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SUMÁRIO 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL..................................................... 4 1.1 Educação a Distância na Legislação Brasileira........................................ 7 1.2 Gerações da Educação a Distância no Brasil................................. 11 2 CARACTERÍSTICAS DA EaD...................................................................... 17 2.1 Os Processos de Ensino e de Aprendizagem na EaD............................. 17 2.1.1 A Função do Professor.................................................................................. 19 2.2 Perfil do Estudante de EaD......................................................................... 22 2.3 Orientações de Aprendizagem em EaD..................................................... 24 3 AMBIENTE VIRTUAL DE ENSINO APRENDIZAGEM (AVEA) .................. 26 3.1 Aprendizagem Colaborativa....................................................................... 29 3.2 Multimeios em EaD...................................................................................... 32 4 CONCLUSÃO................................................................................................ 37 REFERÊNCIAS............................................................................................... 38 APRESENTAÇÃO Olá, Vamos dar início a disciplina Fundamentos de Educação a Distância, acreditamos que nos cursos na modalidade a distância, esse componente curricular é de suma importância para sua formação, uma vez que sua contribuição principal é esclarecer como essa modalidade de educação funciona, quais suas principais características e habilidades e o que devemos fazer para obtermos sucesso na aprendizagem. Assim, pensando em contribuir com você, construímos o livro digital composto por três unidades, todos os conteúdos explorados contemplam os objetos de aprendizagem solicitados por esta disciplina. Desta forma, na primeira unidade, encontraremos o conceito de educação a distância, na concepção de diferentes autores. Entenderemos acerca do acelerado crescimento da EaD em nosso país, e das principais iniciativas do governo na criação de programas para facilitar o acesso de estudantes a universidades. Também aprenderemos sobre a regulamentação da EaD, e de como essa modalidade educativa tem possibilitado pessoas das mais distintas regiões do país a terem acesso a universidade. Na unidade II também teremos grandes novidades, aprenderemos como se dá o processo de ensino e aprendizagem na EaD, ou melhor, como os sujeitos dessa modalidade educativa interagem entre si. Conheceremos sobre a figura do tutor de educação a distância, suas atividades e sua importância no processo educacional. Em seguida falaremos sobre o perfil que o estudante de educação a distância, o que ele precisa fazer para obter bons resultados na aprendizagem, também conheceremos algumas orientações de aprendizagens específicas dessa modalidade; Na terceira e última unidade, falaremos do Ambiente Virtual de Ensino e Aprendizagem (AVEA), o espaço em que ocorre a prática pedagógica, ou sala de aula virtual. Conheceremos as ferramentas e possibilidades de comunicação que teremos dentro desse espaço e de toda a relevância que ele tem. Mais em seguida falaremos da aprendizagem colaborativa. Por não sermos seres isolados, a troca de experiências e vivências entre pessoas sempre contribuiu na formação do conhecimento. Em EaD não é diferente, a interação entre os sujeitos dessa modalidade, professores, tutores, alunos entre outros... possibilitará o acesso ao conhecimento. E por último, ainda nesta mesma unidade, falaremos dos multimeios em EaD, ou melhor, como a utilização dessa ferramenta pode contribuir para a formação do estudante Assim, entenderemos que através da leitura desse material didático você estará bem fundamentado para entender o funcionamento dessa modalidade educativa e obter muito sucesso em sua aprendizagem. Vamos Iniciar? 4 1 EDUCAÇÃO A DISTANCIA NO BRASIL A revolução científica e tecnológica que imperam no atual cenário mundial do século XXI impõe transformações profundas ao modo de vida das pessoas, bem como em seus costumes e tradições. A crescente industrialização aliada à tecnologia de automação modificou os diferentes modos de produção e serviços, como por exemplo, os meios de comunicação e a educação escolar. A modernização desses setores foi um passo importante para a difusão do uso da tecnologia no ensino, o que possibilitou a criação de espaço para o surgimento da Educação a Distância (EaD), caracterizada pela superação da distância entre professor e estudante. Uma prática possível pelo uso das diferentes mídias (MACHADO, 2009). Assim, “a sociedade da informação, como sociedade aberta e global, exige competências de acesso, avaliação e gestão da informação oferecida”. (ALARCÃO, 2010, p.13). Tal competência deve ser desenvolvida no contexto atual e principalmente no ambiente escolar, para tanto é necessário repensar o conceito de Educação, levando a todos os sujeitos envolvidos no processo educativo, mudança de atitudes. Dessa forma, diante dessa sociedade em que as informações estão disponíveis a todos é necessário o desenvolvimento de competências para poder encontrar, selecionar e transformar a informação em conhecimento, caso contrário, “sem essas competências, o indivíduo pode ser ‘manipulado e excluído” (ALARCÃO, 2010, p.20). E é nesse novo modelo de sociedade, como afirma Formiga (2009) que se dá a “aplicação da educação UNIDADE I Aprenderemos acerca do acelerado crescimento da EAD em nosso país, impulsionado por programas do governo para facilitar o acesso de estudantes as universidades. Também aprenderemos sobre a regulamentação da EaD, e sua contribuição na Expansão do Ensino superior no Brasil. 5 aberta e a distância, na sua abrangência em todos os campos de aprendizagem da atividade da espécie humana de forma permanente e continuada”. Mas, vale frisar que esse modelo de educação não surgiu com as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), e sim do processo evolutivo e social da educação. Então, o que é Educação a Distância? otoriamente, na EaD, encontramos uma variedade de conceitos, e curiosamente, os pontos de concordância entre os autores são bem maiores que os de discordância. Assim “A educação a distância é, pois, uma modalidade não tradicional, típica da era industrial e tecnológica, cobrindo distintas formas de ensino-aprendizagem, dispondo de métodos, técnicas e recursos, postos à disposição da sociedade”. (PRETI, 2009, p. 17). Moore e Kearsley (2011) definem a Educação a Distância como, o tipo de educação em que “alunos e professores estão em locais diferentes durante todo ou grande parte do tempo em que aprendem e ensinam”. Complementam os autores que, “como estão em locais diferentes, necessitam de uma maneira de interagir para que possam atingir os objetivos planejados”. Para tanto, os professores necessitam da tecnologia para que possam projetar cursos e interagir. Mattar (2011, p. 3) define Educação a Distância como, “[...] uma modalidade de educação, planejada por docentes ou instituições, em que professores e alunos estão separados espacialmentee diversas tecnologias de comunicação são utilizadas.” N 6 Figura 1- Separação espacial entre o professor e o aluno Fonte: GUIMARÂES (2016, p.10) Assim explicita que a separação espacial é uma marca na EaD, todavia a separação temporal apresentada no conceito de Alves (2011) tem sido cada vez menos importante para definir essa modalidade de ensino. Por que segundo Mattar afirma: [...] as novas tecnologias possibilitam realizar valiosas atividades síncronas1, em que alunos e professores podem interagir no mesmo momento, como em chats, ferramentas de voz como Skype e MSN, vídeo e webconferências, e mundos virtuais como o Second Life, entre outros. (MATTAR, 2011, p. 3). Todavia, a definição presente no decreto 5.622 de 19 de dezembro de 2005, da Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional, diz que: Educação a distância é a modalidade educacional na qual alunos e professores estão separados, física ou temporalmente e, por isso, faz-se necessária a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação. Essa modalidade é regulada por uma legislação específica e pode ser implantada na educação básica (educação de jovens e adultos, educação profissional técnica de nível médio) e na educação superior. (BRASIL, 2005). 1 São as atividades que ocorrem em dia e horário determinados, exigindo a presença dos alunos ao mesmo tempo. Um exemplo desse tipo de atividade é a reunião on-line (ROL) – debate, via ferramenta de chat, entre todos os alunos da turma e o professor-tutor a partir de questões gerais ou do trabalho realizado no fórum. 