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO O processo de urbanização, principalmente nos países em desenvolvimen- to, é uma das mais agressivas formas de relacionamento entre o homem e o meio ambiente. As cidades antigas eram menores, mais harmônicas e, mes- mo quando erguidas em locais ambientalmente inadequados, agrediam menos o meio ambiente. A partir da revolução industrial, o processo de crescimento das cidades se acelerou pelas duas razões já apontadas: a necessidade de mão-de-obra nas indústrias e a redução do número de trabalhadores no campo. A industria- lização promoveu de modo simultâneo os dois eventos, um de atração pela cidade, outro de expulsão do campo. Antes da revolução industrial não ha- via nenhum país onde a população urbana predominasse. No começo deste século, apenas a Grã-Bretanha possuía a maior parte de sua população vi- vendo em cidades (MUNFORD, 1982). Pode-se afirmar que o Século XX é o século da urbanização, pois nele se acentuou o predomínio da cidade sobre o campo. Fonte: adaptado de Educoas (2016, on-line)³ Principais Problemáticas e Impactos Ambientais Urbanos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 propostas de arranjo urbano, dependem de políticas eficientes mundiais, nacio- nais e regionais, principalmente nas dimensõessociais, econômicas, ambientais e culturais. Vamos demonstrar as principais problemáticas urbanas mundiais e por consequência os impactos ambientais que são causados. Considero importante, antes de analisarmos as problemáticas, esclarecer o conceito legislativo de impacto ambiental. Segundo Sánchez (2006), o impacto ambiental é um desequilíbrio provocado pelo choque da relação do homem com o meio ambiente. O impacto ocorre quando se muda uma situação base, ou seja, situação ambiental existente ou uma condição na ausência de determi- nada atividade. Conforme a Resolução n° 01/86 CONAMA, impacto ambiental pode ser definido como: [...] qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou ener- gia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as ativida- des sociais e econômicas; a biota e a qualidade dos recursos ambientais (RESOLUÇÃO CONAMA 01/86, Art. 1, Parágrafo 1, on-line)4. Conforme o inciso II do artigo 6º dessa resolução, o impacto ambiental pode ser positivo (benéfico) ou negativo (adverso), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e permanentes, e pode proporcionar ônus ou benefícios sociais. O impacto pode possuir também seu grau de reversibili- dade, e propriedades cumulativas e sinérgicas. São essas as características dos impactos ambientais estudadas e analisadas nos licenciamentos ambientais de empreendimentos impactantes. Nos próximos capítulos falaremos mais sobre o licenciamento ambiental e sua importância para o planejamento urbano, por enquanto, é importante guardar bem a conceituação de impacto ambiental. Importante ressaltar que o impacto ambiental dentro dessa concepção legal só existe por meio da atividade humana no contexto, ou seja, não pode ser resul- tante de fenômenos naturais. Sendo assim, mesmo grandes alterações do ambiente causadas por furacões, terremotos, chuvas intensas dentre outros não se enqua- dram como impactos ambientais, sendo considerados por muitos autores como efeitos ambientais (SILVA, 1999; MOREIRA, 1985). HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DO PLANEJAMENTO URBANO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 Para que ocorra um impacto ambiental sempre existe o que se chama de aspectos ambientais, que são as causas potenciais de impactos, ou seja, se con- cretizam como causas quando o impacto acontece. O “aspecto” é definido pela NBR ISO14001 como “elementos das atividades, produtos e serviços de uma organização que podem interagir com o meio ambiente”. O aspecto tanto pode ser uma máquina ou um equipamento como atividade executada por ela ou por alguém que produzam (ou possam produzir) algum efeito sobre o meio ambiente. Chamamos de “aspecto ambiental significativo” aquele aspecto que tem um impacto ambiental significativo, podendo ser positivo ou negativo. Resumindo, caro (a) aluno(a), aspecto ambiental seria qualquer interven- ção indireta ou direta de atividades ou serviços de uma determinada empresa ou cidade sobre o meio ambiente, quer seja adversa ou benéfica. Para exemplificar podemos dizer que dentro de uma cidade pode ocorrer uma atividade admi- nistrativa (descarte de resíduos sólidos em lixão a céu aberto) que acarreta um aspecto ambiental (geração de poluentes - chorume) e que por sua vez pode acar- retar um impacto ambiental (poluição do lençol freático através de chorume). O quadro a seguir mostra exemplos de atividades, aspectos e impactos