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Teorias sobre aquisicao da linguagem

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TEORIAS SOBRE A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM
1. O Inatismo
A ideia de inato no homem não foi lançada por Chomsky. Na realidade, esse pensamento surgiu na mais remota antiguidade, antes de Cristo, com as religiões reencarnacionistas. Essas acreditavam em uma alma imortal, que por ter já vivido tantas vezes tudo aprendeu e encontra em si mesma o conhecimento ao relembrar de vidas passadas.
Após esse período muito se foi dito do que seria o inato. Alguns acreditavam que as ideias abstratas que servem de fundamento para entender as outras seria o inato. Chomsky optou por seguir o inatismo Cartesiano inaugurado por Descartes (Sell, 2002).
Descartes traz a noção de inato baseado em três grupos: ideias adventícias, ideias factícias e ideias inatas. Koyré (Apud Sell, 2002, p.12-13) diz que
As ideias inatas são simples, elas não podem ser divididas e decompostas por uma análise do nosso entendimento, elas são independentes da nossa vontade, que não pode mudá-las ou alterá-las, o que as distingue completamente de todas as ideias factícias; elas não nos vem de fora, como as ideias adventícias; é no nosso próprio entendimento que nós as encontramos, ela lhe aprecem como um fundo inalterável e inalienável ( Koyré, 1922, p.210).
Para Descartes inato seria, então, a predisposição de compreender aquilo que é eterno e que não constituem o entendimento, mas, mesmo assim, somos capazes de compreendê-los de maneira imediata (Sell, 2002).
A discussão a respeito do inatismo não parou por aí. Ela ressurge com Chomsky, que propõe investigar a origem da capacidade cognitiva humana. Para tanto investiga uma dessas capacidades cognitivas: a linguagem. Assim, segundo Sell (2002),
O inatismo ressurge, então, não a partir de uma discussão filosófica, mas a partir da necessidade de se formular hipóteses empíricas frutíferas para a investigação científica dos mecanismos de uso da linguagem e de sua aquisição. A questão é deslocada para a elaboração de uma teoria da aprendizagem (Sell, 2002, p.23).
Noam Chomsky é sem dúvida um dos maiores estudiosos em aquisição de linguagem, afinal ele foi um dos precursores nessa área. De Lemos (1999) atesta que:
A aquisição de linguagem, enquanto campo sistemático de pesquisa, nasce da adesão de um grupo de psicólogos americanos à teoria de Noam Chomsky (1965), teoria esta que lhe permite formular o que chamou de problema lógico da aquisição de linguagem. A saber, que as propriedades das línguas são tais que sua aquisição não pode ser explicada por teorias de aprendizagem baseadas na percepção e na generalização indutiva (De Lemos, 1999).
O modelo Chomskyano de aquisição de linguagem toma os seres humanos como os únicos dotados de uma faculdade da linguagem. Faculdade esta que nos permite falar, diferenciando-nos dos animais que não possuem essa característica. Esse aspecto nos seria dado através de nossa biologia, ou seja, nos genes dos humanos há algum componente que nos permite desenvolver a fala. Segundo Chomsky (apud Costa Azenha, 2005, p.252)o cérebro tem um componente – vamos chamá-lo faculdade da linguagem – que é específico para a linguagem e o seu uso. Para cadaindivíduo, a faculdade da linguagem tem um estado inicial determinado pela dotação biológica. [...] Estes estados são tão similares (...através das espécies...) que podemos com razão abstrair do estado inicial da faculdade da linguagem uma propriedade comum ao homem.
No inatismo o papel do outro é praticamente nulo, pois o que se defende é o fato do indivíduo possuir uma habilidade inata para a linguagem. Ele já seria programado biologicamente para fazer uso da língua. Sendo assim, não necessitaria do outro, pois em seu interior ele já tem tudo aquilo que precisa para se desenvolver nesse campo (Azenha, 2005).
