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DOENÇAS HIPERTENSIVAS NA GRAVIDEZ Prof.ª Carolina Guizardi Polido Enfermeira Obstetriz Mestre em Enfermagem DOENÇA HIPERTENSIVA NA GRAVIDEZ A hipertensão arterial sistêmica (HAS) incide em cerca de 10% das gestações, sendo umas das principais causas de morbimortalidade materna e perinatal. Considera-se como hipertensão arterial na gravidez a constatação de uma PA de, no mínimo, 140x90mmHg ou de um incremento de pelo menos 30mmHg na PAS ou de no mínimo 15mmHg na PAD. CLASSIFICAÇÃO DOS DISTÚRBIOS HIPERTENSIVOS I. Pré-eclâmpsia A. Leve B. Grave C. Eclâmpsia II. Hipertensão arterial crônica (de qualquer etiologia) III.Hipertensão arterial crônica com pré-eclâmpsia superajuntada IV. Hipertensão arterial transitória DIAGNÓSTICO - Elevação da PA – - Edema – - Proteinúria - 30 mmHG na PA diastólica 15mmHg na PA sistólica Ganho Ponderal acima de 1000g/semana Edema que não sede com o repouso 300mg/litro em urina de 24h 1g em amostra isolada, confirmada mais de uma vez DOENÇA HIPERTENSIVA NA GRAVIDEZ A pré-eclâmpsia (PE) é a doença hipertensiva específica da gravidez (DHEG). Em geral manifesta-se após a 20ª semana de gestação associada a proteinúria significativa, podendo persistir até, no máximo, seis semanas após o parto. DOENÇA HIPERTENSIVA NA GRAVIDEZ Eclâmpsia é a ocorrência de convulsões motoras generalizadas (tipo grande mal) em gestantes com PE, sendo que tais convulsões não possam ser devido a doença neurológica pré-existente. Pode aparecer durante a gestação, o parto e o puerpério. DOENÇA HIPERTENSIVA NA GRAVIDEZ A hipertensão arterial percebida antes da 20ªsem de gravidez ou que persiste após o 120º dia pós- parto é classificada como HAS crônica, não específica da gestação. Essas pacientes em geral tem HAS essencial. A HAC complica cerca de 5% das gestações. A doença é fator de risco importante para o aparecimento de PE em 15 a 25% dos casos. DOENÇA HIPERTENSIVA NA GRAVIDEZ Cabe lembrar que a PA sofre queda fisiológica no segundo trimestre da gravidez (até de 20%). Essas grávidas poderão, no segundo trimestre, ser consideradas normotensas e, quando a PA retornar aos níveis pré-gravídicos, o diagnóstico errôneo de PE pode ser estabelecido. DOENÇA HIPERTENSIVA NA GRAVIDEZ Algumas vezes, pode haver associação de PE e HAS crônica. Nessas pacientes, a HAS agrava-se e a proteinúria surge ou piora após a 20ª semana de gravidez.Tais pacientes são classificadas como tendo pré-eclâmpsia superajuntada. DOENÇA HIPERTENSIVA NA GRAVIDEZ Existem vários fatores que aumentam a chance de uma gestante ter hipertensão arterial. Nenhum deles tem especificidade suficiente para isoladamente definir a paciente como de alto risco para a PE. •História de HA antes da gestação •HA antes da 20ª gestação •HA que persiste após 120 dias do parto HAS Crônica •Mulher normotensa, que com mais de 20sem de gestação evolui com HA e proteinúria PE •Mulher normotensa que com mais de 20sem de gestação evoluiu com HA Hipertensão Gestacional FISIOPATOLOGIA Admite-se hoje etiologia imunogenética, que se suporta em tríade fisiopatológica comprovada: vasoespasmo generalizado, lesão endotelial e adaptação trofoblástica inadequada. As alterações da resposta imune ao aloenxerto que caracteriza a gestação são moduladas pelo sistema HLA (antígeno leucocitário humano). A expressão normal desse sistema permite adaptação imunológica adequada do organismo materno ao tecido placentário e consequente evolução normal da gestação. FISIOPATOLOGIA A paciente que desenvolverá PE apresenta diminuição das proteínas HLA-G, resultando na quebra da adaptação materna ao tecido placentário. Essas grávidas apresentam, em seu início, incompleta invasão das artérias espiraladas do útero pelas células trofoblásticas endovasculares do ovo implantado, não permitindo diminuição da resistência ao fluxo sanguíneo no território placentário. As artérias permanecem rígidas ocasionando redução da perfusão placentária e consequente hipóxia precoce. Essa má adaptação proporciona resposta inflamatória, comum a qualquer situação de rejeição no organismo humano, com elevação dos níveis das citoquinas e ativação neutrofílica de defesa, reação essa responsável pela lesão endotelial. FISIOPATOLOGIA