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UMA REALIDADE OCULTA E SILENCIOSA: Casa de Caridade de Muriaé - Hospital São Paulo Análise Documental sobre a Violência Contra o Idoso

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SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO
SERVIÇO SOCIAL
VALÉRIA APARECIDA SILVA CARVALHO
UMA REALIDADE OCULTA E SILENCIOSA:
Casa de Caridade de Muriaé - Hospital São Paulo Análise 
Documental sobre a Violência Contra o Idoso
Muriaé
2010
VALÉRIA APARECIDA SILVA CARVALHO
UMA REALIDADE OCULTA E SILENCIOSA:
Casa de Caridade de Muriaé - Hospital São Paulo Análise 
Documental sobre a Violência Contra o Idoso
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à 
Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como 
requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel 
em Serviço Social.
Orientadora: Prof.ª Maria Lucimar Pereira
Muriaé
2010
VALÉRIA APARECIDA SILVA CARVALHO
UMA REALIDADE OCULTA E SILENCIOSA:
Casa de Caridade de Muriaé - Hospital São Paulo Análise 
Documental sobre a Violência Contra o Idoso
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado, apresentado à UNOPAR - Universidade 
Norte do Paraná, no Centro de Ciências Empresariais e Sociais Aplicadas, como 
requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Nome do Curso, com nota 
final igual a _______, conferida pela Banca Examinadora formada pelos professores:
Prof.ª Maria Lucimar Pereira – Orientadora 
Universidade Norte do Paraná
Tauana Nunes Mendes – Tutora de Sala
Universidade Norte do Paraná
Elizete Maria de Souza – Coordenadora Técnica Pedagógica
Universidade Norte do Paraná
Joelma Crespo Moraes – Coordenadora/Diretora do Pólo 
Muriaé
Universidade Norte do Paraná
Muriaé, 29 de junho de 2010.
Dedico este trabalho a todos que, direta ou 
indiretamente, me impulsionaram a chegar até 
aqui, principalmente os que estiveram 
presentes em minha vida neste momento de 
realização de pesquisa e consolidação dos 
dados.
AGRADECIMENTOS
A conquista de um sonho ás vezes é ardua e penosa, exige de nós muita 
dedicação e vontade para seguir em frente mesmo diante de obstáculos. Requer 
sensibilidade e disposição para aprender sempre mais. Em muitos momentos o 
caminho nos parece tortuoso demais para avançar. O que nos mantém firmes na 
certeza da vitória ao final de todo o esforço são as mãos que nos ajudam 
caminhar. E, neste momento, lembro aqui algumas pessoas que me são queridas 
e a quem quero agradecer.
Á Deus, por ter me permitido concluir o Curso de Serviço Social. Sua presença 
nos momentos de choro, sorrisos, desespero e alegrias, onde passei por muitos 
desafios, mas que impulsionou alcançar a vitória.
Aos meus pais Jorge e Marlene, pois, se hoje comemoro essa conquista, devo 
a vocês que estiveram ao meu lado em todos os momentos, principalmente a 
minha mãe que é uma grande mulher que sempre esteve comigo me apoiando 
em tudo, tornando para mim um exemplo de força, persistência e beleza. A você 
mãe, tento buscar as mais belas palavras e descubro que, diante da magnitude 
da dedicação que sempre me dispensou, torna-se efêmero qualquer 
agradecimento.
Aos meus irmãos Simone e Jorge Luiz, pela paciência e conforto de todas as 
horas, em especial ao Jorge que com sua criatividade e talento, conseguia 
transcrever todas as minhas idéias abstratas transformando-as em concretas, 
com os seus desenhos e artes abrilhantando ainda mais os meus trabalhos, 
simplismente irmão você é muito especial.
Á vovó Iracínia pelo carinho e apoio depositado, além da companhia por todos 
esses anos, melhor convívio vovó, não poderia encontrar.
Ao meu namorado Morvan, por compreender a importância dessa conquista e 
aceitar a minha ausência quando necessário.
Ao meu sobrinho Richard e meu amiguinho de estimação Fred, nos momentos 
mais estressantes nesta caminhada, com a inocência de cada um me resgataram 
e me levavam a minha própria infância.
A todos os tios, tias, primos em especial o Renatinho, primas e cunhada, meus 
queridos familiares, pelo carinho e compreensão que me dedicaram nesta 
trajetória, onde suportaram a minha ausência em momentos especiais, mas que 
puderam entender e continuar a me apoiar, atingindo comigo o ápice da 
conquista.
Ao tio/Sr. Rui, por ter acreditado no potencial de uma eterna aprendiz e pela 
força que me concedeu na realização do estágio supervisionado na Casa de 
Caridade de Muriaé-Hospital São Paulo.
A todos os colegas de trabalho e amigos que de alguma forma contribuíram 
para que este trabalho realizasse.
Aos colegas da turma pela espontaneidade e alegria na troca de informações, 
numa rara demostração de solidariedade, e também pela amizade e por tornar a 
vida acadêmica muito mais divertida. Sucesso para todos nós.
Á minha Tutora de Sala Tauana e Supervisora de Estágio Sara, pela 
serenidade, paciência, sabedoria e originalidade que muito contribuíram para 
meu aprendizado enquanto profissional e pessoa.
À Assistente Social Cláudia Marinho, pelas valiosas contribuições, sem a qual 
essa monografia não teria a mesma qualidade.
À Instituição Universidade Norte do Paraná, em especial a equipe de 
profissionais do Pólo Muriaé, pelo carinho e apoio.
Por fim, aos idosos que foram sujeitos da pesquisa que me oportunizaram o 
grande aprendizado. Vocês são um tesouro! 
Muito Obrigada, a todos que são parte da minha vida e me impulsionaram para 
seguir em frente. A vocês a minha imensa gratidão!
Você lembra, lembra
Naquele tempo eu tinha estrelas nos olhos 
Um jeito de heroí
Era mais forte e veloz que qualquer mocinho de comboy
Você lembra, lembra
Eu costumava andar bem mais de mil léguas
Pra poder buscar flores de maio azuis
E os seus cabelos enfeitar
Água da fonte cansei de beber pra não envelhecer
Como quisesse roubar da manhã
Um lindo por do sol
Hoje, não colho mais flores de maio
Nem sou mais veloz, como os heroís
É talvez eu seja simplismente
Como um sapato velho
Mas ainda sirvo se você quiser
Basta você me calçar que eu aqueço o frio dos seus pés.
Um, Claúdio Nucci e Paulinho Tapajós
CARVALHO, Valéria Aparecida Silva. Uma Realidade Oculta e Silenciosa: casa de 
caridade de muriaé- hospital são Paulo análise documental sobre a violência contra 
o idoso. 2010. 80 fls. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Serviço 
Social) – Centro de Ciências Empresariais e Sociais Aplicadas, Universidade Norte 
do Paraná, Muriaé, 2010.
RESUMO
O presente Trabalho de Conclusão de Curso teve como objetivo de investigação e 
análise da violência contra o Idoso nas relações familiares, tendo como foco na rede 
pública hospitalar SUS. O cenário para consolidação dos dados documentais foi 
realizado na Casa de Caridade de Muriaé- Hospital São Paulo, uma pesquisa de 
campo realizada com os usuários idosos internados. Considera que todo o contexto 
social, econômico e cultural do envelhecimento populacional é o resultado deste 
dilema, com o aumento da população de mais de 60 anos, requer políticas sociais 
que dêem conta deste fenômeno social. O trabalho aborda a questão do medo do 
idoso em denunciar os seus agressores e também porque o Idoso sofre tanto no 
âmbito do lar e mesmo assim, mantém-se no silêncio da dor, sem denunciar seu 
algoz. A pequisa trouxe á tona, também, que os idosos não têm percepção da 
violência a que são cometidos. Além disso, pretende-se destacar algumas medidas 
que podem vir a contribuir para a diminuição dessa prática em nosso meio e, dessa 
forma, proporcionar uma vivência com dignidade e respeito ao cidadãos da terceira 
idade.
Palavras-chave: Idoso.Violência. Rede pública de saúde.Direitos sociais 
 CARVALHO, Valéria Aparecida Silva. An Occult and Quiet Reality: house of 
documentary São Paulo charity-hospital analysis on the violence against the aged 
one. 2010. 80 fls. Work of Conclusion of Course(Graduation in Social Service) - 
Center of Applied Enterprise and Social Sciences, University North of the Paraná, 
Muriaé, 2010. 
ABSTRACT
The present Work of Conclusion of Course had as objective of inquiry and analysis 
of the violence against the Aged one in the familiar relations, having as focus in 
public net hospital SUS. The scene for consolidation of the documentary data was 
carried through in the House of Charity of Muriaé-Hospital São Paulo, a research of 
field carried through with the interned aged users. It considers that all the social, 
economic and cultural context of the population aging is the result of this quandary, 
with the increase of the population aging is the result of this quandary, with the 
increase of the population of more than 60 years, requires social politics that give 
account of this social phenomenon. The work approaches the question of the fear of 
the aged one in denouncing its aggressors and also because the Aged one suffers 
in such a way in the scope of the home and exactly thus, is remained in the silence 
of pain, without denouncing its executioner. Pequisa brought tona, also, that the 
aged ones do not have perception of the violence the one that is committed. 
