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o movimento hip-hop-território e identidade da posse zumbi no bairro ne de amaralina em salvador

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O MOVIMENTO HIP-HOP: TERRITÓRIO(S) E IDENTIDADE(S) DA 
POSSE ZUMBI NO BAIRRO NORDESTE DE AMARALINA EM 
SALVADOR – BA. 
 
HIP-HOP MOVEMENT: TERRITORY(IES) AND IDENTITY(IES) OF THE 
POSSE ZUMBI AT NORDESTE DE AMARALINA NEIGHBOURHOOD 
IN SALVADOR - BA. 
 
Célio José dos Santos1
 
1 Graduado em Geografia pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB, atualmente é aluno da especialização 
em Educação, Cultura e Contextualidade oferecida pela UNEB. E-mail: celiouneb@hotmail.com. 
 
 
 
Resumo: O objetivo do presente trabalho é fazer uma discussão sobre a construção da 
identidade dos jovens do movimento hip-hop, entorno da Posse Zumbi, localizada no bairro 
do Nordeste de Amaralina em Salvador – BA, Brasil, e a sua respectiva relação com o 
território. Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo, os dados foram coletados através 
de levantamento bibliográfico, da observação participante e de entrevistas não estruturadas, 
o enfoque epistemológico é pautado no materialismo dialético, sendo utilizado como 
tipologia de análise espacial o genoespaço, proposto por Gomes (2006), que consiste em 
um tipo de agregação social, o grupo ou a comunidade que qualifica o território, uma vez 
que, trata-se de um território qualificado pelos jovens do movimento hip-hop, pois a partir da 
cultura hip-hop a juventude reinventa seu cotidiano, imprime novas territorialidades e por 
meio da ação coletiva e da conscientização, se apropriam simbolicamente do espaço urbano 
e constroem suas identidades de negros, pobres, e periféricos. Assim como a identidade o 
território dos jovens hip-hoppers são construídos pelo grupo e pertencem ao coletivo e não a 
um único individuo, pois se trata de um espaço de autonomia e de auto-identificação, uma 
vez que essa construção se faz pela cooperação entre os agentes envolvidos. 
 
Palavras-chave: Território – Identidade – Hip-Hop – Territorialidade. 
 
 
 
Abstract: The aim of this paper is to discuss the construction of identity of the hip-hop young 
generation around the Posse Zumbi, located in Nordeste de Amaralina neighbourhood in 
Salvador - BA, Brazil, as well as its respective relationship with the territory. It is a qualitative 
research and all data were collected through literature review, participant observation and 
unstructured interviews. The epistemological approach is grounded on dialectical materialism 
and, as a typology of spatial analysis, it was applied the notion of genospace purposed by 
Gomes (2006) which consists in a sort of social aggregation, a group or a community that 
qualifies the territory, once it is about a territory qualified by the young people involved in the 
hip-hop movement, because of the hip-hop culture, youth reinvent their day-by-day, they set 
up new territorialities and through collective action and awareness. They take ownership of 
urban space and build their identities as black, poor and peripheral people. Like identity, 
young hip-hoppers territory is built by the group itself and it belongs to the collective instead 
of a single individual, inasmuch as it is an area of autonomy and self-identification, once this 
construction is created through the cooperation among those involved in this process. 
 
Keywords: Territory, Identity, Hip-Hop, Territoriality. 
 
Introdução 
 
O presente artigo é fruto de uma pesquisa mais ampla, que teve início em 
2005, como bolsista do programa Brasil Afroatitude, resultando também no trabalho 
de conclusão de curso. 
O seguinte trabalho traz para o debate geográfico a cultura hip-hop, a 
formação da identidade e o enraizamento territorial na contemporaneidade, e como 
se dá a relação entre território e identidade dentro do movimento hip-hop, uma vez 
que a identidade, assim como o território, é construída por meio de relações de 
poder, Haesbaert (1999). 
O artigo é dividido em cinco momentos. No primeiro procuro fazer uma breve 
discussão teórica sobre os conceitos de identidade e território e a relação entre 
ambos. Em seguida, faço um breve histórico sobre a cultura hip-hop e sua formação 
nos Guetos norte americanos. No terceiro momento abordo a (des)territorialização e 
o (des)enraizamento da cultura hip-hop , posteriormente procuro discutir a dialética 
do global e local para o enraizamento da cultura hip-hop e como o lugar interfere 
nesse processo, e por final, trago a Posse Zumbi e a sua participação na construção 
da identidade e na formação do território dos jovens adeptos a cultura hip-hop. 
 
