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SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO SERVIÇO SOCIAL VALÉRIA APARECIDA SILVA CARVALHO UMA REALIDADE OCULTA E SILENCIOSA: Casa de Caridade de Muriaé - Hospital São Paulo Análise Documental sobre a Violência Contra o Idoso Muriaé 2010 VALÉRIA APARECIDA SILVA CARVALHO UMA REALIDADE OCULTA E SILENCIOSA: Casa de Caridade de Muriaé - Hospital São Paulo Análise Documental sobre a Violência Contra o Idoso Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Prof.ª Maria Lucimar Pereira Muriaé 2010 VALÉRIA APARECIDA SILVA CARVALHO UMA REALIDADE OCULTA E SILENCIOSA: Casa de Caridade de Muriaé - Hospital São Paulo Análise Documental sobre a Violência Contra o Idoso Trabalho de Conclusão de Curso aprovado, apresentado à UNOPAR - Universidade Norte do Paraná, no Centro de Ciências Empresariais e Sociais Aplicadas, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Nome do Curso, com nota final igual a _______, conferida pela Banca Examinadora formada pelos professores: Prof.ª Maria Lucimar Pereira – Orientadora Universidade Norte do Paraná Tauana Nunes Mendes – Tutora de Sala Universidade Norte do Paraná Elizete Maria de Souza – Coordenadora Técnica Pedagógica Universidade Norte do Paraná Joelma Crespo Moraes – Coordenadora/Diretora do Pólo Muriaé Universidade Norte do Paraná Muriaé, 29 de junho de 2010. Dedico este trabalho a todos que, direta ou indiretamente, me impulsionaram a chegar até aqui, principalmente os que estiveram presentes em minha vida neste momento de realização de pesquisa e consolidação dos dados. AGRADECIMENTOS A conquista de um sonho ás vezes é ardua e penosa, exige de nós muita dedicação e vontade para seguir em frente mesmo diante de obstáculos. Requer sensibilidade e disposição para aprender sempre mais. Em muitos momentos o caminho nos parece tortuoso demais para avançar. O que nos mantém firmes na certeza da vitória ao final de todo o esforço são as mãos que nos ajudam caminhar. E, neste momento, lembro aqui algumas pessoas que me são queridas e a quem quero agradecer. Á Deus, por ter me permitido concluir o Curso de Serviço Social. Sua presença nos momentos de choro, sorrisos, desespero e alegrias, onde passei por muitos desafios, mas que impulsionou alcançar a vitória. Aos meus pais Jorge e Marlene, pois, se hoje comemoro essa conquista, devo a vocês que estiveram ao meu lado em todos os momentos, principalmente a minha mãe que é uma grande mulher que sempre esteve comigo me apoiando em tudo, tornando para mim um exemplo de força, persistência e beleza. A você mãe, tento buscar as mais belas palavras e descubro que, diante da magnitude da dedicação que sempre me dispensou, torna-se efêmero qualquer agradecimento. Aos meus irmãos Simone e Jorge Luiz, pela paciência e conforto de todas as horas, em especial ao Jorge que com sua criatividade e talento, conseguia transcrever todas as minhas idéias abstratas transformando-as em concretas, com os seus desenhos e artes abrilhantando ainda mais os meus trabalhos, simplismente irmão você é muito especial. Á vovó Iracínia pelo carinho e apoio depositado, além da companhia por todos esses anos, melhor convívio vovó, não poderia encontrar. Ao meu namorado Morvan, por compreender a importância dessa conquista e aceitar a minha ausência quando necessário. Ao meu sobrinho Richard e meu amiguinho de estimação Fred, nos momentos mais estressantes nesta caminhada, com a inocência de cada um me resgataram e me levavam a minha própria infância. A todos os tios, tias, primos em especial o Renatinho, primas e cunhada, meus queridos familiares, pelo carinho e compreensão que me dedicaram nesta trajetória, onde suportaram a minha ausência em momentos especiais, mas que puderam entender e continuar a me apoiar, atingindo comigo o ápice da conquista. Ao tio/Sr. Rui, por ter acreditado no potencial de uma eterna aprendiz e pela força que me concedeu na realização do estágio supervisionado na Casa de Caridade de Muriaé-Hospital São Paulo. A todos os colegas de trabalho e amigos que de alguma forma contribuíram para que este trabalho realizasse. Aos colegas da turma pela espontaneidade e alegria na troca de informações, numa rara demostração de solidariedade, e também pela amizade e por tornar a vida acadêmica muito mais divertida. Sucesso para todos nós. Á minha Tutora de Sala Tauana e Supervisora de Estágio Sara, pela serenidade, paciência, sabedoria e originalidade que muito contribuíram para meu aprendizado enquanto profissional e pessoa. À Assistente Social Cláudia Marinho, pelas valiosas contribuições, sem a qual essa monografia não teria a mesma qualidade. À Instituição Universidade Norte do Paraná, em especial a equipe de profissionais do Pólo Muriaé, pelo carinho e apoio. Por fim, aos idosos que foram sujeitos da pesquisa que me oportunizaram o grande aprendizado. Vocês são um tesouro! Muito Obrigada, a todos que são parte da minha vida e me impulsionaram para seguir em frente. A vocês a minha imensa gratidão! Você lembra, lembra Naquele tempo eu tinha estrelas nos olhos Um jeito de heroí Era mais forte e veloz que qualquer mocinho de comboy Você lembra, lembra Eu costumava andar bem mais de mil léguas Pra poder buscar flores de maio azuis E os seus cabelos enfeitar Água da fonte cansei de beber pra não envelhecer Como quisesse roubar da manhã Um lindo por do sol Hoje, não colho mais flores de maio Nem sou mais veloz, como os heroís É talvez eu seja simplismente Como um sapato velho Mas ainda sirvo se você quiser Basta você me calçar que eu aqueço o frio dos seus pés. Um, Claúdio Nucci e Paulinho Tapajós CARVALHO, Valéria Aparecida Silva. Uma Realidade Oculta e Silenciosa: casa de caridade de muriaé- hospital são Paulo análise documental sobre a violência contra o idoso. 2010. 80 fls. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Serviço Social) – Centro de Ciências Empresariais e Sociais Aplicadas, Universidade Norte do Paraná, Muriaé, 2010. RESUMO O presente Trabalho de Conclusão de Curso teve como objetivo de investigação e análise da violência contra o Idoso nas relações familiares, tendo como foco na rede pública hospitalar SUS. O cenário para consolidação dos dados documentais foi realizado na Casa de Caridade de Muriaé- Hospital São Paulo, uma pesquisa de campo realizada com os usuários idosos internados. Considera que todo o contexto social, econômico e cultural do envelhecimento populacional é o resultado deste dilema, com o aumento da população de mais de 60 anos, requer políticas sociais que dêem conta deste fenômeno social. O trabalho aborda a questão do medo do idoso em denunciar os seus agressores e também porque o Idoso sofre tanto no âmbito do lar e mesmo assim, mantém-se no silêncio da dor, sem denunciar seu algoz. A pequisa trouxe á tona, também, que os idosos não têm percepção da violência a que são cometidos. Além disso, pretende-se destacar algumas medidas que podem vir a contribuir para a diminuição dessa prática em nosso meio e, dessa forma, proporcionar uma vivência com dignidade e respeito ao cidadãos da terceira idade. Palavras-chave: Idoso.Violência. Rede pública de saúde.Direitos sociais CARVALHO, Valéria Aparecida Silva. An Occult and Quiet Reality: house of documentary São Paulo charity-hospital analysis on the violence against the aged one. 2010. 80 fls. Work of Conclusion of Course(Graduation in Social Service) - Center of Applied Enterprise and Social Sciences, University North of the Paraná, Muriaé, 2010. ABSTRACT The present Work of Conclusion of Course had as objective of inquiry and analysis of the violence against the Aged one in the familiar relations, having as focus in public net hospital SUS. The scene for consolidation of the documentary data was carried through in the House of Charity of Muriaé-Hospital São Paulo, a research of field carried through with the interned aged users. It considers that all the social, economic and cultural context of the population aging is the result of this quandary, with the increase of the population aging is the result of this quandary, with the increase of the population of more than 60 years, requires social politics that give account of this social phenomenon. The work approaches the question of the fear of the aged one in denouncing its aggressors and also because the Aged one suffers in such a way in the scope of the home and exactly thus, is remained in the silence of pain, without denouncing its executioner. Pequisa brought tona, also, that the aged ones do not have perception of the violence the one that is committed. Moreover, it is intended to detach some measures that can come to contribute for the reduction of this practical in our way and, of this form, to provide to an experience with dignity and respect to the citizens of the third age. Word-key: Idoso.Violência. Public net of health. Social rights LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Tipos de Violência contra o Idoso...................................................... 