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TEORIA JURÍDICA DO DIREITO PENAL \u2013 PENAL I Prof. VITOR SOUZA 1 I - NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 1. CONCEITO DE DIREITO PENAL 1.1. Conceitos Formal e Sociológico: Sob uma perspectiva formal, é possível definir o direito penal como: \u201cum ramo do Direito Público, que, a partir das normas e princípios estabelecidos pelo Estado, determina as condutas que afrontam à vida, à liberdade, à segurança, ao patrimônio e a outros bens jurídicos reconhecidos como merecedores de tutela, e estabelece as correspondentes punições (penas privativas de liberdade, penas restritivas de direitos, multas, medidas de segurança) e o modo de execução das penas\u201d. \u201cÉ um conjunto de normas que qualificam certos comportamentos humanos como infrações penais, definindo seus agentes e fixando-lhes sanções aplicáveis\u201d. Já sob uma perspectiva sociológica, o Direito Penal \u201cé mais um instrumento (ao lado dos outros ramos do direito) de controle social de comportamentos desviados, visando à necessária disciplina social. Esse enforque sociológico atribui uma finalidade, uma função ao direito penal. Dentre as quais podemos destacar a função Retributiva; a função Preventiva e a função Ressocializadora Para o funcionalismo teleológico (Claus Roxin) a tarefa precípua do Direito Penal é a proteção de bens jurídicos fundamentais ao indivíduo e à sociedade. Ensina-nos Luiz Regis Prado (1997, p. 41) que: Os bens jurídicos têm como fundamento valores culturais que se baseiam em necessidades individuais. Essas se convertem em valores culturais quando são socialmente dominantes. E os valores culturais transformam-se em bens jurídicos quando a confiança em sua existência surge necessitada de proteção jurídica. 1.2. Direito Penal Objetivo e Direito Penal Subjetivo: são faces da mesma moeda. a) DIREITO PENAL OBJETIVO: é todo o conjunto de normas, inseridas ou não no Código Penal, mas que, de alguma forma, regule a matéria de direito penal. É próprio ordenamento jurídico penal; O sistema jurídico penal é composto pelas disciplinas de Direito Penal, de Direito Processual Penal e também pela Execução Penal, consubstanciada na Lei n. 7.210/84 (conhecida como LEP). Essas disciplinas são formadas por normas previstas na Constituição Federal, no Código Penal, no Código de Processo Penal, na Lei de Execução Penal e por Leis Especiais de natureza penal ou processual penal (legislação extravagante). São exemplos de Leis Especiais a Lei de Drogas (Lei n. 11.343/06), o Estatuto do Desarmamento (Lei n. 10.826/03), a Lei Maria da TEORIA JURÍDICA DO DIREITO PENAL \u2013 PENAL I Prof. VITOR SOUZA 2 Penha (Lei n.11.340/06), a Lei das Organizações Criminosas (Lei n. 12.850/13), a Lei dos Crimes Hediondos (Lei n. 8.072/90), etc. b) DIREITO PENAL SUBJETIVO: é o chamado ius puniendi do Estado, ou seja, o direito que o Estado tem (positivo) ou não (negativo) de punir aquele que viole a lei penal, em defesa da sociedade. EM REGRA, O PODER PUNITIVO É MONOPOLIZADO PELO ESTADO. - Exceção: Lei 6.001 \u2013 Estatuto do Índio. 2. FONTES DO DIREITO PENAL: As fontes indicam o lugar de origem, ou seja, de onde vêm as normas (Fonte Material), bem como indicam, também, como as mesmas se revelam (Fonte Formal). 2.1 - Fonte Material: Fonte de produção das normas penais. Art. 22, I, CF/88: atribuição privativa da União. Em regra, somente a União pode produzir normas penais, o que deve ser feito em conformidade com e com os Princípios Gerais do Direito. No entanto, excepcionalmente, lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas de Direito Penal. O texto constitucional destaca que, Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. 2.2. Fontes Formais: Forma pela qual o direito se nos apresenta. Trata-se da exteriorização do direito penal e lhe dar forma, e se dividem em Imediatas ou Diretas e Mediatas ou Indiretas. a) Imediatas ou diretas: É a lei, a qual será responsável pela criação do crime e a cominação da sanção correspondente. b) Mediatas ou Indiretas: Referem-se aos costumes, doutrina e jurisprudência. Ressalte-se que há doutrinadores que afirmam que os costumes são fontes de interpretação e não do Direito. OBSERVAÇÕES IMPORTANTES: 1) TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS (TIDH): - Com a EC Nr 45, os TIDH adquiriram o status de emenda constitucional, quando aprovadas pelo processo formal de aprovação da emenda constitucional. - Portanto, uma lei que afronte um TIDH aprovado segundo os requisitos do § 3º do art. 5º, CF/88, pode ser objeto de controle de constitucionalidade, tanto pela via difusa quanto pela via concentrada. - Os TIDH aprovados antes da EC Nr 45 e os supervenientes (posteriores) a ela, aprovados por quórum comum, segundo o entendimento atual do STF, têm status de norma supralegal, não sendo, pois, equiparados à emenda constitucional. 2) COSTUMES: comportamentos uniformes e constantes pela convicção de sua obrigatoriedade e necessidade jurídica. Não existe costume incriminador no ordenamento jurídico brasileiro; TEORIA JURÍDICA DO DIREITO PENAL \u2013 PENAL I Prof. VITOR SOUZA 3 - É possível dizer que um costume revoga uma lei? Existem três correntes. Vejamos: 1ª corrente: Sim. Ocorre quando o fato passa a ser tolerado socialmente pela sociedade, aplicando-se o princípio da adequação social; 2ª corrente: Não. Quando o fato passa a ser tolerado socialmente há uma revogação tão somente material da lei. 3ª corrente: Não. Enquanto tal disposição legal não for revogada por lei. - Uma lei só pode ser revogada por outra lei (LIDB). Enquanto não revogada a lei, tem sua aplicação e eficácia plenas. É A CORRENTE QUE PREVALECE. Portanto, não há que se falar em costume abolicionista (descriminalizador). 3. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL: O Direito Penal possui algumas características singulares que o distingue de outros ramos do direito. Características que são apresentadas normalmente através de princípios. Com base na lição do Professor Leonardo Galardo, de modo bem objetivo sintetiza algumas dessas características: 1) PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA: Indica ser o Direito Penal a última ratio (última opção), o que significa que o Direito Penal só deve ser utilizado para tutelar os bens jurídicos considerados \u201cos mais relevantes\u201d (seletividade) e quando os outros ramos do direito se mostrarem insuficientes para a solução de eventuais conflitos. Sendo assim, se, p.e, o direito civil ou tributários são capazes de proteger certos bens jurídicos, não há que acionar o Direito Penal, que só deve ser utilizado em último caso. 2) PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE: Se o Direito Penal deve proteger os bens Desdobramento do PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA. O Direito Penal não tutela todos os bens jurídicos que possuímos. Nem todas as ações, pois, ainda que contrárias à ordem jurídica, serão tipificadas como infrações penais. O Direito Penal tutela os bens jurídicos mais relevantes, isto é, fragmentos de nosso acervo jurídico social. - Ao proteger os bens jurídicos mais relevantes em todas as áreas de conhecimento, em todas as relações jurídicas, vê-se aí, também, seu caráter fragmentário. 3) PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE: Também decorre da Intervenção Mínima. O Direito Penal é subsidiário. Sendo assim, a instrumentalidade do Direito Penal só deve ser acionada quando os outros ramos do direito forem insuficientes