As gestantes que irão desenvolver PE produzem uma quantidade diminuída de prostaciclina e essa deficiência é responsável por uma cascata de eventos que inclui a produção plaquetária de tromboxane A2 e dos seus precursores, com potentes propriedades vasoconstritoras e agregadoras plaquetárias. O vasoespasmo é a primeira característica fisiopatológica. Vasoespasmos, danos no endotélio vascular e agregação plaquetária aumentada produzem hipóxia tecidual em diversos órgãos (placenta, rins, fígado, cérebro), que gerarão a expressão clínica da PE. FISIOPATOLOGIA Resumindo podemos dizer que a pré-eclâmpsia é caracterizada por um estado de hipercoagubilidade, vasoespasmos, coagulação intravascular, microtrombos em vários órgãos e fluxo uteroplacentário inadequado. FISIOPATOLOGIA ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS Hemoconcentração progressiva é relacionada diretamente com o grau de extravasamento de plasma para o interstício (edema). A trombocitopenia é a alteração hematológica mais comum e pode ser grave o suficiente (< 50.000 por mm3) para por em risco a coagubilidade sanguínea (síndrome HELLP). Os testes rotineiros de coagulação sanguínea (TAP, TTPA, fibrinogêneo, D-dímero) em geral não estão alterados na pré-eclâmpsia leve (PEL). Testes mais sensíveis, como a atividade da antitrombina III (AT-III) e o nível de fibronectina, estão alterados já no início da enfermidade. O estado de hipercoagubilidade pode ser demonstrado pela diminuição dos níveis de antitrombina III e de proteínas C e S, consequente à lesão endotelial. ALTERAÇÕES RENAIS • A maioria das mulheres tem diminuição na taxa de filtração glomerular e na perfusão renal. Como na gravidez o limite superior da normalidade no nível sérico de creatinina é de 0,8 mg/dl, uma concentração plasmática de 1 mg/dl já significa uma diminuição significativa na função renal. A elevação dos níveis séricos de ácido úrico está associada com incremento da morbidade perinatal. O grau de proteinúria é um parâmetro fiel da gravidade do vasoespasmo renal. A endoteliose capilar glomerular é a lesão característica da pré-eclâmpsia e quando identificada em biópsia renal sela definitivamente o diagnóstico. ALTERAÇÕES HEPÁTICAS A lesão hepática comumente identificada é a necrose hemorrágica periportal. O sangramento dessas lesões pode estender-se ao espaço subcapsular com a presença de hematoma hepático (epigastralgia), o qual, em casos extremos, pode romper a cápsula, levando a choque hipovolêmico com hemorragia para a cavidade peritoneal. Os testes de função hepática (TGO e TGP) em geral estão normais nos casos de pré-eclâmpsia leve e elevados na pré-eclâmpsia grave. O aumento das enzimas hepáticas associado à hemólise e à trombocitopenia caracteriza a síndrome HELLP, responsável por um significativo aumento da morbimortalidade materna e perinatal. ALTERAÇÕES CEREBRAIS • A principal causa direta de óbito materno na gestante hipertensa é a hemorragia cerebral. ALTERAÇÕES PULMONARES • O aumento da permeabilidade vascular e a diminuição da pressão coloidosmótica característicos da PE são fatores predispondentes à formação de edema com redução das trocas gasosas. Na PEG existe uma maior predisposição ao edema pulmonar. ALTERAÇÕES OFTALMOLÓGICAS • Diplopia, visão turva e escotomascintilantes podem prenunciar um ataque eclâmptico. Algumas mulheres com PEG tem descolamento de retina, unilateral geralmente, e não necessita de correção cirúrgica. Pode ocorrer cegueira com prognóstico quase sempre bom e a visão se recuperará em uma semana. EDEMA PATOLÓGICO • Um edema generalizado (parede abdominal, face, região lombossacra, mãos) associado a um aumento de peso acima de 1kg por semana em uma gestante com hipertensão arterial é fortemente sugestivo de DHEG. PROGNÓSTICO E PREVENÇÃO DA PRÉ- ECLÂMPSIA RECORRENTE PE Leve PE Grave Eclâmpsia Sistema Nervoso Central cefaléia, obnubilação, torpor, alteração comportamental Visão escotoma, fosfema, turvação/perda da visão Sistema Gastro Intestinal dor hipocôndrio D ou epigástrica, náuseas, vômito Sinais de Eclâmpsia Iminente = coma ou convulsões SÍNDROME HELLP HELLP Hemólise Enzimas Hepáticas Plaquetopenia -H = “hemolysis” -EL = “elevated liver functions tests” -LP = “low platelets count” SÍNDROME