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Níveis de Linguagem

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NÍVEIS DA LINGUAGEM
Acompanhe a crônica de Danusa Leão sobre a adequação da linguagem no tempo. 
Como dá trabalho ser (parecer) jovem
Q
uem não for jovem, nos dias de hoje, não é ninguém. E se tiver chegado a uma 
idade que não dê mais para disfarçar, então vai ter que apelar, despudoradamen­
te, e usar de todos os meios para poder entrar na onda, gostou do termo?
as roupas, por exemplo, têm que ser ousadas e modernas e, mesmo que o corpo não 
suporte mais um jeans 38, é muito melhor parecer maluca do que uma senhora distinta.
Em primeiro lugar, várias peças de oncinha têm que fazer parte de sua vida: um len- 
cinho, um legging, uma blusa, um blazer — e cabelo grisalho, nem pensar. Use uma cor 
bem extravagante (...).
Sua cabeça — por dentro — também tem que mudar completamente. Esteja sempre 
a favor de todas as loucuras que seus netos fizerem (...); seu cartaz vai subir às alturas, e 
ninguém — ninguém mesmo — vai nem de longe ficar fazendo aqueles cálculos horren­
dos para saber quantos anos você tem.
Vai ser preciso decorar algumas expressões e palavras novas; nada evidencia mais 
a idade de uma pessoa do que termos do passado. Exemplos: não diga jamais a pala­
vra vitrola — diga som; nem fale em disco — só em CD. Se disser anúncio ou reclame, 
é uma condenação à morte; a palavra certa é publicidade, sacou? (sacou, sim — 
morou, nem pensar).
É necessário estar muito por dentro de todos os movimentos musicais, e aí é preciso 
muita cautela: não se diz piano, se diz cordas, não se diz conjunto nem orquestra, se diz 
banda — e pode falar em bateria, mas não se esqueça jamais da percussão. Deu para 
entender? Então, agora, decore. Também nunca diga que foi ver uma fita de cinema — 
é sempre um filme. E também é proibido dizer que foi ver uma peça de teatro — se diz o 
espetáculo. É, a vida é difícil, mas não existe outra solução para quem quer permanecer 
eternamente jovem. Nunca fale de retratos, só de fotos, e de preferência não mostre 
nenhuma, jamais. E, quando pretender expor uma idéia no seu trabalho, não se esqueça 
de dizer que vai apresentar um projeto, para ser respeitada, pelo chefe e pelos colegas.
Se te propuserem um trabalho novo que você não tem a menor idéia do que se trata 
e está morrendo de medo de aceitar, não confesse isso nem a seu travesseiro: diga que 
considera um desafio, e que você — claro — adora desafios. E esse novo trabalho, seja ele 
qual for, deve ser considerado um presente — a palavra da moda hoje em dia quando 
não se sabe o que dizer.
26
Se você alugar uma sala para criar — criar é ótimo — um novo projeto, diga que 
agora tem um espaço só seu; vai ser muito respeitada por isso.
E, quando começarem a falar sobre o passado, amnésia total. Tem gente que adora 
falar do Grapete1, do cuba-libre2, da voz de Orlando Silva3, das garotas do Alceu4, da 
Revista do Rádio5, do tempo dos bondes, dos cinemas Metro e Rian e de quando Mario 
Lanza6 destruía corações. Se você perceber que está entrando na onda nostálgica e pres­
tes a contribuir com a conversa lembrando dos filmes de Maria Antonieta Pons7, que ia 
ver escondido, e do corpo espetacular que tinha Elvira Pagã7, o melhor que tem a fazer é 
dizer que combinou de ver o show dos Paralamas e que depois vai a uma festa organiza­
da pela Valdemente — ou sua reputação estará destruída para sempre.
Um grande problema, essa história de querer ser jovem para sempre.
LEÃO, Danusa. 0 Estado de S. Paulo. 10 out. 1997, Caderno Cidades, p. 7.
Entendimento do texto
1. A cronista começa o texto afirmando que a pessoa de mais idade deve lançar mão 
de todos os meios para parecer mais jovem. Inicialmente, ela chama a atenção para 
as roupas, que devem ser "ousadas e modernas". Posteriormente, ela aconselha 
outro item para que as pessoas permaneçam jovens? Qual é? Por quê?
