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DIREITO PENAL PARTE 1 ATUALIZADA

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TEORIA JURÍDICA DO DIREITO PENAL – PENAL I 
Prof. VITOR SOUZA 
1 
 
 
 
I - NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 
 
1. CONCEITO DE DIREITO PENAL 
 
1.1. Conceitos Formal e Sociológico: 
 
 
Sob uma perspectiva formal, é possível definir o direito penal como: 
 
“um ramo do Direito Público, que, a partir das normas e princípios estabelecidos 
pelo Estado, determina as condutas que afrontam à vida, à liberdade, à 
segurança, ao patrimônio e a outros bens jurídicos reconhecidos como 
merecedores de tutela, e estabelece as correspondentes punições (penas 
privativas de liberdade, penas restritivas de direitos, multas, medidas de 
segurança) e o modo de execução das penas”. 
 
“É um conjunto de normas que qualificam certos comportamentos humanos como 
infrações penais, definindo seus agentes e fixando-lhes sanções aplicáveis”. 
 
Já sob uma perspectiva sociológica, o Direito Penal 
 
“é mais um instrumento (ao lado dos outros ramos do direito) de controle social 
de comportamentos desviados, visando à necessária disciplina social. 
 
Esse enforque sociológico atribui uma finalidade, uma função ao direito penal. Dentre 
as quais podemos destacar a função Retributiva; a função Preventiva e a função 
Ressocializadora 
 
Para o funcionalismo teleológico (Claus Roxin) a tarefa precípua do Direito Penal é a 
proteção de bens jurídicos fundamentais ao indivíduo e à sociedade. 
Ensina-nos Luiz Regis Prado (1997, p. 41) que: 
 
Os bens jurídicos têm como fundamento valores culturais que se baseiam em 
necessidades individuais. Essas se convertem em valores culturais quando são 
socialmente dominantes. E os valores culturais transformam-se em bens jurídicos 
quando a confiança em sua existência surge necessitada de proteção jurídica. 
 
 
1.2. Direito Penal Objetivo e Direito Penal Subjetivo: são faces da mesma moeda. 
 
 a) DIREITO PENAL OBJETIVO: é todo o conjunto de normas, inseridas ou não no 
Código Penal, mas que, de alguma forma, regule a matéria de direito penal. É próprio 
ordenamento jurídico penal; 
 
O sistema jurídico penal é composto pelas disciplinas de Direito Penal, de Direito Processual 
Penal e também pela Execução Penal, consubstanciada na Lei n. 7.210/84 (conhecida como 
LEP). Essas disciplinas são formadas por normas previstas na Constituição Federal, no Código 
Penal, no Código de Processo Penal, na Lei de Execução Penal e por Leis Especiais de 
natureza penal ou processual penal (legislação extravagante). São exemplos de Leis Especiais a 
Lei de Drogas (Lei n. 11.343/06), o Estatuto do Desarmamento (Lei n. 10.826/03), a Lei Maria da 
TEORIA JURÍDICA DO DIREITO PENAL – PENAL I 
Prof. VITOR SOUZA 
2 
 
Penha (Lei n.11.340/06), a Lei das Organizações Criminosas (Lei n. 12.850/13), a Lei dos 
Crimes Hediondos (Lei n. 8.072/90), etc. 
 
 b) DIREITO PENAL SUBJETIVO: é o chamado ius puniendi do Estado, ou seja, o 
direito que o Estado tem (positivo) ou não (negativo) de punir aquele que viole a lei penal, em 
defesa da sociedade. 
 
EM REGRA, O PODER PUNITIVO É MONOPOLIZADO PELO ESTADO. 
 - Exceção: Lei 6.001 – Estatuto do Índio. 
 
 
2. FONTES DO DIREITO PENAL: 
 
As fontes indicam o lugar de origem, ou seja, de onde vêm as normas (Fonte Material), 
bem como indicam, também, como as mesmas se revelam (Fonte Formal). 
 
2.1 - Fonte Material: Fonte de produção das normas penais. Art. 22, I, CF/88: atribuição 
privativa da União. 
Em regra, somente a União pode produzir normas penais, o que deve ser feito em 
conformidade com e com os Princípios Gerais do Direito. No entanto, excepcionalmente, lei 
complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas de Direito Penal. 
O texto constitucional destaca que, 
 
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: 
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, 
aeronáutico, espacial e do trabalho; 
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre 
questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. 
 
 
2.2. Fontes Formais: Forma pela qual o direito se nos apresenta. Trata-se da exteriorização do 
direito penal e lhe dar forma, e se dividem em Imediatas ou Diretas e Mediatas ou Indiretas. 
 
a) Imediatas ou diretas: É a lei, a qual será responsável pela criação do crime e a 
cominação da sanção correspondente. 
 
b) Mediatas ou Indiretas: Referem-se aos costumes, doutrina e jurisprudência. 
Ressalte-se que há doutrinadores que afirmam que os costumes são fontes de interpretação e 
não do Direito. 
 
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES: 
 
1) TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS (TIDH): 
- Com a EC Nr 45, os TIDH adquiriram o status de emenda constitucional, quando aprovadas pelo 
processo formal de aprovação da emenda constitucional. 
- Portanto, uma lei que afronte um TIDH aprovado segundo os requisitos do § 3º do art. 5º, CF/88, 
pode ser objeto de controle de constitucionalidade, tanto pela via difusa quanto pela via concentrada. 
- Os TIDH aprovados antes da EC Nr 45 e os supervenientes (posteriores) a ela, aprovados por 
quórum comum, segundo o entendimento atual do STF, têm status de norma supralegal, não sendo, pois, 
equiparados à emenda constitucional. 
 
2) COSTUMES: comportamentos uniformes e constantes pela convicção de sua obrigatoriedade e 
necessidade jurídica. Não existe costume incriminador no ordenamento jurídico brasileiro; 
TEORIA JURÍDICA DO DIREITO PENAL – PENAL I 
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- É possível dizer que um costume revoga uma lei? Existem três correntes. Vejamos: 
1ª corrente: Sim. Ocorre quando o fato passa a ser tolerado socialmente pela sociedade, 
aplicando-se o princípio da adequação social; 
2ª corrente: Não. Quando o fato passa a ser tolerado socialmente há uma revogação tão 
somente material da lei. 
3ª corrente: Não. Enquanto tal disposição legal não for revogada por lei. 
- Uma lei só pode ser revogada por outra lei (LIDB). Enquanto não revogada a lei, tem sua aplicação 
e eficácia plenas. É A CORRENTE QUE PREVALECE. Portanto, não há que se falar em costume 
abolicionista (descriminalizador). 
 
