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Aula Dia 14 02 2019

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I. Direitos Humanos: conceito, estrutura e sociedade inclusiva 
 
1. Conceito e estrutura dos direitos humanos 
 
Os direitos humanos consistem em um conjunto de direitos considerado indispensável para uma vida humana 
pautada na liberdade, igualdade e dignidade. Os direitos humanos são os direitos essenciais e indispensáveis 
à vida digna. 
 
Por isso, os direitos humanos têm estrutura variada, podendo ser: direito-pretensão, direito-liberdade, direito-
poder e, finalmente, direito-imunidade, que acarretam obrigações do Estado ou de particulares revestidas, 
respectivamente, na forma de: (i) dever, (ii) ausência de direito, (iii) sujeição e (iv) incompetência, como 
segue. 
 
O direito-pretensão consiste na busca de algo, gerando a contrapartida de outrem do dever de prestar. Nesse 
sentido, determinada pessoa tem direito a algo, se outrem (Estado ou mesmo outro particular) tem o dever de 
realizar uma conduta que não viole esse direito. Assim, nasce o “direito-pretensão”, como, por exemplo, o 
direito à educação fundamental, que gera o dever do Estado de prestá-la gratuitamente (art. 208, I, da CF/88). 
 
O direito-liberdade consiste na faculdade de agir que gera a ausência de direito de qualquer outro ente ou 
pessoa. Assim, uma pessoa tem a liberdade de credo (art. 5º, VI, da CF/88), não possuindo o Estado (ou 
terceiros) nenhum direito (ausência de direito) de exigir que essa pessoa tenha determinada religião. 
 
Por sua vez, o direito-poder implica uma relação de poder de uma pessoa de exigir determinada sujeição do 
Estado ou de outra pessoa. Assim, uma pessoa tem o poder de, ao ser presa, requerer a assistência da família 
e de advogado, o que sujeita a autoridade pública a providenciar tais contatos (art. 5º, LXIII, da CF/88). 
 
Finalmente, o direito-imunidade consiste na autorização dada por uma norma a uma determinada pessoa, 
impedindo que outra interfira de qualquer modo. Assim, uma pessoa é imune à prisão, a não ser em flagrante 
delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de 
transgressão militar ou crime propriamente militar (art. 5º, LVI, da CF/88), o que impede que outros agentes 
públicos (como, por exemplo, agentes policiais) possam alterar a posição da pessoa em relação à prisão. 
 
2. Conteúdo e cumprimento dos direitos humanos: rumo a uma sociedade inclusiva 
 
Apesar das diferenças em relação ao conteúdo, os direitos humanos têm em comum quatro ideias-chaves ou 
marcas distintivas: universalidade, essencialidade, superioridade normativa (preferenciabilidade) e 
reciprocidade. 
A universalidade consiste no reconhecimento de que os direitos humanos são direitos de todos, combatendo 
a visão estamental de privilégios de uma casta de seres superiores. Por sua vez, a essencialidade implica que 
os direitos humanos apresentam valores indispensáveis e que todos devem protegê-los. Além disso, os direitos 
humanos são superiores a demais normas, não se admitindo o sacrifício de um direito essencial para atender 
as “razões de Estado”; logo, os direitos humanos representam preferências preestabelecidas que, diante de 
outras normas, devem prevalecer. Finalmente, a reciprocidade é fruto da teia de direitos que une toda a 
comunidade humana, tanto na titularidade (são direitos de todos) quanto na sujeição passiva: não há só o 
estabelecimento de deveres de proteção de direitos ao Estado e seus agentes públicos, mas também à 
coletividade como um todo. Essas quatro ideias tornam os direitos humanos como vetores de uma sociedade 
humana pautada na igualdade e na ponderação dos interesses de todos (e não somente de alguns). 
 