7 SAIBA MAIS Você sabia que esse decreto foi atualizado recentemente por um novo decreto de nº 9.057 de 25 de maio de 2017 que estabelece regras e legisla ainda melhor essa modalidade educativa fundamentada nos termos da lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, dando a oportunidade de oferecer a educação básica do ensino médio a possibilidade de aprender a distância. Mas para que possamos conhecer melhor esse novo decreto, precisamos aprender um pouquinho mais acerca das leis que regulamentam o funcionamento da Educação a Distância no Brasil. 1.1 Educação a Distância na Legislação Brasileira A EaD e a Educação Superior O Brasil possui um histórico de desigualdade social e boa parte disso pode ser atribuído a concentração de renda e as oportunidades de trabalho que se circunscrevem aos grandes centros financeiros e de decisão política. Considerando que o país tem dimensões territoriais, isso acarreta realidades sociais injustas, pois a concentração de educação de qualidade, informação e formação depende dessa aproximação geográfica com as grandes metrópoles. Além do que, a educação superior no país, com seus cursos e currículos sempre foi direcionada para atender aos interesses da elite social. Não obstante, na última década pelo menos, políticas públicas e medidas governamentais tem sido implementadas para mudar essa realidade e fazer com que o acesso à universidade se torne um direito de todos. Prova Então, vamos iniciar? 8 disso é a porcentagem de matrículas que vem crescendo gradativamente, mas ainda se mantém muito longe do necessário para uma sociedade mais democrática. A crescente demanda por educação, devido não somente à expansão populacional como, sobretudo às lutas das classes trabalhadoras por acesso à educação, ao saber socialmente produzido, concomitantemente com a evolução dos conhecimentos científicos e tecnológicos está exigindo mudanças em nível da função e da estrutura da escola e da universidade (PRETI, 1996, p.16). E quanto as Políticas Públicas, quais podem destacar como aquelas direcionadas à expansão do Ensino Superior? obre as políticas públicas e as medidas governamentais podemos inserir a promoção da EaD que seguiu um modelo internacional de educação e que surgiu com a finalidade de incentivar o acesso de todos que tem dificuldade de estar em uma escola presencial. Desde o surgimento, com os cursos por correspondência até os dias atuais, a sua finalidade continua sendo de uma política para a inclusão escolar, operacionalizada na atualidade. No Brasil, a EaD abrange todo o território nacional possibilitando todas as camadas sociais nos mais diversos tempos e lugares a que se tem acesso, daí seu rápido crescimento nos últimos anos em nosso país. A EaD tem representado para a população menos favorecida, oportunidades de ingresso a educação, uma vez que abrange todos os níveis de educação, sobretudo o superior, o qual é destaque do nosso estudo, motivo pelo qual a sua procura vem crescendo, além da comprovada credibilidade de sua qualidade, vista como uma alternativa para o avanço da democratização da educação. Além da democratização, a educação a distância apresenta notáveis vantagens sob o ponto de vista da eficiência e da qualidade, mesmo quando há um grande volume de alunos ou se observa, em prazos curtos, o crescimento vertiginoso da demanda por matrículas – o calcanhar-de-aquiles do ensino presencial. (LITTO; FORMIGA, 2009, p. 2). S 9 VOCÊ SABIA Com o advento da EaD, oficializado no Brasil em 1996 pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de nº 9.394 pelo decreto nº 2494 do Ministério da Educação (MEC), de 10 de fevereiro de 1998, o então cenário de concentração de ambientes acadêmicos em grandes centros , como já fora falado no parágrafo anterior, começou a mudar. A possibil idade de expandir o acesso a educação através dessa nova modalidade faz o sonho de ingresso a universidade se tornar realidade mesmo sem a necessidade de deslocamentos para os grandes centros. Vista como novidade pela população – indubitavelmente pela parcela mais jovem - e concebida pelo poder público como panaceia para a universalização da educação, ela se enquadra em uma perspectiva de análise social pós-moderna, na medida em que coloca em questão a hegemonia das escolas tradicionais. A instituição escolar, sobretudo a universidade, como detentora de um saber único e exclusivo e com sua condição de superioridade, controlada por alguns iluminados, tem sido questionada constantemente. Esse questionamento diz respe ito a sua capacidade de se adaptar as novas demandas pedagógicas das novas gerações de estudantes. A referida lei 9.394/96, no artigo 80, cujo caput dispõe que “O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de educação a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada”. (BRASIL, 1996), conferiu ao poder público o dever de incentivar o desenvolvimento e a veiculação de programas de educação a distância, em todos os níveis e modalidades de educação, como no ensino superior de graduação. A EaD passa então a se constituir como um potencial meio de formação escolar não presencial. Sem desconsiderar os problemas existentes na operacionalização, bem como no que se refere aos aspectos didáticos e pedagógicos que envolvem essa modalidade. É preciso reconhecer que houve uma expansão na quantidade de vagas nas universidades a partir dessa modalidade educativa, e, portanto, mais pessoas estão acessando aos cursos superiores. A regulamentação desse artigo se deu pelo decreto nº 2.494/98 do MEC, revogado em seguida pelo Decreto nº 5.622/05, que legitima a utilização dos meios de comunicação como um instrumento mediador legal do processo de ensino e aprendizagem e que coloca essa modalidade educativa em seu justo lugar ao definiro papel do estudante, do professor, da tecnologia no processo ensino aprendizagem utilizando essa modalidade. Para os fins deste Decreto, caracteriza-se a educação a distância como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos. (BRASIL, Decreto 5.622/2005). 10 A partir da substituição desse decreto, a consolidação da EaD, enquanto modalidade democrática ganhou mais força, uma vez que ele destaca um diferencial, que é o processo de ensino aprendizagem que pode se dar em tempo e lugares diversos, onde estudantes e professores não precisam estar sincronizados para que haja aprendizagem. Porém, a interação entre esses sujeitos não trata apenas da tecnologia, mas das relações do processo de construir conhecimento com os alunos em forma de diálogo no processo de aprendizagem. Mas, o Ministério da Educação, tendo ciência da importância dessa modalidade educativa e da sua contribuição na expansão do ensino superior no Brasil e com o intuito de conseguir ainda mais ampliar o acesso à educação superior, fez uma nova atualização da legislação vigente e regulamentou a EaD em todo o país, através do Decreto nº 9.057, de 25 de maio de 2017 que regulamenta o art. 80 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Art. 1º Para os fins deste Decreto considera-se educação a distância a modalidade educacional na qual a mediação didático pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorra com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com pessoal qualificado, com políticas de acesso, com acompanhamento e avaliação compatíveis, entre outros, e desenvolva atividades educativas por estudantes e profissionais da educação que estejam em lugares e tempos diversos. (BRASIL, Decreto 9.057/2017). Em meio as solicitações desse novo decreto, ganha destaque a figura do tutor2, enquanto parte integrante do processo ensino aprendizagem que vem a cada dia mais sendo destacado pelo seu trabalho magistral de intermediar conhecimento através das tecnologias de informação e comunicação. 3 2 Cechinel (2000), o tutor é aquele para o qual se compreende a função de facilitar e mediar a aprendizagem, além de motivar, orientar e avaliar as atividades dos alunos. Por essa perspectiva, percebemos que é o tutor que estabelece uma relação direta com os alunos, auxiliando-os no manejo e na aproximação dos conteúdos. Sua identificação formativa, pedagógica e social é análoga ao do professor “tradicional”, ainda que apresente outra denominação. Merece destaque também, enquanto mais uma iniciativa do poder público, a criação da Universidade Aberta do Brasil (UAB), regulamentada pelo decreto nº5.800 de 08 de junho de 2006. 11 A UAB tem como objetivo “o desenvolvimento da modalidade de educação a distância, com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de educação superior no País” (BRASIL, 2006, p. 1). E destacam-se como objetivos do Sistema UAB: I - oferecer, prioritariamente, cursos de licenciatura e de formação inicial e continuada de professores da educação básica; II - oferecer cursos superiores para capacitação de dirigentes, gestores e trabalhadores em educação básica dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; III - oferecer cursos superiores nas diferentes áreas do conhecimento; IV - ampliar o acesso à educação superior pública; V - reduzir as desigualdades de oferta de ensino superior entre as diferentes regiões do País; VI - estabelecer amplo sistema nacional de educação superior a distância; e VII - fomentar o desenvolvimento institucional para a modalidade de educação a distância, bem como a pesquisa em metodologias inovadoras de ensino superior apoiadas em tecnologias de informação e comunicação. (BRASIL, 2006). Observa-se que há uma prioridade, na UAB para a formação inicial e continuada de professores, e é a partir da criação da UAB que cresce a oferta de cursos oferecidos a distância. Assim a UAB assume um papel de grande relevância no cenário nacional, atribuindo a essa medida governamental a responsabilidade pelo aumento significativo do número de acessos à universidade. 