Buscar

ARTIGO PENAL Importunacao Sexua

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

FACULDADE 2 DE JULHO
MICHELLE BRITTO CUNHA BOAVENTURA
SERGIO RICARDO MUNIZ CORREIA
LEI DE IMPORTUNAÇÃO SEXUAL X SOCIEDADE MACHISTA
Salvador
2018
MICHELLE BRITTO CUNHA BOA VENTURA
SERGIO RICARDO MUNIZ CORREIA
LEI DE IMPORTUNAÇÃO SEXUAL X SOCIEDADE MACHISTA
Projeto de pesquisa apresentado em cumprimento parcial das exigências da disciplina de Direito Penal IV, do Curso de Direito 5º Semestre pela Faculdade 2 de Julho.
Orientador: Prof. Lucas Gabriel
Salvador
2018
SUMÁRIO
1.	RESUMO	 04
2.	INTRODUÇÃO	05
3.	SOBRE A LEI DE IMPORTUNAÇÃO SEXUAL	08
 3.1.	O que mudou com a lei de importunação sexual	 08
 3.2.	Interpretação aos olhos	09
4.	REFLEXO DA CULTURA MACHISTA 	10
5.	CONCLUSÃO	12
13REFERÊNCIAS	�
�
RESUMO
A proposta deste estudo foi analisar a Lei de Importunação sexual frente ao comportamento social machista, que a partir de casos de grande repercussão provocou o judiciário na tipificação desta nova lei estabelecendo um tipo pela de gravidade média que era tratada apenas como uma mera contravenção. Acredita que com essa mudança haja uma diminuição de conduta. No entanto, o que traz a reflexão é que esse mesmo grupo social que repudiou, por exemplo, o episódio do homem que ejaculou no pescoço de uma mulher quando ambos se encontravam no interior do ônibus, na Avenida Paulista, em São Paulo, em 2017. É o mesmo grupo social que carrega uma herança de cultura machista. Abrangendo também a mulher que o reproduz supervalorizando seus direitos e deveres ratificando a desigualdade, questão que nos faz indagar até que proporção essa cultura pode influenciar e contribuir para comportamentos que hoje estejam enquadrados no Código Penal. 
 
 Palavras-chave: desigualdade, comportamento, machismo, violência sexual
ABSTRACT
The purpose of this study was to analyze the Sexual Importation Law against male chauvinist social behavior, which from cases of great repercussion provoked the judiciary in the typification of this new law establishing a type for the one of medium gravity that was treated only as a mere contravention. He believes that with this change there is a decrease in conduct. However, what brings the reflection is that this same social group that repudiated, for example, the episode of the man who ejaculated on the neck of a woman when they were both inside the bus, on Avenida Paulista, in São Paulo, in 2017 It is the same social group that carries an inheritance of macho culture. Covering also the woman who reproduces it overvaluing their rights and duties ratifying inequality, a question that makes us wonder to what extent this culture can influence and contribute to behaviors that are now framed in the Penal Code.
Keywords: inequality, behavior, machismo, sexual violence
INTRODUÇÃO
O presente texto traz uma reflexão sobre a violência sexual e sua manutenção proveniente de uma educação machista, tal educação que é apreendida e repassada de gerações e gerações se perpetuando ao longo da história. Herança que toda uma sociedade carrega em todos os campos: familiar, social, econômico, profissional, etc.
A violência contra a mulher é produto de uma construção histórica, que traz em seu seio estreita relação com as categorias de gênero.
Na Grécia Antiga havia muitas diferenças entre homens e mulheres. As mulheres não tinham direitos jurídicos, não recebiam educação formal, eram proibidas de aparecer em público sozinhas, sendo confinadas em suas próprias casas em um aposento particular, enquanto aos homens, dotado de muitos direitos permitido o homem era polígamo e o soberano inquestionável na sociedade patriarcal, tinham poder absoluto sobre a mulher.
Em Roma as mulheres nunca foram consideras cidadãs, a exclusão social, jurídica e política, colocavam a mulher no mesmo patamar de incapazes. Sua identificação enquanto sujeito político, público e sexual era negada, tendo como status social a função de procriadora.
O Cristianismo retratou a mulher como sendo pecadora e culpada pela expulsão do homem do paraíso, devendo por isso seguir a obediência, passividade e submissão aos homens, ser de grande iluminação, capazes de dominar os instintos irrefreáveis das mulheres como formas de obter sua salvação. Assim a religião cristã foi delineando as condutas e a natureza das mulheres e incutindo uma consciência de culpa que permitiu a manutenção da relação de subserviência e dependência.