Uma sociedade pautada na defesa de direitos (sociedade inclusiva) tem várias consequências. A primeira é o 
reconhecimento de que o primeiro direito de todo indivíduo é o direito a ter direitos. Arendt e, no Brasil, Lafer 
sustentam que o primeiro direito humano, do qual derivam todos os demais, é o direito a ter direitos*.1No 
Brasil, o STF adotou essa linha ao decidir que “direito a ter direitos: uma prerrogativa básica, que se qualifica 
como fator de viabilização dos demais direitos e liberdades” (ADI 2.903, Rel. Min. Celso de Mello, 
julgamento em 1º-12-2005, Plenário, DJE de 19-9-2008). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
II. Direitos humanos na história 
 
1. Direitos humanos: faz sentido o estudo das fases precursoras? 
 
A contar dos primeiros escritos das comunidades humanas ainda no século VIII a.C. até o século XX d.C., são 
mais de vinte e oito séculos rumo à afirmação universal dos direitos humanos, que tem como marco a 
Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948. 
 
2. A fase pré-Estado Constitucional 
 
2.1. A Antiguidade Oriental e o Esboço da Construção de Direitos 
 
O primeiro passo rumo à afirmação dos direitos humanos inicia-se já na Antiguidade, no período 
compreendido entre os séculos VIII e II a.C. Para Comparato, vários filósofos trataram de direitos dos 
indivíduos, influenciando-nos até os dias de hoje: Zaratustra na Pérsia, Buda na Índia, Confúcio na China e o 
Dêutero-Isaías em Israel. O ponto em comum entre eles é a adoção de códigos de comportamento baseados 
no amor e respeito ao outro. 
 
Do ponto de vista normativo, há tenuamente o reconhecimento de direitos de indivíduos na codificação de 
Menes (3100-2850 a.C.), no Antigo Egito. Na Suméria antiga, o Rei Hammurabi da Babilônia editou o Código 
de Hammurabi, que é considerado o primeiro código de normas de condutas, preceituando esboços de 
direitos dos indivíduos (1792-1750 a.C.), em especial o direito à vida, propriedade, honra, consolidando os 
costumes e estendendo a lei a todos os súditos do Império. Chama a atenção nesse Código a Lei do Talião, 
que impunha a reciprocidade no trato de ofensas (o ofensor deveria receber a mesma ofensa proferida). Ainda 
na região da Suméria e Pérsia, Ciro II editou, no século VI a.C., uma declaração de boa governança, hoje 
exibida no Museu Britânico (o “Cilindro de Ciro”), que seguia uma tradição mesopotâmica de autoelogio 
dos governantes ao seu modo de reger a vida social. Na China, nos séculos VI e V a.C., Confúcio lançou as 
bases para sua filosofia, com ênfase na defesa do amor aos indivíduos. Já o budismo introduziu um código de 
conduta pelo qual se prega o bem comum e uma sociedade pacífica, sem prejuízo a qualquer ser humano. 
 
2.2. A Visão Grega e a Democracia Ateniense 
 
A herança grega na consolidação dos direitos humanos é expressiva. A começar pelos direitos políticos, a 
democracia ateniense adotou a participação política dos cidadãos (com diversas exclusões, é claro) que seria, 
após, aprofundada pela proteção de direitos humanos. O chamado “Século de Péricles” (século V a.C.) testou 
a democracia direta em Atenas, com a participação dos cidadãos homens da pólis grega nas principais escolhas 
da comunidade. Platão, em sua obra A República (400 a.C.), defendeu a igualdade e a noção do bem comum. 
Aristóteles, na Ética a Nicômaco, salientou a importância do agir com justiça, para o bem de todos da pólis, 
mesmo em face de leis injustas. 
 
2.3. A República Romana 
 
Uma contribuição do direito romano à proteção de direitos humanos foi a sedimentação do princípio da 
legalidade. A Lei das Doze Tábuas, ao estipular a lex scripta como regente das condutas, deu um passo na 
direção da vedação ao arbítrio. Além disso, o direito romano consagrou vários direitos, como o da propriedade, 
liberdade, personalidade jurídica, entre outros. Um passo foi dado também na direção do reconhecimento da 
igualdade pela aceitação do jus gentium, o direitoaplicado a todos, romanos ou não. No plano das ideias, 
Marco Túlio Cícero retoma a defesa da razão reta (recta ratio), salientando, na República, que a verdadeira lei 
é a lei da razão, inviolável mesmo em face da vontade do poder. No seu De legibus (Sobre as leis, 52 a.C.), 
Cícero sustentou que, apesar das diferenças (raças, religiões e opiniões), os homens podem permanecer unidos 
caso adotem o “viver reto”, que evitaria causar o mal a outros. 
 
