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Direito Penal – Estudo de Caso Prof. Leonardo Galardo O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. www.cursoenfase.com.br 1 Sumário 1. Considerações iniciais ..................................................................................... 2 2. Questão 03 ....................................................................................................... 2 3. Abordagem dos assuntos ................................................................................ 3 4. Padrão de respostas ........................................................................................ 9 Direito Penal – Estudo de Caso Prof. Leonardo Galardo O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. www.cursoenfase.com.br 2 1. Considerações iniciais No primeiro bloco sobre Estudos de Casos tivemos questões relacionadas a crime de peculato, crimes contra a Administração Pública, a possibilidade de um particular responder pelo crime de um funcionário púbico, a diferença entre os peculatos, a extinção da punibilidade, todos os assuntos importantes em provas de tribunais que são sempre cobrados. No segundo bloco conversamos sobre o concurso de pessoas, o desvio no plano criminoso, a teoria adotada pelo Código Penal, a exceção, ou seja, aquilo que também sempre é cobrado dentro de concurso de pessoas. E agora nesse terceiro bloco veremos a vertente da imputabilidade, sobretudo em relação ao caso de embriaguez, a embriaguez pré-ordenada, se a embriaguez interfere ou não, a questão relacionada à legítima defesa, ao erro na execução, ao erro que você tem na hora que vai praticar o crime e acaba produzindo outro tipo de resultado, que você tem uma falha na execução, dentre outros. 2. Questão 03 Mário estava em um bar e foi surpreendido pela chegada de seu inimigo Caio, que ingressou naquele estabelecimento bastante nervoso e irritado, em razão de problemas pessoais que enfrentava. Sem perceber a presença de Mário, Caio seguiu para o fundo do estabelecimento e começou a discutir com vários frequentadores por motivos banais, chamando a atenção de todos os presentes para aquela situação. Logo em seguida, Caio seguiu para o banheiro do estabelecimento e lá permaneceu por alguns minutos. Mário, então, imaginou estar diante do momento perfeito para ceifar a vida de Caio, uma vez que havia tantos indivíduos provocados por Caio naquele local, que a Polícia teria diversas linhas de investigação – o que dificultaria, sobremaneira, a descoberta da autoria criminosa, sobretudo pelo fato de as câmeras de segurança do estabelecimento estarem em manutenção. Animado com a possibilidade de eliminar seu inimigo Caio, porém ansioso e preocupado com a possibilidade de algo dar errado, Mário decidiu consumir bebida alcóolica para se sentir mais preparado para a prática do crime. Logo em seguida, Mário seguiu para o banheiro e desferiu diversas facadas contra seu inimigo Caio, que caiu ao solo e começou a lutar por sua vida. Caio era um homem muito forte e conseguiu reagir à injusta agressão, sobretudo por estar de posse de uma arma de fogo, a qual foi fundamental para salvar a sua vida. Ainda no chão e sob o ataque das facadas, Caio conseguiu efetuar um único disparo contra o agressor Mário, porém, o projétil ricocheteou em uma estrutura metálica e atingiu Igor, rapaz de 15 anos que era filho da dona do estabelecimento e havia acabado de ingressar no banheiro. Igor foi a óbito instantaneamente em virtude daquele único disparo, porém Mário não chegou a ser atingido pelo projétil e fugiu do local, sendo, contudo, capturado poucos metros à frente do estabelecimento, por uma viatura policial que passava pelo local. Caio foi socorrido para o hospital da região e resistiu aos ferimentos, tendo alta no dia seguinte, apesar de ter Direito Penal – Estudo de Caso Prof. Leonardo Galardo O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. www.cursoenfase.com.br 3 corrido risco de morte. Considerando os elementos trazidos pela questão, discorra acerca dos seguintes questionamentos: A) Qual é a responsabilidade criminal de Mário e Caio? B) A embriaguez pode influenciar negativamente na prática de um crime? Em caso positivo, de que forma? C) Cite e explique os institutos jurídicos atrelados à conduta de Caio, apontando as suas consequências para o caso concreto. 