Buscar

35 - COLETÂNIA DE ARTIGOS SOBRE HISTÓRIA DO DIREITO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 336 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 336 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 336 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

COLETÂNIA DE ARTIGOS SOBRE 
HISTÓRIA DO DIREITO NO BRASIL. 
LEIS, ATOS E SENTENÇAS. 
 
 
PLANEJADO POR: EDSON SORRILHA FILHO - 
ALUNO DO 2º PERÍODO DO CURSO DE DIREITO 
DA UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ. 
 
 
CAPÍTULO I 
Apresentação – Crime e Castigo em Portugal e seu Império. 
Maria Fernanda Baptista Bicalho. 
 
CAPÍTULO II 
O Brasil Colônia. 
 
CAPÍTULO III 
O Brasil Império. 
3.1 – Independência ou Morte; 
3.2 – Constituição de 1824; 
3.3 – Quem é Quem na Regência; 
3.4 – O País do Café; 
3.5 – Voluntários da Pátria; 
3.6 – Insatisfação na Caserna; 
3.7 – Movimentos que Levaram a Queda da Monarquia; 
 3.7.1 – Partido Republicano; 
 3.7.2 – Conspiração. 
3.8 – O Conflito. 
 3.8.1 - O Conflito. 
 
CAPÍTULO IV 
O Brasil República. 
4.1 – A República Velha; 
 4.1.1 – Presidência Civil; 
 4.1.2 – Política dos Governadores; 
 4.1.3 – Política do Café-com-Leite; 
 4.1.2 – Divisões; 
 4.1.5 – Aliança Liberal. 
4.2 – A Revolta Armada. 
 
CAPÍTULO V 
Constituições, Códigos e Atos. 
5.1 – Constituição de 1824; 
5.2 – Código Criminal de 1930; 
5.3 – Constituição de 1891; 
5.4 – Constituição de 1934; 
5.5 – Constituição de 1937; 
5.6 – Constituição de 1946; 
5.7 – Ato Institucional Nº 2 de 1965; 
5.8 – Constituição de 1967. 
 
CAPÍTULO VI – DOCUMENTO COMPLEMENTAR 
A Sentença de Tiradentes 
 
CAPÍTULO I 
 
APRESENTAÇÃO – CRIME E CASTIGO EM PORTUGAL E SEU IMPÉRIO 
 Maria Fernanda Baptista Bicalho. 
 
 
 
 
Se Abrirmos o Livro das Ordenações Filipinas – publicado na coleção Retratos do 
Brasil, sob a cuidadosa organização de Silvia Hunold Lara – deparamo-nos com o desafio de 
um grande deslocamento. Deslocamento no tempo, nos princípios que regiram as condutas, 
as formas de pensar, de se inserir e de representar o mundo; deslocamento para um passado 
que, embora distante e profundamente distinto, tem sido largamente evocado, entre 
banalizações ingênuas e apropriações indébitas, nesta onda febril das “Comemorações dos 
500 anos dos Descobrimentos”. 
 
A Introdução, cronologia e notas organizadas por Sílvia Hunold Lara nos guiam de 
forma reveladora e segura na interpretação do texto, na atribuição de sentido às palavras, às 
representações e às práticas, na compreensão dos mecanismos sobre os quais se 
fundamentavam a justiça régia, a legislação, o Direito e as instituições jurídicas portuguesas – 
no reino e em suas conquistas ultramarinas. Desafiam-nos a inteligência da própria história, a 
faculdade de aprender, de apreender ou compreender a estranha lógica do exercício da justiça 
e do Poder nas sociedades no Antigo Regime. 
 
Entre 1583 e 1585, nos tempos de União Ibérica, iniciou-se uma terceira compilação 
das leis civis, fiscais, administrativas, militares e penais portuguesas, ampliando as anteriores 
Ordenações Manuelinas, incorporando algumas novidades jurídicas e administrativas, a 
criação de tribunais de justiça – como a Relação do Porto e a Casa de Suplicação – E a 
outorga de um novo regimento para o desembargo do Paço. Sob o título Ordenações e leis do 
reino de Portugal, recopiladas por mandado do muito alto, católico e poderoso rei dom Filipe, 
o primeiro,foram promulgadas em 1603, já sob o reinado de Felipe II. Constituíram, a partir 
de então, o corpo legal de referência para Portugal e suas colônias – no caso do Brasil 
vigoraram, a grosso modo, até 1830. 
 
Compõem-se de cinco livros. O primeiro versa sobre as atribuições, direitos e deveres 
dos magistrados e oficiais da justiça. O segundo define as relações entre o Estado e a Igreja, 
os privilégios dos eclesiásticos e da nobreza, assim como os direitos e isenções fiscais de 
ambos. O terceiro trata das ações cíveis e criminais. O quarto legisla sobre o direito privado e 
individual – isto é, das coisas e pessoas - , estabelecendo regras para contratos, testamentos, 
tutelas, formas de distribuição e aforamento de terras. O Último e quinto livro – de que se 
trata aqui – é dedicado ao direito penal, estipulando os crimes e sua respectivas penas . 
 
Ao abri-lo, podemos ler aleatoriamente: “Estabelecemos que toda pessoa, de qualquer 
qualidade ou condição que seja que...[fizer] alguma feitiçaria, morra morte natural...”; 
“qualquer que abrir... carta assinadas por... [El-Rei], em que se contenham coisas de 
segredo... que morra por isso...”; “toda pessoa... que pecado de sodomia por qualquer maneira 
cometer, seja queimada e feito por fogo em pó...”; e “qualquer cristão que tiver ajuntamento 
carnal com alguma moura ou qualquer outra infiel... morra por isso...”. Da mesma forma, 
“todo homem, de qualquer qualidade e condição que seja, que entrar em mosteiro de freiras 
de religião aprovada... morra por isso morte natural...”; “qualquer homem que dormir com 
sua filha ou qualquer outra sua ascendente, sejam queimados e ela também, e ambos feitos 
por fogo em pó..”;“qualquer pessoa que matar outra ou mandar matar, morra por isso morte 
natural...”; e “o escravo... que matar seu senhor ou filho de sei senhor, seja atenazado e lhe 
sejam decepadas as mãos, e morra morte natural na forca para sempre...”. 
 
O espectro das “mil mortes” recai ainda sobre aqueles que se levantam ou se rebelam 
perante as justiças; os que cometem crime de lesa-majestade; os que falsificam moedas ou 
selo d‟El-Rei; os que fabricam escrituras falsas; os que proferem falso testemunho; os que 
corrompem mercadorias e alteram pesos e medidas; os ladrões, os bígamos, os adúlteros, os 
alcoviteiros, e muitos outros. 
 
Qual o significado de tanto rigor? Segundo Sílvia Lara, “não se trata simplesmente de 
matar os criminosos, mas de relacionar a gravidade de sua falta ao rigor da punição, fazer 
com que o sofrimento do condenado inspire temor e sirva de exemplo, expirando suas culpas 
e restaurando o poder real violado pelo crime em toda a sua força e plenitude.” Restaurar o 
poder real em toda a sua força e plenitude significa restaurar a função do soberano de 
representante da justiça, de árbitro dos conflitos sociais, de garante dos equilíbrios existentes. 
A época moderna conheceu o alargamento da administração ativa da coroa em última 
instância do rei. Árbitro supremo no campo da justiça fundava-se nesta arbitragem a 
exclusividade régia de estabelecer lei geral para todo o reino, assim como prerrogativa de 
criar magistrados e de vigiar o cumprimento de suas atribuições. As ordenações são preciosos 
testemunhos do poder de intromissão e de regulamentação por parte da Coroa nas menores 
esferas e nas mais insólitas condutas e comportamentos dos súditos. 
 
Paradoxalmente, no entanto, de acordo com a visão corporativa da sociedade que 
vigorava na época, o rei era visto como a cabeça do reino, o que apontava para uma 
concepção de certa forma limitada do poder régio: tão monstruoso como um corpo que se 
reduzisse à cabeça, seria uma sociedade em que o poder estivesse inteiramente concentrado 
no soberano. Nesse sentido, longe da concentração total e absoluta na figura do rei, o poder 
era, por natureza, repartido. Essa partilha deveria se traduzir na autonomia político-jurídico 
dos magistrados e das instituições, cabendo ao monarca representar a unidade do corpo, 
mantendo seu equilíbrio, atribuindo a cada um aquilo que lhe era próprio, garantido os 
estatutos, foros, direitos e privilégios estabelecidos na sociedade. Era Corrente a idéia de que 
“o rei exerce um „ofício‟, cujo fim é o bem comum, e que consiste na justiça e na governança 
segundo o direito, respeitando os foros das comunidades.” 
 
Sem dúvida, a sistematização das leis representada pelas Ordenações, longe de 
significar uma estratégia de imposição de limites ao poder monárquico – como nos poderiam 
sugerir as Constituições escritas na monarquias constitucionais – correspondiaantes a um 
processo de afirmação do poder real. Embora tal afirmação não tenha se dado de forma eficaz 
e imediata sobre todo o território do Reino e seus domínios ultramarinos, havia, de fato, por 
parte da Coroa, uma vontade neste sentido 
 
O próprio monarca carecia de instrumentos imediatos para uma brusca imposição de 
seu poder, pelo menos ao longo dos séculos XVI e XVII. Faltavam-lhe os meios 
institucionais, os meios humanos, o domínio efetivo do espaço e inclusive, o monopólio dos 
próprios aparelhos de justiça. 
 
Para obter este monopólio era necessário enfrentar, ou submeter, dois ou três pólos 
concorrentes no seu exercício: o comunitarismo da justiças populares, baseadas nos usos e 
costumes das terras, e o corporativismo dos juristas; além, é claro, das formas de justiça 
senhorial. 
 
Um sensível contraponto às decisões centralizadoras ou arbitrárias do rei era 
personificado nos Conselhos ou Tribunais. A consulta aos seus membros, juristas e letrados, 
era tida como indispensável à perfeição dos atos do monarca. Essa sistemática de governar 
por meio de consultas – daí a centralidade e a importância das consultas do Conselho 
Ultramarino na administração do Império – garantia a expressão de um ponto de vista 
“técnico” – e não despótico -, reafirmando o caráter corporativo do governo, re-atualizando a 
imagem do rei como arbítrio e harmonia dos demais membros ou instituições do corpo 
político, mas de maneira nenhuma usurpador de suas funções. 
 