43 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Porcentagem de participação na força de trabalho por indivíduos com 65 anos ou mais, por região.................................................................................... 22 Gráfico 2 – População idosa residente no município de Muriaé-MG, por situação e grupos de idade................................................................................................. 47 Gráfico 3 – Demonstrativo da Faixa Etária dos Idosos Entrevistados.................. 52 Gráfico 4 – Estado Civil dos Idosos Entrevistados............................................... 54 Gráfico 5 – Grau de Escolaridade dos Idosos Entrevistados............................... 55 Gráfico 6 – Arranjo Familiar dos Idosos Entrevistados........................................ 56 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Países com mais de 10 milhões de habitantes (em 2002) e com maior proporção de pessoas acima de 60 anos........................................................... 21 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CAPs – Caixa de Aposentadoria e Pensões CCM – HSP – Casa de Caridade de Muriaé - Hospital São Paulo CEL. – Coronel CTI – Centro de Terapia Intensiva BPC – Benefício de Prestação Continuada CF – Constituição Federal EI – Estatuto do Idoso IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INPS – Instituto Nacional de Previdência Social MG – Minas Gerais OMS – Organização Mundial da Saúde ONU – Organização das Nações Unidas PASEP – Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público PNI – Política Nacional do Idoso PNAS – Política Nacional de Assistência Social PROHOSP – Programa Hospitalar Público REFORSUS – Reforço à Reorganização do SUS SUS– Sistema Único de Saúde SESC – Serviço Social do Comércio TCC – Trabalho de Conclusão de Curso LISTA DE ANEXOS Anexo A – Questionário: Roteiro de entrevista para abordagem ao Idoso usuário do serviço de Saúde na Casa de Caridade de Muriaé-Hospital São Paulo. Anexo B – Questionário: Roteiro de entrevista para abordagem Profissional (Assistente Social, Enfermeiro, Fisioterapeuta, Médico, Nutricionista, Psicólogo, Técnico e Auxiliar de Enfermagem), do serviço de saúde na Casa de Caridade de Muriaé-Hospital São Paulo. Anexo C – Lei 8.842, de 04 de janeiro de 1994-Dispõe sobre a Política Nacional do Idoso. Anexo D – Decreto nº 1.948-Regulamentada a Política Nacional do Idoso. Anexo E – Lei 10.741, de -01 de outubro de 2003-Dispõe sobre o Estatuto do Idoso. Anexo F – Foto da Casa de Caridade de Muriaé – Hospital São Paulo (Campo de Pesquisa – Coleta dos dados). SUMÁRIO – Foto da Casa de Caridade de Muriaé – Hospital São Paulo (Campo de Pesquisa – Coleta de Dados). 16 INTRODUÇÃO A expectativa de vida da população idosa mundial vem desafiando todos os setores sociais e irá afetar todas as dimensões da vida em sociedade. O envelhecimento populacional é um fato marcante deste século. Fruto de muitas conquistas tecnológicas, científicas e sociais ao longo do século XX. A população brasileira vem passando por um acelerado processo de envelhecimento que altera a vida dos indivíduos, as estruturas familiares e a dinâmica as sociedade. A nova distribuição etária vem transformando as demandas das políticas públicas, especialmente no sentido de garantir e promover os direitos do cidadão idoso. O interesse ao escolher o tema para o TCC - Uma Realidade Oculta e Silenciosa: Casa de Muriaé - Hospital São Paulo Análise Documental sobre a Violência contra o Idoso, advém do período de estágio resultando da relação dialética entre teoria e prática que esteve presente durante a formação profissional. Neste contexto pude relacionar e vivenciar o cotidiano da população idosa, tive também a oportunidade de desenvolver uma pesquisa de satisfação para pacientes idosos internados pelo convênio SUS. A partir desse pressuposto houve a vontade/necessidade de analisar os aspectos biosociodemográficos, ou seja conhecer a realidade dos usuários idosos da rede pública hospitalar, mais precisamente da Casa de Caridade de Muriaé- Hospital São Paulo, uma vez que o mesmo é referência regional, neste sentido fomentando a questão da violência visibilizada na família. A pesquisa realizada em campo propôs analisar/ investigar os aspectos do processo da violência contra o idoso e os conflitos familiares relacionados a esta violência, sendo que após a violência, o primeiro local onde a família/agressor encaminham este idoso no caso da cidade de Muriaé, é para o hospital geral Casa de Caridade de Muriaé- Hospital São Paulo, pois esta violência se silencia através de uma enfermidade, que é obviamente ocultada pela família. No desenvolvimento do processo de pesquisa, utilizamos como procedimentos técnicos a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental e de campo. Para a pesquisa bibliográfica, utilizamos livros e produções diversas de autores consagrados no tema envelhecimento, violência, políticas públicas de saúde 17 e família. No presente trabalho, contempla uma pesquisa documental sobre a Violência contra os Idosos, realizada na Casa de Caridade de Muriaé- Hospital São Paulo, analisando a forma pela qual vem sendo tratado os idosos internos vítimas de violência e quais são as ações desenvolvidas no sentido de garantir a efetivação dos direitos assegurados por lei, para a efetivação da Política Nacional de Saúde do Idoso. De acordo com o exercício de reflexão sobre a produção nacional da problemática em questão, foram identificados textos que tratam da violência para com os idosos enfocando principalmente os seguintes temas: políticas de saúde, legislação, características do fenômeno da violência, e ainda formas de prevenção da violência para com os idosos, além de exploração da temáticado envelhecimento e dos fatores causadores de violência para com as pessoas desta faixa etária. A coleta dos dados ocorreu por meio de entrevistas, tendo perguntas semi- estruturadas e estruturadas realizadas com 10 (dez) idosos internados e 10 (dez) profissionais da Casa de Caridade de Muriaé - Hospital São Paulo sendo: (02 Assistentes Sociais, 01 Enfermeiro, 01 Fisioterapeuta, 01 Médica (Geriátrica), 01 Nutricionista, 01 Psicóloga, 02 Técnicos de Enfermagem, 01 Auxiliar de Enfermagem). Os dados encontrados foram agrupados e analisados de acordo com os temas que se pretendeu abordar no estudo: características biosociodemográfica dos idosos (conhecer a realidade); o papel da família na violência contra o idoso; legislação de proteção ao idoso; rede pública hospitalar; A fim de identificar o processo da violência contra a pessoa idosa usuária da rede pública hospitalar, o estudo foi dividido em capítulos: No Primeiro capítulo, será desenvolvida uma análise direcionada ao Processo de Envelhecimento e a Saúde do Idoso bem como as Políticas de Saúde e as Legislações que embasam o referido tema. No Segundo capítulo será abordado os aspectos do Processo da Violência Contra o Idoso e os Conflitos Familiares relacionados a esta Violência e o Estudo das 18 Classificações das Situações de Violência Contra o Idoso. No Terceiro Capítulo será consolidado os dados da pesquisa realizada trazendo para a discussão a Realidade que se encontra os Idosos Vítimas de Violência e maus tratos em nosso município e no mundo. Nota-se a necessidade e a importância de discutir esta temática que permeia a sociedade, pois a longevidade dos idosos é um fato concreto, e a partir dessas discussões ou pesquisas possam gerar subsídios onde as leis em vigência e já citadas efetivamente garantam a segurança, dignidade, saúde, promoção e a integridade do idoso junto aos familiares. Medidas que desenvolvam e fortaleçam os vínculos familiares. O resultado da pesquisa apresentou, que a falta desses vínculos ou de como eles foram constituídos, ocasionam maus tratos e desrespeito aos idosos pelos seus cuidadores/agressores. 19 Capítulo I – O Processo de Envelhecimento Mundial e a Proteção Social dos Idosos 1.1– Envelhecimento Populacional Mundial O envelhecimento da população mundial1 é um fenômeno novo aos quais mesmo os países mais ricos e poderosos não se encontram preparados para absorver este segmento, considerando-se a elevação da qualidade de vida das populações urbanas e rurais e a presente precarização da política de saúde do idoso. Nos países desenvolvidos, essa transição ocorreu lentamente, efetivando-se ao longo de mais de cem anos”... “Alguns desses países apresentam hoje um crescimento negativo da sua população, com uma taxa de nascimentos mais baixa que a da mortalidade. (Lobato: 2004:135). Se, no passado, envelhecer era um privilégio de alguns poucos países desenvolvidos, na atualidade passou a ser uma experiência de quase todos, indiferentemente de sua condição sócio-econômica. No entanto, existe uma diferenciação no que se refere ao envelhecimento populacional. Enquanto nos países desenvolvidos a população envelhece devido às melhores condições de vida, como emprego, educação, renda, pode-se dizer que nos países em subdesenvolvimento, a expectativa de vida está mais vinculada ao controle das doenças infecto-parasitárias, declínio do crescimento populacional. A velhice é um processo pessoal, natural, indiscutível e inevitável, para qualquer ser humano, na evolução da vida. Nessa fase sempre ocorre mudanças biológicas, fisiológicas, psicossociais, econômicas e políticas que compõe o cotidiano das pessoas. (ASSIS, 2004). A população mundial está envelhecendo num ritmo acelerado. Por exemplo, nove entre dez países com população maior de 10 milhões de habitantes idosos estão na Europa (ver quadro I). Pela primeira vez na história humana, o numero de pessoas idosas atingirá o índice maior que o de crianças com idade menor de 14 anos. 1 Segundo Berzins a distribuição de idosos por continentes segundo as Nações Unidas: 53% Ásia, 24% Europa, 8% America do Norte, 7% America Latina, Caribe e África. (Berzins,2003). 