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TEXTO E INTERTEXTUALIDADE TEXTO E INTERTEXTUALIDADE Texto como visão interacional “O texto passa a ser considerado o próprio lugar da interação. A compreensão e a produção de sentidos não é concebida em uma simples captação de uma representação mental ou decodificação de mensagem e como Koch (2003:17) define “ela é, isto sim, uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos (...) que requer um vasto conjunto de saberes (enciclopédia) e sua reconstrução no interior do evento comunicativo”. Desse modo, o sentido de um texto é, como a autora coloca, “construído na interação texto-sujeitos (co-enunciadores)”. (SOARES, Alice) TEXTO E INTERTEXTUALIDADE “A intertextualidade ocorre quando, em um texto, está inserido outro texto (intertexto) anteriormente produzido, que faz parte da memória social de uma coletividade.” (ELIAS, KOCH) “Intertextualidade acontece quando há uma referência explícita ou implícita de um texto. Também pode ocorrer com outras formas além do texto: pintura, filme, novela, etc. Assim sendo, toda vez que uma obra alude a outra, ocorre a intertextualidade. O conceito de intertextualidade tem alicerce nas teorias de Bakhtin. Segundo ele (2003), o texto é repleto de tonalidades dialógicas, é ele que expressa as vivências humanas, constitui-se o representante da visão de mundo de um sujeito. (...) Nas palavras de Bakhtin, todo discurso constitui-se perante o outro e não sobre si mesmo. Na voz de qualquer falante, sempre encontramos a voz do outro, pois é o ‘outro’ que nos define, que nos completa ( XAVIER, Thiago) Polifonia e heterogeneidade “Polifonia tem como principal propriedade a diversidade de vozes controversas no interior de um texto. Conforme a tese do linguista russo Mikhail Bakhtin, este conceito se caracteriza pela existência de outras obras na organização interna de um discurso, as quais certamente lhe concederam antecipadamente boas doses de ascendência e ideias iluminadas. Este elemento não tem o mesmo significado da heterogeneidade enunciativa, que alude ao potencial desenvolvimento das vozes que já estão presentes na obra, ao passo que a polifonia se refere a variadas falas que intervêm no texto. “ ( SANTANA) INTERTEXTUALIDADE EXPLÍCITA “A intertextualidade explícita ocorre quando há citação fonte do intertexto, como acontece nos discursos reatados, nas citações e referências, nos resumos, resenha e traduções; nas retomadas de texto de parceiro para encadear sobre ele ou questioná-lo na conversação” (KOCH, 1997) INTERTEXTUALIDADE EXPLÍCITA É facilmente identificada pelos leitores; Estabelece uma relação direta com o texto fonte; Apresenta elementos que identificam o texto fonte; Não exige que haja dedução por parte do leitor; Apenas apela à compreensão do conteúdos Citação: Para Teixeira (1998, p. 35), “A ideia de que a mente funciona como um computador digital e que este último pode servir de modelo ou metáfora para conceber a mente humana iniciou a partir da década de 40”. Exemplo 2: INTERTEXTUALIDADE IMPLÍCITA “A intertextualidade implícita ocorre sem citação expressa da fonte cabendo ao interlocutor recuperá-la na memória para construir o sentido do texto, como nas alusões, na paródia, em certos tipos de paráfrase e ironia.”( KOCH, 1997) Não é facilmente identificada pelos leitores; Não estabelece uma relação direta com o texto fonte; Não apresenta elementos que identificam o texto fonte; Exige que haja dedução, inferência, atenção e análise por parte dos leitores; Exige que os leitores recorram a conhecimentos prévios para a compreensão do conteúdo. Alusão: Ele me deu um presente de grego. (A expressão faz alusão à Guerra de Troia, indicando um presente mal, o qual pode trazer prejuízo) Alguns tipos de intertextualidade: Epígrafe: Um texto inicial que tem como objetivo a abertura de uma narrativa. Trata-se de um registro escrito introdutório que possui a capacidade de sintetizar a filosofia do escritor. Ex: “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”.(Paulo Freire, “Pedagogia do Oprimido”) Citação: Referência a uma passagem do discurso de outrem no meio de um texto. Apresenta-se entre aspas e acompanhada da identidade do criador. Ex: Em entrevista à revista Veja (1994) Milton Santos aponta: “A geografia brasileira seria outra se todos os brasileiros fossem verdadeiros cidadãos. O volume e a velocidade das migrações seriam menores. As pessoas valem pouco onde estão e saem correndo em busca do valor que não têm”. Paródia: O autor se apropria de um discurso e opõe-se a ele. Muitas vezes ocorre a desvirtuação do discurso originário, seja pelo desejo de criticá-lo ou para marcar uma ironia. Canção do Exílio Gonçalves Dias Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar — sozinho, à noite — Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu´inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. Canção do Exílio às Avessas Jô Soares Minha Dinda tem cascatas Onde canta o curió Não permita Deus que eu tenha De voltar pra Maceió. Minha Dinda tem coqueiros Da ilha de Marajó As aves, aqui, gorjeiam não fazem cocoricó. O meu céu tem mais estrelas Minha várzea tem mais cores. Este bosque reduzido Deve ter custado horrores. E depois de tanta planta, Orquídea, fruta e cipó Não permita Deus que eu tenha De voltar pra Maceió. (...) Paráfrase: Ocorre quando o escritor reinventa um texto pré-existente, resgatando a filosofia originária. Termo proveniente do grego “para-phrasis”, que possui o sentido de reprodução de uma frase. Este tipo de intertexto repete um conteúdo ou um fragmento dele claramente em outros termos, mas com a preservação da ideia inicial. Texto Original “Minha terra tem palmeiras Onde canta o sabiá, As aves que aqui gorjeiam Não gorjeiam como lá.” (Gonçalves Dias, “Canção do Exílio”) Texto Parafraseado “Meus olhos brasileiros se fecham saudosos Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’. Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’? Eu tão esquecido de minha terra... Ai terra que tem palmeiras Onde canta o sabiá!” (Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e Bahia”) Tradução A tradução é a passagem de um texto de uma língua estrangeira para a língua nativa de um determinado país. É considerada uma intertextualidade por haver diferentes interpretações e pela possibilidade de uso de diferentes expressões na adequação à realidade da nova língua. Exemplos de tradução: Nós amamos com um amor que era mais do que amor. "We loved with a love that was more than love." (Edgar Allan Poe) O cartum de Caulos tem como texto fonte o poema No Meio do Caminho de Carlos Drummond de Andrade, de 1930. “(...)No meio do caminho tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho Tinha uma pedra No meio do caminho tinha uma pedra.” Quadrilha (Carlos Drummond de Andrade) João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história. Quadrilha da sujeira (Ricardo Azevedo João joga um palitinho de sorvete na rua de Teresa que joga uma latinhade refrigerante na rua de Raimundo que joga um saquinho plástico na rua de Joaquim que joga uma garrafinha velha na rua de Lili. Lili joga um pedacinho de isopor na rua de João que joga uma embalagenzinha de não sei o quê na rua de Teresa que joga um lencinho de papel na rua de Raimundo que joga uma tampinha de refrigerante na rua de Joaquim que joga um papelzinho de bala na rua de J.Pinto Fernandes que ainda nem tinha entrado na história.