Buscar

Economia do Brasil Contemporâneo - aula 2

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

Economia do Brasil Contemporâneo
Curso: Serviço Social 
Faculdade Redentor
Na aula passada você estudou, que as atividades produtivas e comerciais na economia brasileira , no período colonial, não se esgotavam na empresa colonial agrícola. 
A ocupação do Sul, do Vale do amazônico e o movimento de bandeiras foram importantes para o desenvolvimento de atividades econômicas no interior do país, assim como a pecuária e a mineração. 
Conquistados os novos territórios , a classe burguesa mercantil, com o apoio da Coroa, garantiu para si o monopólio comercial. 
Formava-se, assim, a base da política mercantilista., bem como um sistema de comércio fundado no pacto colonial (exclusivo comercial), garantindo à metrópole total intermediação nas operações de comércio. 
Assim, os interesses metropolitanos convergiam estreitamente com os da classe exportadora e importadora que atuava na colônia. 
Como a produção e o mercado interno eram bastante reduzidos, o pacto colonial impedia a concorrência e permitia os ganhos extraordinários da classe burguesa e da metrópole. 
Nesta aula, vamos analisar as consequências do aumento da produção e do crescimento do mercado interno para essa estrutura de relações comerciais e de poder político e econômico. 
Além disso, você irá perceber como o avanço do capitalismo industrial e das ideias liberais na Europa serviu de anteparo para a configuração da crise do sistema colonial. 
O Sentido da Crise
A crise da economia colonial agrícola decorreu de dois aspectos complementares, um de caráter interno, e outro, externo. 
O primeiro foi a expansão dos mercados na colônia, resultado direto do aumento da população e do incremento da produção. 
Surgiram, em consequência, conflitos de interesses entre colonos e metrópole. Até então, os colonos sentiam-se portugueses em terras brasileiras, tendo, em um mercado pouco expressivo, privilégios garantidos pelo monopólio (exclusivo) comercial e suas restrições à concorrência externa. 
Com o aumento da produção e o crescimento do mercado interno – sobretudo após o início do ciclo do ouro -, os interesses particulares da colônia foram aumentando de maneira significativa. 
O pacto colonial passou a ser então, um empecilho à expansão dos negócios e, portanto, ao potencial de ganhos dos colonos. 
O segundo aspecto, referente ao plano externo, eram os efeitos da Revolução Industrial cada vez mais visíveis na Europa. 
O processo de acumulação de capital, naquele contexto, centrava-se fortemente na esfera de produção da indústria, com uma rápida incorporação de novas técnicas produtivas que ampliavam largamente seu horizonte de crescimento.
O aumento da produtividade na atividade industrial era absolutamente fantástico. Assim, a busca e incorporação de novos mercados pelas unidades industriais em formação tornou-se um traço típico da dinâmica capitalista. 
Para que você tenha uma ideia, segundo dados disponíveis na home page da Escola Técnica de Bergen, em Nova Jérsei de 1790 a 1830, mais de cem mil teares movidos a eletricidade foram postos em funcionamento, na Inglaterra e na Escócia. 
7
Revolução Industrial: “conjunto das transformações tecnológicas, econômicas e sociais ocorridas na Europa e particularmente na Inglaterra nos séculos XVIII e XIX e que resultaram na instalação do sistema fabril e na difusão do modo de produção capitalista. 
O processo foi impulsionado, numa primeira fase, pelo aperfeiçoamento de máquinas de fiação e tecelagem e pela invenção da máquina a vapor, da locomotiva e de numerosas máquinas – ferramentas. 
Da conjunção desses fatores, resultou a indústria capitalista mecanizada tal como a conhecemos. 
A aceleração do processo produtivo teve início na Inglaterra, entre 1750 e 1830, a partir de inovações tecnológicas na atividade têxtil. 
Apesar dessas profundas transformações econômico-sociais, a Revolução Industrial foi um processo contraditório. 
Ao lado da elevação da produtividade e do desenvolvimento da divisão social do trabalho, manifesta-se a miséria de milhares de trabalhadores desempregados e de homens, mulheres e crianças obrigados a trabalhar até 16 horas por dia, privados de direitos políticos e sociais. 
Essa situação da classe operária levou à formação dos primeiros sindicatos, à elaboração do pensamento socialista e à irrupção de inúmeros movimentos, levantes e revoltas de trabalhadores que marcaram toda vida européia ao longo do século XIX. 