20 Quadro I Quadro 1 – Países com mais de 10 milhões de habitantes (em 2002) e com maior proporção de pessoas acima de 60 anos 2002 2025 Itália 24,5% Japão 35,1% Japão 24,3% Itália 34,0% Alemanha 24,0% Alemanha 33,2% Grécia 23,9% Grécia 31,6% Bélgica 22,3% Espanha 31,4% Espanha 22,1% Bélgica 31,2% Portugal 21,1% Reino Unido 29,4% Reino Unido 20,8% Países Baixos 29,4% Ucrânia 20,7% França 28,7% França 20,5% Canadá 27,9% Fonte: Nações Unidas, 2001. O envelhecimento da população idosa é um dos grandes triunfos da humanidade, esse fato se deu acompanhado do progresso sócio econômico e a conseqüente melhoria da qualidade de vida da população e respaldam o aumento da expectativa de vida, mas constitui também um dos grandes desafios a serem enfrentados pelos governantes na medida em que crescem as demandas por políticas públicas que possam dar respostas as necessidades apresentadas por esse segmento. Para tanto se deve abolir o estigma de que os idosos representam um “peso para a sociedade” 2, uma vez que se tem concebido que estes são economicamente improdutivos na ordem vigente. Nos países menos desenvolvidos, os idosos tendem a se manter economicamente ativos na velhice, pois a crise econômica e de desemprego estrutural tem nas últimas décadas provocado alterações nas condições de vida deste segmento, como resultado desta crise, estes têm se responsabilizado pelo orçamento familiar. A aposentadoria e a pensão são as principais fontes de renda dos idosos responsáveis por domicílios; entretanto na população masculina, 36% do total de rendimento ainda vêm do trabalho, sendo esta a sua segunda principal fonte de renda.(Berzins, 2003). Gráfico I 2 Ainda é muito freqüente a idéia de que envelhecimento é sinônimo de dependência econômica. Felizmente, este conceito tem sido alterado, pois o idoso ocupa cada vez mais um papel de destaque na sociedade, desmistificando este conceito. O censo 2000 verificou que 62,4% dos idosos eram os responsáveis pelos domicílios brasileiros, o contingente, total representa 20%. (Berzins, 2003). 21 Gráfico 1 – Porcentagem de participação na força de trabalho por indivíduos com 65 anos ou mais, por região Fonte: Organização Internacional do Trabalho (OIT), 2000. De acordo com o Relatório Nacional sobre o Envelhecimento da População Brasileira (2002), se evidencia um aumento da participação do contingente de pessoas maiores de 60 anos de 4%, em 1940, para 9% em 2000. De acordo com o relatório acima, “a proporção da população acima de 80 anos tem aumentado, alterando a composição etária dentro do próprio grupo, o que significa que a população considerada idosa também estáenvelhecendo”. O progressivo envelhecimento da população brasileira vem transformando o perfil das políticas públicas, especialmente as sociais demandando ações mais voltadas á esse segmento da população. O crescimento acelerado deste grupo etário constiui-se um grande desafio para a sociedade, uma vez que o país não está preparado para atender às necessidades desta parcela da população, sendo que se observa a precarização da política de saúde no atendimento a saúde do idoso. Reafirmando, o envelhecimento da população mundial cresce de forma acelerada, sendo que muitos países não estão preparados para atender as necessidades dos idosos. Nove entre dez países com população maior de 10 milhões idosos estão localizados na Europa, em sua maior proporção. A população idosa no Brasil tem tido um crescimento acelerado. Estudos demográficos afirmam que no ano de 2020 nosso país ocupará o sexto lugar no 22 mundo em população idosa, mas se ganhamos em tempo de vida; pois hoje no Brasil vivem-se em média 65 anos, necessitamos garantir melhores condições de vida para toda a população, sendo que a sociedade brasileira é marcada por desigualdades sociais e regionais. A velhice pode significar vivências diferenciadas que vão dar plenitude à decadência, da satisfação e prazer, à miséria e ao abandono. A baixa qualidade de vida da população em geral e a ausência de políticas públicas efetivas de apoio às famílias são obstáculos para o suporte familiar dos idosos. As condições precárias de saúde dos idosos, constantemente observados em nosso meio, retratam os problemas gerais da vida da população e as dificuldades de acesso a uma assistência à saúde adequada. Observam-se idosos com incapacidades ou graves prejuízos funcionais passíveis de prevenção e/ou reabilitação, vítimas do descaso no investimento na saúde pública do país, que cede a lógica de expansão do mercado. Nesta sociedade de consumo em que vivemos, impregnada pelos valores e ideologia de um dado contexto histórico, onde o valor social prioritário é o poder econômico, o velho é descriminado e excluído por não ser mais produtivo, nem integrar-se aos padrões de beleza e juventude culturalmente valorizados. É preciso reverter este quadro com a maior urgência, e isto implica mudança do modelo de assistência à saúde, que prioriza a cura; embora com eficiência e eficácia muito baixas; e pouco valor se dá a prevenção da saúde, dificultando a conquista da longevidade com qualidade de vida. Se o tempo é um horizonte de possibilidades, porque não tornar o envelhecimento um processo de desenvolvimento? Um bom começo é poder olhar o idoso como guardião vivo de nossa história, que tem experiência dos anos vividos. Por outro lado é participar na busca pela melhoria de qualidade de vida da população em geral, mais digno e saudável será o envelhecimento quanto mais favorável e rico em possibilidades for o próprio viver. Diante deste quadro pode-se afirmar que a política de saúde encontra grandes dificuldades para a implementação de serviços voltados à melhoria da qualidade do atendimento prestado à população idosa, principalmente pelos hospitais públicos brasileiros. Problemas que podem ser identificados pela precarização do atendimento ao idoso na ordem vigente, leva a compreender a falta de investimento na política de saúde, tema que será aprofundado posteriormente. 23 Fato justificado por se tratar de uma atividade predominantemente restrita ao âmbito familiar, conseqüentemente, levando ao ocultamento da opinião pública sobre as dificuldades de acesso à saúde adequada. As transformações societárias decorrentes dessas mudanças conjunturais e culturais têm produzido o esvaziamento dos recursos nos investimentos nas políticas sociais e especificamente na política de saúde, poucos são ainda os atendimentos especializados na atenção integral ao idoso em situação de vulnerabilidade junto ao setor de atendimento público, o descaso e descompromisso do setor público, direcionando cada vez mais este segmento a um atendimento empobrecido e dependente dos serviços de saúde. A questão do envelhecimento, em face de sua dimensão exige uma política ampla e expressiva que atenda suas necessidades. De acordo com Assis, A visibilidade social das questões do envelhecimento é um convite à reflexão dos que lidam com idosos, para que possam rever atitudes que reproduzem estigmas e desenvolver um olhar que considere a humanidade do velho, seu papel enquanto sujeito que tem uma história pessoal, uma vivência de trabalho e relações sociais, gostos, habilidades e interesses. Considerando que a consolidação do Estatuto do Idoso no Brasil, em 2003, representa um processo a ser efetivado pela sociedade, buscamos também nesta análise identificar os desafios postos no sentido de enfrentá-los, tendo em vista garantir plenamente os direitos da pessoa idosa, mudança no modelo de assistência à saúde, valorização da promoção e prevenção à saúde, serviços especializados na atenção integral ao idoso. Portanto, há muito que ser feito neste campo para retirar este estigma de velhice como ausência de saúde, daí a importância de oportunidades sociais de inserção dos idosos, de ações necessárias que garantam os direitos fundamentais que fazem pauta nas discussões realizadas em todos os âmbitos de atendimento. Estes fatores apontam para a necessidade se desenvolver políticas específicas para o envelhecimento, demandam especial atenção a formação e o treinamento de recursos humanos em vários níveis, em especial na área de saúde. No Brasil o discurso de envelhecimento não se dá de modo uniforme para todos. A velhice como qualquer etapa do círculo da vida é delimitado pela inserção de classe social, pelas questões de gênero, raça e etnia, determinando experiências 24 de envelhecimento, diferentes no interior de nossa sociedade. Por esse motivo envelhecer com dignidade não é uma responsabilidade individual, mas sim responsabilidade coletiva, com criação de políticas públicas e garantias de acesso desses idosos a essas políticas. Pesquisas de Goldman (2000), sobre velhice e direitos sociais asseguram que o processo de envelhecimento é um fenômeno complicado, devido a várias quantidades de termos usados em relação ao sujeito que envelhece. “A autora destaca os seguintes termos: velho, idoso, geronte, gerontino, velhote ou ancião” vindo dessa forma apenas reafirmar o discurso contrário na contemporaneidade de que o envelhecimento é uma etapa do processo da vida do qual não dispende um olhar estigmatizado. Os debates realizados e o aparecimento de um discurso científico sobre a questão do envelhecimento da nossa população ainda são recentes, uma vez que a partir da década de 1960, há uma fomentação por parte de instituições e profissionais que trabalham com idosos, como forma contrária as ações por parte do Estado marcadas por uma visão negativa da velhice, estigmatizado por abrigos que realizavam seus atendimentos pelo viés do “idoso pobre, carente, doente e marginalizado pela sociedade”. Destaca-se que é neste contexto que o Serviço Social se insere voltando as suas ações a este segmento, na busca de ocupação de espaços e construção da inserção dos idosos na efetiva construção de sua cidadania, ou seja, como sujeitos históricos, procurando dar um sentido mais positivo à velhice. De acordo com Nunes (2000), a inserção do trabalho como: SESC ( ServiçoSocial do Comércio), grupo de convivência, através de realização de várias atividades para este segmento, contribui com o resgate da auto-estima, assim sendo destaca-se a importância do trabalho do assistente social na efetivação destes programas desenvolvidos. Pereira (2002), destaca que apesar das contradições conjunturais nos anos de 1980, das conquistas e lutas elencadas na Carta Magna, a questão do idoso é contemplada em vários artigos advindos de lutas e reivindicações das associações e confederações dos aposentados. É neste período que se dá a criação dos Conselhos e Associações dos Idosos e a criação pelo Ministério da Saúde das normas para funcionamento das casas geriátricas e asilos, que realizam atendimento em longa permanência. Ao longo dos anos de 1980 a 1990 vários encontros e fóruns foram 25 realizados para se discutir sobre as normas e diretrizes da Política Nacional do Idoso, de forma a garantir o funcionamento desta política, uma vez que, envolvia ações de vários setores. Em 1994 deu-se a elaboração do anti -projeto de lei que hoje conhecemos como a Política Nacional do Idoso (Lei nº 8.842, de 04 de Janeiro de 1994). Já em 1998, grupo de profissionais ligados a área de saúde, foram convocados a elaborar a Política Nacional do Idoso, tendo como diretrizes: a promoção do envelhecimento saudável, a manutenção da capacidade funcional, a assistência, às necessidades de saúde do idoso, a reabilitação da capacidade funcional comprometida, à capacitação de recursos humanos, o apoio ao desenvolvimento de cuidados informais e o apoio a estudos e pesquisas, sendo esta parte essencial da Política Nacional do Idoso. Em 1999 é instituído o Ano Internacional do Idoso, através da OMS, ganhando espaço na mídia, apesar do avanço as ações tiveram direcionamentos pontuais e escassez de recursos para os financiamentos das políticas deste setor. No ano de 2003, como já indicado, é instituído o Estatuto do Idoso, cujo objetivo é regular os direitos assegurados as pessoas idosas, em seu Art. 1º, além de criar o Conselho Nacional do Idoso, desta forma percebe-se que as políticas já estão criadas, o que é necessário é garantir o acesso dos idosos as políticas mediante participação e organização de espaços coletivos deste segmento, junto às instâncias governamentais. 1.2– A constituição de uma Proteção Social ao Idoso no Brasil 26 Em 1988, com a promulgação da Constituição Brasileira, foi possível observar a concretização de um processo que vinha se desenvolvendo ao longo da década de 1980, abertura política, anistia, movimento Diretas Já, o novo sindicalismo. A participação popular se fez presente nas discussões e propostas políticas de forma democrática, transformando o governo em suas diversas instâncias em arenas de debates. Entramos no século XXI com toda a herança de nossos antepassados e as experiências vividas no presente. Mesmo que este tempo presente seja acusado de ser o palco de atos de extrema violência, também é nele que se desenvolveram as grandes lutas pelos direitos sociais e as grandes articulações afirmando as transformações societárias. A humanidade consciente de suas possibilidades e limitações cultivam o sonho e a esperança de mundo melhor, mais humano, solidário, conforme afirma Lobato (2004). Conforme já destacado, o envelhecimento populacional ocorre em todas as sociedades, assume características particulares em cada país, embora seja evidente as crescentes novidades cientificas, sabemos também que poucos se privilegiam de seus benefícios. É no contexto governamental, de não priorização de políticas sociais abrangentes que se desenvolveu as políticas sociais para atender o grande contingente populacional brasileiro, na sua maioria pobres e excluídos. Estudos de Pereira (2002) comprovam que o ideário neoliberal vem desmantelando as políticas sociais no Brasil que têm sido percebidas como instrumentos de concretização de direitos de cidadania. Os elaboradores das leis de proteção social não se preocuparam em promover melhor qualidade de vida aos que diretamente foram, e, serão responsáveis pelas riquezas e desenvolvimento da nação. Lobato coloca que a: A população idosa do Brasil vem tendo um crescimento acelerado. Dados do IBGE de 1991 demonstraram que os idosos já representam 10% de nossa população... Estudos demográficos afirmam que no ano de 2020 nosso país ocupará o sexto lugar no mundo em população idosa. As questões relativas ao envelhecimento têm crescido em importância, ultimamente, uma vez que o envelhecimento da população é um fenômeno global, 27 que traz importantes repercussões nos campos sociais e econômicos. É importante destacar, contudo, as dificuldades contemporâneas e em geral a ausência de políticas públicas que componham a seguridade social3 desmontando a garantia de direitos, uma vez que esse segmento e visto pela ideologia neoliberal como “inativos”, Na sociedade de consumo em que vivemos, onde o valor social prioritário é o poder econômico, o velho é discriminado e excluído por não ser mais “produtivo”, nem integrar-se aos padrões de beleza e juventude culturalmente valorizados. (Assis: 2004:46) Na análise da questão acima elencada, dentro deste contexto de exclusão do idoso aos direitos fundamentais conforme prescrito na Constituição Brasileira destaca-se: o direito universal à saúde é do dever do Estado; os serviços de saúde passam a ser regulados pelo Estado através da constituição do Sistema Único de Saúde (SUS), integrando todos os serviços de saúde pública de forma hierarquizada sob a responsabilidade das três esferas, federal, estadual e municipal. Para sua regulamentação foram promulgadas as Leis 8.080 e 8.142, que constituem a Lei Orgânica da Saúde. Com o objetivo de atender a este segmento da população, foi instituída a Política Nacional do Idoso, de acordo com o que preceitua a Lei nº 8.8424 de 4 de janeiro de 1994, regulamentada pelo Decreto nº 1.948, de 3 de julho de 1996, e para complementar e regular os direitos adquiridos deste segmento é instituído o Estatuto do Idoso através da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Os estudos demonstram que o crescimento demográfico da população idosa brasileira exige preparação adequada do país para atender ás demandas. Vários autores: Bravo (2004), Pereira e Goldman (2000), apontam direções para a efetivação da política de atendimento à saúde do idoso, as questões sobre o envelhecimento, que implica o estabelecimento de uma articulação permanente, que no âmbito do SUS, envolve a construção de uma contínua cooperação entre as esferas governamentais. A implementação da Política de Atenção Integral ao Idoso compreende a definição e/ou readequação de planos, programas, projetos e atividades do setor de 3A Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinados a assegurar os direitos relativos à saúde, previdência e assistência social (BRASIL, CF1988: Art.194). 4Art.1º A Política Nacional do Idoso tem por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade. Art. 2º Considera-se o idoso, para os efeitos dessa lei, a pessoa maior de sessenta anos de idade. 