Moreover, it is intended to detach some measures that can come to contribute for 
the reduction of this practical in our way and, of this form, to provide to an 
experience with dignity and respect to the citizens of the third age.
Word-key: Idoso.Violência. Public net of health. Social rights
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Tipos de Violência contra o Idoso...................................................... 43
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Porcentagem de participação na força de trabalho por indivíduos com 65 
anos ou mais, por região.................................................................................... 22
Gráfico 2 – População idosa residente no município de Muriaé-MG, por situação e 
grupos de idade................................................................................................. 47
Gráfico 3 – Demonstrativo da Faixa Etária dos Idosos Entrevistados.................. 52
Gráfico 4 – Estado Civil dos Idosos Entrevistados............................................... 54
Gráfico 5 – Grau de Escolaridade dos Idosos Entrevistados............................... 55
Gráfico 6 – Arranjo Familiar dos Idosos Entrevistados........................................ 56
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Países com mais de 10 milhões de habitantes (em 2002) e com maior 
proporção de pessoas acima de 60 anos........................................................... 21
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CAPs – Caixa de Aposentadoria e Pensões 
CCM – HSP – Casa de Caridade de Muriaé - Hospital São Paulo
CEL. – Coronel
CTI – Centro de Terapia Intensiva
BPC – Benefício de Prestação Continuada
CF – Constituição Federal
EI – Estatuto do Idoso 
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INPS – Instituto Nacional de Previdência Social
MG – Minas Gerais
OMS – Organização Mundial da Saúde
ONU – Organização das Nações Unidas
PASEP – Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público
PNI – Política Nacional do Idoso
PNAS – Política Nacional de Assistência Social
PROHOSP – Programa Hospitalar Público
 REFORSUS – Reforço à Reorganização do SUS
SUS– Sistema Único de Saúde
SESC – Serviço Social do Comércio
TCC – Trabalho de Conclusão de Curso
LISTA DE ANEXOS
Anexo A – Questionário: Roteiro de entrevista para abordagem ao Idoso usuário do 
serviço de Saúde na Casa de Caridade de Muriaé-Hospital São Paulo.
Anexo B – Questionário: Roteiro de entrevista para abordagem Profissional 
(Assistente Social, Enfermeiro, Fisioterapeuta, Médico, Nutricionista, Psicólogo, 
Técnico e Auxiliar de Enfermagem), do serviço de saúde na Casa de Caridade de 
Muriaé-Hospital São Paulo.
Anexo C – Lei 8.842, de 04 de janeiro de 1994-Dispõe sobre a Política Nacional do 
Idoso.
Anexo D – Decreto nº 1.948-Regulamentada a Política Nacional do Idoso.
Anexo E – Lei 10.741, de -01 de outubro de 2003-Dispõe sobre o Estatuto do 
Idoso.
Anexo F – Foto da Casa de Caridade de Muriaé – Hospital São Paulo (Campo de 
Pesquisa – Coleta dos dados).
SUMÁRIO
– Foto da Casa de Caridade de Muriaé – Hospital São Paulo (Campo de Pesquisa – 
Coleta de Dados).
16
INTRODUÇÃO
A expectativa de vida da população idosa mundial vem desafiando todos os 
setores sociais e irá afetar todas as dimensões da vida em sociedade. O 
envelhecimento populacional é um fato marcante deste século. Fruto de muitas 
conquistas tecnológicas, científicas e sociais ao longo do século XX. 
A população brasileira vem passando por um acelerado processo de 
envelhecimento que altera a vida dos indivíduos, as estruturas familiares e a 
dinâmica as sociedade. A nova distribuição etária vem transformando as demandas 
das políticas públicas, especialmente no sentido de garantir e promover os direitos 
do cidadão idoso.
O interesse ao escolher o tema para o TCC - Uma Realidade Oculta e 
Silenciosa: Casa de Muriaé - Hospital São Paulo Análise Documental sobre a 
Violência contra o Idoso, advém do período de estágio resultando da relação 
dialética entre teoria e prática que esteve presente durante a formação profissional. 
Neste contexto pude relacionar e vivenciar o cotidiano da população idosa, tive 
também a oportunidade de desenvolver uma pesquisa de satisfação para pacientes 
idosos internados pelo convênio SUS. A partir desse pressuposto houve a 
vontade/necessidade de analisar os aspectos biosociodemográficos, ou seja 
conhecer a realidade dos usuários idosos da rede pública hospitalar, mais 
precisamente da Casa de Caridade de Muriaé- Hospital São Paulo, uma vez que o 
mesmo é referência regional, neste sentido fomentando a questão da violência 
visibilizada na família.
A pesquisa realizada em campo propôs analisar/ investigar os aspectos do 
processo da violência contra o idoso e os conflitos familiares relacionados a esta 
violência, sendo que após a violência, o primeiro local onde a família/agressor 
encaminham este idoso no caso da cidade de Muriaé, é para o hospital geral Casa 
de Caridade de Muriaé- Hospital São Paulo, pois esta violência se silencia através 
de uma enfermidade, que é obviamente ocultada pela família.
No desenvolvimento do processo de pesquisa, utilizamos como 
procedimentos técnicos a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental e de 
campo.
Para a pesquisa bibliográfica, utilizamos livros e produções diversas de 
autores consagrados no tema envelhecimento, violência, políticas públicas de saúde 
17
e família.
No presente trabalho, contempla uma pesquisa documental sobre a Violência 
contra os Idosos, realizada na Casa de Caridade de Muriaé- Hospital São Paulo, 
analisando a forma pela qual vem sendo tratado os idosos internos vítimas de 
violência e quais são as ações desenvolvidas no sentido de garantir a efetivação dos 
direitos assegurados por lei, para a efetivação da Política Nacional de Saúde do 
Idoso.
De acordo com o exercício de reflexão sobre a produção nacional da 
problemática em questão, foram identificados textos que tratam da violência para 
com os idosos enfocando principalmente os seguintes temas: políticas de saúde, 
legislação, características do fenômeno da violência, e ainda formas de prevenção 
da violência para com os idosos, além de exploração da temáticado envelhecimento 
e dos fatores causadores de violência para com as pessoas desta faixa etária.
A coleta dos dados ocorreu por meio de entrevistas, tendo perguntas semi-
estruturadas e estruturadas realizadas com 10 (dez) idosos internados e 10 (dez) 
profissionais da Casa de Caridade de Muriaé - Hospital São Paulo sendo: (02 
Assistentes Sociais, 01 Enfermeiro, 01 Fisioterapeuta, 01 Médica (Geriátrica), 01 
Nutricionista, 01 Psicóloga, 02 Técnicos de Enfermagem, 01 Auxiliar de 
Enfermagem).
Os dados encontrados foram agrupados e analisados de acordo com os 
temas que se pretendeu abordar no estudo: características biosociodemográfica dos 
idosos (conhecer a realidade); o papel da família na violência contra o idoso; 
legislação de proteção ao idoso; rede pública hospitalar; 
A fim de identificar o processo da violência contra a pessoa idosa usuária da 
rede pública hospitalar, o estudo foi dividido em capítulos:
No Primeiro capítulo, será desenvolvida uma análise direcionada ao Processo 
de Envelhecimento e a Saúde do Idoso bem como as Políticas de Saúde e as 
Legislações que embasam o referido tema.
No Segundo capítulo será abordado os aspectos do Processo da Violência Contra 
o Idoso e os Conflitos Familiares relacionados a esta Violência e o Estudo das 
18
Classificações das Situações de Violência Contra o Idoso.
No Terceiro Capítulo será consolidado os dados da pesquisa realizada 
trazendo para a discussão a Realidade que se encontra os Idosos Vítimas de 
Violência e maus tratos em nosso município e no mundo. Nota-se a necessidade e 
a importância de discutir esta temática que permeia a sociedade, pois a longevidade 
dos idosos é um fato concreto, e a partir dessas discussões ou pesquisas possam 
gerar subsídios onde as leis em vigência e já citadas efetivamente garantam a 
segurança, dignidade, saúde, promoção e a integridade do idoso junto aos 
familiares. Medidas que desenvolvam e fortaleçam os vínculos familiares. O 
resultado da pesquisa apresentou, que a falta desses vínculos ou de como eles 
foram constituídos, ocasionam maus tratos e desrespeito aos idosos pelos seus 
cuidadores/agressores.
19
Capítulo I – O Processo de Envelhecimento Mundial e a Proteção 
Social dos Idosos
1.1– Envelhecimento Populacional Mundial
O envelhecimento da população mundial1 é um fenômeno novo aos quais 
mesmo os países mais ricos e poderosos não se encontram preparados para 
absorver este segmento, considerando-se a elevação da qualidade de vida das 
populações urbanas e rurais e a presente precarização da política de saúde do 
idoso. 
Nos países desenvolvidos, essa transição ocorreu lentamente, 
efetivando-se ao longo de mais de cem anos”... “Alguns desses 
países apresentam hoje um crescimento negativo da sua população, 
com uma taxa de nascimentos mais baixa que a da mortalidade. 
(Lobato: 2004:135). 