1.2 Gerações da Educação a Distância no Brasil O processo histórico da Educação a Distância foi evolutivo e dinâmico. Sua origem foi caracterizada pela educação por correspondência iniciada no final do século XVIII e com ampla divulgação em meados do século XIX. A sua evolução está intimamente relacionada com a evolução tecnológica em função de uma de suas características ser a mediação professor-estudante, realizada mediante o uso de tecnologias da informação e comunicação. 12 Figura 2 – Trajetória da EaD Fonte: Beltrão (2016) Embora a evolução tecnológica seja um fator importante, não é a única. Desse modo, Preti (2009) destaca: [...] a crescente demanda por educação, devida não somente à expansão populacional como sobretudo às lutas das classes trabalhadoras por acesso à educação, ao saber socialmente produzido, concomitantemente com a evolução dos conhecimentos científicos e tecnológicos está exigindo mudanças a nível da função e da estrutura da escola e da universidade. (PRETI, 1996, p.16). Segundo ele, o século XX encontrou na EaD uma alterativa, ou seja, uma maneira de atender as demandas crescentes por formação e atualização de conhecimentos e práticas profissionais diante da situação de crise financeira que atravessam os países em desenvolvimento, como o Brasil, por exemplo. Para Preti (1996, p. 17) “o importante é que se conceba a Educação a Distância como um sistema que pode possibilitar atendimento de qualidade, acesso ao ensino, além de se constituir em forma de democratização do saber”. Isso porque, em alguns países já ganhou seu espaço de atuação, reconhecida pela sua qualidade e inovações metodológicas e considerada como a educação do futuro, da sociedade midiatizada pelos processos informativos. Nunes (2009), afirma que primeiro foram os “cursos por correspondência” em que havia um produtor individual e um ou poucos alunos na ponta. Posteriormente, já na primeira metade deste século surge o sistema de radiodifusão, sendo alguns articulados com material impresso e não somente com a palavra proferida pelo rádio. 13 Já na década de 1950 aparece nesse contexto a televisão, que embora exista desde a década de 1930 é somente após a segunda Guerra Mundial que começa a despontar como novo meio de comunicação. Nunes (2009, p.7) afirma que “De meados de 1960 até início da década de 1980, tivemos o reinado da televisão educativa. Vários sistemas foram sendo montados no mundo todo, da China até a Grã Bretânia, do Japão até o Brasil”. Moore e Kearsley (2011) deixam claro que a educação a distância não teve início com a invenção da internet, embora muitos acreditem nisso. Para eles, a EaD evoluiu ao longo de diversas gerações, eles identificam cinco gerações, sendo: A primeira geração ocorreu quando o meio de comunicação era o texto, e a instrução, por correspondência. A segunda geração foi o ensino por meio da difusão pelo rádio e pela televisão. A terceira geração não foi muito caracterizada pela tecnologia de comunicação,mas, preferencialmente, pela invenção de uma nova modalidade de organização da educação, de modo mais notável nas universidades abertas. Em seguida, na década de 1980, tivemos nossa primeira experiência de interação de um grupo em tempo real a distância, em cursos por áudio e videoconferência transmitidos por telefone, satélite, cabo e redes de computadores. Por fim, a geração mais recente de educação a distancia envolve ensino e aprendizado on-line, em classes e universidades virtuais, baseadas em tecnologias na internet. (MOORE, KEARSLEY, 2011, p.25). Assim, as cinco gerações estão resumidas em: Correspondência, Transmissão via Rádio, Universidades Abertas; Teleconferência; Internet/ web. Já Mattar (2011, p. 4) quando trata da história da EaD divide apenas em três grandes gerações: “(1) cursos por correspondências; (2) novas mídias e universidades abertas; e (3) EAD on-line”. Segundo o mesmo autor, os cursos por correspondências surgiram efetivamente em meados do século XIX, em função do desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação, como trens e correios, sendo que os seus materiais eram primordialmente impressos e encaminhados por correios. A segunda geração caracteriza-se pelo uso das novas mídias, como televisão, rádio, fitas de áudio e vídeo e telefone. Ele destaca como um momento importante nessa geração, a criação das universidades abertas de educação a distância que foram fortemente influenciadas pela Open Universit, fundada em 1969. E a terceira geração, como ele afirma, “introduziu a utilização do videotexto, do microcomputador, da tecnologia de multimídia, do hipertexto e de redes de computadores, caracterizando a EaD on-line.” (MATTAR, 2011, p. 6). 14 Fujita (apud TAYLOR, 2001) afirma ainda que a Educação a Distância até hoje passou por quatro gerações e atualmente vivencia a quinta. A ‘Primeira Geração’ tem como metodologia a utilização da instrução por correspondência, em função da expansão dos correios no século XX, onde utilizavam-se nesse período meios impressos (apostilas, manuais, folhetos entre outros). Uma característica desse ensino destacada pelo autor é a não interação entre a instituição, o professor e o aluno. A ‘Segunda Geração’ aconteceu no início da década de 70 com a chegada do rádio, da televisão e do vídeo e nesse momento já começa uma associação entre os materiais impressos e os recursos multimídias. Ainda assim, não havia um diálogo real entre o aluno e o professor, sendo o processo comunicativo ainda de maneira unidirecional. A ‘Terceira Geração’ surge a partir da década de 90, já em um formato multidirecional favorecida pelo avanço das TIC’s, modelo esse que, segundo Fujita (2001), foi adotado primeiramente pelas Instituições de Ensino Superior (IES) dos Estados Unidos da América (EUA). Iniciam-se nesse período a aprendizagem por ‘conferência’ com atividades ‘síncronas’ A ‘Quarta Geração’ é caracterizada pela flexibilização do processo ensino- aprendizagem, sendo que a interatividade é a sua principal característica, pois acontece em tempo real e permite que a relação professor e aluno sejam bem mais próximas, diminuindo assim, a sensação de distanciamento. Nesse momento, surgem inúmeras maneiras de promover a aprendizagem através de recursos disponíveis, tais como: os Ambientes Virtuais de Aprendizagens (AVA’s), correios eletrônicos ou por outros mecanismos como ‘MSN’, ‘Yahoo’, ‘Skype’ entre outros. Na conjuntura atual, vivencia-se a ‘Quinta Geração’ da EaD, sendo que as TIC’s continuam sendo as principais mídias de comunicação e a cada dia com uma maior exploração, ou seja, tudo o que se tem na ‘Quarta Geração’ só que mais aprimorado. Assim, observa-se que o desenvolvimento da tecnologia nos últimos anos, permitiu a expansão da educação a Distância e as inovações no processo ensino- aprendizagem dos alunos que frequentam esses cursos. Alves (2011, p. 9) explica que em 1900, no Brasil, já existiam anúncios em jornais de circulação do Rio de janeiro oferecendo cursos profissionalizantes por correspondência. Estes cursos eram ministrados por professores particulares. E em 15 1923 era fundada a rádio Sociedade do Rio de janeiro, tratava-se de uma iniciativa privada. Dessa forma, a rádio, foi no Brasil, o segundo meio de transmissão do saber a distância. Em 1941 começam a se espalhar pelo Brasil o Instituto Universal Brasileiro (IUB) com seus cursos por correspondências que até hoje dividem opiniões entre aqueles que acreditam em seu processo de aprendizagem e aqueles que desacreditam que os referidos cursos possam levar a formação profissional básica. Durante as décadas de 60 e 70 foram criados programas tais como: Fundação Brasileira de Educação (FUBRAE), Fundação Padre Anchieta (TV Cultura/SP), Fundação Educacional Padre Landell de Moura (FEPLAM), TVE do Maranhão (CEMA), TVE Ceará, com a oferta de cursos pela televisão, com suporte de material impresso. Destaca Alves (2011, p.10) que os anos se passaram e não ocorreram resultados concretos nos canais abertos de televisão em função de “na maioria dos casos, os programas serem transmitidos em horários incompatíveis com a disponibilidade dos possíveis alunos-usuários”. Ao longo da história da Educação a Distância no Brasil, existiram vários modelos de EaD: rádio, televisão, computador e internet. Preti (1996) localiza as raízes da EaD no Brasil, na Fundação da Radio Sociedade do Rio de Janeiro em 1923, porém destaca que somente na década de 60 que tomará significativa expressão e explica o porquê: [...] em 