28 saúde, que direta ou indiretamente se relacionam com o seu objetivo. Contudo a efetivação dessa política possui uma lacuna muito grande entreo texto e a concretização na garantia dos direitos sociais desse segmento. Conforme Assis (2004), e Nunes (1988) as mudanças em relação às políticas públicas de inclusão deste segmento têm contribuído com intuito de construir políticas públicas abrangentes e também proporcionar o desenvolvimento da sociabilidade dos idosos. 1.3 - Breve trajetória da Política de Saúde no Brasil 29 Para analisarmos a compreensão sobre o conceito de saúde e a assistência ao grupo populacional estudado é necessário realizar um breve debate sobre a política de saúde e os prejuízos causados por sua precariedade que é recorrente no dia-a-dia; é comum, na sociedade. Assim, discutir saúde é pertinente porque, embora se trate de um tema amplamente falado, não se mostra homogêneo, não só entre os usuários do serviço de saúde, mas também entre os próprios profissionais da área. Historicamente ao se analisar a constituição da medicina nos seus primórdios observa-se que havia uma preocupação não só com os indivíduos, mas, também com os aspectos sociais e coletivos da saúde5. A Constituição da República Federativa do Brasil perpassa por esse conceito ao compreender o usuário na sua totalidade. Contudo, com o avanço da medicina, esta passou a se preocupar mais com o aspecto individual, ficando a questão social um pouco esquecida6. Assim a saúde púbica se consolidou a partir de uma concepção de saúde focalizada exclusivamente no aspecto biológico. Contudo, foram surgindo, progressivamente dentro do avanço da medicina várias críticas e questionamentos a cerca da trajetória da saúde-doença, pois se as primeiras tentativas de construir o conceito de saúde preocupavam-se com os aspectos sociais, depois das descobertas bacteriológicas a questão social ficou de lado. Muitos foram os questionamentos tentando introduzir modificações, contextualizando a história natural, envolvendo-a no contexto social, econômico e cultural, um dos efeitos deste debate foi a de se reestruturar a saúde pública. O conceito ampliado de saúde deve ser entendido desvinculado do âmbito exclusivamente biológico. Desse modo, a saúde deve ser entendida em sentido mais amplo, como qualidade de vida, um bem comum, um direito social que deve ser assegurado, 5Lei 8.080 Art. 3º. A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do país. Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e social. 6 A “questão social” mencionada está relacionada ao fato que neste contexto havia uma preocupação com a saúde vinculada ao controle das doenças infecto contagiosas e parasitárias, deixando de lado as causas ocultas determinantes da trajetória da saúde-doença. 30 abrangendo os princípios fundamentais expressos na Constituição Federal, conforme afirma a Lei 8.080 no seu Art. 3º. A política de saúde no Brasil pode ser caracterizada, de acordo com Bravo (2001), através de três momentos: assistencialista, envolvendo o período em que antecede a 1930, previdencialista, compreendendo o período pós 1930 e universalista a partir de 1988. É nesse contexto histórico-econômico e político que se dá as mudanças conjunturais para formulação da política de saúde. No Brasil, no século XIX constatou-se uma assistência médica baseada na filantropia e na prática liberal. Uma saúde voltada para pessoas que não trabalhavam e não tinham como pagar para ter acesso a algum benefício, esses somente era concedidos aos que se encontravam empregados e que eram vinculados as CAPs7, ou seja, o acesso a assistência era somente através dos que dela contribuíam. O período de industrialização, de 1930 a 1964 foi marcado por um processo de reivindicação por parte da sociedade, de mudanças para a política de saúde do trabalhador. A política de saúde assistencialista neste período se organizava a partir de dois vieses: o de saúde pública e o de medicina previdenciária, que predominou até os anos 60 caracterizando-se por uma saúde pública em condições sanitárias mínimas para as populações urbanas e, restrita para os trabalhadores do campo. A medicina previdenciária só irá ficar a frente da saúde pública a partir de 1966, formada basicamente pelos serviços próprios dos Institutos, com a criação do INPS8, As principais alternativas adotadas para a saúde pública, no período de 1930 a 1940, foram (Braga e Paula, 1986:53-55): ênfase nas campanhas sanitárias, coordenação dos serviços estaduais de saúde, pelo Departamento Nacional de Saúde, em 1937; interiorização das ações para as áreas de endemias rurais; criação de serviço de combate às endemias; reorganização Departamento Nacional de Saúde, em 1941.” (BRAVO: 2000). De 1945 a 1964 houve algumas melhorias, mas isto não eliminou o quadro de doenças infecciosas e parasitárias já estabelecidas e nem tão pouco os índices de morbidade e mortalidade infantil. Com a ditadura militar a questão sobre a política de saúde ficou restrita ao setor previdenciário, pois os grandes problemas estruturais da política não foram 7 Caixa de Aposentadoria e Pensões – criadas pela Lei Eloy Chaves, em 1923. 8 Instituto Nacional da Previdência Social 31 resolvidos, pelo contrário, tornaram-se mais complexos com a ampliação do setor privado, da prática médica curativa, e a criação do complexo médico industrial e uma diferenciação no atendimento aos usuários da saúde, reproduzindo na política social as tendências da nova política econômica implantada. A política de saúde previdencilaista, neste período, passou por uma fase de conturbação, uma vez que a ampliação dos serviços, locação de recursos e divergências de interesses entre os setores estatais e emergência do movimento sanitário, se contradiziam. Mesmo tendo ocorrido algumas mudanças organizacionais, as ações curativas sobressaem mediante o interesse do setor privado, tendo a participação da Previdência Social. A ação do Ministério da Saúde, ocorrida de forma limitada aumentou a contradição no Sistema Nacional de Saúde. Nos anos de 1980, a sociedade vivenciou um período de redemocratização, concomitante com uma profunda crise econômica. Um amplo debate ocorre junto aos profissionais da área de saúde nessa década, onde se encere novas propostas governamentais contribuindo para a emergência das propostas defendidas pelo Movimento Sanitário: universalização do acesso; a concepção de saúde como direito social e dever do Estado; a reestruturação do setor através da estratégia do Sistema Único de Saúde; a descentralização o financiamento efetivo e a democratização do poder local. A saúde ultrapassa a análise setorial referindo-se à sociedade como um todo, propondo além de um Sistema Único a Reforma Sanitária, uma política de saúde universalista. Cabe ressaltar que antes da Constituição de 1988, a saúde era exclusiva para aqueles que contribuíam para a Previdência Social. As mudanças ocorridas nesse período vem a consolidar uma intensa luta e esforço de grupos sociais e lideranças populares que de vários modos enfrentaram pressões e resistências do poder econômico e político para preservar interesses e controle hegemônico. A reforma democrática anunciadana Constituição de 1988, foram possíveis numa conjunção bastante particular de elementos, após uma ditadura de 20 anos, consolidando as pressões que já se faziam sentir há mais de uma década. Inaugura- se um novo período, no qual se insere o modelo da seguridade social9 que passa a estruturar a organização e o formato da proteção social brasileira, em busca da 9A Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinados a assegurar os direitos relativos à saúde, previdência e assistência social (BRASIL, CF 1988: Art. 194). 32 universalização da cidadania. Nos anos de 1990 o papel do Estado na execução das políticas é influenciado pela Política de Ajuste Neoliberal. A reforma tal como foi conduzida acabou por causar um impacto “reles” na efetivação das políticas públicas, o que ocorreu foi uma desresponsabilização pela política social, acompanhada pela falta de compromisso com o padrão constitucional de seguridade social. A predominância da hegemonia neoliberal no Brasil tem sido o grande responsável pelo desmonte dos direitos sociais conquistados, pelo desemprego estrutural, precarização e desmonte da previdência pública, sucateamento da saúde. Apesar de toda a complexidade na contemporaneidade, hoje a saúde é resultado de políticas públicas de governo e direito público de qualquer indivíduo, sem distinção de classe, gênero e etnia. Portanto, o envelhecimento não deve ser analisado de forma unilateral, mas sim como parte integrante de uma sociedade. As crianças de hoje serão os idosos do amanhã, entretanto se tiverem atendimentos e políticas voltadas para as condições de vida e dignidade, certamente viverão mais e terão níveis melhores de qualidade de vida e de justiça social. Os desafios trazidos pelo envelhecimento da população têm diversas dimensões, face a sua dimensão nada mais justo do que garantir a sua integração na comunidade, lembrando que envelhecimento da população influencia nas mais diversas instâncias: consumo, impostos, pensões, mercado de trabalho, saúde, assistência média