A Revolução Industrial desenvolveu também uma nova sociedade: a capitalista, baseada na divisão dos indivíduos em duas classes: os capitalistas, detentores dos meios de produção, e os trabalhadores, homens livres que vendem sua força de trabalho em troca de salário. 
O capitalismo, consolidado com a Revolução Industrial, gerou muita riqueza e um enorme progresso material, mas criou também uma massa de trabalhadores pobres, no campo e na cidade. 
Os economistas liberais, defensores da sociedade capitalista sustentavam a ideia de que o Estado não precisa interferir na economia, que deve ser regulada apenas pelo mercado. 
É fácil entender, então, que o monopólio comercial e produtivo formalizado no pacto colonial era uma barreira para o capital industrial e para a produção em grande escala. 
Isto explica o grande interesse da Inglaterra pelos movimentos de independência das Américas hispânica e portuguesa. 
Em termos práticos essas duas barreiras representavam o antagonismo entre os interesses ainda existentes no mercantilismo português e os novos acontecimentos políticos, sociais e econômicos associados à Revolução Industrial. 
Essas transformações estavam representadas, também, no campo institucional e das ideias pela crescente constatação às instituições absolutistas e o avanço do iluminismo. 
Naquele momento, o pensamento liberal se rebelou contra as instituições do antigo regime. Vale citar, em particular, o novo ideário difundido a partir da Revolução Francesa e os princípios de liberdade e igualdade – considerados, pela metrópole, como “os abomináveis princípios franceses”. 
Nesse caso, um elemento-chave foi a contestação do conceito do rei como um enviado divino: a nova visão determinava que seu poder lhe era legado pelos homens e não por Deus, ideia que se disseminou rapidamente na colônia por intermédio dos estudantes brasileiros, filhos de famílias ricas, que iam cursar a universidade na Europa. 
O final do século XVIII foi um período de acirramento das contradições de interesses colônia/metrópole. 
Em Portugal, o absolutismo seguia firme, em particular durante o reinado de Dom José I – conhecido pelo despotismo esclarecido, representado por seu primeiro-ministro, o Marquês de Pombal, que cumpria um papel-chave na definição das diretrizes políticas e econômicas. 
No Brasil, o período foi marcado por dificuldade econômicas graves, resultantes da queda das exportações. 
A exceção, nesse contexto, foi o Maranhão, em virtude dos incentivos do Marquês de Pombal ao criar uma companhia de comércio altamente capitalizada para explorar e ampliar a produção e exportação de algodão, produto em alta substantiva no mercado internacional. 
O acirramento das crises internas e nas colônias, todavia, obrigou o ministro a demitir-se em 4 de março de 1777. neste mesmo ano o rei faleceu, e o trono passou a ser ocupado por Dona Maria (sua filha, mãe de D. João VI e conhecida na História como a “louca”), iniciando a viradeira. 
Na verdade, esse conjunto de mudanças não trouxe transformações importantes, pois de maneira geral a política pombalina ainda prevalecia, graças à tentativa de preservar as estruturas do exclusivo comercial. A diferença fundamental foi a redefinição de alguns laços formais que substanciavam sua existência, realizando ações como: 
A) acabar com as companhias de comércio, permitindo uma maior liberdade aos comerciantes; 
B) combate ao contrabando; 
C) permissão para o comércio intercolonial com África e o Oriente; 
D) liberação do comércio e
exploração do sal e da pesca da baleia, terminando o monopólio metropolitano nesse setor; 
E) proibição da manufatura têxtil no Brasil. 
Essas mudanças refletiam, em realidade, a crescente dependência econômica, por parte de Portugal, da colônia brasileira (essa exploração era condição básica para o desenvolvimento português) e, portanto, era vantajoso, para a metrópole, fazer concessões. 
Refletiam, também, no nível das relações internacionais, as condições impostas pela proteção inglesa. 
O caso da proibição das manufaturas é exemplar. A justificativa dada por Portugal era de que a ênfase produtiva deveria estar na agricultura, atividade principal da colônia. 
Uma diversificação em direção à produção industrial necessitaria da transferência de recursos (principalmente mão-de-obra) da agricultura para a produção têxtil, reduzindo a capacidade de expansão agrícola.
Havia, no entanto, a intenção de preservar a manufatura têxtil da metrópole da concorrência colonial, objetivando criar uma espécie de complementariedade entre a produção da colônia e da metrópole. 
O impacto real da medida era praticamente nulo, pois quase não havia produção têxtil no Brasil. A grande fonte de concorrência estava no contrabando inglês. 
Apesar da flexibilização das relações expostas, as bases do exclusivo comercial estavam mantidas, e as reações no Brasil começavam a ganhar um contorno mais decisivo. 
Exemplos históricos importantes foram a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana (conhecida como a Revolta dos Alfaiates). 
Apesar das revoltas internas de cunho pseudoliberal, nada parecia determinar o rompimento das antigas formas de relacionamento Brasil Portugal. 
As revoltas foram sufocadas na origem, implicando severas punições aos rebeldes. Além disso, eram estritamente organizadas pelas elites, com ignorância quase completa das camadas populares. 
O processo de separação colônia/metrópole só viria a ser precipitado pela invasão francesa a Portugal e a vinda da Corte para o Brasil em 1808, na medida em que determinou uma série de mudanças institucionais de relevo para que a colônia servisse de sede do governo no Rio de Janeiro, como a abertura dos portos e a criação do Banco do Brasil. 
A situação portuguesa de lucros extraordinários no comércio com a colônia foi então rompida, especialmente após a formalização dos tratados com a Inglaterra. 
As primeiras medidas tomadas com a chegada da Corte ao Brasil, foram: 
- abertura dos portos
- fomento à agricultura e fundação do Horto Real no Rio de Janeiro
- permissão de acesso de estrangeiros às sesmarias, com o objetivo de garantir fronteiras com a expansão do território
- criação do Banco do Brasil, com objetivo primordial de financiar os gastos da Coroa. 
Do ponto de vista dos colonos brasileiros, a liberalização da economia e a dinamização do comércio modificaram fundamentalmente o cenário. 
A manutenção estrutural do pacto colonial funcionava como um entrave à expansão da economia doméstica, e os grandes agricultores – classe dominante – enxergavam Portugal como um entreposto desnecessário e caro. 
O descontentamento aumentava internamente, e as medidas associadas ao pacto colonial eram cada vez mais repelidas, como a proibição do comércio entre as províncias, o monopólio de portugueses nos cargos públicos e, sobretudo, os impostos abusivos cobrados pela Coroa. 
Estes elementos conjugavam-se na intensificação do processo de independência. Entretanto, esse processo não era marcado por um forte sentimento nacionalista, notadamente do ponto de vista econômico, uma vez que a economia era claramente voltada para o exterior, com um mercado interno extremamente restrito e um sistema econômico doméstico desintegrado. 
Dessa forma, os movimentos de revolta sempre localizados regionalmente, sem qualquer unidade nacional – prevalecia, portanto, uma espécie de “antiportuguesismo” caricaturado na figura dos “branquinhos do reino”. 
A independência do Brasil 
Em 7 de setembro de 1822, D. Pedro I proclamou a independência do Brasil em relação a Portugal, tornando-se nosso primeiro imperador. 
Estava conquistada, então, a autonomia política, mas não a econômica: Portugal exigiu 2 milhões de libras para reconhecer a independência do Brasil. Como o recém-formado império não dispunha de capital suficiente, D. Pedro decidiu pedir um empréstimo à Inglaterra. 
Em relação aos demais países, México e Estados Unidos foram os primeiros países a reconhecer nossa independência. Transformavam-se também as relações comerciais, com maior autonomia para o Brasil. 
No plano interno, porém, a independência não provocou grandes mudanças. A estrutura agrária permaneceu inalterada, com base na escravidão, na monocultura e no latifúndio, e a distribuição de renda continuava desigual, beneficiando, principalmente, a elite agrária. 
O século XIX marcou um importante processo de estagnação da economia brasileira, particularmente no período que se seguiu ao processo de independência do país. 
O déficit público se agravava no plano interno. Isso ocorreu em função do aumento das despesas militares. Os conflitos regionais multiplicaram-se, e houve também disputas territoriais. 
Além disso, não podemos esquecer que o Brasil se viu obrigado a pagar uma indenização a Portugal para ter sua independência reconhecida. 
Déficit público - em macroeconomia, ocorre quando o valor das despesas de um governo é maior que as suas receitas.
27
Durante esse período, houve uma queda importante das receitas alfandegárias, resultado direto da adoção de medidas direcionadas à prática do livre cambismo, que estendeu a outros países as vantagens comerciais concedidas à Inglaterra quando da assinatura dos tratados comerciais. 