Se, no passado, envelhecer era um privilégio de alguns poucos países 
desenvolvidos, na atualidade passou a ser uma experiência de quase todos, 
indiferentemente de sua condição sócio-econômica. No entanto, existe uma 
diferenciação no que se refere ao envelhecimento populacional. Enquanto nos 
países desenvolvidos a população envelhece devido às melhores condições de vida, 
como emprego, educação, renda, pode-se dizer que nos países em 
subdesenvolvimento, a expectativa de vida está mais vinculada ao controle das 
doenças infecto-parasitárias, declínio do crescimento populacional.
A velhice é um processo pessoal, natural, indiscutível e 
inevitável, para qualquer ser humano, na evolução da vida. 
Nessa fase sempre ocorre mudanças biológicas, fisiológicas, 
psicossociais, econômicas e políticas que compõe o cotidiano 
das pessoas. (ASSIS, 2004).
A população mundial está envelhecendo num ritmo acelerado. Por exemplo, 
nove entre dez países com população maior de 10 milhões de habitantes idosos 
estão na Europa (ver quadro I). Pela primeira vez na história humana, o numero de 
pessoas idosas atingirá o índice maior que o de crianças com idade menor de 14 
anos.
1 Segundo Berzins a distribuição de idosos por continentes segundo as Nações Unidas: 53% Ásia, 
24% Europa, 8% America do Norte, 7% America Latina, Caribe e África. (Berzins,2003).
20
Quadro I
Quadro 1 – Países com mais de 10 milhões de habitantes (em 2002) e com maior proporção de 
pessoas acima de 60 anos
2002 2025
Itália 24,5% Japão 35,1%
Japão 24,3% Itália 34,0%
Alemanha 24,0% Alemanha 33,2%
Grécia 23,9% Grécia 31,6%
Bélgica 22,3% Espanha 31,4%
Espanha 22,1% Bélgica 31,2%
Portugal 21,1% Reino Unido 29,4%
Reino Unido 20,8% Países Baixos 29,4%
Ucrânia 20,7% França 28,7%
França 20,5% Canadá 27,9%
Fonte: Nações Unidas, 2001.
O envelhecimento da população idosa é um dos grandes triunfos da 
humanidade, esse fato se deu acompanhado do progresso sócio econômico e a 
conseqüente melhoria da qualidade de vida da população e respaldam o aumento 
da expectativa de vida, mas constitui também um dos grandes desafios a serem 
enfrentados pelos governantes na medida em que crescem as demandas por 
políticas públicas que possam dar respostas as necessidades apresentadas por 
esse segmento. Para tanto se deve abolir o estigma de que os idosos representam 
um “peso para a sociedade” 2, uma vez que se tem concebido que estes são 
economicamente improdutivos na ordem vigente. 
Nos países menos desenvolvidos, os idosos tendem a se manter 
economicamente ativos na velhice, pois a crise econômica e de desemprego 
estrutural tem nas últimas décadas provocado alterações nas condições de vida 
deste segmento, como resultado desta crise, estes têm se responsabilizado pelo 
orçamento familiar.
A aposentadoria e a pensão são as principais fontes de renda dos 
idosos responsáveis por domicílios; entretanto na população 
masculina, 36% do total de rendimento ainda vêm do trabalho, sendo
esta a sua segunda principal fonte de renda.(Berzins, 2003).
Gráfico I
2 Ainda é muito freqüente a idéia de que envelhecimento é sinônimo de dependência econômica. 
Felizmente, este conceito tem sido alterado, pois o idoso ocupa cada vez mais um papel de destaque 
na sociedade, desmistificando este conceito. O censo 2000 verificou que 62,4% dos idosos eram os 
responsáveis pelos domicílios brasileiros, o contingente, total representa 20%. (Berzins, 2003). 
21
Gráfico 1 – Porcentagem de participação na força de trabalho por indivíduos com 65 anos ou 
mais, por região
Fonte: Organização Internacional do Trabalho (OIT), 2000.
De acordo com o Relatório Nacional sobre o Envelhecimento da População 
Brasileira (2002), se evidencia um aumento da participação do contingente de 
pessoas maiores de 60 anos de 4%, em 1940, para 9% em 2000. De acordo com o 
relatório acima, “a proporção da população acima de 80 anos tem aumentado, 
alterando a composição etária dentro do próprio grupo, o que significa que a 
população considerada idosa também estáenvelhecendo”. 
O progressivo envelhecimento da população brasileira vem transformando o 
perfil das políticas públicas, especialmente as sociais demandando ações mais 
voltadas á esse segmento da população. O crescimento acelerado deste grupo 
etário constiui-se um grande desafio para a sociedade, uma vez que o país não está 
preparado para atender às necessidades desta parcela da população, sendo que se 
observa a precarização da política de saúde no atendimento a saúde do idoso.
Reafirmando, o envelhecimento da população mundial cresce de forma 
acelerada, sendo que muitos países não estão preparados para atender as 
necessidades dos idosos. Nove entre dez países com população maior de 10 
milhões idosos estão localizados na Europa, em sua maior proporção.
A população idosa no Brasil tem tido um crescimento acelerado. Estudos 
demográficos afirmam que no ano de 2020 nosso país ocupará o sexto lugar no 
22
mundo em população idosa, mas se ganhamos em tempo de vida; pois hoje no 
Brasil vivem-se em média 65 anos, necessitamos garantir melhores condições de 
vida para toda a população, sendo que a sociedade brasileira é marcada por 
desigualdades sociais e regionais. 
A velhice pode significar vivências diferenciadas que vão dar plenitude à 
decadência, da satisfação e prazer, à miséria e ao abandono.
A baixa qualidade de vida da população em geral e a ausência de políticas 
públicas efetivas de apoio às famílias são obstáculos para o suporte familiar dos 
idosos. As condições precárias de saúde dos idosos, constantemente observados 
em nosso meio, retratam os problemas gerais da vida da população e as 
dificuldades de acesso a uma assistência à saúde adequada.
Observam-se idosos com incapacidades ou graves prejuízos funcionais 
passíveis de prevenção e/ou reabilitação, vítimas do descaso no investimento na 
saúde pública do país, que cede a lógica de expansão do mercado.
Nesta sociedade de consumo em que vivemos, impregnada pelos valores e 
ideologia de um dado contexto histórico, onde o valor social prioritário é o poder 
econômico, o velho é descriminado e excluído por não ser mais produtivo, nem 
integrar-se aos padrões de beleza e juventude culturalmente valorizados.
É preciso reverter este quadro com a maior urgência, e isto implica mudança 
do modelo de assistência à saúde, que prioriza a cura; embora com eficiência e 
eficácia muito baixas; e pouco valor se dá a prevenção da saúde, dificultando a 
conquista da longevidade com qualidade de vida.
Se o tempo é um horizonte de possibilidades, porque não tornar o 
envelhecimento um processo de desenvolvimento? Um bom começo é poder olhar o 
idoso como guardião vivo de nossa história, que tem experiência dos anos vividos. 
Por outro lado é participar na busca pela melhoria de qualidade de vida da 
população em geral, mais digno e saudável será o envelhecimento quanto mais 
favorável e rico em possibilidades for o próprio viver.
Diante deste quadro pode-se afirmar que a política de saúde encontra 
grandes dificuldades para a implementação de serviços voltados à melhoria da 
qualidade do atendimento prestado à população idosa, principalmente pelos 
hospitais públicos brasileiros. Problemas que podem ser identificados pela 
precarização do atendimento ao idoso na ordem vigente, leva a compreender a falta 
de investimento na política de saúde, tema que será aprofundado posteriormente. 
23
Fato justificado por se tratar de uma atividade predominantemente restrita ao 
âmbito familiar, conseqüentemente, levando ao ocultamento da opinião pública 
sobre as dificuldades de acesso à saúde adequada. 
As transformações societárias decorrentes dessas mudanças conjunturais e 
culturais têm produzido o esvaziamento dos recursos nos investimentos nas políticas 
sociais e especificamente na política de saúde, poucos são ainda os atendimentos 
especializados na atenção integral ao idoso em situação de vulnerabilidade junto ao 
setor de atendimento público, o descaso e descompromisso do setor público, 
direcionando cada vez mais este segmento a um atendimento empobrecido e 
dependente dos serviços de saúde.
A questão do envelhecimento, em face de sua dimensão exige uma política 
ampla e expressiva que atenda suas necessidades. De acordo com Assis, 
A visibilidade social das questões do envelhecimento é um convite à 
reflexão dos que lidam com idosos, para que possam rever atitudes 
que reproduzem estigmas e desenvolver um olhar que considere a 
humanidade do velho, seu papel enquanto sujeito que tem uma 
história pessoal, uma vivência de trabalho e relações sociais, gostos, 
habilidades e interesses.
Considerando que a consolidação do Estatuto do Idoso no Brasil, em 2003, 
representa um processo a ser efetivado pela sociedade, buscamos também nesta 
análise identificar os desafios postos no sentido de enfrentá-los, tendo em vista 
garantir plenamente os direitos da pessoa idosa, mudança no modelo de assistência 
à saúde, valorização da promoção e prevenção à saúde, serviços especializados na 
atenção integral ao idoso.
Portanto, há muito que ser feito neste campo para retirar este estigma de 
velhice como ausência de saúde, daí a importância de oportunidades sociais de 
inserção dos idosos, de ações necessárias que garantam os direitos fundamentais 
que fazem pauta nas discussões realizadas em todos os âmbitos de atendimento. 