1965 começou a funcionar uma Comissão para Estudos e Planejamento da Radiodifusão Educativa que acabou criando, em 1972, o Programa Nacional de Teleducação (PRONTEL) com objetivo de integrar todas as atividades dos meios de comunicação com a Política Nacional de Educação. Posteriormente, em 1972, o governo federal criaria a Fundação Centro brasileiro de Televisão Educativa que, em 1981 passaria a denominar FUNTEVE e que viria fortalecer o Sistema Nacional de Radiodifusão Educativa (SINREAD) colocando no ar programas educativos, em parceria com diversas rádios educativas e canais de televisão. (PRETI, 1996, p. 20). Santos (2008) deixa claro que, a partir dos anos 90, a Educação Superior à Distância começa a tomar rumos de desenvolvimento no cenário educativo brasileiro. Em 1993, foi criado o Sistema Nacional de Educação à Distância e, em 1995, surgiu a Secretaria de Educação a Distância, e a Universidade Aberta do Brasil (UAB) foi instituída em 2005. No ano de 1995, foi criada pelo Decreto nº 1.917 de 27 de maio, a Secretaria de Educação à Distância no MEC, a SEED/MEC, vários programas de EaD 16 foram implantados, em nível nacional, como o programa “Um Salto para o Futuro” em 1991 que objetivava a formação continuada de professores do Ensino Fundamental, com apoio da Fundação Roquete Pinto, O programa TV Escola em 1995, o Programa Nacional de Informática na Educação (PROINFO) – que desenvolveu um ambiente de aprendizagem colaborativo on-line, o e-ProInfo e o Fundescola, um programa de rádio destinado para o Ensino Fundamental. No ano 2000, foi criado o curso de formação de professores em nível médio - Proformação. Assim, segundo Santos (2008), a partir de 1998, foram sancionados decretos e portarias contendo normas e parâmetros para a Educação a Distância no país. Em fevereiro de 1998, foi aprovado o decreto nº 2.494, regulamentando o art. 80 da LDB e estabelecendo os parâmetros para a Educação à Distância nos níveis de graduação, pós-graduação (mestrado) e ensino profissional e tecnológico, além de outras iniciativas que só contribuíram para o avanço dessamodalidade educativa. 38 REFERÊNCIAS ABED. Associação Brasileira de Educação a Distância. 2012. Disponível em: http://www2.abed.org.br/eadfaq.asp. Acesso em: 11 ago. 2012. ALVES, J. R. M. A Educação a Distância no Brasil: síntese histórica e perspectivas. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação, 2011. BRASIL. Decreto nº 2.494, de 10 de fevereiro de 1998. Regulamenta o art. 80 da LDB. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/leis/D2494.pdf. Acesso em 03 abr., 2014. ______. Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005. Regulamenta o art 80 da Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 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Na análise, dois aspec- tos são enfatizados: o relacionado à lógica de expansão da educação superior que incide também sobre a modalidade a distância e, in- trínseco a essa modalidade de ensino, a lógica estabelecida em sua organização, fundamentada independentemente das naturezas dos estabelecimentos de ensino superior, nos elementos a serem dispos- tos na concretização de seus sistemas. Por conta dessas lógicas com- plementares entre si, a oferta da educação a distância (EaD), tanto na esfera pública quanta na esfera privada, constitui modelo bas- tante similar nas instituições com ela implicadas, equalizando sua oferta e condicionando a qualidade dos cursos, denotando seu “lu- gar” no ensino superior. Palavras-chave: Ensino superior. Expansão do ensino superior. Educa- ção a distância. THE EXPANSION OF HIGHER EDUCATION IN BRAZIL AND DISTANCE LEARNING: DYNAMICS AND PLACES ABSTRACT: This work is based on an analysis of documents es- tablishing distance learning in Brazil, more specifically on the Decree that regulates it and on the Quality Benchmarks for Higher Distance learning. The analysis emphasizes two aspects: * Doutora em Educação e professora do Departamento de Ensino e Organização Escolar e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). E-mail: katia@ufmt.br 1320 A expansão do ensino superior no Brasil e a EaD: dinâmicas e lugares Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1319-1335, out.-dez. 2010 Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> the expansion logic of higher education that also affects the dis- tance mode and is intrinsic to this type of education, and the logic established in its organization, founded, independently of the nature of the universities or colleges, on the items needed to implement their systems. Since these logics complement each other, the provision of distance learning, both in the public and private sectors, presents a very similar model, which conditions the quality of the courses and show their “place” in higher edu- cation. Key words: Higher education. Expansion of higher education. Dis- tance learning. Primeiras anotações discussão sobre a expansão da EaD no Brasil apresenta, de fato, contradições importantes sobre a qualidade do ensino superi- or, denotando algumas das estratégias do poder público para o incremento dos índices de acesso a esse nível de ensino. Se há, por um lado, programas de financiamento que canalizam recursos da es- fera pública para a esfera privada, como o Programa Universidade Para Todos (PROUNI), a EaD é claramente tomada como modalidade de en- sino para aceleração rápida da expansão de vagas no ensino superior. No mote da expansão da EaD, dois temas são recorrentes: a de- mocratização do acesso ao ensino superior e a necessidade da forma- ção dos profissionais da educação, como fator para melhoria da qua- lidade do ensino fundamental e médio. Importante frisar que a tônica das propostas, no âmbito da formação dos profissionais da educação, abarca as duas dimensões que são consensuais em se tra- tando da formação do professor: a inicial e a continuada. A formaçãoinicial, como exposto no Documento da Conferên- cia Nacional de Educação Básica (CONEB, 2008),1 tem vinculação com a formação em nível superior. No caso da formação de professores, tal perspectiva tem origem nas lutas docentes das décadas de 1980/ 1990 e na própria “conformação” da carreira profissional que traz a formação inicial, em nível superior, como condição para se atingir pa- tamares mínimos que a articulem – formação – e salário. Isto posto, se a concordância em torno desse assunto implica reconhecer a ne- cessidade de expansão efetiva do sistema do ensino superior brasileiro, 1321Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1319-1335, out.-dez. 2010 Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> Kátia Morosov Alonso de modo que seja assegurada a formação inicial aos professores em exercício, bem como àqueles que fizerem a opção por esta carreira, teríamos aqui uma das primeiras questões a serem pensadas/discuti- das no momento. Além da formação inicial, o documento da CONEB aponta tam- bém a formação continuada como uma das condições para a melhoria da qualidade da educação. Embora a ideia da educação continuada não esteja vinculada apenas às instituições de ensino superior, por se considerar que essa dimensão da formação profissional esteja integra- da, no caso dos professores, aos sistemas de ensino, há, de toda ma- neira, estreita ligação entre as dimensões de formação antes citadas e o ensino superior. A temática “Formação e expansão do ensino superior” é impor- tante para discussão das propostas relacionadas à EaD, na medida em que se propõe estabelecer, minimamente, como se faz no documento da CONEB, os âmbitos da formação que poderiam, ou não, ser desen- volvidos por essa modalidade de ensino. Daí a proposta de se refletir a EaD, tendo por base a “leitura” de documentos que pautam a oferta do ensino superior, já que isso se articula ao problema da qualidade da educação, tido como foco das políticas públicas, especialmente para a educação básica. Antes de adentrar as discussões aqui propostas, é relevante des- tacar que o problema da formação em nível superior e a consequente expansão desse nível de ensino indicam movimento que, independen- te da modalidade em que se processa a formação superior: se presencial ou não presencial, define a lógica que a conforma. É essa dinâmica que implica e redunda os atuais modelos de EaD em nosso país. Se há, por um lado, esse movimento – o da expansão – quan- do tomamos a EaD mais especificamente, há elementos que definem lógica particular que se articula e transcende esse movimento mais amplo: o da caracterização de sistema de EaD, conforme preconizado no Decreto n. 5.622, de 19 de dezembro de 2005,2 indicando os elementos necessários para credenciamento das instituições interessa- das no uso dessa modalidade, isso corroborado pelo documento de- nominado “Parâmetros de Qualidade para a Educação Superior a Dis- tância”.3 1322 A expansão do ensino superior no Brasil e a EaD: dinâmicas e lugares Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1319-1335, out.-dez. 2010 Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> Se, com relação ao movimento mais amplo da expansão do ensi- no superior, a natureza das instituições supõe organizações diversas para a oferta de cursos com marcações específicas segundo seu status – se universidades ou não – no caso da EaD, e, considerando a documen- tação relacionada à sua institucionalização, percebe-se, claramente, pro- posição de sistema que equaciona a oferta de vagas fundamentada em determinados elementos que independem da natureza jurídica e/ou institucional dos estabelecimentos de ensino superior. Nessa lógica, qualquer instituição de ensino superior que disponibilize os “itens” previstos para seu credenciamento em EaD teria, a priori, as condições para oferta de vagas/cursos nessa modalidade. Sendo assim, a institucio- nalização da EaD em nosso país consolida a lógica da expansão, nive- lando ofertas que seriam diferentes em razão da natureza das institui- ções (se públicas ou privadas, universidades ou não), mas equalizadas quando da organização de seus sistemas, considerando os elementos/ itens postos como os particulares para a modalidade. Antes de tratar dos elementos aqui referidos, é importante situar o quadro de oferta da EaD no país, já que desse ponto de vista há incipiência em seu uso, fato que não invalida as lógicas antes citadas. Ensino superior e educação a distância As discussões sobre a EaD no ensino superior, para além das especificidades e singularidades intrínsecas a ela, vêm acompanhadas, quase sempre, do que seriam possibilidades e limites de seu uso. É frequente questionar, por exemplo, que especialidades ou campos da formação poderiam se prestar, mais ou menos, à sua organização. Ve- mos surgir assim “feudos”, em que se convenciona trabalhar, ou não, com a EaD, isso como forma/modo de se conservar a qualidade na for- mação. E o termo qualidade se converte no critério para afirmar ou negar a EaD como possibilidade educativa. Este é um dos pontos para a reflexão em pauta. Antes de seguir um pouco mais neste caminho, é importante mencionar algumas discussões sobre o uso das tecnologias da in- formação e comunicação (TIC) nos processos de formação. Este campo, embora pouco explorado pelas instituições educacionais, tem sido confundido como “espaço” exclusivo da educação a distância. 1323Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1319-1335, out.-dez. 2010 Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> Kátia Morosov Alonso Recorrentemente, nos esquecemos que seu uso mais intenso nos pro- cessos de escolarização/formação impõe saberes/pensares muito mais amplos que os direcionados apenas às aplicações em modalidades de ensino/aprendizagem. O problema do uso de determinadas tecnolo- gias nos processos educativos não se restringe à eficiência e eficácia que isso poderia imprimir aos projetos/programas de ensino. Tratar da EaD e das TIC implica políticas publicas e institucionais, financia- mento e projetos “instituidores” de alternativas pedagógicas, identi- ficados com os princípios da democratização da escola em seus vários níveis, entendidos como de acesso e permanência com qualidade no sistema público de ensino. Esses compromissos, embora banalizados em seus sentidos, são aqui reafirmados justamente pelo fenômeno da expansão do ensino superior observado com mais intensidade nos úl- timos 12 a 15 anos, e do qual não poderíamos desvincular a EaD. Ao reduzir, no entanto, o uso das TIC como algo mais afeto à oferta dessa modalidade, particulariza-se problemática que tem maior abran- gência e implicações que somente a de promover interações em pro- jetos/programas de formação não presenciais. A dinâmica de expansão do ensino superior no Brasil, para reto- marmos discussão anterior, é marcada pelo avanço do setor privado. Mesmo conhecidos, vale lembrar que dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), e segundo esse Instituto, a educação superior brasileira é uma das mais privadas do mundo (INEP, 2008).4 No ano de 2007, das 4.880.381 matrículas no ensino superior, aproximadamente 84% concentravam-se em institui- ções de natureza privada. Do total de 2.281 instituições de ensino su- perior, 89% eram de instituições desse setor e apenas 11% de institui- ções públicas. Desse total, segundo Resumo Técnico – Censo da Educação Superior de 20075 –, 106 instituições eram de ensino supe- rior federal, 82 estaduais e 2.032 privadas, com cerca de 2 mil estabe- lecimentos caracterizados como faculdades, escolas, institutos, faculda- des integradas e faculdades de tecnologia, enquanto as universidades e centros universitários respondiam por 8% e 5,3%, respectivamente. Ainda com relação às matriculas, há dado significativo: do total antes indicado, ao redor de 52% delas concentravam-se nos cursos de Ad- ministração, Direitoe Pedagogia, nesta ordem. Em documento publicado no ano de 1999, assinado pela então Presidente do INEP, Maria Helena Guimarães Castro,6 a tendência 1324 A expansão do ensino superior no Brasil e a EaD: dinâmicas e lugares Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1319-1335, out.-dez. 2010 Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> “expansionista” do ensino superior brasileiro nas direções aqui evi- denciadas era política reconhecida como eficiente (expansão acelera- da) para melhoria do acesso ao ensino superior. Essa política gerou resultados: as faculdades continuam representando a maior parte das instituições de ensino superior (IES) no Brasil e cerca de 92% delas pertencem ao setor privado. Outro dado importante a ser verificado é que houve incremen- to de 1.387 (6,3%) de novos cursos nas IES brasileiras, apenas as ins- tituições estaduais não registraram crescimento em 2006, apresentan- do decréscimo de 7,7% nos cursos ofertados. Com a EaD a expansão não foi diferente dos dados gerais apre- sentados. Se no ano de 2000 o INEP anunciava a existência de 10 cur- sos de graduação, em 2003 esse número era de 52, atendendo a cer- ca de 50 mil alunos. Em 19 de dezembro de 2006 o INEP noticiava que, entre os anos de 2003 a 2006, houve aumento de 571% de cur- sos a distância e de 371% dos matriculados nessa modalidade.7 Em 2005 os alunos da EaD representavam 2,6% do universo dos estudan- tes no nível superior. Já em 2006 essa participação fora aumentada para 4,4%. Dados do Censo do Ensino Superior de 2007 indicaram que a graduação a distância era oferecida por 97 instituições, com o número de vagas aumentado em 89,4% em relação a 2006, totalizando 369.766 matrículas. Isto representava 7% do total de matriculas dos cursos de graduação.8 Os dados relacionados à parti- cipação dos alunos em instituições privadas e públicas, bem como à distribuição em que estavam organizadas, não sofreram alterações sig- nificativas. O Anuário Brasileiro Estatístico de EaD/20089 (ABRAD) estimou em 2.504.438 os brasileiros em cursos nesta modalidade. Destes, 40% cursavam graduação e 39% lato sensu. Os demais alunos esta- vam distribuídos em outros níveis de ensino. Ainda conforme o Anu- ário, a iniciativa privada tem presença marcante nessa modalidade. Representa 62,9% das instituições que atuam na EaD, atendendo a 82,9% dos alunos matriculados, sendo que 46,65 estão concentra- dos em quatro instituições: UNOPAR, UNITINS,10 UNIASSELVI e FAEL. Com base nos dados até aqui apontados e corroborando pesqui- sas nesse campo (Dias Sobrinho, 1999), é possível afirmar que há uma lógica na expansão do ensino superior brasileiro, claramente privatista, 1325Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1319-1335, out.-dez. 2010 Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> Kátia Morosov Alonso quantitativista e concentrada em determinadas áreas do conhecimen- to. A EaD não estaria, obviamente, alheia a esse fenômeno. Isto é im- portante para verificarmos que a contradição expansão versus qualida- de da educação superior brasileira não se restringe apenas à modalidade em que se dá a oferta dos cursos. É possível evidenciar certa acelera- ção dessa expansão no caso da EaD, considerando as variáveis tempo e número de alunos. Isto, contudo, não interfere na lógica antes re- ferida. Por outro lado, os dados relacionados ao Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE),11 que integra o Sistema Nacio- nal de Avaliação do Ensino Superior (SINAES), também organizados pelo INEP, mostram12 que a expansão do ensino superior foi recorrente- mente acompanhada por índices de baixa qualidade do ensino/apren- dizagem, sobretudo nos três cursos em que se concentraram as ma- trículas do ensino superior. Nessa perspectiva, o argumento de que a EaD imprimiria “me- nos qualidade” no ensino superior, por conta de sua expansão, parece frágil quando tomamos os dados gerais relacionados a este nível de ensino no Brasil. A dinâmica da expansão, a forma pela qual se orga- niza a maior parte das instituições superiores, entre outros fatores, expressa contexto em que a EaD, como parte disso, talvez por sua mai- or visibilidade em razão dos inúmeros polos presenciais espalhados pelo país,13 é tomada, emblematicamente, como o elemento proble- mático na expansão do ensino superior. Isso não significa desconhe- cer os problemas oriundos da instalação de cursos e polos pelo país afora. O único senão, nesse caso, é o de considerar o contexto, a di- nâmica e a lógica implícita na aceleração da oferta dessa modalidade no ensino superior. Desatar a expansão da EaD da propagação no en- sino superior brasileiro parece temeroso. Aprofundar a discussão so- bre essa temática seria condição necessária, talvez não suficiente, para elaboração de políticas públicas para o ensino superior brasileiro, principalmente se tratarmos da formação de professores. Diante dos dados e, para além dos problemas relacionados à expansão do ensino superior no Brasil, os documentos que funda- mentam a oferta da EaD no país, como apontado anteriormente, ensejam conformação de modelo que equaliza a oferta de cursos nes- sa modalidade e cujos elementos serão evidenciados a seguir. 