 
 
3. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL: 
 
 O Direito Penal possui algumas características singulares que o distingue de outros ramos 
do direito. Características que são apresentadas normalmente através de princípios. Com base 
na lição do Professor Leonardo Galardo, de modo bem objetivo sintetiza algumas dessas 
características: 
 
 
1) PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA: Indica ser o Direito 
Penal a última ratio (última opção), o que significa que o Direito Penal só 
deve ser utilizado para tutelar os bens jurídicos considerados “os mais 
relevantes” (seletividade) e quando os outros ramos do direito se 
mostrarem insuficientes para a solução de eventuais conflitos. Sendo 
assim, se, p.e, o direito civil ou tributários são capazes de proteger certos 
bens jurídicos, não há que acionar o Direito Penal, que só deve ser 
utilizado em último caso. 
 
2) PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE: Se o Direito Penal 
deve proteger os bens Desdobramento do PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO 
MÍNIMA. O Direito Penal não tutela todos os bens jurídicos que 
possuímos. Nem todas as ações, pois, ainda que contrárias à ordem 
jurídica, serão tipificadas como infrações penais. O Direito Penal tutela os 
bens jurídicos mais relevantes, isto é, fragmentos de nosso acervo jurídico 
social. 
- Ao proteger os bens jurídicos mais relevantes em todas as áreas de 
conhecimento, em todas as relações jurídicas, vê-se aí, também, seu 
caráter fragmentário. 
 
 
3) PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE: Também decorre da Intervenção Mínima. O 
Direito Penal é subsidiário. Sendo assim, a instrumentalidade do Direito Penal só deve ser 
acionada quando os outros ramos do direito forem insuficientespara a tutela dos bens jurídicos. 
 
4) PRINCÍPIO DA LESIVIDADE/OFENSIVIDADE: Só se justifica a intervenção do Direito 
Penal na tutela de bens jurídicos diante de condutas que efetivamente, de modo gravoso, 
representem uma lesão ou, pelo menos, um perigo real e concreto de lesão. 
Note que o princípio da ofensividade é um importante limitador do direito de punir do 
Estado (jus puniendi), visto que objetiva impedir a criminalização ou a punição de condutas 
reconhecidas como inofensivas. 
 
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Notícias STF 
Terça-feira, 17 de maio de 2016 
2ª Turma absolve cidadão condenado por portar munição proibida como pingente de colar 
Em decisão unânime, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu, nesta terça-feira (17), Habeas Corpus (HC 
133984) para absolver um cidadão que foi condenado por carregar munição de uso proibido como pingente de colar. O colegiado seguiu 
o entendimento da relatora do caso, ministra Cármen Lúcia, para quem a atitude do réu não gerou perigo abstrato nem concreto. 
O réu foi denunciado pela prática do artigo 16 da Lei 10.826/2003, e condenado à pena de três anos de reclusão, em regime inicial 
aberto, sanção que foi substituída por duas restritivas de direitos. O dispositivo legal diz que é crime portar arma de fogo, acessório ou 
munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal. 
A Defensoria Pública União recorreu, por meio de apelação, ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG). A Corte estadual absolveu o 
réu, alegando a atipicidade da conduta. O Ministério Público, então, interpôs Recurso Especial no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que 
afastou a atipicidade da conduta, cassou a ordem concedida pelo TJ mineiro e restabeleceu a condenação. 
A decisão foi contestada no STF. Em seu voto, a ministra Cármen Lúcia disse não desconhecer a jurisprudência do Supremo sobre o 
delito de porte de munição. Mas nesse caso, frisou a relatora, nem se pode cogitar de perigo abstrato nem de perigo concreto. Ao 
conceder a ordem de habeas corpus, a ministra disse considerar, contudo, que o jovem não devia ter feito pingente “com uma bobagem 
dessas”. 
 
 
A doutrina reconhece três vertentes de aplicabilidade: 
 a) Proibição de punição do pensamento: ninguém pode ser punido pelo que 
pensa, mas sim pelo que faz. 
 
DL 2.848/1940. (Código Penal): 
Art. 14 - Diz-se o crime: 
Tentativa 
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias 
alheias à vontade do agente. 
 
Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição 
expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a 
ser tentado. 
 
b) Tolerância: não tolera a responsabilização pela pessoa do autor. 
 
c) O Direito Penal não pode se importar com condutas que não fogem à esfera 
do próprio agente. O Direito Penal só deve ser acionado quando a conduta atingir bens 
de terceiros. 
 
PARA REFLETIR / DISCUSSÃO: Nessa perspectiva, seria o Art. 28 da Lei 11.343/2006 uma 
afronta ao Princípio da Lesividade? 
 
Lei 11.343/2006 (Lei Antidrogas) 
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para 
consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação 
legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: 
I - advertência sobre os efeitos das drogas; 
II - prestação de serviços à comunidade; 
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. 
 
 
 
5) PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA OU BAGATELA: Para boa parte da doutrina, o 
desenvolvimento do princípio da insignificância é atribuído destacadamente ao alemão Claus 
Roxin, por ele desenvolvido na década de 60. 
 
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Trata-se de uma construção jurisprudencial, ou seja, não está previsto no ordenamento 
jurídico pátrio e decorre de reiteradas decisões dos Tribunais. Ademais, tal princípio só pode ser 
aplicado de acordo com as características do caso concreto. 
Tem como fundamento político social a ideia de que a preocupação com os chamados 
crimes de bagatela leva à criação de tipos penais cujas penais serão desproporcionais. Por outro 
lado, apresenta como fundamento institucional o fato de que a preocupação com esse tipo de 
crime, acarretaria uma sobrecarga da Justiça Penal. 
Está sedimentado no pressuposto da tipicidade penal material, isto é, será insignificante 
aquela conduta que não lesionar um bem jurídico penalmente protegido. Portanto, a natureza 
jurídica do princípio da insignificância é de causa supralegal de exclusão da tipicidade material. 
No Brasil, Francisco de Assis Toledo foi quem primeiro defendeu sua aplicabilidade. 
A aplicabilidade do princípio da insignificância deve ser analisada diante do caso concreto, 
razão pela qual mostram-se inadequadas as afirmativas de que esse princípio somente se aplica 
às infrações de menor potencial ofensivo ou que se baseia tão somente no valor patrimonial do 
bem. Vários fatores devem ser levados em consideração para se verificar sua incidência (ou 
não). 
 