Estes fatores apontam para a necessidade se desenvolver políticas específicas para 
o envelhecimento, demandam especial atenção a formação e o treinamento de 
recursos humanos em vários níveis, em especial na área de saúde.
No Brasil o discurso de envelhecimento não se dá de modo uniforme para 
todos. A velhice como qualquer etapa do círculo da vida é delimitado pela inserção 
de classe social, pelas questões de gênero, raça e etnia, determinando experiências 
24
de envelhecimento, diferentes no interior de nossa sociedade. Por esse motivo 
envelhecer com dignidade não é uma responsabilidade individual, mas sim 
responsabilidade coletiva, com criação de políticas públicas e garantias de acesso 
desses idosos a essas políticas.
Pesquisas de Goldman (2000), sobre velhice e direitos sociais asseguram 
que o processo de envelhecimento é um fenômeno complicado, devido a várias 
quantidades de termos usados em relação ao sujeito que envelhece. “A autora 
destaca os seguintes termos: velho, idoso, geronte, gerontino, velhote ou ancião” 
vindo dessa forma apenas reafirmar o discurso contrário na contemporaneidade de 
que o envelhecimento é uma etapa do processo da vida do qual não dispende um 
olhar estigmatizado.
Os debates realizados e o aparecimento de um discurso científico sobre a 
questão do envelhecimento da nossa população ainda são recentes, uma vez que a 
partir da década de 1960, há uma fomentação por parte de instituições e 
profissionais que trabalham com idosos, como forma contrária as ações por parte do 
Estado marcadas por uma visão negativa da velhice, estigmatizado por abrigos que 
realizavam seus atendimentos pelo viés do “idoso pobre, carente, doente e 
marginalizado pela sociedade”.
Destaca-se que é neste contexto que o Serviço Social se insere voltando as 
suas ações a este segmento, na busca de ocupação de espaços e construção da 
inserção dos idosos na efetiva construção de sua cidadania, ou seja, como sujeitos 
históricos, procurando dar um sentido mais positivo à velhice. De acordo com Nunes 
(2000), a inserção do trabalho como: SESC ( ServiçoSocial do Comércio), grupo de 
convivência, através de realização de várias atividades para este segmento, 
contribui com o resgate da auto-estima, assim sendo destaca-se a importância do 
trabalho do assistente social na efetivação destes programas desenvolvidos.
Pereira (2002), destaca que apesar das contradições conjunturais nos anos 
de 1980, das conquistas e lutas elencadas na Carta Magna, a questão do idoso é 
contemplada em vários artigos advindos de lutas e reivindicações das associações e 
confederações dos aposentados. É neste período que se dá a criação dos 
Conselhos e Associações dos Idosos e a criação pelo Ministério da Saúde das 
normas para funcionamento das casas geriátricas e asilos, que realizam 
atendimento em longa permanência.
Ao longo dos anos de 1980 a 1990 vários encontros e fóruns foram 
25
realizados para se discutir sobre as normas e diretrizes da Política Nacional do 
Idoso, de forma a garantir o funcionamento desta política, uma vez que, envolvia 
ações de vários setores. 
Em 1994 deu-se a elaboração do anti -projeto de lei que hoje conhecemos 
como a Política Nacional do Idoso (Lei nº 8.842, de 04 de Janeiro de 1994). Já em 
1998, grupo de profissionais ligados a área de saúde, foram convocados a elaborar 
a Política Nacional do Idoso, tendo como diretrizes: a promoção do envelhecimento 
saudável, a manutenção da capacidade funcional, a assistência, às necessidades de 
saúde do idoso, a reabilitação da capacidade funcional comprometida, à capacitação 
de recursos humanos, o apoio ao desenvolvimento de cuidados informais e o apoio 
a estudos e pesquisas, sendo esta parte essencial da Política Nacional do Idoso.
Em 1999 é instituído o Ano Internacional do Idoso, através da OMS, 
ganhando espaço na mídia, apesar do avanço as ações tiveram direcionamentos 
pontuais e escassez de recursos para os financiamentos das políticas deste setor. 
No ano de 2003, como já indicado, é instituído o Estatuto do Idoso, cujo 
objetivo é regular os direitos assegurados as pessoas idosas, em seu Art. 1º, além 
de criar o Conselho Nacional do Idoso, desta forma percebe-se que as políticas já 
estão criadas, o que é necessário é garantir o acesso dos idosos as políticas 
mediante participação e organização de espaços coletivos deste segmento, junto às 
instâncias governamentais.
1.2– A constituição de uma Proteção Social ao Idoso no Brasil
26
Em 1988, com a promulgação da Constituição Brasileira, foi possível 
observar a concretização de um processo que vinha se desenvolvendo ao longo da 
década de 1980, abertura política, anistia, movimento Diretas Já, o novo 
sindicalismo. A participação popular se fez presente nas discussões e propostas 
políticas de forma democrática, transformando o governo em suas diversas 
instâncias em arenas de debates.
Entramos no século XXI com toda a herança de nossos antepassados e as 
experiências vividas no presente. Mesmo que este tempo presente seja acusado de 
ser o palco de atos de extrema violência, também é nele que se desenvolveram as 
grandes lutas pelos direitos sociais e as grandes articulações afirmando as 
transformações societárias. A humanidade consciente de suas possibilidades e 
limitações cultivam o sonho e a esperança de mundo melhor, mais humano, 
solidário, conforme afirma Lobato (2004).
Conforme já destacado, o envelhecimento populacional ocorre em todas as 
sociedades, assume características particulares em cada país, embora seja evidente 
as crescentes novidades cientificas, sabemos também que poucos se privilegiam de 
seus benefícios. 
É no contexto governamental, de não priorização de políticas sociais 
abrangentes que se desenvolveu as políticas sociais para atender o grande 
contingente populacional brasileiro, na sua maioria pobres e excluídos. Estudos de 
Pereira (2002) comprovam que o ideário neoliberal vem desmantelando as políticas 
sociais no Brasil que têm sido percebidas como instrumentos de concretização de 
direitos de cidadania. Os elaboradores das leis de proteção social não se 
preocuparam em promover melhor qualidade de vida aos que diretamente foram, e, 
serão responsáveis pelas riquezas e desenvolvimento da nação. Lobato coloca que 
a:
A população idosa do Brasil vem tendo um crescimento acelerado. 
Dados do IBGE de 1991 demonstraram que os idosos já representam 
10% de nossa população... Estudos demográficos afirmam que no 
ano de 2020 nosso país ocupará o sexto lugar no mundo em 
população idosa.
As questões relativas ao envelhecimento têm crescido em importância, 
ultimamente, uma vez que o envelhecimento da população é um fenômeno global, 
27
que traz importantes repercussões nos campos sociais e econômicos. É importante 
destacar, contudo, as dificuldades contemporâneas e em geral a ausência de 
políticas públicas que componham a seguridade social3 desmontando a garantia de 
direitos, uma vez que esse segmento e visto pela ideologia neoliberal como 
“inativos”,
Na sociedade de consumo em que vivemos, onde o valor social 
prioritário é o poder econômico, o velho é discriminado e excluído por 
não ser mais “produtivo”, nem integrar-se aos padrões de beleza e 
juventude culturalmente valorizados. (Assis: 2004:46)
Na análise da questão acima elencada, dentro deste contexto de exclusão 
do idoso aos direitos fundamentais conforme prescrito na Constituição Brasileira 
destaca-se: o direito universal à saúde é do dever do Estado; os serviços de saúde 
passam a ser regulados pelo Estado através da constituição do Sistema Único de 
Saúde (SUS), integrando todos os serviços de saúde pública de forma hierarquizada 
sob a responsabilidade das três esferas, federal, estadual e municipal. Para sua 
regulamentação foram promulgadas as Leis 8.080 e 8.142, que constituem a Lei 
Orgânica da Saúde. Com o objetivo de atender a este segmento da população, foi 
instituída a Política Nacional do Idoso, de acordo com o que preceitua a Lei nº 8.8424 
de 4 de janeiro de 1994, regulamentada pelo Decreto nº 1.948, de 3 de julho de 
1996, e para complementar e regular os direitos adquiridos deste segmento é 
instituído o Estatuto do Idoso através da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003.
Os estudos demonstram que o crescimento demográfico da população idosa 
brasileira exige preparação adequada do país para atender ás demandas. Vários 
autores: Bravo (2004), Pereira e Goldman (2000), apontam direções para a 
efetivação da política de atendimento à saúde do idoso, as questões sobre o 
envelhecimento, que implica o estabelecimento de uma articulação permanente, que 
no âmbito do SUS, envolve a construção de uma contínua cooperação entre as 
esferas governamentais.
A implementação da Política de Atenção Integral ao Idoso compreende a 
definição e/ou readequação de planos, programas, projetos e atividades do setor de 
3A Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos 
e da sociedade, destinados a assegurar os direitos relativos à saúde, previdência e assistência social 
(BRASIL, CF1988: Art.194).
4Art.1º A Política Nacional do Idoso tem por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando 
condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade.
Art. 2º Considera-se o idoso, para os efeitos dessa lei, a pessoa maior de sessenta anos de idade.
