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36 - introdução histórica ao direito página 51 a 123

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mais antigos doeumentos escritos de natureza juridica aparecem nos finais do
omec;os do 5.0 miIenio, isto e, cerca do ana 3000 antes da nossa era, por urn
Egipco, por outro na Mesopotamia. Pode seguir-se a evoluc;ao do direito
-nas regi6es durante toda a antiguidade. No 2.0 milenio, as regi6es limitrofes
- tambem para a historia do direito: 0 Elam, 0 pais dos Hititas, a Fenicia,
Creta, a Greeia. No primeiro milenio, a Grecia e Roma dominam, ate que
os estes paises sejam reunidos no Imperio Romano, durante os cinco
==~:os seeulos da nossa era. Mais a oriente, a india e a China conhecem tambem 0
o dos seus sistemas juridicos nesta epoca.
_--e ha urna eentena de anos, nao se eonhecia, dos direitos da anciguidade, senao
romano, 0 direito grego e 0 direito hebraico. Desde encao, as descobercas
ieas e a publieac;ao e tradu<;ao de cada vez mais doeumencos juridicos
am reconstituir 0 desenvolvimenco do direito egipeio e a grande diversidade
-:: ·os cuneiformes II).
_-em se pode deserever aqui, nas poucas paginas que podemos reservar para este
:; oluc;ao geral do direito nas regi6es do mundo antigo. Queriamos apenas por
- .Deia 0 que cinco sistemas juridicos trouxeram de mais especial ao progresso do
:: das eiencias juridicas.
Egipto nao nos transmitiu ate a data codigos nem livros juridicos; mas foi a
"' eivilizac;ao na historia da humanidade que desenvolveu urn sistema juridico
e ehamar-se individualista: Rompendo com as solidariedades activas e passivas
Tanto anres como depais de 1940-1945, a Universidade Livre de Bruxelas foi urn dos centros de invesriga~:io nesre
••direc~:io de Jacques Pirenne anres da guerra, acrualmente sob a de A. Theodorides. Aqui se publicaram os Archives
oriental, acrualmente fundidos com a Revue internationale tk droitJ '" /'Antiquiti, criada par iniciariva de F. De Visscher,
-niv=idade de Lovaina. Exisre na Universidade de Paris II, sob a direc~:iode]. Gaudemer urn -Centre de documentarion
== ,Z::X>qtlI<S» que difunde, duas vezespar ano, desde 1959, urna bibliografia corrente dos direirQSda antiguidade.
rafia: J. GAUDEMET, Imtitutiom de tAntiquiti, Paris 1967; J. IMBERT, Le droit antique eI JeJ prolonr,ementJ
- ~~., Paris 1967, colec<;:ioooQuesais-je'oo.
dos direitos arcaicos e feudais, 0 direito egipcio da epoca da III a v dinastia (cerca de
3000 a 2600) e 0 da XVlll dinastia (1500-1300) parecem ter sido tao evoluidos e tao
individualistas como 0 direito romano chissico. Descreve-Ios-emos brevemente.
A Mesopora.mia foi 0 pais que conheceu as primeiras formula~6es do direito.
as Sumerios, os Acadianos, os Hititas, os Assirios, redigiram textos juridicos que se
podem chamar «c6digos», os quais chegaram a formular regras de direito mais ou
menos abstraetas.
as Hebreus, situados entre 0 Egipto e a Mesopotamia, nao atmglfam urn
desenvolvimento do seu direito tao grande como os seus vizinhos; mas registaram na
Biblia, 0 seu livro religioso, urn con junto de preceitos morais e juridicos que foram
perpetuados, nao somente no seu proprio sistema juridico ate aos nossos dias, mas
sobrerudo no direito canonico, direito dos Cristaos, e mesmo no direito mu~ulmano.
A Grecia, como 0 Egipto, nao deixou grandes recolhas juridicas, nem vastas
codifical,;oes. Mas com os seus pensadores, sobrerudo Platao e Aristoteles, fundou a
ciencia politica, ou seja a ciencia do govemo, da polis ou cidade; ela e assim a base do
nosso direito publico modemo.
Enfim Roma, na epoca da Republica e sobretudo no tempo do Imperio, fez a
sintese de rudo 0 que os outros direitos da antiguidade nos tinham trazido. Como os
Egipcios, os Romanos realizaram, nos primeiros seculos da nossa era, urn sistema
juridico que atingiu urn nivel inigualavel ate entao. Muito mais qee os Mesoporamios,
eles tiv.eram de formular as regras do seu direito e redigiram vastos livros de direito.
Sobretudo os Romanos criaram a ciencia do direito; 0 que os jurisconsultos romanos
dos II e III seculos da nossa era escreveram, serve ainda hoje de base a uma import ante
parte do nosso sistema juridico.
Antes dos Romanos, os povos da antiguidade nao puderam, parece, construir urn
sistema juridico coerente; mas esta constatal,;aO e provavelmente a consequencia da
insuficiencia das fontes juridicas actualmenre disponiveis. E possivel que urn dia a
descoberta de novos docurnentos permita fazer recuar de varios seculos, OU mesmo
milenios, 0 aparecimenro de uma ciencia do direito baseada em principios juridicos
gerais e abstractos.
1. Evoluc;ao geral
A civilizal,;ao do Nilo tern uma longa historia de cerca de quarenra seculos; a
evolul,;ao do direito conheceu ai fases ascendenres e fases descendenres, correspondendo
mats ou menos as grandes oscilal,;Oesdo poder dos faraos (2).'
(2) J. PIRENNE e A. THEOOORIDEs, -Droit egyptien., em J. GILISSEN (eel.), Introduction bibliographique., All,
Bruxelas 1966; J. PIRENNE, His/oire des institutions et du droit prive de l'Ancien Empire, 3 vis., 1932-1935; do mesmo, -Les trois
o nosso conhecimento do direito egipCIo e baseado quase exclusivamente nos
pratica: contratos, testamentos, decisoes judiciarias, actos administtativos,
Egipcios quase nada escreveram de livtos de direito, nem deixaram compila'-
-e leis ou de costumes. Mas nao deixaram de se referir frequentemente a <<leis»;
deviam ser escritas, pois, em periodo de confusao, foram lan<;adas a rua,
_=. hadas» e «laceradas». Encontram-se, de resto, «InstfU<;oes» e «Sabedorias»,
-::-em os elementos da teoria juridica ten dentes a assegurar 0 respeito das pessoas
s (v. documento n.o 1, pag. 56). E constantemente referido 0 «Maat» , que
:: como uma no<;ao supra-sensivel, 0 modelo do direito nao eserito, que nao se
'"sultar, e que tambem nao e 0 produto de uma revela<;ao divina. «Maat» e 0
·"0 a prosseguir pelos reis, ao sabor das circunsnincias. Tern por essencia ser 0
-~=:"~Hio)}; 0 ideal, a esse respeito, e por exemplo «fazer com que as clllaJ partes
ribunal satisfeitas». Como e neste preceito que reside «a lfrclaclura justi<;a»,
- - 0 pode ser traduzido por Verdade e Ordem como pot )usti<;a propriameme dita.
-. ~ n<;ao do rei e a de realizar na terra este ideal complexo; ele levara a cabo este
«vivendo 0 Maat nas suas leis», 0 que significa dizer que se deve inspirar na
_e ele tern deste principio, pois se entende que disto resultara 0 beneficio
- :is .
•-" . istoria do Egipto fara6nico compreende tres grandes epocas rradicionalmeme
- «Antigo Imperio» (da III a VI dinastia: XXVIII-XXIII see. antes de Cristo),
perio» (eujo centro e a XII dinastia: primeiro quarto do II miIenio ames de
ovo Imperio» (XVIII-XX dinastias: seeulos XVI-XI antes de Cristo). Estas
:am seguidas por «periodos intermedios»; a ultima suseita a reac<;ao da XXVI
seculos VII-VI antes de Cristo) que conduz, atraves da oeupa<;ao persa
aos Gregos e aos Romanos.
ues Pirenne, na obra citada em nota, pas em evidencia a alternaneia de
.ndividt..alistas e de periodos feudais na evolu<;ao do direito das institui<;oes
a sob 0 Antigo Imperio, a monarquia torna-se unitaria e poderosa, enquanto
i 0 privado conhece urn certo individualismo, favorecido por urn desenvol-
- Olre de I'ancienne E~ypte», Bull. Acad. Belf(lque, d. Iellres. 1959; ainda do me5mo, HiJloire de la ri"rllJalion de
vol., Neuchatel 1961-1963; E. SEIDL, Emj;ihrunf( in die iif(JpllJ(he RechlJf(eJchichle blJ zum Ende deJ Neuen Reich,s.
do me5mo, A'f(ypliJch, R,chIJf(eJ<hichteder Saiien - und Pmerzeil" 1956; ainda do mesmo, .Alliif(ypliJcheJ R,chl-, em
..d.), Handbuch der OrienlaliJlik, Abt. I, Er~. leI (Leiden 1964), pp 7-48; Ch. CHEHATA, HlJltiria do direilo privado
=>e), Cairo 1951; A. I. HARARI, Conrribulion ii I'hude de la procedure judiciaire dam I'Ancien Empire iF,YPlien, 1950;
TI. Kiinif(bch, Dokumenre aUJ dem Allen Reich. 1967; Die Privalen RechlJimchriften aUJ dem Allen Reich. 1970;
· IDEs, .The Concepr of Law in Ancient Egypt», em). R. HARRIS (ed.l; The Lef(al)'of Ef(YPI, Oxford 1971,
• -tes textes jutidique5., em TexteJ el lanf(af(eJ de /'Ef(ypre pharaonique. t. III, Le Caire 1974, pp. 21 e 55.; .Le
• ir e~yptien ancien-, nas ACla du Colloque wr Ie droil ef(yplien ancien. Bruxclle5 1974, pp. 1 e 55.; Schafik ALLAM,
1 m tier alliif(YPliJchen Arbeilmiedlunf( t'fJnOm el-Medm,h. Tubingen, 1973; J- GILISSEN, .L'apport de I'hi5roire
" • rn a I'etude de I'evolution generale du droit eta la formation du juri5re», nas me5mas Acta, pp. 227-243;
~_E\'J:' Kl, .La regie de droit dan5 l'E~ypte ptolemaique., em Amer. Slud. in Pap)'r .. t. I, 1966, pp. 725 e 55.; •.La
C2llS I'Egypte romaine», in .d., r. VII, 1970, pp .. ~17e55 ..
vimento de uma economia de trocas. A partir da VI dinastia, assiste-se ao restabele-
cimento de urn regime senhorial e em parte feudal, com 0 parcelamento da autOridade
entre os regulos, enquantO que 0 direito privado volta a solidariedade de clas e de
aldeias, no quadro de uma economia fechada. A mesma evolu~ao no Novo Imperio,
que atinge 0 seu apogeu na epoca da XVIII dinastia (seculos XVI e XII), mas urn novo
declinio nos secuIos XI-X. Depois, urn terceiro cicIo ascendeme na epoca da XXVI dinastia.
Jacques Pirenne quis reagir contra uma concep~ao demasiadameme linear do
direitO egipcio, em que os histOriadores se serviam de documemos de qualquer epoca
para reconstituir urn sistema juridico que pouco teria evoluido. Muitos dos especialistas niio
alinharam pela imerpret~ao dos textOs dada por ]. Pirenne; mas 0 essencial dela foi aceite.
Os periodos do direitO individualista SaD marcados por urn estado juridico
proximo daquele que os Romanos conheceram nos seculos II e III da nossa era e
daquele que conhecemos hoje: urn individuo isolado em face do poder, sem grupos ou
hierarquias imermooias, possui uma liberdade real para dispor da sua pessoa e dos seus bens.
Descrevamos, a titulo de exemplo, 0 direito da epoca que vai da III a V dinastia
(seculos XXVIII-XXV), que constitui 0 primeiro sistema juridico desenvolvido da
historia da humanidade.
Todo 0 poder pertence ao rei. A nobreza feudal desapareceu. 0 rei governa com
os seus funcionarios. Os chefes dos departamentos da administra~ao formam urn
verdadeiro «Conselho de Ministros», presidido pelo vizir, uma especie de chanceler: Os
funcionarios SaD agrupados em departamentos: finan~as, registos, dominios, obras
publicas, irriga~ao, cuIto, intendencia militar, ete. Cada departamemo possui os seus
offcios na maior parte das 42 nomes (provincias). 'Todos os funcionarios SaDnomeados
por urn djet, uma «ordem real»; eles SaDremunerados; e podem ascender todos eles as
mais altas fun~6es, seguindo uma rigorosa carreira administrativa:
Os tribunais SaDorganizados pelo rei. 0 processo e escrito, pelo menos parcial-
mente; junto de cada tribunal esta instalada uma chancelaria, encarregada da conserva~ao
dos actos judiciarios e dos registos de estado civil.
A lei teria sido a principal fonte de direito (ainda que nao se tenham encontrado
quaisquer exemplos dela); teria suplantado os costumes. E promulgada pelo rei, depois
do parecer de urn «Conselho de legisla~ao».
A este direito publico centralizador corresponde urn direito privado individualista.
Nao ha sinais de solidariedade clanica. Todos os habitames SaDiguais perante 0 direito:
nem nobreza privilegiada, nem servos, nem escravos privados; mas os prisioneiros de
guerra SaD utilizados pelo Estado nas obras publicas e nas minas, em situa~ao
semelhante a di escravatura.
A celula social por excelencia e a familia em sentido restrito: pai, mae e filhos
-~ores. Marido e mulher sao colocados em pe de igualdade: nao hi qualquer
- ridade marital, nem tutela da mulher. As mulheres, mesmo casadas, podem dispor
eu patrimonio proprio, par doa<;ao e por testamento. Nao hi sinais de harem; 0
-= ento e monogimico, a excep<;aodo do rei.
"Todos os filhos, filha como filho, sao iguais: nem direito de primogenitura, nem
.-uegio de masculinidade. 0 filho maior pode possuir urn patrimonio proprio, de que
- -e dispor livremente: A liberdade de testar e completa, salvo (talvez) a reserva
- ~ itiria a favor dos filhos. 0 testamento existe pelo menos desde a IV dinastia; <:lifere
.- ndamente do testamento romano; e urn acto de disposi<;ao(imytper = «0 que eXlste
- - a»), revogivel ate a motte do testador (v. documento n.o 2 e 3, pag. 57 e sgs.).
Todos os hens, imoveis como moveis, sao alieniveis. A pequena propriedade
-r:;ina; os grandes dominios sao raros. Nao hi contratos perpetuos; hi grande mobilidade
:;ens revelada pela periodicidade dos recenseamentos:
o direito de contratos e muito desenvolvido: conservam-se actos de venda, de
-ndamento, de doa<;ao,de funda<;ao.
o direito penal nao parece de modo algum severo, em compara<;ao com os
_-:os periodos da antiguidade; por exemplo, nao se encontra praticamente repre-
c;aoda pena de motte.·
A partir do fim da V dinastia, constata-se urna evolu<;ao cipida para urn regime
arial, at raves da forma<;aode urna oligarquia social baseada nurna nobreza sacerdotal,
o desenvolvimento da hereditariedade dos cargos e das diversas formas de imunidade:
.A esta evoluc;ao do direito publico corresponde urna evolu<;ao paralela do direito
do: refor<;o do poder paternal e marital, desigualdade no dominio das sucess6es ,.
_-a introdu<;ao do direito de primogenitura e do privilegio de masculinidade. Muitas
erras tornam-se inalienaveis: os contratos tornam-se raros.'
.Entra-se neste momento no regime de economia fechada, enquanto que as
fncias se separam do poder central. 0 declinio e geral. 0 Egipto instala-se numa
~ dalismo» que durani varios seculos; de facto, parece que algumas cidades do Delta
_ :lServam 0 seu direito individualista.'
o renascimento da centraliza<;ao do poder e do direito individualista come<;a com
~ Xli dinastia (Medio Imperio); ele sera no entanto travado pelas invas6es dos Hicsos
- :l.f'ailte0 II periodo intermedio.
No seculo XVI, com a XVIII dinastia, reenconcra-se urn sistema juridico que se
assemelha ao do Antigo Imperio, tanto no dominio do direico publico como no
dominio do direico privado: preponderancia da lei, igualdade juridica dos habitantes,
desaparecimento da escravidao, igualdade dos filhos e das filhas, liberdade de testar.
Este sistema juridico individualista apaga-se, por sua vez, a partir do seculo XII,
sobretudo sob a influencia crescente do clero e em razao de novas invas6es: assiste-se ao
desenvolvimenco de urn segundo periodo senhorial de natureza teocnitica que durani
ate cerca de 700.
E neste momento que com~a aquilo que Jacques Pirenne designou por terceiro
«cido» ascendente da evolw,;ao do direico egipcio. Encontra-se urna primeira mani-
festac;ao duma renovac;ao no «c6digo» de B6coris, rei da cidade maritima de Sais, cerca
de 720: as tenencias desaparecem, a escravidao por dividas e suprimida, a mulher
adquire a completa capacidade juridica, a igualdade dos fllhos e das fllhas e assegurada em
materia de sucessao. Mas este sistema juridico e ainda limitado a algumas cidades do Delta.
A partir de 663, Psametico, rei de Sais, vence a tutela dos senhores feudais e do
dero. Com a XXVI dinastia, instala-se no Egipto urn novo tipo de direito privado
individualista e de poder real centralizado e forte. A ocupac;ao persa, e mais tarde
romana, deixara subsistir parcialmente este sistema juridico, que exerceni urna influencia
considenivel sobre 0 desenvolvimento dos direicos helenisticos e romanos.
Na epoca dos Pcolomeus (seculos IV-I antes de Crisco), 0 Egipco permanece
entre os paises mais pr6speros da bacia mediterranica. 0 sistema juridico deste periodo
e cada vez melhor conhecido, grac;as a descoberta e analise de nurnerosos papiros, que
cornam possivel 0 conhecimento da organizac;ao administrativa e judiciaria e, sobretudo,
do direico privado da epoca (3).
«Quando urn gueixoso vem do Alto ou do Baixo Egipto, ... e a ti gue cumpre cuidarque cudo seja feito segundo a lei, gue tudo seja feito segundo os regularnentos gue the dizem
respeito, fazendo corn gue cada urn tenha 0 seu direito; Urn vizir deve (viver) corn' 0 costo
destapado. A agua e 0 vento trazem-me tudo 0 gue ele faz. Nada do gue ele f3.ze desconhecido...
Para 0 vizir a seguran<;ae agir segundo a regra, dando resposta ao gueixoso. Aguele gue e
julgado nao deve dizer: «Nao me foi dado 0 meu direito».
(3) Sabre a papirologia, v. R. TAUBENSCHLAG, The law of greco-roman Egypt in the ligth of papyri, 2.' ed. Warsaw
1955; E. SEIDL, Ptolomdische RechtJgeschichte, 1962; M. Th. LENGER, CorpllS des ordonnances des Lagides, Bruxelas 1964;
]. MODRZE]EWSKI, .La regie de droit dans I'Empire ptolemaique., American stllditi in papyrology, t. I, 1966, p. 725 e 55., e
t. VII, 1970, p. 317 e 55.. Ver tambem a cronica anual de papiro1ogia feita pot]. MODRZEJEWSKI na Revile historiqlle de droit
franrois et itranger.
_ ill> afastes nenhwn queixoso, sem tefacolhido a sua palavra. Quando wn queixoso vem
--se a ti, nao recuses wna {mica palavra do que ele diz; mas, seo deves mandar embora,
:aze-Io de modo que ele entenda por que 0 mandas embora. Atenta no que se diz:
oso gosta ainda mais que se preste aten<;iioao que ele diz do que ver a sua queixa atendida".
Atenta em que se espera 0 exercicio da ]ustic;a na maneira de ser de urn vizir. Atenta
_e e a lei justa, segundo 0 deus (Ra). Atenta no que se diz do escriba do vizir: 'Escriba
.cO (a Justic;a), e (0 seu nome). A sala onde das audiencia, e a sala das Duas JustiC;as, em
Iga: e quem distribui a]ustic;a perante os homens e 0 vizir» .
• Atenta, urn homem mantem-se na sua func;ao, quando ele julga as causas conforme as
- s que Ihe sao dadas, e e feliz 0 homem que age conforme ao que Ihe e prescrito. Mas
aquilo que desejas nas causas em que as leis a aplicar SaDconhecidas, pois acontece ao
- oso que 0 Mestre a ele prefira 0 temente».
«Que tu possas agir conforme estas instruc;6es que te SaDdadas ... ».
Tradu<;ao e comentario: A. MORET, Le Nil et la ci1'ilisation
~f!.yptienne, Paris 1937, pp. 331-332 et A.11-IEOOORlDES,
«A propos de la loi dans I'Egypte ancienne», Ret,. Intern.
Dr. Antiq., t. 14,1974, p, 148-150.
o verso:
Acto de «imyt-per» (4) que 0 «phylarque» t5J Merysai"ntef realizou a favor de seu
Intefsamery, de sobrenorne Iousenbou.
o rnto:
No ana XXXIX (de Amenemhat III), no 4.° mes da (eStac;ao) «akhet», no 19° dia.
de «imyt-per» feico pelo «phylarque» Merysai"ntef, de sobrenome Kebi, a favor do seu
Intefsamery, de sobrenome Iousenbou.
«Eu dou 0 meu «phylarquat» a meu filho Intefsamery, de sobrenome Iousenbou, com a
- 'C;aode de ser para mim urn «amparo de velhice» pois eu sou enfermo».
«Que ele seja investido instantaneamente».
«Quanto ao acto de «imyt-per» que eu antes tinha feito a favor da sua mae, que esce
; evogado».
«No que diz respeico a minha casa, situada no dominio de Houcmedet, ela fica para
filhos, que nasceram de Sacnebethenounesou, filha do guarda de conselheiro de discrito de
kemhat, com tudo 0 que ela contern».
(4) lmyt-per: etimologicamenre: +(0 que existe na casa», ~cinventarjol+; por extensao: «coda a manifesta<;ao de vontade
~ que rnodifica a devolu<;iiolegal dos bens•.
m Chefe de urn gropo de sacerdotes, charnaclo .phyle» na epoca grega.
A. THEODORIDES, «Le testament dans L'Egypte
ancienne», . Rex'. intern. Dr. Ant/quite, 3.0 s., t. 17,
1970, p. 125 a 129: Papyrus Kahoun, VII,!.
Llsta nominatlva das testemunhas que assistiram a confee<;aodo presente acto de
«imyt-per»: (cres nomes).
Urn padre, pai de familia, institui legataria a sua mulher, exprimindo-se como se segue:
«... Assim, eu vim perante 0 Villr e os Magiscradosmembros do Conselho (de Medioet
Habou), oeste dia, a fim de fazer coohecer a sua parte a cada urn dos meus filhos e esta
disposi<;aoque eu vou romar a favor da «cidada» Aooksouoedjem, esta mulher que esta oa mioha
casa acrualmeme, pais que 0 Farao disse: que cada urn fa<;a0 que deseja dos seus beos, ... ».
Da-se 0 nome de «direitos cuneiformes» ao conjunto dos direitos da maior parte
dos povos do Proximo Oriente da antiguidade que se serviram de urn processo de
escrita, parcialmenre ideografico, em forma de cunha ou de prego (6).
Apesar da grande diversidade etnica, estes povos desenvolveram civiliza~oes
aparenradas, cuja comunidade foi refor~ada pela difusio da lingua acadica como lingua
diplomatica e como lingua culta.
Nao ha um direito cuneiforme onico, mas urn con junto de sistemas juridicos, de
periodos e de regi6es diferenres, apresentando uma certa unidade: direitos das diversas
regioes da Sumeria, da Acadia, da Babilonia, da Assiria, de Mitanni, de Urartu e
tambem de cenrros mais proximos do Mediternineo, como Alalakh e Ugarit. Mais ao
Norte, na Turquia actual, formou-se no 2.0 milenio 0 vasto reino dos Hititas.
A historia dos povos do Proximo Orienre dos milenios IV ao I e muito
complexa; 0 mesmo se passa com a evolu~ao dos seus sistemas juridicos. De resto, esta
(6) G. CARDASCIA, .Les droits cuneifonnes., em MONIER, CARDASCIA e IMBERT, Hisloir< des Insliluliom ... ,
1956, pp. 17-68; e em J. GIlISSEN (ed.), Introd. bibliogr., A/2, Bruxelas 1966; R. HAASE, Einfiihrung in das Sludium
Keilschrift/icher Rechlsquel/en, Wiesbaden 1965; V. KOROSEK, .Keilschriftrech., Handbuch der Orienla/islik, I Abt., Band III,
Leiden 1964, p. 49-219; W. EILERS, .Reflexions sur les origines du droit en Mesopotamie., Rev. hisl. droilfr. el elranger.
1973, p. 195-216.
eVQluc;ao e ainda muito mal conhecida; mas numerosas descobertas arqueol6gic
recentes permitem reconstituir as suas fases principais.
Limitando-nos a regiao da Mesopotamia (Tigre e Eufrates), pode-se disting •
na hist6ria politica os seguintes grandes periodos (7~
~ periodo sumerio (fim do 4.0 milenio - 2350);
- periodo acadio-sumerio (seculos XXIV-XX);
dinastia de Akkad (nomeadamente Sargon);
3. a dinastia de Ur (nomeadamente Ur-Nammu);
pedodo paleobabil6nico (1900-1530, aproximadamente);
dinastias de Esnunna, de Isin, de Larsa;
reino de Mari;
- dinastia babil6nica (nomeadamente Hammurabi, 1728-1686 antes de Cristo);
- periodo Kassite (seculos XVI a XII antes de Cristo);
- imperio assirio (seculos XI a VII antes de Cristo);
- dinastia neobabil6nica (626-539);
Do ponto de vista da evoluc;ao do direito, a cueva e mais simples do que a da
evoluc;ao do direito egipcio; ela nao comporta senao urn momento alto que se situa na
epoca de Hammurabi, enquanto que, no mesmo periodo, 0 Egipto comec;a somente a
sair do regime senhorial, depois de ter conhecido, contudo, urn periodo de grande
desenvolvimento cerca de dez seculos mais cedo.
Os primeiros vestigios de uma sociedade estruturada e de uma organizac;ao
politica situam-se ja antes do «diluvio» (8) nas cidades-templos sumerias: Eridu,
U r, Larsa, Lagas, ete. .. ; rrata-se de principados independentes dotados de urn regime
de colectivismo teocratico, em que 0 poder estava nas maos de assembleias de
sacerdotes.
Depois do «diluvio» a evolw;ao do direito e relativamente rapida entre os anos
2400 e 2000. Urukagina, rei de Lagas, por volta de 2400, e 0 primeiro reformador
social da hist6ria; nos textos que datam do seu reinado, constata-se urna tendencia para
a igualdade juridica entre os cidadaos. Essa evolu<;ao chega a maturidade nas recolhas
juridicas redigidas entre os seculos XX e XVI.
A maior parte destas recolhas [{)fam descobertas no decorrer das ultimas decadas;
a sua publicac;ao e sobretudo a sua rraduc;ao e a sua interpretac;ao estao ainda em curso.
(7) A cronolo~ia da hisroria dos povos cunei formes dos milenios II e III continua a see incerra; assim, a chegada
de Hammurahi an poder foi ferardada de c{'rea de 27'S anns e siruada roc volta dl' 1940 a.C.: sirua-se acrualmenre 0 seu
rei nado entre 17 2fl e 1686 a.c. Adoptamos·' crnnolo/pa de G. Cardascia na sua bibliografia.
pO 0 diluvio descrirD oa Bihlia foiprovavelmentt: uma ~rande inunda<;ao da baixa planicie do Tigre e do
Eufrates. por volta dos seculos XXVI ou XXV a.c.
es geralmente «cooigos», erradamente, alias, pois niio contem seniio urn
~~~ -limero de disposir;6es (30 a 60 artigos), relativas a quest6es de detalhe, e niio
ir;iio sistematica e completa do direito ou de uma parte do direito. Siio antes
e textos juridicos agrupados de uma maneira que parece il6gica, mas
quilo que parece ser «0 mecanismo instintivo da associar;iio de ideias». Estes
parece mesmo terem sido leis, mas antes, como lhes chama 0 C6digo de
i, dinat misharim, ou seja, julgamentos de direito, ensinamentos indicando
aos juizes. Cada frase, geralmente breve, diz respeito a um caso concreto e
s:'::~:aojuridica; a maior parte comer;a por uma expressiio equivalente a expressiio
(se alguem ... ), situando a formular;iio a meio caminho entre 0 concreto e 0
Mas as recolhas de direito cuneiformes niio conhecem qualquer sistema-
ireito, qualquer doutrina juridica.
a que ai niio se encontre nenhuma exposir;iio geral do sistema juridico, estes
constituem no entanto os primeiros esforr;os da humanidade para formular
o mais antigo «c6digo» acrualmente conhecido e 0 de Ur-Nammu, fundador
astia de Ur (cerca de 2040 antes de Cristo), (documento n,o 1, pag. 64).
-se vestigios de textos mais antigos, como o.«cooigo» de Urakagina de Lagas,
- os do 3.0 milenio, ou 0 de Sulgi, em Ur. Do mesmo periodo, conservam-se
e actos da pratica e actas de julgamento (di-tel/aJ (9).
Depois do desmembramento do reino de Ur, varios principados fizeram
o sentido da redacr;iio de recolhas juridicas, nomeadamente os de Esnunna
Tigre, na Acadia) e de Isin (perro do Eufrates, na Sumeria). 0 C6diKo de
escrito cerca de 1930 antes de Cristo (atribuido erradamente ao rei de
contem cerca de sessenta artigos (documento n.o 2, pag. 64). Do COdigo de
, rei de Isin, escrito cerca de 1880 antes de Cristo, encontrou-se 0 pr610go, 0
=Iic? e 37 artigos; era destinado a «estabelecer 0 direito nas regi6es da Sumeria e da
o monumento juridico mais importante da antiguidade antes de Roma e 0
- Hammurabi, rei da Babil6nia (provavelmente 1726-1686) (0), 0 texto provavel-
igido por volta de 1694, antes de Cristo, esta gravado numa estela descoberta
em 1901 e actualmente conservada em Paris no Museu do Louvre. Compreende
os; numerosas disposir;6es foram igualmente encontradas em tabuinhas de
E. SZLECHTER, .Le Code d'Ur-Nammu., Revue d'AHyriolof(ie, r. 49, 1955, pp. 169-177; do mesmo,
_'ques el adminislralives de/a 3.' dynaslie d'Ur et de la I;" dvnaslie de Babylone. Paris 1963.
G. R. DRIVER, e J. MILES, The Babylonian Laws, 2 vols., 1952-1954 (renos e rradu~ao desde 0 C6digo de
o - are a epoca neobabiI6nica); A. FINET, Le Code de Hammurapi. Inlroduction. Iraduction el annolalion. Paris
SZLECHTER, Codex Hammurapi, Roma 1977. Deve-se escrever Hammu-rabi (= Hammu e grande) ou Hammu-rapi
rural' Tal como G. Cardascia, conservamosHammurabi; conlra, A. Finer e E. Szlechrer.
argila, de urn manejo mais pnitico; san aparentemente os «c6digos» porcateis de que -
serviam os praticos (ver docurnento n. 0 3, pag. 65).
Na parte superior da estela, urn baixo-relevo representa 0 deus-sol Samas,
grande juiz dos ceus e da terra», ditando a Hammurabi as regras do direito que ai est;:
gravadas. Este declara, alias, no fim do texto: «Hammurabi, rei do direito, sou eu _
quem Samas oferece as lei,s». As leis san portanto de origem divina; 0 baixo-relevo fE
pensar em Jeova entregando 0 Decalogo a Moises (infra). Mas, enquanto que 0 direi -
de Israel, como os da India e do Islao, san direitos religiosos, dados por Deus, 0 C6digc
de Hammurabi nao e senao inspirado. por Deus. 0 direito babi16nico e sobretudo.
como 0 afirma tambem 0 pr610go do C6digo de Ur-Nammu, urn «regulamento de
paz»; 0 rei aparece como urn justiceiro e urn protectOr dos fracos: 6rfaos, viuvas.
pobres; ele deve garantir a liberdade de cada urn. 0 direitO babil6nico da epoca de
Hammurabi apresenta assim certas analogias com 0 direitO proveniente do movimemc
de paz dos seculos.XI e XII da Europa ocidental (infra).
d) Em Mari (no Eufrates, ao norte da Babil6nia) descobriram-se desde 1935
cerca de 20 000 tabuinhas, datando da primeira metade do seculo XVIII, ou seja
pouco mais ou menos da epoca do C6digo de Hammurabi; crata-se em geral de
documentos da pratica adminiscrativa, juridica ou econ6mica. A sua decifra<;ao e
tradu<;ao ainda nao estao terminadas.
e) Na Assiria, a montante da Babil6nia, recolhas juridicas chamadas «c6digos
aSSlflOS» foram redigidas em diversas epocas: as mais antigas datam de antes de
Hammurabi, cerca de 1950-1870 antes de Cristo; urn segundo grupo data de cerca de
1450-1250; 0 terceiro, cerca de 750-700. Eles revelam todavia urn direitO muito
menos desenvolvido que 0 da regiao da Surneria e da Babi16nia (II).
f) Os Hititas estavam instalados no segundo milenio na reglao de Hacri, ao
centro da actual Turquia asiatica (regiao de Ankara). Cerca de 1800 antes de CristO,
formou-se ai urn reino hitita, pela reuniao de varios pequenos principados; reino de
tipo feudal, ele vai no decurso dos seculos seguintes aurnemar 0 seu poderio, para se
comar cerca de 1400 a 1300 num vasto imperio, pouco mais ou menos igual ao Novo
Imperio egipcio. Desaparece cerca de 1200 ap6s as grandes invas6es dos «povos do
mar». Parece no entanto ter sido urn elo de liga<;ao entre os direitOs mesopotaroicos e
os direicos gregos.
Em Hattusas (actualmente Bogaskoy, a 150 km de Ankara), capital do reino,
foram descobertas a partir de 1906 mais de 2500 tabuinhas contendo actOs juridicos, e
duas recolhas de textos juridicos que foram chamadas (erradarneme) 0 C6digo
.::avado em caracteres cuneiformes e datando provavelmente do seculo XIV (12).
recolhas contem por urn lado urn con junto de regras de origem consueru-
?Or outro lado formula<;6es relativamente absrractas de regras juridicas
-eore proclamadas pdo rei. Elas dizem respeito sobretudo ao direito penal,
.- 0 os delitos comra a autoridade publica, comra as pessoas e comra os bens
roubos); encoorram-se ai tambem alguns anigos rdativos ao direito privado,
=~z=ente ao casamento.
i ualmeme encontrada em Hattusas, a copla de tratados InternaCIonalS:
:::.e alian<;a com 0 Farao Ramses II (1270 a'ntes de Cristo), tratados de
- ~ 0 e de vassalagem com os paises dominados pdo poder hitita. Trata-se dos
actos da historia do direiro internacional OIl.
njumo, 0 direito hitita e 0 de urna sociedade sobrerudo agricola, embora ainda
~ i:udalizada; parece mais arcaico que 0 da Babilonia na epoca de Hammurabi.
igo de Hammurabi e os numerosos actos da pnitIca do mesmo periodo
~ onhecer urn sistema juridicomuito desenvolvido, sobretudo no dominio do
.. do principalmeore os comratos. as Mesopotamicos praticaram a venda
[I:f~~~ .enda a credito), 0 arrendamemo (arrendamemos de instala<;6es agricolas, de
emos de servi<;os), 0 deposito, 0 emprestimo a juros, 0 titulo de credito
om a clausula de reembolso ao porrador), 0 comrato social. Eles faziam
CJea..riase financeiras em grande escala e tinham ja comandita de comerciantes.
esenvolvimento da economia de troca e das rda<;6es comerciais, 0 direito da
:...; :nmurabi criou a tecnica dos contratos, ainda que os juristas nao tivessem
..=I~~':>:::;:I~ onstruir urna teoria abstracta do direito das obriga<;6es; da Babilonia, esta
-;: contratos espalhou-se por toda a bacia do Meditewlneo; os Romanos
--~~ Inalmente e conseguiram sistematiza-Ia.
-=::.- em no entanto, na epoca de Hammurabi, sobrevivencias do periodo
- _ : exemplo, na medida em que 0 poder paternal e mais extenso do que no
:" . insolvente podia eorregar a sua mulher ou os seus filhos ao credor para
- 2balhassem ao seu servi<;o), ou ainda no facto de a poligamia subsistir,
ao marido cuja esposa e esteril tamar uma outra mulher, e, enfim, na
. eo direito penal continua extremameme severo.
efeitodas invas6es que se seguiram a mone de Hammurabi (Hititas, Kassites,
:-i E, .Hethitische Recht., em). GILISSEN (ed.), Intr. bibl .. A/3, Bruxelas 1967; H. A. HOFFNER, The
aI ham Mass. 1963.
KESTEMONT, D,pl(JrrJ4lique el droil internalional en Am occidmlale ( 160()·1200 avo J. c. i, Louvain-la-Neuve 1974.
Aqueus, Meclos e Persas) e das civiliza<;6es menos desenvolvidas dos invasores, a soci
mesopotimica desagrega-se, quer seja por absor<;ao ou por feudaliza<;ao. So a- Babil -
continuani durante varios seculos ainda a ser 0 centro de uma civiliza<;ao desenvoh,.
que transmitira aos povos do Mediterraneo: Hititas, Fenicios, Gregos e Romar:-
Col. Ill. Havia pastores que ficavam junto dos bois, que ficavam junto dos carneiro;
que ficavam junto dos burros C .. ) Nesse dia Ur-Nammu, vania forte, rei de Ur, da Surrieri~
da Acadia, com a for~a de Nanna, rei da cidade; C .. ) a equidade no pais estabeleceu,
desordem e a iniquidade (pela for~a?) cortou; capitaes de navios para 0 comercio «fluviaJ,> (
para a navega(ao mercantil), pastores que ficavam junto dos bois, que ficavam junto C
carnelros, que ficavam junto dos burros C .. ).
Col. VI. C .. ) Se urn cidadao acusa urn outro cidadao de feiti~aria e 0 leva perante 0 det:!
rio (e se) 0 deus rio 0 dedara puro, aquele que 0 levou ...
Col. VIlI. Urn cidadao fracturou urn pe ou urna mao a ourro cidadao durante uma r'
pelo que pagani 10 sidos de prata. Se urn cidadao atingiu ourro com urna arma e the fractur
urn osso, pagani uma «mina» de prata. Se urn cidadao cortou 0 nariz a ourro cidadao com
objecto pesado pagani dois ter~os de «mina».
E. SZlECHTER, «Le Code de Ur-Nammu» ReVue d'ass)-
ri%gre, t. 49, 1955, pp. 169-177.
5. Se urn barqueiro e negligente e deixa afundar 0 barco, ele respondera por tude
aquilo que deixou afundar.
17. (Quando) 0 filho de urn cidadao trouxe 0 dos ex-marito para a casa do seu (futuro
sogro, e se urn dos dois (noivos) morre, 0 dinheiro deveca vol tar ao seu proprietario.
22. Se urn cidadao (que) nao tern 0 menor credito sobre urn (outro) cidadao conserv~
(no entanto) como penhor 0 escravo (desse) cidadao, 0 proprietario do escravo pres tara
juramento diante de deus: «tu nao tens 0 menor credito sobre mim»; (entao) 0 dInheiro
correspondente ao valor do escravo ele (0 detentor do escravo) deve pagar.
27. Se urn cidadao toma «por mulher» a filha de urn cidadao sem pedir (0 consen-
timento) do seu pai e da sua mae e nao condui urn contrato de «comunhao e cas~ento» com 0
seu pai e a sua mae, ela nao e (sua) esposa (legitima), mesmo que ela habite urn ana na sua casa.
36. Se urn cidadao da os seus bens em deposito a urn estalajadeiro, e se (a parede da)
casa nao esta furada, 0 batente da porta nao esca partido, a « janela» nao esta arrancada, e se os
bens que ele deu em deposito se perdem, ele (0 estalajadeiro) deve indemniza-Io dos seus bens.
Se urn cao e (conhecido como) perigoso, e se as aucoridades da Porta preveniram 0
'0 (e este) nao vigia 0 seu cao, e (0 cao) morde urn cidadao e causa a sua morte, 0
o cao deve pagar dois ter<;os de uma «mina» de prata,
E. SZLECHTER, Les lois d'Esnunna, transcription, traduction
et commentaire (Publica<;6es do Institut de Droit Romain
da Universidade de Paris XII), Paris, 1954, pp, 13-33.
Se alguem acusou urn homem, imputando-lhe urn homiddio, mas se ele nao pOde
OIIrn~~,- - cisso, 0 aeusador sera morto.
alguem impurou a urn homem aetos de feiti<;aria, mas se ele nao pode
isso, aquele a quem foram imputadas as actividades de feiti<;aria, ini ao Rio;
Rio. Se 0 Rio 0 dominar, 0 acusador ficara com a sua casa. Se este homem for
::e.o Rio, e se sair SaGe salvo, aquele que the tinha imputado aetos de feiti<;aria sera
~ e ue mergulhou no Rio ficara com a casa do seu aeusador.
Se alguem entregou 0 seu terreno contra 0 produto a urn trabalhador e se. ele
uro desses terrenos, se em seguida 0 deus Adad inundou 0 terreno ou se urna
estruiu, os danos ficam apenas a cargo do trabalhador.
Se alguem entregou urn terreno a urn arboricultor para ai plantar urn pomar, se 0
lantou 0 pomar, durante quatro anos, ele cultivanl 0 pomar; no quinto ano, 0
:lII[+:!::e::I-,1O eo arboricultor partilhacio em igualdade os &utos, mas e 0 proprietario do pomar que
~:n: com que quer ficar (a).
Se alguem entregou 0 seu pomar a urn arboriculror para 0 fazer frutificar, 0
- :. enquanto tiver 0 pomar, entregani ao proprietario do pomar dois ter<;os da
- ~ pomar; ele mesmo tom ani urn ter<;o.
Se urn homem desaparecer e na sua casa ha de comer, a sua esposa manteca a sua
-=ri conta de si; nao entrara na casa de outtem, Se essa mulher nao tomou conta de si
- casa de outro, essa mulher sera condenada e sera deitada a agua,
Se urn homem desapareceu e se riio ha de que comer na sua casa, a sua esposa
na casa de urn outto; essa mulher nao e culpada.
~5. Se urn homem casou com uma sacerdotiza naditum e se ela nao the deu filhos e se
- casar com uma sacerdotiza sugetum, este homem podera casar com uma sugetum; e
enrrar na sua casa. Esta sugetum nao sera tida em pe de igualdade com a naditum (b).
Se urn filho agrediu 0 seu pai, ser-lhe-a cortada a mao por altura do pulso,
Comparar com 0 direito hebraico, Levitico, XIX, 23-25:
rles eocrado na regiiio e riverdes .planrado todas as espeeies de mores frutueras considerareis os seus frutos
= proibidos); durante {{es anos, serao, .incirconsis. para v6s; niio sew comidos. No quarto ano, todos os seus
rados em louvor de Jeov:i. No quin~ ano, comereis os seus fruros e assim a arvol'e continuaci a produzir para v6s •.
- 'I""': sacerdorisa de c1asse elevada .
• lLtT1: sacerdotisa de c1asse subaJterna.
196. Sealguern vazouurn olho de urn hornern livre, ser-lhe-avazado0 olho.
197. Se ele parriu urn 0550 de urn hornern livre, ser-lhe-a partido 00550.
A. FINET, Le Cock tk Hammurapi, Introduction, tradll;.
et annotations, Paris 1973.
Os Hebreus sac Semitas que viviam em tribos nomadas, conduzidas por chefe5
Eles atravessam a Palestina na epoca de Hammurabi, penetram no Egipto, retorn ~
(0 Exodo) a Palestina e instalam-se ai entre os Hititas e os Egipcios, provavelmente n
inicios do seculo XII, talvez mais cedo.
A seguir a sedentariza<;ao, e estabelecido urn poder tinico sobre 0 con junto da.o
tribos; pertence ao rei, cuja autoridade se refor<;a nos seculos XI e X. 0 apogeu 2-
reino de Israel situa-se na epoca de David 0029-960) e de seu filho Salomao (960-935
Seguidamente, diss~ns6es internas provocam a divisao em dois reinos: 0 reino de Israe ..
no Norte, que foi ocupado pel os Assirios em 721; eo reino de Juda, no SuI, a volta de
Jerusalem, que resistiu ate 586. Persas, Macedonios, Romanos ocuparam seguidamente
a Palestina. A revolta dos Judeus contra os Romanos leva, nos seculos I e II depois de
Cristo a sua dispersao (diaspora); mas, apesar da perda da sua unidade politica, ele5
conservam uma grande unidade espiritual.
o direito hebraico e urn direito religioso. Religiao monoteista, muito diferente
dos politeismos que a i:odeavam na antiguidade. Religiao que, atraves do cristianismo
que dela deriva, exerceu urna profunda influencia no Ocidente.
o direito e «dado» por Deus ao seu povo. Assim se estabelece uma «alian<;a»
entre Deus e 0 povo que ele escolheu; 0 Ded.logo ditado a Moises e a Alian<;a do Sinai,
o Codigo da Alian<;a de Jeova; 0 Deuteronomio e tambem urna forma de alian<;a.
o direito e desde logo imutavel; so Deus 0 pode modificar, ideia que reencontraremos
no direito canonico e no direito mu<;ulmano. Os interpretes, mais especialmente os
rabinos, podem interpreta-Io para 0 adaptar a evolu<;ao social; no entanto, eles nunca 0
podem modificar (14).
(14) S. PAUL, _Biblical Law>, em J. GIUSSEN (ed.), Introd. bibliogr. op. cit., A/6, Bruxelas 1974; do mesmo,
Bibliographical Material for a Study of Biblical Law, Jerusalem 1972; Z. W. FALK, Hebrew Law in Biblical Times. Jerusalem 1964;
do mesmo, -Jewish Law~, em J. D. DERRETI'(ed.), An introduction to legal systems, Londres 1968, p. 28-53; J. PIRENNE, La
socihe hebraique, d'aprh la Bible, 1965; I. HERZOG, The Main InJlitutions of Jewish Law, 2.' ed., 2 vol., Londres 1967;
B. COHEN, Law and Tradition in judaism, Nova lorque 1959; do mesmo, Jewish and Roman Law. 2 Vol., Nova lorque 1966;
R. DE VAUX, LeI instjtutions de /'Ancien Testament, 2 vol., Paris 1958-1960; J. M. POWIS, The Origin and History of Hebreu/ Lau·.
Chicago 1960.
nurnerosas instituic;6es hebraicas sobreviveram no direito medieval e mesmo
sobretudo pelo canal do direito canonico; porque 0 direito canonico tern a
te que 0 direito hebraico, a Biblia, pelo menos os livros que os cristaos
10 nome de «Antigo Testamento».
:::--= as sobrevivencias, citam-se nomeadamente a dizima e a sagrac;ao. A dizima
Israel, foi retomada no Ocidente desde a alta idade media para dar ao dero 0
ropriar de urna parte (entao urn decimo) dos rendimentos dos fieis.
-=g:a<;ao, que subsiste ainda em certos paises (nomeadamente em Inglaterra), e
~~ enrronizac;ao do rei, que consiste sobretudo na coroac;ao que opera «0 inves-
~- :-ei pdo Espirito de Jeova»; 0 rei torna-se assim 0 representante de Deus no
-~- 0 0 povo ratificado a escolha divina, urn pacto de alianc;a e estabelecido
= 0 seu povo.
_ - ~. 0 hebraico exerceu tambem uma grande influencia sobre 0 direito muc;ul-
ente no dominio da organizac;ao da familia, bem como das formas e
o casamento.
religioso, 0 direito hebraico esra em grande medida confundido com a
ontes estao contidas nas escrituras, isto e, na Biblia, livro da Alianc;a de
e urn livro sagrado; contem a «Lei» revelada por Deus aos Israelitas.
sua parte pre-crista, isto e, 0 Antigo Testamento) tres grupos de livros:
tateuco, quer dizer, os Cinco Livros:
Genese (a Criac;ao, a vida dos patriarcas)
Exodo (estadia no Egipto e volta a Canaa-)
- 0 Levitico (livro de prescric;6es religiosas e culrurais)
llineros (sobretudo a organizac;ao da forc;amaterial)
Deuteronomio, complemento dos quatro precedentes
- P ofetas (que diz respeito, sobretudo, a hist6ria)
- Hagi6grafos (sobretudo, costumes e instituic;6es).
co tern para os J udeus 0 nome de Thora, quer dizer, a <<leiescri ta»
. ela e atribuida, segundo a tradic;ao judia, a Moises, donde a sua
de «Leis de Moises» ou «os Cinco Livros de Moises». Na realidade,
OOi<;6ese tradu<;6es da Bfblia. Edi<;ao critica: R. KITTEL (00.), Biblia Hebraica, Estugarda 1954;
iDTlto the MaJoretico. Critical Editiol1 of the Hebrew Bible, Nova Iorque 1966. Tradu<;ao francesa: La
6.
- - ,nurnerosas instiruic;6es hebraicas sobreviveram no direito medieval e mesmo
sobretudo pelo canal do direito canonico; porque 0 direito canonico tern a
re que 0 direito hebraico, a Bfblia, pelo menos os livros que os cristaos
10 nome de «Antigo Testamento».
::'--e as sobrevivencias, citam-se nomeadamente a dfzima e a sagrac;ao. A dfzima
~ Israel, foi retomada no Ocidente desde a alta idade media para dar ao clero 0
rapriar de urna parte (entao urn decimo) dos rendimentos dos £leis.
- .:-:ayio, que subsiste ainda em certos pafses (nomeadamente em Inglaterra), e
- ~ = uonizac;ao do rei, que consiste sobretudo na coroac;aoque opera «0 inves-
- _ :ei pelo Espfrito de Jeova»; 0 rei torna-se assim 0 representante de Deus no
o povo rati£lcado a escolha divina, urn pacto de alianc;a e estabelecido
=- seu povo.
- ~:o hebraico exerceu tambem uma grande influencia sobre 0 direito muc;ul-
ente no domfnio da organizac;ao da familia, bem como das formas e
'0 casamento.
:eligioso, 0 direito hebraico esta em grande medida confundido com a
_:.: :votes estao contidas nas escrituras, isto e, na Biblia, livro da Alian<;ade
- e urn livro sagrado; contem a «Lei» revelada por Deus aos Israelitas.
- sua parte pre-crista, isto e, 0 Antigo Testamento) tres grupos de livros:
---tateuco, quer dizer, os Cinco Livros:
- ;. Genese (a Criac;ao, a vida dos patriarcas)
- - hodo (estadia no Egipto e volta a Canaa)
- : l..ft'ftico (livro de prescric;6es religiosas e culturais)
- -- _-u.meros (sobretudo a organizac;aoda for<;amaterial)
- - .Jeuteronomio, complemento dos quatro precedentes
etas (que diz respeito, sobretudo, a historia)
iografos (sobretudo, costumes e instituic;6es).
--::_co tern para os Judeus 0 nome de Thora, quer dizer, a «lei escrita»
ela e atribufda, segundo a tradi<;ao judia, a Moises, donde a sua
_~ e «Leis de Moises» ou «os Cinco Livros de Moises». Na realidade,
edi¢es e tradu,6es da Bfblia. Edi,iio critica: R. KlTrEL (ed.), Biblia Hehraica, Estugarda 1954;
_ '" tlx Masoretico. Critical Edition 0/ the Hebrew Bible, Nova Iorque 1966. Tradu,iio francesa: La
o texco data de diferentes periodos; certas partes (nomeadarnente as que dizem respel:
aos Patriarcas) remontariarn ao inicio do segundo milenio; a maior parte das ourr2.
teriam sido redigidas em periodos diferentes entre os seculos XII e V; a forma definir ',_
nao dataria senao ,de cerca de 450 antes de Cristo. Este problema da datal;ao cantin
no entanto muito controvertido.
Na Biblia, 0 direito e concebido como de origem divina; Deus e a ultima foore :-
sanr,;ao de toda a regra de comportamento; todo 0 crime e um pecado, pelo qual =.
comunidade e responsavel perante Deus, e nao perante um governo humano. Na Bibb
- como de resto nos Veda, ou no Corao - as prescril;Oes juridicas, morais e religiosaE
estao confundidas.
Existem no entanto algumas partes do Penrateuco cujo conreudo correspon "
mais especialmente as materias que hoje se charnarn juridicas. Estes textos, considerad _
como as fontes formais do direito hebraico, SaGnomeadamente:
- 0 Deed/ogo que, segundo a tradil;aO, teria sido ditado a Moises no Monte Sina..
por ]eova; e conhecido por duas versoes, uma no Exodo (XX, 2-17), outra no Deute-
ronomio (V, 6-18); contem prescril;oes de caracter moral, religioso e juridico muitc
gerais, redigidas sob forma de maximas imperativas muito curtas; «Tu nao mataras»,
«Tu nao levantaras falso testemunho contra 0 teu proximo», ete. (ver documeor
n.o 1, pag. 71);
- 0 C6digo cia Alianfa, conservado no Exodo (XX, 22, a XXIII, 33); pela sua
forma e pelo seu fundo, 0 texto assemelha-se as codifical;Oes mesopotimicas e hititas
nomeadamente ao C6digo Haminurabi (6), 0 que permite supor que uma primeira
formula~ao (talvez oral) poderia remontar a epoca anterior a estadia no Egipto. Na sua
forma final, 0 texto dataria da epoca dita «dos ]uizes», isto e, do inicio da fixar,;aoem
Canaa, nos seculos XII ou XI antes de Cristo. 0 C6digo da Alianl;a contem prescril;oes
religiosas, regras re1ativas ao direito penal, a reparal;ao dos danos, ete. Reflecte costumes
da epoca da sedentarizal;ao (ver documento n. 02, pag. 71);
- 0 Deuteron6mio (do grego OEU'tEPOVOIJoIOV, a segunda lei, a repetil;ao ou a copia da
lei) constitui uma nova versao do C6digo da Alianl;a; na verdade, e uma codifical;ao de
antigos costumes, tendendo sobretudo a manutenl;ao da pureza do monoteismo, mas
compreendendo cambem disposil;Oesque interessam ao direito pUblico e ao direito familiar.
o Deuteronomio dataria do seculo VII; e atribuido pe1a tradil;aO ao rei ]osias (621),
mas teria sido remodelado no seculo V (ver documento n. 03, pag. 7.2);
- 0 C6digo Sacerdotal (ou Lei da Santidade), contido no Levitica (cap. XVII a
XXVI), datando provave1mente do seculo V (cerca de 445), contem urn ritual dos
sacrificios e'da 'sagra~ao dos padres, mas encontram-se tambem ai disposil;oes impor-
tantes sobre 0 casamento e 0 direito penal. Do mesmo periodo datariam os livros dos
--::as e os «livros sapienciais» (Salmos, Proverbios, ete.) que completam as grandes
o Antigo Testamento.
) A« lei oral» ea Michna
Thora conservou uma autoridade considenivel, mesmo nos nossos dias; qualquer
_ :eta<;ao do direito hebraico apoia-se num versiculo da Biblia. Mas foi necessario
_ ci-Ia a evolu<;ao da sociedade hebraica, 0 que foi feito pelos padres, chamadoscomentadores da <<leiescrita». As suas interpreta<;6es e adapta<;6es formaram a
:;!: as origens desta sao, segundo a tradi<;ao judia, quase tao antigas como as da
ita» de que ela descenderia.
A <<leioral» desenvolveu-se sobretudo na epoca do Segundo Templo, ou seja
_ a volta do cativeiro de Babil6nia (515 antes de Cristo) e a diaspora (70 depois de
. Pois na sua volta para a Judeia, os Hebreus tiveram de se adaptar a novos
de vida para os quais 0 velho direito biblico oW era suflciente. Os Rabi (= memes)
~~ e desenvolveram a Thora por meio de um importante trabalho doutrinal, de
. er exegetico, incorporando tambem tradi<;6es e costumes novos. Esta actividade
i e companivel ados jurisconsultos romanos da mesma epoca (infra) que tambem
- - r<;aram por adaptar um direito arcaico a uma sociedade em rapida evolu<;ao.
o come<;o do seculo III da nossa era, um rabino (Rabi Yehouda Hanassi), chefe
rual da comunidade judaica na Palestina, procedeu, a uma nova redac<;aoda <<leioral».
_::a obra, chamada Michna (isto e, ensino), eclipsou as outras redac<;6es; longe de ser
- 6digo que apresente as materias juridicas de uma forma met6dica, a Michna e uma
relativamente confusa de opini6es dos rabinos sabre materias religiosas e juridicas; a
:~ das minorias e mencionada ao lado da maioria dos «Sabios». Uma das partes,
a «Das Mulheres» (Seder Naschime), trata do casamento, do div6rcio e de
- s problemas das rela<;6e.:ientre os esposos (17).
A Michna foi, por sua vez, comentada e interpretada por numerosos rabinos dos
os III, IV e V d. c., uns trabalhando na Palestina sob a domina<;ao romana, outros
- diaspora em Babil6nia. Os comentarios chamados Gubnara (isto e, ensino tradicional),
se tornaram mais abundantes que 0 texto da Michna em si mesma.
Urn novo esfor<;o de sistematiza<;ao foi feito agrupando Michna e Guemara no
_. ude (isto e, «estudo»), inicialmente em Jerusalem (cerca de 350-400), depois na
•.•= il6nia (cerca de 500), aproximadamente na mesma epoca da grande codifica<;ao
ana de Justiniano e da primeira redac<;aoda Lei salica (infra).
(7) A Michna, .texro hebreu traduzido pelos membros do Rabinado frances sob a direc~ao do rabino Guggenheim;
..: DANBY, The MiJhnah, Oxford 1933; J. NEUSNER, A HiJtory Of the MiJlmaic I..4W of t1{JfX1i1tt«I t""", (tramlation and ~IanaIWn),
= ..as. editados, I.eiden 1981-1982.
o Talmude da Babil6nia, mais completo e mais claro que 0 da Palestina, preva-
leceu finalmeote no judaismo. Compreende nao someote urna massa imensa de textos
jurfdicos e religiosos, ou seja, explic~6es da lei (Ha/akha) que se imp6em 'pela autoridade
da maior parte dos Rabi (comparar com a Idjma em direito mw;ulmano), mas tambem
numerosos textos que dizem respeito a hist6ria, a medicina, a astronomla, as cienCias
em geral 'IHI.
d) Codijicafoes mt:dierais e modernas
o Talmude, P?r sua vez comeotado, carecia de urna siotese e de uma sistema-
tizac;ao; assemelhava-se mais a uma enciclopedia que a urn cOdigo. Esfon;os de codifi-
cac;ao foram feitos em diversas regi6es da Europa em que se desenvolveu a ciencia
talmudica. A primeira importaote codificac;ao foi realizada em Espanha por Ma'imonide
(segunda metade do seculo XII) que chegou a expor metodicarriente as materias relativas
a teologia, a etica, ao direito e a ciencia poJitica. A coditicac;ao definitiva e a de Joseph
Caro (seculo XV!), que foi impressa pela primeira vez em 1567; 0 C6digo de Caro
permaneceu como CQdigo rabinico civil e religioso da diaspora; ele continua a reger
numerosos Israelitas que vivem fora de Israel (191
Pentareuco:
- Genese
- Exodo:
Dwilogo (seculos XVI-XII?)
C6digo da Alian<;a (seculos XII-XI)
- Levitico:
C6digo sacerdotal (seculo V)
- Numeros
- Deureronomio (seculos VII a V)
ete.
(18) The Babyloman Talmud. Trad.1. EPSTEIN, Londres 193Y- ... (empublica,ao).
(19) Moses MAIMONIDES, MiJhneh Torah, New Haven, Yale Judaica Series (rradu,ao inglesa em curso); Joseph
QARO. Shulhan Arukh, rrad. inglesa de J- L. KADUSHIN, 4 vols., Nova Iorque 1915-1928; A. NEUMN, TheJetJ)1 in Spain.
Their Social. Political and Cultural Life durinJ!. the Middle AJ!.eI. 2 vols., Filadelfia 1942.
(see. V antes de Crisco -
see. I depois de Crisco)
see. III aproximadamence)
dJouda Hanassi)
e
- da Palestina (see. IV)
- da Babilonia (cerca do see. V)
de Maimonide (see. XII)
de Caro (see. XVI)
Evangelhos (see. I-II)
Accos dos Apciscolos
Episcolas
Patristica (escritOs dos Padres da Igreja)
(see. Ill-IV)
j.~~a.x+.K'JFio'l (see. Ill)
Colec\Oes canonicas:
Denis Ie Petit (see. VI)
Decreco de Graciano (cerca de 1140)
Decretais de Gregorio IX (1234)
Corpus juris canonici (see. XV!)
-: (see. III-V)
- da Palestina
- da Babilonia
E Deus pronunciou todas estas palavras dizendo:
Eu sou Jeova, teu Deus, que te fez sair do Egipco, da casa da servidao.
Tu nao teras ourros deuses diance da minha face.
Tu nao faras imagem talhada, nem qualquer figura daquilo que esca no altO do ceu, ou
esta em baixo na terra, ou do que esca nas aguas por baixo da terra.
Honea teu pai e tua mae, a fim de que os teus dias sejam prolongados no pais que Jeova,
us, te da.
" ao mataras.
ao cometeras adulterio.
ao roubaras.
ao prestaras falso testemunho concra 0 teu proximo.
ao desejaras a casa do teu proximo; nao desejaras a mulher do teu proximo, nem 0 seu
or, nem a sua serva, nem 0 seu boi, nem 0 seu burro, nem nada que perten\a ao teu proximo».
Eis as leis que tu Ihes daras (aos Israelitas):
(2) Quando tu comprares wn servo hebreu, ele servini selS anos; no setimo ele saini
e sem nada pagar.
(3) Se de emrou so, ele saira so; se tinha uma mulher, a sua mulher partira com ele.
(4) Mas se foi 0 seu patrao que the deu a sua mulher e ele the tinha gerado filhos e
filhas, a mulher e os seus filhos continuacao propriedade do patrao, e de saini so.
(5) Mas se 0 servo diz; eu amo 0 meu pate1o, a minha mulher e os meus filhos, eu nao quem
ser libertado; entao 0 patrao conduzi-Io-a diante de Deus, fa-Io-a aproximar do batente da porta e
furar-Ihe-a a orelha com urna pun\;ao de tal sorte que 0 escravo esteja para sempre ao seu servi\;o.
(12) Aquele que agride urn homem mortalmente sera condenado a morte.
(13) Mas se ele nada premeditou e se foi Deus que 0 fez cair sob a sua mac, fixar-te-ei
urn lugar onde ele se possa refugiar.
(14) Mas se alguem emprega artificios para matar 0 seu proximo, poderas arcanca-Io do
meu altar para 0 conduzires a morte.
(15) Aquele que bate no seu pai ou na sua mae sera condenado amorte.
(18) Quando nurna querela entre dois homens, urn ddes agride 0 outro com urna
pedra ou com 0 punho, sem causar a morte, mas obrigando-o a ficar de cama.
(19) Aquele que 0 tenha agredido nao sera punido se 0 outro recuperar e puder passear-se
fora de casa com a sua bengala. Todavia de indemniza-Io-a pelo tempo que nao pooe trabalhar e
pelos seus remedios.
(28) Se urn boi da urna cornada a urn homem ou a urna mulher e se a morte se seguir,
o boi sera lapidado e nao se comera a sua carne. Mas 0 dono do boi nao sera punido.
(29) Mas se 0 boi era useiro em dar comadas, e se 0 seu dono sabia disso e nao 0 tinha
vlgiado, 0 boi, se ele mata urn homem ou urna mulher, sera lapidado, e 0 seu dono sera
tambem condenado a morte.
XVI 18-20: OsJuizes.
Estabeleceras juizes e magistrados em todas as cidades que ]eova, teu Deus, te der, de
acordo com as tribos, e eles julgarao 0 povo com justi\;a. Nao faras flectir 0 direito, nao teras
considera\;ao pelas pessoas e n~ receberas quaisquer presentes, pois os presentes cegam os olhos
perspicazes e corrompem as palavras dos jusros. Seguiras estritamente a justi\;a, a fim de que
vivas e possuas a terra que te da]eova, teu Deus.
XIX, 14: As Estremas.
Nao deslocaras a estrema do teu proximo, estabelecida pelos antepassados, na heran\;a
que teras no pais que ]eova, teu Deus, te da para possuir.
XIX, 15: Os Testemunhos.
Urn s6 tesremunhonao sera admitido contra urn homem para provar urn crime ou urn
pecado, qualquer que seja 0 pecado cometido. E de acordo com a palavra de duas testemunhas
ou com a palavra de tres testemunhas que 0 caso sera julgado.
XXV,S: Levifato
Quando dois irmiVs moram juntos, e urn deles morra sem deixar filhos, a mulher do
defunto nao se casara fora de casa com urn estrangeiro; mas 0 seu cunhado irci ter com da,
roma-Ia-a por mulher, e desempenhara em rel~ao a da 0 dever de cunhado.
62b: MICHNA. Se urna fagulha salra da bigorna e causa prejuizo, haveni responsa-
e. Se enquanro urn camelo carregado com linho passa nurn mercado publico, 0 linho
- fa numa renda e se incendeia em conracro com a candeia do tendeico e com isro incendeia
-;: a consrru¢Q, 0 proprierario do camelo sera responsavel. Se, conrudo, 0 rendeico deixou a
andeia do lado de fora da sua renda, ele sera responsavel. 0 Rabino Judas diz: Se se rrarar
a candeia chanukah, 0 rendeiro nao sera responsavel.
o sistema jurfdico da Grecia anciga e uma das principais fonces historicas dos
'cos da Europa Ocidencal. Os Gregos nao foram no encanco grandes juristas; nao
_::>eram construir uma ciencia do direito, nem sequer descrever de uma maneira
-ematica as suas instirui<;6es de direito privado; neste dominio, concinuaram sobretudo
-radi<;6es dos direitos cuneiformes e transmitiram-nas aos Romanos. Os Gregos
am, pacem, os grandes pensadores politicos e filosoficos da anciguidade. Foram os
eiros a elaborar uma ciericia politica; e na pratica, instauraram, em algumas das
;: cidades, regimes politicos que serviram de modelo as civiliza<;oes ocidencais (20).
Nao ha propriamence que falar de direito grego, mas de uma muIridao de direitos
os, porque, com excep<;ao do curto perfodo de Alexandre 0 Grande, nao houve
ca unidade politica e juridica na Grecia Anciga. Cada cidade tinha 0 seu proprio
- ~ito, taneo publico como privado, tendo caracteres especificos e evolu<;ao propria.
-::nca houve leis aplicaveis a todos os Gregos; no maximo, alguns costumes comuns.
3. realidade, conhece-se mal a evolu<;ao do direito da maior parte das cidades; apenas
-enas deixou tra<;os suficienees para permitir conhecer os escadios sucessivos da
Iu<;aodo seu direito.
Na evolu<;ao jurfdica da Grecia pode-se, duma maneira esquematica, distinguir
perfodos seguinces:
a) A civilizafao cre/ense (do seculo xx ao XV a.c.), depois micenica (seculos
(20) G. SAUTEL, «Grece", er J. MODRZEJEWSKl, -Monde hellenisrique", in J. GILISSEN (ed.), Introd. bibirogr.,
. - e A/8, Bruxelas 1963 e 1965; J. GAUDEMET, Institutions '" I'Antiquite. op. cir., p. 125·250; A.R. W. HARRISON, The Law
vhms. Family and Property, Oxford 1968; Proudu"" Oxford 1971; G. GLaTZ, La ciN g",cque, edirado por CLOCHE, 1953;
- GERNET, Droit et fOciile danJ da Grice ancienne, 1955; J.W. JONES, The law and legal theory oj the Gret!kJ, 1956; Cl. MaSSE,
- . Ire "'J SofieteJ polrtiqU" en Grece. Paris 1969; v. EHRENBERG, Oer Staat tkr Gri«hen. 2. a ed., Zurique-Esrugarda 1965; rcad.
- .: CEtat lim. Paris 1976; E. WOLF, GriechiJCoo RechIJ"'nken. 4 vol.. Francforre 1950-1956; R. TAUBENSCHLAG, The Lau'of
o-Roman Eliypt in the Liliht of the Papyri (3.'\2 B.C.-640 A.D.) 2' _d.. Warsaw 1955: R. DEKKERS, -Dro;r Rrec er hisroire du
-, R,,·. intern. dr. antiquite. 3' S., t. 3, 1956, p. 107-118; Cl. PREAUX, U mon'" helliniJlique. 2 vol., Paris 1978.
XVI a XII a.c.), destruida pel os invasores dorios; na falta de documentos escritOs, as
institui<;6es e 0 direitO desta epoca sac muitO mal conhecidos.
b) A epoca dos clds (I'EVO~, genos = cIii), comunidades clanicas, depois aldeas.
assentando num parentesco real ou ficticio; 0 rei (~aO'thu~= basileus), chefe do cia, t
ai ao mesmo tempo juiz e sacerdote, presidindo ao culto familiar. 0 sistema assenta
numa forre solidariedade activa e passiva dos membros do cia. Encontra-se descritO na
Odisseia de Homero.
c) A jOmtafdo das cidades (;;6),t::;, polis = cidade), pelo agrupamento de clas.
primeiro sob a autoridade do chefe de urn deles. As cidades conheceram formas
politicas variadas; umas permaneceram monocniticas (ex. Macedonia); noutras, a
aristOcracia exerceu 0 poder; noutras ainda, sobretudo nas cidades comerciais, urn
tirano conseguiu impor-se, quer pela escolha dos seus concidadaos, quer por urn golpe
de for<;a. A cidade e geralmente urn grupo social bastante limitado, instalado nurn
territorio pouco extenso, compreendendo a maior parte das vezes uma cidade, urn
pOrto e urn cerro numero de aldeias. Houve assim dezenas de cidades na Grecia e
tambem nas regioes do Meditecraneo que os Gregos colonizaram, designadamente na
Sicilia e no suI da Iealia.
d) Nalgumas cidades estabeleceu-se, entre os seculos VIII e VI, urn regimt
democratico,' 0 mais conhecido e 0 de Atenas, gra<;as aos escritOs dos oradores e dos
filosofos. As leis de Dracon, de 621, poem fim a solidariedade familiar e tOrnarn
obrigatorio 0 recurso aos tribunais para os conflitOs encre os clis. As de Solon, de
594-593, talvez elaboradas sob influencia egipcia, instauram a igualdade civil,
suprimem a propriedade colectiva dos cliis e a servidao por dividas, limiram 0 poder
paternal, estabelecem 0 testamento e a adop<;ao. Solon insraura uma democracia
moderada que fani a grandeza de Atenas. Esta democracia, apesar de numerosas
vicissitudes, levani 0 direitO ateniense ao auge do seu individualismo com elistems e
Pericles. Na epoca classica da democracia ateniense (± 580 a ± 338), os cidadaos
govern am directamente, no seio da sua assembleia (i:x.x),ypia, ecclesia); exprimem ai a
sua vontade vorando a lei ('J()p.o:;, nomos), em principio igual para todos (i'J'o'lop.ia,
isonomia). A Assembleia tOma tOdas as decis6es importances, mesmo no dominio
judiciario. A administra<;ao da cidade e assegurada pelo Conselho (BuIe), composto de
500 cidadaos tirados a sorre em cada ano, e pelos magistrados, quer eleitos, quer
tirados a sorte. Comparada as democracias modernas, a constirui<;ao de Arenas e no
entanto pouco democratica; os escravos nao tern nenhum direito, nem politico, nem
civil; os metecos (estrangeiros instalados na cidade) tern muitO menos direitos que os
cidadaos. Na cidade de Atenas haveria cerca de 40 000 cidadaos - OUtrOSdizern
6000 - porem, centenas de milhares de metecos e escravos.
e) No fim do seculo IV a.c., Alexandre unificou a Grecia, A A.sza Anterzur e 0
Egipto sob a sua autOridade. 0 imperio que fundou nao conseguiu todavia manter-se;
_-. uem-se nele multiplas monarquias, nas quais, a partir do seculo III, 0 poder e
::x=~~:do por reis absolutos. A sua vontade e «a lei viva», formula que sera retomada
imperadores romanos e depois, mais tarde, pelos monarcas da Europa Ocidental.
~ao se conhecem rdativamente bem senao as institui<;6es de tres cidades: Atenas,
_ numerosos escritos literarios, Esparta, gra<;as a curiosidade dos Antigos, e
: •. gra<;as a epigrafia. 0 direito das cidades gregas nao parece ter sido formulado
- sob a forma de texros legislativos, nem sob a de comentarios de juristas; 0 direito
.:= ia mais duma no<;ao mais ou menos vaga de justi<;a que estaria difusa na
_encia colectiva.
As fontes escritas san raras. Os poucos textos que permitem 0 estudo do direito
san - alem das grandes epopeias de Homero, para 0 perfodo arcaico -:
- alguns discursos do fim da epoca classica do direito ateniense, designa-
_::Heos de Demostenes e de Ism;
- numerosos documentos literarios e filosoficos, designadamente os escritos de
- . Arist6teles, Plutarco;
- numerosas inscri<;6es juridicas;
- finalmente, dois documentos descobertos muito recentemente: a «lei de
» (longa inscri<;ao descoberta em Creta em 1884, dificil de datar, porque
disposi<;6es que parecem dever remontar a epocas diferentes; seculo VI-V?) e a·
e Dura» (descoberta em 1922 no Eufrates, que seria uma copia tardia (seculo I)
ei do seculo IV a.C relativa as sucess6es ab intestato) (V. docurnento n.O 4, p. 79).o principal contributo dos Gregos para a cultura juridica deve-se aos seus
os sobre 0 governo ideal da cidade. Foram os inventores da ciencia politica, a
- Ja do governo da polis. Os seus melhores escritores e filosofos, Hesiodo,
oto, Platao, Arist6teles, analisaram as institui<;6es das cidades gregas para
a sua critica e contraporem-Ihe formas ideais de governo.
a) Para os pensadores gregos, a fonte do direito e 0 'Jop.oc; (nomos), que se
:::z geralmente por <dei". A no<;ao, desconhecida ainda nos poemas homericos,
e em Hesiodo (seculo VII a.C). Pindaro (seculo V a.C) dira que «a lei· e a
- a de todas as coisas». Um autor posterior, 0 Pseudo-demostenes, da uma
--:-'<;ao: «Os nomoi san uma coisa comum, regulada, identica para todos, querendo 0
- , 0 belo, 0 util; chama-se nomos 0 que e erigido em disposi<;ao geral, uniforme e
_ para todas». 0 nomos e sabretuda 0 meio de limitar a poder da autoridade,
porque a liberdade politica consiste em nao ter que obedecer senao a lei. Mas a lei e
humana e laica; ja nao tern nada de religioso, de divino. No seu «Discurso contra
Tim6crates», Dem6stenes recorda como pode ser proposta e aprovada uma lei ern
Atenas (v. documento n.o 1, p. 78).
Na pratica, os Gregos fizerarn poucas leis, no sentido romano e moderno do
termo; porque 0 nomos designa tanto 0 costume como a lei. Serao os Romanos os
primeiros que virao a distinguir, duma maneira precisa, 0 sentido de cada uma dessas
duas fontes de direito.
b) A doutrina de Platao (428-347) exerceu uma influencia consideravel,
sobretudo por intermedio do seu disdpulo Arist6teles, sobre 0 pensarnento politico
medieval e moderno (21).
Ateniense de origem aristocrcitica, Platiio panicipou nas actividades politicas do seu
tempo, sem grande sucesso alias; dai resulta uma evolu\iio constante do seu pensarriento
e tambem uma critica !TIuitasvezes severa das institui\Oes democrciticas da sua cidade.
As suas principais obras sac A Republica, A politic a e As Leis.
A Republica e sobretudo a descri\ao duma cidade ideal, dividida em tres classes:
os governances, os guardiaes-guerreiros, 0 povo. Deve ser governada por profissionais,
os Fil6sofos isto e, os que tern a sabedoria e a inteligencia necessaria. Para os formar e
necessario criar uma classe de guardiaes que se consagrarn ao oficio das armas; estes
devem ser recrutados por exarne, viver em comum na tenda para serem instruidos;
devem ser alimentados pelos outros (isto e, 0 povo) que devem pagar uma contribui~o;
nao podem possuir nada: nem terra, nem casa, nem ouro, nem prata; tudo deve estar
em comum, mesmo as mulheres. E nesta descri\iio da classe dos guardiaes que se
procurou a fonte do que se tern charnado 0 «comunismo» de Platao; de facto, trata-se
dum grupo privilegiado, destinado ao Governo da cidade (Y. documento n.o 2, p. 78).
as guardiaes estao submetidos a provas sucessivas de seleo;;ao. Os melhores sao, aos 30
anos de idade, instruidos na dialectica. Dos 35 aos 50 anos exercerao cargos publicos,
sendo os Fil6sofos. Depois dedicar-se-ao a filosofia e ao eosino.
Esta cidade ideal e assim urn regime aristocratico, sendo governada pelos
melhores, os apt(1'";o~ (aristoi). Mas Platiio constata que de facto os regimes politicos
tendem a maior parte das vezes para a injusti\a. Se os guardiaes e os Fil6sofos se
baixam a procurar as honras, 0 regime avilta-se numa timocracia ("~!J-~time = honra);
se acumulam riquezas, conservarao 0 poder nas maos dum pequeno numero de
possuintes, formando uma oligarquia (oAi'Yo~: oligos = pequeno).
No mais baixo da escala, Platao situa a democracia, 0 governo pelo povo (oYj!J-oc;:
(21) Sobre Plariio e Arisroreles, v. a maior parte dos manuais de hisroria das ideias poliricas, designadamenre os de
J. TOUCHARD, de M. PRELOT, ere. E. BARKER, The political thought oj Plalo and AriJtotle. Nova lorque 1959: M. PIERARD,
Platon etla cite grecque. Thiorie et rialite dam Iii ConJtitution tUJ • LoiJ', Bruxelas 1974; E. KLINGENBERG. PlatonJ • NomOIlieorliikoi.
und dal POlitif/egriechilche Recht, Bedim 1976.
= povo); e urn regime de desordem e de abuso, conduzindo a uranta, ao
__ 0 por urn unico homem, a monocracia (p.ovoc;: monos = so).
a Politica, Platao insiste sobre 0 fim moral da organizac;ao da cidade; a polftica
urna subdivisao da etica, tendendo a instaurar 0 regime que tornara os homens
-- ores. Ele classifica os governos em tres tipos: monarquia, oligarquia e democracia,
:-rando a sua preferencia pelo primeiro tipa. Insiste sobre a necessidade de
. ao as leis, sobretudo por parte dos governanres.
As Leis sac uma obra menos utopica, mais proxima da realidade ateniense. Platao
uz as formas de governo a duas: a monarquia, na qual 0 1JOdervem de cima, e a
racia, em que ele vem de baixo. 0 regime ideal e urna mistura dos dois; uma
-~ 'e governada por urn colegio de sabios, guardiaes das leis.
c) Aristoteles (385-322), disdpulo de Platao e Is6crates, preceptor de Alexandre
:2llde, escreveu nurnerosas obras, 47 das quais estao conservadas no todo ou em parte.
_llil. influencia sobre a Filosofia e as teorias politicas da Idade Media foi consideravel.
Menos ut6pico que Platao, comec;ou por analisar, nas suas Constituifoes, a forma
- ~ _overno em mais de cern cidades gregas e barbaras; a sua descric;ao da constituic;ao
:.~ _' enas (' A6OY;\laiw\I nOA~",:e:ia) foi recenremenre reenconrrada.
Exp6e na Politica as suas concepc;6es te6ricas da forma de governo. Classifica as
existenres em monarquia, aristocracia e democracia; se degeneram, apresenram~se
uma forma coriompida: tirania, oligarquia, demagogia. Arist6teles e urn dos
- :.::aeiros a admitir a relatividade humana: uma forma de governo pode ser boa ou ma
-:orme 0 grupo social ao qual se destina. As suas preferencias VaGpara urn regime
- --0, conciliando os prindpios monarquicos, aristocraticos e democraticos. 0 povo
deve inrervir senao para eleger os magistrados e tratar os grandes problemas; 0
er deve ser exercido pela classe media, por ser a que tern mais meritos (V. documenro
3, p. 79).
Na estrutura do Governo, Arist6teles distingue tres actividades: 0 poder
-; 'berativo, 0 poder executivo (para recrutar e organizar as func;6es publicas) e 0 poder
·ciario. A sua analise e mais matizada e mais subtil do que a que fara Monresquieu
- seculo XVIII; mas tera pouco sucesso porque tanto Roma como os regimes polfticos
~ Idade Media e dos tempos modernos admitirao a confusao dos tres poderes entre as
-esmas maos.
o direito privado grego deixou pouco trac;os no nosso direito moderno, e estes
_ r intermedio dos Romanos. Os Gregos mal souberam exprimir as regras juridicas em
-, rmulas abstractas; ha poucas leis, poucas obras juridicas.
A terminologia juridica moderna, no enranto, provem em parte da lingua grega.
_~im, sinalagmatico, no senrido de redproco (C6digo Civil, art. 1102) vem de
'j'J'J + -i/,1,7.'7'7W (trocar + com); quirografico vem de Xe:tpo<; + ipa9w (escrever c.
mao), na Idade Media acto manuscrito, actual mente credito nao privilegjado. Citern05
ainda anticrese, enfiteuse, hipoteca, parafernais.
o direito privado grego melhor conhecido e 0 de Atenas; na epoca chissicc.
(seculo V e IV a.C.), esse direito era muito individualista, permitindo ao cidadao
dispor livremente da sua pessoa e dos seus bens. Encontram-se mesmo regras juridicas
mais favoniveis a liberdade individual que no direito romano classico; eis tres exemplos:
- 0 poder paternal, no seio da familia (olxo~), e limitado enquanto que em
Roma permanece muito extenso. Pela maioridade, 0 filho escapa a autoridade do pai, 0
que nunca foi introduzido no direito romano; 0 pader paternal 'permanece todavia
muito forte em Atenas em rela~ao as filhas que nao saem nunca da tutela, quer se trate
da do seu pai quer da do seu marido. A compara~ao aqui e favonivel ao direito romano
que se mostra mais favonivel a mulher;
- a transferencia da propriedade realiza-se em direito gregoapenas por efeito do
contrato; mas este efeito e limitado as partes; em rela~ao a terceiros, e organizado urn
sistema de publicidade parecido com 0 nosso sistema de transcri<;ao dos actos.
A protec~ao de terceiros e assim melhor assegurada na Grecia do que em Roma, onde
esta publicidade nao existia;
- em materia de contratos, 0 direito romano mantem urn cerro formalismo sern
o qual 0 contrato nao evillido; contrato consensual e a excep<;ao; na Grecia, as
conven<;6es parecem formar-se apenas pela vontade das partes, sem formalismos.
«Nas leis que nos regern, Atenienses, contem-se prescri(;Oestao precisas como claras
sobre todo 0 processo a seguir na propasitura das leis. Antes de mais, fixam a epoca em que a
ac(;iio legislativa e admitida. Em segundo lugar, mesmo entao, nao permitem a todo 0 cidadao
exerce-Io a sua fantasia. E necessario por urn lado, que 0 texto seja transcriro e afixado a vista de
codos perante os Eponimos; por ouero lado, que a lei propasta se aplique igualmente a todos os
cidadaos; enfim que as leis contrarias sejam derrogadas; sem falar dourras prescri(;Oes, cuja
exposi<;ao, parece-me, nao teria interesse para nos neste momento. Em caso de infrac<;aoa uma
so destas regras, qualquer cidadao pode denuncia-la».
Demostenes, disc. XXVI, Contre TimoCTate, 17 e ss. (extr.); tcad. O. Navarre e P. Orsini
(Demosthene, Plaidoyers pofitiques, t. II), Paris, LesBelles-Lemes, 1954, p. 135 e ss.
«Vejamos pais, digo eu, se para os comar tais (os guardiOesda cidade) nao e necessario
impor-Ihes 0 regime e 0 alojamento que yOU referir. Desde logo, nenhum deles possuira
_~r bens proprios, salvo os objectos de primeira necessidade; em seguida, nenhurn tera
:;;;::::.;:z:- ;'-!O ou deposito algurn, em que nao possa entrar quem quiser. Quanto a viveres, de que
~em atletas guerreiros s6brios e corajosos, ser-Ihes-ao ftxados pelos ourros cidadiios,
52lirio da sua vigilancia, em quantidade tal que nao lhes sobre nem lhes falte para u.m ano.
. refeic;6es serno em comurn, e em comunidade viverno, como soldados em campanha.
Quanto ao aura e a prata, dir-se-Ihes-a que os tern sempre na sua alma, divinos e de
~ cia divina, e para nada carecem do ouro e da prata dos homens, e que seria impiedade
-:= uele que ja poSsuem, misturando-o com a perten<;a dos mortais, porquanto ja muitos
impios se produziram por causa da moeda do vulgo, ao passo que a deles e puca.
ente a eles, dentre os habitantes da cidade, nao e Iicito manusear e tocar em aura
oem ir para debaixo do mesmo tecto onde os haja, nem traze-Ios consigo, nem beber por
e prata ou de ouro, que e 0 unico meio de assegurar a sua salvac;ao e a do Estado».
Trad. E. CHAMBRY
(Platon, Oeuvres... , t. VI) Paris, Les Belles-Lettres,
1947, p. 139-140.
ma cidade e, com efeito, urn corpo composto, como qualquer outro corpo formado de
tapostas; e portanto evidente que e necessario desde logo indagar sobre 0 cidadiio.
-:; e consiste nurn con junto de cidadaos, de modo que e necessario considerar quem deve
~ . ICadOcomo cidadao e qual e a natureza do cidadao. Por isso mesmo, ha muitas vezes
. ' ISia aroda desta questiio do cidadiio: nem todos concordatp em mrmar que urn
.:r::::::~~LCio individuo e cidadao. Assim aquele que e cidadao nurna democracia, nao 0 e muitas
-urna oligarquia.
_... Aquele que tern 0 direito de aceder a comunhao do poder de deliberar e de julgar,
::.izemos, e cidadao da cidade considerada; e a cidade e urn conjunto de pessoas desta
:; e, (em quantidade) conveniente a flm de reaJizar urna autarquia vital, para dizer tudo
-- palavra. Na pnitica, reserva-se a qualidade de cidadao aquele que descende de do is
::r:::~:ru':tores) tendo ambos a qualidade de cidadaos e nao apenas urn deles, quer seja 0 pai ou a
:= guns vao mesmo mais longe nas suas exigencias, requerendo (a qualidade de cidadao) em
_ cres gera<;6esde ascendentes), ou mais ainda.
Trad. feita segundo a Ed. H. RACKMAN, Londres -
Cambridge (Mass.), 1950, p. 172 e ss.
Se alguem comete violencia contra urn homem livre ou contra urna mulher livre, pagara
esrateros; s~ urn escravo (comete violencia) contra urn homem livre ou umamulher livre,
_ 0 dobro.
Trad. segundo a ed. M. Guarducci, Inscr/pt/ones cret/cae..
t. IV, Roma, 1950, n. 72, p. 128e ss.
Se 0 pai, em vida, quer dar alguma coisa a sua filha quando do seu casamento, que -
de conforme 0 que foi escrito, mas nao mais.
Se urn homem ou uma mulher morrerem, deixando filhos, netos·ou bisnetos, que es
herdem os bens.
Se aquele que comprou urn escravo no rnercado nao resolveua cornpra nos sessenta d=
(seguintes), e se (0 escravo) causou algurn prejuizo antes ou (0 causa) posteriorrnente, a ac~;
em tribunal sera dirigida contra 0 detentor (do escravo).
A evolu~ao ascendente do direito romano e mais tardia que a do direito egipcio e a c
direitO grego; Roma estava ainda no esnidio clanico na epoca em que, no Egipto e f:
Grecia, 0 direito ja tinha atingido uma forma individualista (seculos VI e V a.c.); n~
atingira esta senao no decurso dos seculos II e I antes da nossa era (22).
A histoda do direito romano e uma historia de 22 seculos, do seculo VII a.C. ate -
seculo VI d.C., no tempo de Justiniano, depois prolongada ate ao seculo XV no imper.~
bizantino. No Ocidente, a ciencia juridica romana conheceu urn renascimento a partir c
seculo XII; a sua influencia permanece consideravel sobre todos os sistemas romanistas c~
direitO, mesmo nos nossos dias.
Foi sobretudo 0 direito privado romano que atingiu urn nive! muito elevado e qill'
exerceu uma influencia duradoura sobre 0 direito da Europa medieval e moderna. Poue:
sera referido no breve resurno que se segue, ficando a terceira parte deste livro consagrada ~
historia dum certo mimero de instituir;;6es de direito privado; quase cada capitulo corney.
por uma breve exposi~ao da evolur;;ao da instituir;;ao na historia do direito romano. N2.5:
paginas que se seguem, outros dois aspectos do direito romano serao esbor;;ados:0 direit-
publico, at raves duma analise das formas sucessivas de governo, e as fontes do direito
Roma, cuja fundar;;ao teria tido lugar, segundo a lenda, em 753 a.c., nao era senac
urn pequeno centro rural no secwo VIII a.c.. Dez secwos mais tarde, nos secwos II e III ck
nossa era, Roma e 0 centro dum vasto imperio que se estende da Inglaterra, da Galia e ill.
Iberia a Africa e ao Proximo Oriente ate aos confins do imperio persa.
(22) Bibliografia enorme; basra remerer para [feS excelenres obras recenres e para as referencias publicadas na nosy
Inrrodu~ao bibliografica: R. VILLERS, Rome et Ie drnit prive, Paris 1977, co!. L 'Evolution de thumanite; J. GAUDEMET, InstItution> '"
tAntiquite. op. [it .. Paris 1967, e Le droit privi romain. Paris 1974, co!. U 2; P. STEIN. -Roman Law: Sources.; TH. L1EBMA~-
-FRANCFORT. -Droir romain: droir public.;.J. H. MICHEL. -Droir romain: droir prive.; J. A. C. THOMAS -Roman La.•
Criminal Law», in J. GILISSEN (00.), Introd. Bibliogr., A/9, A/IO, Alii e A/12, Bruxelas 1965-1972; A. D'ORS, Oere[ho romar-_
Pamplona 1973; SEBASTIAo CRUZ, Omito romano, I. Fontes, Coimbra 1984.
1=" e imperio comano deslocou-se no Ocidente no seculo V, mas sobreviveu na parte
bacia mediteminica, a volta de Constantinopla; 0 Imperio Romano do Oriente
_-5e no Imperio Bizantino e subsistiu como tal ate ao seculo XV.
-=- ta longa historia e igualmente dividida em tre~speriodos, correspondendo a tres
politicamente diferentes: a realeza (ate 509 a.C), a republica (509-27) e 0
=:;;cz:ro;' 0 periodo imperial e tambem dividido em Alto Imperio (ate a epoca de
0, em 284) e Baixo Imperio (ate a epoca de Justiniano, morto em 566), ao qual
_0 Imperio Bizantino.
-=---ta periodificac;ao, baseada na forma de governo, nao corresponde a periodificac;ao
evoluc;ao do direito. Distingue-se em relac;aoa este:
- uma epoca antiga, ate mead os do seculo II a.C, periodo do «direito romano
co - igo», direito de tipo arcaico, primitivo,

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