e a família. Assim sendo, envelhecer é um processo normal, inevitável, irreversível e não uma doença, não deve ser tratado apenas com soluções imediatistas focalizadas, mas também por intervenções sociais, econômicas e ambientais. Capítulo II – Violência Contra o Idoso 2.1- A contextualização social da Violência contra o idoso 33 A violência entre os seres humanos parece fazer parte da própria história da humanidade. No entanto, alguns aspectos e causas da violência são mais facilmente percebidos do que outros, com variações decorrentes em função dos valores e dos sistemas econômicos das sociedades. Nos anos de 1980, foram construídas conceituações sobre maus tratos e negligência contra as pessoas idosas. Faleiros (2007) ressalta as pesquisas de Pillemer e Finkellor, de 1989, sobre a prevalência de abusos contra as pessoas idosas. Mas na década de 1990, surgem pesquisas que consideram as situações de negligência e maus-tratos aos idosos não como fenômenos novos. E finalmente em 1996, a questão da violência foi reconhecida mundialmente como um importante e crescente problema de saúde pública em todo o mundo. Ressaltaram-se as conseqüências para indivíduos, famílias, comunidades e países, tanto no curto como no longo prazo, e os prejuízos para o desenvolvimento social e econômico. Por ocasião, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu violência como: O uso intencional da força física ou o poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. (OMS, Violence: a public health priority, 1996 apud KRUG et al., 2002) A violência contra os idosos extrapola, há tempos, os limites da convivência social, eis que já faz parte de seu dia-a-dia, pois, onde quer que o idoso esteja na maioria das vezes, sofre algum tipo de violência, por mais simples que seja, revelando, desta feita, conflitos de relações interpessoais que afetam a convivência pacífica, a solidariedade humana e, conseqüentemente, a qualidade de vida das pessoas idosas. É preocupante, identificar o fato de que o idoso, que está sujeito à escassez de políticas sociais, a acidentes de trânsito, a assaltos e conflitos familiares e comunitários, assim como os demais cidadãos, esteja desamparado também quando sofre com o problema social dos maus-tratos. A violência contra o idoso, mais especificamente conceituados como descaso, desrespeito, depreciação, ridiculização, além da agressão direta ou indireta propriamente dita, é tida para a Organização Mundial de Saúde como abuso ao idoso, cuja definição é “qualquer ato isolado ou repetido, ou ausência de ação apropriada ocorrendo em qualquer relacionamento onde haja uma expectativa de confiança que cause dano ou incomodo a uma pessoa idosa” (OMS, 1998). 34 Considerado “ranzinza, caduco, esclerosado, inválido, improdutivo”, o idoso sofre abusos que vão se consumando no descuido, na omissão, nas ofensas, sejam elas funcionais ou físicas, bem como por meio da posição de abandonado que ele enfrenta. De acordo com o Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003), um importante instrumento para a efetivação e garantia dos direitos da pessoa idosa, surge como uma nova relação de entendimento da pessoa idosa como um sujeito de direitos. Art. 4º. Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão será punido na forma da lei. §1º. É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso. A Política Nacional do Idoso, ao instituir os Conselhos de Direitos, com o objetivo do controle social das políticas através do trabalho conjunto entre o Estado, a Sociedade e a Família, construiu um trabalho articulado entre o Conselho Nacional, os estaduais, os municipais e o do Distrito Federal. Esta articulação vem se constituindo numa estratégia para identificar e conhecer as demandas e necessidades mais próximas da realidade da pessoa idosa. Essas ações conjuntas fazem com que a base das políticas públicas destinadas à população idosa extrapole o âmbito da previdência, saúde e assistência social, através da incorporação de ações nas demais políticas setoriais. Como exemplo desta questão podem ser citadas as deliberações da I Conferência Nacional da Pessoa Idosa, realizada em 2006, com propostas nos seguintes eixos temáticos (PESSOA, 2008, p. 05): 1) ações para efetivação dos direitos das pessoas idosas quanto à promoção,proteção e defesa; 2) enfrentamento da violência contra a pessoa idosa; 3)atenção à saúde da pessoa idosa; 4) previdência social; 5) assistência social à pessoa idosa; 6) financiamento e orçamento público das ações necessárias para efetivação dos direitos das pessoas idosas; 7) educação, cultura, esporte e lazer para as pessoas idosas; e 8) controle democrático: o papel dos conselhos. A partir da análise, o Plano de Ação para o Enfrentamento da Violência Contra a Pessoa Idosa adota a definição de violência contra o idoso formulada pela Rede Internacional para a Prevenção dos Maus-Tratos Contra o Idoso e pela autora Maria Cecília de Souza Minayo: 35 O mau-tratoao idoso é um ato (único ou repetido) ou omissão que lhe cause dano ou aflição e que se produz em qualquer relação na qual exista expectativa de confiança (BRASIL, 2005, p.11). Mais uma definição utilizada por Galtung e citada pelo Centro Internacional de Informação para a Paz (apud FALEIROS, 2007, p.31), aborda o mau-trato como a diferença entre as potencialidades e a realização de um sujeito; acontece quando alguém está convencido de que suas realizações no plano físico ou mental estão abaixo de suas potencialidades. A Organização Mundial da Saúde (apud MINAYO, 2008), nesta mesma perspectiva, define os maus tratos aos idosos como: Ações ou omissões cometidas uma vez ou muitas vezes, prejudicando a integridade física e emocional da pessoa idosa, impedindo o desempenho do seu papel social. A par dessas condições imediatas, há outros fatores que ampliam a possibilidade de ocorrência da violência contra o idoso, entre os quais o empobrecimento da população, a reorganização familiar que tem alterado os papéis sociais tradicionais (Queiroz, 1999), a invalidez física ou mental do idoso, o estresse do cuidador, um padrão prévio de relacionamento permeado pela violência, problemas e dificuldades do cuidador (Fulmer & O’Malley, 1987), a moradia conjunta, as perdas materiais, o isolamento social, a doença do idoso e a conseqüente diminuição de sua capacidade funcional e cognitiva (Fernandes & Assis, 1999). Na medida em que interferem na dinâmica familiar, essas condições merecem ser também levadas em conta na intervenção. 2.2- Uma Realidade Oculta e Silenciosa Visiabilizada na Família Conforme ressaltamos anteriormente a violência intrafamiliar contra o idoso, é aquela que refere ás relações interpessoais e ocorre no ambiente doméstico, os 36 lares são o lócus onde essas violências ocorrem, mas também é necessário levar em consideração que a sociedade atual colocou novas demandas na vida familiar que alteram os papéis sociais tradicionais e as estruturas que sustentam os modos de vida em família. Até poucas décadas atrás, o papel da cuidadora atribuído a mulher podia ser desempenhado sem o acúmulo de tarefas que hoje lhe é imposta. Familiares deixaram de ser cuidadores principais das gerações anteriores, e o que se verifica hoje é que grande parte das violências contra idosos ocorrem em casos em que as diferentes descendências convivem na mesma unidade doméstica, uma evidência de que o convívio plurigeracional não pode ser visto como garantia de velhice bem sucedida, e nem mesmo sinal de relações mais amistosas entre as sucessivas gerações (Debert,1999). O convívio entre gerações tem sido imposto pelo empobrecimento da população, pela estrutura crescimento desorganizado das cidades, fatores estes que se associam á ausência de políticas públicas voltadas para a saúde e a assistência, cooperando para que a população idosa fique a favor da violência que é imposta. Desta forma, a precariedade social e econômica tem contribuído de forma pesada/bruta na construção e na constituição do fenômeno da violência, e esta violência tem aparecido de uma forma totalmente marcante e sórdida como parte da realidade da população idosa. Ao discutimos sobre a violência contra a pessoa idosa, podemos situá-la no âmbito da negação da vida, da destruição do poder legitimado pelo direito, seja pela negação da diferença, pela transgressão da norma, pela transgressão da confiança intergeracional, pela negação do conflito ou pelo preconceito e discriminação que impedem que os idosos expressem suas palavras, seus potenciais e participem da sociedade como um todo. Desta forma, Faleiros (2007, p.35) relata: A palavra de todos os vitimizados mais frágeis não tem valor, e a negação da palavra, pela falta de audição da voz dos oprimidos, é uma forma de revitimização estrutural nas instâncias do próprio Estado. A discriminação cultural, racial ou étnica no cotidiano e nas instâncias do Estado configura uma expressão do preconceito socialmente justificado pela violência simbólica que estabelece o lugar do outro como inferior. O prolongamento da vida fez