A relação entre território e identidade 
 
Território e identidade tratam-se de dois conceitos bastante complexos e 
polissêmicos dentro das Ciências Sociais. Perante isso, procurarei fazer uma breve 
definição do conceito de território na ciência geográfica e a sua relação com a 
identidade. 
O território, uma das categorias de análise da Geografia é um termo que 
ultimamente tem sido muito discutido e, segundo Brito (2005), ainda está em 
construção. O termo território é derivado da palavra em latim territorium, e significa 
terra pertencente a alguém. Após a sistematização da Geografia no século XIX, o 
primeiro autor a utilizar o termo foi o geógrafo alemão Friedrich Ratzel, que inseriu o 
homem na discussão da Geografia, dando início a chamada antropogeografia. 
Ratzel (1990) entendia o território na perspectiva da Geopolítica, o qual era um 
trunfo do Estado e caberia ao mesmo a proteção do território através da força 
coletiva. O autor compreendia o território como o espaço vital ligado ao solo, onde a 
relação entre Estado e sociedade era pautada pela necessidade de habitação e 
alimentação. O autor também concebia o território como um instrumento de 
fortalecimento dos Estados por meio da conquista e da dominação de outros povos, 
fazendo com que o Estado adquira força produtiva econômica e cultural, no entanto 
nosso objetivo aqui não é fazer um histórico do conceito de território. 
Um dos primeiros autores a desvincular a relação direta entre território e 
Estado como componentes fixos foi Robert Sack. Segundo Brito (2005), os estudos 
de Sack contribuíram com maiores avanço no conceito de território, uma vez que o 
mesmo não possui mais uma dimensão fixa, vária de tamanho, podendo ser tanto 
um Estado, como qualquer agrupamento humano, de caráter móvel, possuindo uma 
duração temporal variável, sendo uma porção do espaço organizada em torno da 
liderança de um agente hegemônico, onde vários territórios podem ser estruturados, 
concomitantemente, pelo mesmo agente por via das redes geográficas, caindo por 
terra à concepção tradicional de ver o território como um objeto fixo e estável por 
longos tempos, contribuindo para o início a novas abordagens material e simbólica 
do território. 
Entre essas novas abordagens podemos destacar os trabalhos de Souza 
(1995) e Haesbaert (1999, 2004, 2006, 2007). Souza (1995) entende o território 
como um espaço definido e delimitado por e a partir das relações de poder, e são 
construídos e desconstruídos dentro das diversas escalas matérias e temporais 
(século, década, anos, meses, semanas, dias e horas), podendo ter um caráter 
periódico ou cíclico, prevalecendo nas relações de poder a autonomia do grupo, ou 
seja, o território assim como o poder pertence ao grupo e não ao indivíduo. 
Gomes (2006) define duas matrizes territoriais o nomoespaço e o 
genoespaço, o primeiro é o espaço do contrato é a condição necessária para que 
configure a idéia de um pacto social do tipo contratual, no segundo, o qual iremos 
dar mais ênfase, é o tipo de agregação social que qualifica o território é o grupo ou a 
comunidade, ou seja, o território é definido e delimitado a partir da identificação do 
grupo, sendo que o discurso que funda essas identidades é o dadiferença, “A 
diferenciação se faz exagerando os traços distintivos daquele grupo de pessoas e 
diminuindo a importância de todas as outras características comuns compartilhadas 
com o grupo” Gomes (2006 p. 60) 
Todo e qualquer território possui uma identidade, seja ela positiva ou 
negativa, seja ela para seu grupo ou para aquele que é considerado o seu outro. 
“Não há território sem algum tipo de identificação ou valoração simbólica (positiva ou 
negativa) do espaço pelos seus habitantes” (Haesbaert 1999, p. 172), pois para o 
mesmo Haesbaert (2004), não existe território sem territorialidade, no entanto, existe 
territorialidade sem território, porém o autor chama atenção para o fato de não 
reduzir a territorialidade apenas à dimensão simbólica cultural do território no que 
tange ao processo de identificação territorial, pois a territorialidade vai além da 
simbiose entre território e identidade. 
 
A territorialidade no nosso ponto de vista não é apenas algo abstrato, 
num sentido que muitas vezes se reduz ao caráter de abstração 
analítica epistemológica. Ela é também uma imaterialidade, no 
sentido ontológico de que, enquanto uma “imagem” ou um símbolo 
de um território, existe e pode inserir-se eficazmente como uma 
estratégia político-cultural, mesmo que o território ao qual se refira 
não esteja concretamente manifestado – como no conhecido 
exemplo da “Terra Prometida” dos judeus, territorialidade que os 
acompanhou e os impulsionou através dos tempos, ainda que não 
houvesse, concretamente uma construção territorial correspondente. 
(HAESBAERT, 2004, p. 7) 
 
A identidade, segundo Woodward (2000), é construída sempre em um 
contexto marcado por relação de poder e indiferença tanto social como simbólica, o 
que não difere do modo da construção do território. Silva (2000) também segue essa 
mesma linha de raciocínio, ao compreender a identidade como resultado de um 
processo de produção simbólica e discursiva. 
 
Já sabemos que a identidade e a diferença são o resultado de um 
processo de produção simbólica e discursiva. O processo de 
adiamento e diferenciação lingüístico por meio do qual elas são 
produzidas está longe, entretanto, de ser simétrico. A identidade, tal 
como a diferença, é uma relação social. Isso significa que sua 
definição-discursiva e lingüística – está sujeita a vetores de força, a 
relação de poder. Elas não são simplesmente definidas; elas são 
impostas. Elas não convivem harmoniosamente, lado a lado, em um 
campo sem hierarquias; elas são disputadas. (SILVA, 2000 p. 81). 
 
Persistindo com Silva (2000), a afirmação da identidade para ele significa 
demarcar fronteiras, delimitar espaços e fazer distinção de quem está dentro e de 
quem está fora. Em outras palavras, ao afirmar a identidade, o sujeito diretamente 
está construindo território, a fim de territorializar sua(s) identidade(s). 
 
Toda identidade implica uma territorialização, assim como a 
territorialização permite a permanência identitária. É o espaço 
delimitado que proporciona a materialização, ou a objetivação, ou a 
visibilidade da organização e dos atributos dos diferentes grupos 
sociais em diferentes escalas. (COSTA, 2005, p. 85) 
 
Logo passamos a entender a real importância da relação entre território e 
identidade que segundo os autores citados anteriormente ambos mantêm uma 
relação intrínseca, pois os dois são marcados por relações de poder. 
 
Entendendo a Cultura Hip Hop 
 
O hip-hop, criado no início da década de 1970, pelo grupo americano Afrika 
Bambata, termo inspirado devido à forma de dançar, hip = a quadril e hop = saltar, 
saltar o quadril. Além de responsável pelo batismo, o grupo definiu o break, o rap e o 
grafite como os elementos essenciais para a existência do movimento hip-hop. 
Historicamente, o movimento surgiu no bairro do Bronx nova-iorquino, onde 
jovens afro-americanos e caribenhos tiveram participação decisiva na sua 
construção e afirmação, Rose (1997). A dança break de origem caribenha, Porto 
Rico para ser mais exato, a arte visual materializada no grafite e o rap iniciais de 
rythm and poetry como expressão poético musical, oriundo da Jamaica, integraram-
se como parte do sistema cultural juvenil. Silva (1999) salienta que desde já é 
preciso ter claro que o movimento hip-hop, além de ser integrado pelas práticas 
juvenis supracitadas, ela, aos olhos dos jovens, não se resume apenas a uma 
proposta exclusivamente estética envolvendo a dança, o grafite e o rap, mas, 
sobretudo, a fusão desses elementos como arte engajada com finalidade sócio-
política em prol da comunidade. 
Segundo Rose (1997), o hip-hop combina elementos do discurso da música, 
da dança, da exibição para, por meio das performances, dar vida a novas 
identidades e posições dos jovens que vão em busca dos papéis de sujeitos sociais 
que lhe foram negados. O cruzamento feliz entre o break, o grafite e a música rap 
foi alimentado não só pelas experiências locais compartilhadas entre os jovens, 
como também pela posição social em que se encontravam. As identidades foram 
forjadas a partir de bens simbólicos, como linguagens, estilo, postura e vestuário, 
todos procedentes das ruas, guetos e de turmas de bairros. Para Claval (2001), na 
construção da identidade devem ser considerados três elementos para a sua 
formação: a origem comum, o desejo de adequar-se às práticas de um grupo e a 
construção da pessoa que repousa na articulação exercida de todos os aspectos de 
sua vida centrados na cultura. 
O hip-hop se apropriou simbolicamente e reinventou o cenário urbano, dando 
novo sentido ao espaço urbano, imprimindo um novo estilo de vida e projetando 
suas territorialidades, através do sampleado2
Alguns autores como Canclini (1997, 2006) defendem que o hibridismo 
cultural está intimamente ligado ao processo de desterritorialização, pois a cultura 
perde o seu referencial territorial, resultante do enfraquecimento das lealdades locais 
em prol das comunidades transnacionais, o que impede o reconhecimento de 
identidades claramente definidas. Herschmann (2000) concorda em parte com 
Canclini. Para Herschmann (2000), na era da globalização, da comunicação e da 
velocidade da informação, as expressões culturais, entre elas o hip-hop, não apenas 
, da postura, da dança e dos grafites 
nos murais, nos trens e nos parques, reivindicando assim seus territórios e 
inscrevendo sua identidade no espaço público, Rose (1997). 
 