2. Quando trata do item "idade" a colunista observa inúmeros aspectos relacionados 
à linguagem não-verbal. Dê exemplos disso.
3. Quando a cronista menciona os exemplos do que não se deve dizer (vitrola, disco), 
ela está pensando principalmente em qual elemento da comunicação?
4. "Tem gente que adora falar do Grapete, do cuba-libre, da voz de Orlando Silva, das 
garotas do Alceu, da Revista do Rádio, do tempo dos bondes, dos cinemas Metro e 
Rian e de quando Mario Lanza destruía corações." Nessa passagem, o emissor admi­
te que há pessoas que "pertencem a um outro tempo". No esquema da comunica­
ção que estamos estudando (emissor, receptor, mensagem, código, canal, referen­
te), o que está em evidência no trecho? justifique sua resposta.
5. Mencionam-se no texto dois referentes muito contemporâneos — Os Paralamas e 
Valdemente. Por que a colunista deu tanta importância a eles?
1. Grapete: nome de um antigo refrigerante.
2. Cuba-libre: um tipo de bebida preparada com Coca-Cola e rum.
3. Orlando Silva: o "Cantor das Multidões" dos anos 40.
4. Garotas do Alceu: coluna jornalística escrita pelo cronista Stanislaw Ponte Preta nos anos 50 e 60.
5. Revista do Rádio: popular veículo de mídia dos anos 50 e 60.
6. Mario Lanza: um grande tenor, célebre também como ator de cinema.
7. Maria Antonieta Pons e Elvira Pagã: famosas coristas (teatro do rebolado) dos anos 50.
27
A linguagem nivela-se ao emissor e ao receptor
Como se viu na crônica de Danusa Leão, para que haja uma comunicação eficaz é 
necessário haver um código comum, "falar a mesma língua".
Temos uma só língua portuguesa — o nosso código comum —, mas praticada de 
várias maneiras.
O português falado pelos ado­
lescentes não é o mesmo praticado 
por uma senhora mais velha. Assim, 
também, o português falado pelo 
advogado não é igual ao de seu 
cliente.
Na prática do idioma, muitos 
fatores entram em jogo, modificando 
o vocabulário, a sintaxe, a pronúncia: 
o fator social, o fator cultural, o fator 
regional, o fator econômico etc.
A peça publicitária ao lado (o 
recado escrito para Sérgio) não deixa 
dúvidas sobre a prática do idioma: 
trata-se de uma linguagem falada 
por jovens, até mesmo quanto ao 
veículo utilizado: a bota de gesso.
Há, portanto, níveis de lingua­
gem, mesmo que admitamos uma 
língua comum: o conjunto de pala­
vras, expressões e construções mais 
usadas para a comunicação.
Francis Vanoye, em seu livro Usos da linguagem: problemas e técnicas de expressão 
oral e escrita, assim distingue as linguagens:
LÍNGUA FALADA LÍNGUA ESCRITA
Linguagem oratória discursos, sermões linguagem literária, cartas e 
documentos oficiais
Linguagem cuidada cursos, comunicações orais linguagem literária, cartas e 
documentos oficiais
Linguagem comum conversação, rádio, 
televisão
comunicações escritas 
comuns
Linguagem familiar conversação informal, não 
"elaborada"
linguagem descuidada, 
incorreta, linguagem literária 
que procura imitar a língua 
falada
28
^ Exercícios e propostas de produção textual
Acompanhe um trecho de uma crônica de Rachel de Queiroz:
A língua que falamos
Esse negócio de língua estrangeira em país colonizado é fogo. A começar que a nossa 
língua oficial, o português, nós a recebemos do colonizador luso, o que foi uma bên­
ção. Imagina se, como na África, nós tivéssemos idiomas nativos fixados em profundi­
dade, ou, então, se fosse realidade a falada "língua geral" dos índios, que alguns ten­
taram, mas jamais conseguiram impor como língua oficial do brasileiro. Mesmo por­
que as tribos indígenas que povoaram e ainda remanescem pelos sertões, cada uma 
fala o seu dialeto; o pataxó, por exemplo, não tem nada a ver com o falar dos amazô­
nicos; pelo menos é o que nos informam os especialistas.
Mas, deixando de lado os índios que nós, pelo menos, pretendemos ser, falemos de nós, 
os brasileiros, com o nosso português adaptado a estas latitudes e língua oficial dos nos­
sos vários milhões de nativos. Pois aqui no Brasil, se você for a fundo no assunto, toma 
um susto.Pegue um jornal, por exemplo: é todo recheado de inglês, como um peru de 
farofa. Nas páginas dedicadas ao show business, que não se pode traduzir literalmente por 
"arte teatral", tem significação mais extensa, inclui as apresentações em várias espécies 
de salas, ou até na rua, tudo é show. E o leitor do noticiário, se não for escolado no papo, 
a todo instante tropeça e se engasga com rap, punk, funk, soap-opera, etc., etc. Cantor de 
forró do Ceará, do Recife ou Bahia só se apresenta com seu song book, onde as melodias 
podem ser originalmente nativas, mas têm como palavras-chave esse inglês bastardo que 
eles inventaram e não se sabe se nem os próprios americanos entendem. \
No esporte é a mesma coisa, ou pior. Já que os nossos esportes foram importados (até 
a palavra que os representa — sport — é inglesa). O meu querido ministro Pelé tenta 
descaracterizar um pouco o neologismo, chamando-o de "desporto". Mas não pega.
Verdade que o jornalismo esportivo procura aclimatar o dialeto, traduzindo como 
pode os nomes importados — goal keeper já é goleiro, back é beque, e há traduções já 
não tão assimiladas que ninguém diz mais senão “centroavante", "meio-de-campo", 
etc. Engraçado nós sermos um país tão apaixonado por esporte, especialmente o fute­
bol (não mais foot-ball), e nunca fomos capazes de inventar nenhuma modalidade de 
peleja esportiva. Os índios têm lá os jogos deles, mas devem ser chatos ou difíceis, já 
que a gente não os conhece nem de nome. Ficamos nas adaptações tipo "futevôlei", 
que, pelo menos, é engraçado.
1. Debata esse texto em grupo: comecem por discutir "esse negócio de país coloniza­
do"; considerem a questão levantada pela autora com relação a uma língua nativa; 
o que vocês acham dessa invasão inglesa à língua portuguesa?
2. Assinale o que pode ser considerado interpretação verdadeira (V) e interpretação 
falsa (F) com relação ao texto.
a) Nossa língua não é nativa. Foi-nos doada pelo colonizador. Nesse sentido, não é 
uma "língua geral".
31
b) A comparação entre um país que fala uma "língua geral" e um que mantém 
muitos dialetos aponta evidentemente para um bem: ao falar uma língua geral, 
o país ganha em unidade.
c) É lícito extrapolar o texto e interpretar que a falta de unidade lingüística pode 
facilitar a colonização de um país, já que não há unidade de pensamento e de 
comunicação.
d) O fato de um jornal estar "recheado de inglês, como um peru de farofa" apon­
ta para a utilização de um código diferente do português e para uma linguagem 
culta (se o leitor não for "escolado no papo").
e) "Aclimatar o dialeto", no texto, significa impor o vocabulário; daí, também, 
pode apontar a imitação à grande cultura típica do Brasil.
f) Traduções de termos muito assimilados passam a fazer parte do código de 
maneira espontânea.
3. Identifique, nos excertos abaixo, quais os níveis de linguagem utilizados, baseando-
se no quadro de Francis Vanoye (página 28). Justifique a sua resposta.
a) A Revolução Francesa, a grande incubadeira dos ideais democráticos da burguesia, 
acabou por abrir espaço para o aparecimento de um ditador como Napoleão; na 
Inglaterra, da luta contra o rei Carlos I, pela ampliação dos direitos do Parlamento, 
surge o governo de um ditador como Cromwell. Em nossos dias é freqüente ver-se a 
burguesia preferir governos ditatoriais aos invés de democracias; citemos apenas o 
caso do Chile, pois a lista é por demais longa.
SPINDEL, Arnaldo. O que são ditaduras. São Paulo, Brasiliense, 1953. p. 11.