O Min. Celso de Mello, no HC 84.412-0/SP, trouxe quatro postulados objetivos a serem 
analisados conjuntamente para a incidência do princípio da insignificância. Vejamos: 
1) Mínima ofensividade da conduta do agente - M; 
2) Nenhuma (Ausência de) periculosidade social da ação - A; 
3) Grau reduzido (Reduzidíssimo Grau) de reprovabilidade do comportamento - R; 
4) Inexpressividade da lesão jurídica provocada - I 
 
MARI – Postulados para aplicação do princípio da Insignificância 
 
 
CUIDADO: RESTRIÇÕES À APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
 
1. REINCIDÊNCIA / HABITUALIDADE: Não há regra expressa sobre essa questão, 
devendo ser analisado o caso concreto. No entanto, a jurisprudência tem se posicionado no 
sentido de inadmitir o princípio da insignificância em se tratando de réus reincidentes. 
2. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: DIVERGÊNCIA ENTRE OS 
TRIBUNAIS SUPERIORES 
a) Segundo a jurisprudência do STJ, não se aplica o princípio da insignificância aos 
crimes praticados contra a Administração pública, por menor que seja a reprovabilidade da 
conduta e o valor apropriado, tendo em vista que além da proteção ao bem jurídico patrimônio 
está em jogo a moral administrativa, que deve ser preservada. 
 
STJ - Súmula 599 - O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a 
administração pública. (Súmula 599, CORTE ESPECIAL, julgado em 20/11/2017, DJe 
27/11/2017) 
 
 
b) No entanto, o STF possui decisões admitindo o princípio da insignificância nos crimes 
contra a administração pública, como no âmbito do HC n. 107370. 
 
PARA CASA: 
 
Pesquise na jurisprudência e na doutrina outras hipóteses em que foram (ou não) 
aplicados o princípio da insignificância ao caso concreto. 
 
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6) PRINCÍPIO DO ESTADO DE INOCÊNCIA: também oriundo da Constituição (art. 5°, inciso 
LVII), prevê que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal 
condenatória”. Tal princípio também é conhecido como princípio da presunção de não culpa. 
 
7) PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO REO: em caso de dúvida do aplicador diante do caso 
concreto, opta-se pela absolvição a fim de evitar que um abuso seja praticado contra um 
inocente. 
Fernando Capez destaca que há uma divisão de entendimentos quanto à extensão de sua 
aplicabilidade. Para alguns, só se aplica no campo da apreciação das provas, nunca para a 
interpretação da lei (como a interpretação vai buscar o exato sentido do texto, jamais restará 
dúvida de que possa ser feita a favor de alguém), no entanto, paraoutros, esgotada a atividade 
interpretativa sem que se tenha conseguido extrair o significado da norma, a solução será́ dar 
interpretação mais favorável ao acusado. 
 
8) PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM: impõe a proibição de dupla condenação e acusação. Isso 
significa que uma pessoa não pode ser acusada por fato que já foi julgado em definitivo por 
sentença absolutória. E também não poderá ser perseguida criminalmente em dois processos 
distintos baseados na mesma imputação. 
 
 
PARA REFLETIR / DISCUSSÃO: Nessa perspectiva, seria o inciso I do Art. 7º c/c o seu § 1º 
e 8º do Código Penal afrontas ao princípio do ne bis idem? 
 
 Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: 
 I - os crimes: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
contra a vida ou a liberdade do Presidente da República 
(...) 
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que 
absolvido ou condenado no estrangeiro. 
 
 Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo 
crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. 
 
9) PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE: De modo simples, pode-se dizer que o princípio da 
culpabilidade impõe uma análise subjetiva da responsabilidade penal, isto é, se o resultado 
advém de dolo ou culpa. Tal princípio consiste numa vedação à responsabilidade penal objetiva. 
 Apesar de não expresso no texto constitucional, entende-se que pode ser extraído do 
princípio da dignidade da pessoa humana. 
 É comum encontrar na doutrina a indicação de três vertentes quanto ao instituto da 
culpabilidade: 
 
a) Limite de imposição de pena: 
 
Código Penal. 
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este 
cominadas, na medida de sua culpabilidade. 
 
b) Vedação à responsabilidade penal objetiva, isto é, veda a responsabilização penal 
sem culpa. 
 
c) Integrante do conceito analítico de crime: 
TEORIA JURÍDICA DO DIREITO PENAL – PENAL I 
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7 
 
CRIME = FATO TÍPICO ILICITUDE CULPABILIDADE 
 
 
10) PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA: A pena não pode passar da pessoa do acusado. A 
responsabilidade penal é sempre pessoal (art. 5°, inciso XLV, CF). 
 
CF/88. Art. 5º (...) 
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de 
reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, 
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do 
patrimônio transferido; 
 
 
11) PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA: Também surgiu no Séc. XVIII, após a 
Revolução Francesa, objetivando-se afastar-se um sistema de penas indeterminadas, onde o 
monarca, a seu critério, as definia. 
 É a individualização judicial, a obrigatoriedade de que a pena aplicada considere a pessoa 
individualmente e concretamente, levando em consideração o comportamento, as experiências 
sociais e as oportunidades do acusado ou condenado, quando em fase de cumprimento da pena. 
Portanto, a imposição da pena deve levar em consideração critérios subjetivos, 
ponderando-se a diversidade de sentimentos, condições e características diversas. 
No Séc. XIX surge o sistema de penas relativamente determinadas. No Brasil as penas 
possuem margem de pena máxima e pena mínima. Será por meio da análise da 
CULPABILIDADE que o magistrado definirá a pena, podendo ocorrer a aplicação de penas 
distintas para agentes em concurso na prática de um mesmo crime. 
 
CF/88. Art. 5º (...) 
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as 
seguintes: 
 a) privação ou restrição da liberdade; 
 b) perda de bens; 
 c) multa; 
 d) prestação social alternativa; 
 e) suspensão ou interdição de direitos; 
 
 
Para a individualização da pena é necessário passarmos por fases distintas: 
 
 1º - Na Cominação – Atividade do legislador, por meio da qual estabelece os limites 
mínimo e máximo da pena. 
 
Código Penal. 
COMINAÇÃO DAS PENAS 
Art. 53 - As penas privativas de liberdade têm seus limites estabelecidos na 
sanção correspondente a cada tipo legal de crime. 
 
2º - Na Aplicação: Atividade do juiz que, no caso concreto, individualiza a pena o 
quantum deverá ser cumprido. 
 