Hibridismo, desterritorialização e reterritorialização da cultura Hip-Hop. 
 
A cultura hip-hop é por excelência, desde a sua formação, uma cultura 
híbrida, formada por jovens negros e latinos que tinham na cultura uma forma de 
resistência, uma maneira de se afirmarem na sociedade e de construir suas 
identidades. “O hip-hop emergiu nos anos 70 nos Estados Unidos como fonte de 
formação de uma identidade alternativa para os jovens das ‘comunidades negras e 
latinas’. Tais identidades alternativas ‘locais’, elaborada por esses jovens tinha como 
referencial o cotidiano das ruas” Herschmann (1997, p. 75). 
 
As experiências e perspectivas dos jovens hispânicos, afro-
caribenhos e afro-americanos, que se mantiveram distante de um 
ambiente discursivo mais abrangente, redundaram em um espaço 
social restrito. E, nesse caso, o hip-hop desenvolveu-se como parte 
de uma rede híbrida de comunicação. (ROSE, 1997, p. 211) 
 
A cultura hip-hop se instalou como um meio de comunicação dos jovens, 
oriundos de diversas localidades, tendo na cultura uma linguagem comum entre 
eles, privilegiando assim o constante diálogo, produzindo e compartilhando novos 
símbolos e significados na vida urbana. 
 
2 Batida digital da música rapse dessencializaram ou desnaturalizaram no imaginário social, como também 
perderam a sua relação de fidelidade com os territórios originários. “As expressões 
culturais tornaram-se um processo de montagem multinacional, uma articulação 
flexível de partes uma colagem de traços de qualquer um, qualquer classe, religião, 
cor, ideologia pode utilizar.”. Hershmann (2000, p. 63) 
No entanto, ao contrário de Canclini (1997, 20006), Hershmann (2000) 
acredita no processo de reterritorialização, tendo no localismo o reconhecimento e a 
reafirmação da cultura globalizada, “muito desses estilos são ao mesmo tempo, 
periféricos e autônomos, locais mais também globais e, finalmente, híbridos, mas 
nem por isso necessariamente diluídos” Haershmann, (2000, p. 64) 
 
O olhar geográfico multiescalar é imprescindível para entendermos a 
des-territorialização, pois, como se trata sempre de um processo 
concomitante de des-territorialização e reterritorialização, é preciso 
que se interprete em diversas escalas. O que num nível escalar, é 
percebido como um processo desterritorializador, em outro pode ser 
visto como reterritorializador. Daí a pertinência do uso do termo 
sempre hifenizado: des-territorialização demonstrando a 
indissociabilidade de suas duas faces. (HAESBART, 2001, p. 128) 
 