28
saúde, que direta ou indiretamente se relacionam com o seu objetivo. Contudo a 
efetivação dessa política possui uma lacuna muito grande entreo texto e a 
concretização na garantia dos direitos sociais desse segmento. Conforme Assis 
(2004), e Nunes (1988) as mudanças em relação às políticas públicas de inclusão 
deste segmento têm contribuído com intuito de construir políticas públicas 
abrangentes e também proporcionar o desenvolvimento da sociabilidade dos idosos. 
1.3 - Breve trajetória da Política de Saúde no Brasil
29
Para analisarmos a compreensão sobre o conceito de saúde e a assistência 
ao grupo populacional estudado é necessário realizar um breve debate sobre a 
política de saúde e os prejuízos causados por sua precariedade que é recorrente no 
dia-a-dia; é comum, na sociedade. Assim, discutir saúde é pertinente porque, 
embora se trate de um tema amplamente falado, não se mostra homogêneo, não só 
entre os usuários do serviço de saúde, mas também entre os próprios profissionais 
da área.
Historicamente ao se analisar a constituição da medicina nos seus 
primórdios observa-se que havia uma preocupação não só com os indivíduos, mas, 
também com os aspectos sociais e coletivos da saúde5. A Constituição da República 
Federativa do Brasil perpassa por esse conceito ao compreender o usuário na sua 
totalidade. Contudo, com o avanço da medicina, esta passou a se preocupar mais 
com o aspecto individual, ficando a questão social um pouco esquecida6. Assim a 
saúde púbica se consolidou a partir de uma concepção de saúde focalizada 
exclusivamente no aspecto biológico.
Contudo, foram surgindo, progressivamente dentro do avanço da medicina 
várias críticas e questionamentos a cerca da trajetória da saúde-doença, pois se as 
primeiras tentativas de construir o conceito de saúde preocupavam-se com os 
aspectos sociais, depois das descobertas bacteriológicas a questão social ficou de 
lado.
Muitos foram os questionamentos tentando introduzir modificações, 
contextualizando a história natural, envolvendo-a no contexto social, econômico e 
cultural, um dos efeitos deste debate foi a de se reestruturar a saúde pública. O 
conceito ampliado de saúde deve ser entendido desvinculado do âmbito 
exclusivamente biológico.
Desse modo, a saúde deve ser entendida em sentido mais amplo, como 
qualidade de vida, um bem comum, um direito social que deve ser assegurado, 
5Lei 8.080 Art. 3º. A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a 
alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o 
transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população 
expressam a organização social e econômica do país. Parágrafo único. Dizem respeito também à 
saúde as ações que, por força do disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à 
coletividade condições de bem-estar físico, mental e social.
6 A “questão social” mencionada está relacionada ao fato que neste contexto havia uma preocupação 
com a saúde vinculada ao controle das doenças infecto contagiosas e parasitárias, deixando de lado 
as causas ocultas determinantes da trajetória da saúde-doença.
30
abrangendo os princípios fundamentais expressos na Constituição Federal, 
conforme afirma a Lei 8.080 no seu Art. 3º.
A política de saúde no Brasil pode ser caracterizada, de acordo com Bravo 
(2001), através de três momentos: assistencialista, envolvendo o período em que 
antecede a 1930, previdencialista, compreendendo o período pós 1930 e 
universalista a partir de 1988. É nesse contexto histórico-econômico e político que 
se dá as mudanças conjunturais para formulação da política de saúde.
No Brasil, no século XIX constatou-se uma assistência médica baseada na 
filantropia e na prática liberal. Uma saúde voltada para pessoas que não 
trabalhavam e não tinham como pagar para ter acesso a algum benefício, esses 
somente era concedidos aos que se encontravam empregados e que eram 
vinculados as CAPs7, ou seja, o acesso a assistência era somente através dos que 
dela contribuíam. O período de industrialização, de 1930 a 1964 foi marcado por um 
processo de reivindicação por parte da sociedade, de mudanças para a política de 
saúde do trabalhador.
A política de saúde assistencialista neste período se organizava a partir de 
dois vieses: o de saúde pública e o de medicina previdenciária, que predominou até 
os anos 60 caracterizando-se por uma saúde pública em condições sanitárias 
mínimas para as populações urbanas e, restrita para os trabalhadores do campo. A 
medicina previdenciária só irá ficar a frente da saúde pública a partir de 1966, 
formada basicamente pelos serviços próprios dos Institutos, com a criação do INPS8,
As principais alternativas adotadas para a saúde pública, no período 
de 1930 a 1940, foram (Braga e Paula, 1986:53-55): ênfase nas 
campanhas sanitárias, coordenação dos serviços estaduais de saúde, 
pelo Departamento Nacional de Saúde, em 1937; interiorização das 
ações para as áreas de endemias rurais; criação de serviço de 
combate às endemias; reorganização Departamento Nacional de 
Saúde, em 1941.” (BRAVO: 2000).
 De 1945 a 1964 houve algumas melhorias, mas isto não eliminou o quadro 
de doenças infecciosas e parasitárias já estabelecidas e nem tão pouco os índices 
de morbidade e mortalidade infantil.
Com a ditadura militar a questão sobre a política de saúde ficou restrita ao 
setor previdenciário, pois os grandes problemas estruturais da política não foram 
7 Caixa de Aposentadoria e Pensões – criadas pela Lei Eloy Chaves, em 1923.
8 Instituto Nacional da Previdência Social
31
resolvidos, pelo contrário, tornaram-se mais complexos com a ampliação do setor 
privado, da prática médica curativa, e a criação do complexo médico industrial e uma 
diferenciação no atendimento aos usuários da saúde, reproduzindo na política social 
as tendências da nova política econômica implantada.
A política de saúde previdencilaista, neste período, passou por uma fase de 
conturbação, uma vez que a ampliação dos serviços, locação de recursos e 
divergências de interesses entre os setores estatais e emergência do movimento 
sanitário, se contradiziam. Mesmo tendo ocorrido algumas mudanças 
organizacionais, as ações curativas sobressaem mediante o interesse do setor 
privado, tendo a participação da Previdência Social. A ação do Ministério da Saúde, 
ocorrida de forma limitada aumentou a contradição no Sistema Nacional de Saúde.
Nos anos de 1980, a sociedade vivenciou um período de redemocratização, 
concomitante com uma profunda crise econômica. Um amplo debate ocorre junto 
aos profissionais da área de saúde nessa década, onde se encere novas propostas 
governamentais contribuindo para a emergência das propostas defendidas pelo 
Movimento Sanitário: universalização do acesso; a concepção de saúde como direito 
social e dever do Estado; a reestruturação do setor através da estratégia do Sistema 
Único de Saúde; a descentralização o financiamento efetivo e a democratização do 
poder local. A saúde ultrapassa a análise setorial referindo-se à sociedade como um 
todo, propondo além de um Sistema Único a Reforma Sanitária, uma política de 
saúde universalista.
Cabe ressaltar que antes da Constituição de 1988, a saúde era exclusiva 
para aqueles que contribuíam para a Previdência Social. As mudanças ocorridas 
nesse período vem a consolidar uma intensa luta e esforço de grupos sociais e 
lideranças populares que de vários modos enfrentaram pressões e resistências do 
poder econômico e político para preservar interesses e controle hegemônico. A 
reforma democrática anunciadana Constituição de 1988, foram possíveis numa 
conjunção bastante particular de elementos, após uma ditadura de 20 anos, 
consolidando as pressões que já se faziam sentir há mais de uma década. Inaugura-
se um novo período, no qual se insere o modelo da seguridade social9 que passa a 
estruturar a organização e o formato da proteção social brasileira, em busca da 
9A Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos 
e da sociedade, destinados a assegurar os direitos relativos à saúde, previdência e assistência social 
(BRASIL, CF 1988: Art. 194).
32
universalização da cidadania.
Nos anos de 1990 o papel do Estado na execução das políticas é 
influenciado pela Política de Ajuste Neoliberal. A reforma tal como foi conduzida 
acabou por causar um impacto “reles” na efetivação das políticas públicas, o que 
ocorreu foi uma desresponsabilização pela política social, acompanhada pela falta 
de compromisso com o padrão constitucional de seguridade social. A predominância 
da hegemonia neoliberal no Brasil tem sido o grande responsável pelo desmonte 
dos direitos sociais conquistados, pelo desemprego estrutural, precarização e 
desmonte da previdência pública, sucateamento da saúde.
Apesar de toda a complexidade na contemporaneidade, hoje a saúde é 
resultado de políticas públicas de governo e direito público de qualquer indivíduo, 
sem distinção de classe, gênero e etnia.
Portanto, o envelhecimento não deve ser analisado de forma unilateral, mas 
sim como parte integrante de uma sociedade. As crianças de hoje serão os idosos 
do amanhã, entretanto se tiverem atendimentos e políticas voltadas para as 
condições de vida e dignidade, certamente viverão mais e terão níveis melhores de 
qualidade de vida e de justiça social.
Os desafios trazidos pelo envelhecimento da população têm diversas 
dimensões, face a sua dimensão nada mais justo do que garantir a sua integração 
na comunidade, lembrando que envelhecimento da população influencia nas mais 
diversas instâncias: consumo, impostos, pensões, mercado de trabalho, saúde, 
assistência média e a família. Assim sendo, envelhecer é um processo normal, 
inevitável, irreversível e não uma doença, não deve ser tratado apenas com 
soluções imediatistas focalizadas, mas também por intervenções sociais, 
econômicas e ambientais.