É válido salientar que há reconhecimento de mudança ainda que em passos minúsculos e que alguns paradigmas estejam sendo quebrados. Mas ainda não são suficientes para que o índice de violência sexual caia, o que se faz urgente a atuação e continuidade na mudança das instituições, principalmente a familiar que é o primeiro contato social de um individuo. 
Os bens jurídicos são os objetos e interesses tutelados pelo Direito, capazes de serem legitimamente possuídos, protegidos, utilizados. Havendo uma colisão de interesses, torna-se fundamental se no ramo do ordenamento jurídico, são capazes de solucioná-lo.
Em suma, o bem jurídico penal é constituído do interesse relevante presente, merecedor de proteção, podem-se enumerar os seguintes: vida, integridade física, patrimônio, honra, saúde individual e pública, liberdade individual, intimidade, vida privada, sigilo da correspondência, asilo domiciliar, propriedade imaterial, organização do trabalho, sentimento religioso, memória dos mortos, família, incolumidade pública, fé pública, administração pública, administração da justiça, finanças públicas, relações de consumo, meio ambiente, ordem tributária, ordem econômica, dentre outros. Como objeto primordial de análise deste estudo, destaca-se a importunação sexual.
A atividade sexual individual e o relacionamento sexual com terceiros devem ser considerados parcela integrante da intimidade e da vida privada, merecendo respeito e liberdade. Por óbvio, a satisfação sexual deve dar-se em âmbito de estrita legalidade, vale dizer, sem afronta a direito alheio ou a interesse socialmente relevante. Assim sendo, não se tolera a relação sexual invasora da intimidade ou vida privada alheia, sem consentimento, além do emprego de violência ou grave ameaça. 
Respeitar a dignidade sexual significa tolerar a realização da sensualidade da pessoa adulta, maior de 18 anos, sem obstáculos ou entraves, desde que se faça sem violência ou grave ameaça a terceiros. Sob tal enfoque, torna-se vítima de crime contra a dignidade sexual aquele que foi coagido, física ou moralmente, a participar da satisfação da lascívia do agente, sem apresentar concordância com o ato. Pode, ainda, tornar-se ofendido aquele que, para a satisfação de outro interesse do agente, foi levado a atos sexuais não aprovados, a dignidade sexual sob critérios moralistas, conservadores ou religiosos. 
Serão inocentes as piadinhas disfarçadas de humor e vistas de forma tão inofensivas? 
São o espelho de uma sociedade que perpetua certos tipos de comportamentos?
 O machismo é trazido pelo senso comum de superioridade exercido ainda que em caráter distintos tanto pelo homem como pela mulher na maneira de pensar, agir e se posicionar. Seguindo essa linha de pensamento faz se necessário a razão pela qual acontecem determinados tipos de violência sexual com números crescentes, foram 47.646 estupros no país em registro mais recente. E o mais agravante é que esse número representa apenas 10%, segundo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Repensar que mesmo que o sistema judiciário seja visto como insuficiente em amplos sentidos para dar o amparo necessário a certos crimes, é de suma importância reconhecer que é um reflexo de toda uma história movida de uma cultura patriarcal. Uma pesquisa feita pelo IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística, em 2017,
revelou que o machismo é o preconceito mais praticado no Brasil. E também se revelado na justiça criminal que não escapa desta cultura que o país carrega.
 A lei de importunação sexual é mais um crime de refletido por um comportamento desta herança que é carregada. Obviamente, que não motivados por razões e níveis de gravidade diferentes. A verdade é que o Poder Judiciário não conseguiu ainda entender a dinâmica social brasileira, o que impede da justiça pautar o dia a dia e permitir a sensação de desamparo, que nos faz a dar importância maior as razões pelas quais um cidadão comum vem cometer determinado crime. E terminamos por perceber que há por traz toda influência de uma cultura machista e determinante para certo tipo de conduta.
SOBRE A LEI DE IMPORTUNAÇÃO SEXUAL
3.1 O que mudou com a lei de importunação sexual
 
O delito de “Violação Sexual Mediante Fraude”, previsto no artigo 215 do Código Penal, sofreu algumas modificações em sua redação, passando a reprimir não só a conjunção carnal com mulher, mas também qualquer outro ato libidinoso contra a mulher e também contra o homem, tendo como meio de execução, além do emprego de fraude, qualquer outro meio fraudulento que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima.