1326 A expansão do ensino superior no Brasil e a EaD: dinâmicas e lugares Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1319-1335, out.-dez. 2010 Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> Educação a distância como modalidade de ensino Embora com certa ambiguidade, os documentos que serviram de base para consubstanciar a análise do presente texto tratam a educação a distância como modalidade de ensino/aprendizagem. Isso é impor- tante por refletir compreensão dela como maneira/modo de organizar o processo educativo, contemplando sua principal característica: pro- fessores e alunos não estarem face a face durante todo o tempo da for- mação. Tal especificidade implicaria organizar o trabalho pedagógico diferentemente do ensino presencial. Se há consenso de que a aprendi- zagem em sujeitos ativos e em relação sugere mediação e interação como dimensões intrínsecas dos processos do ensinar e aprender, a or- ganização dos procedimentos educacionais que efetivassem isso seria condição para se pensar a formação. Antes de implicar EaD como metodologia (Moore, 1990) ou estratégia (Garcia Garrido, 1989), re- conhecer suas particularidades e, com isso, fundamentar projetos/pro- gramas que integrem as finalidades da formação com elementos curriculares, metodológicos e de processos/procedimentos de acompa- nhamento e avaliação, entre os mais relevantes, seria “via” importante para se pensar a expansão do ensino superior, em consequência dessa modalidade, de maneira a não se estandardizar o ensino. Buscar outras maneiras de se ofertar ensino superior num país continental como o nosso é tarefa social importante, sem dúvida. Cuidar, contudo, para que essa expansão venha acompanhada por criterioso diagnóstico e locali- zação de demandas seria levantamento inicial para se priorizar deter- minadas políticas nesse sentido. No entanto, o elemento definidor da EaD – a não presencia- lidade – é tomado como fator de equalização da oferta e disso são emanados os outros elementos que caracterizariam a organização de seu sistema. É essa especificidade que informa, por si só, os parâ- metros da relação pedagógica, propondo características à modalidade tais como: o controle do aprendizado estar mais ligado ao aluno e a necessidade de artefatos técnicos ou meios tecnológicos que viabili- zem processos comunicacionais entre os atores da formação. Dessa maneira, os elementos postos “como da EaD” acabam por definir as relações e a forma pela qual a gestão da aprendizagem ocor- reria, entendendo que a construção do conhecimento estaria, assim, viabilizada.14 A problemática em torno dessa ideia/ideal parece-nos 1327Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1319-1335, out.-dez. 2010Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> Kátia Morosov Alonso estar no fato de se pretender que sistemas de EaD funcionem pela integração de determinados elementos passíveis de mediação pelos professores/tutores – independentemente de ser a distância ou não – , sem se considerar o aluno em formação. Mais importante que os alunos, são os sistemas de gestão e operacionalização. A mediação se- ria apoiada, em princípio, pelos sistemas constituídos para a EaD.15 É essa lógica que subverte a ação dos sujeitos, reclamando processos de interação constantes e aprofundados, impedidos de acontecer quan- do entendidos na perspectiva de “modalidade de ensino”, como o apontado nos documentos em pauta. Se questões de caráter amplo, como as mencionadas até o mo- mento, convergem para entendimentos que implicariam reconhecer a EaD como modalidade educativa, imprescindíveis seriam as defini- ções dos projetos institucionais/pedagógicos que manifestassem tal princípio. Um dos problemas é que isso se expressa, nos documentos oficiais, pela indicação de elementos e/ou itens que definem o que seria necessário/adequado para a instalação desses sistemas. Se uma insti- tuição de ensino superior contempla em seu estabelecimento os itens dispostos como os necessários para oferta da EaD, ela tem asseguradas as condições para oferta da modalidade. Mesmo nos instrumentos de avaliação para credenciamento de instituições para a oferta da EaD, é clara a lógica do “atende/não aten- de” sem a especificação de indicadores na constituição dos seus siste- mas. Se há uma lógica – ainda que nem sempre respeitada sobre as “arquiteturas” do presencial – teríamos, também, para além dos “itens” que conformariam um sistema de EaD, de pensar sua “arquite- tura”. Não basta ter professores e alunos no exercício da mediação. Se a tentativa desse exercício se der numa relação de 100 alunos para 1 professor, por exemplo, por mais eficientes que as TIC dispostas no sistema possam ser – e não o são –, será impossível sustentar proces- sos de formação responsáveis, considerando somente as demandas dos alunos. Mesmo com a miríade de oferta dos denominados ambientes virtuais de aprendizagem, que facilitariam a organização das informa- ções dispostas aos alunos, absolutamente estaria descartado o traba- lho especializado e de recursos humanos formados especialmente para esse tipo de atendimento. É da ilusão do atendimento massificado que se origina a ideia de autonomia do aluno na EaD – dotemos os sistemas a distância de 1328 A expansão do ensino superior no Brasil e a EaD: dinâmicas e lugares Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1319-1335, out.-dez. 2010 Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> dispositivos que garantam acesso à informação (laboratórios, bibliote- cas, material didático, entre outros) e os alunos farão sua parte: apren- der. De fato, o acesso aos instrumentos da formação é relevante para o desenvolvimento da formação, não se esgotando, obviamente, nisso. Se a aprendizagem, para ser validada socialmente, exige proces- sos mais “coletivizados”, no sentido de que ideias e conceitos sejam confrontados, para nós, que trabalhamos com a EaD, mais do que se preocupar com a instrumentalização de seus sistemas, haveríamos que pensar nas formas, possíveis e passíveis, da convivência dos sujeitos. Isso como uma das condições da formação. Assim, os itens básicos de um sistema de EaD, como os apontados nos documentos que a refe- renciam, poderiam integrar determinadas funcionalidades a perspecti- vas de diálogo e de convivências, evidenciando, claro, concepções de aprendizagem. É desse pressuposto que surge a necessidade de se ter presentes indicadores que sustentem a organização dos sistemas de EaD. Ao não esclarecê-los, o que é apontado como específico da modalidade termina esvaziado, conformando uma lógica que equaliza a oferta dos cursos a distância e, na maior parte das vezes, configurando sistemas apartados dos organismos que institucionalizam os processos acadêmi- cos nas IES (Preti, 2009). No caso das IES públicas, e por conta da forma pela qual se faz o financiamento dos projetos de cursos a distância,16 as vagas geradas na modalidade de EaD não são computadas no total geral da oferta em cada uma delas. Os alunos da EaD são excluídos da matriz orça- mentária das instituições de ensino superior público e os programas nesta modalidade terminam por não serem instituídos de fato nelas. Isso tem gerado enormes problemas e distorções no interior dessas instituições. Entre os principais deles, estão os relacionados ao finan- ciamento e sobrecarga do trabalho docente. Como o financiamento é restrito aos anos de integralização de um curso, a possibilidade de que os alunos da EaD sejam respeitados em seus ritmos e tempos de aprendizagem é equivocada, gerando di- ferenças significativas entre o aluno do presencial e o do não presen- cial. Se, aos primeiros, as instituições dispõem organismos, instânci- as e normas que determinam certa normalidade no percurso dos alunos, na EaD são raras as instituições que assim o fazem (Preti, 2009), caben- do a eles, na maior parte das vezes, simplesmente cursar o que lhes é proposto como currículo. 1329Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1319-1335, out.