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Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6691-9
9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 9 1 9
Código Logístico
59604
Vivemos em um país profundamente marcado pelas 
desigualdades sociais. Essa realidade não é nova, 
está presente em nosso cotidiano há tempos. Para 
entendê-la, é preciso compreender a importância das 
políticas étnicas implementadas em nosso país e a 
sua relação com o Serviço Social.
Nesse sentido, a proposta desta obra é possibilitar 
ao aluno em formação em Serviço Social compreender, 
de modo mais aprofundado, as relações da educação 
étnico-racial com a profissão de assistente social. 
Ao longo da leitura, o leitor terá a oportunidade, 
também, de conhecer e indagar sobre os processos 
políticos e culturais do nosso país e como eles 
formaram a nossa sociedade.
IDENTIDADES CULTURAIS E SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL
THA
LYTA
 M
A
BEL N
OBRE BA
RBOSA
 Identidades culturais e 
 Serviço Social no Brasil 
Thalyta Mabel Nobre Barbosa
IESDE BRASIL
2020
© 2020 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do 
detentor dos direitos autorais
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: barsrsind/Elements.envato.com
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
B213i
Barbosa, Thalyta Mabel Nobre
Identidades culturais e serviço social no Brasil / Thalyta Mabel Nobre 
Barbosa. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020.
96 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6691-9
1. Serviço social - Brasil. 2. Identidade social - Brasil. 3. Pluralismo 
cultural - Brasil. 4. Brasil - Relações étnicas. I. Título.
20-66711 CDD: 305.896981 
CDU: 316.347(81) 
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Thalyta Mabel Nobre 
Barbosa
Vídeo
Mestra em Serviço Social pela Universidade Federal 
do Rio Grande do Norte (UFRN). Graduada em Serviço 
Social pela mesma instituição. Tem experiência como 
docente da área de Serviço Social e Metodologia 
Científica na graduação e na pós-graduação, tanto 
em instituições públicas quanto privadas. Atua como 
autora, designer educacional e consultora educacional 
na elaboração, gestão e implementação de materiais 
didáticos para a EaD.
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
Acesse os vídeos automaticamente, direcionando 
a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
para o QR code.
Em alguns dispositivos é necessário ter instalado 
um leitor de QR code, que pode ser adquirido 
gratuitamente em lojas de aplicativos.
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SUMÁRIO
1 A identidade cultural do povo brasileiro 9
1.1 Uma compreensão sociológica da identidade 9
1.2 Identidade e representação social 12
1.3 Identidade e cultura 14
1.4 Identidades culturais e culturas nacionais 19
2 Estrutura social e aspectos étnico-culturais 25
2.1 Cultura 25
2.2 Etnocentrismo 29
2.3 Etnia e raça 32
2.4 Preconceito, racismo e discriminação 34
3 Brasil: cidadania, democracia e direitos sociais 42
3.1 Discutindo cidadania e democracia 42
3.2 O processo político das lutas sociais no Brasil 46
3.3 Os direitos sociais no Brasil contemporâneo 52
3.4 Cidadania e democracia: avanços e retrocessos 54
4 Políticas brasileiras de inclusão e o Serviço Social 59
4.1 As relações étnico-raciais 60
4.2 O Estado e a educação inclusiva 65
4.3 As políticas sociais e o Serviço Social 67
4.4 O profissional do Serviço Social e as diferenças culturais 71
5 A questão étnico-racial e o Serviço Social 76
5.1 O Serviço Social e o debate sobre a questão étnico-racial 77
5.2 A questão étnico-racial na formação em Serviço Social 81
5.3 A percepção dos assistentes sociais acerca do racismo 86
5.4 A materialização do racismo nos espaços sócio-ocupacionais 89
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Vivemos em um país profundamente marcado pelas desigualdades sociais. 
Essa realidade não é nova, está presente em nosso cotidiano há tempos. 
Para entendê-la, estudaremos sobre a importância das políticas étnicas 
implementadas em nosso país e a sua relação com o Serviço Social.
Nesse sentido, a proposta desta obra é permitir que você, aluno em 
formação em Serviço Social, seja capaz de compreender, de modo mais 
aprofundado, as relações da educação étnico-racial com a nossa profissão. 
Para que possamos obter êxito nessa caminhada rumo ao conhecimento 
acadêmico, recomendamos que esteja atento aos conceitos aqui apresentados 
e que seja capaz de realizar as mediações com o cotidiano profissional do 
assistente social. 
Nos Capítulos 1, 2 e 3, aprofundaremos os conceitos de cultura, 
preconceito, racismo, exclusão, cidadania, democracia, raça e etnia. Já 
nos Capítulos 4 e 5, refletiremos sobre a temática abordada nos capítulos 
anteriores, relacionando-a ao Serviço Social. Partindo, então, para a reflexão 
sobre a importância das políticas sociais e a relação do Serviço Social com 
elas, estudaremos a importância das políticas de inclusão social e como 
elas se materializam na sociedade brasileira. Por fim, estudaremos sobre a 
percepção dos assistentes sociais acerca do racismo e a sua materialização 
nos espaços socioprofissionais. 
Ao longo da leitura, você terá a oportunidade de conhecer e indagar sobre 
os processos políticos e culturais do nosso país e como eles formaram a nossa 
sociedade. Esperamos que ao final da leitura você seja capaz de identificar 
e respeitar as pluralidades culturais existentes, bem como reconhecer a 
importância das políticas de inclusão do nosso país. 
É com o conhecimento que entenderemos a realidade social. Esse saber é 
fundamental para que possamos atuar como assistentes sociais.
Bons estudos!
APRESENTAÇÃO
A identidade cultural do povo brasileiro 9
1
A identidade cultural 
do povo brasileiro
Neste capítulo, estudaremos sobre a identidade e a sua com-
preensão sociológica, bem como a de representação social e cultu-
ral e como ponto definidor das culturas nacionais.
A finalidade deste capítulo é nos fazer refletir sobre a iden-
tidade do povo brasileiro, uma vez que cada região do país tem 
culturas diferentes. A reflexão também é válida para pensarmos 
como formamos e construímos a nossa cultura nacional em 
meio a essa diversidade.
1.1 Uma compreensão sociológica da 
identidade Vídeo
Você já parou para pensar sobre o que é a identidade e como ela 
se forma? Quando abordamos o conceito de identidade, trabalhamos 
com a ideia de senso comum de que ela é formada por características 
próprias de um determinado sujeito, diferenciando-o de outro.
Definir o que é identidade e como ela se forma é muito difícil, pois 
vivemos num mundo pós-moderno, globalizado, com mudanças cons-
tantes e ao mesmo tempo com todos conectados por meio das mídias 
sociais e da internet. Isso nos leva a uma construção social diária, pois 
convivemos com as mais diversas culturas dentro do nosso lar, seja 
no simples café que tomamos, seja nas roupas que usamos. Podemos 
dizer que isso também se aplica à tecnologia e à informação, que auxi-
liam na expansão cultural.
Segundo Hall (1997), as conexões feitas levam a mudanças culturais 
globais, gerando uma rápida mudança social, apagando as particula-
ridades e diferenças locais e produzindo, em seu lugar, uma cultura 
mundial homogeneizada, ocidentalizada.
10 Identidades culturais e Serviço Social no Brasil
Para Bauman (2005, p. 33), firmar uma única identidade é qua-
se impossível, “umavez que seu Cristo é Judeu. Seu carro é japonês. 
Sua pizza é italiana. Sua democracia, grega. Seu café, brasileiro. Seu 
feriado, turco. Seus algarismos, arábicos. Suas letras, latinas. Só seu 
vizinho é estrangeiro”.
No mundo globalizado, nossa identidade não é única, ela é formada 
com base em nossa concepção de mundo, que, como sugere Bauman 
(2005), é fruto da mistura de culturas, de preceitos sociais e dos grupos 
aos quais pertencemos.
Temos diversos tipos de identidade, entre as quais podemos iden-
tificar a identidade pessoal ou individual, a qual, segundo Nascimento 
(2001, p. 10), pode ser
entendida como um conjunto de valores, representações e 
conhecimentos particulares de cada ator, não pré-existe aos 
processos de interação como uma essência primordial e inde-
pendente, mas constrói-se em referência a categorizações es-
pecíficas de grupos de pertença, definidoras de determinadas 
identidades sociais, que se jogam dialeticamente em tensão com 
as autoimagens e os papéis desempenhados pelos atores.
Quando abordamos o termo identidade no que concerne ao pen-
samento sociológico, podemos dizer que ele é muito complexo, pois 
nos leva a várias definições, como supracitado, uma vez que não te-
mos apenas uma identidade definida, e sim identidades. Segundo Hall 
(2005, p. 8), o conceito de identidade “é demasiadamente complexo, 
muito pouco desenvolvido e muito pouco compreendido na ciência so-
cial contemporânea para ser definitivamente posto à prova”.
Passeando entre os conceitos estabelecidos pelos estudiosos do 
tema, temos Castells (2008, p. 24), que afirma que existem três formas 
e origens de identidade:
 • Identidade legitimadora: introduzida pelas instituições dominan-
tes da sociedade no intuito de expandir e racionalizar sua domi-
nação em relação aos atores sociais;
 • Identidade de resistência: criada por atores que se encontram 
em posições/condições desvalorizadas e/ou estigmatizadas pela 
lógica da dominação;
 • Identidade de projeto: quando os atores sociais, utilizando-se de 
qualquer tipo de material cultural ao seu alcance, constroem uma 
nova identidade capaz de definir sua posição na sociedade e, ao 
fazê-lo, de buscar a transformação de toda a estrutura social.
Para esse autor, a identidade formada no mundo globalizado é a 
identidade de projeto, pois seja pessoal, seja nacional, ela é formada 
com base na estrutura social estabelecida pela sociedade que rege cada 
país, ou por cada grupo que determina a construção dela no seu meio.
Outro autor que também aborda essa temática é Stuart Hall (2005), 
o qual afirma que as identidades foram se formando por meio do su-
jeito do iluminismo, o sociológico e o pós-moderno, ou seja, a forma-
ção de uma identidade cultural e/ou nacional se dá a partir do século 
XVIII, em uma busca constante desse homem moderno de se colocar 
no mundo como alguém que pertence a algum lugar. A busca por uma 
identidade nos remete também à ideia de pertencimento, de fazer par-
te daquele espaço, daquela cidade ou do seu país de origem. É o mo-
mento em que o poder absolutista está sendo contestado, em que se 
pede liberdade política, econômica e social.
Os dois autores partilham a ideia de que os processos identitários 
se dão devido à humanidade estar em mudança constante. Mudan-
ças essas que se aceleraram com o processo das grandes navegações, 
quando os europeus se aventuraram em conquistar novos lugares no 
mundo e introduzir sua cultura nos povos nativos. Ao longo dos séculos 
XVIII e XIX, também temos a mudança de pensamento com os ilumi-
nistas, os quais começaram a refletir sobre a liberdade política, social, 
religiosa e econômica. Nesse percurso, avançamos para a Revolução 
Industrial, que traz uma mudança no meio social, em que o ser humano 
muda seu modo de vida, ou seja, migra do campo para buscar emprego 
na cidade, devido ao processo de industrialização, o que faz com que 
ele busque o seu lugar no mundo, assim como sua identidade.
Outro autor que nos traz a abordagem sobre identidade é Zyg-
munt Bauman (2005), o qual nos mostra que ela é múltipla, diversa e 
fluida, pois vai mudando de acordo com o tempo e com a cultura de 
um povo, uma vez que temos em uma única cultura a inserção de di-
versas outras, o que foi propor-
cionado pelas migrações e pela 
globalização, visto que não te-
mos mais nações separadas, e 
sim unificadas por meio do co-
mércio, das comunicações e 
dos meios de transporte.
Explique como a sociologia 
aborda o conceito de identidade.
Atividade 1
Figura 1
Globalização
Ve
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or
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A identidade cultural do povo brasileiro 11
12 Identidades culturais e Serviço Social no Brasil
De acordo com Hall (2005, p. 75),
quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global 
de estilos, lugares e imagens, pelas viagens internacionais, pelas 
imagens da mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente 
interligados, mais as identidades se tornam desvinculadas – de-
salojadas – de tempos, lugares, histórias e tradições específicos e 
parecem “flutuar livremente”.
É com base na identidade que temos o desenvolvimento da cultura 
de um país ou de uma região, com a ideia de pertencer a um lugar, a um 
grupo, a uma religião. Isso é o que define alguém em relação ao seu 
papel social; por exemplo, a pessoa pode ser um professor em seu am-
biente de trabalho, mas quando adentramos no âmbito familiar, encon-
tramos outras identidades formadas, como a de filho, pai e irmão, o que 
nos leva a entender que uma pessoa possui múltiplas identidades. En-
tender a constituição de uma identidade social é tentar interpretar como 
essas múltiplas identidades se relacionam em cada indivíduo.
1.2 Identidade e representação social 
Vídeo A nossa identidade é constituída no cotidiano, por meio da intera-
ção social aliada à afinidade de um grupo. Isso nos leva a uma ideia de 
pertencimento a um lugar, e o sentido de pertencer nos leva à base 
de integração dos sujeitos no âmbito social e ao desenvolvimento da 
representação social deste sentido.
As representações sociais são formadas por informação, campo 
cognitivo e atitude. Então, vamos ter na informação a organização do 
conhecimento e no campo cognitivo, a formação da imagem, e a atitude 
vem a ser o posicionamento frente ao objeto que está sendo formado.
Assim como o conceito de identidade, o conceito que aborda a re-
presentação social também é complexo, pois permeia várias áreas, 
como a psicologia, a antropologia e a sociologia.
Ao fazer a associação de identidade e representação social, pode-
mos observar que trabalham com a ideia de pertencimento, de alteri-
dade e da visão do outro; assim, buscam a valorização do sentimento 
de pertencimento desenvolvido com base em diferentes condições so-
ciais, culturais, emocionais, físicas e étnicas desses sujeitos, formando 
a identidade social.
A globalização tem grande 
impacto na formação das 
identidades culturais. No 
entando, muitas vezes não 
percebemos o tamanho ou a 
proximidade que esle está de 
nós. Você já parou para pensar o 
quanto esse fenômeno impacta 
em você, na sua comunidade e 
no seu país? Busque identificar 
nesse âmbitos influências diretas 
da globalização na formação da 
identidade. 
Desafio
A identidade cultural do povo brasileiro 13
Para saber mais sobre representação social e identidade, recomendamos a 
leitura do artigo Diálogo entre representação social e identidade: considerações 
iniciais, de Lícia Maria Vieira Vasconcellos e Vitor Nunes Caetano.
Acesso em: 23 set. 2020. 
http://www.cap.uerj.br/site/images/trabalhos_espacos_de_dialogos/13-Vasconcellos_e_Caetano.pdf
Artigo
Quando abordamos a psicologia para explicar a representação so-
cial, Moscovici (1981, p. 181, apud VASCONCELLOS; CAETANO, 2014, p. 
6) afirma que a representação social é “um conjunto de conceitos, afir-
mações e explicações originárias da vida cotidiana no curso de comu-
nicação intergrupal”.
Para Vasconcellos e Caetano (2014, p. 6), parafraseando Jodelet 
(1989)e Vala (1993),
quando a abordagem é em relação aos conceitos sociológico ou 
antropológico tão ou mais vastos do que o próprio conceito de 
representação, e ainda segundo Jodelet (1989, p. 36) “uma forma 
de conhecimento, socialmente mais desenvolvido e compartilha-
do com projetos práticos e contribuindo para a construção de 
uma realidade comum ao grupo social”, relativamente aos quais 
o conceito de representação social “confere novas acuidades e 
suscita a procura de novas pontes articuladoras do velho binô-
mio indivíduo-sociedade” (VALA, 1993, p. 360).
A representação social é formada nas famílias e nas escolas por 
meio da publicidade veiculada cotidianamente nos jornais, no rádio e 
nas mídias sociais. Diariamente, somos bombardeados por inúmeras 
propagandas dos mais diversos tipos de produtos, informando-nos 
como eles devem fazer o “bem” e representar a estrutura social. A tele-
visão, o rádio, os jornais e as propagandas de inúmeros produtos ten-
tam passar a ideia de uma identidade, de uma unidade, na qual todos 
estão unidos e utilizam esses produtos para ficarmos belos.
Há uma tentativa de uniformização da mídia ao longo dos séculos 
por parte dos costumes, da sociedade e da ditadura da moda para es-
tabelecer um processo civilizador, como explica Norbert Elias (1994) 
quando nos traz a abordagem da história dos costumes, os quais elen-
camos como algo natural, que representa a identidade de um país ou 
somente a identidade local.
Como podemos definir o concei-
to de representação social?
Atividade 2
http://www.cap.uerj.br/site/images/trabalhos_espacos_de_dialogos/13-Vasconcellos_e_Caetano.pdf
14 Identidades culturais e Serviço Social no Brasil
Elias (1994, p. 15) nos diz que “mesmo na sociedade civilizada, ne-
nhum ser humano chega civilizado ao mundo e que o processo civi-
lizador individual que ele obrigatoriamente sofre é uma função do 
processo civilizador social”. Assim, vão se formando a sociedade e, com 
ela, a representação social de cada indivíduo, que passa pelo processo 
civilizador social e tem ali a sua identidade sendo moldada dentro dos 
parâmetros sociais em que vive.
O indivíduo que busca a sua representação social, procura ela por 
meio dos discursos declamados pela sociedade, seja no seio familiar, 
na escola ou onde ele vive e convive.
De acordo com Vasconcellos e Caetano (2014, p. 11),
as representações intervêm ainda em processos tão variados 
como a difusão e a assimilação de conhecimento, a constru-
ção de identidades pessoais e sociais, o comportamento intra e 
intergrupal, as ações de resistência e de mudança social.
Nesse sentido, conforme Hall (2005), as identidades são forma-
das dentro, e não fora, do discurso, sendo necessário compreendê-
-las como produzidas em locais históricos e institucionais específicos, 
em formações e práticas discursivas específicas e, ainda, com estra-
tégias e iniciativas específicas. Para o mesmo autor, dentro dessas 
questões, a identidade precisa ser analisada no interior do jogo de mo-
dalidades específicas de poder, demonstrando-se, assim, um produto 
de marcação da diferença e da exclusão.
1.3 Identidade e cultura 
Vídeo Identidade e cultura são dois conceitos que podem ser trabalhados 
separadamente, mas também nos levam a pensar sobre a identidade 
cultural de um povo. Vimos que o conceito de identidade foi bastante 
abordado em estudos ao longo das décadas. Já o estudo da cultura 
vem sendo desenvolvido desde a década de 1960, quando diferen-
tes culturas passaram a ser obeservadas e foram iniciados estudos 
sociológicos e antropológicos, assim como históricos, sobre os mais 
diversos povos e seus modos de vida. De acordo com Freitas Junior e 
Perucelli (2019, p. 112),
uma vez que a identidade proporciona a compreensão das 
predileções do indivíduo, e seu pertencimento a determinado 
espaço ou local, no qual a cultura faz-se presente, englobando 
A identidade cultural do povo brasileiro 15
várias simbologias, crenças e valores que trazem história. 
Sendo assim, a cultura em suas diversas abordagens corrobo-
ra para a definição dessa identidade, pois de alguma forma os 
indivíduos, em sua gênese, possuem contato com algum modo 
de cultura, acreditando-se que esse elo inicial seja transmitido 
e influenciado em seu marco inicial pela família, e depois por 
outros meios de sociabilização.
Do mesmo modo, temos também a junção desses dois conceitos 
com a identidade cultural, a qual tem como princípio estudar o homem 
em seu meio natural ou a sua capacidade de adaptação aos grandes 
centros e às mudanças espaciais e sociais que eles promoveram e que 
levaram ao desenvolvimento de diversas culturas.
A nossa cultura na atualidade é fruto, como já mencionado, das rela-
ções interculturais disseminadas principalmente pela mídia. De acordo 
com Hall (1997, p. 22), isso ocorre com
o bombardeio dos aspectos mais rotineiros de nosso cotidia-
no por meio de mensagens, ordens, convites e seduções; a 
extensão das capacidades humanas, especialmente nas re-
giões desenvolvidas ou mais “ricas” do mundo, e as coisas 
práticas – comprar, olhar, gastar, poupar, escolher, sociali-
zar – realizadas à distância, “virtualmente”, através das novas 
tecnologias culturais do estilo de vida soft. A expressão 
“centralidade da cultura” indica aqui a forma como a cultu-
ra penetra em cada recanto da vida social contemporânea, 
fazendo proliferar ambientes secundários, mediando tudo.
A ideia de cultura também nos remete à formação de povo, de 
se estabelecer o que seria “civilizado” e “bárbaro”. A cultura do que 
seria civilizado era aquela para as camadas consideradas superiores, 
como era vista a cultura francesa, pois o simples ato de falar francês 
já conferia status. O que seria considerado bárbaro era a cultura ale-
mã, assim como sua língua e sua escrita, as quais faziam menção a 
classes mais baixas. Elias (1994) nos mostra que as culturas buscavam 
uma sincronia, pois quem fazia parte da classe mais favorecida alemã 
sempre incluía palavras em francês, algo que as regras e a cultura, ao 
longo dos séculos XVIII e XIX, exigiam.
Mas como poderíamos conceituar cultura? Em nossa sociedade, 
costumamos afirmar que uma pessoa que demonstra muito conhe-
cimento é uma pessoa culta, ou seja, uma pessoa com grandes co-
nhecimentos nos passa uma ideia de que ela tem cultura ou é muito 
16 Identidades culturais e Serviço Social no Brasil
inteligente. Porém, essa é uma situação muito simplória para definir-
mos o termo cultura por meio dela. É importante que você saiba que 
o termo cultura não possui um único significado. Isso pode ser obser-
vado nas várias definições que há sobre ele. Por exemplo, para Laraia 
(2001, p. 67) “a cultura é como uma lente através da qual o homem vê 
o mundo. Homens de culturas diferentes usam lentes diversas e, por-
tanto, tem visões desencontradas das coisas”. Podemos explicar isso 
sob a perspectiva de que a cultura corresponde à ideia de diversidade, 
de observar a realidade e até mesmo um objeto.
Essa percepção é importante, pois com base nessa ideia de cultura 
começamos a entender os motivos pelos quais divergimos dos nossos 
amigos no que se refere a algum tema, por exemplo, posicionamento 
religioso ou político. Perceba que a herança cultural nos auxilia a inter-
pretar o nosso cotidiano. Então, veja que ao nosso redor existem dife-
renças culturais e uma pluralidade cultural que deve ser vista por todos 
nós como algo positivo, e não com descriminação.
Observe que as culturas são as mais diversas, apesar 
do sincretismo cultural que ocorre desde os tem-
pos mais remotos. Mas você sabe o que significa 
sincretismo cultural? Já ouviu essa expressão na 
televisão ou nas redes sociais? O sincretis-
mo é a fusão de diversas doutrinas para a 
formação de uma nova, sejam doutrinas 
religiosas, culturais ou filosóficas. Pode-
mos observar a questão do sincretismo 
na formação da sociedade brasileira, 
pois ele também é importante na cons-
trução da identidade cultural de um povo.
JáBauman (2005) faz a abordagem da cultura voltada para o con-
sumo. Essa cultura remete ao período da Idade Moderna e tinha como 
principal função definir que o que era bom e belo para uma classe so-
cial não servia para as classes menos favorecidas.
Esse tipo de cultura entra em declínio quando adentramos no sécu-
lo XXI, na sociedade pós-moderna, a qual buscava uma interação entre 
os espaços que foram sendo ocupados; com isso, a cultura passa a ser 
mesclada, mixada com outras. De acordo com Castells (2008, p. 79), 
com a inserção de diversas culturas, “a identidade local, na maioria das 
Figura 2
Grupo multiétnico
RiRo/Shutterstock
A identidade cultural do povo brasileiro 17
vezes, entra em intersecção com outras fontes de significado e reco-
nhecimento altamente diversificado que dá margem a interpretações 
alternativas”. O que se vê é que uma cultura, mesmo com a inserção de 
culturas adjacentes, faz a sua própria identidade e, assim, busca alter-
nativas, muitas vezes para que haja a sua preservação.
Um exemplo que podemos utilizar é a diversidade cultural exis-
tente em todo o território brasileiro. Temos a cultura nordestina, a 
cultura sulista, a paulistana, a carioca. Assim, com essas distinções 
culturais, formamos um país com cores, sabores e um povo comple-
tamente distinto.
A distinção vem dos tempos de colonização, quando a nossa cultura 
foi sendo formada a partir da mistura do homem branco, do indíge-
na e do negro. Esse sincretismo cultural nos levou a ter o povo mais 
miscigenado do mundo, com uma cultura múltipla, assim como uma 
identidade complexa e misturada.
A formação do povo brasileiro e a construção da sua cultura vem 
sendo estudada desde o século XIX. Naquele período, pensava-se 
que na formação do nosso povo havia uma maior participação dos 
homens brancos e negros, ou seja, imaginava-se que tínhamos como 
soberanas as culturas branca e negra. Quando adentramos nos úl-
timos anos desse século, passa a ser estudada a formação do povo 
brasileiro com a mistura das três raças, ou seja, com a interseção 
das culturas negra, indígena e branca moldando a construção da 
identidade do brasileiro.
Alguns autores também abordaram a formação do povo brasileiro 
e da sua identidade, como Freyre (2004), que nos mostra que o povo 
brasileiro é composto pelo sincretismo cultural e social do negro com o 
branco, cada qual com a sua carga identitária. Para esse autor, o negro 
foi peça fundamental para a construção do Brasil com a sua cultura 
africana, havendo a inserção dela no cotidiano dos homens brancos, 
assim como a absorção da cultura branca por eles, fosse no modo de 
falar, de se vestir e de comer ou na religião, que foi a parte mais im-
pactada, pois os negros tiveram que deixar suas crenças de lado e abra-
çar (não totalmente) o cristianismo.
Quando abordamos Holanda (1995), o pensamento em relação à 
formação do povo brasileiro tem suas raízes no povo indígena da re-
Quer conhecer um pouco 
mais sobre a cultura baia-
na? Sugerimos a leitura 
da obra Gabriela, Cravo e 
Canela, de Jorge Amado, 
pois retrata a sociedade, 
a cultura e os costumes 
baianos.
AMADO, J. São Paulo: Companhia 
das Letras, 2012.
Livro
18 Identidades culturais e Serviço Social no Brasil
gião de São Paulo e nos bandeirantes que adentraram e conquistaram 
o interior do nosso território na época colonial.
Vários outros autores nos trazem a abordagem da formação iden-
titária e cultural brasileira, como Florestan Fernandes, citado por Fer-
nando Henrique Cardoso (2013), que fala das relações entre brancos e 
negros, do racismo, das relações econômicas e, consequentemente, da 
identidade racial, o que nos leva a uma segregação cultural e ao reflexo 
cultural e identitário na sociedade atual.
A cultura híbrida do nosso povo foi colocada como algo atrasado, 
subjugado, dando a sensação de inferioridade para aqueles que não 
fossem brancos. Fomos formados, como retrata DaMatta (1997), com 
base em uma hierarquização cultural, o que gerou inúmeras críticas, 
pois um povo híbrido, fruto de três raças, não tinha como formar uma 
identidade forte, muito menos promover uma identidade cultural per-
meada pelo contexto europeu como se era esperado.
Um fato interessante sobre a identidade e a cultura do povo bra-
sileiro é que se percebe que até hoje não nos acostumamos com 
o sincretismo cultural, mesmo tendo no nosso cotidiano palavras, 
comidas e costumes que herdamos dos três grupos formadores da 
cultura brasileira.
Embora estejamos no século XXI, ainda perdura entre os brasilei-
ros a busca pela cultura europeia, dita como avançada ou evoluída, 
em detrimento da nossa, apesar de ela ser uma cultura rica, diversifica-
da, com especificidades em cada lugar do país.
Surge então uma pergunta: qual a identidade cultural brasileira? 
É uma pergunta inquietante devido à extensão territorial brasileira, que 
compreende diferentes costumes, palavras e culturas.
Assim, quando trabalhamos com identidade e cultura, observamos 
que esses dois conceitos se unem, dando um sentido de pertenci-
mento, de ser brasileiro. Com isso, podemos observar no mundo que 
as culturas estão se misturando, como abordamos anteriormente. 
O homem do século XXI é um homem plural, múltiplo, que tem no seu 
cotidiano a sua identidade sendo construída, uma vez que ela não é 
inflexível, rígida. Assim ocorre também com o Brasil, pois está inserido 
nesse mundo globalizado.
Outro autor que merece ser cita-
do é o antropólogo potiguar Luís 
da Câmara Cascudo, que, mesmo 
fora do eixo Rio-São Paulo, 
produziu grandes obras sobre 
a cultura popular do nosso país 
ouvindo pessoas e caminhando 
pelo sertão nordestino.
Curiosidade
Ao estudar sobre a cultura 
nacional, vimos que ela se rela-
ciona diretamente à formação 
da identidade cultural de um 
povo. No que concerne ao Brasil, 
como ocorreu a evolução do 
processo de construção de sua 
identidade?
Atividade 3
A identidade cultural do povo brasileiro 19
1.4 Identidades culturais e culturas nacionais 
Vídeo Quando trazemos a abordagem sobre identidade cultural e cultura 
nacional, algumas perguntas surgem, entre as quais podemos desta-
car: qual é a identidade do povo brasileiro? Temos uma identidade for-
mada? Ou temos a formação de várias identidades nos mais variados 
lugares e culturas diferentes que formam a nação brasileira? Como es-
sas identidades se formaram? O que contribui para um forte sentido 
de identidade? Algumas dessas perguntas são respondidas ao longo do 
texto, outras são um tanto difíceis de responder, uma vez que trabalhar 
com a identidade de um país de tamanho continental e que apresenta 
as mais variadas culturas, como o Brasil, torna-se um grande desafio.
Esses questionamentos também foram feitos em vários momentos 
na história brasileira. Tornamo-nos uma nação no ano de 1822, com 
um povo mestiço, em sua maioria analfabeto, e ainda com a utilização 
da mão de obra escrava, mas com uma cultura riquíssima e com uma 
identidade ainda para ser definida. Qual identidade abraçaríamos, a da 
cultura branca, negra ou indígena? Esse questionamento foi abordado 
por vários intelectuais daquela época, porém observamos que a cultu-
ra que defendiam era a cultura branca, mais precisamente a europeia.
No decorrer da história do Brasil, a elite intelectual buscou, durante 
os séculos XIX e XX, estabelecer e elencar a cultura e a identidade brasi-
leira, para assim chegar à formação da cultura nacional.
A busca pela construção histórica do Brasil começou com o governo 
de D. Pedro II e a abertura do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil 
(IHGB), em 1838, que tinha como princípio construir a história do povo 
e da nação brasileira. Vários autores e pesquisadores foram contrata-
dos pelo império para que essa missão fosse cumprida. Entre esses 
autores, temos Francisco Vanhagen, o qual foi contratado por D. Pedro 
II para escrever sobre a história e a formação do povo brasileiro.
Devido ao processo de conexão entre as sociedades, um dos fatores 
quefazem com que os habitantes de uma região se identifiquem é a 
língua; o entendimento e a compreensão dela auxiliam no desenvolvi-
mento da identidade cultural de um país.
20 Identidades culturais e Serviço Social no Brasil
Sobre a criação do IHGB e a construção da história brasileira, 
Guimarães (1988, p. 2) afirma que
é no bojo do processo de consolidação do Estado Nacional que se 
viabiliza um projeto de pensar a história brasileira de forma sis-
tematizada. A criação, em 1838, do Instituto Histórico e Geográ-
fico Brasileiro (IHGB) vem apontar em direção à materialização 
deste empreendimento, que mantém profundas relações com 
a proposta ideológica em curso. Uma vez implantado o Estado 
Nacional, impunha-se como tarefa o delineamento de um perfil 
para a “Nação brasileira”, capaz de lhe garantir uma identidade 
própria no conjunto mais amplo das “Nações”, de acordo com os 
novos princípios organizadores da vida social do século XIX.
Ainda sobre essa formação da identidade nacional, para Guimarães 
(1988, p. 3),
ao definir a Nação brasileira enquanto representante da ideia 
de civilização no Novo Mundo, esta mesma historiografia esta-
rá definindo aqueles que internamente ficarão excluídos deste 
projeto por não serem portadores da noção de civilização: índios 
e negros. O conceito de Nação operado é eminentemente restri-
to aos brancos, sem ter, portanto, aquela abrangência a que o 
conceito se propunha no espaço europeu. Construída no campo 
limitado da academia de letrados, a Nação brasileira traz consigo 
forte marca excludente, carregada de imagens depreciativas do 
“outro”, cujo poder de reprodução e ação extrapola o momento 
histórico preciso de sua construção.
Dessa forma, falar de nação e da sua formação significa adentrar 
nas camadas mais profundas do pensamento de um povo, o que nos 
leva ao desenvolvimento de uma identificação coletiva. Uma nação 
nasce a partir da unificação do seu território, quando em toda a sua ex-
tensão se tem um mesmo governante, uma mesma moeda, uma mes-
ma língua, os mesmos impostos, assim como suas fronteiras definidas. 
Vale salientar que a criação da nação é algo moderno, inventado em 
meio a símbolos, práticas e comportamentos, isso tudo nos levando ao 
desenvolvimento de uma identidade nacional. 
Com isso, o processo de construção da identidade surge
da narrativização do eu, mas a natureza necessariamente ficcio-
nal desse processo não diminui, de forma alguma, sua eficácia 
discursiva, material ou política, mesmo que a sensação de per-
tencimento, ou seja, a “suturação à história”, por meio da qual 
A identidade cultural do povo brasileiro 21
as identidades surgem, esteja, em parte, no imaginário (assim 
como no simbólico) e, portanto, sempre, em parte, construída na 
fantasia ou, ao menos, no interior de um campo fantasmático. 
(HALL, 2005, p. 109)
Assim, podemos também observar que Bauman (2005, p. 26, grifos 
do original) nos remete a como se forma uma identidade nacional:
a ideia de “identidade”, e particularmente de “identidade na-
cional”, não foi naturalmente gestada e incubada na experiên-
cia humana, não emergiu dessa experiência como um “fato da 
vida” auto-evidente. Essa ideia foi forçada a entrar na Lebenswelt 
de homens e mulheres modernos – e chegou como uma ficção. 
Ela se solidificou num “fato”, num “dado”, precisamente porque 
tinha sido uma ficção, e graças à brecha dolorosamente sentida 
entre aquilo que essa ideia sugeriria, insinuava ou impelia, e ao 
status quo ante (o estado de coisas que precede a intervenção 
humana, portanto inocente em relação a esta). A ideia de “iden-
tidade” nasceu da crise do pertencimento e do esforço que esta 
desencadeou no sentido de transpor a brecha entre o “deve” e 
o “é” e erguer a realidade ao nível dos padrões estabelecidos 
pela ideia – recriar a realidade à semelhança da ideia.
Com a construção da história do Brasil, os nossos intelectuais ques-
tionavam, no momento em que fazíamos cem anos de independência, 
qual a identidade do brasileiro. A crise identitária apareceu no decorrer 
dos anos 1910 e cresceu nos anos 1920. Aliada a essa crise tínhamos 
a busca pelo moderno. Segundo Lahuerta (1997, p. 96), “as atividades 
preparatórias para a comemoração dos cem anos de independência, 
ao medir o metro hegemônico nossa situação ante a Europa, o ‘atraso’ 
tornava-se cada vez mais flagrante”. A ideia de um país moderno nos 
dava a sensação de progresso, de prosperidade, e deixava de lado toda 
identidade escravocrata que firmamos ao longo da nossa trajetória 
como colônia e depois como uma nação.
Qual a relação entre a identidade cultural e a cultura nacional? 
Observamos que a principal fonte de identidade cultural tem sido 
a cultura nacional, a qual foi organizada com base na formação das 
nações. Assim sendo, de acordo com Hall (2005), a maioria das na-
ções é resultante de diferentes classes sociais e diferentes grupos 
étnicos e de gênero. As culturas nacionais dominaram a modernida-
de, sobrepondo as identidades nacionais a outras fontes, mais parti-
cularistas, de identificação cultural.
22 Identidades culturais e Serviço Social no Brasil
Dessa forma, temos a formação da identidade nacional com base 
na comunidade imaginada, a qual é concebida de acordo com o pen-
samento de quem está no comando daquela nação. Assim, temos a 
construção da identidade nacional baseada em rituais, os quais o povo 
deve seguir, como as festas cívicas.
Connerton (1999) nos mostra que os ritos, as comemorações, 
as práticas corporais das sociedades e as cerimônias comemorativas 
“tratam-se de reencenações do passado, do seu regresso sob uma for-
ma representacional que inclui normalmente um simulacro da cena ou 
da situação recapturada”. Esse retorno ao passado busca firmar a iden-
tidade no presente, a ideia de pertencimento a um lugar, a uma nação.
As festas cívicas buscam levar para o povo a ideia de pertencimento, 
de uma identidade nacional. Para Hall (2005, p. 38),
a identidade é realmente algo formado, ao longo do tempo, 
através de processos inconscientes, e não algo inato, existen-
te na consciência no momento do nascimento. Existe sempre 
algo “imaginário” ou fantasiado sobre sua unidade. Ela perma-
nece sempre incompleta, está sempre “em processo”, sempre 
“sendo formada”.
Para o autor, a crise da identidade teve seu início na perda de 
âncoras sociais que faziam da identidade algo natural, predetermi-
nado e inegociável. Dessa forma, diante das incertezas do pertenci-
mento, o sujeito moderno busca por uma identificação, a qual viria 
por meio do surgimento da nação e, assim, com a busca pelo per-
tencimento a essa pátria.
A identidade nacional passa a ser imposta, e quem governa de-
cide a nacionalidade e também um destino compartilhado por uma 
nação, que, no entanto, permanece incompleta, devido ao poder de 
exclusão e da distinção do traçar, impor e policiar a fronteira entre o 
“nós” e “eles” (BAUMAM, 2005).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando abordamos a temática sobre identidade cultural do povo bra-
sileiro, observamos que os conceitos trabalhados ao longo do texto são 
desenvolvidos dentro da formação identitária do brasileiro.
Primeiro, vimos a concepção do conceito de identidade dentro da so-
ciologia, que apresenta uma abordagem complexa, uma vez que não exis-
Ao trabalhar com o conceito 
de cultura, podemos observar 
que ela é plural e diversificada. 
No entanto, hoje temos o 
desenvolvimento de sociedades 
multiculturais. Explique quais os 
fatores que levaram a essa diversi-
dade cultural e à absorção desta 
nos mais longínquos lugares.
Atividade 4
A identidade cultural do povo brasileiro 23
te um conceito predefinido, pois a identidade de alguém ou de uma nação 
é formada por diversos meios, entre os quais temos a rede de conexões 
existentes atualmente por causa da globalização e das facilidades de co-
municação (advindas do nascimento da internet), assim como o desenvol-
vimento dos meios de transporte e de mídia.
No decorrer do texto, observamos quea identidade está diretamen-
te ligada à formação cultural de um povo e que a cultura no mundo 
globalizado é disseminada para quase todos os lugares, uma vez que é 
agregada a outras culturas, levando a um processo de formação de uma 
identidade cultural.
Também vimos que a identidade tem toda uma relação com a re-
presentação social, que pode ser de cunho psicológico, sociológico e 
antropológico. A representação social é o que define um povo, seus 
costumes e, consequentemente, sua identidade social. Essa represen-
tação é formada no seio familiar, assim como na escola e nos mais 
diversos meios midiáticos.
Associada ao processo de formação da identidade cultural, temos 
uma relação muito forte com a criação de uma identidade nacional, 
como foi abordado no texto, utilizando o Brasil e sua cultura diversifica-
da como fonte de estudo.
A formação da identidade cultural brasileira se dá desde o processo de 
independência do Brasil, uma vez que tínhamos a formação de uma nação, 
mas não se sabia ao certo qual seria a identidade do brasileiro, visto que sua 
origem ocorreu por meio da junção de três povos e culturas distintas. Nossa 
formação se deu com base na interação das culturas indígena, negra e branca, 
o que favoreceu o processo de miscigenação e de uma diversidade cultural, 
assim como a criação de uma sociedade com uma identidade plural.
REFERÊNCIAS
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considerações iniciais. In: 9o SIMPÓSIO EDUCAÇÃO E SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: 
DESAFIOS E PROPOSTAS. Anais [...] Rio de Janeiro: UERJ, set. 2014.
GABARITO
1. São vários os trabalhos de sociologia que abordam o conceito de identidade atual-
mente, dentre esses estão os dos autores Zygmunt Bauman, Charles Taylor e José Car-
los Reis. O conceito de identidade está diretamente sendo trabalhado pela sociologia 
com a formação nacional, a organização da identidade cultural de um país ou região, 
assim como a formação do indivíduo através da identidade da sua família ou da região 
em que ele habita.
2. O conceito de representações sociais pode ser definido como um sistema que con-
centra significados e funciona como um quadro de referências, tais como imagens, 
conceitos, categorias, teorias. 
3. A construção da identidade brasileira começou no século XIX, quando nos tornamos 
independentes de Portugal. Desse período em diante, os intelectuais e a sociedade 
buscaram compreender quem era o brasileiro e como ocorreu a formação tanto ter-
ritorial como do seu povo. 
4. O povo brasileiro é mestiço, vem de uma mistura de brancos, negros e indígenas. Um 
povo multicultural e com regiões diversificadas em sua fauna e flora, criando um pro-
cesso de construção de identidade plural, a qual vem crescendo e se misturando ao 
longo do tempo, o que nos leva a pensar que não temos uma identidade única, singular.
http://www2.fct.unesp.br/docentes/geo/necio_turra/PPGG%20-%20PESQUISA%20QUALI%20PARA%20GEOGRAFIA/texto_stuart_centralidadecultura%5B1%5D.pd
http://www2.fct.unesp.br/docentes/geo/necio_turra/PPGG%20-%20PESQUISA%20QUALI%20PARA%20GEOGRAFIA/texto_stuart_centralidadecultura%5B1%5D.pd
http://www2.fct.unesp.br/docentes/geo/necio_turra/PPGG%20-%20PESQUISA%20QUALI%20PARA%20GEOGRAFIA/texto_stuart_centralidadecultura%5B1%5D.pd
http://www.bocc.ubi.pt/pag/nascimento-susana-identidades-cmc.html
http://www.bocc.ubi.pt/pag/nascimento-susana-identidades-cmc.html
Estrutura social e aspectos étnico-culturais 25
2
Estrutura social e aspectos 
étnico-culturais
Neste capítulo você aprenderá que para entendermos como se 
fundamentam uma estrutura social e seus aspectos étnico-culturais 
é necessário que tenhamos a compreensão de como se processam 
os aspectos culturais de cada povo, país ou nação. A relação do ser 
humano com a sociedade é mediada por meio dos instrumentos 
que lhe são fornecidos pela cultura, sendo por ela que percebe-
mos as coisas, os outros e nós mesmos.
A cultura não deve ser compreendida simplesmente como 
um conjunto de comportamentos, mas como códigos simbólicos. 
Isto é, valores, regras e condutas que são apreendidos nas mais 
variadas instituições sociais de cada sociedade e que as pessoas 
internalizam desde a infância. Grande parte dos conhecimentos 
que apreendemos advém de um processo de socialização. Esses 
aprendizados, muitas vezes, podem levar à internalização de cer-
tos preconceitos, como racismo, xenofobia e até segregação social.
Dessa maneira, este capítulo nos faz um convite para per-
cebermos que somos biologicamente iguais, com as devidas 
diferenças fenotípicas. 
2.1 Cultura 
Vídeo Uma das noções mais complexas nas ciências sociais se encontra na 
definição do que vem a ser cultura. Há várias definições para o termo, 
porém não existe um consenso de tal.
Segundo o sociólogo inglês Raymond Williams (2000), a palavra vem 
do latim colere e, inicialmente, sua definição estava associada ao cultivo 
das plantas, o cuidado com os animais e com a terra em geral. Saindo 
desses elementos chegaríamos ao sentindo mais comum que o termo 
26 Identidades culturais e Serviço Social no Brasil
possui, a associação de que a pessoa que possui cultura é “culta”, fre-
quenta museus, assiste a peças de teatro e opera, tem ensino superior 
e conhecimento aprendido nos livros.
Com isso vem a pergunta: será que só tem cultura quem frequen-
tou escola, tem ensino superior ou é intelectual? Uma pessoa do 
campo, que nunca foi à escola nem mesmo é alfabetizada, teria cul-
tura? Os meios de comunicação de massa, como as emissoras de 
TV e rádio e a internet seriam veiculadoras de cultura? Precisamos 
trazer uma reflexão em torno dessas questões, pois senão podemos 
cometer uma série de equívocos.
Na antropologia, o conceito de cultura foi definido pela primeira vez em 
1871, porEdward Tylor, como sendo um todo complexo que inclui conhe-
cimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacida-
de ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade.
Dessa maneira, as concepções das práticas culturais vivenciadas 
por um grupo são identificadas por uma série de elementos que rele-
vam as particularidades vivenciadas dentro daquele grupo.
 Uma outra preocupação dos estudiosos em relação à cultura refe-
re-se a sua origem. O ser humano passa a se diferenciar de outros se-
res justamente pela capacidade de sair de uma condição natural para 
uma convivência estabelecida e socializada através de normas, costu-
mes, valores e condutas entre grupos.
Claude Lévi-Strauss, o mais destacado antropólogo francês, con-
sidera que a cultura surgiu no momento em que o homem con-
vencionou a primeira regra, a primeira norma. Para Lévi-Strauss, 
esta seria a proibição do incesto, padrão de comportamento 
comum a todas as sociedades humanas. Todas elas proíbem a 
relação sexual de um homem com certas categorias de mulheres 
(entre nós, a mãe, a filha e a irmã). (LARAIA, 1993, p. 28)
Uma série de atitudes e condutas entraram nesse processo, pois 
possibilitaram ressignificar as maneiras de se relacionar e atribuíram 
novas ideias, conceitos e maneiras de convivência, que conduziram, re-
gularam e controlaram as ações estabelecidas pela vida coletiva.
O desenvolvimento da linguagem, entendido como a capacidade 
que o ser humano tem de se referir a determinado elemento da reali-
dade por meio de um signo (palavra, gesto), tornou possível sua passa-
gem do estado de natureza para o de cultura.
Estrutura social e aspectos étnico-culturais 27
A cultura, portanto, é uma construção histórica produzida pela ativi-
dade humana, como dimensão do processo humano e não por efeitos 
físicos ou biológicos.
O antropólogo brasileiro Roque Laraia (1993, p. 9) descreveu que:
os antropólogos estão totalmente convencidos de que as dife-
renças genéticas não são determinantes das diferenças cultu-
rais. Segundo Felix Keesing, [...] se transportarmos para o Brasil, 
logo após o seu nascimento, uma criança sueca e a colocarmos 
sob os cuidados de uma família sertaneja, ela crescerá como tal 
e não se diferenciará mentalmente em nada de seus irmãos de 
criação. [...] A espécie humana se diferencia anatômica e fisio-
logicamente através do dimorfismo sexual, mas é falso que as 
diferenças de comportamento existentes entre pessoas de sexos 
diferentes sejam determinadas biologicamente. A antropologia 
tem demonstrado que muitas atividades atribuídas às mulheres 
em uma cultura podem ser atribuídas aos homens em outra. A 
verificação de qualquer sistema de divisão sexual do trabalho 
mostra que ele é determinado culturalmente e não em função 
de uma racionalidade biológica.
Visto assim, o comportamento dos indivíduos pode ser modificado 
dependendo da cultura na qual estão inseridos. Um menino e uma meni-
na irão agir diferentemente não em função de seus aspectos biológicos, 
mas em decorrência de um processo de educação, denominado pela an-
tropologia como endoculturação, na qual os indivíduos internalizam va-
lores, crenças, normas etc., como padrões culturais, por meio da família, 
dos amigos, da escola e, ao longo do tempo, de outros grupos sociais.
Depois disso, os indivíduos continuam em processo de transforma-
ção, não só porque a cultura é dinâmica, mas também porque entram 
em contato com outras culturas, através de trocas ou com a fusão en-
tre culturas, chamada de aculturação.
A aculturação é o processo de troca e/ou fusão entre culturas. 
Através do contato prolongado ou permanente, duas ou mais 
culturas permutam entre si seus valores, conhecimentos, nor-
mas, hábitos, costumes, símbolos, enfim, seus traços culturais. 
Nesse processo, uma cultura se caracteriza como doadora e a 
outra como receptora, o que não significa dizer que este seja um 
processo de via única, ou seja, quando em contato, todas as cul-
turas podem sofrer mudanças, pois ocorre aí um processo de 
influxo recíproco. (ULLMANN, 1991, p. 21)
28 Identidades culturais e Serviço Social no Brasil
Então, a cultura como produto social está sempre em mudança. 
Mesmo possuindo crenças, leis e códigos, pode se transformar ao 
longo do tempo, visto que é dinâmica, isso porque um mesmo grupo 
social absorve elementos culturais exteriores, passando a transformar 
aspectos de sua própria cultura.
Um outro elemento importante a ser elencado é o fenômeno do 
multiculturalismo, que estabelece a coexistência de várias culturas 
em um mesmo espaço.
Esse fenômeno está relacionado ao advento da globalização, que, 
por meio da interligação de diversas partes do mundo, tornou possível 
os deslocamentos não só físicos, como também virtuais, auxiliados 
principalmente pelo desenvolvimento tecnológico. As pessoas se co-
nectam e produzem conhecimento sobre as diversas representações, 
práticas sociais e culturais.
Uma das características do multiculturalismo é a combinação de 
elementos de diversas culturas em uma nova expressão cultural. Po-
rém, essas mudanças, segundo Stuart Hall (1998), não ocorrem sem 
conflitos e podem gerar uma perda.
Esta perda de um “sentido de si” estável é chamada, algumas 
vezes, de deslocamento ou descentralização do sujeito. Esse 
duplo deslocamento – descentralização dos indivíduos tanto do 
lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos – constitui 
uma “crise de identidade” para o indivíduo. (HALL, 1998, p. 9)
Segundo Hall (1998), essa crise de identidade, principalmente a iden-
tidade nacional, vem de uma reação contra o processo de homogenei-
zação gerado pela globalização, que tende a promover a supremacia 
de uma cultura sobre a outra. Isso pode ocorrer também por um sen-
timento de nacionalismo e rejeição do outro, causando muitas vezes a 
perseguição a outras práticas culturais e a negação de direitos sociais.
Nesse movimento, surge como resistência a esse colonialismo cultu-
ral um movimento transformador denominado interculturalidade, que 
trará um projeto político pela superação da discriminação de culturas 
minoritárias e pelo reconhecimento dos valores dessas culturas como 
maneira de produzir outras interpretações de mundo.
Esse debate é extremamente relevante, pois nos traz o reconhecimento 
público dos valores culturais dessas culturas minoritárias e uma reflexão 
de como lidamos com as diferentes práticas culturais no nosso cotidiano.
Recomendamos o filme A 
flor do deserto, com dire-
ção de Sherry Hormann. 
Esse filme apresenta 
Waris Dirie, embaixado-
ra da Organização das 
Nações Unidas, na luta 
contra a bárbara tradição 
da mutilação genital 
feminina da Somália.
Direção: Sherry Hormann. Reino 
Unido, Áustria, Alemanha: 
Imovision, 2009.
Filme
A nossa herança cultural, de-
senvolvida através de inúmeras 
gerações, condiciona nossa visão 
de mundo?
Atividade 1
Estrutura social e aspectos étnico-culturais 29
2.2 Etnocentrismo 
Vídeo O etnocentrismo é um conceito da antropologia em que algum grupo 
étnico considera os seus elementos culturais como o centro de tudo, o 
mais correto e, portanto, como mais importante que as outras culturas 
e sociedades.
O etnocentrismo, de fato, é um fenômeno universal. É comum 
a crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade, 
ou mesmo a sua própria expressão. […] É comum assim a crença 
no povo eleito, predestinado por seres sobrenaturais para ser 
superior aos demais. Tais crenças contêm o germe de racismo, 
da intolerância, e, frequentemente, são utilizadas para justificar a 
violência praticada contra os outros. (LARAIA, 1993, p. 10)
Dentro desse contexto, esses grupos étnicos desenvolvem uma vi-
são etnocêntrica que leva ao desrespeito e à intolerância por quem é 
diferente àquelas práticas culturais comungadas por esse grupo. Essa 
postura etnocêntrica consiste em tomar o que é do outro como digno 
de reprovação, pois possui uma visão do mundo de que seu próprio 
grupo, ou sociedade, é o correto,negando todas as outras formas de 
hábitos culturais diferentes.
O próprio processo de colonização brasileira iniciou-se sustentado 
em um viés etnocêntrico, que inferiorizou os povos nativos do Brasil, 
considerando-os atrasados, e estabeleceu a cultura europeia como su-
perior, arbitrariamente.
Os livros didáticos contavam que foram os portugueses que desco-
briram o Brasil, porém os primeiros povoadores foram os povos indíge-
nas, nativos que aqui habitavam antes da chegada dos europeus. Esses 
habitantes foram chamados pelos europeus de índios, fazendo referên-
cia às Índias, local ao qual os portugueses acreditavam ter chegado.
Desde o início da colonização portuguesa os indígenas que habi-
tavam o território brasileiro foram denominados de não civilizados, 
numa visão totalmente etnocêntrica. Nesse processo de conquista, 
eles foram dizimados e sofreram violência, inclusive sobre as suas 
práticas culturais.
Os costumes e as práticas culturais dos nativos foram vistos como sel-
vageria e, por isso, os europeus alegavam que os indígenas necessitavam 
ser catequizados para se ajustar às normas do homem branco europeu.
30 Identidades culturais e Serviço Social no Brasil
Assim como o indígena, o africano que chegou ao Brasil teve sua 
identidade negada e marginalizada. A escravidão aqui durou quase 
quatro séculos e o país foi o último a “libertar” esses povos. Contu-
do, o fim do regime escravista no Brasil não abriu caminho para a 
reconstrução da igualdade dos negros perante os demais cidadãos. 
A inserção dos negros escravizados e seus descendentes no mercado 
de trabalho, na educação, na posse da terra etc. não ocorreu no reco-
nhecimento da igualdade racial.
Conforme Fernandes (1978), as relações sociais não se modifi-
caram no mesmo ritmo das mudanças ocorridas na sociedade, pois 
conservou-se o status quo, o poder e as posições privilegiadas do ho-
mem branco. O negro foi incorporado ao mercado de trabalho, na 
maioria das vezes, nas ocupações mais precárias e inferiores.
No período em que as famílias dos fazendeiros paulistas co-
meçam a fixar residência em São Paulo e em que se acen-
tua a diferenciação do sistema econômico da cidade, o liberto 
defrontou-se com a competição do imigrante europeu que não 
temia a degradação pelo confronto com o negro e absorveu, 
assim, as melhores oportunidades de trabalho livre e indepen-
dente (mesmo as mais modestas, como a de engraxar sapatos, 
vender jornais ou verduras, transportar peixe ou outras utili-
dades, explorar o comercio de quinquilharias etc.). Quando se 
acelera o crescimento econômico da cidade, ainda nos fins do 
século XIX, todas as posições estratégicas da economia artesa-
nal e do pequeno comercio urbanos eram monopolizados pelos 
brancos e serviam como trampolim para as mudanças bruscas 
de fortuna, que abrilhantam a crônica das famílias estrangeiras. 
(FERNANDES, 1978, p. 19)
Esse tipo de conduta ainda prevalece na nossa sociedade, apesar 
dos avanços que ocorreram. Ainda são perceptíveis atitudes etnocên-
tricas, pois tanto a cultura indígena como a africana ainda são vistas 
como sinônimo de atraso ou inferioridade.
Muitas comunidades indígenas e africanas tentam, através da resis-
tência, manter as raízes de suas tradições culturais, como é o caso das 
comunidades remanescentes quilombolas, que se configuram como 
resistência cultural, reorganizadas em territórios de luta política. 
Atualmente as comunidades quilombolas estão presentes em todo 
o território brasileiro e buscam, através desses espaços, o direito à 
terra, à sua herança histórica, à ancestralidade do negro, à memória, 
Estrutura social e aspectos étnico-culturais 31
além dos direitos fundamentais de sobrevivência, de acesso à saúde 
e à educação, entre outros.
Os povos indígenas, apesar de centenas de anos em contato com o 
homem branco, ainda têm lutado para manter sua língua e seus costu-
mes, bem como enfrentar, com resistência, a invasão de suas terras, das 
quais dependem para sobreviver. Grande parte das comunidades indí-
genas lutam pela conservação da biodiversidade e do meio ambiente.
Muitos dos hábitos, costumes, alimentação e crenças da nossa socie-
dade são herança direta tanto dos povos indígenas como dos afrodes-
cendentes, os quais contribuíram para a plupralidade cultural do Brasil.
Ainda nesse contexto de condutas etnocêntricas, não será neces-
sário sair do Brasil para percebemos outras visões etnocêntricas dian-
te do outro, pois o nosso país é marcado por uma diversidade cultural 
que sofreu influências culturais de vários países e povos, além das 
dos colonizadores europeus. Então, há no Brasil influências diversas, 
inclusive com diferenças bem distintas em seus estados.
O regionalismo presente nos estados brasileiros é uma das grandes de-
monstrações de que existem diferenciações dentro do próprio país e que 
em muitas situações essas diferenças são tratadas como desigualdades. 
Percebemos manifestações etnocêntricas entre os habitantes dos estados 
das regiões Sul e Sudeste do país por se acharem mais desenvolvidos cul-
turalmente em relação aos habitantes das regiões Norte e Nordeste.
A sociedade brasileira possui muitas culturas e, por diversas vezes, 
isso cria disparidades de várias ordens, motivo que nos leva a refletir a 
respeito de maneiras de lidar com essas diferenças.
Essa diversidade cultural só pode ser compreendida se tornarmos a 
existência da diferença na qualidade de diferença, e não como hierar-
quia de um grupo, povo ou nação sobre o outro. É necessária a com-
preensão de que a nossa cultura não é a única nem a mais correta e 
verdadeira. Somos apenas uma das milhões de expressões de práticas 
culturais que existem no mundo.
Enfim, a antropologia nos ensina a nos descentrarmos de nós mes-
mos, assim como de nossa própria sociedade e cultura. É preciso per-
ceber que somos apenas uma das culturas possíveis, entendendo as 
diferentes formas de expressões culturais como diferenças e não como 
desigualdades. É assim que se pode apontar os caminhos para fazer 
nascer a consciência da diversidade e da pluralidade.
Quais as situações e atitudes 
etnocêntricas voltadas para 
a questão do regionalismo 
presentes no Brasil?
Atividade 2
Sobre esse tema, 
recomendamos o filme 
Quanto vale ou é por qui-
lo? Esse é um filme acerca 
da indústria da miséria 
no Brasil, apresentando 
duras críticas à continui-
dade dos preconceitos 
socioculturais no país, 
desde o período colonial.
Direção: Sérgio Bianchi. Brasil: 
Europa Filmes, 2005.
Filme
32 Identidades culturais e Serviço Social no Brasil
2.3 Etnia e raça 
Vídeo No final do século XVIII e início do século XIX, espalhou-se a ideia 
de que a humanidade estava dividida em tipos raciais, ou seja, dividida 
de acordo com características biológicas e que, dessa maneira, não ti-
nham as mesmas capacidades. Essa teoria justificou, durante um gran-
de período da história, a escravidão e a segregação racial que perdura 
até os dias atuais.
Essas teorias raciais foram uma tentativa de justificar a ordem moral 
dos países europeus que se tornavam nações imperialistas, submeten-
do outros territórios ao seu domínio. O racismo científico foi bastan-
te utilizado por Adolf Hitler como uma ideologia nazista que tentava 
demonstrar a superioridade da raça ariana sobre os demais povos e 
justificar o extermínio dos judeus.
Essa suposta superioridade da raça ariana foi, através do tempo, 
refutada pela própria ciência, e demonstrou-se que foi utilizada para 
justificar as formas de extermínio.
Podemos identificar que as diferenças raciais ocorrem na esfera do 
fenótipo, pois cada ser humano possui cor da pele e dos cabelos, for-
mas faciais etc., diferentes, no entanto essas diferenças fenotípicas não 
podem proporcionar a superioridade de um ser sobre outro.
Segundo o antropólogo e professor brasileiro Kabengele 
Munanga (2004, p. 28-29),
o conteúdo da raça é morfo-biológico e o da etnia é sociocultu-
ral, histórico e psicológico. Um conjunto populacional ditoraça 
“branca”, “negra” e “amarela” pode conter em seu seio diversas 
etnias. Uma etnia é um conjunto de indivíduos que, histórica ou 
mitologicamente, têm um ancestral comum; têm uma língua em 
comum, uma mesma religião ou cosmovisão; uma mesma cultu-
ra e moram geograficamente num mesmo território.
De acordo com Munanga (2004), raça e etnia não são sinônimos. 
O conceito de raça, ainda que incorreto, é muito utilizado no sentido 
biológico. A ideia de raça pensada pelo autor desconstrói a concepção 
que existia no século XIX, em que acreditava-se que a raça europeia era 
quem poderia produzir civilizações avançadas.
Dessa maneira, apesar de ainda se utilizar conceito de raça no 
sentido biológico, é preciso entender que raça é “uma construção so-
Estrutura social e aspectos étnico-culturais 33
ciológica e político-ideológica, pois embora não exista cientificamen-
te, a raça persiste no imaginário coletivo e na cabeça dos racistas” 
(MUNANGA, 2010, p. 192).
Já o conceito de etnia se refere a aspectos culturais, em que um 
grupo de pessoas compartilha dos mesmos costumes, língua, religião, 
cultura, tradições etc., além do território. Segundo Santos et al (2010, 
p. 122), trata-se de um conceito “polivalente, que constrói a identidade 
de um indivíduo resumida em: parentesco, religião, língua, território 
compartilhado e nacionalidade, além da aparência física”.
Como podemos perceber, o conceito de etnia está diretamente vin-
culado às questões socioculturais, a forma de viver de um grupo e a sua 
organização geográfica, independendo da sua raça.
Diferentemente do conceito de raça, que foi uma construção 
sócio-histórica fundamentada numa questão fenotípica, o conceito de 
etnia foi determinante para o pensamento racial brasileiro, oriundo de 
todo um processo de colonização e escravidão.
O Brasil, por exemplo, é um dos países mais miscigenados do mun-
do. Essa diversidade é resultado da influência cultural de vários povos 
na formação da nossa identidade, como os indígenas, os portugueses 
e outros imigrantes.
Segundo o antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro (2014), a formação 
do povo brasileiro foi fruto de um processo violento, em que os africa-
nos foram arrancados de suas terras, de sua cultura e forçados a tra-
balhar como escravos. Ele acreditava ainda que a diversidade cultural 
dos povos africanos e a política de evitar concentrar escravos de uma 
mesma etnia nas mesmas propriedades dificultaram a formação de nú-
cleos de preservação do patrimônio cultural africano. Ribeiro não en-
xergava a mestiçagem como sinônimo de “democracia racial”, porque 
para existir a democracia racial era preciso, antes de tudo, vivermos 
numa democracia social, sem tantas desigualdades entre as classes, 
além da desumanização das relações trabalhistas.
Ao contrário de Darcy Ribeiro (2014), o sociólogo brasileiro Gilberto 
Freyre (2006) afirma que o Brasil se constituiu sobre o mito da democra-
cia racial, o qual acreditava que a miscigenação veio de uma formação 
harmoniosa, resultando na distância social entre brancos e negros.
A sociedade brasileira é de todas da América a que se consti-
tuiu mais harmoniosamente quanto às relações de raça: dentro 
34 Identidades culturais e Serviço Social no Brasil
de um ambiente de quase reciprocidade cultural que resultou 
no máximo de aproveitamento dos valores e experiências dos 
povos atrasados pelo adiantado. (FREYRE, 2006, p. 91)
Isso foi empreendido com o intuito de exaltação de uma identidade 
nacional mestiça, fortemente propagada a partir de 1930, na tentativa 
de construção da ideia de uma democracia racial no Brasil, isto é, o 
mito da democracia racial foi difundido como um dos atributos do país.
Para o sociólogo brasileiro Florestan Fernandes (2006), o mito da 
democracia racial se sustenta pela tese de que o Brasil não teria pre-
conceitos à ascensão social do negro. O autor critica a sociedade capi-
talista por não ter “absorvido” os negros, já que, segundo as elites da 
sociedade, eles tinham iguais condições em relação aos brancos.
Os negros tentaram, mas viram-se repudiados, na medida em que 
pretenderam assumir os papéis de homem livre com demasiada 
latitude de ingenuidade, num ambiente em que tais pretensões 
chocavam-se com generalizada falta de tolerância, de simpatia mi-
litante e de solidariedade. (FERNANDES, 1978, p. 30-31)
Fernandes (2006) conclui que no Brasil não existe democracia racial, 
e isso não passa de uma ideologia que procura ocultar a face racista e a 
dominação de classes que é praticada pelas elites burguesas brasileiras.
Façamos uma análise entre todo o processo de colonização e escra-
vidão brasileira com o nosso contexto atual e procuremos responder 
quantas vezes, na atualidade, você já ouviu as pessoas dizerem que no 
Brasil somos todos miscigenados e, por esse motivo, não existe racismo.
Um dos grandes problemas raciais brasileiros é que a maioria das 
pessoas acredita que vivemos nessa suposta “democracia racial” e, por-
tanto, não há necessidade, por exemplo, de políticas sociais para os 
negros porque, afinal, somos todos iguais.
Uma reflexão mais atenta sobre esses dois conceitos – raça e etnia 
– nos traz uma visão de como essa problemática ainda se encontra 
presente em nossa realidade e o quanto necessitamos discutir esses 
conceitos que provocam desigualdades em nossa sociedade.
Qual a diferença entre os 
conceitos de raça e etnia?
Atividade 3
Para adquirir mais conhe-
cimentos sobre o tema 
dessa seção, indicamos 
o documentário Raça Hu-
mana, de Dulce Queiroz. 
O documentário aborda 
a opinião de alunos 
cotistas e não-cotistas, 
professores, movimentos 
organizados, partidos 
políticos e representan-
tes da Universidade de 
Brasília sobre o “tabu” das 
cotas raciais, seja defen-
dendo ou condenando o 
sistema.
Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=y_
dbLLBPXLo. Acesso em: 25 set. 
2020.
Documentário
2.4 Preconceito, racismo e discriminação 
Vídeo Temos ainda bastante dificuldade para entender e decodificar as 
manifestações de preconceito, racismo e discriminação no contexto 
brasileiro. Como vimos na seção anterior, o mito da democracia racial 
impregnou a ideia de que não somos racistas, afinal somos um país mis-
https://www.youtube.com/watch?v=y_dbLLBPXLo
https://www.youtube.com/watch?v=y_dbLLBPXLo
https://www.youtube.com/watch?v=y_dbLLBPXLo
Estrutura social e aspectos étnico-culturais 35
cigenado. Mas será que pelo fato de sermos um país de diversidade, os 
conceitos acima são deixados de lado? Quem nunca ouviu uma dessas 
frases: “negros são os piores racistas”; “hoje em dia tudo é racismo”, “por 
que não tem dia da consciência humana?”; “eu sou branco e também 
sofro racismo, me chamavam de branquelo quando eu era criança”?
Daí vem as seguintes indagações: ser branco já privou alguém de 
entrar em algum ambiente? Ou já fez com que o salário de alguém 
fosse menor pela questão da cor da pele? Já fez alguém questionar 
a credibilidade intelectual de uma pessoa? Ser branco já fez alguém 
perder uma vaga de emprego? Ou ser seguido por um policial por pa-
recer “suspeito”? Ou até mesmo causar medo de ser perseguido por 
um grupo ou alguém de extremo racismo que poderá o perseguir e o 
espancar até a morte? Há pessoa que juram que não são racistas, mas 
vivem contando piadas de negros, compartilhando conteúdo racista no 
WhatsApp ou nas redes sociais.
Se olharmos um pouco à nossa volta e observarmos, poderíamos 
responder quantos negros aparecem nas emissoras de televisão? Nos 
anúncios publicitários? Nos consultórios médicos? Nas universidades? 
Ou seria mais fácil responder quantos negros são faxineiros, emprega-
dos domésticos etc., ou seja, que ocupam funções menos valorizadas 
socialmente e materialmente na nossa sociedade?
O sociólogo Florestan Fernandes (2006) afirmou que o brasileiro 
tem preconceito de não ter preconceito. Ele se refere às relações raciais 
que, no Brasil, foram ofuscadas pelo discurso da suposta democracia 
racial. Segundo o autor, só haveriaessa democracia racial de fato quan-
do o negro não sofresse nenhum tipo de preconceito, discriminação e 
segregação em termos de raça e de classe.
Essa afirmação pode ser observada no cotidiano, quando identifica-
mos que os maiores índices de analfabetismo, pobreza, mortalidade, 
desemprego, entre outros, pertencem aos negros.
A partir da segunda metade do século XX, o Brasil caracterizou-se 
por altos indicadores de desenvolvimento econômico, contudo as mar-
cas de desigualdades sociais entre os negros não foram modificadas.
Segundo Carlos A. C. Ribeiro (2006, p. 856),
brancos também têm mais chances de sucesso do que não bran-
cos, mas o peso da classe de origem é maior do que o da raça. Em 
outras palavras, podemos dizer que há mais desigualdades de 
36 Identidades culturais e Serviço Social no Brasil
oportunidades educacionais em termos de classe do que de raça. 
No entanto, nas ultimas transições a raça passa a ter um efeito se-
melhante ao de classe, ou seja, as chances de entrar e completar 
a universidade são desiguais em termos raciais e de classe.
Ribeiro (2006) constata que as marcas das desigualdades entre os 
negros encontram, principalmente na questão da educação, um fator 
relevante para a falta de oportunidades que são dadas a um indivíduo 
para ascender de classe social, partindo do princípio que ela é respon-
sável direta pela obtenção de conhecimento.
Segundo o IBGE (RAUPP, 2019), o analfabetismo entre negros no 
Brasil é duas vezes maior do que entre brancos. No ano passado, 3,9% 
da população branca era analfabeta, percentual que se eleva para 9,1% 
entre negros ou pardos, valor mais que o dobro em relação ao primeiro.
Além de ter a maior taxa de analfabetismo, a população composta 
por negros, apesar de ser a maior do país, tem os menores salários e 
sofre mais com a violência e o desemprego. As desvantagens se esten-
dem também a homicídios ocorridos por armas de fogo, como apon-
tam os dados publicados pelo Atlas da violência (WAISELFISZ, 2016). 
Conforme apontam os dados do gráfico a seguir, os negros são as 
maiores vítimas de homicídio por arma de fogo no Brasil.
Taxas de homicídios de negros e de não negros a cada 100 mil 
habitantes dentro destes grupos populacionais – Brasil (2007-2017)
50,0
45,0
40,0
35,0
30,0
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
2007 2009 2011 2013 20152008 2010 2012 2014 2016 2017
Taxa de homicídio de negros Taxa de homicídio de não negros
Gráfico 1
Taxas de homicídios de negros e não negros.
Fonte: Os dados de homicídios foram provenientes do MS/SVS/CGIAE – Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM. Observação: O número de Negros foi 
obtido somando pardos e pretos, enquanto o De não negras se deu pela soma dos brancos, amarelos e indígenas, todos os ignorados não entraram nas contas. 
Elaboração Diest/Ipea e FBSP.
Estrutura social e aspectos étnico-culturais 37
Como já mencionado, a violência continua recaindo sobre os ne-
gros em um processo iniciado com a escravidão e que chega, sem 
interrupção, ao ano de 2020, como foi o caso do jovem Gabriel Silva 
Santos, de 22 anos, preso pela Polícia Militar da Bahia por suspeita de 
roubo por se enquadrar na descrição de ladrão “negro e tatuado”. A 
mobilização nas redes sociais levou Gabriel a ser solto em 24 horas. 
O caso de Gabriel é mais uma prova do quanto estamos diante de um 
Estado racista (VASCONCELOS, 2020).
E por que é tão difícil combatermos esse tipo de preconceito? Em 
primeiro lugar há um discurso de que supostamente sabemos conviver 
com toda essa diversidade, porque afinal somos um país miscigenado.
Em segundo lugar, porque o preconceito é um julgamento que for-
mamos a respeito de uma pessoa, grupo etc. sem ao menos conhecê-las. 
Refere-se a uma opinião preconcebida, de modo negativo e por meio 
de informações estereotipadas, sem que haja experiências ou fatos rele-
vantes para comprová-la.
Esse tipo de comportamento vindo do senso comum pode também 
mascarar as variedades de preconceito que estão além da cor. Pode-
mos falar do preconceito contra homossexuais, pessoas idosas, mulhe-
res, pessoas com deficiência, preconceito de classe social etc. 
Esses preconceitos não se processam por uma ordem biológica, 
porque ninguém nasce preconceituoso, as pessoas tornam-se precon-
ceituosas. O que as torna assim são as influências sociais que se estabe-
lecem através dos mecanismos de socialização (família, amigos, grupos 
etc.) e essas atitudes são traduzidas em opiniões e prejulgamento.
De acordo com o antropólogo Munanga (2005, p. 15-18), o pre-
conceito é
produto das culturas humanas que, em algumas sociedades, 
transformou-se em arma ideológica para legitimar e justificar a 
dominação de uns sobre os outros. [...] sem assumir nenhum com-
plexo de culpa, somos produto de uma educação eurocêntrica e 
que podemos, em função desta, reproduzir consciente ou incons-
cientemente os preconceitos que permeiam nossa sociedade.
As várias formas de preconceito descritas acima podem levar a mui-
tos modos de discriminação. Estes têm diversas maneiras de se expres-
sarem, podem ser de gênero, cor, orientação sexual, religião, classe 
38 Identidades culturais e Serviço Social no Brasil
social etc. O preconceito, assim como a discriminação, opera de modo 
a reproduzir hierarquias sociais.
Para o antropólogo Renato Queiroz (1995, p. 34), discriminação
é a palavra usada para designar um tratamento diferencial, so-
bretudo, naquelas sociedades em que proclama a igualdade 
de todos por meio de leis e princípios que, na prática, não são 
obedecidos. 
Dessa maneira, essas atitudes marginalizam indivíduos ou grupos 
da participação na vida em sociedade, promovendo desigualdades e 
limitando o acesso dos que são discriminados às oportunidades de tra-
balho, escolarização, cultura, lazer e à ascensão social (QUEIROZ, 1995).
E o racismo? No Brasil, sua origem vincula-se ao período colonial 
e escravocrata. É um fenômeno histórico, pautado na ideia de que os 
grupos humanos possuem hierarquias e se expressaria em proposi-
ções de hostilidade que defendessem a inferioridade natural dos ne-
gros. Um racista acredita que existem raças superiores às outras.
No século XIX, como vimos na seção anterior, o racismo científico 
desenvolveu-se por meio de inúmeros experimentos, tais como medi-
ção de cérebros, análise da capacidade intelectual e tantos outros, para 
justificar a superioridade de uma raça sobre a outra. Apesar de, atual-
mente, não ser possível, do ponto de vista científico, falar em raças, é 
imprescindível reconhecer a existência do racismo.
Aprendemos ao longo da vida uma série de expressões depreciati-
vas ou consideradas “ingênuas”, mas que expõem diferentes culturas a 
situações de inferioridade, exclusão etc.
Mais de 300 anos de passado escravista não se apagam facil-
mente. Sinal disso é a extensa lista de expressões das quais as 
pessoas nem percebem a conotação racista. São tantas que, em 
2009, o professor de biologia Luiz Henrique Rosa fez um levanta-
mento no Rio de Janeiro. Junto com seus alunos, contabilizou 360 
termos de cunho racista, no projeto “Qual é a graça”. Isso só na 
escola em que ele leciona. (MÉNDEZ, 2016)
Expressões como “inveja branca”, “ovelha negra da família”, 
“denegrir”, “negro(a) de traços finos”, “não sou tuas negas”, entre 
outras, traduzem um contexto histórico marcado por preconceito, 
discriminação e racismo. Entre sutilezas, brincadeiras e aparentes 
elogios, a violência simbólica se amplia quando expressões como 
essas são repetidas (MÉNDEZ, 2016).
Quantas expressões preconcei-
tuosas você já reproduziu em sua 
vida? Dê exemplos.
Atividade 4
É muito comum também 
casos de racismo envolvendo 
jogadores brasileiros. Em 2014, o 
volante Tinga foi vítima de racis-
mo durante uma partida contra 
o Real Garcilaso, time peruano, 
durante a Copa Libertadores 
da América. A torcida peruana 
hostilizou o jogador ao imitar 
sons de macaco quando ele 
tocava na bola.
Curiosidade
Estrutura social e aspectos étnico-culturais

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