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Resumo crítico sobre sociologia da disputa

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Universidade de Brasília
Instituto de Ciências Sociais
Programa de Pós-Graduação em Sociologia – PPG/SOL 
Disciplina: Teoria Sociológica Contemporânea
Docentes: Sayonara Leal; Fabrício Neves
Discente: Nilza Maria Soares dos Anjos 18/0058525 
RESUMO CRÍTICO
Uma sociologia da disputa.
Interesse: abordar as diferentes manifestações do sentido ordinário da normalidade que todos somos capazes de pôr em prática na vida cotidiana (p.20) e seu vínculo com o sentido da justiça (p.21).
Questão: Que condição deve satisfazer a denúncia pública de uma injustiça para ser considerada admissível?
Orientações ao pesquisador: Renúncia em qualificar o objeto de estudo (p.24) e considerar a qualificação do caso como produto da atividade dos atores (p.25), no sentido de apreender as operações da construção dos coletivos, examinando a formação das causas coletivas (dinâmica política). Para isso foi observado duas operações: - constituição de um jurado (corpus); - definição de um sistema de atuação (actancial) que dependeria das operações de codificação.
A codificação e a análise de correspondência permitem acessar a hipótese sobre a gramática do protesto e o tipo de coações que reconhece o sentido da normalidade e da justiça (28).
As bases políticas das formas gerais (p.29).
A análise repousa no eixo particular-geral no qual os atores ocupam posições diferentes. O conceito do tamanho (ou reconhecimento) por magnitude leva a vários eixos particular-geral e várias magnitudes possíveis. A forma de generalidade que exerce coação sobre a denúncia de injustiça e a forma de generalidade que sustenta a construção de uma ordem política (p.30). A forma da magnitude confere as operações de representações e são formas de compreender os outros dos quais a representação originada em seu sufrágio não constituía mais que uma modalidade particular.
O princípio da ordem é o nível das convenções que define a humanidade das pessoas e qualifica seu valor (grandeza).
A justiça se traduz numa ordem política quando a distribuição entre as pessoas do que tem valor se realiza por referência a um princípio de igualdade (p.32). As relações entre as pessoas devem estar mediadas pela referência a um coletivo que trabalha em função do bem comum (cités).
Denúncias ordinárias e sociologia crítica (p.37)
Dificuldade da investigação: Manter distância entre a atividade de denúncia das pessoas e a atividade científica dos sociólogos é uma dificuldade do trabalho de campo.
O método consiste em revisar os valores a fim de reduzi-los mediante comparações sucessivas. Sistema de relações simbólicas, representações ou crenças (p.43).
Os elementos da teoria: ponto fixo; objetos associados a pessoas tratados como formas simbólicas destinadas a sustentar sua identidade. Os objetos têm o caráter da objetividade (p.44).
Boltanski considera a diferença entre o que o sociólogo colhe de material para análise e aquilo que o próprio agente faz. A relação entre os homens é relação de força (p.47).
A sociologia crítica põe em evidência as desigualdades na distribuição dos bens públicos: instrução; cuidados médicos; bens de consumo; bens de capital; trata-se da sociologia da justiça. Embora no centro esteja a sociologia política (p.50).
A exibição da injustiça implica explicitação de um princípio de justiça, uma vez que trabalha com escala de valores implícita. Há diferença entre fatos e valores.
Nesse sentido, a situação pode ser caracterizada como a localização das trocas intersubjetivas 
4- A sociologia da sociedade crítica (p.53)
Os atores dispõe da capacidade crítica que os permite realizar operações críticas e de justificação rotineiras, trata-se da capacidade cognitiva do agente (p.59). São situações cotidianas que exigem a reparação do argumento de justiça.
A metodologia consiste em identificar pela exterioridade da informação do ator. Nesse sentido, cabe ao sociólogo reconstituir o espaço crítico, considerando o giro linguístico enquanto linguagem produtora da realidade.
5- Modelo de competência para o juízo (p.63)
O objetivo do marco de análise do modelo é prover um instrumento para analisar as operações que os atores levam a cabo quando entregados à crítica, devem justificar as críticas que propõe e buscam um acordo fundamentado. Esse marco de análise apresentado em escala de grandeza (EG) está orientado para a questão da justiça (p. 64). O objetivo é fornecer um modelo do tipo de operações para as quais os atores se entregam quando se voltam em direção à justiça e aos dispositivos nos quais eles podem se sustentar para fundamentar suas reivindicações de justiça (observável nos casos que adquirem dimensão que se estende por período prolongado), no qual os atores trazem suas reivindicações perante a arbitragem do aparelho judicial. 