< Os pulos começaram cedo. Aos seis anos, a catari-
| nense Michelly Machri saiu da pequena São Miguel
Q.
| D'Oeste para pular ondas na capital, Florianópolis. Aos 
e 14, pulou do primeiro para o segundo grau escolar, das 
$ ondas para as pranchas de body bording e das pranchas 
para um curso de modelos. Agora, aos 18 anos, 1,73 m 
de altura, 84 cm de busto, 91 de quadril e 61 de cintura, 
ela pula de alegria: da capital das ondas foi para a capi­
tal da moda brasileira, São Paulo, onde desponta como 
a new face da estação — nos últimos dois meses fez cinco 
editoriais de moda e dezenas de comerciais de tevê. Num 
deles, para um shopping de Brasília, usou um salto 20 
que a colocou nas nuvens: "Eu me transformava numa 
borboleta, me diverti muito”. Como toda new face, 
Michelly não escapa às comparações: "]á disseram que 
pareço Linda Evangelista e Adriana Esteves”. Sem saber, 
Michelly está pulando sua mais nobre semelhança, que 
é com a atriz italiana Omella Muti: "Não, nunca ouvi 
falar. Quem é ela mesmo?"
IstoÉ, nQ 1463, 15 out. 1997. p. 108.
b) O pulo da gata
c) Cachorro!
A multidão ferve e grita. E xinga de vagabundo a homossexual, ladrão e negro. 
Passando por bunda-mole, imbecil, safado, arrombado, tratante, comprado e vendido. 
Debaixo de um mormaço sem brisa, sem árvores e sem refresco, o herói entra em 
campo. Antes de qualquer gesto seu, é vaiado por todas as bocas, por todos os olhos, 
em saraivada, os punhos da galera socando o ar. (...)
ANTÔNIO, João. ju iz — A palavra é futebol. São Paulo, Scipione, 1993. p. 62.
Leia o texto abaixo e responda às questões 4 e 5.
Sketchs
Dois homens tramando um assalto.
— Valeu, mermão? Tu traz o berro que 
nóis vamo rendê o caixa bonitinho. 
Engrossou, enche o cara de chumbo. Pra 
arejá.
—■ Podes crê. Servicinho manero. É só 
entrá e pegá.
— Tá com o berro aí?
— Tá na mão.
Aparece um guarda.
— Ih, sujou. Disfarça, disfarça...
O guarda passa por eles.
— Discordo terminantemente. O 
imperativo categórico de Hegel chega a
Marx diluído pela fenomenologia de 
Feurbach.
— Pelo amor de Deus! Isso é o mesmo 
que dizer que Kierkegaard não passa de 
um Kant com algumas sílabas a mais. Ou 
que os iluministas do século 18...
O guarda se afasta.
— O berro, tá recheado?
— Tá.
— Então vamlá!
VERÍSSIMO, Luís Fernando. As aventuras
da família Brasil. O Estado de S. Paulo, 
8 mar. 1998.
Nesse sketch (flagrante) de Luis Fernando Verissimo, foram usados dois tipos de regis­
tro, como se vê.
4. Analise o primeiro registro utilizado.
a) Como pode ser classificado?
b) Como pode ser explicada a formação de palavras como "mermão", "vamlá"?
c) Que características guarda o segundo registro?
5. Crie dois parágrafos para substituir as duas falas intermediárias, que servem apenas 
para disfarce perante o guarda. Use o registro que julgar conveniente.
6. É dado abaixo um pequeno texto que comenta um evento esportivo:
Rubicão do Agreste F. C.
— Cheguemo. Ganhemo. Vortemo. E fiquemo esperano a revancha.
Assim falou Pé-de-Nuvem, capitão da aguerrida equipe futebolística de Vera Cruz,
. depois do antológico embate com as forças do Time do Logucedo.
PROENÇA FILHO, Domício. Breves estórias de Vera Cruz das Almas.
Rio de Janeiro, Fractal Editora, 1991.
O texto contém dois níveis distintos de linguagem. Crie um texto semelhante a este, 
sobre algum evento (esportivo ou não), mantendo dois níveis de linguagem.
33

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