surgirem dificuldades próprias do envelhecimento, a par dessas condições há outros fatores que ampliam a possibilidade de ocorrência da violência contra o idoso, entre os quais o idoso tem sua imagem compartilhada a decadência, a perda de habilidades cognitivas e de controles físicos e emocionais, fundamentos importantes da autonomia dos sujeitos, 37 e as várias doenças crônicas de que são portadores colocam-nos em estado de dependência que demanda cuidados para os quais a família nem sempre está disponível. Provindo deste entendimento, a violência intrafamiliar é entendida como uma “violência oculta e silenciosa”, que muitas vezes é sofrida em seu estado muda e escondida, sendo praticada por filhas, filhos, neto (a), cônjuges, irmãos, conhecidos ou vizinhos que estejam próximos à vítima, segundo Faleiros (2007, p.40) na: [...] ruptura de um pacto de confiança, na negação do outro, podendo mesmo ser um revide ou troco. Alguns filhos pensam dar o troco de seu abandono ao entregar idosos em abrigos ou asilos e ao informarem endereço falacioso para não serem contatados. Ainda neste sentido, Minayo (2005), baseada nos estudos de outros autores, que pesquisas realizadas em diferentes partes do mundo revelam que cerca de 2/3 dos agressores são filhos e cônjuges. Além disso, ressalta a relevância deste tema, já que os cuidados com os idosos continuam a ser, na maioria das sociedades, responsabilidade das famílias. No Brasil, mais de 95 % das pessoas acima de 60 anos estão morando com seus parentes ou vivem em suas próprias casas. Estudos internacionais destacam que a violência intrafamilair é a forma mais freqüente de abuso contra este segmento populacional e, no âmbito nacional, acrescentam-se a isso os escassos estudos sobre este tema. Conforme expõe Minayo (2005, p.33): Chavez (2002) e Kleinschimidt (1997) mostram que 90% dos casos de violência e de negligência contra as pessoas acima de 60 anos ocorrem nos lares. Para o Brasil essa afirmação seria prematura, pois as pesquisas existentes não permitem explicitar a proporção em que incidem os abusos dos parentes próximos, os que ocorrem fora dos lares e dentro das instituições. Conjuntamente consideramos que os maus tratos contra os idosos, acontecem aliados a outras violências, pois, como conseqüência, muitos idosos passam a sentir depressão, alienação, desordem pós-traumática, sentimentos de culpa e negação das ocorrências e situações que os vitimizam e os leva a viver em desesperança. Pesquisadores internacionais e brasileiros, realizaram outros estudos, citados por Minayo (2005) tais como, Menezes (1999), Ortmann et al. (2001), Wolf (1995), Sanmartin et al.(2001), Costa e Chaves (2002), Reay & Browne (2001), Williamson & 38 Schaffer (2001),Lachs et al. (1998), Anetzberger et al. (1994), sobre as situações de risco que as pessoas idosas vivenciam nos seus lares, apontam os seguintes dados sobre os sinais de vulnerabilidade e risco, conforme nos mostra Minayo (2005, p. 34): o agressor vive na mesma casa da vítima; o fato dos filhos serem dependentes financeiramente de seus pais de idade avançada; os idosos dependerem da família de seus filhos para sua manutenção e sobrevivência; o abuso de álcool e drogas pelos filhos, por outros adultos da casa ou pelo próprio idoso; os vínculos afetivos entre osfamiliares serem frouxos e pouco comunicativos; o isolamento social dos familiares ou da pessoa da idade avançada; o idoso ter sido ou ser uma pessoa agressiva nas relações com seus familiares; haver história de violência na família; os cuidadores terem sido vítimas de violência doméstica, padecer de depressão ou de qualquer tipo de sofrimento mental ou psiquiátrico. Ressalta que, entre os fatores de vulnerabilidade das pessoas acima de 60 anos à violência familiar, existe uma forte conexão entre maus tratos e dependência química. A violência geralmente é causada pela falta de conhecimento sobre a situação de saúde do idoso; pelo despreparo para lidar com o idoso; relacionamento familiar/profissional conflituoso, estressante; histórias de violência na família e uso de álcool e/ou outras drogas. Segundo Anetzberger et al. (1994 apud Minayo, 2005), cerca de 50% dos abusadores entrevistados por seu grupo tinham problemas com bebidas alcoólicas. Chavez (2002), Costa e Chaves (2003) e Minayo (2005) acrescentam que os agressores físicos e emocionais das pessoas idosas usam drogas e álcool numa proporção três vezes maior que os não abusadores. No que diz respeito à especificidade de gênero (Minayo, 2005), os resultados dos estudos mostram que, no interior dos lares, as mulheres são proporcionalmente mais abusadas que os homens. Minayo (2005, p.36) expõe: mentalmente, sobretudo quando apresentam problemas de esquecimento, confusão mental, alterações no sono, incontinência, dificuldades de locomoção, necessitando de cuidados intensivos em suas atividades da vida diária. O idoso geralmente se sente envergonhado de relatar fatos desse tipo 39 envolvendo os familiares; na maioria das vezes, acompanhantes ou terceiros é que esclarecem a situação. Além disso, há os temerosos de que, com a queixa, os familiares busquem a sua institucionalização, o que os deixam completamente abandonados dos laços familiares. Logo, a Constituição Federal de 1988, o Estatuto do Idoso e a Política Nacional do Idoso centralizam a família como o lócus privilegiado da garantia da proteção social ao idoso. A respeito das diretrizes básicas da Política Nacional do Idoso, as autoras Campos e Mioto (2003, p.177) escrevem que estas: [...] afirmam, entre suas noves diretrizes básicas, a prioridade para a família enquanto instituição mais capaz de produzir o bem-estar do idoso, já que a internação em asilos ou hospitais só deve ocorrer como última alternativa. Esta diretriz está de acordo com outras, relativas à importância da “integração social” do idoso à sociedade, sua convivência com várias gerações e participação em associações, evitando o isolamento. A Constituição Federal de 1988 espelha a responsabilidade familiar e a assistência mútua entre pais e filhos e a obrigação do Estado em manter programas de amparo ao idoso em seu Capítulo VII, nos artigos 229 e 230. O Artigo 229, versando sobre a criança, o adolescente e o idoso, diz: “Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores e os filhos maiores tem o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.” Portanto, o artigo 229 atribui aos filhos a obrigação de cuidar dos pais na velhice, em situação de doença ou carência, mas também estabelece que os pais sejam responsáveis pela criação dos filhos. No Artigo 230 define que o cuidado com os idosos é dever conjunto do Estado da sociedade e da família. No parágrafo primeiro, firma-se a preferência de programas para os idosos feitos em suas casas, evitando a institucionalização (CAMPOS, MIOTO, 2003). Apesar dos avanços que a Constituição Federal de 1988 trouxe em relação ao papel do Estado na proteção social ao idoso, “a família continuou sendo a principal responsável pelo cuidado relativo à população idosa, podendo ser criminalizada caso não o faça” (PASINATO 2004). Nas relações interpessoais, como na violência intrafamiliar, existe, ao mesmo tempo, uma cumplicidade e um medo que se impõe pelo autoritarismo do agressor ou pelo medo e pelo simbolismo ou imaginário de uma confiança entre vítima e agressor. A denúncia ou a revelação da violência provocar o rompimento. A violência intrafamiliar e doméstica tem sido pouco denunciada, no contexto do 40 segredo ou conluio familiar, vinculado à honra, à cumplicidade, à confiança entre vítima e agressor e ao provimento da família, visto que o agressor é próximo da vítima. O silêncio da vítima, muitas vezes, está condicionado pela política miúda de negação da cidadania, que se torna estruturante das relações não só entre dominantes e dominados, mas também entre prestadores de serviço do Estado e usuários, ou público que são cidadãos de direito, mas tratados como sem direito ou objeto de decisões arbitrárias e pessoais, sem fundamento na grande política da cidadania. È muito difícil penetrar no silêncio das instituições, das famílias e dos próprios idosos.Em defesa do agressor, o idoso cala-se, omite, e justifica na tentativa de atenuar os agravos da violência com o argumento de que já está velho mesmo. (Berzins e Malagutti 2010). Este silêncio está presente na violência contra a pessoa idosa, que teme perder certo apoio ou referência de familiares, principalmente filhos, crendo no pacto do apoio mútuo ou do apoio devido pela filiação. Por isso, acrescenta Minayo (2005), é preciso esclarecer que, além das notificações dos eventos que se tornam públicos, há um desconhecimento muito grande de todas as formas insidiosas, silenciosas e naturalizadas com as quais a sociedade convive e que, com certeza, têm impacto na saúde. 