A ideia é fundar a crítica nas exigências de justiça ou de convergir para acordos justificáveis (p. 65). Assim, a justificação se liga à possibilidade da crítica.
O marco de análise do modelo pode ser abandonado quando as pessoas criticadas não respondem às críticas e, sim, impõem suas posições.
O modelo de COMPETÊNCIA (de linguagem; conjunto de objetos; dispositivos duradouros com vistas à exigência de universalização/racionalidade [p. 66]), que pode ser submetido à prova da crítica.
Especificidade do Modelo e seus conceitos:
1.Pessoas agem em situações: apreende as coações que limitam as possibilidades de ação que se oferecem às pessoas localizadas em regime de justiça (não são determinações internas). A COAÇÃO é aquela que obedece ao dispositivo da situação em que se encontram as pessoas (p. 68): apreendê-las é parte da COMPETÊNCIA dos membros de uma sociedade. Os acordos justificáveis e universais que resistem à denúncia como simples relações de forças dissimuladas, são interpretados como relações de justiça (69). A relação: FORÇA - DOMINAÇÃO – PODER = violência permanente. Aqui se compreende que a ordem da sociedade é justa, a realidade é que se apresenta injusta.
	As explicações são referentes aos valores comuns, à cultura e representações sociais (durkheiminanas), onde a COAÇÃO é natural. A coordenação das atividades individuais é resultado do duplo processo de exteriorização e interiorização (p. 70): as condições de justificação têm por referência um princípio válido para todos, que se configura no “imperativo de justificação” (p. 71).
	Nos estados justificáveis a justificação apela a recursos comuns que transcendem a situação (p. 71). 
	A capacidade metafísica compõe o modelo de COMPETÊNCIA (o laço social) para convergir ao acordo a pessoa deve fazer referência a algo transcendente, que é a equivalência. Assim, para tornar possível a convergência (do acordo) as operações de justificação devem formular a hipótese de um conhecimento comum sobre o qual podem apoiar-se os argumentos ou os dispositivos submetidos à crítica ou à aprovação (p. 73), que aponta para a legitimidade.
	Hipótese: Os atores são capazes de distinguir entre argumentos ou arranjos legítimos e argumentos ou arranjos ilegítimos, e não podem justificar-se por acordos que objetivam a generalidade do bem comum (p. 75).
6 – Princípios de Equivalência e Provas Justificáveis (p. 76)
	A crítica ao acordo diz respeito ao caráter justo ou injusto da situação. As disputas conduzidas por referência à justiça têm sempre por objeto a ordem das magnitudes na situação.
	Há definição do valor das coisas e do valor das pessoas. Tem um caráter NORMATIVO que se refere ao princípio de magnitude que permite por em relação, em uma disposição justificável, as pessoas e as coisas (p. 77).
	A MAGNITUDE é diferente do valor (é estético) e faz referência a uma ordem cujo caráter pode apontar uma ordem justificável. Descansa sobre o princípio de EQUIVALÊNCIA GERAL e cuja VALIDADE transcende a situação presente, é suscetível por todos e orientado, por essa razão, para a perspectiva universalista. (Acordos sobre as magnitudes é a condição para acordos legítimos). No modelo
das EG as magnitudes (não é valor) não se reportam a seus membros, mas à situação em que as pessoas se encontram. A magnitude tem pretensão de validade universal (p. 78). Quando entre a multidão de estados possíveis, a situação representa um estado do mundo que é justificável, ela encerra a referência a um princípio de equivalência com pretensões de validade universal em relação com o qual pode se definir a magnitude das entidades presentes.
	A magnitude de uma pessoa pode ser estabelecida por uma pluralidade de princípios de equivalência, que se ligam a diferentes situações. Rompe com a ideia de desvelar o oculto ou explorar o inconsciente e investe na hermenêutica.
	As diferentes cidades se fundamentam nas obras clássicas da filosofia política: obras que se expressam como política e enunciam os princípios de justiça que regem a cidade (p. 81). O quadro das cidades fundadas em princípios de equivalências diferentes, que considera as magnitudes legítimas.
	A realidade é o espaço crítico. Para atuar razoavelmente as pessoas devem estar em condições de desenvolver CAPACIDADES CRÍTICAS (p. 85). A capacidade de exercer a crítica depende da possibilidade de ter acesso a uma exterioridade que seja possível liberar-se da situação presente para emitir juízos sobre ela. Nos diferentes mundos a justiça se fundamenta em princípios diferentes.
	As magnitudes devem satisfazer coações de construção, para serem legítimas, e elas devem confrontar as obras de filosofia que nos serviram para extrair diferentes magnitudes com essas coações.
	Os atores são competentes para pôr em prática (COMPETÊNCIA PRÁTICA) a manifestação da sua capacidade para distinguir entre argumentos que repousam sobre MAGNITUDES LEGÍTIMAS e JUÍZOS de VALOR incapazes de sustentar uma pretensão de legitimidade, este modelo se articula com a tensão entre COAÇÕES (p. 85): coação da humanidade comum (identidade fundamental entre as pessoas); coação gera tensão: humanos que estão ordenados num princípio de magnitude.
	A determinação do estado de magnitude em que se encontra uma pessoa está subordinada à realização de uma PROVA (prova de magnitude [p. 86]). Esta prova tem lugar concreto na realidade = forma de demonstração.
	Para orientar-se no mundo em que suas ações são justificáveis, as pessoas devem possuir capacidades do tipo cognitivas (estabelecer relações e reconhecer equivalências – p. 87). A referência à justiça e ao imperativo da justificação deve guiar a análise dos dispositivos e dos procedimentos biográficos (p. 89).
	A lógica do modelo é no sentido de que a crítica supõe a comparação entre objetos correspondentes a mundos diferentes. O que interessa é quando se conduz à validade da prova. O princípio da prova não é posto em questão, mas a acusação recai no fato de que seu desenvolvimento não se deu conforme a justiça porque as pessoas levaram em conta outra magnitude.
	Elaboração de Compromisso (p. 91).
7- Provas e Temporalidade (92).
	A justiça é a forma de manter o laço social, ao mesmo tempo que traduz a distância entre modelo e realidade. As COAÇÕES que se impõem sobre a realização de uma exigência de justiça se referem à realização da prova. A noção de prova permite articular o ideal de justiça cujo sentido possuem os membros da sociedade e que se desdobra na axiomática das cidades com as situações de disputas judiciais, nas quais esse ideal é posto em prática.
	As incertezas e renovações são uma condição da retidão das provas (p. 94). A prova revela a desigualdade que justifica que os homens são ordenados segundo uma ordem de magnitude. Como exemplo, a exigência de pré-seleção de candidatos nas provas (p. 97) tem por objetivo suprimir as ambiguidades.
Fora do domínio da ação a potência é incognoscível e, entre os atos, não se pode dizer com certeza aquilo que as pessoas são capazes (p. 99). A relação entre ato e potência se refere ao fato de que o ato vale como prova à medida que expõe uma potência à luz do mundo. A potência de uma pessoa deve permanecer incognoscível em sua totalidade, porque a reputação de uma potência incognoscível é o que em nossa metafísica corrente qualifica a pessoa como tal (100).
O modelo de competência para a justiça é posto em prática e nada permite a prisão da disputa na justiça, que sempre pode ser reativada pela crítica e a realização de novas provas, ou melhor, os ordenamentos se estabilizam mediante dispositivos que levam em conta a memória para prolongar no tempo os resultados da prova, e as condições de justiça já não se cumprem porque as pessoas, cujas potências se endereçam como se pudessem conhecer-se de uma vez e para sempre, estão dotadas da irreversibilidade que, no modelo da justiça, qualifica as coisas.
Ontologia dos objetos (p. 104).
8.Quatro Modalidades de Ação (p. 105).
	No regime de paz há o quadro conceitual. Os regimes de disputa e de paz se distinguem segundo as relações no marco de equivalência ou fora delas. A disputa em termo de justiça (referida ao que faz a equivalência) corresponde a um regime de paz (justeza). A violência ignora a equivalência (p. 105). É um regime apartado da equivalência, pois o amor aparece como ágape.
	As relações no marco da equivalência. Nos regimes apartados da equivalência a violência sobressai porque há uma equivalência desconhecida antes da prova. Há o amor como ágape.