Foi sancionada a lei 13.718/18, no dia 24 de setembro de 2018, pelo Presidente da Republica em exercício, o ministro Dias Toffoli. A mudança estava prevista em substituto da Câmara dos Deputados (SCD/2/2018) a projeto de lei (PLS/618/2015) da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). Foram criados os art. 215 – A novo projeto do Código Penal. O crime de importunação sexual é caracterizado pela realização de ato de satisfazer a lascívia do próprio ou para outro. O caso mais comum é o assédio sofrido por mulheres em transporte coletivo como ônibus e metrô. A nova lei considera também crime divulgar cenas de estupro ou que façam apologia a ele – exceto se for publicada em veículos jornalísticos, acadêmicos, científicos ou culturais com a preservação da identidade da vítima. 
O crime de importunação sexual não implica e exige uma violência física, basta constrangimento ilegal, uma vez que somente subsiste quando o constrangimento ilegal não é o meio ou elemento de outro crime. A sanção penal é um meio previsto repressivo suplementar predisposto para o caso em que determinado fato, compreendido no conceito no constrangimento ilegal. Trata – se de um crime de ação livre, ou seja, todos os meios devem ser admitidos, por exemplo, gestos, palavras, escritos, entre outros. 
3.2 O que mudou na interpretação após a lei de importunação sexual
Antes o crime era tratado apenas como uma contravenção penal e sua sanção era apenas o pagamento de multa.
 Pode – se evidenciar a conduta quando surge na esteira dos numerosos casos de transportes públicos em que o agente esfrega seu órgão sexual contra o corpo da vítima ou mesmo se masturba e nela conscientemente ejacula situações para as quais não existia uma subsunção precisa. 
No que concerne à masturbação, por exemplo existiam diversas posições : (a) crime de estupro (art.213, do CP adotando – se a vaga e criticável ideia de violência simbólica); estupro de vulnerável (art.217 do CP, especialmente quando a vítima era atingida em situação de vulnerabilidade como ao dormir no transporte público; (c) violação sexual mediante fraude (para que deixava de lado a interpretação analógica exigida pelo art.215 do CP); (d) ato obsceno ( que considerávamos a mais correta em que pese a inconstitucionalidade do art.233 do CP, adotada por boa parte da doutrina nacional), e a contravenção penal de importunação ofensiva ao pudor que se encontrava no art. 161 da LCP e foi revogada pela lei ora em apreço.
Essa lei será tratada como uma ação pública incondicionada. Ou seja, o processo irá tramitar independe da vontade da vítima. Antes tratada como ação pública condicionada, que precisaria do desejo expresso da vítima.
O REFLEXO DA CULTURA MACHISTA NA LEI DE IMPOTUNAÇÃO SEXUAL
Trata – se a criança de forma diferente a partir da descoberta do sexo. Sejam nas cores de suas vestes, decoração de quarto ou no tratamento ainda bebês : “ princesa linda” ou “garotão forte”. Um exemplo de criação machista pode ser observado pelo que expõe essa jovem de 18 anos : “Minha mãe me impede de usar certas roupas porque estarei ‘me insinuando”. Com certeza os homens irão ser educados de forma contrária diante do exposto. Possivelmente, aos olhos masculinos ela vai está de fato desejando ser desejada e até mesmo apalpada ou no mínimo dar esse direito apenas pela roupa decotada que coloca. O machismo contribui e torna maior problema da violência e criminalidade. Até se perceber que certos comportamentos eram crimes, houve uma aceitação pela sociedade que precisou causar vítimas para que recebessem outros tratamentos. No entanto, vale ressaltar que ambos são vítimas dessa cultura machista. Assim como a mulher o homem também desde a infância é reprimido (“homem não chora, homem não se entrega”) e tantas frases condicionando esse futuro adulto a levar na construção de princípios e caráter a adotar e agir conforme foi motivado a ser futuramente.