-dez. 2010 Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> Kátia Morosov Alonso Além disso, como os cursos de EaD demandam muito mais pro- fessores que os contratados nas vagas destinadas especificamente para essa modalidade,17 os professores para aí atuarem recebem bolsas que variam de R$ 900 a R$ 1.200, dependendo de sua formação e expe- riência na área. O problema é que na maioria das IES públicas o tra- balho remunerado não é computado na carga horária semanal dos professores. Assim, o trabalho despendido nos cursos de EaD não apa- rece nos sistemas de controle das IES ou do Ministério da Educação. Neste caso, a distorção é perversa, já que o trabalho com a EaD impli- ca pouco ou nenhum beneficio de longo prazo para as instituições que trabalham com esta modalidade. Além disso, a expansão da ofer- ta de cursos na EaD redunda em sobrecarga de trabalho dos professo- res, refletindo na forma pela qual se faz o atendimento aos alunos. Por mais que os principais itens de um sistema de EaD estejam postos nos documentos que o definem, eles são indicativos apenas do quê deva aí ser disposto. Tanto é assim que a expansão de vagas do ensino superior brasileiro, por meio dessa modalidade, é acompanha- da por enorme massificação, como indicam os dados apresentados. Este movimento – expansão versus massificação – não considera avali- ações sobre a EaD correntes desde a década de 1980 (Preti, 2010). Delinear aspectos operativos e organizacionais relacionados à EaD, considerando suas especificidades, como o proposto nos docu- mentos em pauta, acaba por distorcer a oferta de cursos que tenha por base esta modalidade. A massificação implica estandardizar o en- sino, excluindo possibilidades de práticas pedagógicas alternativas que deem conta dos diferentes contextos das IES. A ação docente Os documentos explicitam, ainda, a necessidade de que se re- conheça a ação do professor como central no desenvolvimento da EaD. O problema é que o entendimento mais comum sobre a modalida- de, inclusive a difundida pelos “Referenciais de Qualidade Para Edu- cação Superior a Distância”,18 traz a “figura” do tutor como um (...) dos sujeitos que participa ativamente da prática pedagógica. Suas atividades desenvolvidas a distância e/ou presencialmente devem contri- buir para o desenvolvimento dos processos de ensino-aprendizagem e para o acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico. (p. 21) 1330 A expansão do ensino superior no Brasil e a EaD: dinâmicas e lugares Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1319-1335, out.-dez. 2010 Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> A discussão que se apresenta,nesse caso, refere-se ao significa- do da função tutorial. Se o tutor é quem acompanha o aluno, traba- lha cotidianamente com ele, participa dos processos de avaliação das aprendizagens, do curso etc., conforme atribuição descrita há pouco, a pergunta é: no que essas atribuições são diferentes das docentes? Scheibe (2006) chama a atenção para esse problema, trazendo à cena as condições da qualificação desses profissionais e os âmbitos de sua atuação. Parece ser muito tênue a fronteira entre o trabalho do tutor e do professor. Afirmar a centralidade do papel do professor no pro- cesso de ensino-aprendizagem, em se tratando da EaD e considerando a maior parte das experiências com ela no país, tem significado pue- ril. Reconheceríamos o que já é reconhecido de fato: a competência do professor como condição primeira para a qualidade da formação em seus vários níveis e dimensões. A discussão sobre o papel do do- cente na EaD, por conseguinte daquele que poderia junto com ele de- senvolver atividades de formação, seria essencial para a consolidação da modalidade. É salutar, portanto, no cenário da EaD, que se efeti- vem, definitivamente, os novos campos profissionais que surgem com o seu uso, sem que se confunda a quem cabe o papel de mediar aprendizagem/conhecimento e de tomar decisões pedagógicas afetas ao processo da formação. Temos assistido, ao menos nos últimos vinte anos, a debate intenso sobre a profissionalização do professor. Embora esse debate tenha como personagem o professor que atua na educação básica, di- ante do quadro da expansão do ensino superior no Brasil, vale ques- tionar até que ponto, na esteira dessa expansão, o professor do nível superior não sofre do mesmo mal que caracteriza tal fenômeno: a desqualificação. Isto em decorrência da parcelarização do trabalho docente na EaD, entendida como uma de suas particularidades. Muitas vezes, no discurso do “trabalho em equipe” tido, supostamente, como uma das bases da modalidade, é possível verificar que ao tutor fica destinada a maior parte das atividades de “ensino”. Um dos proble- mas relacionados a isso é que o tutor não tem profissionalmente reco- nhecimento social/econômico/empregatício compatível com suas atri- buições, embora seja ele o responsável direto, na maioria dos sistemas constituídos na EaD, pelo atendimento mais próximo aos alunos. Somados a situação de não institucionalização dos programas de EaD e sobrecarga laboral dos professores, como antes mencionado, os 1331Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1319-1335, out.-dez. 2010 Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> Kátia Morosov Alonso serviços tutoriais fazem parte de um sistema que amplia a oferta de va- gas, sem representar impactos importantes no interior das IES, supon- do otimização do trabalho docente. Esta otimização, seja de recursos humanos ou financeiros, tem como uma de suas consequências a baixa relação custo-benefício, expondo face que mais tem interessado a ad- ministradores e governantes. Polos presenciais Outro aspecto a ser também destacado nos documentos é o que se refere à constituição dos denominados polos presencias como “espa- ços” dedicados a EaD. Se nas IES da esfera privada esses espaços são or- ganizados por meio de contratos com terceiros, no âmbito da UAB são de responsabilidade dos municípios que se candidatam para ofertar en- sino superior, tendo que dispor de infraestrutura de apoio para o de- senvolvimento da modalidade. No caso da UAB, a candidatura dos municípios para oferta de cur- sos independe das IES, tanto o relacionado à abrangência geográfica, por se entender que a EaD é modalidade que transcende essa lógica, quanto pela demanda de cursos. Isso gerou situações em que IES pouco identificadas com as localidades em que se deu a oferta de cursos esta- belecessem maiores vínculos institucionais com as municipalidades, ou atuassem com demandas pouco próximas das reconhecidas como ne- cessárias regionalmente. Em documento endereçado aos prefeitos interessados em ofertas de curso por meio da UAB,19 a direção de Educação a Distância/CAPES chamava a atenção para a responsabilidade dos municípios na consti- tuição dos denominados polos presenciais, evidenciando os elementos a serem por eles financiados. A disponibilidade de espaços físicos, bi- bliotecas, laboratórios, serviços de comunicação e consequente manu- tenção deles, incluindo internet, além do pagamento de coordenado- res locais da UAB, são custos repassados às prefeituras. Evidente que a maior parte dos municípios brasileiros tem pouca chance de imple- mentar, com qualidade, tais polos. Em relatório do Tribunal de Contas da União20 são apresentados dados significativos sobre a implementação dos polos presenciais da UAB, dando conta da fragilidade da parceria das IES e municípios. Pelos 1332 A expansão do ensino superior no Brasil e a EaD: dinâmicas e lugares Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1319-1335, out.-dez. 2010 Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> dados disponíveis, quase metade dos polos não havia concluído suas instalações, embora os cursos estivessem em andamento. Dentre os problemas, destacavam-se os relacionados ao mau funcionamento ou inexistência da rede internet, a falta de bibliotecas e a precariedade na formação dos recursos humanos envolvidos nas coordenações locais/tu- toria. O relatório finaliza com as seguintes observações: Constatou-se risco de sustentabilidade do sistema, em virtude de: a) os núcleos de ensino a distância nas instituições de ensino superior não es- tão suficientemente instrumentalizados para organizar e ministrar os pro- gramas de formação; b) a infraestrutura física é deficiente nos pólos de apoio presencial; c) deficiências na atividade de tutoria, sobretudo na ar- ticulação entre tutores e professores formadores e na sua supervisão; e d) descompasso entre o número de vagas disponíveis e a capacidade de atendimento. Como resultado dessa avaliação, evidencia-se que a estru- tura de gestão e a sistemática de acompanhamento das ações precisam ser aperfeiçoadas, de forma a mitigar o risco de desperdício de recursos pú- blicos com a instituição de cursos e instalação de polos sem a devida es- trutura organizacional, física e material.21 A forma pela qual ocorre a instalação dos polos presenciais é sin- tomática, fazendo com que se acumulem dúvidas sobre a qualidade do que é oferecido aos alunos da EaD. Nos últimos dois anos, a Secretaria de Educação a Distância (SEED) tem procurado regular com maior vigor a oferta da EaD, atuan- do tanto na supervisão das instituições que a ofertam quanto na verifi- cação dos polos presenciais.22 De toda maneira, a “ponta” mais eviden- te da EaD, seus polos presenciais, é indicativo de problemática que afeta diretamente os alunos e profissionais envolvidos nesse trabalho, com reflexos sobre o espaço a ela dedicado. Do lugar da EaD Além dos elementos aqui evidenciados, há outros que, embora não tão centrais, condicionam a oferta da EaD. O entendimento, por exemplo, sobre a autonomia do aluno, a finalidade dos encontros presenciais e a maneira pela qual seriam organizadas as equipes multiprofissionais para atuarem na modalidade são elementos que enfatizam as especificidades da educação a distância, bem como as fun- cionalidades a ela relacionadas. 