ambien- tais que podem ocorrer em uma cidade. Quadro 2 – Atividades antrópicas, aspectos ambientais e impactos ambientais em centros urbanos ATIVIDADE ASPECTO AMBIENTAL IMPACTO AMBIENTAL Aplicação de políticas ficais injustas. Geração de Desigualdade Social e favelização. Erosão, poluição de nascentes, perda de área florestal entre outros. Descarte de Resíduos Sólidos em Aterro controlado. Geração de chorume e gases poluentes. Poluição da atmosfera e de recursos hídricos entre outros. Transporte Coletivo Inadequado e inefi- ciente. Geração de tráfego intenso de veículos. Poluição atmosférica, aumen- to de problemas de saúde entre outros. Fonte: o autor Principais Problemáticas e Impactos Ambientais Urbanos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 37 Quando existe planejamento urbano inadequado ou falho, os impactos ambien- tais vão crescendo anualmente e, consequentemente, os danos causados por eles também. Assim forma-se o que chamamos de passivo ambiental. Trata-se de um termo com foco na atuação de empresas, porém, é funcional para a administra- ção de uma cidade. Passivo ambiental são os danos causados ao meio ambiente, as atividades e o custo de recuperação desses danos, representa a obrigação, a responsabilidade social da empresa ou administração pública com aspectos ambientais (RIBEIRO; GRATÃO, 2000). O que chamamos de problemáticas urbanas é o complexo conjunto de atividades, aspectos e impactos que ocorrem nas cidades, causando prejuízos à sociedade. Analisando o histórico do surgimento das cidades, é notável que o aden- samento populacional nas cidades e seu crescimento vertiginoso são as causas (aspectos ambientais) de inúmeros impactos ambientais. Além disso, a forma como muitas cidades foram surgindo, sem nenhum planejamento ou com apenas instruções básicas, também colaboraram muito na formação de problemáticas urbanas. Essas chamadas cidades espontâneas, em que as áreas simplesmente eram ocupadas, criando-se ruas para a mobilidade da população, edificações habitacionais no entorno e uma área central destinada a comércio e serviços, trouxeram visão estreita do que realmente é um planejamento urbano (VARGAS et al., 2014). As problemáticas urbanas estão ligadas aos impactos ambientais, pois grande parte dos problemas que observamos nas cidades vem de alterações antrópicas (feitas pelo homem) não planejadas, ou com planejamentos ineficazes. Sendo assim, fica claro que as ações dos homens (humanidade) são os motores que geram problemas urbanos, aspectos ambientais e impactos ambientais. A seguir, abordaremos conceituações e caracterizações das principais pro- blemáticas urbanas e os impactos ambientais associados. Nas unidades IV e V desse livro trataremos de algumas soluções possíveis para mitigar (reduzir) ou mesmo sanar os problemas e impactos tratados nesta unidade. HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DO PLANEJAMENTO URBANO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E38 DESIGUALDADE E SEGREGAÇÃO SOCIAL O conceito de desigualdade social pode ser amplo, englobando desde desigual- dade de escolaridade, gênero, oportunidade entre outras. Porém, de forma geral entende-se desigualdade social como desigualdade econômica (renda), pois como já disse Milton Santos (2000) (geógrafo brasileiro renomado): o dinheiro é o centro do mundo. Mesmo em uma cidade bem planejada e com recursos naturais e financei- ros abundantes é comum percebemos a existência de desigualdade social, esta sempre existirá. A igualdade plena para todos os cidadãos é realmente um sonho impossível de ser alcançado, porém, quanto mais perto conseguirmos estar dessa igualdade melhor será para a sociedade em geral, para o grande coletivo de pes- soas. Em termos gerais, a desigualdade não é ruim para a sociedade, em certos níveis ela pode estimular melhoras, o grande problema está nas proporções dessa desigualdade que desde 1970 vem aumentando de forma preocupante no mundo todo (PIKETTI, 2013). De acordo como Relatório do Fórum Econômico de Davos (2016) apenas 62 pessoas detém tanta riqueza quanto à metade da população mundial. No Global Wealth Report (Relatório da Riqueza Global) do ano de 2015, elaborado pelo banco Credit Suisse, verifica-se que entre 2010 e 2015 ainda é notável e alar- mante o crescimento da desigualdade mundial. Nesse relatório fica demonstrado que a concentração de renda mundial alcançou níveis críticos, semelhantes aque- les encontrados na época da industrialização antes da Primeira Guerra Mundial. Incrivelmente os dados mostram que 0,7% da população existente possui 45,2% de toda a riqueza monetária do mundo. Os dados são semelhantes aos demons- trados por Thomas Piketti (2013), no best