2.4. O Antigo e o Novo Testamento e as Influências do Cristianismo e da Idade Média 
 
Os filósofos católicos também merecem ser citados, em especial São Tomás de Aquino, que, no seu capítulo 
sobre o Direito na sua obra Suma Teológica (1273), defendeu a igualdade dos seres humanos e aplicação justa 
da lei. Para a escolástica aquiniana, aquilo que é justo (id quod justum est) é aquilo que corresponde a cada 
ser humano na ordem social, o que reverberará no futuro, em especial na busca da justiça social constante dos 
diplomas de direitos humanos. 
 
2.5. Liberdade dos Antigos e a Liberdade dos Modernos 
 
A síntese mais conhecida da concepção da Antiguidade sobre o indivíduo foi feita por Benjamin Constant, no 
seu clássico artigo sobre a “liberdade dos antigos” e a “liberdade dos modernos”. Para Constant, os antigos 
viam a liberdade composta pela possibilidade de participar da vida social na cidade; já os modernos (ele se 
referia aos iluministas do século XVIII e pensadores posteriores do século XIX) entendiam a liberdade como 
sendo a possibilidade de atuar sem amarras na vida privada. Essa visão de liberdade na Antiguidade resultou 
na ausência de discussão sobre a limitação do poder do Estado, um dos papéis tradicionais do regime jurídico 
dos direitos humanos. 
 
 
 
 
 
 
 
3. A Crise da Idade Média, início da Idade Moderna e os primeiros diplomas de direitos humanos 
 
Na Idade Média europeia, o poder dos governantes era ilimitado, pois era fundado na vontade divina. Contudo, 
mesmo nessa época de autocracia, surgem os primeiros movimentos de reivindicação de liberdades a 
determinados estamentos, como a Declaração das Cortes de Leão adotada na Península Ibérica em 1188 e 
ainda a Magna Carta inglesa de 1215. A Declaração de Leão consistiu em manifestação que consagrou a luta 
dos senhores feudais contra a centralização e o nascimento futuro do Estado Nacional. Por sua vez, a Magna 
Carta consistiu em um diploma que continha um ingrediente – ainda faltante – essencial ao futuro regime 
jurídico dos direitos humanos: o catálogo de direitos dos indivíduos contra o Estado. Redigida em latim, em 
1215 – o que explicita o seu caráter elitista –, a Magna Charta Libertatum consistia em disposições de proteção 
ao Baronato inglês, contra os abusos do monarca João Sem Terra (João da Inglaterra). Depois do reinado de 
João Sem Terra, a Carta Magna foi confirmada várias vezes pelos monarcas posteriores. Apesar de seu foco 
direitos da elite fundiária da Inglaterra, a Magna Carta traz em seu bojo a ideia de governo representativo e 
ainda direitos que, séculos depois, seriam universalizados, atingindo todos os indivíduos, entre eles o direito 
de ir e vir em situação de paz, direito de ser julgado pelos seus pares (vide Parte IV, item 23.4 sobre o Tribunal 
do Júri), acesso à justiça e proporcionalidade entre o crime e a pena. 
 
4. O debate das ideias: Hobbes, Grócio, Locke, Rousseau e os iluministas 
 
No campo das ideias políticas, Thomas Hobbes defendeu, em sua obra Leviatã (1651), em especial no 
Capítulo XIV, que o primeiro direito do ser humano consistia no direito de usar seu próprio poder livremente, 
para a preservação de sua própria natureza, ou seja, de sua vida. 
 
No mesmo século XVII, outros autores defenderam a existência de direitos para além do estado da natureza 
de Hobbes. Em primeiro lugar, Hugo Grócio, considerado um dos pais fundadores do Direito Internacional, 
fez interessante debate sobre o direito natural e os direitos de todos os seres humanos. No seu livro O direito 
da guerra e da paz (1625), Grócio defendeu a existência do direito natural, de cunho racionalista – mesmo sem 
Deus, ousou dizer em pleno século XVII –, reconhecendo, assim, que suas normas decorrem de princípios 
inerentes ao ser humano. Assim, é dada mais uma contribuição – de marca jusnaturalista – ao arcabouço dos 
direitos humanos, em especial no que tange ao reconhecimento de normas inerentes à condição humana. 
 