1333Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1319-1335, out.-dez. 2010 Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> Kátia Morosov Alonso Em anos mais recentes, a implementação da EaD não seguiu caminho muito diferente de outras iniciativas implementadas no Brasil, se bem que os níveis de formação em experiências anteriores foram distintos do atual, que priorizou a expansão da oferta no en- sino superior. Dois fatores marcaram essas experiências: a tentativa de expan- dir, com rapidez, o acesso ao ensino e a necessidade de instalação de infraestrutura que suportassea capilarização de um sistema de EaD no país. No primeiro caso, a expansão foi acompanhada pela crescente falta de qualidade na oferta: quanto mais alunos, menos os sistemas respondiam à formação mais adensada. Da mesma maneira, a capi- larização da infraestrutura em território nacional, bem como os re- cursos humanos disponíveis não atendiam às demandas pedagógicas dos alunos, redundando em abandono significativo dos cursos (Alonso, 1996). A forma pela qual vimos instituída a EaD no ensino superior e, a seguir, o entendimento de que sua oferta se faça por meio de um sistema que possa ao mesmo tempo responder a diferentes demandas de formação, organizado com base em elementos que enfatizam a ideia de modalidade de ensino, resultam, pelo que foi apontado, em formação bastante frágil, seja pela não institucionalização do traba- lho com a modalidade, seja pela incipiência da infraestrutura dispo- nível para os alunos, entre os principais fatores que determinam a atual oferta de cursos nessa modalidade. Se esses fatores indicam tendências na expansão da EaD, o fator expansão do ensino superior, em seu caráter mais amplo, enseja, como dito anteriormente, movimento perturbador e desafiante, no que tange esse nível de formação. A dinâmica da expansão, associada a experiências não institu- cionalizadas, a sistemas paralelos aos existentes historicamente nas IES, ao recrutamento de mão de obra não incorporada ao cotidiano de tra- balho dos cursos, a infraestrutura precária para atendimento aos alu- nos, são fatores que condicionam a oferta da EaD, constituindo lógica que denota o “lugar” dessa modalidade no ensino superior. Recebido em março de 2010 e aprovado em abril de 2010. 1334 A expansão do ensino superior no Brasil e a EaD: dinâmicas e lugares Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1319-1335, out.-dez. 2010 Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> Notas 1. Disponível em: <http://conae.mec.gov.br/images/stories/pdf/doc_%20final_coneb.pdf>. Acesso em: 22 jun. 2009. A referência ao documento da CONEB tem razão de ser por ser ele “parâmetro para o estabelecimento e consolidação das políticas públicas e da gestão da educação básica demandadas pela nação brasileira” (p. 6). 2. Disponível em: <http:portal.mec.gov.br.;arquivos;pdf;d5159.pdf>. Acesso em: 14 jul. 2009. 3. Referenciais de Qualidade para a Educação Superior a Distância: Disponível em: <http:// portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/legislação/refead1.pdf>. Acesso em: 3 jun. 2009. 4. Disponível em: <http:www.inep.gov.br;superior;censosuperior;sinopse>. Brasília, DF, 2008. Acesso em: 29 ago. 2009. 5. Disponível em: <http:www.inep.gov.br;superior;censo;2007;Resumo_tecnico_2007.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2009. 6. Disponível em: <http:www.inep.gov.br;superior;censosuperior;sinopse>. Acesso em: 14 ago. 2009. 7. Relatório Técnico: Censo da Educação Superior de 2007. Disponível em: <http://www. inep.gov.br/download/superior/censo/2007/Resumo_tecnico_2007_pdf>. Acesso em: 25 ago. 2009. 8. De acordo com o INEP. 9. Disponível em: <www.anuarioead.com.br>. Acesso em: 26 set. 2009. 10. A Fundação Universidade do Tocantins foi descredenciada para graduação a distância pelo Conselho Nacional de Educação, em 7 de outubro de 2009, mantendo a posição do Mi- nistério da Educação. 11. Disponível em: <http:www.inep.gov.br;superior;enade_oquee.htm>. Acesso em: 20 fev. 2009. 12. Disponível em: <www.anuarioead.com.br>. Acesso em: 26 set. 2009. 13. Vale ressaltar que a meta da UAB é de implantar aproximadamente 850 polos de EaD até o ano de 2010. Atualmente são 562. Disponível em: <portal.mec.gov.br/seed/index.php& option=com_content&task=view&id=10578&interna=6>. Acesso em: 20 fev. 2009. 14. Tal princípio está claramente apontado no documento “Referenciais de Qualidade Para Educação Superior a Distância” (p. 3). 15. Não comentarei alguns dos aspectos que implicam a mediação pelo tutor, profissional que acompanha os alunos na maior parte das experiências de EaD no Brasil, mas que, na “pon- ta” desses sistemas, atuam em situação de crescente desvalorização/desqualificação. 16. São abertos editais a fim de que as IES públicas e comunitárias façam adesão a programas lançados pelo MEC para, então, receberem financiamento. 17. O MEC dispôs, entre os anos de 2008/2009, aproximadamente 900 vagas docentes exclu- sivas da EaD para as Instituições Federais de Ensino Superior. 18. Referenciais de Qualidade para a Educação Superior a Distância: Disponível em: <http:// portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/legislação/refead1.pdf>. Acesso em: 3 jun. 2009. 1335Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1319-1335, out.-dez. 2010 Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> Kátia Morosov Alonso 19. Disponível em: <http://mecsrv04.mec.gov.br/encontro/materiais/distancia/oficio_prefeito_ orinetacoes_gerais_2009.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2009. 20. Disponível em: <http://portal2.tcu.gov.br/portal/page/portal/TCU/imprensa/noticias/ noticias_arquivos/Forma%C3%A7%C3%A3o%20de%20Professores.pdf>. Acesso em: 16 jan. 2009. 21. Ver link da nota anterior. Informação constante na p. 4 do referido relatório. 22. Segundo notícia veiculada no jornal Folha de S. Paulo, de 11 de fevereiro de 2010 (Ca- derno 5 p. 3), a SEED/MEC suspendeu a oferta de mais de 10 mil vagas de cursos de EaD. Referências ALONSO, K.M. A educação a distância no Brasil: a busca de inden- tidade. In: PRETI, O. (Org.). Educação a distância: inícios e indícios de um percurso. Cuiabá: NEAD/UFMT, 1996. p. 57-74. DIAS SOBRINHO, J. Avaliação e privatização do ensino superior. In: TRINDADE, H. (Org.). Universidade em ruínas na república dos professo- res. Petrópolis: Vozes; Rio Grande do Sul: CIPEDES, 1999. p. 61-74. GARCÍA GARRIDO, J.L. Perspectivas de la educación a distancia: una visión internacional. Revista Iberoamericana de Educación Superior a Distancia, Madrid, v. 1, n. 3, p. 167-183, jun. 1989. GARRIDSON, D.R. Quality and access in distance education: theorical considerations. In: KEEGAN, D (Ed.). Theorical principles of distance education. 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SUMÁRIO 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL..................................................... 4 1.1 Educação a Distância na Legislação Brasileira........................................ 7 1.2 Gerações da Educação a Distância no Brasil................................. 11 2 CARACTERÍSTICAS DA EaD...................................................................... 17 2.1 Os Processos de Ensino e de Aprendizagem na EaD............................. 17 2.1.1 A Função do Professor.................................................................................. 19 2.2 Perfil do Estudante de EaD......................................................................... 22 2.3 Orientações de Aprendizagem em EaD..................................................... 24 3 AMBIENTE VIRTUAL DE ENSINO APRENDIZAGEM (AVEA) .................. 26 3.1 Aprendizagem Colaborativa....................................................................... 29 3.2 Multimeios em EaD...................................................................................... 32 4 CONCLUSÃO................................................................................................ 37 REFERÊNCIAS...............................................................................................
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