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UNIDADE 4
Norma oral, norma escrita
e fatores de unificação
linguística
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, voce deve apresentar os seguintes aprendizados:
�. Identificar a influencia da globalizacao na lingua: os fatores de
unificacao.
�. Relacionar norma oral com o periodo de tempo, por meio da diacronia.
�. Explicar as relacoes temporais da norma escrita.
Introdução
Leu o titulo deste texto? Talvez voce esteja se perguntando “Como
assim, norma oral?” Realmente, pode soar estranho atribuir uma normatizacao
a fala, mas... venha descobrir um pouco mais! Neste texto,
voce aprendera sobre as normas oral e escrita, bem como sobre os
fatores de unificação linguística.
A globalização e os fatores de unificação da
Língua Portuguesa
A globalização constitui um processo sócio-político-econômico, que tende a
homogeneizar a cultura e, por consequência, a língua. A diversidade brasileira
se configura cultural e linguística. A língua, por ser comprovadamente
heterogênea, não deve estar sujeita à homogeneização.
A diversidade linguística, constituída de diferentes falas, e a uniformidade,
caracterizada como aquela que disciplina e nivela linguisticamente,
constituem a dinamicidade da língua. Os indivíduos, inconscientemente, a
incorporam na linguagem individual e acabam por atualizá-la coletivamente.
Não existe um equilíbrio nessa ação, pois observa-se que no léxico e na fonologia
existe uma diversidade maior. Já na morfossintaxe essa transformação é
menor, pois ela tende a manter seu perfil tradicional.
No Brasil, as variações quanto ao léxico são perceptíveis, uma vez que um
falante da região nordeste se diferencia de um falante da região sul, porém,
quanto à morfossintaxe, é possível observar uma certa unidade. A linguagem
falada em determinadas regiões, principalmente os falantes da zona urbana,
contribuem para a unificação da fala regional, uma vez que se fazem entender
ao longo de todo o território brasileiro.
É importante salientar que uma pessoa adota determinados comportamentos
linguísticos, oriundos da sua comunidade de fala e que se fazem inteligíveis
em seu uso cotidiano. Esses comportamentos se renovam lentamente,
conforme vão sendo incorporados pela comunidade, e acabam por se tornar
convenções prescritas, perpetuadas de geração em geração. Essas convenções,
originam normas, as quais denominamos processo de uniformização.
“Vou continuar a escrever como escrevo hoje.
[...] Os revisores encarregam-se disso”.
Jose Saramago (MORAES, 2003 apud LOPES, 2009, p. 1-2)
“O novo Acordo Ortografico da Lingua Portuguesa tem gerado muita polemica
quanto a se ira ou nao facilitar o uso da lingua escrita.” A frase de Jose Saramago contida
na epigrafe parece ilustrar, de maneira sucinta, o sentimento de muitos quanto ao
Acordo: um misto de apreensao e resistencia quanto as novas regras e ao impacto que
causarao.
Grande parte da comocao gerada pelo advento do novo Acordo, em vigor desde
janeiro de 2009, tem a ver com uma visao equivocada sobre o que vem a ser ortografia.
O conceito de ortografia e frequentemente confundido por leigos com o conceito de
lingua. Essa confusao, nao raro, tem gerado afirmacoes completamente infundadas,
como a de que a queda do trema ira alterar a pronuncia das palavras ou de que modificacoes
nas normas de escrita sao uma afronta ao bem falar e acabam por conduzir
a uma degradacao do nosso idioma. Neste respeito, e importante ressaltar que “[...] a
ortografia e uma norma, uma convencao social. Embora muitas vezes existam regras
por tras da forma como se convencionou escrever as correspondencias letra-som que
usamos hoje, essas regras nao deixam de ser convencoes que, em sua genese, nao tem
em si um sentido de obrigatoriedade, de necessidade. Tudo em ortografia e fruto de
um acordo social, isto e, tudo foi arbitrado, mesmo quando existem regras que justificam
por que em determinados casos temos que usar uma letra e nao outra.” (MORAES,
2003 apud LOPES, 2009, p. 1-2)
“Como forma cristalizada, ou produto de uma convencao social, a ortografia tem um
proposito especifico, a saber, promover um parametro grafico que possa corresponder
as diferentes variacoes linguisticas [sic], de modo que todos os falantes possam se entender
no plano da escrita. Assim, desfaz-se por completo a ideia [sic] negativa que se
cria em torno de uma norma ortografica”. (LOPES, 2009, p. 1-2).