Por sua vez, a contribuição de John Locke é essencial, pois defendeu o direito dos indivíduos mesmo contra 
o Estado, um dos pilares do contemporâneo regime dos direitos humanos. Para Locke, em sua obra Segundo 
tratado sobre o governo civil (168910), o objetivo do governo em uma sociedade humana é salvaguardar os 
direitos naturais do homem, existentes desde o estado da natureza. 
 
Surgiu, então, o Do contrato social (1762) de Jean-Jacques Rousseau, que defendeu uma vida em sociedade 
baseada em um contrato (o pacto social) entre homens livres e iguais, que estruturam o Estado para zelar pelo 
bem-estar da maioria. A igualdade e a liberdade são inerentes aos seres humanos, que, com isso, são aptos a 
expressar sua vontade e exercer o poder. A pretensa renúncia à liberdade e igualdade pelos homens nos Estados 
autocráticos (base do pensamento de Hobbes) é inadmissível para Rousseau, uma vez que tal renúncia seria 
incompatível com a natureza humana. 
 
Kant, no final do século XVIII (178513), defendeu a existência da dignidade intrínseca a todo ser racional, 
que não tem preço ou equivalente. Justamente em virtude dessa dignidade, não se pode tratar o ser humano 
como um meio, mas sim como um fim em si mesmo. Esse conceito kantiano do valor superior e sem 
equivalente da dignidade humana será, depois, retomado no regime jurídico dos direitos humanos 
contemporâneos, em especial no que tange à indisponibilidade e à proibição de tratamento do homem como 
objeto. 
 
 
 
5. A fase do constitucionalismo liberal e das declarações de direitos 
 
As revoluções liberais, inglesa, americana e francesa, e suas respectivas Declarações de Direitos marcaram a 
primeira clara afirmação histórica dos direitos humanos. A chamada “Revolução Inglesa” foi a mais precoce 
(ver acima), pois tem como marcos a Petition of Right, de 1628 e o Bill of Rights, de 1689, que consagraram 
a supremacia do Parlamento e o império da lei. Por sua vez, a “Revolução Americana” retrata o processo de 
independência das colônias britânicas na América do Norte, culminado em 1776, e a criação da primeira 
Constituição do mundo, a Constituição norte-americana de 1787. Várias causas concorreram para a 
independência norte-americana, sendo a defesa das liberdades públicas contra o absolutismo do rei uma das 
mais importantes, o que legitimou a emancipação. 
 
Já a “Revolução Francesa” gerou um marco para a proteção de direitos humanos no plano nacional: a 
Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, adotada pela Assembleia Nacional Constituinte 
francesa em 27 de agosto de 1789. A Declaração Francesa é fruto de um giro copernicano nas relações sociais 
na França e, logo depois, em vários países. 
 
 
6. A fase do socialismo e do constitucionalismo social 
 
No plano do constitucionalismo, houve a introdução dos chamados direitos sociais – que pretendiam assegurar 
condições materiais mínimas de existência – em diversas Constituições, tendo sido pioneiras a Constituição 
do México (1917), da República da Alemanha (também chamada de República de Weimar, 1919) e, no Brasil, 
a Constituição de 1934. No plano do Direito Internacional, consagrou-se, pela primeira vez, uma organização 
internacional voltada à melhoria das condições dos trabalhadores, quefoi a Organização Internacional do 
Trabalho, criada em 1919 pelo próprio Tratado de Versailles que pôs fim à Primeira Guerra Mundial. 
 
 
 
 
 
 
7. A internacionalização dos direitos humanos 
 
Contudo, a criação do Direito Internacional dos Direitos Humanos está relacionada à nova organização da 
sociedade internacional no pós-Segunda Guerra Mundial15. Como marco dessa nova etapa do Direito 
Internacional, foi criada, na Conferência de São Francisco em 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU). 
O tratado institutivo da ONU foi denominado “Carta de São Francisco”. 
 
Porém, a Carta da ONU não listou o rol dos direitos que seriam considerados essenciais. Por isso, foi aprovada, 
sob a forma de Resolução da Assembleia Geral da ONU, em 10 de dezembro de 1948, em Paris, a Declaração 
Universal de Direitos Humanos (também chamada de “Declaração de Paris”), que contém 30 artigos e 
explicita o rol de direitos humanos aceitos internacionalmente. Embora a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos tenha sido aprovada por 48 votos a favor e sem voto em sentido contrário, houve oito abstenções 
(Bielorússia, Checoslováquia, Polônia, União Soviética, Ucrânia, Iugoslávia, Arábia Saudita e África do Sul). 
Honduras e Iêmen não participaram da votação. 
III. Terminologia, Fundamento e Classificação 
 
1. Terminologia: os direitos humanos e os direitos fundamentais 
 
Os direitos essenciais do indivíduo contam com ampla diversidade de termos e designações: direitos humanos, 
direitos fundamentais, direitos naturais, liberdades públicas, direitos do homem, direitos individuais, direitos 
públicos subjetivos, liberdades fundamentais. A terminologia varia tanto na doutrina quanto nos diplomas 
nacionais e internacionais. 
 
Nesse sentido, o uso da expressão “direito natural” revela a opção pelo reconhecimento de que esses direitos 
são inerentes à natureza do homem. Esse conceito e terminologia foram ultrapassados ao se constatar a 
historicidade de cada um destes direitos, sendo os direitos humanos verdadeiros direitos “conquistados”. 
 
Por sua vez, a locução “direitos do homem” retrata a mesma origem jusnaturalista da proteção de 
determinados direitos do indivíduo, no momento histórico de sua afirmação em face do Estado autocrático 
europeu no seio das chamadas revoluções liberais, o que imprimiu um certo caráter sexista da expressão, que 
pode sugerir preterição aos direitos da mulher. No Canadá, há o uso corrente da expressão “direitos da 
pessoa”, apta a superar o sexismo da dicção “direitos do homem”. 
 
Já a expressão “direitos individuais” é tida como excludente, pois só abarcaria o grupo de direitos 
denominados de primeira geração ou dimensão (direito à vida, à igualdade, à liberdade e à propriedade – ver 
abaixo capítulo sobre a teoria das gerações de direitos). Contudo, há vários outros direitos, tais como os 
direitos a um ambiente ecologicamente equilibrado e outros, que não se amoldam nessa expressão “direitos 
individuais”. 
 
Finalmente, chegamos a duas expressões de uso corrente no século XXI: direitos humanos e direitos 
fundamentais. Inicialmente, a doutrina tende a reconhecer que os “direitos humanos” servem para definir os 
direitos estabelecidos pelo Direito Internacional em tratados e demais normas internacionais sobre a matéria, 
enquanto a expressão “direitos fundamentais” delimitaria aqueles direitos reconhecidos e positivados pelo 
Direito Constitucional de um Estado específico. 
 
Uma segunda diferença entre “direitos humanos” e “direitos fundamentais” também é comumente assinalada: 
os direitos humanos não seriam sempre exigíveis internamente, justamente pela sua matriz internacional, tendo 
então uma inspiração jusnaturalista sem maiores consequências; já os direitos fundamentais seriam aqueles 
positivados internamente e por isso passíveis de cobrança judicial, pois teriam matriz constitucional. Ora, a 
evolução do Direito Internacional dos Direitos Humanos não se coaduna com essa diferenciação. No sistema 
interamericano e europeu de direitos humanos, os direitos previstos em tratados podem também ser exigidos 
e os Estados podem ser cobrados pelo descumprimento de tais normas (como veremos). 
 
2. Classificação dos direitos humanos 
 
2.1. A Teoria do Status e suas Repercussões 
 
2.2. A Teoria das Gerações ou Dimensões 
 
A primeira geração engloba os chamados direitos de liberdade, que são direitos às prestações negativas, 
nas quais o Estado deve proteger a esfera de autonomia do indivíduo. São denominados também “direitos de 
defesa”, pois protegem o indivíduo contra intervenções indevidas do Estado, possuindo caráter de distribuição 
de competências (limitação) entre o Estado e o ser humano. 
 
A segunda geração de direitos humanos representa a modificação do papel do Estado, exigindo-lhe um 
vigoroso papel ativo, além do mero fiscal das regras jurídicas. Esse papel ativo, embora indispensável para 
proteger os direitos de primeira geração, era visto anteriormente com desconfiança, por ser considerado uma 
ameaça aos direitos do indivíduo. Contudo, sob a influência das doutrinas socialistas, constatou-se que a 
inserção formal de liberdade e igualdade em declarações de direitos não garantiam a sua efetiva concretização, 
o que gerou movimentos sociais de reivindicação de um papel ativo do Estado para assegurar uma condição 
material mínima de sobrevivência. Os direitos sociais são também titularizados pelo indivíduo e oponíveis ao 
Estado. São reconhecidos o direito à saúde, educação, previdência social, habitação, entre outros, que 
demandam prestações positivas do Estado para seu atendimento e são denominados direitos de igualdade por 
garantirem, justamente às camadas mais miseráveis da sociedade, a concretização das liberdades abstratas 
reconhecidas nas primeiras declarações de direitos. Os direitos humanos de segunda geração são frutos das 
chamadas lutas sociais na Europa e Américas, sendo seus marcos a Constituição mexicana de 1917 (que 
regulou o direito ao trabalho e à previdência social), a Constituição alemã de Weimar de 1919 (que, em sua 
Parte II, estabeleceu os deveres do Estado na proteção dos direitos sociais) e, no Direito Internacional, o 
Tratado de Versailles, que criou a Organização Internacional do Trabalho, reconhecendo direitos dos 
trabalhadores (ver a evolução histórica dos direitos humanos). 
 
Já os direitos de terceira geração são aqueles de titularidade da comunidade, como o direito ao 
desenvolvimento, direito à paz, direito à autodeterminação e, em especial, o direito ao meio ambiente 
equilibrado. São chamados de direitos de solidariedade. São oriundos da constatação da vinculação do 
homem ao planeta Terra, com recursos finitos, divisão absolutamente desigual de riquezas em verdadeiros 
círculos viciosos de miséria e ameaças cada vez mais concretas à sobrevivência da espécie humana. 
 
Posteriormente, no final do século XX, há aqueles, como Paulo Bonavides, que defendem o nascimento da 
quarta geração de direitos humanos, resultante da globalização dos direitos humanos, correspondendo aos 
direitos de participação democrática (democracia direta), direito ao pluralismo, bioética e limites à 
manipulação genética, fundados na defesa da dignidade da pessoa humana contra intervenções abusivas de 
particulares ou do Estado. Bonavides agrega ainda uma quinta geração, que seria composta pelo direito à paz 
em toda a humanidade (anteriormente classificado por Vasak como sendo de terceira geração). Parte da 
doutrina critica a criação de novas gerações (qual seria o limite?), apontando falhas na diferenciação entre as 
novas gerações e as anteriores da dificuldade em se precisar o conteúdo e efetividade dos “novos” direitos.2.3. A Classificação Adotada na Constituição de 1988 
 
A Constituição de 1988 dividiu os direitos humanos, com base no seu Título II (denominado, sugestivamente, 
“Dos Direitos e Garantias Fundamentais”), em cinco categorias, a saber: a) direitos e deveres individuais e 
coletivos; b) direitos sociais; c) direitos de nacionalidade; d) direitos políticos; e e) partidos políticos. 
 
2.3.1. Direitos Individuais 
 
Os “direitos individuais” consistem no conjunto de direitos cujo conteúdo impacta a esfera de interesse 
protegido de um indivíduo. Por isso, são também considerados como sinônimos de “direitos de primeira 
geração”, pois representam os direitos clássicos de liberdade de agir do indivíduo em face do Estado e dos 
demais membros da coletividade. Representam direitos tanto a ações negativas do Estado (abstenção de agir 
do Estado) quanto a ações positivas (prestações). Na Constituição brasileira, são conhecidos também como 
sendo os direitos do “rol do art. 5º”, no qual constam os direitos à vida, liberdade, segurança individual, 
integridade física, igualdade perante a lei, intimidade, entre outros. 
 