HELLP É uma das formas clínicas da PEG. É causa frequente de morte materna. No feto a termo exige intervenção imediata. No feto pré-termo, há uma alternativa clínicia antes da resolução da gestação (reposição volêmica, dexametasona, transfusão de plaquetas). DIABETES E GESTAÇÃO Prof. ª Carolina Guizardi Polido Enfermeira Obstetra Mestre em Enfermagem DEFINIÇÃO Intolerância aos carboidratos com início ou diagnóstico durante a gestação. Até a 20ªsem: aumenta a deposição de gordura materna, a sensibilidade à insulina e diminui a glicemia basal. Após a 20ªsem: aumenta a resistência à insulina e a secreção de insulina por aumento do lactogênio placentário, do cortisol e do estrogênio. Diabetes tipo 1 Diabetes tipo 2 DIABETES GESTACIONAL Diabetes gestacional é a intolerância aos carboidratos diagnosticada pela primeira vez durante a gestação e que pode ou não persistir após o parto. Tem uma prevalência de 3 a 13%. FATORES DE RISCO (OMS) História prévia de diabetes gestacional Diabetes em parentes de 1˚grau Baixa estatura (<1,50m) Idade > 25 anos IMC >27 ou ganho excessivo de peso na gestação atual SOP (Síndrome do Ovário Policístico) Antecedentes de morte fetal ou neonatal, macrossomia ou diabetes gestacional. Hipertensão na gravidez atual, crescimento fetal excessivo ou polidrâmnio. FATORES DE RISCO (ADA 2009) Alto risco (um destes fatores) Obesidade severa História prévia de DMG ou feto GIG Presença de glicosúria Diagnóstico de SOP Forte história familiar de DM tipo 2 Médio risco (um ou mais destes fatores) Idade > 25 anos Sobrepeso ou obesidade antes da gestação Membro de grupo étnico com alta prevalência de diabetes Parente de 1˚grau com diabetes História de intolerância à glicose Passado obstétrico desfavorável RASTREAMENTO O MAIS CEDO POSSÍVEL TESTAGEM COM 24-28 SEMANAS NÃO 2 ou + fatores de risco Glicemia de jejum (mg/dl) 1ª consulta (todas) Rastreamento Negativo < 90 90 SIM Glicemia Jejum > 20ªs < 90 90 Rastreamento Positivo 90 - 109 110 TTG – 75g –2h > 20ª s TTG – 75g 2h 140 < 140 140< 140 DGEncerra DG DIAGNÓSTICO O diagnóstico se faz importante porque ajuda a prevenir complicações. Diagnóstico TTG 100g Jejum – 95 mg/dl 1h - 185 mg/dl 2h - 155 mg/dl 3h - 140 mg/dl 2 valores + Perfil Glicêmico Jejum < 90 mg/dl Pós-prandiais < 130 mg/dl Conduta IA TTG 100 e PG nl IIA TTG 100 alt e PG nl IB TTG 100 nl e PG alterado IIB TTG 100 alt e PG alterado Não Diabética DG Hiperglicemia diária DG ou Clínica CLASSIFICAÇÃO DO DMG (WHITE) Classe A: diabetes gestacional (A1 sem insulina e A2 com insulina) Classe B: início após os 20 anos ou duração menor que 10 anos Classe C: início 10-19 anos ou duração 10-19 anos Classe D: início antes dos 10 anos ou duração ≥ 20 anos ou retinopatia benigna Classe F: nefropatia Classe R: retinopatia proliferativa Classe H: cardiopatia Classe T: transplante renal RASTREAMENTO PELA OMS Glicemia plasmática 1h após teste oral com 50g de dextrosol entre a 24a e 28a semana de gestação. Fatores de risco Glicemia em jejum (acima de 85mg/dl a partir da 24ª semana) DIAGNÓSTICO DO DMG (OMS) CATEGORIA JEJUM 2H APÓS 75g DE GLICOSE CASUAL Glicemia normal <110 <140 Tolerância diminuída a glicose >110 A <126 ≤140 A <200 Diabetes mellitus ≥126 ≥200 ≥200 (com sintomas clássicos) COMPLICAÇÕES MATERNO-FETAIS Macrossomia Distócia de ombro Síndrome da angústia respiratória Rotura Prematura das Membranas Alterações metabólicas do RN (hipoglicemia, hiperbilirrubinemia, hipocalcemia e policitemia) Toxemia e polidramnio Morte fetal Malformações fetais (30% defeitos do tubo neural e 30% cardíacas) Associação com PEG TRATAMENTO Dieta: 6 refeições por dia, 30Kcal/Kg de peso atual Atividade física leva a moderada Insulinoterapia Meta: glicemia jejum < 90mg/dl e pós prandial <130mg/dl Hipoglicemiante oral? PRÉ-NATAL Consultas quinzenais até a 32ª semana, passando a semanais. Controle do perfil glicêmico Us morfológico e USG com doppler a partir de 30ª semana. Cardiotocografia EFEITOS PERINATAIS O resultado perinatal será tão melhor quanto melhor o controle metabólico materno. Glicemias acima de 130mg/dL no terceiro trimestre correspondem a: 52,4% - macrossomia 14,3% - óbito fetal 8,3% - malformações UFA! Intervalo!
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