 	A linguagem na visão inatista é tida como um objeto natural, específica da espécie. Uma dotação genética representada no cérebro, resultante do desencadeamento de um dispositivo, inscrito na mente do sujeito falante. Desse modo o homem possuiria uma Gramática Universal (GU), responsável por oferecer os princípios universais pertencentes à faculdade da linguagem. Essa gramática nos possibilitaria fazer uma série de marcações (positivo ou negativo) a respeito da língua materna. Esses seriam os parâmetros que estabeleceríamos para determinar o que funciona ou não em uma determinada língua. De acordo Lopes (2003)é lícito afirmar que a faculdade da linguagem passa por mudanças de estado em função de sua interação com o meio ambiente, que proverá as informações necessárias para o acionamento de determinados parâmetros de forma a atingir um estado L, uma dada língua (Lopes, p.101, 2003).
 	No inatismo o foco de estudo da linguagem está na língua I, que é interna ao sujeito. Ainda segundo Lopes (2003) “os objetivos que o modelo se propõe alcançar envolvem as descrições das línguas (Ss) – ou estados da faculdade da linguagem,e o estado universal inicial (S0). As gramáticas particulares seriam teorias sobre Ss e a GU, uma teoria sobre S0” (p,252).
Em seu estudo Chomsky toma a sintaxe como sendo o componente gerativo da língua, já que é a partir dela que se torna possível construir um conjunto infinito de enunciados. Enunciados aos quais a criança vai ser exposta e por meio dessa exposição é que irá adquirir a fala. Assim sendo, “a referência a um infinito de enunciados possíveis é, para Chomsky, uma implicação de sua concepção da sintaxe como gerativa, isto é propriedades recursivas que respondem pela especificidade (...) de suas estruturas” (De Lemos, 1999).
Passemos agora a discutir acerca das características da teoria interacionista, a fim de perceber as divergências encontradas entre ela e o inatismo.
 
2. O Interacionismo
O termo interacionismo é plural. Como vimos no início do artigo, a teoria cognitivista possui uma área de estudo interacionista social, mas o que falaremos agora não se trata do mesmo. O interacionismo aqui tratado é estruturalista e visa verificar como se relaciona a fala do adulto com a criança e o efeito do primeiro no corpo do infans. Faz-se interessante diferenciar, então, essas áreas de mesmo nome, mas de pensamentos diferentes. Segundo Castro e Figueira (2006)
O termo interacionismo foi cunhado por Jean Piaget, como uma proposta alternativa, um programa de pesquisa entre o inatismo e o emprismo na ampla discussão sobre o conhecimento humano, nele incluindo a linguagem. Se para o empirismo a linguagem é resultado de um processo de aprendizagem indutivo, e se para o inatismo (...) o conhecimento da linguagem é em parte inato e a aquisição é um processo lógico e dedutivo, para Piaget a língua é um entre todos os objetos de conhecimento, a que a criança acede graças às estruturas cognitivas, estas últimas construídas ao longo do desenvolvimento (Castro e Figueira, 2006, p.82).
Quando questões referentes à relação da fala do adulto com a fala da criança foram expostas o modelo piagetiano foi ultrapassado. Os trabalhos de Cláudia de Lemos, em 1981, propõe que os diálogos entre adulto e criança sejam analisados, a fim de se perceber o que há entre eles. Nesse momento se instaura a noção de processos dialógicos, nos quais é possível verificar fragmentos da fala do adulto na fala da criança, o que seria uma incorporação. Esse processo foi denominado como especularidade.
A teoria interacionista estruturalista de aquisição de linguagem confere ao outro um papel de destaque na aquisição da linguagem. É o adulto (pai, mãe) que significa os gestos e balbucios da criança, conferindo-lhes status de linguagem. Nessa teoria a criança é capturada pela linguagem que possui ordem própria e que tem significado no uso coletivo (Saussure). Ela é capturada e mantém relações com essa língua passando por estágios (não lineares, pois podem estar em mais de um estágio ao mesmo tempo), sempre baseada ou guiada pelo representante da linguagem, o outro (Azenha, 2005).
Claudia de Lemos, precursora nessa teoria de aquisição de linguagem, afirma que a criança é capturada pelo funcionamento da linguagem por meio da
interação de sua fala com a do adulto. Desse modo, o que predomina na fala são as marcas da fala do adulto que ela tem contato: “(...) é através da linguagem enquanto ação sobre o outro (...) e enquanto ação sobre o mundo (...) que a criança constrói a linguagem enquanto objeto sobre o qual vai poder operar” (DE LEMOS,1982).
Na perspectiva interacionista, a criança é vista como um sujeito sem intenção e sem sentidos e que é interpretado pelo adulto e está sobre o efeito da linguagem do outro. Essa interpretação é que permite que a fala da criança tenha significação.
Diferente da teoria inata que toma o corpo como inconsciente, nas palavras de Lopes (2003),
Não certamente o da pulsão; eventualmente inconsciente, porém apenas aquele que escapa à prontidão, aos estados de sensação, não aquele que instaura uma dimensão psíquica, que registra processos de simbolização, que se estrutura em significantes; em suma não o lugar do singular, daquele que se faz/se descobre em um/Outro, mas como um não-lugar para o singular (Lopes, 2002, p.100).
A teoria interacionista trata do corpo como pulsional, vivo, ou seja, se há um corpus no inatismo, aqui a um corpo. Nessa visão não se trata da criança, mas de uma criança que não segue um padrão de aprendizagem, uma criança como corpo que fala (De lemos 2003).
Ao analisar a fala de uma criança encontraremos fragmentos da fala do outro em seu discurso, mas não há imitação, o que ocorre é uma reestruturação da fala do adulto na fala da criança. Prova disso é o fato de palavras e expressões ditas pelo adulto serem utilizadas pela criança em situações diferentes das que o adulto empregou. Claudia de Lemos (1995) afirma que oestatuto semântico formal é o de um fragmento que convoca outros fragmentos de uma mesma cadeia que ainda não faz texto, mas onde a criança se reconhece por ela significada. (...) É a história da relação da criança com os textos em que sua fala, gesto, movimento e presença foram interpretados que está aí inscrita e que lhe dá singularidade (DE Lemos, 1995, p.26).
É por esse motivo que o diálogo foi eleito por De lemos como unidade de análise. É importante ressaltar, que para alguns filósofos como Heidegger, o diálogo é também um instrumento de interação responsável pela formação subjetiva do homem (Auroux, 1996). Para Heidegger a linguagem é fundamentalmente encontro, e que outro lugar seria melhor para ele se dá que o diálogo? Dessa forma, é na discursividade que está a base da língua.
O processo de aquisição compreende a relação da criança com a linguagem. As mudanças que ocorrem nesse processo são dessa ordem. A criança se relaciona diferente com a linguagem à medida que ela se posiciona de maneiras diferentes.
A primeira posição é o outro. Há uma predominância do processo metonímico (presença de outros textos). Nele, a criança está alienada à fala do outro. Quando a criança começa a falar “por si só” há predominância do pólo da língua e passa a “errar”, ocorre o processo metafórico, no qual as cadeias latentes se cruzam com as cadeias manifestas que se deslocam de outros textos (De Lemos ?). Assim,
não é na fala imediatamente precedente da mãe, mas no âmbito do próprio enunciado da criança que está a cadeia que oferece sustentação para o movimento dos significantes, deslocando-se, aproximando-se, ressignificando-se (DE Lemos, ?, p.7).
Desse modo, o que percebemos é que é na interação que a criança passa a falar. Ela não possui nenhum conhecimento prévio ou estruturas cognitivas biologicamente determinadas para adquirir a linguagem. É somente pelo contato interativo com a linguagem do outro que a criança vem a falar.
http://www.webartigos.com/artigos/duas-teorias-de-aquisicao-de-linguagem-inatismo-e-interacionismo/120100

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