Capítulo II – Violência Contra o Idoso
2.1- A contextualização social da Violência contra o idoso
33
A violência entre os seres humanos parece fazer parte da própria história da 
humanidade. No entanto, alguns aspectos e causas da violência são mais facilmente 
percebidos do que outros, com variações decorrentes em função dos valores e dos 
sistemas econômicos das sociedades. 
 Nos anos de 1980, foram construídas conceituações sobre maus tratos e 
negligência contra as pessoas idosas. Faleiros (2007) ressalta as pesquisas de 
Pillemer e Finkellor, de 1989, sobre a prevalência de abusos contra as pessoas 
idosas. Mas na década de 1990, surgem pesquisas que consideram as situações de 
negligência e maus-tratos aos idosos não como fenômenos novos. E finalmente em 
1996, a questão da violência foi reconhecida mundialmente como um importante e 
crescente problema de saúde pública em todo o mundo. Ressaltaram-se as 
conseqüências para indivíduos, famílias, comunidades e países, tanto no curto como 
no longo prazo, e os prejuízos para o desenvolvimento social e econômico. Por 
ocasião, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu violência como:
O uso intencional da força física ou o poder, real ou em ameaça, contra si 
próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que 
resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano 
psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. (OMS, Violence: a 
public health priority, 1996 apud KRUG et al., 2002)
A violência contra os idosos extrapola, há tempos, os limites da convivência 
social, eis que já faz parte de seu dia-a-dia, pois, onde quer que o idoso esteja na 
maioria das vezes, sofre algum tipo de violência, por mais simples que seja, 
revelando, desta feita, conflitos de relações interpessoais que afetam a convivência 
pacífica, a solidariedade humana e, conseqüentemente, a qualidade de vida das 
pessoas idosas. É preocupante, identificar o fato de que o idoso, que está sujeito à 
escassez de políticas sociais, a acidentes de trânsito, a assaltos e conflitos 
familiares e comunitários, assim como os demais cidadãos, esteja desamparado 
também quando sofre com o problema social dos maus-tratos.
A violência contra o idoso, mais especificamente conceituados como descaso, 
desrespeito, depreciação, ridiculização, além da agressão direta ou indireta 
propriamente dita, é tida para a Organização Mundial de Saúde como abuso ao 
idoso, cuja definição é “qualquer ato isolado ou repetido, ou ausência de ação 
apropriada ocorrendo em qualquer relacionamento onde haja uma expectativa de 
confiança que cause dano ou incomodo a uma pessoa idosa” (OMS, 1998). 
34
Considerado “ranzinza, caduco, esclerosado, inválido, improdutivo”, o idoso sofre 
abusos que vão se consumando no descuido, na omissão, nas ofensas, sejam elas 
funcionais ou físicas, bem como por meio da posição de abandonado que ele 
enfrenta.
De acordo com o Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003), um importante 
instrumento para a efetivação e garantia dos direitos da pessoa idosa, surge como 
uma nova relação de entendimento da pessoa idosa como um sujeito de direitos.
Art. 4º. Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, 
discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus 
direitos, por ação ou omissão será punido na forma da lei.
§1º. É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso.
A Política Nacional do Idoso, ao instituir os Conselhos de Direitos, com o 
objetivo do controle social das políticas através do trabalho conjunto entre o Estado, 
a Sociedade e a Família, construiu um trabalho articulado entre o Conselho 
Nacional, os estaduais, os municipais e o do Distrito Federal. Esta articulação vem 
se constituindo numa estratégia para identificar e conhecer as demandas e 
necessidades mais próximas da realidade da pessoa idosa. Essas ações conjuntas 
fazem com que a base das políticas públicas destinadas à população idosa 
extrapole o âmbito da previdência, saúde e assistência social, através da 
incorporação de ações nas demais políticas setoriais. Como exemplo desta questão 
podem ser citadas as deliberações da I Conferência Nacional da Pessoa Idosa, 
realizada em 2006, com propostas nos seguintes eixos temáticos (PESSOA, 2008, 
p. 05): 
1) ações para efetivação dos direitos das pessoas idosas quanto à 
promoção,proteção e defesa; 2) enfrentamento da violência contra a pessoa 
idosa; 3)atenção à saúde da pessoa idosa; 4) previdência social; 5) 
assistência social à pessoa idosa; 6) financiamento e orçamento público das 
ações necessárias para efetivação dos direitos das pessoas idosas; 7) 
educação, cultura, esporte e lazer para as pessoas idosas; e 8) controle 
democrático: o papel dos conselhos.
A partir da análise, o Plano de Ação para o Enfrentamento da Violência 
Contra a Pessoa Idosa adota a definição de violência contra o idoso formulada pela 
Rede Internacional para a Prevenção dos Maus-Tratos Contra o Idoso e pela autora 
Maria Cecília de Souza Minayo:
35
O mau-tratoao idoso é um ato (único ou repetido) ou omissão 
que lhe cause dano ou aflição e que se produz em qualquer 
relação na qual exista expectativa de confiança (BRASIL, 
2005, p.11).
Mais uma definição utilizada por Galtung e citada pelo Centro Internacional de 
Informação para a Paz (apud FALEIROS, 2007, p.31), aborda o mau-trato como a 
diferença entre as potencialidades e a realização de um sujeito; acontece quando 
alguém está convencido de que suas realizações no plano físico ou mental estão 
abaixo de suas potencialidades. A Organização Mundial da Saúde (apud MINAYO, 
2008), nesta mesma perspectiva, define os maus tratos aos idosos como:
Ações ou omissões cometidas uma vez ou muitas vezes, 
prejudicando a integridade física e emocional da pessoa idosa, 
impedindo o desempenho do seu papel social.
A par dessas condições imediatas, há outros fatores que ampliam a 
possibilidade de ocorrência da violência contra o idoso, entre os quais o 
empobrecimento da população, a reorganização familiar que tem alterado os papéis 
sociais tradicionais (Queiroz, 1999), a invalidez física ou mental do idoso, o estresse 
do cuidador, um padrão prévio de relacionamento permeado pela violência, 
problemas e dificuldades do cuidador (Fulmer & O’Malley, 1987), a moradia 
conjunta, as perdas materiais, o isolamento social, a doença do idoso e a 
conseqüente diminuição de sua capacidade funcional e cognitiva (Fernandes & 
Assis, 1999). Na medida em que interferem na dinâmica familiar, essas condições 
merecem ser também levadas em conta na intervenção.
2.2- Uma Realidade Oculta e Silenciosa Visiabilizada na Família
Conforme ressaltamos anteriormente a violência intrafamiliar contra o idoso, 
é aquela que refere ás relações interpessoais e ocorre no ambiente doméstico, os 
36
lares são o lócus onde essas violências ocorrem, mas também é necessário levar 
em consideração que a sociedade atual colocou novas demandas na vida familiar 
que alteram os papéis sociais tradicionais e as estruturas que sustentam os modos 
de vida em família. Até poucas décadas atrás, o papel da cuidadora atribuído a 
mulher podia ser desempenhado sem o acúmulo de tarefas que hoje lhe é imposta. 
Familiares deixaram de ser cuidadores principais das gerações anteriores, e o que 
se verifica hoje é que grande parte das violências contra idosos ocorrem em casos 
em que as diferentes descendências convivem na mesma unidade doméstica, uma 
evidência de que o convívio plurigeracional não pode ser visto como garantia de 
velhice bem sucedida, e nem mesmo sinal de relações mais amistosas entre as 
sucessivas gerações (Debert,1999).
 O convívio entre gerações tem sido imposto pelo empobrecimento da 
população, pela estrutura crescimento desorganizado das cidades, fatores estes que 
se associam á ausência de políticas públicas voltadas para a saúde e a assistência, 
cooperando para que a população idosa fique a favor da violência que é imposta. 
Desta forma, a precariedade social e econômica tem contribuído de forma 
pesada/bruta na construção e na constituição do fenômeno da violência, e esta 
violência tem aparecido de uma forma totalmente marcante e sórdida como parte da 
realidade da população idosa.
Ao discutimos sobre a violência contra a pessoa idosa, podemos situá-la no 
âmbito da negação da vida, da destruição do poder legitimado pelo direito, seja pela 
negação da diferença, pela transgressão da norma, pela transgressão da confiança 
intergeracional, pela negação do conflito ou pelo preconceito e discriminação que 
impedem que os idosos expressem suas palavras, seus potenciais e participem da 
sociedade como um todo. Desta forma, Faleiros (2007, p.35) relata:
A palavra de todos os vitimizados mais frágeis não tem valor, e a negação 
da palavra, pela falta de audição da voz dos oprimidos, é uma forma de 
revitimização estrutural nas instâncias do próprio Estado. A discriminação 
cultural, racial ou étnica no cotidiano e nas instâncias do Estado configura 
uma expressão do preconceito socialmente justificado pela violência 
simbólica que estabelece o lugar do outro como inferior.