Livre cambismo – conjunto de medidas direcionadas para liberação do comércio internacional – a redução das tarifas alfandegárias, por exemplo. 
Receitas alfandegárias - são tributos cobrados pelos governos de todos os países sobre produtos importados e exportados.
Nesse cenário de estagnação e dificuldades de crédito, o único fator abundante na economia brasileira era a terra. Era essencial encontrar um produto exportável que aproveitasse essa vantagem, pois o capital disponível era praticamente inexistente, e a mão-de-obra estava entrando em um claro processo de escassez, já que a queda da receita das principais culturas, reduzia a capacidade de aquisição de escravos. 
Cultivado no Brasil desde o início do século XVIII, o café era, até então, um produto direcionado à subsistência e com difusão bastante limitada na país. Apenas no século XIX passou a ser incentivada sua produção para o mercado externo. 
Pelo lado da demanda, o crescimento dos mercados europeu e norte-americano, em função do avanço da indústria e da urbanização, foi fundamental. 
Ao mesmo tempo, do lado da oferta, o colapso da produção haitiana determinou um importante aumento dos preços internacionais, estimulando a entrada do Brasil nesse mercado. 
Contava ainda, a favor do produto, uma característica crucial para o momento: a baixa capitalização requerida para o processo produtivo. O maquinário utilizado para a produção do açúcar tinha um custo bem superior. 
Concorriam para isso a utilização extensiva da terra, com técnicas rudimentares e de fácil acesso, e as menores necessidades de reposição de maquinário, pois os equipamentos eram bem simples e, em grande parte, de fabricação local. 
Como resultado, na década de 1830 o café já era o principal produto de exportação do Brasil, superando as receitas das culturas tradicionais de açúcar e algodão. 
O início da produção de café para exportação no Brasil se deu no Vale do Paraíba. Tratava-se de uma região de condições climáticas propícias para o cultivo desse produto, com terras abundantes para o plantio. 
Ao mesmo tempo, havia recursos ociosos da área da mineração (em franca decadência em Minas Gerais), tanto de capitais como de mão-de-obra escrava. 
É importante ressaltar que
o Vale do Paraíba já vinha sendo ocupado, por ser caminho natural da área da mineração para o Rio de Janeiro, que era a capital e principal porto de escoamento das exportações. 
Desta forma, havia um claro interesse na ocupação e plantio dessa área para abastecer a capital, principalmente após a vinda da Corte Portuguesa para o país em 1808. 
Além disso, havia uma razão favorável para esta localização, em função da ausência de meios de transporte capazes de garantir o escoamento da produção a ser exportada a partir do porto do Rio de Janeiro. O café, era então, transportado por mulas, disponíveis em grande quantidade e bastante resistente para a atividade. 
O sistema de ocupação, como em geral ocorria à época, foi realizado por meio do sistema de sesmarias: as terras eram distribuídas e entregues aos fazendeiros de acordo com o número de escravos possuídos por eles. 
Sesmarias – grandes extensões de terras devolutas pertencentes à Coroa portuguesa e que eram doadas pelo monarca, ficando os beneficiados na obrigação de cultivá-las num prazo de 3 anos, sob pena de revogação da doação, e de pagar a sesma ou um sexto do que nela viessem a produzir para a Coroa. 
Nesse caso, quando a produção de café começou a ganhar peso e importância, elevando substancialmente a capacidade de geração de renda e lucros no setor, os grandes fazendeiros expulsaram os pequenos proprietários – sobretudo por meio da falsificação dos registros. 
Isso obrigava os minifundiários a migrar para as cidades ou a partir para regiões periféricas, formando cordões agregados aos grandes latifundiários. 
A produção de café no Vale do Paraíba seguiu as mesmas características básicas das demais culturas para exportação anteriormente assentadas no Brasil. 
O café era cultivado em latifúndios monocultores de base escravista, utilizando-se técnicas absolutamente precárias para a plantação, o que destacava a forma extensiva do processo produtivo. 
Tradicionalmente o “preparo” da terra para o plantio baseava-se na derrubada e queimada da Mata Atlântica que cobria a região. Não havia, entretanto, nenhum cuidado adicional com a terra, já bastante desgastada pelas queimadas. 
 A intenção dos cafeicultores era facilitar o trabalho dos escravos desprovidos de qualquer experiência com o plantio do café – oriundos em sua maioria, da atividade de mineração. 