Existe uma norma oral? Análise
sincrodiacrônica da língua falada
A princípio, não. Se por norma você entende o conjunto de regras que orienta
a utilização correta dos signos linguísticos que compõem determinada língua,
não existe uma norma oral. Por outro lado, quando uma expressão é utilizada,
com frequência, na fala de determinada comunidade linguística, considera-se
que essa expressão integra a norma oral dessa comunidade. Da mesma forma,
se uma expressão é utilizada, mas não com tanta frequência pelos falantes
da comunidade linguística, é considerada uma expressão de uso. Para determinar
a frequência do uso de uma expressão, considera-se um contingente de
50% ou mais dos falantes da amostra de determinada comunidade linguística.
Assim, se menos de 50% dos falantes analisados emprega a expressão em
questão, ela se torna de uso. Ao passo que, se 50% ou mais dos falantes utiliza
tal expressão em sua fala espontânea, ela passa a ser considerada norma oral
de determinada comunidade linguística.
O fenômeno da normatização da língua pode ser analisado sob várias
perspectivas. A perspectiva linguística que incluiu na dicotomia língua/fala
de Saussure o conceito de norma, a caracteriza como um sistema de imposições
socioculturais que varia conforme a comunidade de fala. Nessa perspectiva,
a norma corresponde à tradição linguística a que todos os falantes estão
submetidos e obedecem naturalmente.
Na perspectiva pragmática, temos a norma objetiva, que constitui a
língua falada cotidianamente nos grupos sociais; a norma prescritiva, inserida
na escola, que orienta o uso de regras extraídas da língua literária e, por
sua vez, tem por base a escrita; e a norma subjetiva, que representa a maneira
ideal de fala almejada pelos falantes.
Na perspectiva socioantropológica, existe a norma explícita, retratada
nas gramáticas e nos dicionários e aplicada nas escolas, e a norma implícita,
integrada por cada grupo social, cujas mudanças acompanham as sofridas
pelo grupo social.
Em outras palavras, pode-se sintetizar o conceito de norma oral como “o
resultado do uso linguístico de um dado segmento social e esse uso, por tradicional,
é preservado e varia de acordo com as possibilidades de realização
que o usuário faz da língua. Então, um falante que tem conhecimento da prescrição
linguística, naturalmente, alinhará sua linguagem o quanto possível a
ela, a depender da situação de comunicação” (LEITE, 2006, p. 181).
Portanto, para perceber uma norma oral, é preciso observar a fala da comunidade
linguística considerando um período específico, ou seja, fazer uma análise
sincrônica da fala espontânea dos falantes. Por outro lado, a análise diacrônica
das falas espontâneas de determinadas comunidades linguísticas, permite-nos
perceber as diversas normas orais instauradas na comunidade através dos tempos.
Análise diacrônica da norma escrita
Para começar, você vai, primeiro, relembrar em que consiste uma análise diacrônica.
O termo diacronia refere-se a um estudo de um processo através do
tempo. Portanto, uma análise diacrônica da norma escrita da Língua Portuguesa
se dispõe a traçar sua evolução temporal. O processo da diacronia constitui uma
excelente metodologia de análise da língua escrita, pois nos permite estudar
registros antigos que representam as normas da época nas quais foram escritos.
A análise de documentos do século XVI ao XIX, comprova que a língua
portuguesa sofreu modificações periodizadas, marcadas por ciclos sucessivos,
que diferem entre si, tanto por fatores internos, como por fatores externos.
Os textos permitem identificar variações linguísticas, que constituem fatores
internos à língua, bem como perceber as mudanças de contextohistórico da
época na qual o texto foi produzido, esses fatores são considerados externos.
A língua portuguesa, que aparece nos documentos e textos até o final da
Idade Média, representa o que se costumar chamar de português arcaico
EXEMPLO
Para voce ter uma ideia da escrita em portugues arcaico, observe os textos a seguir:
Texto 1: Cantiga de amigo (A Cantiga da Ribeirinha, autoria proposta de D. Sancho I):
Ai eu, coitada, como vivo em gram cuidado
por meu amigo que ei alongado!
Muito me tarda
o meu amigo na Guarda!
Ai eu, coitada, como vivo em gram desejo
por meu amigo que tarda e non vejo!
Muito me tarda
o meu amigo na Guarda!
Texto 2: O Testamento do D. Afonso II (trecho, datado de 1214)
En’o nome de Deus, Eu rei don Afonso pela gracia de Deus rei de Portugal, seendo
sano e saluo, temẽte o dia de mia morte, a saude de mia alma e proe de mia molier
raina dona Orraca e de me(us) filios e de me(us) usassalos e de todo meu reino fiz mia
mada p(er) q(ue) depos mia morte mia molier e me(us) filios e meu reino e me(us) vassalos
e todas aq(ue)las cousas q(ue) Deu(us) mi deu en poder sten en paz e en folgacia.
Primeiram(en)te mado q(ue) mu filio infante don Sancho q(ue) ei da raina dona Orraca
agia meu reino enteg(ra)m(en)te e en paz. E ssi este for morto sen semmel, o maior filio
q(ue) ouuer da raina dona Orraca agia o reino entegram(en)te e en paz. E ssi filio baro
no ouremos, a maior filia que ouuermos agia’o…
Fonte: O portugues arcaico (2013).
A nomenclatura de português arcaico, atribuída à língua do período
compreendido entre o século XIII e o século XVI, foi estabelecida por Leite
de Vasconcelos. Outros autores, entretanto, estipulam outras nomenclaturas e
subdividem o período, como você pode observar na Tabela 1.
Datar o início do período arcaico não constitui tarefa árdua, pois foi nos
primórdios do séc. XIII que surgiram os documentos escritos. Entretanto, é
difícil precisar o término desse período. Alguns autores apresentam como
marco final do período arcaico o final do séc. XV, quando surge o primeiro
livro impresso. Outros, atribuem o final do período ao surgimento da primeira
gramática da língua portuguesa, em meados do século XVI.
Algumas transformacoes podem ser percebidas na escrita do portugues arcaico
quando comparado a lingua portuguesa atual. Por exemplo:
�. Palavras terminadas em -nte, -or e -ês nao sofriam flexoes: a infante, mha senhor
(significa minha senhora!), língua português, etc.
�. Em relacao ao genero, eram palavras do genero feminino: a fim, a mar, a planeta
e a cometa, entre outras. Enquanto, eram palavras do genero masculino: o tribo, o
coragem, o linguagem, etc.
�. Algumas palavras admitiam flexao para o plural: ourívezes (ourives) e alférezes
(alferes).
�. A conjugacao de alguns verbos na segunda pessoa do plural (vos) no presente do
indicativo, terminava em “des”: amades (amais), devedes (deveis), olvides (ouvis).
�. O participio passado de verbos terminados em “er” era escrito com a terminacao
“udo”: perdudo, (perdoado), conhoçudo (conhecido), escondudo (escondido).
�. A conjugacao da terceira pessoa do singular (ele/ela) do preterito perfeito usava a
terminologia “om”: amarom (amou), ouverom (ouviu).
Fonte: Adaptado de FONTE, 2010, p. 32-33.
Longe ainda de ser parecido com o português contemporâneo, o período
entre o séc. XVI e o final do séc. XVIII, demarca o português clássico.
No periodo de colonizacao da Africa, da Asia e da America, a lingua portuguesa entra
em contato com as linguas da costa da Africa e da Asia. Esse contato propiciou o surgimento
de variacoes, pois muitas palavras que faltavam na lingua portuguesa foram
adaptadas das linguas locais. Por exemplo: manga, bambu, zebra, pagode, inhame,
jangada, chá, entre outras.