Da mesma forma, para impor o seu poder a outros pólos políticos concorrentes, como 
as comunidades, o rei procurou criar novos dispositivos jurídicos e institucionais, ou seja, 
construir espaços de produção de poder nos quais a sua posição fosse mais favorável no 
sentido de estruturar seu próprio campo de ação. As ordenações certamente construíram um 
destes dispositivos. Mas não só. Como afirma Silvia Lara, “na administração do império 
português, por exemplo, a estrutura judicial confunda-se, na maior parte das vezes, com a 
burocracia colonial.” 
 
No Campo da Justiça, a administração régia apoiava-se, nas localidades, nos juízes de 
fora, personagens praticamente desconhecidos durante a Idade Média. A multiplicação do 
cargo de juiz de fora em Portugal logo após a Restauração – e nas conquistas ultramarinas em 
fins do século XVII – significou um instrumento que possibilitou a circulação do direito 
letrado e régio e dos padrões oficiais do julgamento, promovendo a desqualificação do 
sistema de justiça local, fundado em leis consuetudinárias, baseado nos usos e costumes da 
terra. O fato de a eles caber a presidência da Câmara municipal – substituindo o antigo juiz 
ordinário eleito pela comunidade – tornava-os instrumentos indispensáveis ao processo de 
centralização e de imposição da hegemonia legal e, portanto, monárquica, nos mais remotos 
confins do território luso e de seu ultramar. 
 
A vontade ou a necessidade dessa imposição não era, no entanto, uma via de mão 
única, nem sempre correspondendo a uma iniciativa exclusivamente do governo central, 
partindo muitas vezes das próprias autoridades locais. Isso decoraria do crescente prestígio da 
justiça real e da visão de mundo acerca da função arbitral da Coroa, a que se recorria para 
resolver conflitos domésticos entre facções rivais no seio da comunidade, ou entre seus 
representantes e os próprios agentes do poder central. Polêmicos e abundantemente tratados 
pela historiografia são os inúmeros conflitos de jurisdição na administração colonial, dando 
azo a que muitas vezes os historiadores os interpretem como reflexo da falta de regra e de 
norma da política portuguesa transplantada para os trópicos. Um deslocamento deste olhar, de 
forma mais atenta aos valores e às normas do Antigo Regime, poderia levar-nos a concluir 
que, disputando jurisdições más definidas, os administradores no ultramar eram obrigados a 
recorrer à arbitragem régia, legitimando e tornando diurnamente presente o poder real 
naqueles longínquos domínios. Voltando às Ordenações, embora elas prescrevessem a pena 
de morte para um grande número de crimes, estudos recentes tendem à conclusão de que, em 
termos estatísticos, ela foi menos usada em Portugal do que se poderia imaginar diante do 
rigorismo da lei escrita. Assim, através de uma relação dos presos da cadeia da cidade de 
Lisboa ao longo de dois anos, entre 1694 e 1696, o historiador português António Manuel 
Hespanha avalia as medidas penais aplicadas a cerca de 300 criminosos. A pena capital foi 
usada em apenas três casos, todos de homicídio. Outros crimes para os quais ela era prevista 
obtiveram penas relativamente mais leves, como a de degredo. Este foi imposto a um 
renegado e traidor, a um falsificador de moedas, a um salteador de estrada, a vários outros 
homicidas, a todos os condenados como ladrões, adúlteros, sodomitas, raptores, violadores, 
etc. 
 
Outro aspecto importante que o autor apresenta – agora em termos diacrônicos – 
consiste no aumento efetivo, ao longo dos setecentos, das execuções correspondentes à 
savalguarda da ordem política e dos bens “públicos” – crimes políticos, religiosos e morais - , 
em contraposição às ofensas aos valores particulares ou aos bens “privados”, como a vida, a 
honra, patrimônio. Em outras palavras, o aumento em termos quantitativos da punição capital 
aos atentados de cunho político e aos valores públicos demonstra, ao fim e ao cabo, a 
afirmação do poder régio no campo não só da justiça, como também da ordem social e 
política na segunda metade do século XVIII em Portugal. O auge deste processo 
correspondeu ao advento do despotismo esclarecido do Marquês de Pombal, período no qual 
amiudaram-se consideravelmente os casos de punição exemplar e recurso à pena capital, 
como demonstram as execuções dos implicados no atentado contra a vida de d. José, do 
Padre Malagrida, de alguns sediciosos no Reino e nas colônias, dentre outros. 
 
Um terceiro ponto – e um dos mais interessantes – apontados por Silvia Lara na 
Introdução ao Livro V das Ordenações, é o da estratégia dual do direito penal do Antigo 
Regime, da alquimia entre temor e amor na legitimação do poder do monarca. Em suas 
próprias palavras, “infundindo respeito e temor, o castigo devia ser exemplar: a inscrição da 
vontade do soberano o corpo do condenado era também uma pedagogia de domínio, lição 
também aprendida por todos os que presenciavam o espetáculo penal. No mesmo registro, a 
comutação das penas e o perdão concedido pelo monarca podiam ser usados com relativa 
freqüência a fim de que rigor e mercê se temperassem, construindo uma imagem paternal do 
soberano absoluto.” 
 
Se por um lado o rei era visto como dispensador de castigo – daí a utilização da 
denominação de “justiceiro”, “cruel”, “terrível” -, por outro, sua imagem também se esculpia 
na concessão do perdão ou, mais propriamente, no exercício da graça; perdão e graça vistos 
como regalias. Desta forma, a clemência – como qualidade essencial dos reis – constituía-se 
na outra face de intervenção da Coroa no processo de legitimação de seu poder. Consolidava-
se, portanto a imagem do rei como pai ou pastor dos súditos, a quem se deviam amar, talvez 
mais do que temer. 
 
Segundo António Manuel Hespanha, “a mesma mão que ameaçava os castigos impiedosos, 
prodigalizava, chegando o momento, as medidas de graça. Por essa dialética do terror e da 
clemência, o rei constituía-se, ao mesmo tempo, em senhor da Justiça e mediador da Graça. 
Se investia no temor, não investia menos no amor”. 
 
Castigo e misericórdia: ambas estratégicas de afirmação do poder real. Remetendo-se 
à sentença proferida para os réus da Inconfidência – e à condenação de Tiradentes à forca, 
para que nela morresse“morte natural para sempre” – Sílvia Lara enfatiza a comutação da 
pena de morte em degredo perpétuo para a África dos outros onze condenados. O episódio 
evoca o ritual das “mil mortes” em toda a sua plenitude: “tanto a clemência da rainha para 
com os outros onze condenados à morte como a execução exemplar de um único réu constitui 
faces do mesmo ritual de afirmação da glória “soberana”. A graça era, portanto, um dos 
componentes da justiça régia, um dom que dependia da liberalidade do rei – ou da rainha. 
 
 Assim sendo, a realização da Justiça – principal função dos reis nas sociedades do 
Antigo Regime – exigia uma estratégia plural, que ao lado das punições, dos castigos e das 
penas, prescrevia o perdão, a graça, o prêmio, a mercê, o dom. Em punir e agraciar – assim 
como em conhecer a posição, os méritos, os serviços e fazer mercê aos súditos – dividiam-se 
as estratégias de afirmação do poder real. Este apresentava-se de formas múltiplas, impondo-
se a uma sociedade baseada em múltiplas hierarquias. 
O Livro V das Ordenações – oportunamente reeditado com a criteriosa análise de 
Silvia Hunold Lara – vem nos desvendar um dos caminhos de apreensão daquela sociedade, 
através do emaranhado de seus crimes e castigos. Esperamos sinceramente que outras obras 
da mesma importância ou do mesmo porte sejam também editadas, e tão bem comentadas. 
Só assim o desafio de compreensão do passado poderá se transmutar no desafio muito 
maior de construção do futuro. 
CAPÍTULO II 
 
O BRASIL COLÔNIA 
 
 
 
 
1494 – O Tratado de Tordesilhas, acordo assinado por Portugal e Espanha, divide o mundo a 
partir de um meridiano 370 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde. Essa linha passa na 
altura das atuais cidades de Belém (PA) e Laguna (SC). Portugal fica com as terras a leste e a 
Espanha, com as terras a oeste. Dessa forma, os dois países estabelecem os limites dos 
territórios descobertos durante a expansão marítima. 
 
1500 – Duas expedições espanholas passam pelo Nordeste brasileiro a caminho da América 
Central. Não há confirmação de que tenham aportado no território. A primeira, chefiada por 
Vicente Yañez Pinzón, aproxima-se do Ceará em janeiro; a segunda, chefiada por Diego de 
Lepe, cruza o litoral entre o Rio Grande do Norte e Pernambuco no mês seguinte. Pedro 
Álvares Cabral e sua esquadra chegam ao litoral sul da Bahia em 22 de abril. É o 
descobrimento do Brasil. O desembarque acontece no dia seguinte, e, em 26 de abril, é 
celebrada a primeira missa no território encontrado. Até hoje não foram encontrados 
documentos que permitam saber, com certeza, se a descoberta foi intencional ou acidental. 
Mas Portugal sabia da existência de terras a oeste desde a chegada de Colombo à América e 
já havia garantido parte delas pelo Tratado de Tordesilhas. E seus navegadores conheciam 
bem as correntes marítimas do Atlântico Sul. Com a chegada de Cabral, o país toma posse 
oficialmente das novas terras. 
 
1501 – Uma frota de três navios é enviada por Portugal para explorar sua nova terra. Américo 
Vespúcio é um dos integrantes do grupo e faz anotações importantes da viagem. A expedição 
margeia a costa brasileira do Rio Grande do Norte até a altura de Cananéia (SP) e dá nome 
aos acidentes geográficos litorâneos. Durante essa viagem Vespúcio constata que a terra 
descoberta não é uma ilha, e sim parte de um grande continente. A expedição verifica 
também a abundância de pau-brasil, madeira valorizada na Europa pelo uso na preparação de 
pigmentos para tingimento de tecidos, pintura em tela e desenho em papel. 
 
Os santos e o litoral do Brasil – Em 1º de novembro, Dia de Todos os Santos para a 
Igreja Católica, a expedição exploratória atinge uma linda baía que recebe o nome de Baía de 
Todos os Santos. No primeiro dia de janeiro de 1502, avistam o que imaginam ser a foz de 
um grande rio, nomeado Rio de Janeiro. No Dia de Reis, 6 de janeiro, batizam Angra dos 
Reis. Embora não haja consenso entre os historiadores, é provável que os primeiros nomes 
dados pelos portugueses às localidades brasileiras tenham sido tirados do calendário 
religioso, com os acidentes geográficos importantes associados ao santo do dia. 
 
1502 – O rei dom Manuel concede a um grupo de comerciantes liderados por Fernão de 
Noronha o direito de exploração do pau-brasil na terra então chamada de Santa Cruz. No ano 
seguinte é feita a primeira viagem para a extração da madeira. Os resultados são tão bons que 
levam à concessão de uma ilha a Fernão de Noronha, em 1504, no arquipélago que ele 
descobriu e que hoje tem seu nome. É a primeira capitania hereditária brasileira. 
 
 
 
 
 
 
 
A riqueza do pau-brasil – Embora não atraia o mesmo interesse que o comércio com a 
Índia, o pau-brasil é explorado pelos portugueses com grande lucro e transforma-se na 
primeira atividade econômica importante da nova terra. As árvores são cortadas por índios 
em troca de objetos de metal, como facas, machados e anzóis, ou de tecidos, enfeites e 
espelhos. À medida que a madeira vai escasseando no litoral, torna-se ainda maior a 
participação indígena na localização e na derrubada do pau-brasil no interior. Há também 
muito contrabando de toras, feito principalmente por franceses, que não reconhecem os 
tratados de partilha dos novos territórios. 
 
1530 – Martim Afonso de Souza comanda a primeira expedição de colonização das terras 
brasileiras. Além de conceder terras para a exploração, ele patrulha a costa para impedir o 
contrabando de pau-brasil por franceses. Ele instala um engenho de açúcar, e funda São 
Vicente em 1532, a primeira vila da colônia, no atual estado de São Paulo. 
 
1534 – O rei dom João III cria as capitanias hereditárias, ao dividir a colônia em 14 largas 
faixas de terra, e as entrega a nobres e fidalgos do reino, os capitães donatários, para explorá-
las com recursos próprios e governá-las em nome da Coroa. A capitania de Fernão de 
Noronha já havia sido doada pelo rei dom Manuel em 1504. Em troca do compromisso com o 
povoamento, a defesa, a exploração das riquezas naturais e a propagação da fé católica, o rei 
atribui aos donatários inúmeros direitos e isenções. As capitanias conseguem 
desenvolvimento pequeno pela falta de verbas ou por desinteresse dos donatários, mas 
contribuem para manter mais afastados os estrangeiros. 
 
1548 – Nomeado pelo rei dom João III, Tomé de Sousa assume o primeiro governo geral do 
Brasil. A nova forma de administração permite maior centralização. Isso faz com que muitos 
donatários e colonos vejam a nomeação do governador como ingerência indevida nas 
capitanias. Surgem conflitos entre o poder real e o local em questões como escravização 
indígena, cobrança de taxas e ações militares. Essa forma de governo dura até a vinda da 
família real para o Brasil, em 1808. 
 
Escravidão indígena e africana – Enquanto os portugueses se limitam a explorar o 
pau-brasil, conseguem alguma cooperação dos índios, acostumados à derrubada de árvores 
nas matas. A dificuldade de conseguir mão-de-obra, no entanto, aumenta quando surgem as 
primeiras plantações. Os colonizadores buscam resolver o problema escravizando os 
indígenas, sem maiores resultados, já que eles não se adaptam e resistem ao trabalho na 
lavoura, considerado pela sociedade nativa uma ocupação feminina. Também não estão 
acostumados a rotinas intensivas, e seu conhecimento da terra facilita as fugas. Como são 
muito suscetíveis às doenças trazidas pelos europeus, para as quais não têm resistência, 
morrem em grande número nas constantes epidemias. Assim, no decorrer do século XVI, os 
escravos africanos, vendidos em escala crescente por traficantes portugueses, vão se tornar a 
massa trabalhadora mais significativana economia colonial, especialmente nas ricas regiões 
produtoras de açúcar do Nordeste. 
 
1549 – É fundada, na Bahia, a cidade de Salvador, por Tomé de Sousa, para servir de sede do 
governo. O lugar é escolhido tanto em razão da localização marítima protegida como das 
condições naturais do Recôncavo, favoráveis ao cultivo da cana-de-açúcar. 
 
Junto com Tomé de Souza chegam os primeiros jesuítas da Companhia de Jesus. 
Chefiados pelo padre Manoel da Nóbrega, dedicam-se à catequese dos indígenas e à 
educação dos colonos. Entre os séculos XVI e XVIII constroem igrejas e fundam colégios. 
Na região das bacias dos rios Paraná, Paraguai e Uruguai, como também na Amazônia, eles 
instalam as missões, aldeamentos onde buscam cristianizar os índios e preservá-los da 
escravidão. 
 
1553 – Duarte da Costa substitui Tomé de Sousa no governo geral. O segundo governador 
envolve-se em conflitos entre donatários e jesuítas em torno da escravização indígena. 
Termina incompatibilizando-se com as autoridades locais e é obrigado a retornar a Portugal 
em1557. 
 
1555 – A França não aceita a partilha das terras americanas feita pelo Tratado de Tordesilhas 
e defende o direito de posse a quem ocupá-las. A primeira invasão francesa do território 
brasileiro acontece na ilha de Serigipe (atual Villegaignon), na Baía de Guanabara. Os 
franceses instalam uma comunidade chamada França Antártica, destinada a abrigar 
protestantes calvinistas fugidos das guerras religiosas na Europa. Sua principal atividade 
econômica era a troca de mercadorias baratas por pau-brasil, feita com os indígenas da 
região. Eles constroem um forte e resistem por mais de dez anos aos ataques dos 
portugueses. 
 
1557 – É nomeado o terceiro governador, Mem de Sá. Com a ajuda dos jesuítas Manoel da 
Nóbrega e José de Anchieta, ele neutraliza a aliança entre índios tamoios e franceses. Em 
1565, junto com o sobrinho Estácio de Sá, expulsa os invasores franceses da Baía de 
Guanabara. No mesmo ano, em 1º de março, Estácio de Sá funda a cidade de São Sebastião 
do Rio de Janeiro. O desempenho eficiente de Mem de Sá contribui para firmar a posição do 
governo geral na vida colonial, e ele permanece no posto até a morte, em 1572. 
 
1562 – Tem início na Bahia uma epidemia de varíola mortal para milhares de indígenas da 
região de Salvador. Muitos dos sobreviventes fogem para o interior, e os colonos portugueses 
ficam sem mão-de-obra nas plantações. 
 
1568 – É oficializado pelo governador Salvador Correa de Sá o tráfico de escravos africanos. 
Cada senhor de engenho de açúcar fica autorizado a comprar até 120 escravos por ano. Eles 
substituem nas grandes plantações os indígenas,onsiderados ineficientes para o trabalho 
agrícola. Com isso fica garantido um custo competitivo dos produtos para o mercado externo. 
O próprio tráfico torna-se um negócio lucrativo para os portugueses. 
 
O ciclo da cana-de-açúcar – O mercado europeu estava ávido por açúcar no século 
XVI. Com solo apropriado para o cultivo de cana-de-açúcar e facilidade para comprar 
escravos, Pernambuco e Bahia passam a ser o centro da cultura canavieira, que atinge o 
apogeu entre 1570 e 1650. Grandes investimentos são feitos em terras, equipamentos e mão-
de-obra, o que transforma os engenhos em unidades de produção completas e bastante auto-
suficientes. Estimativas do final do século XVII indicam a existência de 528 engenhos na 
colônia, que exportam anualmente 37 mil caixas de 35 arrobas de açúcar (cada arroba 
equivale a 15 quilos). Esse mercado só é abalado na segunda metade do século XVII, quando 
os holandeses começam a produzir açúcar em grande escala nas Antilhas. 
1572 – O governo geral fica dividido entre as cidades de Salvador e Rio de Janeiro. Em 1578 
volta a ser unificado na Bahia. 
 
1578 – Dom Sebastião, rei de Portugal, morre na Batalha de Alcácer-Quibir sem deixar 
herdeiro. Ele participava da cruzada que buscava conquistar Marrocos do domínio mouro. 
Nasce, então, o sebastianismo – lenda segundo a qual o rei teria partido para o fundo do mar e 
voltaria para assumir novamente o governo do reino. Ainda hoje, em comunidades pobres do 
interior do Brasil, existe a espera pelo rei que regressará. 
 
 
 
 
 
1580 – Morre o cardeal dom Henrique, tio de dom Sebastião, que havia assumido o governo 
de Portugal. Felipe II, que reinava sobre a Espanha, o Sacro Império Romano-Germânico e 
Holanda e era também ligado por parentesco à casa real portuguesa, impõe-se como o novo 
rei de Portugal. O Tratado da União Ibérica entre a Coroa portuguesa e a espanhola vigora até 
1640 e significa uma espécie de anexação de Portugal pela Espanha. Com essa união, países 
como França, Inglaterra e Holanda, inimigos da Espanha, tornam-se igualmente inimigos de 
Portugal. Mesmo que a princípio as colônias que pertenciam a Portugal continuassem 
governadas a partir de Lisboa e as espanholas, de Madri, fica facilitada a penetração 
portuguesa além dos limites do Tratado de Tordesilhas. 
 
1594 – Os franceses Jacques Riffault e Charles Vaux instalam-se no Maranhão depois de 
naufragar na costa da região. O governo francês os apóia e incentiva a criação de uma colônia 
no território, a França Equinocial. Em 1612, uma expedição chefiada por Daniel de la Touche 
desembarca no Brasil com centenas de colonos. Eles constroem igrejas, casas e o Forte de 
São Luís, origem da cidade de São Luís do Maranhão. Os invasores franceses são expulsos 
em 1615 por tropas comandadas por Jerônimo de Albuquerque. 
 
1621 – O território brasileiro é dividido em dois Estados: o do Brasil, com sede em Salvador, 
e o do Maranhão, com sede em São Luís do Maranhão. O objetivo é melhorar a defesa militar 
da Região Norte e estimular a economia e o comércio regional com a metrópole. 
 
 O governo da Holanda e investidores privados formam a Companhia Holandesa das 
Índias Ocidentais, misto de empresa comercial, militar e colonizadora, para ocupar as terras 
canavieiras, controlar a produção dos engenhos e recuperar seus negócios na América e na 
África, afetados pela União Ibérica. Rivais dos espanhóis, os holandeses haviam sido 
proibidos de aportar em terras portuguesas e tinham perdido privilégios no comércio de 
açúcar do Nordeste do Brasil. 
 
1624 – Ocorre a invasão de Salvador por uma frota da Companhia Holandesa das Índias 
Ocidentais. No ano seguinte, forças luso-espanholas derrotam os holandeses. Em 1627 é feita 
nova tentativa, frustrada, contra Salvador. 
 
1630 – Tem início a mais duradoura invasão holandesa no Brasil, desta vez em Pernambuco. 
Uma esquadra de 56 navios chega ao litoral da região, e Olinda e Recife são ocupadas. A 
resistência da população, organizada pelo governador da capitania, Matias de Albuquerque, 
em torno do Arraial do Bom Jesus de Porto Calvo (Alagoas), dificulta a consolidação da 
conquista holandesa. A partir de 1632, com a ajuda do pernambucano Domingos Fernandes 
Calabar, os estrangeiros avançam contra as fortalezas do litoral e os redutos de resistência do 
interior. Matias de Albuquerque retira-se para a Bahia em 1635. 
 
1637 – Os holandeses tomam, em Angola, os mais importantes portos de saída de escravos 
africanos para o Brasil. Assim, os donos dos engenhos brasileiros passam a depender dos 
holandeses para a obtenção de mão-de-obra. 
 
Para administrar o domínio holandês no Brasil, chega a Pernambuco João Maurício de 
Nassau. Tolerante nos campos político e religioso, Nassau estimula os engenhos e as 
plantações. Urbaniza o Recife e assegura a liberdade de culto. É responsável pela vinda de 
cientistas e artistas, como os pintores Frans Post e Albert Eckhout, que retratam o cotidiano 
brasileiro. Em sua administração, a dominação estende-sesobre toda a região entre o Ceará e 
o rio São Francisco. Nassau volta para a Europa em 1644. 
 
 
 
1640 – Os jesuítas são expulsos de São Paulo. Com isso aumentam as expedições para 
aprisionar índios feitas por bandeirantes, que, em sua maioria, também têm sangue indígena. 
A escravização desses índios ajuda a superar a dificuldade em obter mão-de-obra, que 
acontece em razão de o controle temporário do tráfico de escravos africanos estar nas mãos 
dos holandeses. Em 1653 os jesuítas voltam para São Paulo. 
 
O duque de Bragança é aclamado rei de Portugal como dom João IV. Mas os 
espanhóis não aceitam o fim da União Ibérica e a restauração do trono português sob a 
dinastia dos Bragança, e, no ano seguinte, Portugal e Espanha entram em guerra. O rei dom 
João IV pede ajuda à Inglaterra e à Holanda, tradicionais adversários da Espanha. Assim, 
Portugal assina com a Holanda – que então ocupava terras no Brasil – um armistício válido 
por dez anos. O apoio da Inglaterra na guerra contra a Espanha é decisivo para que Portugal 
conquiste definitivamente a independência, mas os conflitos entre os dois reinos estendem-se 
por mais de 15 anos. 
 
1641 – Inicia-se a invasão holandesa no Maranhão, que perdura até 1644, quando os 
holandeses são expulsos pelos portugueses. Essa invasão foi ordenada por Maurício de 
Nassau, que procura consolidar as posições holandesas no país antes que o armistício entre 
Holanda e Portugal fosse amplamente divulgado no Brasil. 
 
1645-1654 – Após a volta de Maurício de Nassau à Holanda, os proprietários de terras de 
Pernambuco passam a ter mais dificuldade em conseguir crédito na Companhia Holandesa 
das Índias Ocidentais. Os latifundiários dão início à Insurreição Pernambucana com o 
objetivo de expulsar os holandeses. No começo, Portugal não dá nenhum auxílio, interessado 
em garantir o apoio da Holanda para enfrentar a Espanha na luta pelo fim da União Ibérica. 
Em 1648 e 1649, forças militares do Maranhão e do governo geral da Bahia derrotam os 
holandeses na Batalha dos Guararapes. A insurreição só acaba quando os holandeses, 
enfraquecidos após uma guerra contra a Inglaterra (1652), se retiram da região, em 1654. A 
soberania portuguesa sobre a vila do Recife é reconhecida pela Holanda no Tratado de Paz de 
Haia, de 1661. Para que desistam das terras coloniais, Portugal paga aos holandeses uma 
grande indenização. 
 
1649 – Portugal cria a Companhia Geral de Comércio do Brasil para auxiliar a resistência 
pernambucana às invasões holandesas e facilitar a recuperação da agricultura canavieira do 
Nordeste depois dos conflitos. Sua principal atribuição é fornecer escravos e equipamentos 
aos colonos e garantir o transporte do açúcar para a Europa. 
 
1654 – Em troca do apoio recebido na guerra contra a Espanha, Portugal promove a abertura 
de mercados aos ingleses. No Brasil ficam excluídos apenas os produtos sob monopólio da 
Coroa: pau-brasil, bacalhau, farinha de trigo, vinho e azeite. 
1682 – Portugal funda a Companhia de Comércio do Maranhão, para estimular a agricultura 
de cana-de-açúcar e de algodão por meio de fornecimento de crédito, transporte e escravos. 
 
1684 – Proprietários rurais, liderados pelos irmãos Manuel e Tomás Beckman, revoltam-se 
contra a Companhia de Comércio do Maranhão, que não cumpre a função de fornecer 
escravos, utensílios e equipamentos. São contrários também às posições dos jesuítas, que 
impedem a escravização indígena. É a chamada Revolta dos Beckman. A metrópole 
intervém, Manuel Beckman é executado junto com Jorge Sampaio, outro participante da 
revolta, e os demais líderes são condenados à prisão perpétua. 
 
 
 
 
1694 – Após resistir por várias décadas a constantes investidas e aos grandes ataques, de 
1687 a 1694, o Quilombo dos Palmares é destruído em fevereiro por tropas de proprietários 
pernambucanos, chefiados por Bernardo Vieira de Melo, e do bandeirante paulista Domingos 
Jorge Velho. Palmares foi o mais importante quilombo do período colonial e durou quase um 
século. Sua população teria alcançado um número estimado entre 6 mil e 20 mil pessoas, 
distribuídas numa área de 150 quilômetros de comprimento e 50 quilômetros de largura, 
localizada entre Pernambuco e Alagoas. O último líder, Zumbi, sobrevive à destruição do 
quilombo, mas é morto no ano seguinte. Torna-se o principal símbolo da resistência negra à 
escravidão. 
 
1694 – O governo da metrópole garante aos descobridores de ouro e prata a posse das minas. 
Até então elas eram procuradas e exploradas de forma sigilosa para que não fossem 
confiscadas pela Coroa. A nova regra é seguida pela exploração de inúmeras áreas de 
mineração na atual região de Minas Gerais. 
 
O ouro nas Minas Gerais – No final do século XVII e início do XVIII são descobertas 
ricas jazidas de ouro nos atuais estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso que atraem 
portugueses e aventureiros da metrópole e de todas as partes da colônia.Muitos trazem 
escravos. A Coroa autoriza a livre exportação de ouro, tributado no valor de um quinto da 
produção, e é instituída a Intendência de Minas, para fiscalizar a atividade mineradora. Era 
permitido a alguns escravos conservar parte do ouro descoberto para comprar sua liberdade. 
O período de maior produção ocorre entre 1735 e 1754, quando a exportação anual chega à 
média de 14,5 mil quilos. A exploração de diamante cresce por volta de 1729, nas vilas de 
Diamantina e Serra do Frio, no norte de Minas Gerais. Em 1734 é criado o Distrito 
Diamantino, com uma intendência para administrar as lavras. 
 
1708-1709 – Acontece a Guerra dos Emboabas, entre mineradores paulistas, de um lado, e 
portugueses e brasileiros de outras regiões de outro. Estes últimos eram chamados de 
emboabas (do tupi buaba, aves com penas até os pés, em referência às botas dos forasteiros). 
Os paulistas, descobridores de ouro em Minas Gerais, alegam ter preferência sobre a 
extração. Para garantir o acesso à mineração, os portugueses atacam Sabará sob o comando 
de Manuel Nunes Viana e conseguem a rendição dos paulistas. Em 1709, o chefe emboaba 
Bento do Amaral Coutinho desrespeita o acordo de rendição e mata dezenas de paulistas num 
local que fica conhecido como Capão da Traição. Ao final do conflito, é criada a capitania de 
São Paulo e das Minas do Ouro. 
 
1710-1712 – Os senhores de terras e engenhos pernambucanos, concentrados em Olinda, 
dependem econômica e financeiramente dos comerciantes portugueses, chamados de 
mascates, e não aceitam a emancipação do Recife, que agravaria sua situação diante da 
burguesia lusitana. Quando o Recife se transforma em vila, esses proprietários rurais iniciam 
a Guerra dos Mascates, atacando a povoação sob a liderança de Bernardo Vieira Melo e 
Leonardo Bezerra Cavalcanti. O governador Caldas Barbosa, ligado aos mascates, foge para 
a Bahia. No ano seguinte os mascates reagem e invadem Olinda. A nomeação de um novo 
governador e a utilização de tropas enviadas da Bahia põem fim à guerra. A burguesia 
mercantil recebe o apoio da metrópole, e o Recife mantém a autonomia. 
 
1727 – Francisco de Melo Palheta introduz o cultivo do café no Pará, após ter 
contrabandeado as sementes da Guiana Francesa. 
 
 
 
 
 
1750 – O Tratado de Madri reconhece, com base no direito de posse da terra por quem a usa 
(o uti possidetis do direito romano), a presença luso-brasileira em grande parte dos territórios 
coloniais. No Norte e no Centro-Oeste não há dificuldade em acertar limites em decorrência 
do pequeno interesse espanhol nessas regiões. No Sul, a negociação é conturbada. A Espanha 
exige o controle do rio da Prata, por sua importância econômica e estratégica, e aceita a 
Colônia do Sacramento, portuguesa,em troca da manutenção da fronteira brasileira no atual 
Rio Grande do Sul. Como conseqüência, os jesuítas espanhóis e os índios guaranis de Sete 
Povos das Missões são forçados a transferir-se para o outro lado do rio Uruguai, provocando 
a reação indígena na Guerra Guaranítica. 
 
1754-1756 – Os guaranis de Sete Povos das Missões recusam-se a deixar suas terras no 
território do Rio Grande do Sul, e tem início a Guerra Guaranítica. Em resposta à posição 
indígena, os castelhanos, vindos de Buenos Aires e Montevidéu, e os luso-brasileiros, vindos 
do Rio de Janeiro sob o comando do general Gomes Freire, entram pelo rio Jacuí combatendo 
os guaranis missioneiros que tentavam impedir a demarcação da fronteira. Os Sete Povos das 
Missões são dominados em 1756. 
 
1755 e 1759 – O marquês de Pombal, ministro todo-poderoso do rei dom José I de 1750 a 
1777, funda a Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e do Maranhão (1755) e a 
Companhia Geral do Comércio de Pernambuco e Paraíba (1759) para reforçar a atividade 
extrativista e agroexportadora do Norte e Nordeste, menos estimulada em razão da mineração 
de ouro e diamante no Sudeste e Centro-Oeste. 
 
1759 – O marquês de Pombal decreta a expulsão dos jesuítas do Brasil e de Portugal. A 
alegação principal é a de que a companhia se tornara quase tão poderosa quanto o Estado, 
ocupando funções e atribuições mais políticas que religiosas. Setores da própria Igreja 
admitem que os jesuítas dão excessiva proteção aos nativos, como acontecera na Guerra 
Guaranítica. Além de fechar a instituição em todo o império português, o marquês de Pombal 
muda os estatutos dos colégios e das missões e impõe a eles direções leigas. 
 
O sistema de capitanias hereditárias é extinto pelo marquês de Pombal. As poucas 
capitanias que ainda não haviam voltado para as mãos da Coroa portuguesa são compradas ou 
confiscadas. 
 
1763 – O marquês de Pombal determina a transferência da sede do governo geral para o Rio 
de Janeiro. Um dos fatores que contribuem para essa decisão é a necessidade de ter o centro 
administrativo mais próximo das regiões de mineração. Os conflitos freqüentes com os 
vizinhos espanhóis nas regiões Centro-Oeste e Sul reforçam a necessidade da mudança. 
 
Vices-reis no Rio de Janeiro: Antônio Álvares da Cunha, conde da Cunha (1763-
1767); Antônio Rolim de Moura Tavares (1767-1769); Luís de Almeida Portugal Soares de 
Alarcão d‟Eça e Melo Silva Mascarenhas, 2º marquês de Lavradio (1769-1779); Luís de 
Vasconcelos e Souza (1779-1790); José Luís de Castro, 2º conde de Resende (1790-1801); 
Fernando José de Portugal e Castro (1801-1806); Marcos de Noronha e Brito, 8º conde dos 
Arcos (1806-1808). 
 
1777 – É assinado o Tratado de Santo Ildefonso, que confirma o Tratado de Madri mas 
restitui aos espanhóis o direito sobre a região dos Sete Povos das Missões. Os portugueses 
tentam obter a devolução da Colônia do Sacramento, base estratégica do contrabando de prata 
trazida da Bolívia e do Peru, porém, não conseguem. 
 
1785 – O governo português proíbe qualquer tipo de indústria no Brasil. O objetivo é 
dificultar a autonomia da colônia, reduzindo seu desenvolvimento econômico, e, 
simultaneamente, preservar e aumentar os lucros do comércio da metrópole. 
 
1789 – O visconde de Barbacena, governador de Minas Gerais, anuncia a derrama, medida 
fiscal para arrecadar 596 arrobas (8 940 quilos) de ouro em impostos atrasados. Esse aviso 
leva um grupo de conspiradores em Vila Rica a acelerar os preparativos da revolta, que se 
torna conhecida como Inconfidência Mineira. Com influências iluministas, o grupo defende a 
independência da colônia. Entre os integrantes estavam intelectuais, advogados e poetas, 
como José Álvares Maciel, Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto e Cláudio Manoel 
da Costa, padres como Luís Vieira, Carlos Correa de Toledo e Melo e José da Silva Rolim, o 
tenente-coronel dos dragões, Francisco de Paula Freire de Andrade, e o alferes Joaquim José 
da Silva Xavier, o Tiradentes. Também participam das reuniões contratadores (arrecadadores 
de impostos) portugueses, como Joaquim Silvério dos Reis, Domingos de Abreu Vieira e 
João Rodrigues Macedo. Devedores da Coroa portuguesa, os contratadores trocam o perdão 
de suas dívidas pela delação dos planos do grupo. A maioria dos conjurados acaba presa. O 
processo judicial é feito no Rio de Janeiro, e em 1792 são anunciadas as sentenças dos réus. 
Vários condenados à morte têm a pena comutada em prisão ou degredo na África. Tiradentes 
é o único a não obter clemência, sendo enforcado no largo da Lampadosa, no Rio de Janeiro. 
 
1798 – A Conjuração Baiana, também conhecida como Revolta dos Alfaiates, ocorre em 
Salvador, relacionada com a crise do sistema colonial e com os movimentos pela 
independência. Participam representantes das camadas populares, com grande número de 
negros e mulatos, escravos e libertos. Intelectuais, estudantes, comerciantes, artesãos, 
funcionários e soldados, inspirados nos ideais da Revolução Francesa, lançam folhetos 
clandestinos e proclamam a República Baiense, conclamando a população de Salvador a 
defendê-la. Além da independência, eles desejam uma sociedade baseada na liberdade e na 
igualdade dos cidadãos, com o fim da escravidão. Mas os preparativos para o levante armado 
fracassam, e muitos acabam presos. No início de 1799 quatro homens são enforcados: dois 
soldados, Lucas Dantas e Luís Gonzaga das Virgens, e dois alfaiates, João de Deus 
Nascimento e Manoel Faustino, todos mulatos. 
 
1808 – A Corte portuguesa transfere-se para o Brasil, num total de 12 mil pessoas, 
aproximadamente. Portugal havia sido invadido no final de 1807 por tropas do imperador 
Napoleão Bonaparte após ter rejeitado o bloqueio continental decretado pela França contra o 
comércio com a Inglaterra. Com o apoio da esquadra britânica, dom João, regente do reino no 
lugar de sua mãe, dona Maria I, chega à Bahia em janeiro e dois meses depois segue para o 
Rio de Janeiro. 
 
Entre as primeiras decisões tomadas por dom João está a abertura dos portos às nações 
amigas. Com isso, o movimento de importação e exportação é desviado de Portugal, então 
ocupado pelos franceses, para o Brasil. A medida favorece tanto a Inglaterra, que usa a 
colônia portuguesa como porta de entrada de seus produtos para a América espanhola, quanto 
os produtores brasileiros de bens para o mercado externo. Dom João também concede 
permissão para o funcionamento de fábricas e manufaturas no Brasil. São fundados no Rio de 
Janeiro o Banco do Brasil e o Jardim Botânico. 
 
1810 – É assinado por dom João acordo que concede tarifas preferenciais às mercadorias 
inglesas no Brasil. Produtos importados da Inglaterra ou vindos em navios desse país estão 
submetidos a um imposto de 15%. Produtos portugueses pagam 16% e os de outras 
nacionalidades, 24%. As taxas das mercadorias portuguesas só são equiparadas às das 
inglesas em 1818. 
 
 
 
 
1815 – Depois de criar a Academia Militar e da Marinha, a Biblioteca Real e a Imprensa 
Régia, dom João eleva o Brasil à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves. A intenção 
é de que a monarquia portuguesa, transferida para o Brasil, esteja formalmente representada 
no Congresso de Viena, onde se reorganiza o mapa político da Europa após a derrota de 
Napoleão. 
 
 Capitanias no início do século XIX Gerais: Grão-Pará, Maranhão, Pernambuco, Baía 
de Todos os Santos, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Rio de Janeiro e São Paulo. 
Autônomas: Ceará, Paraíba. Subalternas: São José do Rio Negro (corresponde ao atual 
Amazonas e Roraima), Piauí, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Santa Catarina, Rio 
Grande de São Pedro (atual Rio Grande do Sul).1816 – Dom João envia forças navais para sitiar Montevidéu e ocupar a Banda Oriental (atual 
Uruguai), território integrante do antigo Vice-Reinado do Prata. O objetivo é se tornar 
regente do império colonial espanhol na América. Em 1821, a Banda Oriental é anexada ao 
território brasileiro. Para desenvolver as artes no país, dom João contrata artistas e 
intelectuais na França. A Missão Francesa tem entre seus integrantes os pintores Jean-
Baptiste Debret e Nicolas Antoine Taunay e o arquiteto Grandjean de Montigny. 
 
1817 – O estabelecimento da Corte portuguesa no Brasil reforça o poder central no Rio de 
Janeiro e enfraquece as províncias. Com o mau desempenho do açúcar, aumentam as 
dificuldades da economia das regiões produtoras. Nesse cenário ocorre a Revolta 
Pernambucana, inspirada na Revolução Francesa, na independência dos Estados Unidos e nas 
lutas de emancipação da América hispânica. Latifundiários, comerciantes, padres e bacharéis 
conspiram contra os militares e comerciantes portugueses, responsabilizados pelos problemas 
da província. Os revoltosos querem tirar o controle do comércio das mãos de portugueses e 
ingleses. Em março, a revolta espalha-se pelas ruas do Recife, e o governador, Caetano Pinto, 
foge para o Rio de Janeiro. Os rebeldes organizam o primeiro governo brasileiro 
independente e proclamam a República. Mas, sem o apoio das demais províncias nordestinas, 
são cercados e atacados pelas forças legalistas em maio e derrotados no mês seguinte. 
 
1818 – Com a morte da mãe, dona Maria I, o regente é coroado rei de Portugal, do Brasil e de 
Algarves, no Rio de Janeiro, com o título de dom João VI. 
 
1819 – Com a vinda de imigrantes suíços para a região de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, 
têm início as primeiras experiências de substituição de mão-de-obra escrava por imigrantes 
estrangeiros, principalmente europeus. Esse movimento, no entanto, se torna mais 
significativo a partir de 1870. 
 
1821 – O Brasil anexa a Banda Oriental (atual Uruguai) a seu território, como Província 
Cisplatina. Localizada na entrada do estuário do Prata, a Cisplatina é uma área de alto valor 
econômico e estratégico para brasileiros e argentinos em relação ao controle da navegação e 
ao comércio de toda a bacia Platina. 
 
As Cortes Constituintes – o Parlamento português – impõem a dom João VI o 
juramento antecipado da primeira Constituição portuguesa e exigem sua volta. No ano 
anterior havia estourado em Portugal a Revolução do Porto, movimento liberal e 
antiabsolutista da burguesia. Depois de se comprometer a seguir a futura Constituição, dom 
João VI regressa a Portugal, deixando dom Pedro, seu filho mais velho, como regente do 
Reino Unido do Brasil. Dom João submete-se ao regime constitucionalista, mas readquire 
plenos poderes monárquicos em 1823, enfrentando sua mulher, a espanhola Carlota Joaquina, 
e seu filho dom Miguel na luta pelo trono. 
 
 
1822 – Pressionado pelas Cortes Constituintes, dom João VI chama dom Pedro a 
Lisboa. O príncipe regente resiste às pressões por considerá-las tentativa de esvaziar o poder 
da monarquia. Sua decisão de permanecer no Brasil é anunciada no dia 9 de janeiro, o Dia do 
Fico. Ele conta com o apoio de um grupo de políticos brasileiros, defensor da manutenção do 
Brasil como Reino Unido, que organiza um abaixo-assinado pedindo-lhe que não deixe o 
Brasil. 
 
 Dom Pedro recusa fidelidade à Constituição portuguesa e convoca a primeira 
Assembléia Constituinte brasileira. Após ter declarado inimigas as tropas portuguesas que 
desembarcassem no Brasil, o príncipe regente publica o Manifesto às Nações Amigas, 
redigido por José Bonifácio, o Patriarca da Independência, justificando o rompimento com as 
Cortes de Lisboa e assegurando a independência do Brasil, mas como reino irmão de 
Portugal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO III 
 
O BRASIL IMPÉRIO 
 
 
 
1822 – Os portugueses anulam a convocação da Assembléia Constituinte brasileira e 
exigem, com ameaça do envio de tropas, o retorno imediato de dom Pedro. Ele não acata as 
exigências das Cortes e, no dia 7 de setembro, proclama a independência do Brasil com 
declaração oficial de separação política entre a colônia e a metrópole portuguesa. Dom 
Pedro é aclamado imperador em outubro e, dois meses depois, coroado pelo bispo do Rio de 
Janeiro, com o título de dom Pedro I. 
INDEPENDÊNCIA OU MORTE 
Voltando a São Paulo, após viagem a Santos, dom Pedro recebe notícias vindas de 
Portugal quando se aproximava da cidade, junto ao riacho do Ipiranga, e elas são 
desanimadoras. Convencido da necessidade de separação entre colônia e metrópole, ele 
arranca do chapéu as cores de Portugal e, aclamado pelo séquito, grita Independência ou 
morte. É assim que tradicionalmente é contada a independência do Brasil, com base em 
relatos de pessoas que acompanhavam a comitiva. As origens desse processo estão ligadas 
ao agravamento da crise do sistema colonial, sobretudo em determinados setores 
econômicos e em algumas regiões, sinalizada pelas revoltas do final do século XVIII e 
começo do XIX, como a Inconfidência Mineira, a Conjuração Baiana e a Revolta 
Pernambucana de 1817. As idéias liberais são reforçadas pela independência dos Estados 
Unidos, declarada em 1776, e pela Revolução Francesa, de 1789 a 1799. Crescia a 
condenação ao absolutismo monárquico e aumentavam as pressões contra o monopólio 
comercial português e o excesso de impostos. Também concorre para a independência a 
instalação da Corte portuguesa no Brasil, em 1808, que toma medidas como a abertura dos 
portos e a criação do Reino Unido do Brasil. Na prática começam a ser cortados os vínculos 
coloniais. 
 
1823 – Realizam-se as eleições para a Assembléia Constituinte da primeira Carta do 
império brasileiro, instalada e dissolvida pelo imperador no mesmo ano no Rio de Janeiro, 
como resultado de divergências com deputados brasileiros. Dom Pedro I exigia a 
preservação de seu poder pessoal, acima do poder do Legislativo e do Judiciário. 
1824 – Elaborada pelo Conselho de Estado, a primeira Constituição brasileira é outorgada 
por dom Pedro I no dia 25 de março. Conclui-se o processo de separação entre colônia e 
metrópole. 
 
CONSTITUIÇÃO DE 1824 
A Constituição de 1824 mantém os princípios do liberalismo moderado e fortalece o 
poder pessoal do imperador, com a criação do Poder Moderador acima dos poderes 
Executivo, Legislativo e Judiciário. Ela estabelece que as províncias passem a ser 
governadas por presidentes nomeados pelo imperador e divide o Legislativo em Senado 
vitalício, na prática escolhido pelo imperador, e Câmara dos Deputados, eleita por voto 
indireto e censitário. Os eleitores votam em suas províncias num colégio eleitoral que 
escolhe os deputados. Apenas os homens livres que cumprem algumas condições, inclusive 
de renda, participam das eleições. Esses requisitos são apurados nos censos. 
1824 – No final de 1823 chega a Pernambuco a notícia da dissolução da Assembléia 
Constituinte por dom Pedro I, no Rio de Janeiro. Os líderes provinciais reagem 
imediatamente à decisão autoritária do imperador. O movimento cresce quando dom Pedro 
outorga a Constituição do Império, em março de 1824, sem convocar eleições para a nova 
Constituinte. As elites pernambucanas contestam a legitimidade dessa Carta e, com a 
adesão da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará, anunciam a formação de uma 
República, a Confederação do Equador. A revolta é violentamente reprimida pelas tropas 
imperiais. Em setembro, os rebeldes são derrotadosna capital e fogem para o interior, onde 
muitos acabam aprisionados ou mortos. Em 1825, frei Caneca, um dos principais ideólogos 
da revolta, é executado. 
 
1825-1828 – Tropas uruguaias lideradas por Antonio Lavalleja e Fructuoso Rivera e 
apoiadas pela Argentina cercam Montevidéu em 1825 e declaram a independência do 
Uruguai. É o início da Guerra da Cisplatina. O território havia sido anexado pelo Brasil em 
1821 com o nome de Província Cisplatina. A região tem importância estratégica na 
navegação e no comércio de todo o rio da Prata. Dom Pedro I envia tropas para a Cisplatina, 
mas elas são derrotadas em 1827 na Batalha de Passo do Rosário. Em 1828, depois de 
negociações intermediadas pela Inglaterra, Brasil e Argentina reconhecem a independência 
do Uruguai. 
 
1826 – Dom Pedro I renuncia ao trono de Portugal em favor da filha Maria da Glória. Após 
a morte de dom João VI, dom Pedro I envolvera-se cada vez mais com a sucessão em 
Portugal. Para os portugueses, ele continuava herdeiro da Coroa, mas, para os brasileiros, o 
imperador não tinha mais vínculo com a metrópole. 
1830 – O apoio que dom Pedro I busca entre os portugueses instalados na burocracia civil-
militar e no comércio desagrada à oposição liberal brasileira. Incidentes políticos graves, 
como morte do jornalista oposicionista Líbero Badaró, em São Paulo, a mando de 
autoridades ligadas ao governo imperial, reforçam o afastamento dos liberais brasileiros. 
Dom Pedro é responsabilizado pelo assassinato. 
1831 – A abdicação de dom Pedro I do trono brasileiro ocorre no dia 7 de abril. A queda de 
sua popularidade fica exposta quando é recebido com frieza em Minas Gerais, numa visita 
que era sua última tentativa de recuperar prestígio político. O apoio público dos portugueses 
que viviam no Rio de Janeiro desencadeara a retaliação dos setores anti-lusitanistas. O 
imperador tenta reagir aos tumultos, mas termina por desistir ao ver que não tem mais 
sustentação política. 
 
 
QUEM É QUEM NA REGÊNCIA 
A abdicação de dom Pedro I aprofunda as divisões entre os grupos que se opunham a 
seu governo. Os liberais moderados, também chamados de chimangos, atingem o poder e 
tentam pacificar o país. Os liberais exaltados, farroupilhas, permanecem fora do governo 
regencial e mantêm a reivindicação de maior autonomia para as províncias. À medida que 
as divergências políticas se acentuam no Império, surge outro grupo político de oposição, os 
restauradores, ou caramurus, que pedem a volta de dom Pedro I ao trono. O nome vem de 
um dos jornais do grupo: O Caramuru. 
 
 
1831-1840 – Após a abdicação de dom Pedro I, políticos governam o Brasil em nome do 
imperador, já que o herdeiro do trono, seu filho dom Pedro II, tem apenas 5 anos. Essa fase, 
de grande agitação social e política, vai de abril de 1831 a julho de 1840 e divide-se em 
quatro regências consecutivas: a Regência Trina Provisória (1831), a Regência Trina 
Permanente (1831 a 1835), a 1ª Regência Una (1835 a 1838) e a 2ª Regência Una (1838 a 
1840). 
 
REGENTES 
 
Regência Trina Provisória (1831): senadores Joaquim Carneiro de Campos, marquês de 
Caravelas, e Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, e brigadeiro Francisco de Lima e Silva. 
 
Regência Trina Permanente (1831-1835): deputados José da Costa Carvalho e João 
Bráulio Muniz e brigadeiro Francisco de Lima e Silva. 
1ª Regência Una (1835-1838): senador padre Diogo Antônio Feijó e senador Pedro de 
Araújo Lima. 
2ª Regência Una (1838-1840): senador Pedro de Araújo Lima. 
1831 – A Regência Trina Provisória é composta de um senador restaurador, um moderador 
e um membro da oficialidade conservadora (três regentes, por isso trina). Ela dura pouco 
mais de dois meses. Nas duas primeiras regências são assinaladas divergências entre as 
principais correntes políticas. 
 
1831 – Cumprindo acordos firmados com a Inglaterra, o governo regencial declara suspenso 
o tráfico de escravos ilegal no território brasileiro. A entrada de escravos africanos, no 
entanto, permanece em grande escala. Muitos liberais brasileiros do império se declaram 
contrários ao tráfico e à escravidão, mas de modo geral o regime escravista é visto como 
necessário ao funcionamento da economia. Durante a regência começa a expansão da 
cultura cafeeira, aumentando a necessidade de mão-de-obra. E é o trabalho escravo que 
garante a produção e bons preços no mercado externo. 
1831-1835 – A Regência Trina Permanente é eleita pela Assembléia Geral do Império em 
17 de junho de 1831. Ela reflete os interesses regionais da oligarquia agrária e das facções 
políticas urbanas. Nesse período, de lutas entre diferentes grupos políticos, se consolida a 
base liberal da oposição à restauração dos vínculos com Portugal. A agitação nas ruas de 
várias cidades e em inúmeras províncias provoca a intervenção enérgica do ministro da 
Justiça, padre Diogo Antônio Feijó. Ele forma a Guarda Nacional, composta de tropas dos 
grandes fazendeiros, que recebem a patente de coronel. 
1834 – Um ato adicional à Constituição de 1824 institui a Regência Una, eleita pelo voto 
censitário, cria assembléias legislativas provinciais para atender às reivindicações 
federalistas e extingue o Conselho de Estado, órgão do Poder Moderador. 
1835-1838 – O padre Diogo Antônio Feijó, ministro da Justiça e chefe liberal paulista, é 
eleito regente com o apoio dos chimangos (liberais moderados). Tem início a I Regência 
Una. Logo a seguir começam as insurreições pelo país. 
 
 
1835-1845 – A rebelião mais significativa ocorrida no Brasil durante a Regência, a Revolta 
dos Farrapos, estende-se do Rio Grande do Sul até Santa Catarina. Os farrapos – liberais 
exaltados e muitos deles partidários do regime federativo e republicano – insurgem-se 
contra o governo central e defendem maior autonomia para as províncias. A revolta tem 
início quando o deputado federalista e coronel das milícias Bento Gonçalves da Silva 
destitui, em 1835, o presidente da província e, com a ajuda popular, neutraliza as reações 
legalistas. Porto Alegre é, em seguida, retomada pelas forças imperiais, e os revoltosos 
avançam para o interior do Rio Grande do Sul e para Santa Catarina, onde contam com o 
apoio de Giuseppe Garibaldi. Em 1842, Luís Alves de Lima e Silva (futuro duque de 
Caxias) reorganiza as tropas legalistas e começa a negociar com os insurretos, que, depois 
de sucessivas derrotas e desentendimentos entre suas lideranças, aceitam a paz em fevereiro 
de 1845. 
1835-1840 – A Cabanagem. Nos primeiros dez anos, o regime monárquico estabiliza-se. A 
derrota das insurreições nascidas durante a Regência pacifica as províncias, e o governo 
central passa a contar de novo com o Poder Moderador, que dá ao monarca a palavra final, e 
com o Conselho de Estado. No ano seguinte, dom Pedro II é coroado imperador do Brasil. 
1844 – O governo estabelece novas alíquotas de impostos de importação e não renova o 
acordo comercial que favorece os produtos ingleses. As novas regras aumentam a 
arrecadação e estimulam a implantação de pequenas indústrias. 
1845 – Após o fim do acordo que concedia privilégios aos produtos ingleses que entravam 
no Brasil, o Parlamento britânico aprova a Bill Aberdeen, lei que dá à Marinha de Guerra 
inglesa o direito de perseguir e aprisionar os navios negreiros, chamados de tumbeiros, em 
qualquer ponto do Atlântico. A partir daí, o tráfico para o Brasil torna-se muito arriscado e 
pouco lucrativo. 
 
1847 – Num período de pouca contestação à Monarquia é instituído o parlamentarismo, e o 
governo passa a ser exercido pelo ministério com base na maioria parlamentar. É criado o 
cargo de presidente do Conselho de Ministros, que, indicado por dom Pedro II, organiza o 
ministério e torna-seresponsável pelo Poder Executivo. O ministério é substituído se o 
partido perder a maioria das cadeiras na Câmara dos Deputados. Na prática, a decisão é do 
imperador, que a qualquer momento pode dissolver a Câmara e convocar novas eleições. 
1848-1850 – A Revolta Praieira tem início quando setores radicais do Partido Liberal 
pernambucano, reunidos em torno do jornal Diário Novo, na rua da Praia, no Recife, e 
conhecidos como praieiros, condenam a destituição do governador da província, Antônio 
Chimorro da Gama. Ele é opositor dos guabirus, o mais poderoso grupo da aristocracia e da 
burguesia mercantil ligado ao Partido Conservador. Com inspiração liberal e federalista e 
liderados por militares e políticos, os praieiros começam em Olinda uma rebelião contra o 
novo governo provincial. O movimento espalha-se rapidamente por toda a Zona da Mata 
pernambucana. Em 1849 lançam o Manifesto ao Mundo e defendem o voto livre e 
universal, a liberdade de imprensa, a independência dos poderes constituídos, a extinção do 
Poder Moderador, o federalismo e a nacionalização do comércio de varejo. Chegam a 
receber a adesão da população urbana pobre e atacam o Recife com quase 2,5 mil 
combatentes, mas são rechaçados. A rebelião é derrotada no começo de 1850. 
1850 – O governo de dom Pedro II extingue definitivamente o tráfico de escravos com a Lei 
Eusébio de Queirós, ministro da Justiça e seu autor. Esse ato fortalece o Império e faz 
diminuir as pressões internas. Aos poucos, os imigrantes europeus assalariados passam a 
substituir os escravos no mercado de trabalho, principalmente nas fazendas de café em 
expansão. 
 
O PAÍS DO CAFÉ 
As primeiras mudas de café chegam ao Brasil contrabandeado da Guiana Francesa 
por Francisco de Melo Palheta em 1727. As plantações multiplicam-se e, em meados do 
século XIX, o produto ocupa parte das terras de antigas lavouras de cana-de-açúcar e de 
algodão e grande porção do chamado Oeste Paulista. Essa vigorosa expansão da 
cafeicultura é resultado do crescimento do consumo nos Estados Unidos e na Europa e da 
crise que atinge importantes regiões produtoras, como Haiti, Ceilão (atual Sri Lanka) e 
Java, na Indonésia. Com o preço em alta nos mercados consumidores, o produto torna-se 
muito atraente e há, no Brasil, terras e escravos subutilizados em outras lavouras, além de 
solos novos e férteis, como a terra roxa do interior paulista. Com a interrupção definitiva do 
tráfico de escravos africanos, em 1850, surge o primeiro grande problema: escassez de mão-
de-obra. A solução encontrada é promover a vinda de imigrantes estrangeiros. 
1865-1870 – Irrompe a Guerra do Paraguai entre a aliança formada por Brasil, Argentina e 
Uruguai e o Paraguai. Os conflitos na região ocorrem por causa da disputa pela estratégica 
região do rio do Prata. O presidente paraguaio Francisco Solano López ordena a invasão da 
província de Mato Grosso em dezembro de 1864. O primeiro ano da guerra é de ofensiva 
paraguaia, que abre várias frentes na fronteira com o Brasil, de Mato Grosso ao Rio Grande 
do Sul. Contando com a neutralidade da Argentina, Solano López avança em direção ao 
Uruguai. Mas, em 1865, Brasil, Argentina e Uruguai firmam o Tratado da Tríplice Aliança. 
Daí em diante, o império brasileiro e seus aliados contra-atacam. Solano López recua, e o 
Paraguai é invadido em 1866 sob o comando do general argentino Bartolomeu Mitre. Nos 
dois anos seguintes a contra-ofensiva cresce, liderada pelos brasileiros Manuel Luís Osório 
e Luís Alves de Lima e Silva, o duque de Caxias. Em 1869, os soldados da aliança entram 
em Assunção, capital do Paraguai. Solano López é morto em março do ano seguinte em 
Cerro Corá, no norte paraguaio. Quase dois terços da população do Paraguai são dizimados 
nessa que foi a maior guerra da América do Sul. 
VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA 
Homens pobres, mulatos e negros formam os batalhões de voluntários da pátria, 
convocados para combater como soldados na Guerra do Paraguai. Participam também os 
escravos da nação – africanos trazidos ilegalmente para o país após a lei de extinção do 
tráfico, que estavam sob a guarda do Império e recebem alforria para ser transformados em 
soldados. Esse esforço de mobilização é necessário, já que o Paraguai tem, a princípio, 
efetivos maiores que as forças brasileiras e aliadas. Terminada a guerra com o triunfo da 
aliança, os negros brasileiros vitoriosos recusam-se a permanecer na condição de escravos. 
Isso dá grande impulso ao movimento abolicionista. E muitos militares, descontentes com a 
monarquia, aderem ao movimento republicano. 
1870 – Fazendeiros, políticos, jornalistas e intelectuais lançam no Rio de Janeiro o 
Manifesto Republicano, defendendo um regime presidencialista, representativo e federativo. 
Apesar da vitória na Guerra do Paraguai, o ônus econômico, social e político fortalece as 
reações ao regime. A monarquia entra em declínio, e as idéias republicanas disseminam-se, 
mesmo com o pouco sucesso eleitoral de seus candidatos. O Império incompatibiliza-se 
com a aristocracia escravista ao aprovar as leis abolicionistas, mas os partidários da 
extinção da escravidão, que consideram as medidas muito tímidas, se unem aos 
republicanos. 
 
1870-1875 – Um choque entre a hierarquia católica e a maçonaria, conhecido como 
Questão Religiosa, provoca conflito entre o governo brasileiro e a Igreja Católica. No 
Império, a maçonaria, sociedade secreta ligada a idéias liberais na Inglaterra e na França, 
mantém forte presença na estrutura do poder. Participa de decisões administrativas e exerce 
forte influência nos partidos políticos. Esse poder, não só no Brasil como em muitos outros 
países, contraria a Igreja Católica, e o Vaticano passa a impor regras mais restritivas às 
sociedades secretas. Os bispos brasileiros, acatando as novas diretrizes, expulsam os 
maçons das irmandades católicas. O Império defende a maçonaria, a cujos quadros pertence 
parte da elite do país. Dois bispos são presos e condenados. A crise termina depois de 
negociações entre 1874 e 1875 que levam à anistia dos bispos e à suspensão das punições 
eclesiásticas aplicadas aos maçons. 
 
1871 – O Partido Liberal, de oposição, compromete-se publicamente com o fim da 
escravidão, mas é o gabinete do visconde do Rio Branco, do Partido Conservador, que 
promulga a primeira lei abolicionista, a Lei do Ventre Livre. Ela dá liberdade aos filhos de 
escravos nascidos a partir da data da assinatura, em 28 de setembro, mas os mantém sob a 
tutela de seus senhores até os 21 anos. Em defesa da lei, o visconde do Rio Branco 
apresenta a escravidão como instituição injuriosa, que prejudica a imagem externa do país. 
 
 A sociedade e a escravidão – Não precisar trabalhar. Esse era o símbolo maior de 
status social no Brasil colônia. O homem livre, de posses, podia viver apenas do trabalho do 
escravo. Nas fazendas, o plantio, a colheita, a produção de açúcar e café eram feitos por 
escravos. Nas casas-grandes eles executavam todo o serviço doméstico. Nas cidades, quem 
possuía ao menos um escravo podia ficar livre dessa e de outras tarefas. E, muitas vezes, os 
cativos realizavam serviços extras cujos rendimentos eram entregues ao senhor: os 
chamados escravos de ganho podiam ser caçadores, sapateiros, cozinheiras, costureiras ou 
mesmo, no caso das mulheres, prostitutas. Romper com essa mentalidade foi um dos 
grandes desafios dos abolicionistas. 
1880 – Políticos e intelectuais importantes, como Joaquim Nabuco e José do Patrocínio, 
criam no Rio de Janeiro a Sociedade Brasileira contra a Escravidão, que estimula a 
formação de dezenas de agremiações similares pelo país. O jornal O Abolicionista, de 
Nabuco, e aRevista Ilustrada, de Ângelo Agostini, servem de modelo para outraspublicações que defendem a mesma causa. Advogados, artistas, intelectuais, jornalistas e 
parlamentares entram no movimento e arrecadam fundos para o pagamento de cartas de 
alforria, documento que concedia liberdade aos escravos. O país é tomado pela causa 
abolicionista. 
1883 – Ocorre o primeiro de uma sucessão de conflitos entre o governo imperial e a 
oficialidade militar que se tornam conhecidos como Questão Militar. O governo anuncia a 
elevação das contribuições dos militares para o Montepio Militar (espécie de fundo de 
pensão e aposentadoria do Exército). Oficiais, professores e alunos da Escola Militar do Rio 
de Janeiro, liderados pelo tenente-coronel Sena Madureira, reagem com críticas públicas. O 
governo abandona a proposta, mas proíbe as manifestações de oficiais sobre questões 
internas do Exército na imprensa. O segundo conflito acontece em 1884, quando Sena 
Madureira perde o comando da Escola de Tiro do Campo Grande e é transferido para Rio 
Pardo, no interior do Rio Grande do Sul. O ato é uma punição por ele ter recebido 
festivamente o jangadeiro e líder abolicionista cearense Francisco do Nascimento, o Dragão 
do Mar. Uma inspeção de rotina a unidades do Exército no Piauí, em 1885, leva ao terceiro 
confronto. O coronel Cunha Matos apura desvio de material militar e acusa o comandante 
local, capitão Pedro José de Lima. Censurado da tribuna da Câmara dos Deputados por 
amigos do comandante denunciado, Matos reage publicamente e é preso e processado por 
indisciplina. 
 
INSATISFAÇÃO NA CASERNA 
Os sucessivos conflitos envolvendo o Exército e o Império cresce com o fim da 
Guerra do Paraguai. Apesar de sair vitorioso e fortalecido do embate, o Exército não 
encontra espaço político no governo. Sem autonomia nem reconhecimento, é uma 
instituição quase marginalizada na Monarquia. Sob influência das idéias positivistas, a 
oficialidade começa a aderir ao abolicionismo e ao republicanismo. Em 1887, o Clube 
Militar é fundado para ser a entidade de representação política do Exército. Seu primeiro 
presidente é o marechal Deodoro da Fonseca, e uma de suas primeiras reivindicações 
atendida, é o afastamento do Exército das operações de perseguição e captura de escravos 
fugitivos. 
1885 – O governo cede mais um pouco à pressão da opinião pública, aumentada pela 
decisão do Ceará de decretar o fim da escravidão em seu território, em 1884, e promulga a 
Lei Saraiva-Cotegipe. Conhecida como Lei dos Sexagenários, ela liberta os escravos com 
mais de 60 anos mediante compensações aos seus proprietários. A lei tem pouca aplicação 
prática, já que raros escravos atingem essa idade. Do exterior, principalmente da Europa, 
chegam apelos e manifestos favoráveis ao fim da escravidão. 
1888 – A princesa Isabel, filha de dom Pedro II, assina a lei que extingue definitivamente a 
escravidão no Brasil em 13 de maio de 1888. Chamada de Lei Áurea, ela encerra um 
movimento social e político que se fortaleceu a partir de 1870. Embora a escravidão tenha 
começado a declinar em 1850, com o fim do tráfico de escravos, é a partir da Guerra do 
Paraguai (1865-1870) que o movimento abolicionista ganha impulso, com o retorno de 
milhares de ex-escravos vitoriosos, muitos até condecorados, que se recusam a voltar à 
condição anterior e reagem às pressões de seus antigos donos. O problema social 
transforma-se em questão política para a elite dirigente do Segundo Reinado. A abolição 
desagrada aos fazendeiros, que exigem indenizações pela perda do que consideram ser sua 
propriedade. Como não são bem-sucedidos, aderem ao movimento republicano como forma 
de pressão. Ao abandonar o regime escravista e os proprietários de escravos, o Império 
perde sua última base de sustentação política. 
1889 – É proclamada a República, pelo marechal alagoano Manuel Deodoro da Fonseca, no 
Rio de Janeiro, em 15 de novembro. Esse movimento político-militar acaba com a Monarquia 
e instaura no país uma República federativa. A campanha política que resultou na 
implantação do novo sistema de governo durou quase 20 anos. A família imperial é 
desterrada para a Europa e o marechal Deodoro assume a chefia do governo provisório. 
 
MOVIMENTOS QUE LEVARAM A QUEDA DA MONARQUIA. 
Movimento político-militar que acaba com o Império e instaura no país uma 
república federativa. A proclamação da República é feita pelo marechal Deodoro da Fonseca 
no dia 15 de novembro de 1889, no Rio de Janeiro. 
O novo sistema de governo é inaugurado depois de uma campanha política que dura 
quase 20 anos. O esforço nacional em torno da Guerra do Paraguai coloca na ordem do dia o 
regime federativo e a luta contra a escravidão. Em dezembro de 1870, políticos, intelectuais 
e profissionais liberais lançam no Rio o Manifesto Republicano. Defendem um regime 
presidencialista, representativo e descentralizado. No ano seguinte, o governo sanciona a 
primeira lei contra a escravatura. Daí por diante, as campanhas republicana e abolicionista 
caminham paralelas. 
Partido Republicano – Em 1873 é fundado o Partido Republicano Paulista (PRP), 
com a proposta básica de defender os princípios e os ideais republicanos e federativos. 
Apesar da crescente simpatia popular, a campanha não avança e o PRP elege poucos 
candidatos. Para os republicanos históricos, que formam o núcleo político-ideológico do 
movimento, fica cada vez mais claro que o novo regime não será conquistado apenas com 
propaganda política e atuação eleitoral. Apesar das evidentes dificuldades, a monarquia 
continua sólida. Diante desse quadro, republicanos "exaltados" e militares positivistas, como 
Benjamin Constant, defendem a intensificação da mobilização popular. 
Conspiração – O último abalo da monarquia é a abolição da escravatura. O 
imperador perde o apoio de escravocratas, que aderem à república. Liderados pelos 
republicanos históricos, civis e militares conspiram contra o império. Comandante de 
prestígio, o marechal Deodoro da Fonseca é convidado para chefiar o golpe. Em 15 de 
novembro de 1889, no Rio de Janeiro, à frente de suas tropas, o militar proclama a 
República. O antigo regime não resiste. Dom Pedro II e a família real são desterrados e 
embarcam para a Europa dois dias depois. Deodoro da Fonseca assume a chefia do novo 
governo provisório. 
O CONFLITO 
Conflito que opõe a Igreja Católica e o governo brasileiro entre 1870 e 1875. É 
causado pelo choque entre a hierarquia católica e a maçonaria, muito influente no Império. 
Esta sociedade secreta, ligada a idéias e movimentos políticos liberais na Inglaterra e na 
França, chega ao Brasil no final do século XVIII. Durante o processo da independência e no 
decorrer do Império aumenta seu prestígio social e sua presença na estrutura de poder. As 
maiores figuras do regime, com raras exceções, pertencem aos seus quadros. No dia-a-dia do 
governo e nas decisões administrativas – como nomeação de funcionários ou destinação de 
recursos orçamentários –, a maçonaria é um canal de influência e de mediação, paralelo e 
por vezes superior aos partidos políticos. Essa atuação da maçonaria colide com a atuação da 
Igreja Católica, também muito influente no período imperial. Em 1871, o Vaticano impõe 
regras rígidas de doutrina e de culto e condena as sociedades secretas. Os bispos brasileiros, 
acatando as novas diretrizes, determinam a expulsão dos maçons das irmandades católicas e 
passam a exigir mais disciplina moral e canônica do clero. 
O conflito – Se a maçonaria tem poder político, a Igreja tem autoridade e presença 
religiosa, fortalecidas pela condição privilegiada do catolicismo como religião oficial do 
império. O conflito começa em 1872, quando o padre Almeida Martins é suspenso de suas 
funções no Rio de Janeiro por causa de um discurso em uma

Outros materiais