 A necessidade recorrente de utilização de novas terras é um ponto-chave na dinâmica produtiva do Vale do Paraíba, explicando diretamente sua expansão na direção do Oeste paulista. 
Ao mesmo tempo, o emprego da mão-de-obra esvraca não causou maiores problemas para os produtores – havia escravos ociosos da mineração, posteriormente, outros foram trazidos de outras regiões decadentes do Nordeste. 
Os problemas decorrentes dessa forma de mão-de-obra, todavia, era iminentes, pois o tráfico negreiro vinha sendo cada vez mais combatido, o que determinava uma elevação substancial dos preços dos escravos. 
A Lei Eusébio de Queiroz, de 1850, determinava o fim do tráfico de escravos, reduzindo drasticamente a oferta de escravos. Nem isso, entretanto, causou uma mudança de postura dos cafeicultores do Vale do Paraíba, que mantiveram a prática de trazer negros de outras regiões do Brasil. 
O resultado foi que, ao final de 1877, cerca da metade dos escravos do país estava nessa região. Na verdade, os produtores não foram capazes de vislumbrar, até por questões ideológicas, a necessidade de uma forma alternativa de trabalho, considerando a iminente escassez de escravos após a extinção do tráfico. 
O crédito e a comercialização do café seguiam um esquema semelhante ao apresentado na cultura do açúcar. Destacava-se, assim, a figura do comissário intermediando as transações entre fazendeiros, exportadores e importadores. 
A maior parte do lucro resultante do café girava em torno da comercialização do produto, a cargo dos exportadores e dos intermediários. 
Casas Comissárias – eram pontos de venda do café nas cidades. Nestas localidades – que intermediavam o comércio entre os meios rural e urbano – compravam o café dos fazendeiros e revendiam o produto para compradores na cidade ou exterior. 
Os comissários vendiam, também produtos industrializados aos fazendeiros. Muitos deles tinham procuração dos fazendeiros para comercializar em seu nome. 
No que se refere ao crédito, os bancos nunca forneciam empréstimos diretamente aos fazendeiros, que ficavam dependentes dos comissários para auferir os recursos necessários para a produção. 
Os comissários, por sua vez, seriam responsáveis pela venda do café, recebendo uma comissão remunerada. Isso ocorria em função das próprias características do crédito, algo eminentemente pessoal até 1930 – o conhecimento direto e pessoal assumia uma importância muito grande para a concessão do crédito. 
Os fazendeiros, residentes na área rural, tinham poucas oportunidades para esse contato mais próximo com os banqueiros, os que criava um mecanismo que perpetuava a intermediações dos comissários, pois a garantia do dinheiro emprestado aos produtores era, exatamente, a sua produção. 
Inicialmente, o café era transportado por mulas, em estradas precárias, causando perdas importantes de café e escravos. Essa prática era possível em função da proximidade entre as áreas iniciais de plantio no Vale e o porto do Rio de Janeiro. 
À medida que a produção se expandia, e considerando sua natureza extensiva, outra forma de transporte tornava-se necessária. A estrada de ferro D. Pedro II foi um exemplo: foi financiada com capitais antes empregados no tráfico de escravos e que ficaram sem aplicação após a Lei Eusébio de Queiroz. 
A decadência da cultura do café no Vale é explicada diretamente pelas bases assumidas no seu processo de produção, sobretudo no que diz respeito à utilização das terras e à mão-de-obra escrava insistentemente empregada ao longo da segunda metade do século XIX, quando sua oferta tornou-se definitivamente escassa. 
Ao mesmo tempo, a decadência da cafeicultura implicou a inadimplência crescente dos produtores junto aos comissários, levando-os também a uma situação financeira complicada. 
A quebra de casas comissárias, por sua vez, atingiu também os bancos em que os comissários descontavam títulos para obter recursos. Esse processo foi responsável por uma importante redução da disponibilidade de crédito para produção, o que dificultou ainda mais a continuidade do negócio. 
Apesar de algumas tentativas de diversificação produtiva com o algodão e o açúcar, no intuito de fugir da grande dependência da plantação de café, a maior parte das fazendas do Vale do Paraíba mais próximas da capital entrou em um processo de falência irreversível. 
Como resultado, a produção de café passou a se concentrar, definitivamente, na região conhecida como Oeste Paulista. 
Assunto da próxima aula! 

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando