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Alice_Almeida principio da soberania dos vereditos na REVISÃO CRIMINAL

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O princípio da soberania dos veredictos na Revisão 
Criminal 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ALICE GOMES DE ALMEIDA 
 
 
 
 
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Sumário 
 
Introdução..................................................................................................................... 2 
Capítulo I – A Instituição do Tribunal do Júri.................................................. 4 
1. Aspectos históricos.................................................................................................. 4 
2. Conceitos gerais ......................................................................................................8 
3. Panorama brasileiro ............................................................................................. 10 
Capítulo II – Princípios constitucionais do Júri ............................................. 15 
1. Considerações iniciais........................................................................................... 15 
2. Competência.......................................................................................................... 16 
3. Sigilo das votações ................................................................................................ 19 
4. Plenitude de defesa................................................................................................22 
5. Soberania dos veredictos...................................................................................... 25 
Capítulo III – A Revisão Criminal ................................................................... 28 
1. Aspectos principais ............................................................................................... 28 
2. Hipóteses de cabimento ........................................................................................ 32 
3. Revisão e decisão do Júri – da possibilidade de mitigação do princípio da 
soberania dos veredictos na ação revisional........................................................... 36 
Conclusão.................................................................................................................... 52 
Referências ................................................................................................................. 54 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Introdução 
 
A escolha do tema do presente trabalho de conclusão de curso foi determinada 
pela complexidade da matéria e, igualmente, pelo receio de que o instrumento da revisão 
criminal, remédio jurídico capaz de quebrar a intangibilidade da coisa julgada em nome da justiça 
e da certeza em torno dos fatos, primando pela reparação do erro judiciário penal, seja utilizado 
de forma indiscriminada e descuidada, repercutindo em violação ao princípio da soberania dos 
veredictos, segundo o qual os juízes togados não podem substituir os jurados nas causas da 
competência originária do Tribunal do Júri. 
O que se pretende demonstrar é a fragilidade das premissas adotadas pela 
maioria doutrinária e jurisprudencial para justificar a possibilidade de o tribunal revisor ingressar 
novamente no mérito da causa, mormente em se tratando de ação revisional fundada em sentença 
condenatória contrária à evidência dos autos. 
O estudo tem como objetivo a análise preponderantemente descritiva, através 
do método indutivo, com o uso da técnica de pesquisa bibliográfica. 
A primeira etapa do trabalho foi desenvolvida com a pesquisa a respeito do 
surgimento e da evolução histórica do tribunal popular tanto no cenário mundial quanto no 
contexto específico da legislação brasileira. Da análise da atual regulação pátria em torno do 
assunto, traçou-se uma breve explanação acerca do Júri, no que diz respeito aos seus conceitos, 
sua composição, seu rito e suas peculiaridades. 
No segundo capítulo, discorreu-se acerca dos aspectos principais dos princípios 
constitucionalmente reconhecidos como essenciais ao Júri - a competência para o julgamento dos 
crimes dolosos contra a vida, o sigilo das votações, a plenitude da defesa e a soberania dos 
veredictos -, bem como acerca das conseqüências práticas desse reconhecimento. 
 
 
 
 
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Em seguida, no terceiro capítulo, foram analisados os elementos característicos 
da revisão criminal, bem como as suas hipóteses de cabimento, relacionadas no art. 621 do 
Código de Processo Penal. Por fim, procedeu-se a uma análise crítica quanto à possibilidade de 
mitigação do princípio da soberania dos veredictos no caso de reconhecimento da procedência da 
ação, já que atualmente impera a orientação de que tanto o juízo rescindente, que constitui a 
anulação do julgamento, quanto o rescisório, que implica na reapreciação do mérito da causa, 
devem ser atribuídos ao tribunal revisor mesmo nas decisões de competência originária do Júri. 
Em suma, o que se intenta demonstrar nesse trabalho é que, conquanto seja a 
revisão criminal o meio adequado para reverter decisões condenatórias com trânsito em julgado, 
mesmo aquelas provenientes do Tribunal do Júri, ela não pode ser utilizada como instrumento 
para desvirtuar os princípios constitucionais da soberania dos veredictos e da competência 
privativa do Júri para apreciar e julgar os crimes dolosos contra a vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Capítulo I – A Instituição do Tribunal do Júri 
 
 
Inicialmente, antes da abordagem do tema propriamente dito, faz-se necessária 
uma análise sucinta acerca de aspectos gerais relativos ao Tribunal do Júri, inafastáveis ao 
propósito a que se destina esse trabalho. 
 
1. Aspectos históricos 
 
 
Os autores contemporâneos divergem acerca das origens do Tribunal do Júri. 
Há quem aponte os povos antigos, principalmente da Grécia e de Roma, como o berço do tribunal 
popular. Outros entendem que o traço mais nítido de seu surgimento ocorreu na Inglaterra. O fato 
é que o julgamento pelos pares, até mesmo em função de sua simplicidade primitiva, remonta aos 
primórdios da humanidade, daí porque se afigura impossível tentar situar suas primeiras 
manifestações no tempo e no espaço. Neste sentido, CARLOS MAXIMILIANO (1954, p. 156) 
assevera que “as origens do instituto, vagas e indefinidas, perdem-se na noite dos tempos”. O que 
se pode afirmar com certeza é que a instituição só adquiriu sua feição moderna a partir de 1215, 
na Inglaterra, com a edição da Carta Magna. A partir daí, o Júri foi se consolidando e se 
propagando pelo mundo ocidental. 
Na Inglaterra, país ao qual se atribui a origem moderna do instituto, a 
concepção do Tribunal do Júri adveio da necessidade de conter as arbitrariedades do soberano e 
fazer prevalecer o direito consuetudinário, em consonância com a adoção do sistema do Common 
Law. Este modelo tem por concepção primordial que os costumes do povo devem se sobrepor à 
mecânica aplicação da legislação pelos juízes togados. À época, os magistrados se subordinavam 
à monarquia e, portanto, não dispunham da necessária independência para o pleno e livre 
 
 
 
 
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exercício de sua função jurisdicional. Daí porque, em consonância com a idéia de preservar os 
direitos individuais, surge o Tribunal do Júri, entendido como um símbolo de democracia. Assim, 
contra o absolutismo dos soberanos e como garantia de um julgamento imparcial, permitiu-se aos 
cidadãos julgar seus semelhantes segundo o bom senso e os costumes sociais. 
A Europa continental não ficou alheia a essas transformações. Com a eclosão 
da Revolução Francesa, em 1789, e com vistas a combater a subordinação dos magistrados do 
Antigo Regime, importou-se o instituto, o qual se propagou por todo o continente europeu. A 
idéia de julgamento do indivíduopor seus pares, naquele contexto, representava um símbolo da 
democracia. Gradativamente, porém, o Poder Judiciário foi adquirindo cada vez mais 
independência política, em benefício da própria segurança jurídica, e, por conseqüência, o Júri foi 
perdendo sua força, tendo sido abolido do sistema jurídico de muitos países. 
No Brasil, por influência das transformações legais sofridas por Portugal, país 
colonizador, também se acolheu a instituição do Júri, através de lei de 18 de junho de 1822, tendo 
sido atribuída a ele, inicialmente, a competência limitada para julgar os crimes de imprensa. Sob 
a égide da Constituição Imperial, em 25 de março de 1824, incluiu-se o Júri no título concernente 
ao Poder Judiciário, juntamente com os juízes e os tribunais de justiça. Só a partir da primeira 
Constituição republicana, em 1891, de cunho eminentemente federalista, é que se passou a 
elencar o júri no rol dos direitos e garantias individuais, na medida em que ele foi incluído na 
seção que tratava da declaração de direitos. Não obstante, a Carta Magna de 1934, tornou a 
inseri-lo no capítulo que tratava do Poder Judiciário, incumbindo ao legislador ordinário a 
fixação de suas atribuições e de sua organização, ou seja, a sua adequação às conveniências da 
justiça. 
 
 
 
 
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A Constituição de 1937, produzida no contexto de um Estado notadamente 
totalitário, o Estado Novo, e outorgada à Nação, silenciou-se quanto à instituição do Júri, embora 
houvesse em seu texto regra autorizadora para a sua implantação, o que gerou controvérsias 
acerca da sua extinção1. Essa controvérsia foi dirimida com o advento do Decreto-lei nº 167, de 5 
de janeiro de 1938, o qual estabeleceu regras acerca da instituição do júri, delimitando sua 
competência e, portanto, evidenciado a sua subsistência no sistema normativo brasileiro. Todavia, 
esse decreto mitigou a soberania do tribunal popular, conferindo ao Tribunal de Apelação pleno 
poder de revisão quanto ao mérito das decisões que não encontrassem nenhum apoio nos autos. 
Com a restauração do regime democrático, o constituinte de 1946 houve por bem restabelecer a 
configuração do Júri, tornando a inseri-lo no rol dos direitos e garantias individuais e resgatando 
o sigilo das votações, a plenitude de defesa do réu e a soberania dos veredictos. 
Durante o regime militar a Constituição de 1967 manteve a configuração 
anterior do tribunal popular, restringindo sua competência para o julgamento dos crimes dolosos 
contra a vida. Com a Emenda Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969, deu-se novo 
tratamento à instituição, suprimindo-se a menção à soberania do Júri, em clara afronta à vontade 
popular no âmbito dos julgamentos do tribunal colegiado. Finalmente, redemocratizado o País, a 
Constituição de 1988 manteve o Júri em seu artigo 5º, inciso XXXVIII, dentre diversos outros 
direitos e garantias fundamentais, e cingiu-se a fixar a sua competência mínima para o 
julgamento dos crimes dolosos contra a vida, bem como restabelecendo os princípios outrora 
consagrados na Carta de 1946: a plenitude de defesa, o sigilo das votações, a soberania dos 
veredictos e a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida. 
 