Ja dos indigenas da America, foram incorporadas as adaptacoes: lhama, cacau, tomate,
canoa, condor, chocolate, amendoim, tapioca, mandioca, etc.
Como a Italia, durante o periodo conhecido por Renascimento, era bastante influente,
tambem fez suas contribuicoes a lingua portuguesa: sentinela, canalha,
charlatão, capricho, alerta, soneto, entre outras.
Os portugueses, durante os seculos XVI e XVII, eram grandes admiradores do estilo
de vida espanhol, esse fato contribui para a inclusao das palavras: hediondo, fanfarrão,
camarada, frente, lantejoula, pandeiro, pastilha, ninharia, cordilheira, etc.
Outro fato curioso, e que o contato com os textos em Latim exerce influencia sobre a
lingua portuguesa no ambito da estetica. Quanto mais uma lingua se parecesse com o
Latim, mais bonita ela seria considerada, o que lhe atribuia maior prestigio. Entao, com
intuito de se parecer com o Latim, algumas palavras do portugues tiveram sua escrita
alterada com a adicao de “y”, “th”, “ph”, “ch”, “sc”, “gn”, “gm”, “mn”, etc. E interessante
observar que a pronuncia das palavras que recebiam esses acrescimos nao era
alterada, por exemplo: pharmácia e omnibus.
Fonte: Adaptado de O portugues classico, (2013).
Somente no séc. XIX, a língua portuguesa se aproximou do português de
Portugal dos dias atuais. Essa fase é reconhecida como português europeu
moderno. Já no final do séc. XX, tem início a discussão sobre uma nova variação
da língua: o português brasileiro.
Os estudos que têm por base a teoria gerativista, proposta por Noam
Chomsky, defendem a ideia da demarcação dos períodos com base na gramática.
Para eles, o que determina o surgimento de uma nova variação da língua,
é o surgimento de uma padronização diferente da anterior. Apenas quando a
norma escrita, considerada o padrão da língua, reconhece as mudanças linguísticas,
ao incluí-las em sua gramática, a língua efetivamente sofre uma
variação. Seguindo essa corrente, as pesquisadoras Galves, Namiute e Sousa,
afirmam “Consideramos que os primeiros documentos escritos do português
correspondem à gramática do Português Arcaico. Mas o primeiro ponto de
inflexão de nossa periodização estaria situado já na virada entre os séculos 14
e 15, e corresponderia a emergência de uma gramática a que denominamos o
Português Médio. A segunda inflexão se situa no início do século 18, e corresponderia
a emergência da gramática do Português Europeu Moderno (isto,
no que respeita a língua falada na Europa; paralelamente, além disso, uma
outra gramática há de ser reconhecida – o Português Brasileiro [...]). Consideramos,
portanto, três fases ou períodos principais para a língua em Portugal: o
Português Arcaico, o Português Médio, e o Português Europeu Moderno.
[...] Essas diferenças podem ser explicada, em boa medida, pelo fato de que
na periodização que propomos, importa o momento do surgimento de novas
forma, enquanto na periodização tradicional importa o momento do desaparecimento
das formas antigas” (GALVES et al., 2006, p. 4).
Na verdade, as duas correntes, tradicional ou gerativista, determinam suas
periodizações com base em eventos que configuram um período de transição
entre as gramáticas, conhecido por competição de gramáticas. Essa transição
caracteriza-se por ser um período no qual “tendo surgido uma inovação
linguística (em geral, pela fonte da língua oral), ela tardará a se incorporar na
escrita padrão” (GALVES et al., 2006, p. 16). A datação dos períodos com
base histórica, observa o momento em que a língua escrita sofre a mudança,
ou seja, o desaparecimento das formas antigas de se escrever. Enquanto a datação,
com base na gramática, parte do momento em que a oralidade começa
a sofrer alterações, ou seja, do surgimento das novas formas da fala, preocupa-
se também com “as condições de aquisição que lavaram à mudança”
(GALVES et al., 2006, p. 17).

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