O prolongamento da vida fez surgirem dificuldades próprias do 
envelhecimento, a par dessas condições há outros fatores que ampliam a 
possibilidade de ocorrência da violência contra o idoso, entre os quais o idoso tem 
sua imagem compartilhada a decadência, a perda de habilidades cognitivas e de 
controles físicos e emocionais, fundamentos importantes da autonomia dos sujeitos, 
37
e as várias doenças crônicas de que são portadores colocam-nos em estado de 
dependência que demanda cuidados para os quais a família nem sempre está 
disponível. Provindo deste entendimento, a violência intrafamiliar é entendida como 
uma “violência oculta e silenciosa”, que muitas vezes é sofrida em seu estado muda 
e escondida, sendo praticada por filhas, filhos, neto (a), cônjuges, irmãos, 
conhecidos ou vizinhos que estejam próximos à vítima, segundo Faleiros (2007, 
p.40) na:
[...] ruptura de um pacto de confiança, na negação do outro, podendo 
mesmo ser um revide ou troco. Alguns filhos pensam dar o troco de 
seu abandono ao entregar idosos em abrigos ou asilos e ao 
informarem endereço falacioso para não serem contatados.
Ainda neste sentido, Minayo (2005), baseada nos estudos de outros autores, 
que pesquisas realizadas em diferentes partes do mundo revelam que cerca de 2/3 
dos agressores são filhos e cônjuges. Além disso, ressalta a relevância deste tema, 
já que os cuidados com os idosos continuam a ser, na maioria das sociedades, 
responsabilidade das famílias. No Brasil, mais de 95 % das pessoas acima de 60 
anos estão morando com seus parentes ou vivem em suas próprias casas.
Estudos internacionais destacam que a violência intrafamilair é a forma mais 
freqüente de abuso contra este segmento populacional e, no âmbito nacional, 
acrescentam-se a isso os escassos estudos sobre este tema. Conforme expõe 
Minayo (2005, p.33):
Chavez (2002) e Kleinschimidt (1997) mostram que 90% dos casos de 
violência e de negligência contra as pessoas acima de 60 anos ocorrem nos 
lares. Para o Brasil essa afirmação seria prematura, pois as pesquisas 
existentes não permitem explicitar a proporção em que incidem os abusos 
dos parentes próximos, os que ocorrem fora dos lares e dentro das 
instituições.
Conjuntamente consideramos que os maus tratos contra os idosos, 
acontecem aliados a outras violências, pois, como conseqüência, muitos idosos 
passam a sentir depressão, alienação, desordem pós-traumática, sentimentos de 
culpa e negação das ocorrências e situações que os vitimizam e os leva a viver em 
desesperança.
Pesquisadores internacionais e brasileiros, realizaram outros estudos, citados 
por Minayo (2005) tais como, Menezes (1999), Ortmann et al. (2001), Wolf (1995), 
Sanmartin et al.(2001), Costa e Chaves (2002), Reay & Browne (2001), Williamson & 
38
Schaffer (2001),Lachs et al. (1998), Anetzberger et al. (1994), sobre as situações de 
risco que as pessoas idosas vivenciam nos seus lares, apontam os seguintes dados 
sobre os sinais de vulnerabilidade e risco, conforme nos mostra Minayo (2005, p. 
34):
 o agressor vive na mesma casa da vítima;
 o fato dos filhos serem dependentes financeiramente de seus pais 
de idade avançada;
 os idosos dependerem da família de seus filhos para sua 
manutenção e sobrevivência;
 o abuso de álcool e drogas pelos filhos, por outros adultos da casa 
ou pelo próprio idoso;
 os vínculos afetivos entre osfamiliares serem frouxos e pouco 
comunicativos;
 o isolamento social dos familiares ou da pessoa da idade avançada;
 o idoso ter sido ou ser uma pessoa agressiva nas relações com 
seus familiares;
 haver história de violência na família;
 os cuidadores terem sido vítimas de violência doméstica, padecer 
de depressão ou de qualquer tipo de sofrimento mental ou 
psiquiátrico.
Ressalta que, entre os fatores de vulnerabilidade das pessoas acima de 60 
anos à violência familiar, existe uma forte conexão entre maus tratos e dependência 
química. A violência geralmente é causada pela falta de conhecimento sobre a 
situação de saúde do idoso; pelo despreparo para lidar com o idoso; relacionamento 
familiar/profissional conflituoso, estressante; histórias de violência na família e uso 
de álcool e/ou outras drogas. Segundo Anetzberger et al. (1994 apud Minayo, 2005), 
cerca de 50% dos abusadores entrevistados por seu grupo tinham problemas com 
bebidas alcoólicas. Chavez (2002), Costa e Chaves (2003) e Minayo (2005) 
acrescentam que os agressores físicos e emocionais das pessoas idosas usam 
drogas e álcool numa proporção três vezes maior que os não abusadores.
No que diz respeito à especificidade de gênero (Minayo, 2005), os resultados 
dos estudos mostram que, no interior dos lares, as mulheres são proporcionalmente 
mais abusadas que os homens. Minayo (2005, p.36) expõe:
mentalmente, sobretudo quando apresentam problemas de esquecimento, 
confusão mental, alterações no sono, incontinência, dificuldades de 
locomoção, necessitando de cuidados intensivos em suas atividades da vida 
diária.
O idoso geralmente se sente envergonhado de relatar fatos desse tipo 
39
envolvendo os familiares; na maioria das vezes, acompanhantes ou terceiros é que 
esclarecem a situação. Além disso, há os temerosos de que, com a queixa, os 
familiares busquem a sua institucionalização, o que os deixam completamente 
abandonados dos laços familiares.
 Logo, a Constituição Federal de 1988, o Estatuto do Idoso e a Política 
Nacional do Idoso centralizam a família como o lócus privilegiado da garantia da 
proteção social ao idoso. A respeito das diretrizes básicas da Política Nacional do 
Idoso, as autoras Campos e Mioto (2003, p.177) escrevem que estas:
[...] afirmam, entre suas noves diretrizes básicas, a prioridade para a família 
enquanto instituição mais capaz de produzir o bem-estar do idoso, já que a 
internação em asilos ou hospitais só deve ocorrer como última alternativa. 
Esta diretriz está de acordo com outras, relativas à importância da 
“integração social” do idoso à sociedade, sua convivência com várias 
gerações e participação em associações, evitando o isolamento.
 
A Constituição Federal de 1988 espelha a responsabilidade familiar e a assistência 
mútua entre pais e filhos e a obrigação do Estado em manter programas de amparo 
ao idoso em seu Capítulo VII, nos artigos 229 e 230. O Artigo 229, versando sobre a 
criança, o adolescente e o idoso, diz: “Os pais têm o dever de assistir, criar e educar 
os filhos menores e os filhos maiores tem o dever de ajudar e amparar os pais na 
velhice, carência ou enfermidade.” Portanto, o artigo 229 atribui aos filhos a 
obrigação de cuidar dos pais na velhice, em situação de doença ou carência, mas 
também estabelece que os pais sejam responsáveis pela criação dos filhos. No 
Artigo 230 define que o cuidado com os idosos é dever conjunto do Estado da 
sociedade e da família. No parágrafo primeiro, firma-se a preferência de programas 
para os idosos feitos em suas casas, evitando a institucionalização (CAMPOS, 
MIOTO, 2003). Apesar dos avanços que a Constituição Federal de 1988 trouxe em 
relação ao papel do Estado na proteção social ao idoso, “a família continuou sendo a 
principal responsável pelo cuidado relativo à população idosa, podendo ser 
criminalizada caso não o faça” (PASINATO 2004). 
Nas relações interpessoais, como na violência intrafamiliar, existe, ao mesmo 
tempo, uma cumplicidade e um medo que se impõe pelo autoritarismo do agressor 
ou pelo medo e pelo simbolismo ou imaginário de uma confiança entre vítima e 
agressor. A denúncia ou a revelação da violência provocar o rompimento. A 
violência intrafamiliar e doméstica tem sido pouco denunciada, no contexto do 
40
segredo ou conluio familiar, vinculado à honra, à cumplicidade, à confiança entre 
vítima e agressor e ao provimento da família, visto que o agressor é próximo da 
vítima.
O silêncio da vítima, muitas vezes, está condicionado pela política miúda de 
negação da cidadania, que se torna estruturante das relações não só entre 
dominantes e dominados, mas também entre prestadores de serviço do Estado e 
usuários, ou público que são cidadãos de direito, mas tratados como sem direito ou 
objeto de decisões arbitrárias e pessoais, sem fundamento na grande política da 
cidadania. 
È muito difícil penetrar no silêncio das instituições, das 
famílias e dos próprios idosos.Em defesa do agressor, o idoso 
cala-se, omite, e justifica na tentativa de atenuar os agravos 
da violência com o argumento de que já está velho mesmo.
(Berzins e Malagutti 2010).
Este silêncio está presente na violência contra a pessoa idosa, que teme 
perder certo apoio ou referência de familiares, principalmente filhos, crendo no pacto 
do apoio mútuo ou do apoio devido pela filiação. Por isso, acrescenta Minayo (2005), 
é preciso esclarecer que, além das notificações dos eventos que se tornam públicos, 
há um desconhecimento muito grande de todas as formas insidiosas, silenciosas e 
naturalizadas com as quais a sociedade convive e que, com certeza, têm impacto na 
saúde.
2.3- Estudo das classificações das situações de violência contra o idoso 
A violência contra o idoso é real, existe de fato, acontece na casa ao lado, das 
formas mais elementares: é a vizinha que se apodera da pensão da mãe; é o pai 
41
que é alojado no último cômodo da casa; é o neto que destrata o avô com ameaças; 
é a falta de cuidado com a administração da medicação. É o banho que não foi 
dado. A fralda que não foi trocada. É a divisão de bens antes da morte, com 
mecanismos de persuasão e coação física e psicológica do idoso. É o caçoar de sua 
demência e favorecer-se dela. É a agressão física simplesmente, sempre feita por 
alguém mais jovem e mais forte. É o abuso sexual das idosas acamadas, por seus 
conjugues. É o ostracismo do asilo.
Esta violência acontece como uma quebra de expectativa positiva da pessoa 
idosa em relação àquelas que as cercam, sobretudo os filhos, cônjuges, parentes, 
cuidadores, a comunidade e a sociedade em geral. As violências contra o idoso 
podem ser visíveis ou invisíveis: as visíveis são as mortes e lesões; a invisíveis são 
aquelas que ocorrem sem machucar o corpo, mas provocam sofrimento, 
desesperança, depressão e medo. Em relação às causas visíveis que levam à morte 
ou provocam lesões e traumas, a Organização Mundial de Saúde trabalha com duas 
categorias: acidentes e violências.
Os efeitos da violência contra as pessoas idosas são arrasadores, 
substancialmente para a saúde mental e física, deixando traumas e 
sequelas irreparáveis, quando não culminam com a morte. .(Berzins e 
Malagutti 2010).
Existe uma forma de classificação contemplando os vários tipos de maus 
tratos. Embora essa categorização não seja exaustiva, contempla os mais 
freqüentes abusos e nos facilita a compreensão do fenômeno. Especificar, definir e 
diferenciar esses problemas é importante porque quando achamos que nada éviolência, mas tudo é violência. Essa classificação também é reconhecida pela 
Organização Mundial de Saúde e é utilizada por pesquisadores do mundo inteiro. 
Compreende:
Figura I
Figura 1 - Tipos de Violência contra o Idoso
42
Conforme a opnião da autora Minayo (2004), acerca destas situações de 
violência são as seguintes:
 O abuso psicológico, violência psicológica ou maus tratos psicológicos 
correspondem a agressões verbais ou gestuais com o objetivo de aterrorizar 
os idosos, humilhá-los, restringir sua liberdade ou isolá-los do convívio social. 
 Violência Física ou abusos físicos constituem a maior parte das queixas das 
pessoas idosas, pois na maioria das vezes acontecem no seio da família. Às 
vezes, o abuso físico resulta em lesões e traumas que levam à internação 
hospitalar ou produzem como resultado a morte da pessoa. Os abusos físicos 
contra os idosos, são entendidos como ações agressivas e brutais que podem 
ocasionar fraturas, ferimentos, agressões, hematomas, queimaduras ou 
outros danos físicos. A violência física implica numa relação de poder com 
colisão no corpo e na integridade física dos indivíduos que resulte em marcas 
visíveis ou mesmo em morte. 
 Abuso Financeiro Violência financeira, que é uma relação de poder que 
resulta em pressão sobre o outro para ceder dinheiro com base em 
Maus tratos Físicos 
ou Violência física
Maus tratos Físicos 
ou Violência física
Violência Sexual ou 
Abuso Sexual
Violência Sexual ou 
Abuso Sexual
AutonegligênciaAutonegligência
NegligênciaNegligência
Abuso Psicológico ou 
Violência Psicológica
Abuso Psicológico ou 
Violência Psicológica
Abuso Financeiro e 
Econômico
Abuso Financeiro e 
Econômico
Abuso FísicoAbuso Físico
AbandonoAbandono
TIPOS DE 
VIOLÊNCIA CONTRA 
O IDOSO
TIPOS DE 
VIOLÊNCIA CONTRA 
O IDOSO
43
chantagens e abuso de confiança, pressão para vender a casa ou bens, 
pressão para fazer testamentos ou doações e retenção de cartão, entre 
outras.
 A negligência e abandono, são relações de poder que resulta em abandono, 
ou seja, em descuido, desresponsabilização e descompromisso do cuidado e 
do afeto; medicação e vestimenta descuidadas; assistência de saúde 
incompleta; descuido na comida e deixar de lado dos contatos sociais. No 
geral, se caracteriza como a etapa inicial de um processo de violência, além 
de configurar o abandono. A negligência é entendida como a situação na qual 
o responsável permite que o idoso experimente sofrimento. A negligência é 
caracterizada como ativa quando o ato é deliberado, e como passivo quando 
resulta de conhecimento inadequado das necessidades do idoso ou de 
estresses do cuidador, resultante da necessidade de ministrar cuidados 
prolongados.
 A violência psicológica, é uma relação de poder com uso da força da 
autoridade ou da superioridade sobre o outro, de forma inadequada, com 
exagero e descaso. Exemplos: humilhação, chantagem, provocar raiva ou 
choro, separar de pessoas queridas, insulto e desvalorização, entre outros. 
 O abandono é uma relação resulta em descuido, desresponsabilização e 
descompromisso do cuidado e do afeto; medicação e vestimenta 
descuidadas; assistência de saúde incompleta; descuido na comida e deixar 
de lado dos contatos sociais. No geral, se caracteriza como a etapa inicial de 
um processo de violência, além de configurar o abandono. O abandono é 
uma das maneiras mais perversas de violência contra a pessoa idosa e 
apresenta várias facetas. As mais comuns constatadas pelos cuidadores e 
pelos órgãos públicos que notificam as queixas: colocá-la num quartinho nos 
fundos da casa retirando-a do convívio com outros membros da família e das 
relações familiares; conduzi-la a um abrigo ou a qualquer outra instituição de 
longa permanência contra a sua vontade, para se livrar da sua presença na 
casa, deixando a essas entidades o domínio sobre sua vida, vontade, saúde e 
44
seu direito de ir e vir; permitir que o idoso sofra fome e passe por outras 
necessidades básicas. Outras formas também bastante freqüentes de 
abandono são as que dizem respeito à ausência de cuidados, de 
medicamentos e de alimentação aos que têm alguma forma de dependência 
física, econômica ou mental, antecipando sua imobilidade, aniquilando sua 
personalidade ou mesmo promovendo seu lento adoecimento e morte.
 A autonegligência: conduta de uma pessoa idosa que amece a sua própria 
saúde ou segurança, pela recusa ou pelo fracasso de prover a si próprio o cuidado 
adequado. Geralmente, a autonegligência ocorre quando a pessoa idosa está tão 
desgostosa da vida, que pára de comer direito, pára de tomar remédio, pára de 
cuidar de sua aparência física, pára de se comunicar, manifestando clara ou 
subliminarmente a vontade de morrer. No Brasil, os processos de autonegligência 
quase não são notificados, o que não quer dizer que inexistam. 
Capítulo III – Casa de Caridade de Muriaé - Hospital São Paulo Análise 
Documental sobre a Violência Contra o Idoso
45
3.1 – Breve histórico da Casa de Caridade de Muriaé – Hospital São Paulo
Conforme explicitado no capítulo I, a população de forma geral tem passado 
por um acelerado processo de envelhecimento, que altera a vida dos indivíduos, as 
estruturas familiares e a dinâmica societária. De fato, as alterações da saúde com o 
envelhecimento contribuem de modo considerável para o estreitamento da inserção 
dos idosos na sociedade, as más condições de saúde dos idosos freqüentemente 
observadas em nosso meio retratam por sua vez os problemas gerais da população 
e a dificuldade de acesso a uma assistência à saúde adequada. Dessa forma, 
Berzins (2003) afirma:
o desafio é e será incluir na agenda de desenvolvimento 
socioeconômico dos países políticas para promover o envelhecimento 
ativo, possibilitando qualidade aos anos adicionados a vida. Criar 
condições para fortalecer as políticas e programas para a promoção 
de uma sociedade inclusiva e coesa para todas as idades, 
reconhecendo o direito à vida, à dignidade e à longevidade deve ser 
objeto de preocupações dos governantes.
Mediante o exposto, o município de Muriaé- MG, não se encontra á parte 
deste contexto, atualmente possui de acordo com o IBGE, uma contagem preliminar 
da população em 2010 de 92.101 habitantes, sendo que deste resultado da amostra 
do senso demografico do ano de 2000, da população idosa residente no município 
de Muriaé-MG, por situação e grupos de idade.
Estima-se para os próximos anos, um expressivo crescimento desta parcela 
da população no município. Atualmente o município de Muriaé possui uma 
população de 9.646 habitantes acima de 60 anos, representando um percentual de 
mais de 10% da população residente, sendo que 4.395 habitantes são do sexo 
masculino e 5.251 habitantes são do sexo feminino. Com base no IBGE num 
período estimado de 1950 a 2025, projeções indicam que idosos do grupo etário 
com mais de 60 anos aumentará num número de 15 vezes para o ano de 2025.
Mediante a este fato, observa-se que a concentração em torno deste 
segmento ampliará sua importância no âmbito dos debates e efetivação das políticas 
sociais, uma vez que haverá um aumento significativo do crescimento demográfico 
da população idosa brasileira.
Constata-se conforme a tabela abaixo:
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Gráfico II
Gráfico 2 – População idosa residente no município de Muriaé-MG, por situação e grupos de idade
População residente por situação e grupos de idade
Grupos de idade

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