1 Segundo ARAMIS NASSIF, “mesmo sem referência expressa na Carta, a Instituição manteve seu status 
constitucional, de vez que não revogada (e tal foi legalmente reconhecida) a norma anterior – da Constituição de 
1934 – que tratava de sua existência jurídica”. (2001, p. 20). 
 
 
 
 
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De todo o exposto, o que se depreende é que o Júri representa, no Brasil, uma 
instituição tradicional de caráter democrático que, ao alvedrio das nuances políticas pelas quais 
passou o país, sofreu modificações estruturais até assumir a sua atual conformação, que será 
melhor analisada oportunamente. 
Atualmente, quando o Poder Judiciário no Brasil tem maturidade institucional, 
da qual um de seus atributos é a imparcialidade, e na medida em que se adota o sistema do direito 
codificado, o qual sujeita os juízes tão-somente aos ditames da lei, fazendo com que o ato de 
julgar seja uma operação técnica e complexa, muitos juristas questionam acerca da necessidade 
de subsistência do tribunal popular, bem como das vantagens e desvantagens de sua manutenção, 
havendo até quem defenda o seu alijamento da ordem legislativa2. 
Relativamente a essa temática, não tem este trabalho o propósito de se 
aprofundar, sob pena de desvio de foco. Todavia, cumpre salientar que a manutenção do Júri na 
Carta constitucional traduz uma opção política do constituinte, em homenagem a toda uma 
história de evolução e consolidação democrática no país. Daí porque, uma vez inserido o 
Tribunal do Júri no rol de direitos e garantias fundamentais na Constituição Federal de 1988, 
mister se faz que se respeite a instituição dentro do contexto estatutário nacional3. 
 
2 Vale lembrar a posição defendida por JOSÉ FREDERICO MARQUES, no sentido de que: “a participação popular 
nos julgamentos criminais tem sido preconizada como a melhor das formas de estruturação da justiça penal. De 
início, razões de ordem política serviam de base aos argumentos de seus pregoeiros e adeptos. Ao depois, motivos 
sentimentais, fantasiados com a indumentária da política criminal, foram desenvolvidos expostos para justificar a 
magistratura popular. O júri foi apontado, outrora, como instituição democrática destinada a substituir os magistrados 
profissionais das justiças régias do Ancien Regime, que se curvavam às ordens dos dinastas de que dependiam. No 
entanto, a independência dos juízes togados no Estado de Direito, e as transigências dos jurados com os senhores do 
dia em democracias de pouca vitalidade ou em regimes autoritários, mostram que no plano político não hã mais 
razão de ser para a manutenção do júri” (1961, p. 45). 
 
3 A esse respeito, aduzem ROMUALDO FILHO e PAULO SAWAYA que “a instituição do Júri granjeou na 
legislação pátria larga tradição, merecendo sempre destaque, ora entre os órgãos que compõem o Poder Judiciário, 
ora entre os direitos e garantias fundamentais do cidadão, obtendo, por isso, tanto num caso como noutro, sempre o 
prestígio do legislador constituinte, o qual não poderia ficar alheio a essa instituição mais que democrática, ínsita aos 
costumes e tradições do nosso povo”. 
 
 
 
 
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2. Conceitos gerais 
 
 
Antes de prosseguir com uma análise mais minuciosa acerca das peculiaridades 
do Tribunal do Júri no sistema jurídico brasileiro, é relevante examinar alguns conceitos gerais a 
esse respeito. 
Diversas são as definições já atribuídas ao Sinédrio Popular. Dentre elas, três 
são trazidas à colação, para melhor ilustração: 
Júri, assim, é a designação dada à instituição jurídica formada pelos homens de 
bem, a que se atribui o dever de julgar acerca dos fatos, levados ou trazidos a seu 
conhecimento. (MOSSIN, 1999, p. 211). 
Tenho defendido que o conceito de júri deve ser extraído de sua natureza 
constitucional, concluindo que ele é a garantia constitucional do cidadão ser 
julgado pelo povo, quando acusado da prática de fatos criminosos definidos na 
própria Constituição ou em lei infraconstitucional, com a participação do Poder 
Judiciário para a execução de atos jurisdicionais privativos. (NASSIF, 1996, p. 
25). 
O Tribunal do Júri é um órgão colegiado heterogêneo e temporário, constituído 
por um juiz togado, que o preside, e de vinte e um cidadãos escolhidos por 
sorteio (CAPEZ, 2003, p. 561). 
 
Para NUCCI (1999, p. 55), o Tribunal do Júri representa, ao mesmo tempo, 
uma garantia formal do devido processo legal, para que os acusados da prática de crimes dolosos 
contraa vida sejam julgados pelo juízo natural, constitucionalmente estabelecido, obedecido o 
devido processo legal, e um direito individual, consistente na possibilidade de o cidadão 
participar, ativa e diretamente, da administração da justiça. 
Lançados esses conceitos iniciais, incumbe avaliar a repercussão da opção 
constituinte em inserir o Tribunal do Júri dentre os direitos e garantias individuais. A despeito do 
 
 
 
 
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que sustenta a doutrina minoritária4, o fato de a instituição não estar relacionada entre os órgãos 
do Poder Judiciário, constante do art. 92 da CF/88, não significa que se trata de órgão meramente 
político, como aduzem alguns. 
Ao contrário, o entendimento assente na doutrina é no sentido de que o Júri 
integra o Poder Judiciário e figura como um dos órgãos de primeira instância, ou de primeiro 
grau, da Justiça Comum, seja pela sua composição – Conselho de Sentença e juiz togado, 
presidente da sessão de julgamento, seja pela possibilidade de recurso ao Tribunal de Apelação 
(estadual ou federal) contra as decisões por ele proferidas e, ainda, pela aplicação das regras 
processuais penais nos seus julgamentos. Essa conclusão é, de certa forma, corroborada, pelo 
menos topicamente, pela redação do art. 78, inciso I, do Código de Processo Penal, ao dispor que: 
“no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a 
competência do júri”. Conquanto de natureza e constituição especiais, pode-se afirmar, sem 
dúvida razoável, que o Tribunal do Júri constitui um dos órgãos do Poder Judiciário. 
A localização do Tribunal do Júri no texto constitucional retrata, na realidade, a 
opção da vontade política do constituinte em elevá-lo à categoria de cláusula pétrea, junto com os 
demais direitos e garantias fundamentais5. A sua elevação à dignidade constitucional, todavia, 
não implica, de nenhuma forma, o seu afastamento da estrutura institucional do Poder Judiciário. 
 
 
 
 
4 A obra de JAMES TUBENCLACK (1997, p. 9) expressa seu entendimento no sentido de que o júri é órgão político 
dissociado do Poder Judiciário, em que o povo, titular do poder político, exerce soberanamente o poder decisório, 
numa expressão da sua cidadania, tal qual acontece no direito ao sufrágio. 
5 Neste sentido se manifesta FERNANDO CAPEZ (2003, p. 560): “Como direito e garantia individual, não pode ser 
suprimido nem por emenda constitucional, constituindo verdadeira cláusula pétrea (núcleo constitucional intangível). 
Tudo por força da limitação material explícita contida no art. 60, § 4º, IV, da Constituição Federal”. 
 
 
 
 
 
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3. Panorama brasileiro 
 
 
Neste tópico, discorre-se brevemente acerca do Júri no panorama brasileiro, sua 
composição, seu rito e suas peculiaridades. 
No Brasil, o Tribunal do Júri é o único órgão do Poder Judiciário que permite a 
participação popular na aplicação da lei ao caso concreto, ao fundamento de que o homem deve 
julgar e ser julgado pelos seus pares, daí decorrendo o entendimento segundo o qual ele 
representa um fator democrático de manifestação da vontade popular. 
Ao tribunal popular incumbe a função jurisdicional de dirimir as lides penais no 
âmbito dos crimes dolosos contra a vida. Para tanto, consolidou-se uma estrutura mista, composta 
por jurados, pessoas integrantes da comunidade, mesmo sem formação jurídica, e por um 
magistrado togado, um juiz de Direito, ao qual é atribuída a função de, analisando a pretensão 
punitiva deduzida na denúncia, proceder à pronúncia ou à impronúncia do réu, a partir da 
demonstração da materialidade do crime e de indícios suficientes de autoria, por provas diretas e 
indiretas produzidas na fase de formação da culpa; à sua absolvição sumária, por eventual 
incidência de causas excludentes de ilicitude ou de culpabilidade6; ou, ainda, à desclassificação 
do crime, para outro da competência do próprio Tribunal do Júri ou de juiz monocrático, para o 
qual devem ser remetidos os autos do processo, encerrando, em qualquer das hipóteses, a fase da 
judicium accusationis.7 
 
6 A saber: legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal, exercício regular do direito, 
coação irresistível, descriminantes putativas, inimputabilidade e embriaguez fortuita. 
 
7 Frise-se que o exame da admissibilidade da acusação pelo juiz, na fase de pronúncia, não configura invasão da 
competência do tribunal popular. Esse controle judiciário é importante, na medida em que filtra as causas que devem 
ser apreciadas pelos jurados, restringindo aquelas em que houver absoluta inviabilidade da condenação do acusado, 
seja por insuficiência de provas do fato delituoso, por inadequação da tipicidade, capaz de mitigar a competência do 
Júri, ou mesmo por inexistência de crime, porque a conduta foi lícita ou inculpável. Incidindo qualquer dessas 
hipóteses no caso concreto, portanto, deve o magistrado, em decisão contundente e devidamente fundamentada, 
 
 
 
 
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Além disso, é das atribuições do juiz togado dirigir os trabalhos durante a 
sessão de julgamento em plenário, realizando a inquirição das testemunhas e o interrogatório do 
réu, presidindo os debates entre defesa e acusação, elaborando o rol de quesitos, diligenciando a 
fim de esclarecer eventuais dúvidas manifestadas pelos jurados, resolvendo as questões de direito 
que porventura se apresentem no decurso do julgamento e assegurando a obediência ao rito 
próprio constante do Código de Processo Penal (arts. 406 a 497), bem como fixando, ao final, a 
pena ao caso concreto. 
Os jurados, por sua vez, são pessoas leigas, sorteadas de uma lista geral (art. 
439 – CPP) na qual previamente se inscreveram ou à qual foram indicados. Seis são os requisitos 
legalmente exigidos para o alistamento como jurado: ter idade superior a 21 (vinte e um) anos, 
notória idoneidade,8 cidadania brasileira, ser alfabetizado, ter residência na comarca, bem como 
gozo perfeito das suas faculdades mentais e dos sentidos. Dispõe a lei, outrossim, que o serviço 
exercido perante o júri é obrigatório para todo cidadão com idade entre 21 (vinte e um) e 60 
(sessenta) anos, ressalvadas as isenções legais (art. 436, parágrafo único – CPP). 
O exercício efetivo do encargo pelos jurados constitui serviço público9 
relevante para a administração da justiça e fundamental para a formação do devido processo 
legal, daí porque a lei conferiu determinados benefícios em favor dos jurados, quais sejam: 
 
impedir a remessa dos autos à apreciação e julgamento pelo Tribunal do Júri, até mesmo porque afastada a sua 
competência. 
 
8 Acerca da idoneidade, deve-se destacar que ela envolve caracteres de ordem moral, profissional, intelectual e 
familiar. Em outras palavras, o jurado deve ostentar, ao menos em tese, conduta moral escorreita. (MOSSIN, 1999, p. 
93). 
Na prática, principalmente nos grandes conglomerados urbanos e até em função da quantidade de pessoas 
integrantes da lista de jurados, é praticamente impossível ao juiz colher indicações na forma recomendada pelo CPP, 
daí porque a seleção dos membros do corpo de jurados é feita ao acaso, dentro daquele universo limitado de pessoas 
alistadas, tomando-se a cautela de checar os antecedentes criminais dos indivíduos selecionados. 
 
9 O art. 327 do Código Penal estatui que: “Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora 
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública”. 
 
 
 
 
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presunção de idoneidademoral, preferência em concorrências públicas, prisão especial até o 
julgamento definitivo em caso de crime comum e garantia da integralidade dos vencimentos e do 
cômputo como tempo de serviço do período em que estiverem obrigados a atender à convocação 
do Júri (art. 437 – CPP). Os juízes leigos, assim como os juízes togados, são passíveis de 
responsabilização penal pelos crimes de concussão, corrupção e prevaricação porventura 
praticados durante o exercício de sua investidura. Todavia, não gozam eles das garantias 
asseguradas constitucionalmente aos Juízes de Direito. 
O número total de jurados deve ser proporcional ao número de habitantes da 
respectiva comarca. A essa lista deve ser dada ampla publicidade, a fim de que qualquer cidadão 
possa apontar eventuais vícios impeditivos acerca das pessoas que integrem o corpo de jurados, o 
que será analisado pelo juiz, que, posteriormente, publicará novamente a lista, acatando ou não as 
impugnações. 
Para a realização da sessão de julgamento, são sorteadas 21 (vinte e uma) 
pessoas dentre os alistados, das quais, expedido o edital de convocação, ao menos 15 (quinze) 
devem estar presentes para a abertura da sessão e, dentre elas, 7 (sete) comporão o Conselho de 
Sentença, órgão deliberativo que também se amolda mediante sorteio (art. 433 – CPP). O início 
dos trabalhos é o momento oportuno para que os interessados suscitem a suspeição ou o 
impedimento de algum jurado, com base nas hipóteses legalmente previstas (arts. 458, 462 e 254 
– CPP), ou para que ele mesmo o faça, sob pena de preclusão. Tanto a defesa quanto a acusação 
têm o direito de recusar imotivadamente três jurados. É a chamada recusa peremptória, que se 
baseia em sentimento de ordem pessoal do órgão acusatório, do réu ou de seu defensor. 
Iniciados os trabalhos, os jurados ficam incomunicáveis, até mesmo durante os 
intervalos, circunstância da qual são alertados pelo juiz. Isso significa dizer que eles estão 
 
 
 
 
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impedidos de emitir suas impressões pessoais acerca da causa em julgamento, bem como de ter 
contato com o mundo exterior. Uma vez violada essa exigência, torna-se imperiosa a dissolução 
do Conselho e a anulação do julgamento. 
O Júri rege-se, essencialmente, pelo princípio da oralidade. Interroga-se o réu, o 
juiz realiza o relatório do processo e a leitura de peças, procede-se à produção da prova 
testemunhal, seguida pelos debates entre o órgão de acusação – o Ministério Público, na pessoa 
do Promotor de Justiça – e o defensor da causa, os quais sustentam suas respectivas teses. 
Encerrados os debates, deve o juiz presidente consultar os jurados se desejam mais algum 
esclarecimento ou se já estão habilitados ao julgamento. Estando eles habilitados, efetua-se a 
leitura dos quesitos10, os quais devem estar em consonância com o libelo-crime acusatório e com 
aquilo que foi defendido durante os debates. Após a leitura dos quesitos em plenário, os jurados 
são conduzidos à sala secreta, para onde também se dirigem o juiz e as partes, exceto o réu, onde 
poderão consultar novamente os autos e rever elementos de prova antes de emitirem seus votos 
em sigilo, em apreciação ao mérito da causa11. 
 
10 No Brasil, o sistema de apreciação dos quesitos é legado do modelo francês de Júri, na medida em que ao 
Conselho de Sentença incumbe apreciar matéria de fato (daí advindo a denominação de juízes de fato aos integrantes 
do Conselho de Sentença), e não somente decidir pela condenação ou absolvição do réu, após análise de teses 
jurídicas, nos moldes do que estatui o sistema anglo-americano. No sistema pátrio, das respostas ao questionário é 
que se depreendem, de forma indireta, conseqüências jurídicas. A vantagem do sistema vigente é que se permite 
compreender de forma mais clara o modo e as razões que levaram o órgão colegiado a tomar esta ou aquela decisão, 
ou seja, qual foi o critério determinante para a configuração do veredicto, o que certamente torna mais fácil para as 
partes embasar seus recursos contra a decisão prolatada. 
 
11 A respeito da decisão dos jurados, NUCCI (2006, p. 739) assevera que “o jurado deve examinar com 
imparcialidade a causa e decidir de acordo com a consciência e os ditames da justiça. Não se fala em decidir de 
acordo com os ditames legais, justamente porque os jurados são leigos e não têm qualquer obrigação de conhecer o 
ordenamento jurídico. Assim, o objetivo do Tribunal Popular é promover uma forma particular de justiça, aquela que 
brota da sensibilidade e da razão do homem comum, não letrado em Direito, disposto a respeitar o que a sua 
consciência, com imparcialidade, lhe dita. Por isso, mais uma vez deve-se ressaltar, não há cabimento para anular-se 
o julgamento, quando os jurados tomam decisões de bom senso, embora discordantes da jurisprudência 
predominante. Não tendo que basear seus veredictos na lei, descabe ingressar no mérito de seus julgados, mormente 
quando não coincidem com a posição dominante da magistratura togada”. 
 
 
 
 
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Encerrada a votação, cabe ao magistrado lavrar a sentença, em consonância 
com o soberano veredicto, que é tomado por maioria de votos. Em caso de decisão condenatória, 
proceder-se-á à dosimetria da pena, respeitado o sistema trifásico previsto no art. 68 do Código 
Penal, a fim de estabelecer, em concreto, a pena justa e adequada para a repressão do crime, 
segundo as suas circunstâncias elementares ou qualificativas, evidenciadas pela prova e 
confirmadas pela votação do colegiado popular. Uma vez lavrada a sentença, o juiz presidente 
realiza a sua leitura em plenário, à vista do público, momento em que se considera ela publicada. 
Todas as informações essenciais acerca dos trabalhos desenvolvidos durante a sessão de 
julgamento devem ser registrados na ata de julgamento, pelo escrivão, nos termos do que 
preceitua o art. 495 do Código de Processo Penal. 
Em suma, essa é a atual organização do Tribunal do Júri no sistema jurídico 
brasileiro. A inspiração em elementos típicos de modelos estrangeiros, associada à evolução 
histórica do instituto no panorama brasileiro, resultaram na sua consolidação nos moldes em que 
se encontra, sendo que até hoje desperta sentimentos os mais variados naqueles que sobre ele se 
debruçam. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Capítulo II – Princípios constitucionais do Júri 
 
 
1. Considerações iniciais 
 
Todo poder emana do povo, que o exerce diretamente ou por meio de representantes 
eleitos. No caso brasileiro, a Constituição de 1988, elaborada soberanamente por uma assembléia 
constituinte congressual, houve por bem elevar o tribunal popular ao patamar de matéria 
constitucional, quiçá para expressar a importância da instituição para o Regime Democrático de 
Direito, um dos elementos constitutivos do Estado brasileiro.12 
Divergências à parte, é inegável que o Júri, mais do que um órgão especial do 
Poder Judiciário, traduz uma manifestação democrática da vontade popular, representando, 
concomitantemente, um direito e uma garantia, conforme já destacado. Por tais razões, e no 
intuito de assegurar a sua plena vigência, é que o constituinte elencou na Carta Política os 
princípios básicos que regem o seu funcionamento: a) a plenitude de defesa, b) o sigilo das 
votações, c) a soberania dos veredictos, d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos 
contra a vida. 
Tais princípios são requisitos mínimos, essenciais ao bom desempenho do 
tribunal popular enquanto direito e garantia fundamental instituído pelo constituinte para reger 
 
12 O regime político brasileiro da CF/88 baseia-se no princípio da democracia, essencialà estruturação no Estado 
Democrático de Direito. Nesse contexto, a efetivação da democracia ocorre por um modelo representativo, de acordo 
com a idéia de maioria, mas sem se olvidar dos direitos das minorias. Atrelado a esse modelo, há institutos no 
sistema constitucional brasileiro de participação direta dos cidadãos, entre os quais figuram o referendo, o plebiscito, 
a iniciativa popular e a participação no Júri. A democracia implica na livre participação na esfera pública de todos os 
componentes de uma sociedade em igualdade de condições e de acesso. Democracia repousa, portanto, em dois 
fundamentos primários: a soberania popular, segundo a qual o poder emana do povo, e a participação direta ou 
indireta do povo no poder, para que seja efetivada a expressão da vontade popular. Ademais, liberdade e igualdade 
também são valores integrantes da idéia de democracia, como meios de sua concretização. E um sistema de direitos 
fundamentais afigura-se essencial à estruturação de um Estado Democrático de Direito. 
 
 
 
 
 
16 
 
 
parte do processo penal brasileiro, no que diz respeito aos crimes dolosos contra a vida, nos quais 
o cidadão é julgado pelo seu semelhante, levando em conta critérios não necessariamente 
técnicos, porém ligados diretamente às circunstâncias humanas que se situam na base causal no 
delito. Ainda que, na prática, tais princípios possam não ser aplicados na pureza conceitual da sua 
inspiração democrática – os jurados, em muitos casos mal escolhidos, decidem por pressão 
política, da imprensa, ou por apelos emocionais da defesa –, não se pode negar a virtude da 
instituição do Júri, tendo-se em conta que, no caso concreto, os jurados podem decidir de forma 
soberana, apenas segundo suas consciências, valorando aspectos que o juiz togado, submisso à 
lei, não poderia fazer. 
Não obstante isso, é saudável o debate acerca dos princípios constitucionais que 
regem o Tribunal do Júri, uma vez que é a partir dele que se pode fomentar o crescimento de 
análises crítico-construtivas acerca do tribunal popular, com vistas ao seu aprimoramento ou até 
mesmo à sua gradual desvalorização no sistema jurídico nacional até o seu total cerceamento da 
ordem constitucional, desde que obedecidos os requisitos legalmente previstos para tanto. 
Portanto, dada a sua importância para a plena compreensão do Tribunal do Júri, 
passa-se ao exame dos princípios constitucionais que o regem. 
 
2. Competência 
 
A Constituição brasileira, como já destacado, assegurou ao Júri a competência 
para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, tentados ou consumados. Conforme 
entendimento da doutrina majoritária, essa competência ratione materiae, inserida em cláusula 
pétrea, é mínima e nada obsta a que haja uma ampliação pela legislação ordinária para outros 
gêneros de crimes, até porque a eleição daquela modalidade de crimes constitui decisão 
 
 
 
 
17 
 
 
meramente política e visa, tão-somente, impedir o esvaziamento da competência.13 A intenção do 
constituinte, ao estabelecer uma competência mínima obrigatória, foi manter a força do Júri 
enquanto instrumento democrático de participação popular no sistema judiciário, na medida em 
que demonstrada historicamente a forte tendência de gradual redução da participação do Júri 
naqueles países em que inexistente essa delimitação da competência. 
Assim, são crimes originariamente sujeitos à apreciação do órgão popular o 
homicídio doloso (art. 121 – CP), o induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio (art. 122 – 
CP), o infanticídio (art. 123 – CP) e o aborto, em todas as suas modalidades (arts. 124, 125, 126 e 
127 – CP). 
Importante notar que a simples ocorrência da violação ao bem jurídico vida no 
contexto de um crime não é suficiente à inserção de um tipo penal na competência do Júri, sendo 
imprescindível, para tanto, que esse resultado seja o foco da ação, ou seja, o dolo do agente deve 
estar voltado à morte da vítima. Portanto, o entendimento consolidado é no sentido de que os 
delitos agravados pelo resultado morte, como a lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º - 
CP), o latrocínio (art. 157, § 3º - CP), o estupro seguido de morte (art. 213 c/c art. 223, parágrafo 
único - CP), a extorsão mediante seqüestro com resultado morte (art. 159, § 3º - CP) e a 
 
13 Entendimento contrário é defendido por MOSSIN (1999, p. 216), que assim se pronuncia: “Segundo tradição não 
muito recente e como forma de garantia individual, o legislador estabeleceu que somente são de competência desse 
colegiado os crimes dolosos contra a vida, consumados ou tentados. Trata-se de numerus clausus, significando que o 
legislador ordinário não poderá aumentar ou diminuir seu elenco e menos ainda o intérprete pode dar àquele preceito 
alcance maior ou menor”. 
Não é esse o entendimento esposado pela maioria doutrinária atualmente. Vale citar, como exemplo 
jurisprudencial do reconhecimento dessa possibilidade de ampliação da competência, o recente julgado do STJ 
(REsp. nº 912060-DF, disponível em <www.stj.gov.br>) em que, por quatro votos a um, decidiu-se, de forma 
inédita, que o acusado pelo primeiro acidente de trânsito com morte da Ponte JK será julgado pelo Tribunal do Júri 
do Distrito Federal, eis que acolhida a denúncia de homicídio doloso (dolo eventual), qualificado pelo perigo 
comum.possibilidade de revisão da Constituição, acrescentando, modificando ou suprimindo normas constitucionais. 
Como a CF/88, é uma constituição rígida, nela está previsto, ainda que com algumas limitações, esse poder de 
revisão. Nessa possibilidade de o povo, por meio de seus representantes eleitos, rever a ordem constitucional é que 
reside o poder constituinte derivado, que também pode ser chamado de poder instituído, poder constituinte 
reformador, ou poder constituinte de segundo grau. Ele é exercido por meio do Congresso Nacional e possui 
limitações de diversas ordens, fixadas pela própria CF: temporal, circunstancial e material. 
 
 
 
 
18 
 
 
exposição ou abandono de recém-nascido com resultado morte (art. 134, § 2º - CP), por exemplo, 
não integram a competência do tribunal popular. Inobstante tais considerações, é admitida a 
possibilidade de ampliação da competência do Tribunal do Júri por norma infra-constitucional, 
sem que se configure afronta à Constituição. 
É importante acrescentar, outrossim, que o Tribunal do Júri pode exercer força 
atrativa (vis atractiva) sobre a competência de outros juízos, chamando para si a incumbência de 
julgar crimes unidos por conexão ou continência com aqueles de sua competência originária. 
Uma vez aferida a existência de conexão ou continência de causas em que uma delas seja afeta à 
apreciação do Júri, opera-se a junção dos processos e a prorrogação da competência, ou seja, o 
exercício excepcional da sua jurisdição além dos limites traçados em lei. 
Há que se ressaltar, contudo, que, em função da perpetuatio iurisdictionis, uma 
vez reunidos os processos por conexão ou continência, o fato de ser proferida pelo Júri sentença 
absolutória ou desclassificatória quanto ao crime da sua competência originária não mitiga a 
competência para decidir as causas penais conexas ou continentes.14 É o que se depreende do art. 
81, caput e parágrafo único, do Código de Processo Penal. 
Outro ponto merecedor de destaque é que a própria Constituição excepcionou a 
competência do Júri nos casos de foro por prerrogativa de função, ao dispor sobre a competência 
do Supremo Tribunal Federal; do Superior Tribunal de Justiça; dos Tribunais Regionais Federais, 
dos Tribunais de Justiça Estaduais e da Justiça Militar. 
Por outro lado, importa mencionar a figura processual do desaforamento, que é 
exclusivamente aplicadano procedimento especial do Júri. Com efeito, estabelece o Código de 
Processo Penal que, em caráter excepcional, e por determinação do Tribunal de Apelação, pode 
 
14 O mesmo não se verifica quando, atribuída inicialmente a competência por conexão ou continência ao Júri, o juiz, 
em sede de pronúncia, desclassificar a infração ou impronunciar ou absolver o réu. Neste caso, excluída está a 
competência do Júri, incumbindo ao magistrado remeter o processo ao juízo competente. 
 
 
 
 
19 
 
 
ser operada modificação quanto à regra de competência de foro, transferindo-se a competência 
para julgamento da causa afeta ao Júri para igual tribunal de outra circunscrição territorial (art. 
424 - CPP). 
Tal medida pode se dar por interesse de ordem pública, se houver dúvida sobre 
a imparcialidade do júri ou sobre a segurança pessoal do réu, ou, ainda, quando ocorrer demora 
injustificada do julgamento, sem que o acusado ou o seu defensor tenham dado causa para isso. 
Via de regra, o crime deve ser julgado na comarca onde houver sido praticado (art. 70 - CPP), daí 
porque o desaforamento deve ser medida excepcional, pois afasta o acusado de seu juízo natural. 
Neste sentido, assim se manifesta MOSSIN (1999, p. 229): 
A excepcionalidade predita também tem sido reconhecida pela 
jurisprudência, o que está escorreito, uma vez que somente pode ser 
subtraído da competência do juiz natural originário o julgamento da causa 
penal, transferindo-o para outro colegiado popular instalado em comarca 
diversa daquela em que o fato típico foi praticado, quando ficar 
demonstrada situação de anormalidade capaz de alterar os interesses da 
administração da justiça, que exige em seu âmago a eqüidade, a exemplo 
do que acontece com a imparcialidade do júri, e também por questão de 
ordem pública e da própria segurança do acusado. De qualquer maneira, 
deve restar transparente a exceção da medida derrogativa da regra de 
competência do foro. 
 
3. Sigilo das votações 
 
O princípio da publicidade dos atos processuais, inerente a qualquer sistema 
judiciário democrático, apresenta como finalidade precípua garantir a fiscalização da regularidade 
do processo e da imparcialidade do julgamento, culminando na produção de uma decisão justa e 
ponderada. Como não poderia deixar de ser, a Carta Magna pátria consagra esse princípio 
fundamental, ressalvando que sua limitação cinge-se às hipóteses de exigência do interesse 
público e de defesa da intimidade (arts. 5º, inciso LX, e 93, inciso IX). 
 
 
 
 
20 
 
 
Pode causar estranheza, num primeiro momento, a constatação de que o sigilo 
das votações seja assegurado no contexto do Júri, embora o julgamento transcorra em sessão 
pública. Todavia, revela-se sábia a opção do constituinte, mormente quando se leva em 
consideração as peculiaridades do tribunal popular, sem falar que o julgamento em sessão pública 
não é incompatível com a votação secreta, para uma decisão livre dos jurados, segundo a 
consciência de cada qual, o que, por outro lado, não os sujeita a eventuais represálias ou juízos 
depreciativos da comunidade, da mídia ou dos parentes do acusado. 
Em primeiro lugar, é cediço que a opinião pública, principalmente quando 
veiculada pelos meios de comunicação de massa, exerce forte influência sobre as convicções 
individuais das pessoas. Não constitui surpresa que a mídia, ao divulgar os fatos da causa e 
retratar a imagem da pessoa do acusado, pugnando por uma linha de julgamento, acaba por 
interferir na apreciação dos fatos e da prova pelas pessoas, segundo suas íntimas convicções. Essa 
chamada publicidade opressiva, condenada em países civilizados, maltrata o princípio da 
imparcialidade, reduzindo a possibilidade de um julgamento justo e, até mesmo, o princípio 
constitucional da presunção de inocência. 
Em face da inexperiência e mesmo da falta de conhecimentos técnicos por parte 
dos jurados, forçoso é reconhecer que suas impressões pessoais sobre o caso concreto são 
facilmente influenciáveis, o que põe em risco a soberania do colegiado e pode repercutir 
negativamente na produção do veredicto quando do recolhimento à sala secreta, donde se conclui 
que a isenção prévia de ânimo do colegiado é fator a ser preservado com a máxima cautela, a fim 
de salvaguardar os jurados de qualquer influência ou mesmo de posteriores vinditas em função de 
suas respostas ao questionário. 
 
 
 
 
21 
 
 
É justamente neste sentido, da necessidade de assegurar que os jurados, juizes 
destituídos das garantias dos magistrados togados, sintam-se seguros para examinar as provas e 
votar, é que se atribui ao juiz de Direito o dever de coibir manifestações ostensivas de 
preferência, da parte do publico e da imprensa, ou mesmo afastar do recinto da sessão de 
julgamento pessoas que se comportem inadequadamente, comprometendo a lisura do julgamento. 
Destarte, figurando o princípio do sigilo das votações na essência da instituição 
do Júri, e sendo do interesse social a obtenção de um julgamento imparcial e justo, justifica-se a 
limitação do princípio da publicidade a fim de assegurar que o voto seja secreto. No ponto, vale 
reproduzir a lição de HERMÍNIO ALBERTO MARQUES PORTO (2005, p. 315): 
Tais cautelas da lei visam a assegurar aos jurados a livre formação de sua 
convicção e a livre manifestação de suas conclusões, afastando-se quaisquer 
circunstâncias que possam ser entendidas, pelos julgadores leigos, como fontes 
de constrangimento. Relevante é o interesse em resguardar a formação e a 
exteriorização da decisão.15 
 
Há que se fazer uma ressalva ao sistema de votação de quesitos brasileiro no 
que diz respeito ao veredicto por unanimidade. Na prática, a garantia do sigilo dos veredictos no 
caso de decisão unânime não estaria plenamente protegida, na medida em que restariam 
evidenciados a opinião e o voto de cada um dos juízes leigos. O que alguns doutrinadores 
sugerem é que seja repensada a metodologia de aferição das respostas afirmativas e negativas, de 
forma que se elimine o sistema de escores de votação (7x0, 4x2, etc), cessando-se a contagem de 
votos tão logo alcançada a maioria suficiente à aprovação ou rejeição da tese inerente em cada 
quesito. Dessa forma, restaria, em tese, inviolado o princípio do sigilo das votações. 
 
 
15 Em sentido oposto manifesta-se o magistrado JAMES TUBENCHLAK em seu livro sobre o Tribunal do Júri. 
(1997, p. 119). 
 
 
 
 
22 
 
 
4. Plenitude de defesa 
 
Um dos direitos fundamentais inerentes à condição humana é a liberdade, a 
qual é assegurada aos indivíduos desde o seu nascimento16. É da natureza da pessoa humana o 
desejo de ser livre. Justamente por isso, qualquer restrição ou privação da liberdade só pode ser 
considerada lícita se for reflexo do exercício do poder coativo do Estado, ou seja, em decorrência 
da aplicação de sanção institucionalmente cominada em represália ao cometimento de um ilícito e 
destinada a restabelecer a ordem pública. É a liberdade, portanto, direito fundamental, mas não 
absoluto. No contexto do Júri, esse aspecto resta sobejamente comprovado, na medida em que, se 
por um lado o que está em jogo é a liberdade do réu, por outro, igualmente situa-se o bem 
jurídico vida, afetado pela conduta criminosa imputada ao réu. 
Nesse contexto, o princípio do devido processo legal surge, de um lado, como 
uma garantia ao direito à liberdade individual da pessoa acusada da prática de um ilícito e 
também à contenção de excessos por parte do Estado e, de outro, como uma garantia à 
coletividade, no sentido de retirar do convívio social a pessoa cujo comportamento afronta os 
valoresfundamentais cultivados pela comunidade. Consectários do devido processo legal são os 
princípios do contraditório e da ampla defesa, os quais, assim como aquele, são direcionados aos 
ocupantes dos dois pólos da relação processual, com vistas à regularidade da instrução e à 
consolidação de um processo justo e regular.17 
 
16 No direto romano, a liberdade é entendida como “a faculdade natural de fazer aquilo que se deseja, a não ser que 
seja proibido pela força ou pelo direito” (apud POLETTI, 1996, p. 78). Na filosofia, há várias concepções de 
liberdade, cada qual com suas peculiaridades. O certo é que não há um conceito rígido e universal acerca da 
temática. Contudo, a noção de liberdade certamente tem a ver com a ausência de submissão a alguma coisa, quer 
dizer, o poder de autodeterminação e independência do ser humano. 
17 JOSÉ FREDERICO MARQUES (1955, p. 187) entende que os princípios do contraditório e da ampla defesa, 
embora inerentes ao devido processo legal, dão a este mais ênfase em se tratando de processo penal. 
 
 
 
 
23 
 
 
O princípio da ampla defesa diz respeito à possibilidade de o acusado produzir 
provas em seu favor e buscar demonstrar a sua inocência de forma irrestrita, sem interferências 
indevidas da parte contrária ou do próprio Estado-juiz. A seu turno, o princípio do contraditório 
guarda pertinência com o direito das partes serem comunicadas prévia e pormenorizadamente da 
acusação oficializada pelo Estado, bem como de participarem de todos os atos processuais nos 
quais é produzida a prova. A respeito deste último, vale conferir a seguinte lição: 
A garantia do contraditório não raro é definida como a ciência que se dá ao 
acusado da imputação, com seu conseqüente chamamento a juízo para defender-
se, ou ainda, na conhecida definição de J. Canuto Mendes de Almeida, “a 
ciência bilateral dos atos e termos processuais e a possibilidade de contrariá-
los”. 
Essas conceituações, no entanto, podem ser desdobradas e ampliadas, 
compreendendo outros importantes corolários do contraditório, tais como: (a) 
imparcialidade do julgador; (b) a igualdade processual e paridade de armas; (c) a 
ampla defesa, compreendendo o direito à produção das provas lícitas, o direito à 
autodefesa e defesa técnica, a motivação das decisões, a garantia do duplo grau 
da jurisdição, com o reexame das decisões; e (d) a obediência a determinado rito 
procedimental. (DEMERCIAN, 1999, pp. 36-37). 
 
Da leitura da Constituição, mais especificamente de seu art. 5º, extrai-se que a 
ampla defesa foi consagrada no inciso LV, juntamente com o contraditório, para todos os 
processos judiciais e administrativos. Mais adiante, no inciso XXXVIII, que trata 
especificamente da instituição do Júri, assegurou-se a “plenitude da defesa”. Isso evidencia que o 
constituinte pátrio, além de reconhecer de forma genérica o direito à ampla defesa em todos as 
modalidades de processos, ressaltou a plena defesa inerente aos casos da competência do 
colegiado popular, no sentido de que, mais do que a simples outorga de oportunidade defensiva, é 
imperativo o seu exercício pleno e eficiente, até mesmo em função de que os jurados decidem a 
causa por íntima convicção18, sem necessidade de fundamentação do veredicto. 
 
18 A este respeito, NUCCI pontua que não se deve confundir íntima convicção com íntima justiça, uma vez que nesta 
os jurados seguiriam tão-somente seus critérios individuais e íntimos de justiça para o julgamento da causa, enquanto 
que, naquela, eles analisam a prova e os argumentos expendidos pelas partes, sopesando a interpretação dos fatos 
narrados à luz dos critérios legais de justiça. 
 
 
 
 
24 
 
 
De todo o exposto, advém a conclusão de que um Júri sem plenitude de defesa 
implicaria em julgamento injusto, em detrimento da sua concepção constitucional como uma 
garantia do cidadão. Decorrência da plenitude da defesa é o fato de que o Código de Processo 
Penal atribui ao juiz presidente a incumbência de nomear outro defensor ao réu, na hipótese de 
considerar o réu indefeso (art. 497, inc. V). Na realidade, defesas com teses contraditórias, bem 
como um defensor inapto, não familiarizado com os procedimentos do júri ou mesmo não 
plenamente comprometido com a causa que patrocina, são fatores que comprometem o princípio 
da ampla defesa. 
É fato, também, que o juiz presidente da sessão plenária muito pouco poderia 
fazer para sanar eventuais equívocos cometidos na sustentação oral do defensor durante os 
debates em plenário sem comprometer a sua necessária imparcialidade frente ao Conselho de 
Sentença. Sendo assim, não fosse esse dispositivo legal, a plenitude da defesa restaria 
flagrantemente violada nas hipóteses aventadas. 
Também em função desse princípio fundamental é que o magistrado deve levar 
em consideração as informações prestadas pelo réu durante o seu interrogatório e, se for o caso, 
inserir suas teses no questionário, ainda que referidas teses não sejam adotadas pela defesa 
técnica, ou seja, ainda que não tenham sido elas suscitadas nos debates. Por sua vez, a 
composição do corpo de jurados, que interessa fundamentalmente ao réu, também apresenta 
procedimento que condiz com a garantia da plenitude da defesa, qual seja, a recusa imotivada, 
que permite a formação de um Conselho de Sentença equilibrado, o qual procederá à apreciação 
da linha de defesa a ser sustentada. 
Quanto ao pedido de produção de provas julgadas imprescindíveis à defesa do 
réu, não se afigura razoável o seu indeferimento injustificado. Cabe ao magistrado apreciar com 
 
 
 
 
25 
 
 
cautela a solicitação, tendo em mente que a meta do julgamento é busca da verdade real. Por tal 
razão, faculta-se-lhe, por exemplo, se o julgar necessário, dissolver o Conselho de Sentença e 
adiar o julgamento para a produção de novas provas ou, ainda, determinar a inquirição das 
chamadas testemunhas do juízo, aquelas cuja oitiva interessa sobremaneira às partes, mas que se 
sobrepõem à cota máxima permitida para o julgamento (cinco testemunhas para cada parte), e, 
ainda, em caráter excepcionalíssimo, ampliar o tempo legalmente previsto para a exposição da 
defesa. 
Importante notar que a plenitude da defesa não significa o rompimento do 
equilíbrio entre as partes componentes da relação jurídico-processual. Cabe ao juiz exercer o 
controle da defesa eficiente idealizada pelo constituinte, essencial à distribuição de justiça, mas 
também é seu dever analisar com bom senso o caso concreto, coibindo abusos e primando pelo 
tratamento igualitário, na medida do possível, entre as partes. 
 
5. Soberania dos veredictos 
 
O termo soberania tem origem historicamente política19 e o seu emprego, em 
princípio, visava adjetivar o poder supremo do Estado, sendo que só posteriormente é que esse 
conceito incorporou uma faceta jurídica. 
Quando o constituinte brasileiro resgatou da Carta de 1946 a referência à 
soberania dos veredictos do Júri, transladando-a para o texto constitucional de 1988, assim o fez 
para garantir àquela instituição, no âmbito de suas particulares atribuições, um caráter próprio de 
 
19 Sobre a natureza da soberania, CRETELLA JÚNIOR (1992, p.137) observa que: “A ‘soberania’ é, realmente, 
fundamento do Estado, qualquer que seja sua forma, monárquica ou republicana, federativa ou unitária, porque 
Estado ‘é síntese dos poderes soberanos’. Soberania é a situação do Estado que não está submetido a outro e que, por 
isso, pode elaborar sua Constituição, ou seja, pode criar seu direito positivo no mais alto grau”. 
 
 
 
 
 
26 
 
 
estabilidade, independênciae plenitude, elemento diferencial das suas decisões com relação 
àquelas emanadas de outros órgãos da justiça comum. 
Mas, afinal, o que é a soberania no âmbito do Tribunal do Júri? Nesse contexto 
específico, a soberania dos veredictos representa a impossibilidade de reforma das decisões do 
colegiado popular diretamente pela magistratura togada, no pressuposto de que os juízes togados 
não podem substituir os jurados nas causas da competência originária do Júri20, subtraindo-lhes o 
poder exclusivo de julgamento da causa e ferindo a garantia democrática elevada ao patamar 
constitucional. Busca-se assegurar ao Júri a última palavra no que diz respeito ao julgamento dos 
crimes dolosos contra a vida, o que expressa a idéia de independência da própria instituição do 
Júri. 
A decisão soberana não pode, todavia, significar decisão arbitrária e intangível, 
na medida em que não são os jurados onipotentes no exercício do direito de julgar seus pares e, 
obviamente, também eles podem cometer equívocos. A consagração deste princípio balizador do 
tribunal popular não implica impossibilidade de revisão do mérito da causa, afinal, se os juízes 
leigos se afastarem inequivocamente dos fatos e das provas que lhes foram apresentados, razão 
não existe para que se permita a perpetuação de um erro flagrante e injustificável. Isso não 
representa uma limitação da soberania, como entendem alguns doutrinadores, e sim a evidência 
da possibilidade de reapreciação de uma causa pelo mesmo Júri que outrora a julgara, embora 
reunido com composição distinta. A respeito dessa temática, vale conferir a lição de NUCCI 
(1999, p. 87), ao afirmar que: 
O constituinte desejou que o júri fosse soberano, ou seja, a última instância para 
decidir os crimes dolosos contra a vida, com supremacia e independência, 
embora não se tenha qualquer referência de que sua decisão precisa ser única. 
 
20 Conceito extraído da lição de JOSÉ FREDERICO MARQUES, em sua obra Elementos de Direito Processual 
Penal (1997, p. 456). 
 
 
 
 
27 
 
 
Daí porque é perfeitamente admissível que, cometendo algum erro, o tribunal 
popular reúna-se novamente para reavaliar o caso. 
 
Assim, mais de um veredicto pode haver, desde que ambos sejam produto da 
apreciação da causa pelos jurados, sendo que o último prevalece sobre o primeiro, revogando-o. 
É o que ocorre, por exemplo, no caso de uma decisão prolatada em manifesta contrariedade à 
prova dos autos (art. 593, inc. III, alínea ‘d’ - CPP), da qual recorre uma das partes, interpondo 
recurso de apelação sob esse fundamento. Constatada a procedência do pleito pelos membros do 
Tribunal de Apelação, anula-se o veredicto anterior e determina-se a submissão do réu a um novo 
julgamento pelo Tribunal do Júri. 
O que não se pode aceitar é que a inafastabilidade de um controle judicial sobre 
as decisões do colegiado popular seja utilizada como pretexto para, imotivadamente, adaptá-las 
segundo as conveniências do entendimento jurisprudencial dominante, mediante a determinação 
de reapreciação de veredictos que, a bem da verdade, não comportariam qualquer espécie de 
alteração, de modo que se ignore sumariamente a avaliação pessoal do caso concreto pelos 
jurados. Essa temática será objeto de apreciação mais aprofundada em tópico específico, mais 
adiante, após um necessário estudo acerca da revisão criminal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
Capítulo III – A Revisão Criminal 
 
1. Aspectos principais 
 
A revisão criminal, segundo CERONI (2005, p. 12), pode ser definida como “o 
meio de que se vale o condenado para desfazer injustiças e erros judiciários, relativamente 
consolidados por decisão transitada em julgado”. O pressuposto essencial, portanto, para o 
ajuizamento da revisão criminal é a coisa julgada. Esgotadas todas as vias recursais (res iudicata 
formal), encerra-se a fase de conhecimento, operando-se, subseqüentemente, os efeitos da coisa 
julgada sobre a sentença final de mérito (res iudicata material). A coisa julgada caracteriza-se 
pela imutabilidade da decisão e visa proporcionar segurança e estabilidade jurídicas. É falaciosa, 
todavia, a assertiva segundo a qual a coisa julgada representaria a absoluta intangibilidade da 
sentença, já que, uma vez evidenciada a injustiça desta em face do cometimento de um erro 
judiciário,21 a presunção de veracidade do julgado deve ceder ante os imperativos da verdade 
real.22 
 
21 “A injustiça de uma decisão penal, ensejadora de sua desconstituição, pode se dar tanto por error in judicando (o 
erro no julgar o mérito da questão, ou má interpretação da prova), como por error in procedendo (erro no 
encaminhar o processo). Tanto a sentença que condena alguém que não praticou o crime, como aquela proferida num 
processo em que se desrespeitaram as regras, as formalidades e os atos processuais vigentes (ex.: inobservância do 
princípio da amplitude da defesa, o que, incontestavelmente, gera nulidade insanável), podem ensejar o pedido de 
revisão criminal”. (CERONI, op. cit., p. 29). 
A possibilidade de erro judiciário é um dos poucos argumentos válidos utilizados para fundamentar a opinião 
daqueles que são contrários à pena de morte, conforme relata Ronaldo Poletti, recordando os ensinamentos que 
recebeu durante a sua formação acadêmica. A irreversibilidade que pode assumir uma decisão é matéria a ser tratada 
com bastante cautela, já que a coisa julgada às vezes acaba por perpetuar injustiças, o que não quer dizer que o 
eminente professor seja favorável à tendência de relativização arbitrária da coisa julgada, muito pelo contrário. 
 
22 A esse respeito, vale colacionar a virtuosa lição de JORGE ALBERTO ROMEIRO (apud MOSSIN, 1999, p. 548): 
“A conveniência social de haver uma certeza na solução dos litígios ou a de lhes ser posto um paradeiro, um fim, 
pois não poderão prolongar-se indefinidamente, senão em prejuízo da paz e da ordem, gerou a autoridade da coisa 
julgada, através da irrecorribilidade e da imutabilidade do decidido judicialmente. A decisão transitada em julgado 
não espelha, todavia, fruto que é da falível justiça humana, a verdade absoluta, real ou objetiva, uma verdade, uma 
 
 
 
 
29 
 
 
Assim, a revisão constitui verdadeiro remédio constitucional contra injustas 
condenações, tendo em vista que vulnera a autoridade da coisa julgada, tornando mutável uma 
sentença irrecorrível. Ela é a última oportunidade que tem o réu de ver reparados eventuais erros 
ou injustiças da decisão condenatória. FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO assevera 
que a revisão “visa, exclusivamente, a invalidar a entrega da prestação jurisdicional”. 
A competência originária para o julgamento da revisão é dos tribunais, não 
podendo ser processada e julgada, portanto, na primeira instância. Embora possa ela ser associada 
à ação rescisória do processo civil, pois ambas pressupõem sentenças de mérito passadas em 
julgado, elas, na realidade, não se confundem. Enquanto na rescisória o direito de propor a ação 
extingue-se no prazo de dois anos de decadência, contados do trânsito em julgado da decisão 
impugnada (art. 495 - CPP), não há prazo preclusivo para a propositura da ação revisional no 
processo penal, como resta patente do teor do art. 622 do Código de Processo Penal. 
No que tange à sua natureza jurídica, a doutrina ainda não chegou a um 
consenso, ora referindo-se à revisão criminal como ação, ora como recurso. Encontrando-se ela 
inserida entre os recursos em geral, no Código de Processo Penal, seria, por imposição legal, uma 
modalidade recursal, tanto mais que permite a reforma das decisões judiciais por órgãos da 
jurisdição superior.Contudo, o entendimento mais aceito é o de que a sua localização no Código de 
Processo Penal ocorre com uma impropriedade técnica, tendo-se presente que a revisão revela-se 
como verdadeira ação autônoma de impugnação de sentença transitada em julgado ou, ainda, 
como ação penal de conhecimento de natureza constitutiva destinada a combater decisão da qual 
 
certeza somente, a verdade relativa ou subjetiva, a verdade do juiz, em que, no fundo, se reduz a verdade judicial. 
Pode acontecer, contudo, e assim muito sucede, que a decisão transitada em julgado nada mais traduza do que um 
erro judiciário. Quando, entretanto, patenteado o erro da decisão transitada em julgado, a não-reparação das 
conseqüências se revela um mal maior que o da necessidade social da própria coisa julgada, a existência desta 
poderia periclitar sem aquela reparação”. 
 
 
 
 
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não caiba recurso. Está, dessa forma, sujeita às condições de procedibilidade impostas a toda 
ação, a saber, possibilidade jurídica do pedido, legitimação ad causam e interesse jurídico, para 
que possa ser admitida e conhecida. O certo é que a revisão assume os contornos de uma 
verdadeira garantia fundamental do indivíduo, pois apresenta como finalidade precípua 
desconstituir condenações injustas e corrigir erros judiciários, além de restaurar o seu status 
dignitatis, no magistério de JOSÉ FREDERICO MARQUES (1955, p. 152). 
O pressuposto da ação revisional, condição de sua admissibilidade, é, 
basicamente, a sentença condenatória definitiva. Mas existem outras hipóteses de seu cabimento, 
como é o caso da sentença absolutória imprópria (art. 386, parágrafo único, inc. III - CPP), que 
reconhece a inimputabilidade do acusado e restringe-lhe a liberdade mediante imposição de 
medida de segurança, e da sentença terminativa de mérito, que extingue o processo com 
julgamento de mérito, mitigando apenas a pretensão executória, como é o caso das decisões que 
extinguem a punibilidade pela concessão de indulto. 
O instrumento revisional objetiva beneficiar o condenado (revisão pro reo), 
promovendo a sua absolvição, a redução da pena imposta, a modificação da classificação do 
crime ou, ainda, a anulação do processo de conhecimento, não constando precedente de 
acolhimento da previsão de revisão de sentenças absolutórias, em favor dos interesses da 
sociedade (revisão pro societate)23. Esse entendimento encontra-se consagrado, inclusive, na 
Convenção Americana de Direitos Humanos – Pacto de San Jose da Costa Rica (1969), a qual 
dispõe que: “O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido 
a novo processo pelos mesmos fatos”. De forma que a revisão criminal não tem o poder de 
 
23 Segundo ADA PELLEGRINI GRINOVER (2001, p. 307), “O fundamento da linha que advoga a utilização da 
revisão exclusivamente pro reo também é político: o drama do processo penal, que já é um castigo, os direitos da 
personalidade e da intimidade, o princípio do favor revisionis (desdobramento daquele do favor rei), tudo leva a 
concluir que o réu absolvido não pode ser submetido a novo julgamento”. 
 
 
 
 
 
31 
 
 
reavivar a persecutio criminis do Estado contra um indivíduo e, tampouco, de motivar o 
agravamento da reprimenda a ele cominada na decisão revista (princípio da ne reformatio in 
pejus). 
Não obstante ser a revisão instrumento em benefício do réu, constitui ônus 
exclusivo do peticionário instruí-la devidamente com a certidão do trânsito em julgado da 
sentença condenatória e com documentos e provas pré-constituídas, hábeis à confirmação dos 
fatos alegados, sob pena do não acolhimento do pleito24. 
Quanto à titularidade da ação, ela é privativa do réu condenado (art. 623 - CPP), 
o qual pode ser substituído por seu representante legal ou, em caso de morte, pelo seu cônjuge, 
ascendente, descendente ou irmão. Diz-se que ela é uma ação penal sui generis, na medida em 
que não apresenta ocupante do pólo passivo da demanda, já que a atuação do Ministério Público 
no caso é apenas como custos legis, manifestando-se, caso o requerimento do autor não seja 
indeferido de pronto pelo relator por instrução insuficiente, a favor ou contra o cabimento do 
pedido, segundo seus critérios de avaliação independente e sob a forma de parecer, como se 
depreende do art. 625, § 5º do Código de Processo Penal. 
Julgada procedente a ação, são restaurados ao sujeito os direitos perdidos em 
virtude da anterior condenação, eliminando-se os efeitos da condenação, como, por exemplo, o 
registro na folha de antecedentes criminais, o confisco de produtos do crime, a perda de cargo, 
função ou mandato, a suspensão de direitos políticos, a formação de título executivo passível de 
embasar ação indenizatória no âmbito cível, dentre outros. 
 
24 Aduz NUCCI (2006, p. 887) que “O encargo de demonstrar a sua inocência, buscando desconstituir decisão 
condenatória com trânsito em julgado é do sentenciado, pois já não vige o princípio do in dúbio pro reo, devendo o 
autor da ação revisional apresentar novos fatos e provas substancialmente novas, para que seu pedido possa ser 
acolhido. É a consagração, para a hipótese, da regra do in dúbio pro societate. Lembremos que a revisão criminal é 
uma exceção ao princípio do respeito à coisa julgada, não podendo ser banalizada, motivo pelo qual, tendo havido o 
devido processo legal para fundamentar a condenação do réu, cabe-lhe agora demonstrar a inexatidão do que foi 
realizado, apresentando as provas que possuir a respeito”. 
 
 
 
 
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É facultado ao interessado pleitear, perante o tribunal que vai julgar a 
procedência ou não da revisão, o reconhecimento do direto à indenização pelos danos perpetrados 
à sua liberdade individual de ir e vir, ou à sua honra e imagem, como estipulam os arts. 630, 
caput, do Código de Processo Penal, e 5º, inciso LXXV da Carta Política. Não opera a previsão 
indenizatória, todavia, quando o erro ou injustiça da condenação advier de falta atribuível ao 
próprio condenado, bem como quando a acusação tiver sido meramente privada (art. 630, § 2º, 
alíneas ‘a’ e ‘b’ – CPP), se bem que contra essa segunda hipótese insurge-se significativa parcela 
da doutrina, ao argumento de que, independentemente da titularidade da ação penal, o Estado é 
quem seria o responsável pelo cometimento do erro judiciário que gerou o dano. 
Contra a decisão prolatada na revisão criminal cabem embargos de declaração, 
recurso especial ou recurso extraordinário, a depender do caso concreto. No caso do despacho do 
relator, que rejeita liminarmente a revisão (art. 625, § 3º - CPP), a via recursal cabível é o agravo 
regimental. 
 
2. Hipóteses de cabimento 
 
O art. 621 do Código de Processo Penal assim enumera as hipóteses de 
cabimento da revisão criminal: 
Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida: 
I – quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal 
ou à evidência dos autos; 
II – quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou 
documentos comprovadamente falsos; 
III – quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do 
condenado ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial da 
pena. 
CARLOS ROBERTO CERONI (2005, pp. 71-72), entende que também devem 
ser admitidas como causas de pedir da revisão as nulidades relativas não convalidadas causadoras 
 
 
 
 
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de efetivo prejuízo, bem como as nulidades absolutas, por força do disposto no art. 626,caput, 
parte final, do Código de Processo Penal, questão ainda não pacificada. A delimitação das 
hipóteses de cabimento da ação revisional afigura-se necessária, até mesmo para a manutenção 
do seu caráter excepcional e, conseqüentemente, da segurança jurídica da coisa julgada. Nessa 
linha de entendimento, e com vistas a evitar um elastecimento descontrolado das possibilidades 
jurídicas do pedido, a maioria doutrinária e jurisprudencial entende que o rol constante do artigo 
supracitado é taxativo. 
A primeira hipótese – sentença condenatória contrariando texto expresso da lei 
penal – surge quando a decisão desvia-se de preceito legal da norma penal, quer desconsiderando 
os seus ditames, quer violando-os. Não se trata, portanto, de limitação da prerrogativa de 
interpretação da lei, conferida ao juiz, e sim de correção de erros graves e flagrantes no 
julgamento, por afronta ao texto nominal da lei penal. 
JOSÉ FREDERICO MARQUES (1955, pp. 87-88) afirma que é contrária à lei 
penal tanto uma decisão que considera crime uma conduta atípica, afrontando o dispositivo 
básico segundo o qual “não há crime sem lei anterior que o defina” (art. 1º - CP), quanto uma que 
impõe sanção não prevista para o crime ou que extrapole o seu limite legal, contrariando a 
máxima “não há pena sem prévia cominação legal”. Outro exemplo bastante citado é o da decisão 
que leva em consideração a confissão do réu para formar a materialidade do crime que deixou 
somente vestígios, a teor do disposto no art. 158 do Código de Processo Penal. 
Não cabe revisão criminal, contudo, quando se busca a aplicação de 
entendimento jurisprudencial diverso daquele adotado pela decisão condenatória, quando o 
mandamento legal que embasou a condenação for de interpretação controvertida. Aplica-se à 
 
 
 
 
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espécie, por analogia, a Súmula 343 do STF: “Não cabe ação rescisória por ofensa a literal 
disposição de lei, quando a decisão rescindenda tiver se baseado em texto legal de interpretação 
controvertida nos tribunais”. Contudo, NUCCI (2006. p. 624) faz uma ressalva nesse ponto, no 
sentido de que quando a jurisprudência houver firmado entendimento de que a lei deve ser 
interpretada de uma certa maneira e o magistrado optar por adotar posição diametralmente oposta 
à majoritária, cabe revisão criminal, com o que recomenda cautela na apreciação da 
admissibilidade da ação. 
A segunda hipótese – sentença condenatória contrária à evidência dos autos – 
fundamenta-se na inequívoca afronta da decisão ao conjunto probatório, ou seja, na falta de 
embasamento em qualquer elemento de convicção constante dos autos. A existência de um 
contingente mínimo de prova a corroborar a decisão rescindenda implica em sua manutenção.25 
Em caso de dúvida, mantém-se a condenação, pois incumbe ao autor da ação o ônus de 
demonstrar cabalmente a alegada afronta ao ordenamento dada como a causa da injustiça, não 
bastando, portanto, o pleito de reexame das provas acostadas aos autos durante a instrução do 
processo de conhecimento ou de absolvição por insuficiência de provas, por exemplo. A respeito 
da crítica que se faz a essa hipótese específica de cabimento da ação revisional, serão tecidos 
mais à frente os comentários pertinentes. 
 
25 À luz do princípio do livre convencimento do juiz, é inadmissível o deferimento se a decisão que se quer rescindir 
se fundou em algum ou alguns elementos de prova do processo fosse. A análise deve ser ainda mais cuidadosa 
quando a alegada decisão contrária à prova dos autos advier de decisão emanada de Tribunal de Júri, tendo em conta 
sua soberania constitucional (cf. artigo 5º, inciso XVIII da Constituição Federal). No particular caso do Conselho 
Popular de Sentença, só haverá a referida contrariedade caso se perceber que os Jurados não se valeram de nenhuma 
das versões. 
 
 
 
 
 
35 
 
 
Outra possibilidade legal de revisão criminal é a de sentença fundada em 
depoimentos, exames ou documentos falsos.26 Para tanto, é essencial a comprovação da não 
autenticidade da peça. Em tese, o próprio autor da ação, para instruir o seu pedido, deve 
previamente propor justificação, que é ação cautelar preparatória da revisão criminal, no juízo do 
foro da infração penal, a fim de garantir credibilidade e valor probante aos novos elementos que 
embasarão o seu pedido. Nada impede, todavia, que o relator da revisão, a pedido do condenado, 
e havendo fundadas razões para tanto, determine a produção de provas durante a tramitação da 
revisão, a fim de apurar o alegado falso. Uma vez julgada procedente a ação por esses 
fundamentos, procede-se à apuração criminal da falsidade. 
Um aspecto a ser suscitado é no sentido de que a alegação de prova falsa só 
bastará como motivo suficiente ao deferimento da revisão quando o decreto condenatório ora 
impugnado tiver se apoiado primordialmente naquela prova específica. Caso a sentença 
condenatória tenha fundamento também em outras provas, que permaneçam incontestadas, não se 
justifica a sua desconstituição, devendo ser julgado improcedente o pedido revisional. 
O surgimento de novas provas da inocência do acusado constitui a quinta 
hipótese de cabimento da ação revisional e justifica-se quando essas provas substancialmente 
novas evidenciarem decisiva e inescusavelmente que o condenado não praticou a infração penal 
pela qual fora condenado. A retratação da vítima pode ser citada como um exemplo adequado à 
espécie. Obviamente, esses novos elementos serão apreciados pelo tribunal revisor em conjunto 
com as antigas provas para a livre formação de sua convicção, não sendo suficiente, contudo, que 
 
26 PIMENTA BUENO aduz que “é contudo fora de dúvida que desde que se demonstre que a prova em virtude da 
qual foi proferido o julgamento é falsa, torna-se manifesto que o juízo foi iludido e com ele a Justiça. O caráter moral 
da prova é quem deve ministrar a certeza do que se deduziu na questão, e certificar a verdade contestada. 
Conseqüentemente, a falsidade dela não deve prevalecer, e, portanto, nem a sentença, que é filha do erro, e que como 
tal perde o caráter de presumida justiça e demanda retificação” (apud CERONI, 2005, pp. 59-60). 
 
 
 
 
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eles meramente levantem dúvidas quanto ao acerto da condenação. Diversamente, devem eles ter 
densidade probatória o suficiente para desfazer o fundamento da condenação e, 
conseqüentemente, desconstituir o julgado. 
Por fim, a última hipótese de revisão criminal ocorre com o surgimento de 
circunstância que determine ou autorize diminuição de pena, que, assim como no caso anterior, 
diz respeito à descoberta de novos fatos, que, não ensejando a absolvição, têm a aptidão, contudo, 
para ensejar uma redução na pena imposta. É o que sucede, por exemplo, quando o laudo 
psiquiátrico atesta a semi-imputabilidade do condenado ou quando demonstrada a configuração 
de arrependimento posterior em crime de furto. 
 
3. Revisão e decisão do Júri – da possibilidade de mitigação do princípio da 
soberania dos veredictos na ação revisional 
 
Como já exposto, o fundamento político da revisão criminal é o fato de que a 
atividade jurisdicional da persecução da pena, submissa a todas as contingências humanas, não 
está imune ao cometimento de equívocos, muito pelo contrário. Na insuficiência das medidas 
recursais para a obtenção da justiça material, têm os interessados à sua disposição o instrumento 
da revisão criminal, que, se de um lado relativiza a segurança jurídica da coisa julgada, por outro 
milita em prol da consecução do valor justiça. Neste sentido, patente a excepcionalidade da 
referida ação, por fulminar princípio

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