seller sobre desigualdade Capital no Século XXI, em que o autor fez uma análise econômica profunda e detalhada da desigualdade social no mundo. Também são similares ao Relatório do Fórum Econômico de Davos (2016) que enfatiza que entre 2010 e 2015 a desigualdade aumentou vertiginosamente, sendo demonstrado que 50% da população mun- dial diminuiu em 41% sua condição econômica, em contraponto aqueles 62 Principais Problemáticas e Impactos Ambientais Urbanos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 39 mais ricos acresceram seu patrimônio em 500 bilhões de dólares, atingindo 1,76 trilhões de dólares. O preocupante dessa aceleração da desigualdade é que se continuar teremos um colapso, pois existirá um fosso sem fim entre esses prati- camente 1% da humanidade e seu restante. Poderemos chegar ao momento em que a taxa de retorno do capital (taxa de lucro de investimentos e empreendi- mentos do mundo) passe a ser maior do que a taxa de crescimento da economia mundial, ou seja, os grandes empresários e acionistas ficarão mais poderosos que a economia mundial. Hoje, já estamos com um poder exacerbado nas mãos de poucos e a tendência é isso aumentar (PIKETTI, 2013). No Brasil, a desigualdade social historicamente é acentuada. Vem diminuindo com oscilações nos últimos 20 anos, porém, ainda de forma tímida. Os dados de imposto de renda e índices associados à desigualdade são pouco divulgados e alguns não possuem boa confiabilidade o que traz dificuldades para trazer resultados completos sobre a desigualdade social brasileira. Segundo dados da ONU, em 2005 o Brasil era a 8º nação mais desigual do mundo. O índice Gini, que mede a desigualdade de renda, divulgou em 2009 que a do Brasil caiu de 0,58 para 0,52 (quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade). Em 2015 o Global Wealth Report (Relatório da Riqueza Global) demonstrou que o Brasil teve queda da desigualdade, seguindo caminho inverso da maioria dos paí- ses. Apesar das reduções o Brasil continua fortemente desigual como confirma dados de 2012 das declarações de Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), que demonstram que os 50% mais pobres possuem apenas 2% do patrimônio bra- sileiro, 8,13% das pessoas possuem 87,40% da riqueza e somente 0,9% detêm 59,90% da renda brasileira. Nas cidades essa desigualdade brasileira pode ser observada na favelização, pobreza, miséria, desemprego, desnutrição, marginalização, violência e causa a chamada segregação, pois tamanha discordância de renda traz ocupação do espaço diferenciada, mesmo que o poder público faça o melhor zoneamento urbano e consiga boa infraestrutura para a cidade. A contradição que envergonha nossa nação nesses dados é que o Brasil possui o décimo maior PIB do mundo. HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DO PLANEJAMENTO URBANO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E40 A solução para desigualdade social se concentra na educação de qualidade bem distribuída no mundo, em políticas fiscais justas, salários justos e infra- estrutura de saúde, mobilidade e saneamento (ONU, 2012). A diminuição da desigualdade só será possível por meio das instituições de um país, principal- mente as educativas. Parte dessas soluções podem se enquadrar no planejamento urbano de uma cidade, outras dependem de outros setores e gestões políticas com planejamento de longo prazo. A desigualdade social é um problema que visualizamos nas cidades e que acaba por ter sinergia com outros problemas e que, por fim, acarretam impactos ambientais. Para exemplificar, vamos lembrar que as ocupações ilegais e favelas tem ligação direta com a desigualdade social. Como sabemos as áreas centrais ou com boas infraestruturas de uma cidade são mais valorizadas e essa valori- zação dificilmente decai. O imóvel e terrenos no Brasil de modo geral são caros, sendo que para maioria da população brasileira se torna inviável adquirir um imóvel, mesmo com trabalho e dedicação durante uma vida inteira. Imóveis de qualidade e bem localizados acabam só sendo possíveis para pessoas afortunadas, que conquistaram boas oportunidades ou receberam herança de parentes ricos. Até mesmo o aluguel de um imóvel pode ser inviável, com isso, fica difícil evitar a favelização. Através das favelas surge o poder do crime organizado e gera-se aumento de violência. Em termos ambientais por essas favelas ou áreas de ocu- pação ilegal serem normalmente em áreas de morro ou naturais, ocorrem desmatamentos, ero- são, desbarrancamentos entre outros impactos. Essas regiões acabam por não ter infraestru- tura de esgoto ou água pluvial, até mesmo a coleta de lixo usual- mente pode não ocorrer, sugere então a poluição de nascentes, rios, solo