Segundo o próprio Haesbaert, em um trabalho conjunto com Porto-Gonçalves 
(2006, p. 90), defende que, “na América Latina, podemos dizer, o hibridismo cultural 
não é simplesmente sinônimo de “desterritorialização” de desenraizamento, mas a 
forma encontrada, principalmente dos povos subjugados, de se “reterritorializar”, 
reconstruir de algum modo seus territórios”. 
Exatamente o que ocorreu com a cultura hip-hop nos guetos nova iorquinos, 
onde jovens afro-americanos e caribenhos “desterritorializados” se apropriaram dos 
elementos da cultura negra e latina, formando assim o hip-hop, com o intuito de 
criarem novos territórios e reafirmarem suas identidades, projetando suas 
territorialidades no espaço-urbano da cidade de Nova York. No entanto, ao contrário 
do que se imaginam, essas trocas culturais não foram feitas de maneira arbitrária, 
uma vez que, a partir do momento que concebemos a territorialidade como uma 
forma estratégica de influenciar e controlar os recursos, os fenômenos e as relações 
de pessoas, pois o cuidado de preservar a identidade não impede que os grupos 
sociais e culturais mantenham relações com aqueles que são diferentes, adotando 
limites protetores que os impeçam de aceitar o que ameaçam seus valores 
essenciais, Claval (2006). 
Haesbaert (2007) associa hibridismo cultural a multiterritorialidades, 
provocada graças ao fenômeno da globalização que intensificou a hibridez e a 
mobilidade da cultura e da sociedade via redes geográficas, “associamos hibridismo 
cultural não com desterritorialização, como fazem muitos autores, mas com 
multiterritorialidades” Haesbaert (2007, p. 46). 
 
Na verdade, cultural e geograficamente falando, o que temos é o 
convívio entre múltiplos tipos de território, desde os territórios mais 
fechados em termos de identidade cultural (“territorialismo”), até 
aqueles mais abertos e “híbridos”, onde convivem lado a lado os 
mais diversos grupos socioculturais. (HAESBAERT; PORTO-
GONÇALVES, 2006, p. 91) 
 
De fato, o processo de des-territorialização não existe em si como alguns 
autores chegaram a declarar no final do século XX, mas sim um processo 
concomitante entre a desterritorialização e a reterritorialização, ou seja, toda a 
desterritorialização deve ser acompanhada por uma reterritorialização. Na análise de 
Haesbaert (2001), o território não chegou ao seu fim, na verdade o que devemos ter 
é uma sensibilidade maior para analisar a escala das relações de poder. 
 
A recontextualização local de um fenômeno global: o caso de Salvador – Ba. 
 
O processo de globalização produz diferentes resultados em termos de 
identidade sendo algumas vezes contraditório. Para Woodward (2007), a 
homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao 
distanciamento da identidade à comunidade e à cultura local. No entanto, de forma 
alternativa e contrária, pode levar a uma resistência, que fortalece e reafirma 
algumas identidades locais, ou leva ao surgimento de novas posições de identidade 
entre os grupos. 
As práticas dos jovens hip-hoppers falam por si mesmas e, por meio delas, 
expressam a realidade concreta do local em que vivem numa forma de denúncia da 
realidade local, com qual se defrontam no seu dia-a-dia. As práticas dessa juventude 
são inspiradas num contexto internacionalizado, porém, são elaboradas na 
concretude da sua existência, Dayrell (2005), ganhando contornos singulares que 
emergem do lugar por meio da fusão das práticas culturais do hip-hop com a cultura 
local. 
 
[...] os jovens constroem uma forma própria de vivenciar o estilo rap 
em Belo Horizonte, o que dá ao estilo uma feição local, mesmo com 
as influencias de Rio de Janeiro, São Paulo e EUA. Esta constatação 
diz sobre os processos de difusão cultural no contexto de uma 
sociedade cada vez mais globalizada. Como expressão de uma 
cultura juvenil, o estilo rap não é o resultado de uma progressiva 
homogeneização e massificação cultural que homologaria a um único 
registro uma produção cultural juvenil, independente das condições 
estruturais concretas nas quais esses jovens estariam inseridos. 
(DAYRELL, 2005, p. 94) 
 
É no âmbito do lugar que vai ocorrer a reterritorialização e o enraizamento da 
cultura, pois enquanto a ordem da globalização é a des-territorialização, a ordem do 
lugar é o inverso a reterritorialização, Santos (2008). Através dos hibridismos e dos 
laços de solidariedades, os jovens das favelas e periferias dão um novo sentido à 
cultura, uma nova roupagem diferenciando-a das demais partes do globo, “ao lado 
de uma inquestionável globalização do universo da cultura juvenil, mantém-se uma 
série de aspectos locais, determinados por uma história local e contextos 
específicos” Sansone (1997, p. 171). Justamente o caso da cultura hip-hop que é 
absorvida antropofagicamente pelos jovens que pegam, misturam e devolvem a 
cultura da sua forma, de acordo com suas necessidades e as especificidades do 
lugar. 
 
A identidade Hip Hop está profundamente arraigada à experiência 
local e específica, e ao apego a um status em um grupo local ou 
família alternativa. Esses grupos formam um novo tipo de família, 
forjada a partir de um vinculo intercultural que, a exemplo das 
formações das gangues, promovem isolamento e segurança em um 
ambiente complexo e inflexível. E, de fato, contribuem para as 
construções das redes da comunidade que servem como base para 
os novos movimentos sociais. (ROSE, 1997, p. 202) 
 
O sociólogo Gey Espinheira, em um documentário intitulado Hip-Hop com 
Dendê, faz uma abordagem sobre a cultura hip-hop, enfatizando os processos de 
des-territorialização e territorialização da cultura, destacando a força do lugar 
perante esse contexto. 
 
O hip-hop é um movimento de juventude, é um movimento de rua, 
nós temos rua e temos juventude, juventude e rua são universais. O 
movimento nasceu realmente no EUA, mas quando chega aqui ele 
se torna baianissimo e a maneira de como é feita é como ele 
tivesse sido temperado com dendê. (informação verbal3
 
3 Trecho da fala de Gey Espinheira no documentário Hip-Hop com Dendê 
, grifo 
nosso) 
 
No Nordeste de Amaralina bairro popular da capital baiana, a cultura hip-hop 
ganha contornos locais. O tradicional, a música dos blocos afro, se mistura ao 
moderno, ao rap, o grupo Quilombo Vivo, oriundo do bairro Nordeste de Amaralina, 
têm um estilo próprio, na voz do grupo o portuguêsé combinado com algumas 
palavras em Iorubá (a língua dos orixás) no som percebe-se a influência de blocos 
afros e a interferência de instrumentos percussivo de origem africana, retraçam as 
fronteiras entre cultura tradicional e moderna, local e estrangeira, estabelecem um 
novo contato incessante dos sistemas simbólicos tradicionais com as redes 
internacionais de informação, Hershmann (2000). 
 
O objetivo dessa mistura que agente faz com a música 
contemporânea, que é o rap, o discurso falado, o discurso engajado, 
com os referenciais dos blocos afros, que foi a principal influência na 
formação da minha identidade, da nossa identidade nos anos 80, no 
final dos anos 80, durante os anos 80, até inicio dos anos 1990 e a, o 
discurso dos blocos afro era voltado para o resgate da auto-estima, 
para o fortalecimento da negritude, isso influenciou á formação da 
minha identidade (Informação Verbal4
 
4 Trecho da entrevista de Nego Juno, integrante do grupo Quilombo Vivo e da Posse Zumbi, gravado 
em 12/02/2008 
 
). 
 
A partir da fala de Nego Juno nota-se a presença do hibridismo na cultura hip-
hop, porém vale salientar que a miscelânea feita pelo grupo obedece a uma ordem 
identitária e estratégica, uma forma de identificação ao qual está atrelada a sua 
territorialidade, impondo limites a algo que possa prejudicar a sua identidade. 
A negociação entre as diversas culturas no hip-hop é constante, a todo o 
momento os jovens estão negociando fronteiras, e impondo limites para que isso 
não implique riscos à sua identidade e a sua territorialidade, e não retire a 
verdadeira essência do movimento. 
 
A Posse Zumbi e a contrução da(s) identidade(s) 
 
A Posse Zumbi foi criada em 1998 cujo primeiro nome era Posse Orí, foi a 
segunda associação de hip-hop a ser fundada na cidade, abrangia não só os bairros 
da região do Nordeste de Amaralina como também outras bairros periféricos de 
Salvador, o intuito era de aproximar o lazer proporcionado pela cultura, á uma 
atividade vinculada à militância política e social através de um discurso engajado na 
luta contra o racismo, a exclusão e uma moradia digna, 
A Posse Zumbi não possui um espaço físico, ela é itinerante entre os bairros 
que compõe a região do Nordeste de Amaralina- RNA, que conta com o próprio 
Nordeste, a Chapada do Rio Vermelho, Vale das Pedrinhas e Santa Cruz, o intuito é 
se apropriar simbolicamente dos espaços, construindo territórios com caráter 
flexível, flutuante e itinerante. É nas reuniões da posse que ocorre a comunicação 
entre os jovens, lá eles debatem sobre os problemas do bairro, sobre política e 
outros assuntos voltados à juventude. É daí que os jovens se percebem protagonista 
de sua história emergindo um sentimento de pertença e elevando sua auto-estima, 
por está junto a seus iguais. 
Vale salientar que a Região do Nordeste de Amaralina – RNA é composta 
pelos quatro bairros supracitados, bairros estes de grande vulnerabilidade social, de 
origem comum e de forma de ocupação semelhantes, porém fragmentadas pelas 
fronteiras simbólicas instituída pelo tráfico de drogas e rixas das diversas facções. A 
Posse Zumbi buscou derrubar tais limites propondo ações de integração geográfica 
e cultural entre os bairros, onde os moradores para participar das atividades 
itinerantes tinham inevitavelmente que cruzar tais fronteiras, num esforço de 
sedução para a participação, de satisfação da necessidade e da criação do 
sentimento por fazer parte de um grupo. 
 
A ocupação da rua, dos espaços, dos lugares é vivenciado como um 
desafio lúdico capaz de trazer prazer e esperança. Em outras 
palavras, esses grupos sociais, apesar de sofrerem forte 
estigmatização e de serem temidos dentro do seu “habitat natural”, 
não elaboram territórios marginais fechados, definidos. Na realidade, 
produzem territorialidade que são permanentemente “conquistadas” 
ou apropriadas por eles em articulação ou tensão com diversas 
esferas da vida social. (HERSCHMANN, 2000, p. 230) 
 
Para castells (2006) os movimentos urbanos, processos de mobilização social 
com finalidade preestabelecida, organizados em um determinado território e visando 
objetivos urbanos, estariam voltados a três conjuntos de metas principais, 
necessidades urbanas de condições de vida e consumo coletivo; afirmação da 
identidade cultural local; e a conquista da autonomia política local junto a 
participação na qualidade de cidadãos. 
As Posses são unidades de organização autônoma dos adeptos do hip-hop 
que se reúnem para estudar a cultura afro brasileira e intervir nos problemas sociais 
que afligem o bairro, como drogas, gravidez na adolescência, desemprego, 
problemas habitacionais, os diversos tipos de violência, entre outros temas. As 
Posses se configuram como um dos importantes instrumentos de conscientização e 
organização do movimento hip-hop, construindo identidades que ganhou forma e 
corpo na postura, nas letras de rap, nos desenhos de grafites e nos movimentos da 
dança. 
 
A nossa primeira organização de hip-hop foi também baseada nas 
formas de organização, nas formas que a comunidade sempre se 
organizou, através de associação, através de encontros semanais de 
debates e nós decidimos nos organizar enquanto hip-hoppers, 
enquanto jovens negros responsáveis pela luta do movimento negro, 
agente se organizou como as associações se organizam, com 
reuniões semanais para discutir os problemas da comunidade, para 
discutir soluções para esses problemas da comunidade, 
intervenções, de que forma nos poderíamos intervir para identificar 
os problemas e solucioná-los alguns problemas, e para levar na 
pauta da sociedade esses problemas da comunidade e colocar na 
pauta do Estado para ser debatido os problemas da comunidade, 
agente se decidiu a se organizar através de uma posse como agente 
denomina as organizações do movimento hip-hop (Informação 
Verbal)5
 
5 Trecho da entrevista de Nego Juno, integrante do grupo Quilombo Vivo e da Posse Zumbi, gravado em 
12/02/2008 
 
. 
 
Para esses jovens que se organizam por meio das Posses, a transformação 
pretendida se dá a partir do momento em que eles, como parte da periferia onde 
vivem, buscam ser um exemplo para a comunidade, no propósito de romper com as 
barreiras impostas pela segregação social o qual todos são vitimados, entretanto, 
para atingir essa finalidade é preciso que se compreenda qual é o real sentido 
almejado pelo movimento e, nesse intuito, perceber com maior profundidade a 
situação social vivida pela comunidade, é um passo importante. Essa compreensão 
exige estudos da realidade local e global, e articulação do produto destes nas letras 
de rap para que esta transformação de fato ocorra. 
 
O sentimento de identidade e pertencimento por exemplo, embora 
subjetivo, tem sempre um sentido. Como tentamos demonstrar. esta 
identidade é simultaneamente uma forma de relação social e uma 
forma de representação espacial que resulta num certo tipo de 
territorialidade. Em outros termos, essa identidade não é um dado 
irredutível da realidade, mas sim uma construção, que associa de 
maneira vital e orgânica os vínculos entre o grupo e seu território. 
(GOMES, 2006, p.118 e 119) 
 
As atividades da Posse têm um cunho político, na maioria das vezes são 
vinculados a outros movimentos sociais como associação de moradores e 
movimento negro, o que contribui para a construção da identidade de negros e 
pobres, não exaltando a pobreza, e sim reivindicando, como pobres sua condição de 
humanos, com valores e visão de mundo própria, demonstrando que as identidades 
não são arbitrárias nem aleatórias, ancoram-se em referentes materiais, tendosempre um referencial sócio-político concreto, Haesbaert (1999). Alguns autores 
como Andrade (1999), consideram o movimento hip-hop como uma vertente do 
movimento negro, o movimento negro-juvenil, já que falam a linguagem dos jovens, 
entendem e vivem os problemas vivenciados pelos mesmos. 
 
A Posse assume seu ideário de grupo negro juvenil no movimento 
hip-hop, e com essa prática os jovens alcançam um duplo objetivo: 
primeiro, se fortalecem na vida grupal como jovens; e, segundo 
desenvolvem o cultivo da auto-estima como negros: aliada a essa 
duplicidade está a sua consciência política de classe pobre e 
oprimida. (ANDRADE, 1999, p. 90) 
 
Os membros da Posse almejam visibilidade e poder de voz, um protagonismo 
negado em todo história da juventude negra a esses atores sociais, que se 
reafirmam como jovens demonstrando sua capacidade de apresentar idéias, 
compartilhar opiniões e sugerir mudanças sociais. Segundo Andrade (1999) as 
Posses promovem aos jovens, negros e pobres o cultivo à auto-estima e a luta pelo 
direito a cidadania. Nesse ínterim observa-se que a educação alternativa, 
desenvolvida no interior do grupo, é a responsável pela articulação desses jovens. 
 
Considerações finais 
 
O Hip Hop se encontra hoje como um dos mais importantes movimentos de 
construção e auto-afirmação da identidade dos jovens negros na sociedade 
contemporânea em busca da alteridade e do respeito negados ao longo da maior 
parte da sua história. Sua atuação no contexto social atual surge como fruto da 
tomada de consciência das inúmeras faltas cometidas contra a população negra, 
pautando-se pela busca de caminhos que conduzam ao reconhecimento e ao 
respeito às diferenças da comunidade por meio da arte e da cultura. 
A construção da identidade dos Jovens hip-hop na Posse Zumbi, ocorre 
dentro de um processo, onde estão incluso a diferença a partir do outro, abordada 
durante todo o trabalho de acordo com os escritos de Woodward (2007) e Silva 
(2007), o sentimento de pertença, e a conscientização do grupo por meio do 
coletivo, uma vez que é a partir da solidariedade e da organização entre os jovens 
que emerge um sentimento de pertença, por fazer parte de um grupo ou de uma 
posse onde os jovens são sujeitos de sua própria história, como afirmar Castells 
(2006), que para que as identidades sejam construídas, faz-se necessário um 
processo de mobilização social, isto é, as pessoas precisam participar de algum tipo 
de movimento seja ele urbano ou rural não necessariamente revolucionário, pelos 
quais são revelados e definidos interesses em comum, e a vida é de algum modo, 
compartilhada, e um novo significado pode ser produzido. 
 
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