2.3- Estudo das classificações das situações de violência contra o idoso A violência contra o idoso é real, existe de fato, acontece na casa ao lado, das formas mais elementares: é a vizinha que se apodera da pensão da mãe; é o pai 41 que é alojado no último cômodo da casa; é o neto que destrata o avô com ameaças; é a falta de cuidado com a administração da medicação. É o banho que não foi dado. A fralda que não foi trocada. É a divisão de bens antes da morte, com mecanismos de persuasão e coação física e psicológica do idoso. É o caçoar de sua demência e favorecer-se dela. É a agressão física simplesmente, sempre feita por alguém mais jovem e mais forte. É o abuso sexual das idosas acamadas, por seus conjugues. É o ostracismo do asilo. Esta violência acontece como uma quebra de expectativa positiva da pessoa idosa em relação àquelas que as cercam, sobretudo os filhos, cônjuges, parentes, cuidadores, a comunidade e a sociedade em geral. As violências contra o idoso podem ser visíveis ou invisíveis: as visíveis são as mortes e lesões; a invisíveis são aquelas que ocorrem sem machucar o corpo, mas provocam sofrimento, desesperança, depressão e medo. Em relação às causas visíveis que levam à morte ou provocam lesões e traumas, a Organização Mundial de Saúde trabalha com duas categorias: acidentes e violências. Os efeitos da violência contra as pessoas idosas são arrasadores, substancialmente para a saúde mental e física, deixando traumas e sequelas irreparáveis, quando não culminam com a morte. .(Berzins e Malagutti 2010). Existe uma forma de classificação contemplando os vários tipos de maus tratos. Embora essa categorização não seja exaustiva, contempla os mais freqüentes abusos e nos facilita a compreensão do fenômeno. Especificar, definir e diferenciar esses problemas é importante porque quando achamos que nada éviolência, mas tudo é violência. Essa classificação também é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde e é utilizada por pesquisadores do mundo inteiro. Compreende: Figura I Figura 1 - Tipos de Violência contra o Idoso 42 Conforme a opnião da autora Minayo (2004), acerca destas situações de violência são as seguintes: O abuso psicológico, violência psicológica ou maus tratos psicológicos correspondem a agressões verbais ou gestuais com o objetivo de aterrorizar os idosos, humilhá-los, restringir sua liberdade ou isolá-los do convívio social. Violência Física ou abusos físicos constituem a maior parte das queixas das pessoas idosas, pois na maioria das vezes acontecem no seio da família. Às vezes, o abuso físico resulta em lesões e traumas que levam à internação hospitalar ou produzem como resultado a morte da pessoa. Os abusos físicos contra os idosos, são entendidos como ações agressivas e brutais que podem ocasionar fraturas, ferimentos, agressões, hematomas, queimaduras ou outros danos físicos. A violência física implica numa relação de poder com colisão no corpo e na integridade física dos indivíduos que resulte em marcas visíveis ou mesmo em morte. Abuso Financeiro Violência financeira, que é uma relação de poder que resulta em pressão sobre o outro para ceder dinheiro com base em Maus tratos Físicos ou Violência física Maus tratos Físicos ou Violência física Violência Sexual ou Abuso Sexual Violência Sexual ou Abuso Sexual AutonegligênciaAutonegligência NegligênciaNegligência Abuso Psicológico ou Violência Psicológica Abuso Psicológico ou Violência Psicológica Abuso Financeiro e Econômico Abuso Financeiro e Econômico Abuso FísicoAbuso Físico AbandonoAbandono TIPOS DE VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO TIPOS DE VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO 43 chantagens e abuso de confiança, pressão para vender a casa ou bens, pressão para fazer testamentos ou doações e retenção de cartão, entre outras. A negligência e abandono, são relações de poder que resulta em abandono, ou seja, em descuido, desresponsabilização e descompromisso do cuidado e do afeto; medicação e vestimenta descuidadas; assistência de saúde incompleta; descuido na comida e deixar de lado dos contatos sociais. No geral, se caracteriza como a etapa inicial de um processo de violência, além de configurar o abandono. A negligência é entendida como a situação na qual o responsável permite que o idoso experimente sofrimento. A negligência é caracterizada como ativa quando o ato é deliberado, e como passivo quando resulta de conhecimento inadequado das necessidades do idoso ou de estresses do cuidador, resultante da necessidade de ministrar cuidados prolongados. A violência psicológica, é uma relação de poder com uso da força da autoridade ou da superioridade sobre o outro, de forma inadequada, com exagero e descaso. Exemplos: humilhação, chantagem, provocar raiva ou choro, separar de pessoas queridas, insulto e desvalorização, entre outros. O abandono é uma relação resulta em descuido, desresponsabilização e descompromisso do cuidado e do afeto; medicação e vestimenta descuidadas; assistência de saúde incompleta; descuido na comida e deixar de lado dos contatos sociais. No geral, se caracteriza como a etapa inicial de um processo de violência, além de configurar o abandono. O abandono é uma das maneiras mais perversas de violência contra a pessoa idosa e apresenta várias facetas. As mais comuns constatadas pelos cuidadores e pelos órgãos públicos que notificam as queixas: colocá-la num quartinho nos fundos da casa retirando-a do convívio com outros membros da família e das relações familiares; conduzi-la a um abrigo ou a qualquer outra instituição de longa permanência contra a sua vontade, para se livrar da sua presença na casa, deixando a essas entidades o domínio sobre sua vida, vontade, saúde e 44 seu direito de ir e vir; permitir que o idoso sofra fome e passe por outras necessidades básicas. Outras formas também bastante freqüentes de abandono são as que dizem respeito à ausência de cuidados, de medicamentos e de alimentação aos que têm alguma forma de dependência física, econômica ou mental, antecipando sua imobilidade, aniquilando sua personalidade ou mesmo promovendo seu lento adoecimento e morte. A autonegligência: conduta de uma pessoa idosa que amece a sua própria saúde ou segurança, pela recusa ou pelo fracasso de prover a si próprio o cuidado adequado. Geralmente, a autonegligência ocorre quando a pessoa idosa está tão desgostosa da vida, que pára de comer direito, pára de tomar remédio, pára de cuidar de sua aparência física, pára de se comunicar, manifestando clara ou subliminarmente a vontade de morrer. No Brasil, os processos de autonegligência quase não são notificados, o que não quer dizer que inexistam. Capítulo III – Casa de Caridade de Muriaé - Hospital São Paulo Análise Documental sobre a Violência Contra o Idoso 45 3.1 – Breve histórico da Casa de Caridade de Muriaé – Hospital São Paulo Conforme explicitado no capítulo I, a população de forma geral tem passado por um acelerado processo de envelhecimento, que altera a vida dos indivíduos, as estruturas familiares e a dinâmica societária. De fato, as alterações da saúde com o envelhecimento contribuem de modo considerável para o estreitamento da inserção dos idosos na sociedade, as más condições de saúde dos idosos freqüentemente observadas em nosso meio retratam por sua vez os problemas gerais da população e a dificuldade de acesso a uma assistência à saúde adequada. Dessa forma, Berzins (2003) afirma: o desafio é e será incluir na agenda de desenvolvimento socioeconômico dos países políticas para promover o envelhecimento ativo, possibilitando qualidade aos anos adicionados a vida. Criar condições para fortalecer as políticas e programas para a promoção de uma sociedade inclusiva e coesa para todas as idades, reconhecendo o direito à vida, à dignidade e à longevidade deve ser objeto de preocupações dos governantes. Mediante o exposto, o município de Muriaé- MG, não se encontra á parte deste contexto, atualmente possui de acordo com o IBGE, uma contagem preliminar da população em 2010 de 92.101 habitantes, sendo que deste resultado da amostra do senso demografico do ano de 2000, da população idosa residente no município de Muriaé-MG, por situação e grupos de idade. Estima-se para os próximos anos, um expressivo crescimento desta parcela da população no município. Atualmente o município de Muriaé possui uma população de 9.646 habitantes acima de 60 anos, representando um percentual de mais de 10% da população residente, sendo que 4.395 habitantes são do sexo masculino e 5.251 habitantes são do sexo feminino. Com base no IBGE num período estimado de 1950 a 2025, projeções indicam que idosos do grupo etário com mais de 60 anos aumentará num número de 15 vezes para o ano de 2025. Mediante a este fato, observa-se que a concentração em torno deste segmento ampliará sua importância no âmbito dos debates e efetivação das políticas sociais, uma vez que haverá um aumento significativo do crescimento demográfico da população idosa brasileira. Constata-se conforme a tabela abaixo: 46 Gráfico II Gráfico 2 – População idosa residente no município de Muriaé-MG, por situação e grupos de idade População residente por situação e grupos de idade Grupos de idade
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