2.3.2. Direitos Sociais 
 
Os direitos sociais consistem em um conjunto de faculdades e posições jurídicas pelas quais um indivíduo 
pode exigir prestações do Estado ou da sociedade ou até mesmo a abstenção de agir, tudo para assegurar 
condições materiais e socioculturais mínimas de sobrevivência. Historicamente, os direitos sociais são frutos 
das revoluções socialistas em diversos países, tendo sido inseridos, no campo constitucional, de modo pioneiro 
na Constituição do México de 1917 e na Constituição de Weimar (Alemanha) de 1919. No Direito 
Internacional, o Tratado de Versailles (1919) é inovador ao constituir a Organização Internacional do 
Trabalho, existente até hoje e que tem como missão precípua a defesa dos direitos dos trabalhadores. No 
Brasil, a Constituição de 1934 é o marco inicial da introdução dos direitos sociais, porém estes foram incluídos 
no capítulo da “ordem econômica e social”. Já a Constituição de 1988 tem um capítulo específico (“Direitos 
Sociais”, arts. 6º ao 11) no Título II (“Direitos e Garantias Fundamentais”) e ainda consagrou o princípio da 
não exaustividade dos direitos sociais, o que permite extrair novos direitos sociais decorrentes do regime e 
princípios, bem como dos tratados celebrados pelo Brasil (art. 5º, § 2º). 
 
2.3.3. Direito à nacionalidade 
 
Tradicionalmente, a nacionalidade é definida como sendo o vínculo jurídico entre determinada pessoa, 
denominada nacional, e um Estado, pelo qual são estabelecidos direitos e deveres recíprocos. No século XX, 
com a consolidação do Direito Internacional dos Direitos Humanos, a nacionalidade passa também a ser 
considerada direito essencial, previsto no artigo XV da Declaração Universal de Direitos Humanos e em 
diplomas normativos internacionais posteriores. 
 
O povo é formado pelo conjunto de nacionais, sendo elemento subjetivo do Estado. A fixação de regras para 
a determinação da nacionalidade foi lenta e somente se desenvolveu a partir das revoluções liberais, que 
geraram a consequente afirmação da participação popular no poder. Assim, era necessário determinar quem 
era nacional, ou seja, quem era membro do povo e, por consequência, deveria participar, direta ou 
indiretamente, da condução dos destinos do Estado. A França foi o primeiro Estado, no pós-Revolução de 
1789, a estabelecer regras constitucionais referentes à nacionalidade (Constituição de 1791, arts. 2º a 6º). 
 
O modelo francês de instituir as regras sobre nacionalidade no texto constitucional foi seguido pelo Brasil e a 
Constituição de 1988 estabelece as regras básicas sobre a nacionalidade em seu art. 12. Há ainda normas 
internacionais de direitos humanos dispondo sobre a nacionalidade, como a Declaração Universal de Direitos 
Humanos (1948), que prevê que todos têm direito a uma nacionalidade e ninguém será arbitrariamente privado 
de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade (artigo XV). 
 
2.3.4. Direitos Políticos e os partidos 
 
Os direitos políticos constituem em um conjunto de direitos de participação na formação da vontade do poder 
e sua gestão. Expressam a soberania popular, representada na máxima “todo poder emana do povo” prevista 
no art. 1º da Constituição de 1988. Os direitos políticos são compostos por direitos de participação, permitindo 
o exercício do poder pelo povo de modo direto (a chamada democracia direta ou participativa) ou indireto (a 
chamada democracia indireta ou representativa). Essa participação não se dá tão somente no exercício do 
direito de votar e ser votado, mas também na propositura de projetos de lei (iniciativa popular) e na ação 
fiscalizatória sobre os governantes (a ação popular). No Brasil, os direitos políticos são exercidos não somente 
pelo direito de votar e ser votado em eleições, mas também por instrumentos de democracia direta, tais como 
o plebiscito, o referendo, a iniciativa popular (CF/88, art. 14, I a III), regidos pela Lei n. 9.709/98, e, no que 
tange à fiscalização do Poder, pela ação popular (art. 5º, LXXIII).

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