 
 
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Código Penal. 
DA APLICAÇÃO DA PENA: 
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à 
personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do 
crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja 
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime 
 
No Brasil adota-se um critério trifásico de aplicação da pena, conforme art. 68 
do Código Penal: 
 
Código Penal. 
Cálculo da pena 
Art. 68 - A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste 
Código; em seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes e 
agravantes; por último, as causas de diminuição e de aumento. 
 
 
II - TEORIA DA NORMA 
 
 O Prof. Binding foi o primeiro a fazer distinção entre lei e norma, estabelecendo uma 
relação de corpo e alma. Para o Prof., a lei seria o corpo (a parte externa) e a norma seria a alma 
(parte interna) 
 
 Conforme a lição de Bitencourt, quando a doutrina, tradicionalmente, se refere à norma 
penal, menciona a clássica distinção entre norma primária e norma secundária. 
As normas primárias seriam aquelas que se dirigem aos cidadãos estabelecendo a 
proibição de cometer delitos, e as normas secundárias seriam aquelas dirigidas aos juízes, 
determinando-lhes a imposição de sanções penais para aqueles que os comete. 
Em outras palavras, podemos dizer que o preceito primário é o lugar destinado à narração 
da conduta que se quer proibir ou impor, e o preceito secundário é o lugar destinado à cominação 
da pena. 
 
Ainda nos deparamos com as seguintes distinções: 
 
1. NORMA PENAL INCRIMIDNADORA (sentido stritu sensu): é a norma penal por excelência. 
As normas penais incriminadoras se subdividem em 
 
a) Proibitiva: ex, art. 155 do CP; 
 
Código Penal. 
Furto 
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, 
de um a quatro anos, e multa. 
 
b) Mandamental: ex, Art. 269 do CP 
 
Código Penal. 
Omissão de notificação de doença 
Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja 
notificação é compulsória: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. 
 
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2. NORMA PENAL NÃO INCRIMINADORA (sentido amplo): estas subdividem-se em: 
 
a) Explicativa: são aquelas que traduzem a finalidade da norma penal. Exemplo, art. 327 
do CP. 
 
Código Penal. 
Funcionário público 
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora 
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. 
 
 
b) Permissiva: Normas justificantes, que tem o objetivo de afastar a ilicitude do fato. Ex, 
art. 23 do CP; 
 
Código Penal. 
Exclusão de ilicitude 
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: 
I - em estado de necessidade; 
II - em legítima defesa; 
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito 
 
c) Complementar: são aquelas que não são nem permissivas nem explicativas. Portanto, 
apenas complementam. Exemplo, 
 
 Código Penal. 
Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: 
 I - a emoção ou a paixão 
 
 
3. NORMA PENAL COMPLETA E NORMA PENAL INCOMPLETA: 
 
A maioria das normas penais incriminadoras são classificadas como completas, integrais, 
ou seja, possuem preceitos e sanções, e, consequentemente, podem ser aplicadas sem a 
complementação de outras.4. NORMAS PENAIS EM BRANCO: 
 
São normas incompletas, imperfeitas, com preceitos genéricos ou indeterminados, que 
precisam da complementação de outras normas (lei, decreto, regulamento, portaria, resolução 
etc.). por isso são conhecidas como primariamente remetidas. Essas normas divide-se em: 
4.1. NORMA PENAL EM BRANCO PRÓPRIA/EM SENTIDO ESTRITO/HETEROGÊNEA: O 
complemento vem de fonte legislativa diversa. Exemplo: Lei de Drogas. 
 
Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas) 
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer 
consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com 
determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: 
 
TEORIA JURÍDICA DO DIREITO PENAL – PENAL I 
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4.2. NORMA PENAL EM BRANCO IMPRÓPRIA/EM SENTIDO AMPLO/ HOMOGÊNEA: O 
complemento decorre da mesma fonte legislativa (União). Exemplo: art. 237, CP. 
 
Código Penal 
Art. 237 - Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe 
cause a nulidade absoluta: 
 
 
a) Homovitelina: O complemento está no mesmo documento (ou no mesmo ramo). 
Exemplo: lei penal complementa lei penal - O Código Penal dispõe sobre quem é funcionário 
público (art. 312 e 327 do CP). 
 
Código Penal. 
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro 
bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou 
desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: 
 
Código Penal. 
Funcionário público 
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora 
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. 
 
b) Heterovitelina: O complemento está em documento diverso (ou em ramo diverso). 
Exemplo: lei civil complementa lei penal – O Código Civil enumera as hipóteses de impedimento 
de casamento (art. 236 do CP e art. 1.521 do CC). 
 
Código Penal 
Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento 
Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou 
ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior: 
 
Código Civil 
Art. 1.521. Não podem casar: 
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; 
II - os afins em linha reta; 
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do 
adotante; 
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau 
inclusive; 
V - o adotado com o filho do adotante; 
VI - as pessoas casadas; 
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de 
homicídio contra o seu consorte. 
 
OBSERVAÇÃO: Norma penal em branco ao revés/às avessas/invertido/revertido: O 
complemento não se refere ao preceito primário, mas sim à sanção. 
 
5. TIPO PENAL FECHADO E TIPO PENAL ABERTO: 
 
O tipo penal é fechado quando descreve por completo a conduta criminosa, sem a 
necessidade de que o intérprete busque elementos externos para encontrar seu efetivo sentido. É 
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11 
 
o exemplo do Art. 121. do CP, que ao descrever o ato de “matar alguém”, esgota a descrição 
típica. 
O tipo penal aberto, por outro lado, é incompleto, demandando do intérprete um esforço 
complementar para situar o seu alcance. Ao estabelecer, no § 3º, a pena de detenção de um a 
três anos “se o homicídio é culposo”, o art. 121 impõe ao aplicador da lei que explore os 
conceitos de culpa para apurar se a conduta se adéqua ao tipo penal. 
 
OBSERVAÇÃO: Note-se que o tipo penal aberto não se confunde com a norma penal em 
branco, em que a complementação não é interpretativa, mas normativa. 
 
 
III - INTERPRETAÇÃO DA NORMA PENAL 
 
 
1. INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DAS LEIS PENAIS 
 
Para Bitencourt, interpretar significa alcançar o real sentido da norma jurídica (2011, p. 
166). Capez complementa dizendo que a interpretação deve buscar a vontade da lei, 
desconsiderando a de quem a fez. 
Existem diversas modalidades de interpretação em matéria penal, quais sejam: quanto às 
fontes (autêntica, jurisprudencial e doutrinária), quanto aos meios (gramatical, histórica, 
teleológica, sistemática e progressiva) e quanto aos resultados (declarativa, extensiva e 
restritiva). Ainda, tem-se a forma integrativa do ordenamento jurídico, denominada analogia. 
 
 
2. MODALIDADES DE INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL 
 
2.1. QUANTO ÀS FONTES: 
 
a) Autêntica: A interpretação é feita pelo próprio Poder Legislativo, o qual emanou a lei. 
Pode ser: contextual, quando feita dentro do próprio texto interpretado (Exemplo: Art. 327 do CP), 
ou posterior, quando a lei interpretadora entra em vigor depois da interpretada. 
 
b) Jurisprudencial: É a interpretação feita pelos Tribunais a partir da reiteração das 
decisões judiciais relativas a determinada norma. Não tem força obrigatória, salvo aquela 
constante de súmula aprovada pelo STF nos termos do Art. 103-A da Constituição Federal, que 
terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração 
pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. 
 
c) Doutrinária/Científica: É a interpretação feita por doutrinadores (estudiosos e cultores 
do Direito) a partir do estudo técnico de determinada norma. 
 
 
2.2. QUANTO AOS MEIOS: 
 
a) Gramatical: É a interpretação feita de acordo com o sentido literal da norma, isto é, 
baseada no significado das palavras que a compõem. 
 
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12 
 
b) Histórica: A interpretação é feita tendo como base a origem da lei. Tal modalidade é 
importante para se compreender os fundamentos e a razão da norma e dos institutos nela 
consagrados. 
 
c) Teleológica/Lógica: Interpreta-se a norma baseando-se na finalidade por ela proposta. 
busca-se a vontade da lei, atendendo-se aos seus fins e à sua posição dentro do ordenamento 
jurídico. 
 
d) Sistemática: Interpreta-se a lei levando-se em consideração o ordenamento jurídico 
como um todo. 
 
e) Progressiva: Interpreta-se a norma levando-se em consideração todos os avanços 
sociais, tecnológicos, medicinais, etc. 
 
 
2.3. QUANTO AOS RESULTADOS: 
 
a. Declarativa: Parte do pressuposto de que há uma perfeita correspondência entre a 
palavra da lei e a sua vontade. Essa modalidade expressa o sentido literal da norma, isto é, o 
texto contém exatamente aquilo que o legislador quis dizer. 
 
b. Extensiva: Ocorre quando a lei diz menos do que o legislador pretendeu, ou seja, a 
letra escrita da lei ficou aquém da sua vontade, razão pela qual é necessário ampliar o alcance 
do texto legal. Exemplificando, o art. 181, I, do Código Penal, prevê escusa absolutória 
exclusivamente para o agente que pratica o crime de furto contra cônjuge, na constância 
da sociedade conjugal. Embora seja divergente, parte da jurisprudência admite a aplicação da 
referida escusa, por interpretação extensiva, ao agente que pratica crime de furto contra 
companheiro, na constância da união estável. 
 
Código Penal. 
Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste 
título, em prejuízo: (Vide Lei nº 10.741, de 2003) 
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; 
 
Nesse sentido, o RESE no Processo n. 10153130064048001, do TJMG, julgado em 1º de 
dezembro de 2015, o qual entendeu que, destarte o dispositivo legal em tela falar apenas em 
“cônjuge”, deve ser estendido ao companheiro, sob pena de violação ao princípio da igualdade. 
 
 
3. ANALOGIA 
 
3.1. CONCEITO: instrumento de autointegração do sistema jurídico que consiste em aplicar-se a 
uma hipótese não regulada por lei disposição legal relativa a um caso semelhante.Na analogia, 
por falta de norma regente, aplica-se uma de caso análogo. 
 
Ubi eadem ratio, ibi eadem jus (onde há a mesma razão, aplica-se o mesmo direito). 
 
3.2 ANALOGIA IN BONAM PARTEM x ANALOGIA IN MALAM PARTEM 
 
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13 
 
a. Analogia in bonam partem: é aquela empregada em benefício do agente. 
Pacificamente admitida. 
 Clássico exemplo citado pela doutrina, até o advento da Lei 12.015/2009, era a 
possibilidade de aplicação do disposto no art. 128, II, do Código Penal, que dispõe sobre o aborto 
praticado por médico em caso de gravidez resultante do crime de estupro (Art. 213 do CP) ao 
crime de atentado violento ao pudor (anteriormente previsto no Art. 214 do CP). 
 
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro 
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: 
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da 
gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. 
 
ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR: Antes da Lei 12015/2009 
 
ESTUPRO 
Art. 213 - Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou 
grave ameaça: 
 
ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR 
Art. 214 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar 
ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção 
carnal: 
 
 
ABORTO EXCEPCIONALMENTE PERMITIDO (EXCLUDENTE DE ILICITUDE) 
Gravidez decorrente do crime do Art. 213 
(Antes da Lei 12.015/2009) 
Gravidez decorrente do crime do Art. 214 
(Antes da Lei 12.015/2009) 
Art. 128, II, CP Nenhuma Norma 
ANALOGIA: = aplicação do art. 128, II, do CP à hipótese de aborto em gravidez decorrente do 
atentado violento ao pudor 
 Atualmente, face a alteração legislativa promovida pela Lei 12.015/2009, tal aplicação 
se mostra esvaziada por ter o crime de estupro passado a englobar os demais atos 
libidinosos diversos da conjunção carnal. 
 Por isso, Fernando Capez hoje aponta como exemplo a possibilidade aplicação do mesmo 
dispositivo (Art. 128, II, do CP) ao crime do Art. 215. 
Violação sexual mediante fraude 
Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, 
mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação 
de vontade da vítima: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos 
 
 
b. Analogia in malam partem: 
 
 Já a analogia in malam partem é a empregada em prejuízo do agente, como em caso de 
norma penal incriminadora. Não se admite o seu emprego por configurar violação ao princípio da 
legalidade/reserva legal. Razão pela qual assentou entendimento pela inaplicabilidade da 
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14 
 
majorante do crime de roubo, no diz respeito ao concurso de agentes, ao crime de furto 
qualificado. 
 
Súmula 442 do STJ – Superior Tribunal de Justiça: 
“É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a 
majorante do roubo”. 
 
Furto Roubo 
Código Penal: 
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa 
alheia móvel: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
 
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é 
praticado durante o repouso noturno. 
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno 
valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena 
de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a 
dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. 
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica 
ou qualquer outra que tenha valor econômico. 
Furto qualificado 
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e 
multa, se o crime é cometido: 
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à 
subtração da coisa; 
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, 
escalada ou destreza; 
III - com emprego de chave falsa; 
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. 
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) 
anos e multa, se houver emprego de explosivo ou 
de artefato análogo que cause perigo 
comum. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 
2018) 
§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a 
subtração for de veículo automotor que venha a ser 
transportado para outro Estado ou para o 
exterior. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996) 
§ 6º A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) 
anos se a subtração for de semovente 
domesticável de produção, ainda que abatido ou 
dividido em partes no local da 
subtração. (Incluído pela Lei nº 13.330, de 
2016) 
§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) 
anos e multa, se a subtração for de substâncias 
explosivas ou de acessórios que, conjunta ou 
isoladamente, possibilitem sua fabricação, 
montagem ou emprego. (Incluído pela Lei 
nº 13.654, de 2018) 
 
Código Penal: 
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para 
outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, 
ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à 
impossibilidade de resistência: 
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. 
 
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de 
subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou 
grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do 
crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. 
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até 
metade: (Redação dada pela Lei nº 13.654, 
de 2018) 
I – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 
13.654, de 2018) 
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; 
III - se a vítima está em serviço de transporte de 
valores e o agente conhece tal circunstância. 
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha 
a ser transportado para outro Estado ou para o 
exterior; (Incluído pela Lei nº 9.426, de 
1996) 
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, 
restringindo sua liberdade. (Incluído pela 
Lei nº 9.426, de 1996) 
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou 
de acessórios que, conjunta ou isoladamente, 
possibilitem sua fabricação, montagem ou 
emprego. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 
2018) 
 
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois 
terços): (Incluído pela Lei nº 13.654, de 
2018) 
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego 
de arma de fogo; (Incluído pela Lei nº 
13.654, de 2018) 
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo 
mediante o emprego de explosivo ou de artefato 
análogo que cause perigo comum. (Incluído 
pela Lei nº 13.654, de 2018) 
 
§ 3º Se da violência resulta: (Redação dada 
pela Lei nº 13.654, de 2018) 
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 
(sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; (Incluído 
pela Lei nº 13.654, de 2018) 
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 
(trinta) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 
13.654, de 2018) 
 
 
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3.3. ANALOGIA x INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA 
 
Bitencourt leciona que 
 
A analogia não se confunde com a interpretação extensiva ou mesmo com a 
interpretação analógica. A analogia, convém registrar desde logo, não é propria- 
mente forma de interpretação, mas de aplicação da norma legal. A função da 
analogia não é, por conseguinte, interpretativa, mas integrativa da norma jurídica. 
Com a analogia procura-se aplicar determinado preceito ou mesmo os próprios 
princípios gerais do direito a uma hipótese não contemplada no texto legal, isto é, 
com ela busca-se colmatar uma lacuna da lei. Na verdade, a analogia não é um 
meio de interpretação, mas de integração do sistema jurídico. 
 
 
Portanto, não háque se confundir os dois institutos. Enquanto a analogia é meio de 
autointegração face a ausência de norma específica, a interpretação analógica, espécie de 
interpretação extensiva amplamente utilizada, consiste no uso, pelo legislador, de uma forma 
genérica que se presta a identificar várias situações específicas, análogas a outras previamente 
citadas. É o que o ocorre com o art. 121, § 2o, IV, do Código Penal, ao cuida das qualificadoras 
do crime de homicídio. 
 
Homicídio qualificado 
Art. 121. (...) 
§ 2° Se o homicídio é cometido: 
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; 
II - por motivo fútil; 
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio 
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; 
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso 
que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; 
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro 
crime: 
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. 
 
 
 
IV - INFRAÇÕES PENAIS E OS SUJEITOS DAS INFRAÇÕES PENAIS 
 
 
1. INFRAÇÕES PENAIS: No Brasil, Infração Penal é o gênero que comporta duas espécies: 
crime e contravenções penais. 
 
1.1. SISTEMA BIPARTIDO: 
 
O Brasil aderiu ao sistema bipartido, também conhecido como como binário ou dualista, no 
qual crime é sinônimo de delito, e a contravenção penal é chamada de crime anão ou delito 
liliputiano, em razão de sua menor gravidade e potencialidade ofensiva, sendo, por isso, punida 
com a prisão simples e/ou multa. 
 
LICP (DL 3.914/1941) 
 
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Art. 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de 
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de 
multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de 
prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. 
 
 
 
1.2. DISTINÇÃO ENTRE CRIMES E CONTRAVENÇÕES: 
 
Não há distinção substancial / ontológica entre crimes e contravenções, só quanto a 
tratamento dado pelo Direito. Sendo assim, além da distinção já citada, quanto à pena privativa 
de liberdade, podemos destacar mais algumas, tais como a modalidade de ação penal; o máximo 
de pena aplicável etc. Vejamos o quadro abaixo: 
 
CURIOSIDADES DISTINÇÕES: CRIMES E CONTRAVEÇÕES 
 
ASPECTO CRIME CONTRAVENÇÕES 
 
Previsão Legal: 
Estão previstos no Código 
Penal ou em leis esparsas 
Estão previstas, basicamente, na Lei 
de Contravenções Penais (Decreto-lei 
nº 3.688/1941) 
Pena privativa de 
liberdade: 
 Detenção ou reclusão Prisão simples 
Tentativa: Admitem a tentativa. Embora admitam a tentativa, não será 
punível 
Ação penal: Ação Pública Incondicionada; 
Ação Pública Condicionada e 
Ação Penal Privada 
Ação Pública Incondicionada (Art. 17 
da LCP). 
 
Extraterritorialidade: Art. 7º do CP Não existe extraterritorialidade nas 
contravenções – Art. 2º da LCP; 
Máximo de pena: 30 anos 5 anos 
Sursis (suspensão 
condicional da 
pena): 
de 2 a 4 anos; ou de 4 a 6 anos 
(humanitário); 
 
de 1 a 3 anos (Art. 11 da LCP). 
 
 
Competência: Justiça Federal ou Estadual, 
conforme regras de 
competência 
Regra, na Justiça Estadual, salvo 
quando o infrator tiver foro 
privilegiado. Ex, se for juiz federal 
será julgado na Just Federal 
 
Quanto aos institutos da detenção e reclusão, deixadas de lado as críticas quanto à opção 
feita pelo legislador em classificar as penas privativas de liberdade, a doutrina nos aponta 
algumas distinções entre as duas modalidades de penas privativas de liberdade, tais como 
cumprimento inicial de regime, medida de segurança etc. 
 
CURIOSIDADES DISTINÇÕES: RECLUSÃO E DETENÇÃO 
 
1. CUMPRIMENTO INICIAL DO REGIME: 
a) Reclusão: FECHADO, SEMIABERTO ou ABERTO; 
b) Detenção: SEMIABERTO OU ABERTO. 
 
2. INCAPACIDADE PARA O EXERCÍCIO DO PODER FAMILIAR, TUTELA OU CURATELA: 
a) Reclusão: quando o crime for doloso contra filho, tutelado ou curatelado; 
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b) Detenção: sem previsão de tal efeito. 
 
3. MEDIDA DE SEGURANÇA QUANDO INIMPUTÁVEL: 
a) Reclusão: Internação; 
b) Detenção: tratamento ambulatorial. 
 
4. CONCURSO DE CRIMES COM CONSEQUENTE CUMULAÇÃO: cumprir-se-á, 
primeiramente a pena de reclusão. 
 
OBSERVAÇÃO - PRISÃO SIMPLES: deve ser cumprida, sem rigor penitenciário, em 
estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em regime semiaberto ou aberto. O 
condenado fica sempre separado dos condenados à pena de reclusão ou de detenção, sendo-lhe 
facultativo o trabalho se a pena aplicada não excede a 15 (quinze) dias. Não admite o regime 
fechado em hipótese alguma. 
 
 
Geralmente nos concursos são cobrados apenas os crimes, estando eles no Código Penal 
ou em legislação especial. As contravenções não são muito abordadas nos concursos para 
cargos que não sejam tecnicamente jurídicos. As contravenções estão previstas na Lei de 
Contravenções Penais (DECRETO-LEI Nº 3.688/1941) ou também definidas em outras leis. 
 
CURIOSIDADE: ALGUNS EXEMPLOS DE CONTRAVENÇÕES (DECRETO-LEI Nº 3.688/1941): 
 
Art. 21. Praticar vias de fato contra alguém: 
 
Art. 26. Abrir alguém, no exercício de profissão de serralheiro ou oficio análogo, a 
pedido ou por incumbência de pessoa de cuja legitimidade não se tenha certificado 
previamente, fechadura ou qualquer outro aparelho destinado à defesa de lugar nu 
objeto: 
 
Art. 30. Omitir alguém a providência reclamada pelo Estado ruinoso de construção que 
lhe pertence ou cuja conservação lhe incumbe: 
 
Art. 31. Deixar em liberdade, confiar à guarda de pessoa inexperiente, ou não guardar 
com a devida cautela animal perigoso: 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem: 
 a) na via pública, abandona animal de tiro, carga ou corrida, ou o confia à pessoa 
inexperiente; 
 b) excita ou irrita animal, expondo a perigo a segurança alheia; 
 c) conduz animal, na via pública, pondo em perigo a segurança alheia. 
 
Art. 37. Arremessar ou derramar em via pública, ou em lugar de uso comum, ou do uso 
alheio, coisa que possa ofender, sujar ou molestar alguém: 
 
Art. 38. Provocar, abusivamente, emissão de fumaça, vapor ou gás, que possa ofender 
ou molestar alguém: 
 
Art. 42. Perturbar alguém o trabalho ou o sossego alheios: 
 I – com gritaria ou algazarra; 
 II – exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as prescrições 
legais; 
 III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos; 
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 IV – provocando ou não procurando impedir barulho produzido por animal de que 
tem a guarda: 
 
Art. 50. Estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar público ou acessível ao público, 
mediante o pagamento de entrada ou sem ele: (Vide Decreto-Lei nº 4.866, de 
23.10.1942) (Vide Decreto-Lei 9.215, de 30.4.1946). 
 
 
 Para finalizar essa parte de nosso estudo, é importante destacar que, além das 
contravenções penais previstas no Decreto-lei nº 3.688/1941, também há crimes que, por serem 
considerados de pouco lesividade jurídica, são chamados de “crimes de menor potencial 
ofensivo”. 
Esses crimes (de menor potencial ofensivo) não se confundem com as contravenções e 
são assim considerados em razão de sua pena máxima cominada, que não ultrapassa 2 anos. 
Esses crimes podem estar previstos tanto no Código Penal quanto em legislações penais 
especiais. 
 
 
2. SUJEITOS DA INFRAÇÃO PENAL: 
 
2.1. SUJEITO ATIVO: 
 
É quem pratica o fato descrito como crime na norma penal incriminadora,Por ser o crime fruto da ação humana, somente o ser vivo, nascido de mulher, pode ser 
autor de crime. Em razão disso, animais e coisas não podem ser sujeitos ativos de crimes, nem 
autores de ações, pois lhes falta o elemento vontade. 
 
Não obstante, a ordem constitucional de 1988 promoveu uma inovação quanto à 
responsabilização penal das pessoas jurídicas, passando a indicar tal possibilidade na seara do 
crime ambiental. 
 
CF/88. Art. 225. 
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os 
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, 
independentemente da obrigação de reparar os danos causados. 
 
2.1.1. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica: 
 
Na Roma antiga, era comum invocar-se o brocado societas delinquere non potest, 
representativo da incapacidade da pessoa jurídica de responsabilização pena. Pensamento esse 
fundado na teoria da ficção, defendida por Friedrich Karl Von Savigny, que negava a existência 
real da pessoa jurídica. Conforme leciona Sheila Jorge Selim Sales: 
 
Para tal teoria, as pessoas jurídicas são entidades fictícias, criadas pelo Direito, não 
possuindo consciência e vontade próprias, isto é, as condições psíquicas capazes de 
determinar o “querer”. Não possuem, portanto, capacidade de ação e, 
consequentemente, não são passíveis de punição na esfera penal, uma vez ausentes 
os pressupostos sobre os quais se assenta o moderno Direito Penal da culpa. 
 
No entanto, com o passar do tempo, a referida teoria começa a ser severamente criticada. 
Verifica-se, modernamente, cada vez maior a relativização do brocado romano e a consolidação 
da necessidade de responsabilização penal da pessoa coletiva. 
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A doutrina moderna desenvolve o entendimento de que a pessoa jurídica passou a ser 
comparada a um organismo biológico, tendo cérebro (governo/administração), sistema nervoso 
(comunicações), células (indivíduos). Sales destaca o surgimento da teoria da realidade jurídica, 
por meio da qual se 
 
“sustenta que as pessoas jurídicas são seres reais, reconhecidos e regulados pela lei, 
possuindo potencialidade para serem sujeitos ativos de condutas puníveis, uma vez 
consideradas como portadoras de vontade real”. 
 
No Brasil, já se tem registro de condenação de pessoa jurídica por delito contra o meio 
ambiente.8 Nos Tribunais Superiores (STF e STJ) pacificou-se o entendimento de que é possível 
a responsabilidade penal da pessoa jurídica. 
Sob outro aspecto que levanta discussão refere-se à possibilidade de se poder 
responsabilizar somente a pessoa jurídica, não se tendo como apurar responsabilidade penal de 
pessoa física que efetivamente tenha realizado conduta típica. Nesse sentido já se posicionou o 
STF, ou seja, de que não é necessária a dupla imputação, conforme se vê no julgamento do RE 
548181/PR, 1a Turma, Supremo Tribunal Federal, Rel. Min. Rosa Weber, julg. em 6-8-2013. Na 
mesma direção caminha o Superior Tribunal de Justiça, como se vê no RMS 39.173/BA, Rel. Min. 
Reynaldo Soares da Fonseca, jul. 6-8-2015 (Info 566). 
 
OBSERVAÇÃO – DIVERGÊNCIA DOUTRINÁRIA 
 
a) Primeira Corrente: A PJ tecnicamente não pode ser sujeito ativo. Pois, ficção 
jurídica que é, como dela advir um comportamento (movimento) humano voluntário, 
psiquicamente dirigia a uma finalidade (doloso), ou um comportamento culposo. Conforme 
lecionam ORTS BERENGUER e GONZÁLEZ CUSSAC, 
 
“tradicionalmente a responsabilidade penal das pessoas jurídicas era negada (societas delinquere 
et punire non potest), alegando-se que não possuem capacidade de ação, capacidade de 
culpabilidade, ou capacidade de sofrer penas. Por isso, os sistemas clássicos somente castigavam 
como autores dos delitos as pessoas físicas. No entanto, durante o século XX a tendência foi 
invertendo-se, devido à necessidade de castigar os delitos socioeconômicos e financeiros 
(delinquência de colarinho-branco), a criminalidade organizada e também por razões de legalidade 
(...) Há que se lembrar que mais de 80% dos delitos socioeconômicos são cometidos através de 
empresas” 
 
b) Segunda Corrente: SIM, pode a PJ ser responsabilizada criminalmente. 
Argumentam: 
1) as pessoas jurídicas têm vontade, não somente porque têm existência real e sua vontade 
reconhecível socialmente, em um plano pragmático-sociológico - ‘ação delituosa institucional’, ao 
lado das ações humanas individuais”; 
2) existirem casos de responsabilidade objetiva, no direito penal, inclusive de pessoa física, como 
se dá no contexto da embriaguez voluntária, mas não preordenada; 
3) as penas não são a única característica marcante do direito penal, além do que, atualmente, 
está-se afastando, até mesmo para a pessoa física, a pena de encarceramento, porque não 
reeducativa e perniciosa; 
4) os artigos constitucionais mencionados – 173, § 5.º, e 225, § 3.º – são expressos ao admitirem a 
responsabilidade penal da pessoa jurídica, especialmente o art. 225, § 3.º; 
5) no tocante às penas serem personalíssimas, o que não se nega, é preciso destacar que a 
sanção incidirá sobre a pessoa jurídica, e não sobre o sócio. Se este vai ser prejudicado ou não 
pela punição é outro ponto, aliás, fatal de ocorrer em qualquer tipo de crime. Se um empresário for 
condenado e levado à prisão, pode sua família sofrer as consequências, embora não tenha 
participado da prática da infração penal; 
6) a responsabilidade penal das pessoas jurídicas não pode ser entendida à luz da 
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responsabilidade individual e subjetiva, mas segundo os critérios de uma responsabilidade social. 
 
2.2. SUJEITO PASSIVO 
 
É o titular do bem jurídico violado pela conduta criminosa. Divide-se em: 
 
a) sujeito passivo formal (ou constante): é o titular do interesse jurídico de punir, que 
surge com a prática da infração penal. É sempre o Estado; 
b) sujeito passivo material (ou eventual): é o titular do bem jurídico diretamente lesado 
pela conduta do agente. Podem repetir-se na mesma pessoa o sujeito passivo formal e o 
material. 
c) Sujeito passivo próprio: Ocorre quando o tipo penal exige uma qualidade essencial do 
sujeito passivo. Exemplo: art. 123 do CP. 
 
Sendo assim, a doutrina reconhece que o sujeito passivo do crime pode ser: 
- o ser humano (ex.: crimes contra a pessoa); 
- o Estado (ex.: crimes contra a Administração Pública); 
- a coletividade (ex.: crimes contra a saúde pública); 
- a pessoa jurídica (ex.: nos crimes contra o patrimônio). 
 
Guilherme Souza Nucci assevera que inexistem as seguintes possibilidades: 
a) animais, coisas e mortos como sujeitos passivos; 
 b) confusão, na mesma pessoa, do sujeito ativo e passivo, levando-se em 
consideração uma única conduta. Assim, não há caso em que, mediante determinada conduta, o 
agente possa ferir-se exclusivamente, provocando a ocorrência de um crime. Para isso, seria 
necessário punir a autolesão, o que não ocorre no Brasil. 
 
CURIOSIDADES / ATENÇÃO: 
 
1) SUJEITO PASSIVO E ATIVO AO MESMO TEMPO: É possível haver, no mesmo crime, uma 
pessoa que seja tanto sujeito ativo quanto passivo, como ocorre na rixa. Neste caso não há uma 
única conduta nem um único agente. 
 
Rixa. 
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores: 
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa. 
 
2) CRIME BIPRÓPRIO: Exige uma qualidade essencial tanto da vítima como do autor. Exemplo: 
 
 Infanticídio 
 Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: 
 
3) DUPLA SUBJETIVIDADE PASSIVA: São crimes em que obrigatoriamente há mais de um 
sujeito passivo. Exemplo: 
 
Aborto sem consentimento da gestanteArt. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: 
Pena - reclusão, de três a dez anos. 
 
4) AUTOLESÃO: Em regra, inexistência de delito punindo a autolesão. Porém, não se confunde 
com os casos de autolesão que tem por objeto bem jurídico protegido de pessoa diversa. É o 
que ocorre, por exemplo, no caso do estelionato com fraude para o recebimento de indenização 
ou valor de seguro (art. 171, § 2.º, V). O agente, nesse caso, pode lesar o próprio corpo ou a 
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saúde (dirige a agressão contra si mesmo), mas com o fim de lesar a seguradora. 
 
Estelionato/Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro 
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo 
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: 
 
§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem: 
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava 
as consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro;

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