O Código Penal deve ser utilizado como última ratio, ou seja, como ultima ferramenta para solucionar conflitos. É o que se entende pelo princípio penal da intervenção mínima, ensinando que a conduta somente deve ser tipificada quando não há outro meio viável à proteção do bem jurídico, de forma secundária, destaca-se a colocação de André Copetti (2000, p. 87). A tutela penal vem sendo utilizada como símbolo de justiça, a falsa concepção de solução para os problemas sociais, quando na verdade o direito penal busca proteger o cidadão punitivo do Estado de forma a limitar sua autoridade Compartilha-se também o entendimento do douto doutrinador Fernando Capez, explicando que:
Nisso, aliás, consiste a principal proteção política do cidadão em face do poder punitivo estatal, qual seja, a de que somente poderá ter invadida sua esfera de liberdade, se realizar uma conduta descrita em um daqueles raros pontos onde a lei definiu a existência de uma infração penal (CAPEZ, 2011, p. 36). 
Essa falsa idéia de que o sistema repressivo vai acabar com a s mazelas da sociedade. Ou seja, há uma motivação para edição de leis transmitindo tais medidas como forma de proteção. 
Por tanto, pensar na transformação social envolve transgredir as normas de comportamento, dominação e de poder impostas pela sociedade aos gêneros. Isso não significa a exclusão do masculino, mas o pensar em homens e mulheres a partir do caráter relacional de poder, considerando que não existe apenas uma mulher ou um homem, mas sim, diferentes construções simbólicas de papeis que são flexíveis e mutáveis ao longo do tempo. 
CONCLUSÃO
O machismo é um comportamento de dominação e afirmação de poder, que é imposto pelos homens como forma de colocarem-se acima do sexo feminino intelectual e fisicamente. 
A mulher não depende do homem, mas no mundo em que a mulher era tida como submissa e como objeto, e que hoje contradiz isso com atitudes autoritárias e confirmando seu lugar de ser pensante tal como o homem na sociedade atual.
Diante de todo contexto de que foi apresentado, e não tirando a responsabilidade do poder judiciário, é notório e evidente que se faz de suma importância uma mudança cultural no que diz respeito ao machismo nas instituições sociais, principalmente a instituição familiar que é basilar na educação de todo indivíduo. vê-se que a simples tipificação do crime de importunação sexual não é o caminho mais eficaz para solução do problema da violência contra a mulher.
 A mesma finalidade foi almejada com a aprovação da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006), mas os índices de violência contra a mulher, infelizmente, não minimizaram, do contrário, continuaram aumentando. O que podemos concluir que a edição
e/ou elaboração de leis não são vistas como eficácia. Precisamos sim, da atenção do Poder Publico, para estar voltado ao estudo e instituições de políticas publicas direcionada ao estudo da violência contra a mulher, não só no âmbito familiar, mas também aquelas por questões de gênero. E acrescentar que esse indivíduo que comete o crime não apenas responda apenas pela sua conduta, mas que também passe por um acompanhamento para que ele possa voltar para a sociedade e não retorne a cometer o mesmo crime.
 Ações devem ser implantadas em conjunto com a sociedade, abordando o tema com cidadãos de todas as faixas etárias, sobretudo nas escolas, ensinando as crianças que homens e mulheres se equivalem e não possuem tarefas ou responsabilidades pré-estabelecidas em função do sexo. 
REFERÊNCIAS:
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. Vol.1 .São Paulo. Saraiva, 2011
GRECO, Rogério. Código Penal Comentado 10ª edição Ed Impetus 2016
COPETTI, André. Direito Penal Estado Democratico de Direito 2000
https://especiais.gazetaonline.com.br/violenciasexual/
https://www.dgabc.com.br/Noticia/2963143/o-machismo-no-judiciario
https://jus.com.br/artigos/69247/mudancas-no-codigo-penal
https://jus.com.br/artigos/69247/mudancas-no-codigo-penal
http://www.justificando.com/2018/08/13/novos-crimes-sexuais-na-lei-avanco-ou-armadilha/
https://projetoredacao.com.br/temas-de-redacao/a-persistencia-da-violencia-contra-a-mulher-na-sociedade-brasileira/o-machismo-infantil-e-um-problema-adulto/17351
noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/entretenimento/2018/04/25/vivemos-numa-sociedade-machista-sim-ou-nao-venha-entender.htm
noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2016/05/30/pequenos-atos-machistas-estao-na-raiz-da-violencia-diz-ativista.htmdossies.agenciapatriciagalvao.org.br/fontes-e-pesquisas/wp-content/uploads/sites/3/2018/08/ENOIS_meninapodetudo2015.pdf
://emais.estadao.com.br/blogs/nana-soares/em-numeros-a-violencia-contra-a-mulher-brasileira/
https://eoh.com.br/o-machismo-que-tambem-oprime-aos-homens/
�PAGE \* MERGEFORMAT�13�

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando