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BIORREATORES E PROCESSOS FERMENTATIVOS Disciplina Microbiologia Industrial Profa. Evelyn de Souza Oliveira Lopes FERMENTAÇÃO DESCONTÍNUA (Vol. 2, Cap. 9) • Utilizadas desde a Antiguidade • Mais utilizadas para obtenção de vários produtos fermentados (iogurte, chucrute, picles, cerveja, vinho) • Fermentações por bateladas; processos descontínuos de fermentação • MODO DE OPERAÇÃO – Início da fermentação • Inoculação → solução nutriente estéril + micro-organismos → incubação (para que a fermentação ocorra sob condições ótimas) – Durante a fermentação • Adição: - O2 (processos aeróbicos) - antiespumante - ácido/base (controle de pH) – Fim da fermentação • Dorna descarregada • Meio fermentado segue para os tratamentos finais – Após fermentação • Lavagem e esterilização da dorna • Recarregar com mosto e inóculo • Características do processo descontínuo • O volume no decorrer da fermentação é constante, caso não haja adição de soluções para o controle do processo, nem perdas de líquido por evaporação • Desvantagens – Baixos rendimentos e produtividade • Substrato é adicionado de uma vez só no início da fermentação – Efeitos de inibição – Repressão – Desvio do metabolismo celular a produtos que não interessam • Tempos mortos – Tempo que não está sendo usado (carga/descarga/lavagem/esterilização) • Vantagens – Apresenta menores riscos de contaminação (comparados a processos contínuos) – Grande flexibilidade de operação • Fabricação de diferentes produtos • Possibilidade de realizar fases sucessivas no mesmo recipiente – Condição de controle mais estreito da estabilidade genética do microrganismo – Capacidade de identificar todos os materiais relacionados quando está se desenvolvendo um determinado lote de produto • Inóculo; pé-de-cuba; ou pé-de-fermentação – É o volume de suspensão de micro-organismo de concentração adequada capaz de garantir, em condições econômicas, a fermentação de um dado volume de mosto • Preparo do inóculo – Volume de inóculo introduzido no fermentador ~10% de sua capacidade útil – Preparo do inóculo compreende 2 fases: laboratorial e industrial – A partir da cultura estoque, propaga-se o micro-organismo por meio de metodologia conveniente 1. Fase inicial – Micro-organismo é passado do meio sólido (condições assépticas) para o meio líquido esterilizado – Incubação – Transferência do conteúdo do tubo para frascos apropriados (“shakers”), contendo meio esterilizado 2. Após incubação – Trasnferência da suspensão microbiana para frascos maiores, contendo meio nutriente esterilizado 3. A cada passo, os micro-organismos devem crescer rapidamente, sendo as transferências feitas na fase log de crescimento • Desenvolver um protocolo para a propagação do inóculo, para obtenção do mesmo no menor tempo possível e que atinja maiores rendimentos e/ou produtividades no processo industrial • Mosto – Cada micro-organismo possui condições ótimas de crescimento (temperatura, pH, nível de O2 dissolvido, entre outras) – Meio de cultivo • Meio de cultura (microbiologia) • Mosto ou meio de fermentação (fermentações industriais) – O meio deve propiciar não só a formação do produto que se deseja, como também o desenvolvimento microbiano • Classificação – Os processos descontínuos podem ser classificados em 3 grandes grupos: 1. Aqueles em que cada dorna recebe um inóculo 2. Processos com recirculação de células 3. Processos por meio de cortes – Grupo 1 • Consiste na inoculação de uma dorna com o micro- organismo que foi propagado a partir de uma cultura pura • Oferece poucos riscos de contaminação • Este processo é indicado – Meio rico – Micro-organismo altamente susceptível à contaminação – Grupo 2 • Reaproveitam o micro-organismo da batelada anterior como inóculo – Os micro-organismos são separados do caldo fermentado por centrifugação ou sedimentação (ex: cervejarias, destilarias de álcool) • Como há tendência de aumentar o número de contaminantes a cada nova batelada, o fermento deve sofrer tratamento antes de ser recirculado – No caso de levedura, mistura-se ao fermento concentrado água e ácido sulfurico. Agitação por 2 a 3 horas, proporcionando a eliminação de contaminantes, bem como de células em degeneração – Grupo 3 • Inicia-se a fermentação com uma dorna (chamada dorna A) com pé-de-cuba • Quando a fermentação atinge um estágio apropriado, passa- se parte do conteúdo da dorna A para uma dorna vazia (dorna B) e, em seguida, enchem-se 2 dornas com meio a fermentar. • Esta operação recebe o nome de corte • Esses cortes podem ser feitos na fase de crescimento mais intenso quando se deseja propagar o inóculo ou após o término da fermentação • A sucessão de cortes pode acarretar sérias quedas no rendimento, principalmente quando se trabalha com meio não esterilizado • O controle do rendimento poderá indicar o momento que se deve suspender o trabalho por cortes e se iniciar nova fermentação com inóculo novo Fermentação descontínua alimentada (Vol. 02, Cap. 10) • Processo descontínuo alimentado = processo por batelada alimentada = fermentação descontínua alimentada • Importância tanto em escala industrial como em pesquisas • O processo descontínuo alimentado é definido como uma técnica em processos microbianos, onde um ou mais ou todos os nutrientes são adicionados ao fermentador durante o cultivo e que os produtos aí permanecem até o final da fermentação. • Vazão da alimentação – Constante – Variar com o tempo • Adição do mosto – Contínua – Intermitente • Mudança de volume pode ou não acontecer – Concentração do substrato – Taxa de evaporação do sistema • Flexibilidade de utilização de diferentes vazões de enchimento de dornas com meio nutrientes – Controle da concentração de substrato no fermentador – Metabolismo microbiano pode ser deslocado para uma determinada via metabólica → acúmulo de um produto específico Cada condição de trabalho pode levar a diferentes perfis de concentração – Substrato – Células – Produto • Aplicações – Com o processo descontínuo alimentado, vários processos de fermentação apresentam maiores valores de rendimentos. Antes de 1940 – Processos fermentativos: carboidratos→ compostos orgânicos simples – Sucesso da aplicação da fermentação descontínua alimentada para produção de levedura – Utilização de leveduras (com adição de um ou mais componentes necessários ao microrganismo) para produção de glicerol, acetona, butanol, ácido lático e outros materiais – Melhor controle do processo de fermentação – Utilização eficiente dos componentes do meio 1. Minimização dos efeitos do controle do metabolismo celular – Um micro-organismo deve ser eficiente energeticamente • Dispõe de mecanismos regulatórios em seu metabolismo – Previnem que não haja superprodução de determinado produto ou síntese de uma enzima desnecessária • Processo descontínuo alimentado pode controlar – Repressão catabólica • Micro-organismos, glicose ou outras fontes de carbono rapidamente metabolizáveis – Reprimem a expressão de genes que codificam enzimas relacionadas ao metabolismo de outras fontes de carbono – Batelada alimentada: técnica para superar a repressão catabólica na biossíntese de enzimas – [glicose] no meio de fermentação é mantida baixa→ restringindo o crescimento → biossíntese da enzima é desreprimida• Exemplo: Na produção de leveduras de panificação, procura-se minimizar o efeito da glicose através da utilização de diversas técnicas de alimentação de dornas, mantendo-se baixos os níveis de açúcar no meio de fermentação → evita que o substrato seja deslocado para produção de etanol → aumenta a eficiência de transformação da fonte de carbono em células – Mecanismo de regulação denominado INDUÇÃO (desrepressão) • Ocorre na presença de um substrato e/ou indutor – Desreprimem ou liberam a síntese de uma dada enzima, cujos genes que a codificam são encontrados usualmente reprimidos – Diversas enzimas do catabolismo têm sua biossíntese regulada desse modo – Exemplo » Processo fermentativo cujo produto seja uma proteína recombinante, a indução de proteases se dá quando ocorre diminuição de nitrogênio no meio – Normalmente µx ocorre com valores [S] no meio fermentativo maiores que aqueles onde os efeitos de repressão catabólica são minimizados, sugere-se que se conduza o processo fermentativo em 2 fases 1. Fornecimento de mais substrato para obtenção do aumento da biomassa 1. Dimuinuição do fornecimento de substrato de tal forma a limitar a concentração de substrato e µx, de modo que haja desrepressão e a enzima e/ou produto desejado seja produzido 1. Mecanismo de inibição por “feedback” (retroinibição) • Muitas enzimas são inibidas pela formação de produtos finais • Redução da formação de produtos finais indesejáveis, que exercem inibição e/ou repressão das enzimas que levam à formação do produto desejado → controle da alimentação do nutriente requerido • Técnica usada industrialmente para produção de aminoácidos 2. Prevenção da inibição pelo substrato – Nutrientes como metanol, etanol, ácido acético e compostos aromáticos inibem o crescimento de micro- organismos, mesmo em concentrações relativamente baixas – Qualquer fonte nutriente pode se tornar inibitória, dependendo da concentração no meio, do micro- organismo e das condições de fermentação Exemplo: glicose como substrato de fermentação alcoólica com S. cerevisiae para concentração superiores a 100 g/L – O controle da vazão de alimentação permite que se evite o trabalho em condições inibitórias, melhorando a produtividade e/ou rendimento desses processos fermentativos 3. Minimização da formação de produtos de metabolismo tóxicos – A produção de produtos de metabolismo tóxicos é particularmente crítica em processos onde se deseja a obtenção de altas densidades celulares, como fermentações com microrganismos recombinantes e com células animais, que produzem pouco produto. O controle da velocidade de fornecimento de substrato ao sistema permite que se mantenha a velocidade de crescimento celular em intervalos desejados e/ou minimize a formação de produtos tóxicos para as células, possibilitando ainda que se consiga altas concentrações destas e aumento na quantidade de produto formado 4. Superação de problemas frequentes de estabilidade em processo contínuo 5. Adequação do processo fermentativo a condições operacionais – Em estudos de enchimento de dornas, vazões decrescentes levaram a maiores produtividades e minimizaram problemas com espuma, pois a velocidade de adição de açúcar é máxima no início (quando se têm menores volumes de meio de fermentação e ainda não há inibição por etanol) e mínima no final da fase de crescimento Fermentação semicontínua (Vol. 02, Cap. 11) • No processo semicontínuo, o meio de fermentação e o inóculo são colocados no reator na seguinte ordem: – Operação nº 1 • Aguarda-se o tempo de fermentação – Operação nº 2 • Retira-se parte do meio fermentado, mantendo-se, no reator o restante do mosto fermentado – Operação nº 3 • Adiciona-se ao reator um volume de meio de fermentação igual ao volume de meio de fermentação retirado na operação nº2 • O meio fermentado não retirado na op. 2, serve de inóculo ao meio de fermentação adicionado na op. 3 • A sequência de operações será repetida enquanto não houver queda na produtividade do processo • Em alguns casos, o meio fermentado retirado do fermentador (op. 2) é submetido a uma centrifugação, para separar os microrganismos nele existentes • Estes m.o’s voltam ao reator juntamente com o meio de fermentação na op. 3 • O processo chama-se semicontínuo, porque são intermitentes tanto o fluxo de entrada do meio no reator, quanto o de saída de material fermentado • Exemplos – Fabricação de vinagre a partir de vinho, conhecido como processo lento (ou processo francês, ou processo de Orleans) • Existem poucas aplicações, mas o processo semicontínuo pode apresentar algumas vantagens significativas, principalmente quando o volume de produção é relativamente pequeno: a. Possibilidade de operar a fermentação por longos períodos (às vezes, alguns meses) sem que seja necessário peraprar um novo inóculo b. Possibilidade de, uma vez conhecidas as melhores condições de operação, conseguir produtividade significativamente maior do que obtida em processo descontínuo Fermentação contínua (Vol. 2, Cap.12) • Caracteriza-se por possuir uma alimentação contínua de meio de cultura a uma determinada vazão constante, sendo o volume de reação mantido constante através da retirada contínua de caldo fermentado – A manutenção de V constante de líquido no fermentador é importante – Para que o sistema atinja a condição de estado estacionário ou regime permanente (“steady state”) – Condição na qual as variáveis de estado (X, S, P) permanecem constantes ao longo do tempo de operação do sistema • O processo contínuo caracteriza-se por ser um sistema que pode operar por longos períodos de tempo em estado estacionário • Para manutenção do V constante no fermentador – V alimentação = V retirado do meio – Na prática, é impossível – São usados sistemas de retirada de líquido por transbordamento (“ladrão”) • Para manter o nível de líquido constante – Ou ainda pode-se empregar bombas de alta vazão na saída, que são acionadas intermitentemente • Para manter uma massa constante no reator – Outro problema que pode comprometer a manutenção do V constante (principalmente em processos aerados) é a formação intensa de espuma • Utilização de anti-espumantes apropriados • Sistemas mecânicos de quebra de espuma – Este problema é crítico quando os reatores são de pequena capacidade • Vital importância a precisão no estabelecimento das vazões de alimentação e de retirada do caldo fermentado • Vantagens e desvantagens do processo contínuo em relação ao descontínuo – Principais vantagens (decorrentes da operação em estado estacionário) • Aumento da produtividade do processo – Em decorrencia da redução dos tempos mortos ou não produtivos • Obtenção de caldo fermentado uniforme – O que facilita o projeto das operações de recuperação do produto de interesse (“downstream”) • Manutenção das células em um mesmo estado fisiológico – O que torna o processo contínuo uma ferramenta para estudos de mecanismos de regulação metabólica – Otimização de meio de cultura • Possibilidade de associação com outras operações contínuas na linha de produção • Maior facilidade no emprego de controles avançados • Menor necessidade de mão-de-obra • Desvantagens – Maior investimento na planta inicial – Possibilidade de ocorrência de mutações genéticas espontâneas • Resulta na seleção de mutantes menos produtivos – Maior possibilidades de contaminações • Trata-se de um sistema aberto • Manutenção de condições de assepsianos sistemas de alimentação e retirada de meio, desde que o processo exija – Dificuldades de manutenção de homogeneidade no reator • Quando se trabalha com baixas vazões • Ou quando o caldo adquire comportamento pseudo-plástico (cultivo de fungos filamentosos) – Dificuldades em operar em estado estacionário em determinadas situações • Formação de espumas; crescimento do m.o nas paredes do reator ou ainda nos sistemas de entrada e saída de líquido – Aplicações – Fermentação alcóolica em escala industrial para álcool combustível • Contínuo com reciclo de células • Contínuo em multiplos estágios • Obtenção de elevados rendimentos – Tratamento biológico de resíduos • Tratamento de resíduos de fábricas de cervejas e refrigenrantes, de laticínios e indústrias de alimentos em geral • Formas de operação – Processo contínuo normalmente inicia-se em um processo descontínuo – Carrega-se inicialmente o reator com meio de cultura – Inocula-se com o m.o responsável pela conversão – Após algum período de operação descontínua, inicia-se alimentação de meio de cultura e retirada de caldo – dependendo do instante em que se inicia o processo contínuo propriamente dito, bem como da vazão de alimentação empregada, o sistema poderá convergir com maior ou menor rapidez à situação de estado estacionário – Recomenda-se que se inicie a alimentação com cultivo em fase exponencial e contendo uma concentração celular mais elevada possível – Existem várias possbilidades de operação com o sistema contínuo 1. Contínuo em um único estágio (um único reator) – Sem reciclo de células – Com reciclo de células 2. Contínuo em múltiplos estágios (“n”reatores em série) – Com uma única alimentação (com ou sem reciclo de células) – Com múltiplas alimentações (com ou sem reciclo de células) – Cada uma dessas operações, resultará em distintos comportamentos das variáveis de estado (X, S, P) nos diversos estados estacionários possíveis, podendo-se assim definir faixas ideias de operação do sistema, tendo como objetivo básico obtenção de elevadas produtividades do processo • Sistema contínuo com recirculação de células – Obtenção de alta densidade celular no reator – Aumento da produtividade do processo – Reciclo de células • Interno • Externo – Recirculação interna • A fração de células é mantida no reator – Sedimentação – Emprego de um filtro na saída de líquido do reator – Recirculação externa • O líquido efluente circula através de um “separador de células” – Sedimentador – Centrífuga – Sistema de filtração por membranas • Uma corrente concentrada de células retorna ao fermentador • Outra corrente (filtrada ou permeada) sai praticamente isenta de células – Recirculação interna é mais segura do que o reciclo externo • Manutenção da assepsia • Produção de enzimas e antibióticos – reciclo interno • Fermentação alcoólica e tratamento biológico de resíduos – reciclo externo • Sistema contínuo em múltiplos estágios – Opções de condução • Sistema com uma única alimentação • Sistema com múltiplas alimentações • Sistema com reciclo de células, com uma ou múltiplas alimentações – Nem sempre é de fácil implementação e execução industrialmente – Aplicação ainda é restrita
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