e lençol freático. Figura 8 - Favela da Rocinha, Rio de Janeiro, Brasil Principais Problemáticas e Impactos Ambientais Urbanos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 41 As ocupações ilegais e a favelização são parte integrante do processo de urba- nização no Brasil, existindo como prática de mais de 100 anos atrás. A partir dos anos 80 as invasões evoluíram de simples ocupações gradativas de famílias carentes para enormes ocupações massivas e organizadas. Isso se deve em parte a crise econômica que se iniciou em 1979. Várias cidades brasileiras apresen- tam, a partir dessa data, a ocorrência de ocupações coletivas e organizadas de terra, mais raras nas décadas anteriores (MARICATO, 1999). Hoje temos ocu- pações massivas e gradativas ocorrendo, movimentos de sem teto se amplificam e o número e extensão de favelas ainda cresce nas principais cidades brasileiras. CARÊNCIA DE SANEAMENTO BÁSICO Saneamento básico envolve um conjunto de serviços e ações que tem o intuito de promover a salubridade ambiental, trazendo assim maior qualidade de vida tanto em zonas urbanas como rurais. Acaba sendo um arcabouço de medidas para mitigação (redução) de impactos ambientais, além de um instrumento da saúde pública que intervém sobre o meio físico do homem para eliminar as con- dições deletérias da saúde. De acordo com Andrade (2013, on-line)5 os serviços relacionados ao Saneamento Básico, são: ■ Abastecimento de água. ■ Coleta, remoção, tratamento e disposição final dos esgotos. ■ Coleta, remoção, tratamento e disposição final de resíduos sólidos, lixos. ■ Drenagem das águas pluviais. ■ Higiene dos locais de trabalho e de lazer, escolas e hospitais. ■ Higiene e saneamento de alimentos. ■ Controle de artrópodes e de roedores (vetores de doenças). ■ Controle de poluição do solo, do ar e da água, poluição sonora e visual. ■ Saneamento em épocas de emergência (quando ocorrem calamidades ou desastres ambientais). HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DO PLANEJAMENTO URBANO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E42 O Brasil tem carência de todos esses serviços em muitas regiões, porém, de maneira geral é mais evidente os descasos com os resíduos sólidos, que tratare- mos em item específico devido suas particularidades; abastecimento de água; drenagem das águas pluviais; e o que tange o esgoto sanitário. Focaremos então nos problemas envolvendo essas três últimas grandes áreas do saneamento. O Saneamento Básico de maneira geral, envolve o recurso natural deno- minado água, que possui algumas informações básicas. Trata-se de um recurso natural renovável, ou seja, sua quantidade não se altera no planeta (se mantem em um ciclo). O que pode ser alterado é sua distribuição e qualidade. Segundo o Atlas da Água, dos especialistas norte-americanos Robin Clarke e Jannet King, a Terra dispõe de aproximadamente 1,39 bilhão de quilômetros cúbicos de água, e essa quantidade não vai mudar. A água encontra-se distribuída entre doce e salgada da seguinte forma 97,5% salgada (mares e oceanos) e apenas 2,5% doce. Dessa quantidade de água doce 68,9% encontra-se em forma de gelo (calotas polares, geleiras e no cume de montanhas); 29,9% são águas subterrâneas (aquí- feros); 0,9% são de áreas brejosas e pântanos; e apenas cerca de 0,3% estão nos rios e lagos. Utilizamos essa água doce principalmente de rios e lagos, destinando 70% para a irrigação na agricultura; 20% para a indústria e cerca de 10% para uso humano e tratamento de animais. De acordo com o relatório trienal divulgado em 2009 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), se o tratamento e uso da água no mundo continuar degradante, em 2025, cerca de 3 bilhões de pessoas sofrerão com a escassez de água, devido à poluição desenfreada e das modificações em sua distribuição no planeta. O maior problema da água no mundo é sua distribuição: 60% em apenas 9 países, enquanto 80 outros enfrentam escassez. Estima-se que menos de um bilhão de pessoas consomem 86% da água existente; 1,4 bilhões sofrem de escassez e 2 bilhões não possuem água tratada, o que acarreta 85% das doenças segundo Organização Mundial da Saúde (2015). O descaso com o tratamento da água é enorme, pois se estima que mais de 80% da água usada no mundo não é cole- tada e nem tratada, isso ocorre principalmente nos países em desenvolvimento. Principais Problemáticas e Impactos Ambientais Urbanos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 43 Mesmo a água sendo um recurso renovável existe um tempo para que ocorra sua renovação (cerca de 43 mil km cúbicos por ano) para possibilitar o uso humano, com isso, pode-se prever que seriam necessários 3,5 vezes a quantidade de água doce do mundo