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A FERMENTAÇÃO COMO PROCESSO UNITÁRIO FERMENTAÇÃO: CONCEITO Fermentação Latim: fervere C6H12O6 2 CO2 + 2CH3CH2OH, Gay-Lussac, 1810 Definições: “Fermentação é um processo metabólico caracterizado por oxidação incompleta” (Joergensen) “Fermentação é um processo metabólico no qual, pela atividade de enzimas produzidas por micro- organismos, provocam-se transformações químicas em substâncias orgânicas” (Prescott & Dunn). “Fermentação é todo processo microbiológico para produção de substâncias” (Gaden) “A fermentação constitui a classe de reações biológicas de oxidação-redução produtoras de energia nas quais compostos orgânicos servem como receptores finais de elétrons” (Stanier) No sentido mais amplo podemos definir: “Fermentação é todo processo no qual micro-organismos provocam a transformação de substâncias” (Borzani) CLASSIFICAÇÃO DAS FERMENTAÇÕES Considerando a natureza do principal produto: • fermentação alcóolica: produção de álcool etílico • fermentação acética: produção de ácido acético (vinagre) • fermentação cítrica: produção de ácido cítrico • fermentação lática: produção de ácido lático • fermentação penicilínica: produção de penicilina etc. Quanto ao número de espécies de microrganismos atuando simultaneamente no processo, pode ser: • Pura: quando promovida por uma determinada espécie, p. ex. fermentação penicilínica • Múltipla: quando efetuada por duas ou mais espécies de microrganismos em ação simultânea, como na fabricação de iogurte. Quanto à necessidade de oxigênio, pode ser: Aeróbia ou oxidativa Anaeróbica Processa-se em condições aeróbicas, com o oxigênio sendo o receptor de hidrogênio. Por ex. fermentação cítrica, acética, penicilínica, entre outros. Processa-se em anaerobiose, quando o oxigêncio do ar não é o receptor de hidrogênio, sendo frequentemente tal receptor um aldeído. Por ex. fermentação alcóolica, lática, acetona- butanólica, tratamento biológico de resíduos entre outros. Quanto ao modo de condução do processo: • Fermentação descontínua ( batch): quando o meio a ser fermentado é colocado no fermentador juntamente com o inóculo e uma vez terminada a fermentação os produtos são separados. • Fermentação descontínua alimentada (fed-batch): o meio é adicionado escalonadamente à medida que se processa a fermentação. • Fermentação contínua: o processo é estabelecido em um sistema aberto, com o meio estéril sendo alimentado continuamente no reator e uma quantidade equivalente do meio fermentado, contendo micro-organismos, são retirado simultâneamente. Quanto ao modo de desenvolvimento do microrganismo: Crescimento em superfície Crescimento submerso ou em profundidade PROCESSO FERMENTATIVO INDUSTRIAL GENÉRICO Um processo fermentativo genérico pode ser considerado como constituído de duas etapas principais, a saber: ◦ o preparo do inóculo ◦ fermentação propriamente dita. Processos Fermentativos - Etapas Preparo do inóculo Definição: Denomina-se inóculo, pé-de-cuba, pé de fermentação, um volume de suspensão de micro-organismos de concentração adequada, capaz de garantir, em condições econômicas, a fermentação. Fermentador Ativação/Propagação Fontes de microrganismos de interesse Isolamento a partir de recursos naturais compra de coleções de culturas obtenção de mutantes naturais obtenção de mutantes induzidos por métodos convencionais obtenção de microrganismos recombinantes por técnicas de engenharia genética Muitas vezes uma determinada estirpe é submetida à ação de fatores mutagênicos, como o gás mostarda, raios X, radiações ultra-violeta, resultando daí a obtenção de mutantes que, em alguns casos, são de muito maior valor econômico. 3.1.2. Características dos microrganismos utilizados nas fermentações apresentar elevada eficiência na conversão do substrato em produto; permitir o acúmulo do produto no meio, de forma a se ter elevada concentração do produto no caldo fermentado; não produzir substâncias incompatíveis com o produto; apresentar constância quanto ao comportamento fisiológico; não ser patogênico; não exigir condições de processo muito complexas; não exigir meios de cultura dispendiosos; permitir a rápida liberação do produto para o meio. Aumento da produção de antibióticos mediante mutação e seleção, entre 1943 e 1961 ( Alikhanian, 1962). Antibiótico Produtividade (U.I./mL) No momento do descobrimento Mutantesde alto rendimento Penicilina 20 ( 1943) 8.000 (1955) Estreptomicina 50 (1945) 5.000 (1955) Eritromicina 100 (1955) 2.000 (1961) Aureomicina 200 (1948) 4.000 (1959) Terramicina 400 (1950) 6.000 (1959) Na década de 40 obtinha-se teor de penicilina no caldo fermentado por Penicillium chrysogenum da ordem de 100 unidades/cm3, passando-se a obter, já por volta de 1976, teores da ordem de 51.000 unidades/cm3. 3.2. O meio de fermentação Denomina-se mosto ou meio de fermentação todo o líquido susceptível de sofrer fermentação em condições econômicas. Os mostos podem ser: naturais ou sintéticos (artificiais) De modo geral, um mosto deve obedecer aos seguintes requisitos básicos: satisfazer às necessidades nutricionais do microrganismo; ser o mais barato possível; auxiliar no controle do processo, como é o caso de ser ligeiramente tamponado, o que evita variações drásticas de pH, ou evitar uma excessiva formação de espuma; não provocar problemas na recuperação do produto; os componentes devem permitir algum tempo de armazenagem, a fim de estarem disponíveis todo o tempo; ter composição razoavelmente fixa; não causar dificuldades no tratamento final do Mosto artificial para fermentação acética (Borzani 1960). Componentes Quantidade Etanol 100 mL (NH4)2HPO4 0,2 g K2HPO4 0,04 g MgSO4.7H2O 0,03 g Bitartarato de potássio 0,07 g Glicose 1,0 g Água suficiente para 1 Litro Meios de desenvolvimento e de produção para fermentação cítrica*. Componente (g/L) Meio de desenvolvimento Meio de produção Sacarose 25 – 50 200 NH4NO3 2,25 1,1 KH2PO4 0,3 - MgSO4.7H2O 0,25 0,25 KCl - 0,15 * O pH dos meios deve ser ajustado para 2,0. Substratos utilizados como fonte de carbono Carboidratos: glicose e sacarose puras raramente são utilizadas nos processos industriais. O melaço, um subproduto da produção de açúcar é uma das fontes mais baratas de carboidratos. Outros: amido,líquidos sulfíticos, metanol, etanol, celulose, alcanos. Meio Sacaríneas Meio Amiláceas Amido Amido Hidrólise: Uso de enzimas Ligações α-1,4 (α-amilase, β-amilase) Ligações α-1,6 (exopululanases, pululanases e isoamilases) Ligações α-1,4 e α-1,6 (glucoamilases) Produtos: glicose, maltose, dextrinas Meios Celulósicos Hidrólise: Aquecimento com ácidos orgânicos (70 ou 150 ºC) Uso de enzimas do complexo celulítico (endo e exoglucanases, β glicosidase) Produtos: glicose, celobiose, oligossacarídeos Substratosutilizados como fonte de nitrogênio Sais de amônio Uréia líquido de maceração do milho extratos de levedura peptonas A definição adequada do micro-organismo a ser empregado, assim como do meio de cultura para este microrganismo, é etapa fundamental para o sucesso de um processo fermentativo. No entanto, é sempre importante lembrar que a definição de um processo fermentativo mais adequado, assim como as preocupações com a recuperação do produto, são etapas da mais alta importância. É necessário a constante busca do desenvolvimento do processo já instalado, ou seja por melhores condições, em termos de microrganismo e meio. Aumento da formação de penicilina por Penicillium chrysogenum como resultado do desenvolvimento de cepas e otimização dos meios de cultivo (Swartz, 1979). Cepa Penicilina G potássica (mg/mL) Rendimento em Penicilina (a) (g Pen.G/kg Eq. Glc) Produtividade (b) P-2 9,0 0,05 0,72 P-7 16,1 0,09 1,8 P-11 21,6 0,12 2,3 P-13 27,0 0,09 2,6 P-15 29,4 0,12 3,2 (a) kg lipídio x 2,5 = kg equivalente de glicose. Fontes de carbono do meio: açucares e óleos vegetais. (b) kg produto por 1.000 Litros de capacidade total do fermentador por dia. Composição dos melaços dos açúcares de cana e de beterraba (Rhodes & Fletcher, 1966; Imrie, 1969). Composição Melaço beterraba Melaço de cana Matéria seca (MS), % 78 - 85 77 - 84 Sacarose 48,5 33,4 Rafinose 1,0 - 1,0 1,0 21,2 Matéria inorgânica variada 20,7 19,6 N 0,2 - 2,8 0,4 – 1,5 P2O5 0,05 – 0,07 0,6 – 2,0 CaO 0,15 – 0,7 0,1 – 1,1 MgO 0,01 – 0,1 0,03 – 0,1 K2O 2,2 – 4,5 2,6 5,0 SiO2 0,1 – 0,5 - Al2O3 0,005 – 0,06 - Fe2O3 0,001 – 0,02 - Cinzas 4 – 8 7 – 11 Tiamina, mg/100g MS 130 830 Riboflavina 41 250 Priridoxina 540 650 Niacina 5.100 2.100 Ácido pantotênico 130 2.140 Ácido fólico 21 3,8 Biotina 5,3 120 Composição do extrato de levedura produzido mediante processos de autólise e de plasmólise com NaCl. Método de produção Autólise Plasmólise com NaCl Composição, % Matéria seca 70 80 Nitrogênio total 8,8 7,4 Proteína (N x 6,25) 55 46 NaCl < 1 18 Aminoácidos, % Alanina 3,4 2,3 Ácido aminobutírico 0,1 0,1 Arginina 2,1 1,1 Asparagina 3,8 3,1 Cistina 0,3 0,2 Ácido glutâmico 7,2 5,1 Glicina 1,6 1,6 Histidina 0,9 0,8 Isoleucina 2,0 1,6 Leucina 2,9 2,3 Lisina 3,2 2,9 Metionina 0,5 0,5 Ornitina 0,3 0,9 Fenilalanina 1,6 1,6 Prolina 1,6 1,5 Serina 1,9 1,5 Treonina 1,9 1,4 Tirosina 0,8 0,5 Valina 2,3 1,9 Composição do extrato de levedura produzido mediante processos de autólise e de plasmólise com NaCl. Vitaminas, mg/100g Tiamina 20 – 30 10 – 15 Riboflavina 50 – 70 50 – 70 Piridoxina 25 – 35 20 – 30 Niacina 600 100 Ácido pantotênico 200 350 Método de produção Autólise Plasmólise com NaCl Composição, % Cinética dos processos fermentativos descontínuos Quando um micro-organismo é colocado em um meio de cultivo apropriado, são observadas inúmeras transformações, todas elas de caráter bastante complexo. Entre elas podem ser citados o consumo de parte ou total do substrato e dos nutrientes disponíveis no meio, o aumento, por reprodução celular, da massa de micro-organismos presentes no meio e, a formação de produtos do metabolismo celular. S1, S2,.....Sn - substratos P1, P2,...Pn - produtos formados Figura 1. Esquema das transformações que ocorrem como decorrência da ação de um microrganismo sobre um dado meio. Micro- organismos S1 S2 S3 P1 P2 P3 As curvas de variação de concentrações celular, de substrato e produto são a base de qualquer estudo cinético. Para o traçado destas curvas de modo que representem a evolução de um processo fermentativo o mais precisamente possível, alguns fatores precisam ser considerados, como: •a escolha das concentrações a serem medidas, a partir do conhecimento do microrganismo, das rotas bioquímicas; •a escolha de métodos analíticos adequados; •a influência do volume da massa celular; •a amostragem, de forma a Ter-se uma amostra que represente todo o meio em fermentação; •a conservação das amostras; •o intervalo entre as tomadas de amostra, de modo a Ter- se uma visão o mais detalhada possível do processo, sem, entretanto, reduzir demais o volume do meio. Objetivos da cinética: Medir velocidades; Fatores que influenciam as velocidades; Correlacionar parâmetros através de equações empíricas ou modelos matemáticos; Controlar e otimizar o processo; Nomenclatura: X – Concentração de microrganismos (g de matéria seca/L); S – Concentração de substrato (g/L); P – Concentração de produto (g/L); Estudo cinético: acompanhamento das concentrações de produto, substrato e microrganismos O gráfico ao lado relata as velocidades instantâneas de crescimento ou reprodução microbiana; de consumo de substrato e da formação de produto em um dado instante de tempo. Para calcular as velocidades e as velocidades específicas de transformações é necessário estudar os traçados das curvas à partir dos pontos experimentais São feitas regressões dos pontos experimentais Manualmente Curvas representadas por equações matemáticas Programas de computador Traçado das curvas Traçado manual ◦ As curvas de crescimento celular (X=X(t)) e de formação de produto (P=P(t)), exibem a forma de “S” ou sigmoidal crescente ◦ As curvas do substrato residual do meio (S=S(t)) se caracteriza pelo perfil em “S” decrescente Cálculo dos parâmetros cinéticos: Velocidade média, com que ocorre a transformação em um dado intervalo ∆t. A velocidade média, no caso da formação de produtos (células e etanol, por exemplo), é também denominada produtividade. A título de exemplo são mostrados a seguir as expressões para as velocidades médias de consumo de substrato (vs) e para as velocidade médias (ou produtividade) de formação de produto (vp) e de crescimento microbiano (vx), entre os instantes inicial (to = 0) e final (tf) do processo. Velocidades médias: vs = = g/L.h vp = = g/L.h vx = = g/L.h t x Velocidades instantâneas: De crescimento microbiano vx = g/l.h) De consumo de substrato vs =- (g/l.h) De formação de produto vp = (g/l.h) dt dx Velocidades específicas Como X aumenta durante um cultivo descontínuo (processo em batelada), analisa-se geralmente as velocidades instantâneas com relação à concentração microbiana De crescimento microbiano x = (h –1) De consumo de substrato s= - (h –1) De formação de produto p= (h –1) Coeficientes de rendimento ou fatores de conversão: de substrato em células Yx/s= = de substrato em produto Yp/s = = Onde, X, S, P – diferença entre as concentrações ou massas finais e iniciais de células, substrato e produto. Eq. 09: Yx/s = (X-Xo) →conversãoem substrato em células (So-S) Eq. 10: Yx/p = (X-Xo) →relação entre a diferença [X] e [P] (P-Po) Eq. 11: Yp/s = (P-Po) →conversão de substrato em produto (So-S) Produtividade (g/L.h) Produtividade expressa a velocidade média do processo: P = P/t onde t = tempo de fermentação (h) Rendimento do processo: Fermentação alcoólica: C6H12O6 2 CO2 + 2C2H5OH Glicose gás carbônico etanol 180 g 2x46 1g x Logo x=0,511g Rendimento = P * 100 (%) onde So * 0,511 P = etanol obtido Otimização Uma fermentação como toda operação industrial, é submetida à noção de índice de perfomance, em que entram, particularmente, o tempo de operação, a produção, o consumo de energia, de matéria-prima e o rendimento Fases da curva de crescimento Fase 1- Lag ou Latência ◦ Imediatamente após a inoculação do microrganismo ao meio ◦ Período de adaptação celular X = Xo → constante (não há reprodução) ◦ Período de duração da fase → varia [inóculo] Idade do microrganismo Estado fisiológico do micro-organismo Fase 2 – Transição ou aceleração ◦ Início da reprodução microbiana ◦ ↑rX (velocidade de reprodução) ◦ ↑µX (velocidade específica de crescimento) Fase 3 – Logarítmica ou exponencial µx = µm → velocidade específica de crescimento é constante e máxima Eq. 37: dX = µm . X → a velocidade de crescimento é dt diretamente proporcional a X Integrando a eq. 37, entre o início da fase (ti, Xi) e um tempo arbitrário (t, X) Eq. 38: ln X = µm . (t-ti) Xi Eq. 39: X = Xi . exp[µm . (t- ti)] ↳ representação semilogarítmica de X com o tempo de cultivo ↳ valida até tc (tempo crítico) Fase 3 – continuação… ◦ Ao lado da velocidade específica µm, a fase exponencial é caracterizada pelo tempo de geração (tg) ◦ tg é o intervalo de tempo necessário para dobrar o valor de X ◦ Aplicando-se esta definição, tem-se Eq. 40: ln 2 . Xi = µm . tg Xi Eq. 41: µm = ln 2 = 0,693 tg tg Pela eq. 41: o tempo de geração (tg) é cte → µm é cte nesta fase m.o : E. coli termófilos leveduras tg: 20’ (37ºC) 15’ (55ºC) 1,5 a 2h Fase 4 – Linear de crescimento ◦rX = rK → velocidade de reprodução constante ◦Esta fase pode ocorrer sem a prévia existência da fase