	A dupla oposição entre o regime de disputa/regime de paz e regime de equivalência/regime da equivalência está mediada pela forma em que cada regime resolve a tensão entre as pessoas e as coisas, cuja relação constitui o ponto central da metafísica dos membros da sociedade (p. 106).
	Os regimes sob equivalência associam pessoas e coisas, enquanto os regimes fora da equivalência descartam as coisas para reconhecer as pessoas (ágape) ou deixam as pessoas de lado para entrar num universo de coisas arrastadas pelas forças (violência). Nessas diferentes modalidades as pessoas não fazem o mesmo uso da linguagem (p. 106).
	Na disputa por justiça as pessoas abordam críticas e propõem justificações. A linguagem usada consiste em elevar-se em generalidade para tornar visível os princípios de equivalência que sustentam a ordem das magnitudes da situação. Isso porque as equivalências aparecem no discurso).
	Assim, no regime de paz o discurso leva o trabalho da equivalência sem toma-la explicitamente por objeto.
	A um regime de disputa na justiça o autor se opõe a um regime de paz na justiça. O regime de paz na justiça elimina as equivalências; não faz uso da linguagem para retornar reflexivamente ao a mor que os une. O regime de paz no amor se distingue do regime da disputa na justiça. Neste regime a equivalência das coisas e das pessoas é tácita (inquestionável – p. 107).
	Criticar é reclamar que os objetos trocam de mãos (p. 108). Nas disputas as pessoas são porta-vozes de coisas para se fazer justiça, mas também os porta-vozes de outras pessoas diante de injustiças.
	Falar por coisas conduz sempre a transcender a própria singularidade para ascender a um nível mais elevado de generalidade que inclui outras pessoas, assim como distingue-se delas ao destacar o que compete à pessoa a capacidade de romper a irreversibilidade pondo então, por meio da crítica, o estado das coisas feitas (p. 109).
	No amor como ágape as pessoas se colocam em presença e rejeitam a importância das coisas.
	No regime de disputa violenta encontra-se disposição de pessoas e de coisas sob relação de equivalência, silenciadas na justeza, porque as pessoas se calam às coações das coisas. Quando se desenvolve as capacidades humanas para a crítica, se transformam em porta-vozes das coisas postas em mãos erradas (o valor se encontra nas coisas). Assim, são as coisas sem pessoas e subtraídas da sua equivalência (p. 110-111).
Quais são os quatro regimes de ação?
Hipótese: As pessoas se mantêm no regime em que se encontram instaladas e se estabelecem nele como um estado. Só saem quando a situação os enfrenta com outra pessoa instalada em outro regime (p. 112).
O regime de justiça é o eixo desta
construção (p. 113). As equivalências silenciosas depositadas nas coisas é o resultado de controvérsias extintas.
Exigências da renovação de provas. (delírios-paranóias).
O espaço de cálculo da injustiça é o espaço comum, compreendendo os mesmos objetos e as mesmas relações que permitem acordo prévio sobre o diferente e sobre a questão em disputa.
Ao introduzir relações num mundo coerente de coisas equivalentes, pode-se abandonar a indeterminação (contigência) que lhe é própria (p. 117-118).
9. Do outro lado da informação (p. 119)
Os estados de ágape são passíveis de abordagem mediante o desvio por justiça. Há uma forma de discurso que não é compatível com o ágape: a informação. Ela é a forma como as pessoas transformam em intriga os casos nos quais estavam invólutas – ato para efetuar operações para pôr em evidência, por meio da interpretação totalizante, a ordem das magnitudes e das relações que associam, na realidade, aos seres julgados pertinentes para tornar inteligível a vida (p. 119).
O questionário ocupa posição privilegiada nas ciências sociais porque é a forma como esta disciplina leva à ordem da linguagem o resultado das suas investigações.
Epistemologia e Metodologia do pesquisador: exige que a análise do cientista esteja subordinada à análise dos atores (p. 121).
Confecção do informe: construção autobiográfica (p. 122) é a situação de justificação que se realiza por meio do metadiscurso (abarca atos exteriores e operações mentais).
Heurística do mal (p. 125).
BOLTANSKI, Luc. El amor e la justicia como competência. Tres ensayos de sociologia de la acción. Primera Parte: Aquello de que la gente es capaz. Editions Métailié; Paris, 1990.

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