3. Abordagem dos assuntos Mário queria matar Caio. Mário queria praticar crime de homicídio. Ele conseguiu matar? Não, o sujeito sobreviveu – foi para o hospital, correu risco de morte, mas sobreviveu. Estou diante de uma situação: homicídio tentado. Mas tem qualificadora? A questão não falou em qualificadora: não disse que foi por motivo fútil, não disse que foi por motivo torpe, não disse que utilizou de emboscada. O sujeito estava no banheiro, mas, veja, Mário entrou no banheiro e “olá, vou te matar”. A questão não disse que ele chegou por trás, que a vítima estava no mictório e foi pego pelo pescoço, jogado ao chão. A questão não falou nada disso. Disse apenas que estava no banheiro, entrou e tentou matar. Deste modo, a questão não apresenta nenhuma qualificadora. É dada apenas uma situação em que um sujeito quer matar o outro e ele entra no banheiro para matar. Só que ele não consegue. O sujeito reage e consegue se salvar. O outro foge e acaba sendo preso. Tenho uma tentativa de homicídio. O que você precisa perceber aqui é que estamos diante de uma situação em que esse indivíduo tem uma agravante genérica. O que seria uma agravante genérica? Tenha em mente que há os artigos 61, 62, 65 e 66 com importância no Código Penal nesse tipo de prova. Os artigos 61 e 62 são aquilo que chamamos de agravantes genéricas. Eles sempre levantam a penas do sujeito, quando eles não constituem ou qualificam o crime. Circunstâncias agravantes Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - a reincidência; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - ter o agente cometido o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) a) por motivo fútil ou torpe; b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de Direito Penal – Estudo de Caso Prof. Leonardo Galardo O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. www.cursoenfase.com.br 4 outro crime; c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido;d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum; e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge; f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei específica; (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006) g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão; h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida; (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003) i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade; j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular do ofendido; l) em estado de embriaguez preordenada. Agravantes no caso de concurso de pessoas Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - coage ou induz outrem à execução material do crime; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não- punível em virtude de condição ou qualidade pessoal; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) IV - executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Os artigos 65 e 66, por outro lado, são as atenuantes genéricas. São circunstâncias que sempre melhoram a situação do agente, sempre irão reduzir, melhorar a pena. Circunstâncias atenuantes Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença; II - o desconhecimento da lei; III - ter o agente: Direito Penal – Estudo de Caso Prof. Leonardo Galardo O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. www.cursoenfase.com.br 5 a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral; b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar- lhe ou minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano; c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima; d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime; e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou. Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei. Aqui nós temos a situação do artigo 61, II, “l”, que é quando o agente pratica o crime em estado de embriaguez preordenada. Temos várias espécies de embriaguez, mas tem uma embriaguez que ainda agrava a sua pena: é aquela em que você bebe (atenção: usamos sempre exemplo com bebidas, mas pode ser álcool ou substâncias de efeitos análogos) para se sentir apto, capaz, preparado para poder praticar aquele crime. Quando você ingere uma substância para se sentir capaz, para se sentir apto para a prática do crime, estamos diante de uma embriaguez preordenada. É uma agravante genérica (artigo 61, II, “l”/CP): Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (...) II - ter o agente cometido o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (...) l) em estado de embriaguez preordenada. Qual a conduta de Mário? É bem simples: Mário praticou uma tentativa de homicídio com agravante genérica da embriaguez preordenada, ou seja, artigo 121/CP na forma do artigo 14, II/CP (que é a tentativa), combinados com o artigo 61, II, “l”/CP (que é a agravante genérica da embriaguez preordenada). Veja, você não é obrigado a saber artigo de lei. Você precisa saber qual é o crime. Se souber o artigo, ótimo. Mas se disser que é um homicídio tentado com agravante genérica da embriaguez preordenada já basta. Homicídio simples Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Direito Penal – Estudo de Caso Prof. Leonardo Galardo O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. www.cursoenfase.com.br 6 Art. 14 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Tentativa (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (...) II - ter o agente cometido o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (...) l) em estado de embriaguez preordenada. O Caio estava no banheiro quando apareceu alguém tentando matá-lo. Qual a conduta do Caio? Caio atuou em legítima defesa. Caio estava quieto, recebeu numa injusta agressão e foi se defender dessa injusta agressão. O problema é que, enquanto se defendia da injusta agressão, ele se viu obrigado a efetuar um único disparo de arma de fogo em direção ao Mário para poder se desvencilhar e fazer cessar aquela injusta agressão, tudo conforme a lei permite. O problema é que, ao fazer isso, o projétil ricocheteou na estrutura metálica do banheiro e acertou uma pessoa que não tinha nada a ver com a história. O que eu tenho quando cometo um erro desse, quando quero atingir uma pessoa e acabo atingido outra? Cuidado porque as provas gostam de confundir um instituto chamado “erro quanto à pessoa” com outro instituto chamado “erro na execução”. Não confunda erro quanto à pessoa (error in personam) com erros na execução (aberratio ictus). O erro quanto à pessoa está no artigo 20, § 3º do Código Penal. Erro sobre elementos do tipo (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Erro sobre a pessoa (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) O erro na execução está no artigo 73 do Código Penal. Direito Penal – Estudo de Caso Prof. Leonardo Galardo O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partirda aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. www.cursoenfase.com.br 7 Erro na execução Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica- se a regra do art. 70 deste Código.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) A diferença é que no erro quanto à pessoa, o erro decorre da identificação da vítima. O erro na execução não decorre da identificação da vítima e sim da própria execução do crime. Se você quer matar uma pessoa, mas confunde essa pessoa e acaba matando a pessoa errada, você está no erro quanto à pessoa, porque o erro decorre quanto à identificação. O sujeito quer matar a mãe, olha, vê a mãe lá na frente e efetua um disparo. Quando chega perto percebe que matou a tia, que era muito parecida com a mãe. Já o erro na execução decorre da execução prática do crime. Aqui ele não confunde a mãe com a tia. Ele olha e quer matar a mãe, identificando-a corretamente e atira, mas, por uma falha na mira da arma, ele não acerta a mãe e acerta um senhor do outro lado da rua. O que acontece é que tanto no erro quanto à pessoa quanto no erro na execução, o agente não responde pelo que fez. Ele responde pelo que ele queria ter feito. Essa é a consequência que foi definida tanto no artigo 20, §3º quanto no artigo 73/CP: ele não responde pelo que fez e sim por aquilo que queria ter feito. O que Caio fez? Tentando se defender, ele efetuou um disparo que acertou e matou outra pessoa, ou seja, praticou um homicídio. Mas o que ele queria ter feito? Ele queria se defender de uma injusta agressão que estava sofrendo por parte de Mário. Assim, estamos diante de legítima defesa com aberratio ictus, legítima defesa com erro na execução: ele quer se defender, ele atira para se defender, em legítima defesa, mas acerta uma pessoa que nada tem a ver com a história, não porque ele confundiu o agressor com o adolescente, mas porque teve um erro na execução da sua conduta. Ele vai responder pelo que fez (matar o adolescente)? Não. Ele não vai responder por aquilo que ele fez, mas sim por aquilo que queria fazer – defender-se. Assim, ele está em legítima defesa e não responde por nada. Em suma, Mário praticou uma tentativa de homicídio com a agravante genérica da embriaguez preordenada e Caio agiu em legítima defesa com erro na execução (aberratio ictus), não respondendo por nada. A embriaguez pode influenciar na prática de um crime? Sim. Influencia, por exemplo, no caso da embriaguez preordenada, fazendo com que o agente, além de responder, tenha sua pena agravada (agravante genérica – artigo 61, II, “l”/CP). Se você pratica o crime embriagado, poucas são as hipóteses em que você não responde. Como regra, eu respondo, porque eu tenho uma embriaguez voluntária em sentido estrito (apelidada de embriaguez voluntária), eu tenho uma embriaguez voluntária culposa Direito Penal – Estudo de Caso Prof. Leonardo Galardo O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. www.cursoenfase.com.br 8 (apelidada de embriaguez culposa) e eu tenho uma embriaguez voluntária preordenada (apelidada de embriaguez preordenada). Qual a diferença entre elas? Na embriaguez voluntária o agente ingere a substância porque ele quer ficar embriagado; Na embriaguez culposa o agente ingere a substância por motivos diversos, mas acaba ficando embriagado. Por exemplo, misturou bebida, não comeu direito e