logarítmica (m.o’s filamentosos, onde há limitação do transporte de nutrientes do meio para o interior das células) ◦Integrando a eq. 1 à partir do início da fase (tc, Xc) e um instante arbitrário t, entre tc e td, tem- se: X t Eq. 42: ʃ Xc dX = rK ʃtc dt Eq. 43: X = XC + rK . (t – tc) = rK . t + XC – rK. tC A otimização deve ser feita segundo os seguintes critérios: maximização das concentrações dos produtos de fermentação que se procura obter (biomassa microbiana, metabólitos) Minimização do tempo de fermentação Minimização dos custos operacionais Os dois primeiros critérios pressupõem a definição das condições que levam aos melhores perfis das curvas de crescimento e de produção. Classificação Gaden (velocidades específicas x tempo) Relações entre velocidades específicas de formação de produto e velocidades específicas de crescimento celular (classificação de Garden): Tipo I: O produto deriva diretamente do metabolismo primário utilizado para produção de energia, podendo ser a própria biomassa. O crescimento, o catabolismo dos carboidratos e a formação do produto ocorrem simultaneamente. Exemplos: produção de etanol Tipo II: O produto deriva do mesmo substrato utilizado para o metabolismo primário, mas a produção ocorre em uma via secundária, independente do metabolismo primário. Inicialmente ocorre grande crescimento e alto consumo de substrato com pouca formação de produto. Em uma segunda fase, o crescimento decresce e começa a formação de produto, acompanhado de alto consumo de substrato. O ácido cítrico, láctico e alguns aminoácidos são produzidos por processos deste tipo. Tipo III: A formação de produto e o metabolismo primário ocorrem em fases completamente separadas. O produto não deriva do catabolismo, mas de vias do metabolismo intermediário. Neste tipo de fermentação opera inicialmente o metabolismo primário, acompanhado do consumo de substrato e crescimento. Em seguida é que ocorre a formação de produto, a partir de vias anfibólicas. Muitos antibióticos são produzidos por este tipo de fermentação. Influência da concentração do substrato sobre a velocidade específica de crescimento Equação de Monod: explica a relação entre a concentração S do substrato limitante do meio, com a velocidade específica µX de reprodução do m.o Eq. 46: µX = µm.S Ks + S Onde: µm → máxima velocidade específica Ks → contante de saturação Monod ~ Michaelis e Menten Ks = S →µX = µm/2 Inibição pelo substrato: ◦ Eq. 47: µX = µmS.Kis Ks+SKis+S FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA PRODUÇÃO DE ÁLCOOL Importância No Brasil a produção de etanol está intimamente ligada à indústria açucareira. Com a crise do petróleo em meados dos anos 70 adquiriu grande importância para muitos países. Produção de Etanol CARACTERÍSTICAS líquido incolor cheiro característico, volátil, inflamável e solúvel em água ponto de ebulição: 78ºC baixo ponto de fusão: -144,1ºC USOS solvente na fabricação de tintas, lacas, vernizes e perfumes combustível preparação de produtos farmacêuticos desinfetante fluido térmico em termômetros abaixo dos -40ºC produto de partida para várias sínteses orgânicas: por oxidação origina acetaldeído e depois ácido acético pode ser desidratado para formar éter pode ser usado na síntese do butadieno (borracha sintética Produção Mundial de Etanol Combustível Vias de obtenção Via sintética A partir de hidrocarbonetos não- saturados de gases do petróleo. P. ex.: hidratação catalítica do etileno. Via fermentativa Tem maior importância no Brasil, que ocupa posição de destaque mundial nos conhecimentos desta biotecnologia. Produção de Etanol no Brasil Custos Associados à Produção de Etanol CUSTOS DE PRODUÇÃO (Earth Trends Update, Março 2007): Cana de Açúcar - U$ 0,34 / L Milho - U$ 0,50 / L Celulose - U$ 1,10 / L Matérias-primas Para se considerar uma matéria-prima economicamente viável, deve-se levar em conta os seguintes requisitos: teor de glicídeos preço de custo preço da sua transformação existência de grande quantidade possibilidade de fácil aquisição e transporte Classificação As matérias-primas utilizadas na indústria do álcool podem ser classificadas em: a) matérias-primas açucaradas: diretamente fermentescíveis (glicose, frutose), não diretamente fermentescíveis (sacarose, maltose, lactose, rafinose) e as mistas (melaço, cana-de-açúcar). C12H22O11 + HOH C6H12O6 + C6H12O6 Sacarose águaglicose frutose Açúcar invertido b) matérias-primas amiláceas e feculentas: grãos de cereais, raízes e tubérculos A fermentação alcoólica das matérias-primas deste grupo exige sempre uma prévia transformação do amido ou fécula em açúcares fermentescíveis, numa reação hidrolítica que recebe o nome de sacarificação. A sacarificação pode ser química (através de ácidos diluídos) ou enzimática (amilase fúngica) de acordo com a seguinte reação simplificada: (C6H10O5)n + nHOH n C6H12O6 amido água glicose c) matérias-primas celulósicas: resíduos de serraria, resíduos sulfíticos(lixívias residuais da purificação da celulose da madeira). PREPARO E CORREÇÃO DOS MOSTOS Compreendem toda a série de operações tecnológicas que visam a condicionar a matéria-prima de acordo com as exigências da levedura alcoólica. Composição das Matérias-Primas CALDO DE CANA DE AÇÚCAR: Composição das Matérias-Primas Melaço 62% de açúcares (32% de sacarose, 14% de glicose, 16 % frutose) 20% de água 8% de cinzas 3% de matérias nitrogenadas 7% de outros componentes (gomas e ácidos) Concentração de sólidos solúveis e de açúcares totais O mosto deve apresentar uma concentração compatível com a linhagem de levedura e com o processo de fermentação utilizado. Mostos muito diluídos podem ter as seguintes consequências: fermentação mais fácil, menor teor alcoólico do vinho, maior consumo de água de diluição, maior capacidade de dornas, maior capacidade dos aparelhos destilatórios, maior consumo de vapor, maior facilidade de infecção do mosto, maior número de mão- de-obra. Mostos muito concentrados: fermentação incompleta e, portanto, perda de açúcares, fermentações mais demoradas, maior rendimento da destilação, maior quantidade de incrustações, nos aparelhos destiladores. Acidez total e pH pH entre 4,5 a 5,5 Sais minerais Em proporções adequadas, difosfato de amônio, fosfato de cálcio, sulfato de magnésio, sulfato de cobalto, etc, favorecem o processo fermentativo. Nitrogênio O suprimento de nitrogênio às leveduras é essencial ao seu crescimento e a sua fisiologia, como a síntese de proteínas, de enzimas, de ácidos nucléicos, de fatores de crescimento e de vitaminas. A fonte preferida de nitrogênio é a amoniacal, quando não disponíveis as mesmas utilizam os aminoácidos que são convertidos em álcoois superiores acarretando menor rendimento em etanol. Antissépticos Comumente, são empregados produtos à base de pentaclorofenol e de antibióticos Temperatura As leveduras são mesófilas, as temperaturas ótimas para a produção industrial de etanol situam- se na faixa de 26-35 oC, com média de 30oC. A temperatura deve ser ajustada com o auxílio da refrigeração. Oxigênio As leveduras são microrganismos anaeróbios facultativos, em anerobiose realizam a fermentação, e em presença de O2, oxidam os açúcares pela respiração ( Efeito Pasteur). PREPARO DO MOSTO DE MELAÇO O preparo dos mostos, de um modo geral, compreende duas operações: diluição e correção. Devido à sua elevada concentração, o melaço deve ser diluído com água potável. As concentrações dos mostos, nas destilarias são comumente expressas em graus Brix, os melaços devem ser diluídos para 15 a 25o Brix, com média de 18-20o Brix. PREPARO DO MOSTO DE CANA-DE-AÇÚCAR Durante a extração do caldo pelas moendas, através da operação de embebição – adição de água e/ou caldo diluído à cana em processamento - destinada a aumentar a extração dos açúcares, já ocorre a sua diluição, quando atinge uma concentração da ordem de 13 a 15o Brix. Após ser coado, o caldo é encaminhado à operação de calagem – adição de leite de cal -. Destinada à sua purificação parcial, quando ocorre a coagulação de algumas impurezas coloidais. Nessa operação, seu pH original, de 5,0 a 5,5, é elevado até 5,8 a 6,2. PREPARO DO MOSTO DE CANA-DE-AÇÚCAR A seguir, o caldo é submetido a um aquecimento da ordem de 100oC, ocorrendo a coagulação de outras impurezas, sendo então encaminhado a uma decantação, para a separação dessas impurezas. Daí resultam o caldo claro decantado e o lodo ou borra. Aquele é encaminhado a evaporadores destinados a aumentar a sua concentração. PREPARO DO MOSTO DE MATÉRIAS AMILÁCEAS E FECULENTAS Devido a inúmeras vantagens que apresenta, o processo da amilase fúngica é o mais adequado para a sacarificação das matérias amiláceas e feculentas. Processo da amilase fúngica A amilase fúngica é produzida por vários microrganismos desenvolvidos em cultura submersa, sob condições controladas de temperatura, pH e aeração. Melhores resultados foram obtidos com o fungo Aspergillus niger NRRL 337. Obtenção do licor amilásico Compreende duas fases: a fase de propagação do fungo em laboratório, em meio de cultivo adequado em condições controladas de temperatura, agitação e tempo de fermentação e a fase industrial que é realizado em fermentadores denominados “aparelhos de cultura pura”. A massa micelial é separada do líquido fermentado e este contitui o “licor amilásico”. Hidratação e cozimento da matéria-prima Estas operações têm por finalidade transformar o amido em “goma”, o que assegura, durante o processo de sacarificação, um contato íntimo do amido com as enzimas sacarificantes. Inicialmente, a matéria-prima é desintegrada em moinhos de martelos, sendo a seguir levada ao hidrator, onde recebe água a uma temperatura de 60oC. A quantidade de água a ser adicionada é previamente calculada de modo a se obter, após o cozimento, uma goma com 15 a 25o Brix. Recomenda-se também, nesta etapa, adicionar ácido sulfúrico ou clorídrico, a fim de propriciar um pH adequado à sacarificação (5,0 a 5,7). O tempo de hidratação é de 80 a 90 minutos, á temperatura de 55 a 60oC. A seguir, a matéria- prima hidratada (ou pré-cozida) é submetida ao cozimento em “cozedores”, sob condições adequadas de temperatura e pressão (2 minutos, a 180oC e 10 atmosferas, para cozedores contínuos; 2 a 5 horas, a 121-144oC e 2 a 4 atmosferas, para cozedores intermitentes). Sacarificação da goma de amido Esta operação é realizado em dorna denominada “sacarificador”, com paredes duplas ou simples, contendo serpentinas, e um sistema de agitação. A quantidade de licor amilásico adicionada à goma é de 10 a 12% em relação à quantidade de amido a ser sacarificada. A operação de sacarificação é feita à temperatura de 55oC e se completa em um período de 1,5 a 2,0 horas. AGENTE DA FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA Do ponto de vista econômico, as leveduras são os micro-organismos mais importantes na obtenção do álcool pela via fermentativa. A espécie de levedura de maior interesse comercial é a Saccharomyces cerevisiae, contudo a bactéria Zymomonas mobilis apresenta algumas vantagens perante as leveduras, como: são mais termotolerantes, mais osmotolerantes, mais tolerantes ao álcool e são capazes de converter mais rapidamente o substrato do que Saccharomyces. Alguns Microrganismos Produtores BACTÉRIAS: Zymomonas mobilis Erwinia amylovora Spirocaheta litoralis Thermanaerobacter ethanolis LEVEDURAS: Saccharomyces cerevisiae Saccharomyces ellipsoideus Schizosaccharomyces pombe PREPARO DO INÓCULO Fermento prensado 20 g de fermento prensado por litro de mosto Fermento selecionado Leveduras selecionadas por possuir bom potencial fermentativo e alta velocidade específica máxima de crescimento. Preparo do Inóculo FERMENTAÇÃO Glicólise ou via de Embden- Meyerhof-Parnas (EMP) Via de Entner-Doudoroff ( ou via do 2-ceto-3-desoxi-gluconato) Equação global: Glicose + 2Pi + 2 ADP 2 Etanol + 2CO2 + 2 ATP + 2 H2O Produtos de fermentação Fermentação FASES: a) lag – adaptação celular b) tumultuosa – grande liberação CO2 c) final – pequena quantidade de açúcar (0,5%); baixa produção CO2 SISTEMAS DE FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA Os processos empregados industrialmente são: processo de fermentos individuais processo de cortes processo de decantação processo de Melle-Boinot processo de fermentação contínua À exceção do último processo citado, os demais são processos intermitentes ou por cargas ou ainda conhecidos como “bateladas”. O processo Melle-Boinot, com ligeiras alterações ou não, é utilizado hoje pela grande maioria das destilarias que produzem álcool. Vantagens de processo de Recuperação de Leveduras (Melle-Boinot) evita a preparação e a conservação de culturas puras, dispensando o uso de aparelhos de cultura pura, que consomem vapor e água; produz fermentações mais rápidas, necessitando de um menor volume de dornas, tornando menor o custo de instalação; conduz a um aumento do rendimento em álcool, em virtude do consumo mínimo de açúcar na multiplicação de células. A fase inicial das fermentações reduz-se substancialmente porque o substrato recebe uma concentração ótima de células. PRODUTOS SECUNDÁRIOS DA FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA Dióxido de carbono, álcoois superiores, glicerol, ácido succínico, aldeído acético, ácido acético, ésteres como o acetato de etila. ACIDENTES DA FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA Fermentação acética Fermentação láctica Fermentação butírica Fermentação do dextrânio Fermentação do levânio CONTROLE DO PROCESSO Tempo de fermentação Odor da fermentação Aspecto da espuma Presença de drosófilas Temperatura Densidade ou atenuação do Brix Controle da acidez Rendimento ( é o fator mais preciso no julgamento da fermentação, visto que, indiretamente, inclui todos os demais fatores comentados anteriormente) DESTILAÇÃO Após a fermentação, os substratos açucarados denominam-se vinhos com uma constituição variável, mas encerrando substâncias gasosas, sólidas e líquidas. Gás = dióxido de carbono Sólidos = células de leveduras, bactérias, sais, impurezas, etc Líquidos = água (88-93%) e etanol (7- 12%), álcoois amílico, isoamílico, propílico, butílico, isobutílico, aldeídos, ésteres, ácidos, furfural, glierol, ésteres. A destilação objetiva separar o álcool desta mistura impura e heterogênea em grau de pureza e concentração variáveis. A destilação pode ser conduzida por processo intermitente ou contínuo Nesse tipo de destilação pode-se separar 3 frações: cabeça, coração e cauda A destilação contínua realiza-se em colunas de destilação, fazendo-se a alimentação contínua do aparelho com o vinho, retirando-se continuamente a vinhaça da base e o destilado do topo. A separação dos componentes secundários é feita lateralmente em alturas determinadas, segundo a natureza dos componentes secundários. Recuperação (A) (B) (A) destilação (B) destilação + retificação (C) destilação + retificação + desidratação com Benzol ou Ciclohexano – forma misturas azeotrópicas ternárias e binárias (C) Com Peneiras Moleculares (C) VINHOTO Vinhoto é o resíduo final da destilação dos mostos fermentados e é produzido normalmente na proporção de 12 litros para cada litro de álcool. Este resíduo é muito poluente, não podendo ser lançado nos rios ou qualquer outro coletor de água, sem tratamento adequado. Fermentação a partir de cana de açúcar
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