se toda a população mundial consumisse água como um euro- peu ou americano (OMS, 2015). No Brasil água é um recurso abundante, possuímos os dois dos maiores aquíferos do mundo (Guarani e Alter do Chão), além de uma quantidade inve- jável de rios e lagos (cerca de 12% da água doce do mundo). Porém, o nível de poluição sobre nossas águas e desperdício é imenso, principalmente, devido à contaminação vinda de produtos químicos de origem agrícola (pesticidas), industrial (chumbo e outros metais pesados) e residencial (esgoto doméstico). Outro problema é que possuímos território vasto e a água acaba por ser desi- gualmente distribuída: 72% na região amazônica, 16% no Centro-Oeste, 8% no Sul e no Sudeste e 4% no Nordeste. O Instituto Trata Brasil (2016, on-line)6 traça um diagnóstico da situação brasi- leira em termos de abastecimento: ■ 82,5% dos brasileiros são atendidos com abastecimento de água tratada. Porém, mais de 35 milhões de brasileiros ficam sem o acesso a este ser- viço básico. ■ A cada 100 litros de água coletados e tratados, em média, apenas 67 litros são consumidos. Perde-se 37% da água, seja com vazamentos, roubos e ligações clandestinas, falta de medição ou medições incorretas no con- sumo de água. ■ A soma do volume de água perdida por ano nos sistemas de distribuição das cidades daria para encher 6 (seis) sistemas Cantareira. ■ A região Sudeste apresenta 91,7% de atendimento total de água; enquanto isso, o Norte apresenta índice de 54,51%. A região Norte é a que mais perde, com 47,90%; enquanto isso, o Sudeste apresenta o menor índice com 32,62%. HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DO PLANEJAMENTO URBANO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E44 ■ A média de consumo per capita de água no Brasil em três anos é de 165,3 litros por habitante ao dia. Em 2014, este valor foi 162 l/hab.dia. Em três anos, a região Sudeste apresentou o maior índice com 192 l/hab.dia e o menor foi o Nordeste com 125,3 l/hab.dia. Em 2014, o Sudeste conti- nuou como maior índice 187,9 l/hab.dia e o Nordeste como o menor de 118,9 l/hab.dia. A drenagem das águas de uma cidade é outro requisito importante do Saneamento Básico, que influi na qualidade das águas. Quando mal implementado e geren- ciado pode causar grandes prejuízos e impactos ambientais. Nas cidades ocorre uma grande impermeabilização do solo, as calçadas, ruas e edificações impedem que a água da chuva possa infiltrar no solo. Essa água da chuva é conduzida pelas chamadas galerias pluviais para bacias hidrográficas do município (nascentes, córregos e rios). A população de uma cidade raramente percebe os impactos que as águas pluviais acabam por fazer nas bacias hidrográficas, que normalmente estão em Áreas de Preservação Permanente (APP) (matas ciliares, parques, nas- centes), pois os estragos ficam escondidos pelo mato. Quando chove o lixo que a população descarta nas ruas acaba indo diretamente para essas áreas naturais contaminando rios e animais, além de condicionar o aparecimento de vetores de doenças. Além disso, as águas pluviais, na maioria dos casos, acabam adquirindo velocidades intensas dentro do sistema de drenagem e quando são descartadas causam erosões enormes deformando leitos de rios, podendo chegar a causar o aterramento do leito original. A seguir seguem fotos dos municípios de Maringá e Umuarama no Paraná, em que constata-se grandes impactos das águas plu- viais em APP dessas cidades. Principais Problemáticas e Impactos Ambientais Urbanos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 45 Figura 9 - Galeria pluvial no Parque Municipal dos Xetá - Umuarama. Fonte: o autor Figura 10 - Saída de várias galerias pluviais em área de nascentedo corrego principal do Parque dos Xetá. Fonte: o autor. Figura 11 - Voçoroca degradando leito de córrego do Parque Municipal dos Xetá. Fonte: o autor. Figura 12 - Voçoroca causada por descarga de água pluvial no Bosque dos Pioneiros – Maringá-PR. Fonte: o autor. Figura 13 - Erosão nas margens do Córrego Cleópatra no Bosque dos Pioneiros. Fonte: o autor. Figura 14 - Voçoroca no leiro do Córrego Cleópatra e água poluída vinda de galerias pluviais. Fonte: o autor. HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DO PLANEJAMENTO URBANO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E46 A infiltração é importante dentro do ciclo natural da água (ciclo hidrológico), pois regula a vazão dos rios, distribuindo-a ao longo de todo o ano, evitando, assim, os fluxos repentinos, que provocam inundações. A impermeabilização de grandes áreas como o que ocorre nas cidades traz graves problemas de infiltra- ção, justamente por isso é importante haver considerável porcentagem de áreas permeáveis