acabou ficando embriagado; Na embriaguez preordenada o agente ingere a substância para ficar embriagado e criar coragem para praticar o crime. Se você praticar o crime em embriaguez voluntária, você vai responder. Isso não acaba com a sua imputabilidade. Se você praticar o crime com embriaguez culposa, você também vai responder. Isso não acaba com a sua imputabilidade. Tudo por conta daquela teoria “actio libera in causa”, que diz que você responde pelo que fez porque a sua ação foi livre lá atrás na causa, quando você começou a ingerir a substância. Já na embriaguez preordenada, além de responder como nas outras, você tem uma agravante na forma do artigo 61, inciso II, alínea “l”. Piora a sua vida a embriaguez preordenada. Tem alguma embriaguez que me ajuda? Sim, tenho o artigo 28, §1º, que me deixa isento de pena e o artigo 28, §2º que reduz a minha pena. Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (...) Embriaguez II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) O artigo 28, §1º diz que, se no momento da conduta eu não tiver nenhuma capacidade de entender o que eu estou fazendo, de me determinar de acordo com essa conduta por uma embriaguez involuntária completa, total, por caso fortuito (acidente) ou força maior (ação Direito Penal – Estudo de Caso Prof. Leonardo Galardo O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. www.cursoenfase.com.br 9 humana), eu estou isento de pena. O artigo 28, §2º não me isenta de pena mas reduz minha pena de um a dois terços se, também no momento da conduta, eu agora, por outro lado, não for inteiramente incapaz. Não, eu não sou plenamente incapaz, eu tenho alguma capacidade, mas “não estou 100%” para entender o que estou fazendo. Também por uma embriaguez involuntária, mas agora ela é incompleta, ela não é total, mas decorre de caso fortuito ou força maior. Ou seja, no artigo 28, §1º eu tenho zero capacidade em razão da embriaguez involuntária completa decorrente de caso fortuito (acidente) ou força maior (ação humana). Sou isento de pena. No artigo 29, §2º, no momento da conduta eu não era plenamente capaz em razão de embriaguez também involuntária incompleta ou parcial proveniente de caso fortuito (acidente) ou força maior (ação humana). Agora eu não sou isento de pena, apenas tenho uma redução de penas de um a dois terços. 4. Padrão de respostas A) Qual é a responsabilidade criminal de Mário e Caio? Mário praticou uma tentativa de homicídio com a agravante genérica da embriaguez preordenada,respondendo por isso. Caio agiu em legítima defesa com erro na execução (aberratio ictus), não respondendo por nada. B) A embriaguez pode influenciar negativamente na prática de um crime? Em caso positivo, de que forma? Sim. Influencia, por exemplo, no caso da embriaguez preordenada, fazendo com que o agente, além de responder, tenha sua pena agravada (agravante genérica – artigo 61, II, “l”/CP). Se você pratica o crime embriagado, poucas são as hipóteses em que você não responde. Como regra, eu respondo porque eu tenho uma embriaguez voluntária em sentido estrito (apelidada de embriaguez voluntária), eu tenho uma embriaguez voluntária culposa (apelidada de embriaguez culposa) ou eu tenho uma embriaguez voluntária preordenada (apelidada de embriaguez preordenada). Se você praticar o crime em embriaguez voluntária, você vai responder. Isso não acaba com a sua imputabilidade. Se você praticar o crime com embriaguez culposa, você também vai responder. Isso não acaba com a sua imputabilidade. Tudo por conta daquela teoria “actio libera in causa”, que diz que você responde pelo que fez porque a sua ação foi livre lá atrás na causa, quando você começou a ingerir a substância. Direito Penal – Estudo de Caso Prof. Leonardo Galardo O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. www.cursoenfase.com.br 10 Já na embriaguez preordenada, além de responder como nas outras, você tem uma agravante na forma do artigo 61, inciso II, alínea “l”. C) Cite e explique os institutos jurídicos atrelados à conduta de Caio, apontando as suas consequências para o caso concreto. Primeiro, temos o instituto da legítima defesa, previsto no artigo 23, II /CP e no artigo 25/CP. Para legítima defesa eu preciso utilizar moderadamente dos meios necessários para repelir uma injusta agressão, atual ou iminente a direito meu ou de outrem. Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. Legítima defesa Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Segundo, temos o instituto aberratio ictus ou erro na execução, que é o caso do erro na execução da minha conduta criminosa. O que vai acontecer é que eu não respondo pelo que eu fiz e sim pelo que eu queria ter feito. Como eu respondo pelo que eu queria ter feito e o que eu queria ter feito era uma legítima defesa, eu não respondo por nada.
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